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48 observadores para contrastar com a autodescrição), os materiais de aprendizagem (conteúdos). Resultados dos estudantes: nesta categoria, podem ser incluídos o conhecimento e a compreensão específica (medidos por testes), o conhecimento e a compreensão geral (capacidade mental e aptidão), o pensamento e a resolução de problemas, as atitudes e os valores, os comportamentos relacionados à aprendizagem (frequência, ritmo de aprendizagem, autodisciplina, motivação, iniciativa, responsabilização e cooperação); os comportamentos podem ser medidos por escala ou sistemas de codificação (TUCKMAN, 2000). 5 PROCESSOS PSICOLÓGICOS DA APRENDIZAGEM Aprendemos a todo momento em um processo permanente de interação com o meio. Concebemos a aprendizagem como um processo de autoconhecimento contínuo, que determina nossas relações sociais por toda a vida. Em nosso dia a dia, estamos expostos a situações que nos desafiam das mais variadas formas e que nos exigem uma resposta para cada acontecimento. Fonte: www.psicologia.blogs.unifebe.edu.br/ http://www.psicologia.blogs.unifebe.edu.br/ 49 Você acredita que há como limitar toda a aprendizagem a somente um processo primário ou imagina que há diferenciadas concepções relacionadas aos mecanismos que envolvem a aquisição do conhecimento? É sobre essa temática que discutiremos nesse capítulo. Em um mesmo dia você pode solucionar um problema familiar envolvendo questões financeiras ou afetivas, ser incumbido de elaborar um documento em seu trabalho, identificar um possível problema em seu carro, enfim, realizar tarefas que requerem diferentes conhecimentos. Mesmo que você, para realizar uma dessas atividades, tivesse feito um curso de formação em alguma dessas áreas, por meio de um ensinamento teórico ou em uma atividade prática, diferentes meios de aprendizagem serão utilizados para que você alcance o objetivo de solucionar tal problema. Diante desses apontamentos, identificamos que há diferentes modos de se apreender e de se transmitir conhecimento, o que varia de acordo com fatores como o tempo que cada um leva para construir saberes e de quais raciocínios se valeram para chegar a tais entendimentos. Analisar de modo global os elementos que envolvem esse mecanismo nos permitirá interagir em nosso meio, levando em consideração os conhecimentos construídos acerca dessa temática tão necessária em nossas práticas educacionais. Segundo Abbad e Borges-Andrade (2004), a aprendizagem é um processo psicológico básico, amplo e complexo, relacionado a fatores intra e interpsíquicos, sociais e culturais por uma vasta literatura que o analisa de diferentes perspectivas teórico- -metodológicas. A aprendizagem individual, na perspectiva cognitivista, é uma mudança atitudinal e comportamental relativamente permanente, associada à experiência, que envolve os planos afetivo, cognitivo e motor, garantindo a flexibilidade, adaptabilidade e capacidade transformadora do ser humano. Ela se relaciona, assim, a mudanças nas estruturas cognitivas e comportamentais dos indivíduos, com base em reflexão pessoal e em interação social. Nos processos de aprendizagem, os indivíduos adquirem conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAs), que podem ser inferidos a partir das mudanças atitudinais e comportamentais. Em outras palavras, a aprendizagem é um processo dinâmico e interativo no qual o indivíduo processa as informações, decodifica e recodifica-as. É interessante a observação de que se duas pessoas forem submetidas ao mesmo processo de 50 recepção de uma informação, cada uma delas desenvolverá competências diferentes, pois perceberá, interpretará e compreenderá de acordo com fatores internos relacionados à retenção de informações na memória (Figura 1). Esse armazenamento é feito de acordo com a ordem de entrada de informações associadas ao sentido que atribuímos a esses dados, que se unirão ou se recombinarão com o sentindo ao qual acreditamos que eles pertencem. Nossa capacidade de aprendizagem se ampliará à medida que já tivermos formado em nossa memória algum conhecimento sobre o assunto, assim como o estímulo que recebemos para a assimilação dessas informações. A aprendizagem ocorrerá sempre associada a informações já retidas de algum modo; ela transforma estados iniciais em estados finais (relacionados a competências) por meio de experiências e reflexões (ABBAD, et.al, 2004) 5.1 A aprendizagem e sua relação com aspectos cognitivos, afetivos e sociais Importantes estudos das áreas da neurociência e neuropsicopedagogia apontaram para as relações entre os aspectos cognitivos, afetivos e sociais e a 51 aprendizagem. Essas investigações envolvem o estudo do desenvolvimento de variadas funções cerebrais responsáveis pelos processos de aprendizagem. Atividades realizadas por diferentes áreas do cérebro estão integradas e em constante interação. A cognição se refere ao processo de aquisição do conhecimento que envolve ações da mente, tais como atenção, percepção, processamento, diferentes tipos de memórias e raciocínio. Por meio da cognição, o ser humano processa, registra e internaliza informações, relacionando-as de acordo com suas preferências, emoções, motivações. Observe a seguir o Quadro 1, que explicita funções e subfunções cognitivas. 52 53 Agora que já identificamos as principais características das funções cognitivas responsáveis pela aprendizagem, falaremos das funções conativas, que correspondem e se relacionam com as emoções, motivações e com a personalidade humana. Dificilmente a aprendizagem se realiza em um ambiente em que ocorra algum tipo de debilidade emocional, pois esses processos estão intimamente ligados a aspectos afetivos. Para que efetivamente haja uma atmosfera propícia para a aprendizagem, o aprendiz deve ser capaz de compreender o motivo da realização de tal atividade mental, o objetivo que se almeja alcançar e o modo como se sente em relação a devida tarefa (FONSECA, 2014). Assim, as funções conativas são fundamentais pois, integradas com as cognitivas, são responsáveis por preservar um equilíbrio propulsor da afetividade, condição para que a aprendizagem seja significativa e harmoniosa. A mudança ocorrida no organismo durante o processo de aprendizagem, como, por exemplo, aprender a escrever, andar de bicicleta, ou se aprimorar em uma dessas atividades, nutre sentimentos de prazer e competência. No entanto, se esse procedimento provocar desajustes emocionais, o processo de aprendizagem pode não ser concluído, gerando aspectos negativos das funções conativas e produzindo insegurança, desmotivação e bloqueio das funções cognitivas. É preciso ter muita atenção nesses mecanismos, pois do mesmo modo que o cérebro, quando 54 estimulado, aprende, também é capaz de aprender a não concluir as etapas da aprendizagem se estiver em um período de esgotamento e comprometimento da autoestima. Uma terceira função que se coordena com as duas citadas anteriormente se chama função executiva, a qual atua no córtex pré-frontal que, por sua vez, comunica- se com as demais áreas responsáveis pela aprendizagem, adaptação ao ambiente e interação e aspectos comportamentais do indivíduo. A seguir, observe algumas definições de funções executivas, segundo Fonseca (2014): Atenção (sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes em relação aos irrelevantes, evitamento de distratores, etc.); Percepção (intraneurossensorial, interneurossensorial, meta-integrativa, analítica e sintética, etc.); Memória de trabalho (localização, recuperação, rechamada, manipulação, julgamento e utilização da informação relevante, etc.); Controle (iniciação, persistência, esforço, inibição, regulação e autoavaliação de tarefas, etc.); Ideação (improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo, precisãoe conclusão de tarefas, etc.); Com a integração das funções cognitivas, conativas e executivas em equilíbrio, as etapas de aprendizagem têm condições de serem concluídas com êxito; conhecer como esse mecanismo funciona, assim como suas especificidades, é fundamental para potencializar esse momento de desenvolvimento do indivíduo. 5.2 Teoria das inteligências múltiplas Iniciamos a discussão sobre o conceito de inteligências múltiplas propondo uma pergunta reflexiva: quais critérios você utiliza para considerar uma pessoa inteligente? Você acredita que as pessoas já nascem com um grau de inteligência como uma característica inata ou que é de acordo com as condições de vida e com fatores extrínsecos que a sua capacidade intelectual será determinada? Para ser auxiliado nessa reflexão, analise um conceito de inteligência que dialoga com o assunto que veremos adiante. Para Pierre Lévy (p. 135, 1993 apud SMOLE, 2000, p. 24): 55 A inteligência ou a cognição são o resultado de redes complexas onde interagem um grande número de atores humanos, biológicos e técnicos. Não sou ‘eu’ que sou inteligente, mas “eu” com o grupo humano do qual sou membro, com minha língua, com toda uma herança de métodos e tecnologias intelectuais. Para citar apenas três elementos entre milhares de outros, sem o acesso às bibliotecas públicas, a prática em vários programas bastantes úteis e numerosas conversas com os amigos, aquele que assina este texto não teria sido capaz de redigi-lo. Fora da coletividade, desprovido de tecnologias intelectuais, “eu” não pensaria. O pretenso sujeito inteligente nada mais é que um dos microatores de uma ecologia cognitiva que o engloba e restringe. Questões envolvendo o funcionamento da mente e do conceito de inteligência foram objetos de estudo de variados profissionais e pesquisadores. Teorias surgiram e, ainda que tenham sido derrubadas por novos estudos, foram de extrema relevância por servirem de base para novas concepções. A nós, interessa falar sobre uma abordagem chamada teoria das inteligências múltiplas, pois em 1980, Howard Gardner e pesquisadores da Universidade de Harvard observaram que havia indícios da presença de diferentes competências intelectuais dos indivíduos, considerando a existência de “inteligências múltiplas”, conforme a Figura 2. Essa coletividade abarca dimensões que envolvem conceitos lógico-matemáticos, linguísticos, música, relações interpessoais e intrapessoais, dimensão espacial, corporal e de sentidos. 56 De acordo com Gardner, a mente é plural, dotada de variadas facetas que atuam separadamente das forças cognitivas, diferentemente do que propunham teorias anteriores, que consideravam a inteligência como um atributo inato do indivíduo que atua de modo operacional. A partir das investigações da equipe, as inteligências múltiplas passaram a ser concebidas como capacidade de criação, resolução de problemas das mais variadas naturezas, organização de produtos de acordo com os objetivos planejados. Segundo Smole (2000, p. 26): ao apresentar o modelo que pensou para inteligência, Gardner afirma acreditar que a competência cognitiva humana seja melhor descrita em termos de um conjunto de capacidades, talentos ou habilidades mentais que podem ser genericamente chamadas de “inteligências”. Apesar de que essas capacidades sejam consideradas em conjunto, é importante frisar que, de acordo com essa teoria, essas inteligências são interdependentes e interativas, apesar de diferentes. Assim, um problema matemático, por exemplo, requer também a atuação das competências linguísticas e espaciais para que, trabalhando em conjunto, seja possível sua resolução. Um indivíduo, em sua função social, independentemente do papel ou lugar que ocupe, vale-se de uma combinação de inteligências para se desenvolver nas variadas funções que desempenha. Agora que já identificamos as principais características da teoria de inteligências múltiplas proposta por Gardner e seus colaboradores, veremos as principais competências identificadas, assim como suas definições (SMOLE, 2000). Analisando o Quadro 2, é possível perceber que Gardner propõe em seu estudo que, embora cada inteligência ou competência tenha seus meios de organização e expressão de modo autônomo, é possível encontrar interfaces e analogias estabelecidas entre elas, não havendo uma mais importante que a outra, pois todas cumprem funções determinantes no condicionamento e desenvolvimento individual. 57
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