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31 5 AS FUNÇÕES DA SOCIOLOGIA A Sociologia surge como ciência no século XIX, com o intuito de realizar análises sobre a sociedade em suas inúmeras relações, procurando mapear as causas e aspectos que contribuíam para a organização social, classificando os fenômenos e inspirando hipóteses explicativas sobre os objetos pesquisados que, por sua vez, originam-se na própria sociedade, atendendo ao conceito de fato social cunhado por Durkheim (1996, p. 12), que afirma: É fato social toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter. Partindo da conceituação dos fatos sociais feita pelo autor, percebemos que o mesmo pensa a organização da sociedade realizada pelos efeitos de normalização e padronização sociais estabelecidos nas regras de conduta, nas ideias e pensamentos que compõem tais fatos. Estes fatos serão sempre exteriores ao indivíduo, ou seja, não dependem dos aspectos internos destes, e sim do esforço coletivo e social no estabelecimento destas normas de convivência criadas e impostas desde o nosso nascimento. Os fatos sociais irão apresentar três características: exterioridade, generalidade e coercitividade. A generalidade diz respeito ao que comentamos anteriormente, o caráter coletivo que se faz presente e determina, para todos, como agir neste grupo social. A exterioridade traduz a condição desse ser exercido sendo o mesmo estabelecido fora da consciência individual, externo às questões pessoais intrínsecas ao sujeito. A coercitividade, por fim, remete ao dever, à obrigação em acatar e seguir as determinações que foram estabelecidas na sociedade em que vivemos. Lakatos e Marconi (1990, p. 65) comentam que: A coerção não necessita ser drástica; igualmente são eficazes o riso, a zombaria, o afastamento dos amigos, quando nosso comportamento não constitui transgressões às leis, mas às convenções da sociedade. Exemplo: não se portar corretamente à mesa, vestir-se inadequadamente, falar de modo impróprio. Partindo da definição do fato social, tido como o objeto de estudo da Sociologia, cabe ao sociólogo a problematização do mesmo, procurando percebê-lo 32 por diversas maneiras e buscando a sua contextualização mais exata, suas origens, as causas de seu estabelecimento como regras de conduta, os fatores que contribuíram para que estes fossem instituídos. Barros (2008, p. 152) traz o seguinte comentário sobre o que seria a problematização: Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador. Nossa vida em sociedade apresenta muitas facetas e dimensões diversas que nem sempre são facilmente observáveis, pois o convívio humano acaba disfarçando- as através das inúmeras práticas culturais (com seus símbolos, valores e normas) dos grupos envolvidos em suas interações. Baseado nestas questões, Vila Nova (2013, p. 218) comenta que “[...] à Sociologia cumpre precisamente ir além das aparências físicas da vida social e penetrar nas camadas mais profundas da sociedade para compreender a “lógica” oculta da sua organização [...]”. Esta lógica oculta citada pelo autor muitas vezes poderá ser percebida pelo sociólogo através das problematizações, dos levantamentos e das inserções no campo social, no qual serão mapeados os detalhes que envolvem as relações e interações entre as pessoas. Outra função interessante que pode ser atribuída à Sociologia relaciona-se com a sua possibilidade de vir a transformar-se em instrumento de intervenção social, utilizando-se, para isso, do chamado planejamento social. Porém, convém observar que: [...] o planejamento social não é, entretanto, a aplicação apenas da Sociologia à intervenção na sociedade, mas, de modo conjugado, das demais ciências sociais, embora se verifique, sobretudo no Brasil, uma tendência à supervalorização da Economia na condução dessa atividade (VILA NOVA, 2013, p. 30). Dentro da lógica das atribuições do sociólogo que contribuem diretamente para o planejamento social estão as atividades de avaliação e monitoramento sobre os projetos públicos que estão sendo colocados em prática pelas esferas governamentais, por exemplo. 33 5.1 Os pensadores da Sociologia e suas ideias Quando estudamos a Sociologia a partir de seu contexto histórico, como viemos fazendo, três grandes autores se destacam, formando uma tríade de ideias de base para as análises sociológicas posteriores a seu tempo; são eles: Durkheim, Weber e Marx. Vamos conhecer um pouco as ideias destes três autores e o modo como entendiam a educação na sociedade. Émile Durkheim, sociólogo francês nascido em 1858 e que viveu até 1917, entendia a sociedade como algo que iria sempre prevalecer ao indivíduo. Ou seja, a sociedade é o conjunto das normas, regras e procedimentos, sentimentos, ideias e pensamentos que conduzem os indivíduos e que foram construídos coletivamente, o que vinha a ser a definição de fato social segundo Durkheim. Podemos entender mais facilmente esta ideia ao percebermos que a criança, quando nasce, já se encontra num grupo social, de modo que a sua infância e a forma como irá crescer e se desenvolver já foram previamente estabelecidas pelos demais membros adultos desta sociedade. Podemos visualizar muito bem o conceito de fato social proposto por Durkheim na educação, uma vez que ela irá se encarregar de ensinar as regras e condutas e educar os membros para viver em sociedade. Podemos nos questionar, seguindo este viés, sobre o que se aprende na escola. Qual a função desta instituição em nossas vidas? Durkheim diria que sua principal função é preparar o indivíduo para a vida em sociedade. Segundo Tomazi (2000, p. 18), o próprio conceito de instituição, para Durkheim, leva a esta resposta, uma vez que “para ele, uma instituição é um conjunto de normas e regras de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas às outras. Há ainda muitos outros exemplos de instituições: a Igreja, o Exército, a família, etc.”. Max Weber, sociólogo alemão nascido em 1864 e falecido em 1920, entendia que as análises da Sociologia deveriam recair sobre os atores sociais e suas ações. O principal de suas ideias, em contraposição a Durkheim, é que Weber não via a sociedade como algo superior e exterior aos indivíduos, e sim como o resultado de um conjunto de ações recíprocas destes indivíduos. Baseado nesta ideia, estabeleceu o conceito de ação social. Nas palavras de Weber (1991, p. 3), a ação 34 social “[...] significa uma ação que, quanto ao sentido visado pelo agente ou os agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se por este em seu curso [...]”. Um exemplo bem simples e frequentemente adotado na escola que ilustra uma ação social, segundo as ideias de Weber, seria a fila. Os alunos vão posicionando-se em coluna, um após o outro, seguindo uma ordem naturalizada de agir socialmente que já faz parte do sujeito, ou seja, sua subjetividade já internalizou a fila como algo a ser feito. Esta é a principal diferença entre Weber e Durkheim, pois Weber entendia que internamente o indivíduo ia significando, dando sentido às coisas e, assim, ia mudando e condicionando seu comportamento. Outro conceito muito utilizado por Weber diz respeito à noção de poder, porém um poder não localizado num lugar específico, como o Estado, por exemplo, mas que perpassa todos os aspectos sociais e que não se relaciona somentecom a questão econômica. Entendia a sociedade como um sistema de poder que se manifesta em todas as esferas: [...] não apenas nas relações entre classes, ou entre governantes e governados, mas igualmente nas relações da família, na empresa, por exemplo, os indivíduos se deparam a todo momento com o fato de que indivíduos ou conjunto de indivíduos têm maior ou menor possibilidade de impor a sua vontade a outros. (VILA NOVA, 2013, p. 86). Podemos depreender do conceito do autor que este sistema de poder também poderá ser percebido no interior da escola. Poder representado na figura do professor, dos gestores escolares, dos grupos sociais com suas culturas específicas representados por pais e alunos, etc. Assim, o espaço da escola está sempre em negociação destas relações de poder dos grupos que ali convivem. Karl Marx, pensador alemão que nasceu em 1818 e viveu até 1883, também apresentou sua contribuição para os entendimentos das relações entre os indivíduos e a sociedade empreendidos pela Sociologia. O que difere radicalmente as ideias de Marx em relação a Durkheim e Weber é que, para ele, as relações em sociedade não poderiam ser pensadas separadamente das condições materiais em que essas relações se apoiam. Ou seja, para viver em sociedade, o homem precisa, num primeiro momento, valer-se da natureza, transformá-la, erguer suas moradias, fabricar os itens que farão parte de sua vida cotidiana e que irão garantir sua sobrevivência. Isto era o que o autor chamava de produção social da própria vida e que irá embasar seus escritos, 35 procurando explicar a sociedade dividida em classes, e, posteriormente, sua discussão contrária às ideias do capitalismo. Segundo as palavras de Marx (1978, p. 129): O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fio condutor aos meus estudos pode ser formulado em poucas palavras: na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. [...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência. Por ter este entendimento de como as questões materiais interferem e condicionam os indivíduos é que Marx irá desenvolver suas análises sobre as classes sociais existentes, entendendo que os indivíduos agem de acordo com o que é regulado no interior da classe a que pertencem. Fica nítido em suas obras o estudo dos embates, sobretudo, entre a classe capitalista e a trabalhadora. Destas ideias resumidas aqui, irá despontar o materialismo histórico proposto por Marx e Engels, no qual emerge o caráter revolucionário na figura do cientista social como aquele que deveria propor mudanças radicais na organização social. 5.2 Metodologias na pesquisa sociológica As primeiras pesquisas em Sociologia remontam ao início do século XX, na chamada Escola de Chicago (Departamento de Antropologia e Sociologia da Universidade de Chicago). É neste período que irão surgir marcadores importantes para a pesquisa científica sociológica, estabelecendo os aspectos também qualitativos como importantes de serem analisados, e não somente os quantitativos que vinham sempre sendo enfatizados e reforçados pelas Ciências Exatas como mais confiáveis e como os que levariam com maior exatidão ao conhecimento da verdade e ao estabelecimento do senso crítico científico. Este é um aspecto importante a ser destacado: as questões qualitativas que compõem os indivíduos, que constituem suas subjetividades, que fazem com que a sociedade também se organize, normalize e estabeleça condutas de vida devem fazer parte das pesquisas sociológicas para que estas consigam realizar suas análises com maior eficácia. Segundo Minayo (1996), as pesquisas qualitativas na 36 Sociologia trabalham com significados, motivações, valores e crenças e estes não podem ser simplesmente reduzidos às questões quantitativas, já que respondem a noções muito particulares. Entretanto, os dados quantitativos e os qualitativos acabam se complementando dentro de uma pesquisa. A escolha do objeto a ser pesquisado pelo sociólogo estará relacionada ao rol de questões possíveis dentro do grande universo das interações humanas que ocorrem na sociedade. Sobre este objeto a ser analisado, será aplicada, num primeiro momento, uma pesquisa bibliográfica minuciosa, seguida, então, da aplicação dos instrumentos de coleta de dados e das metodologias típicas da ciência, como os questionários, as entrevistas, observações e pesquisas de campo. Segundo Becker (1994), por mais ingênuo ou simples nas suas pretensões, qualquer estudo objetivo da realidade social, além de ser norteado por um arcabouço teórico, conforme mencionamos, deverá informar a escolha do objeto pelo pesquisador e também todos os passos e resultados teóricos e práticos obtidos com a pesquisa. Acompanhe o esquema na Figura 1 com os passos mais utilizados numa pesquisa sociológica: As quatro etapas sugeridas pelo esquema anterior são importantes na condução de um processo sério de pesquisa sociológica e garantem o respaldo científico dos resultados conquistados com a mesma. Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 72), “[...] as formas de entrevistas mais utilizadas em Ciências Sociais são: a entrevista estruturada, semi-estruturada, aberta, entrevistas com grupos focais,
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