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62 Parecer CNE/CP nº 8/2012, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Lei nº 13.185, de 6 de novembro de 2015, que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying). Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2005, que define normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a Lei nº 9.394, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “história e cultura afro-brasileira”. Base Nacional Comum Curricular. Além de analisar o quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos fundamenta a legislação educacional brasileira, você ainda pode refletir sobre a importância de educar para os direitos humanos. (GOMES, 2014). 9 DIVERSIDADE E TOLERÂNCIA Os direitos culturais, incluídos na nova geração de direitos humanos, são a garantia de que todos os povos têm o direito de expressar a sua forma de viver diante do mundo, ou seja, a sua cultura. Nesse sentido, a manifestação cultural dos povos, em uma sociedade cada vez mais conectada, desafia o convívio social sob a ótica da diversidade. Nessa ótica, encaixa-se o respeito e a tolerância para com o diferente. Fonte: https://www.ofm.org.br/ 63 9.1 Direitos Culturais O reconhecimento e a valorização de múltiplas práticas culturais são disposições presentes em muitos estatutos de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A Unesco apresenta os direitos culturais como um enquadramento propício para a diversidade cultural, como pode ser analisado a seguir, na Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural: Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são universais, indissociáveis e interdependentes. O desenvolvimento de uma diversidade criativa exige a plena realização dos direitos culturais, tal como os define o Artigo 27 da Declaração Universal de Direitos Humanos e os artigos 13 e 15 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Toda pessoa deve, assim, poder expressar-se, criar e difundir suas obras na língua que deseje e, em particular, na sua língua materna; toda pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidade que respeite plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poder participar na vida cultural que escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais (UNESCO, 2002, documento on-line). O Brasil é signatário de importantes atos normativos da Unesco, como é o caso da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002) e a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade e das Expressões Culturais (2005). O país reconhece os direitos culturais na Constituição Federal de 1988, no art. 215: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” (BRASIL, 1988, documento on-line). Os posicionamentos da Unesco e do Brasil evidenciam que os direitos culturais são cada vez mais reconhecidos como parte da nova geração de direitos humanos, bem como dos Estados democráticos. Assim, é importante conhecer o sentido de cultura e diversidade como expressão de cidadania e respeito pelo diferente; esses conceitos são associados e definem as relações sociais na contemporaneidade. Para Sodré (2012), cultura pode ser definida como a totalidade das manifestações e formas de vida que caracterizam um povo. A diversidade é o reconhecimento do diferente, do diverso, do outro que não se assemelha a mim, ou seja, o reconhecimento da cultura do outro. Segundo o referido autor, a interpretação objetiva da cultura do outro requer alguns posicionamentos, como: 64 rejeição do binarismo simplista das oposições radicais (direita/esquerda, culpa/inocência, etc.) porque essas posições limitam as formas abrangentes de compreensão do mundo; as posições divergentes são aspectos diferenciados da mesma razão, vistos como contraditórios à primeira vista; reconhecimento da cultura de um povo na produção de conhecimento, seja pela literatura, pela arte, pela música, entre outros aspectos. Nesse sentido, a cultura deve ser entendida como algo dinâmico, com constantes processos de mudanças. Para Barroso (2017), os processos culturais são mudanças pelas quais as culturas passam, assimilando ou abandonando certos costumes, hábitos ou valores que identificam determinado povo. Os processos culturais também são resultados de interações diretas ou indiretas com outras culturas. Segundo Barroso (2017, p. 60), por meio dessas interações, “[...] aperfeiçoam-se elementos através de invenções e descobertas, copiam-se elementos culturais de outras sociedades, abandonam-se aspectos culturais considerados inadequados ao novo contexto e esquece-se de traços culturais aprendidos por meio das gerações”. É importante observar que as mudanças ou interações culturais não ocorrem de forma neutra, mas são determinadas por relações de poder. Ou seja, uma cultura dominante pode impor sua forma de organização a uma cultura dominada ou com exercício de poder menor. Nesse sentido, a diversidade cultural é um conceito característico das sociedades modernas, que influenciam diretamente nos processos culturais, fazendo necessárias constantes reflexões sobre sua prática. Para Gomes (2014), a partir daí, instaura-se o multiculturalismo, que se apoia no apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade. Frente a isso, coloca-se um desafio: como trabalhar com as identidades culturais e a diversidade, incorporando-as, ao aceitar e conviver com as diferenças? Como lidar com manifestações culturais que não se encaixam? A diversidade cultural, em síntese, é a diversidade de formas de ser humano. O único valor capaz de referenciar a diversidade cultural é a humanidade. Para Sodré (2017), é lógico que os indivíduos são diferentes, o problema está em aceitar o diverso no espaço de convivência e dar-se conta da percepção de valor que o outro traz como ser humano. 65 9.2 A tolerância em um mundo cada vez mais conectado O reconhecimento da diversidade cultural, em espaços temporais distintos, é uma marca da sociedade contemporânea. O que se experimenta hoje é a intensificação de se fazer visível a diversidade, por exemplo, nos diversos gostos e costumes e nos diversos modos de pensar e propagar valores. Essa visibilidade do diverso se apresenta no cotidiano e desafia a convivência no que tange à tolerância. Tolerância é um termo originário do latim tolerare que significa suportar, aceitar. No sentido moral, político e religioso, pressupõe a atitude de aceitar os diferentes modos de pensar, de agir e de se manifestar do outro. Em síntese, é o reconhecimento e o respeito pelo outro como um sujeito de direitos. Portanto, a ideia da tolerância assume valor ético e político, e, com base nela, todas as pessoas deveriam ser reconhecidas de forma igual e tratadas sem discriminação e violência, conforme apontam Carvalho e Faustino (2015). Para os referidos autores, organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Unesco tornaram-se responsáveis por políticas públicas, com base nos direitos humanos, de tolerância e respeito às diferenças culturais. Esses organismos internacionais recomendam em suas declarações métodos sistemáticos e racionais de ensino da tolerância. A tolerância é um dos temas que ocupa a mesa dos debates urgentes no contexto do convíviosocial. Temos presenciado uma sociedade mais conectada e com mais acesso a informações, se comparada a outros tempos; porém, os níveis de informações falsas têm contribuído para aumentar os níveis de intolerância em relação ao outro. Fontes (2015) afirma que, para enfrentar a intolerância no contexto mundial, que chega ao seu ápice com as guerras, é necessário diálogo intercultural e compromisso da ONU, para, assim, eliminar todas as formas de autodestruição da humanidade. Nesse sentido, as conexões em rede oferecem enormes possibilidades de incrementar a participação cidadã e gerar maior diálogo entre a humanidade. Os meios de comunicação, responsáveis por conectar as pessoas e difundir informações, possuem o papel fundamental de favorecer o diálogo com debates livres e abertos. Com o intuito de propagar valores como a tolerância, o diálogo e o respeito, os meios de comunicação devem também ressaltar os riscos da indiferença e da expansão das ideologias e dos grupos intolerantes.
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