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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DE ALIMENTOS JULIANA CUNHA DE ANDRADE PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO EM RELAÇÃO À CARNE OVINA E PRODUTOS DERIVADOS Rio de Janeiro 2017 JULIANA CUNHA DE ANDRADE PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO EM RELAÇÃO À CARNE OVINA E PRODUTOS DERIVADOS Tese apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Ciência de Alimentos. Orientadora: Dra. Rosires Deliza Co-orientador: Dr. Gastón Ares Rio de Janeiro 2017 A553 Andrade, Juliana Cunha de. Percepção do consumidor brasileiro em relação à carne ovina e produtos derivados / Juliana Cunha de Andrade. – Rio de Janeiro: IQ/UFRJ. 2017 236f. Tese (Doutorado em Ciências) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Química, Programa de Ciência de Alimentos, Rio de Janeiro, 2017. Orientador: Rosires Deliza. Coorientador: Gastón Ares. 1. Carne ovina. 2. Produtos cárneos. 3. Frequência de consumo. 3. Consumidor. 5. Avaliação sensorial. I. Deliza, Rosires. (Orient.). II. Ares, Gáston. (Coorient.). III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Química. Programa de Ciência de Alimentos. IV. Título. CDD:664 À minha mãe, Roselys Cunha Dedico. AGRADECIMENTOS Quero agradecer a todos que de alguma forma colaboraram para a realização desse trabalho e em especial: Aos orientadores Rosires Deliza e Gastón Ares pela amizade, confiança, entusiasmo, motivação, dedicação e apoio durante todas as etapas desse trabalho, e acima de tudo pelos valiosos ensinamentos; A coordenadora do projeto APROVINOS da Embrapa Pecuária Sul, Élen Nalério, por autorizar a realização desse trabalho e pela liderança no desenvolvimento dos produtos; A Embrapa Pecuária Sul e Agroindústria de Alimentos pela disponibilização da estrutura física e de recursos financeiros que tornaram viável esta Tese; Ao Paulo Lanzetta da Embrapa Clima Temperado, ao Marcos Moulin e Acassio Araujo da Embrapa Agroindústria de Alimentos pela contribuição na elaboração dos rótulos; Aos amigos e colaboradores do Laboratório de Análise Sensorial e Instrumental da Embrapa Agroindústria de Alimentos pela ajuda e suporte, em especial ao Hugo Rangel, Raquel Claverie, Denize Oliveira, Felipe Reis, Louise Sobral, Cláudia Brauns (in memoriam) e José Carlos Ferreira; Aos amigos do Sensometrics & Consumer Science da Universidad de la República, Leticia Vidal, Lucía Antúnez, Florencia Alcaire e Ana Giménez pela coloboração, apoio e solidariedade em todos os momentos que precisei; A todos os participantes dos estudos pela contribuição inestimável, sem eles esse trabalho não seria possível; À CAPES pela concessão da Bolsa de Doutorado regular no país e pela Bolsa de Estudos no Exterior (CAPES/UdelaR); E um agradecimento muito especial ao André Rossa pelo amor, companheirismo e incentivo durante os quatro anos de trabalho nessa Tese. RESUMO ANDRADE, Juliana Cunha de. Percepção do consumidor brasileiro em relação à carne ovina e produtos derivados. Rio de Janeiro, 2017. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos) – Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. O entendimento dos fatores que determinam os processos de escolha dos alimentos por parte dos consumidores é de crucial importância para a inovação de produtos e para adequadas estratégias de marketing. Particularmente, a diferenciação da carne ovina através do desenvolvimento de produtos sob a ótica do consumidor e a segmentação de mercado são estratégias relevantes para melhorar a rentabilidade do sistema agroindustrial da ovinocultura. Nesse cenário, o estudo teve como objetivo entender como o consumidor brasileiro percebe a carne ovina e seus produtos derivados, a fim de encontrar estratégias que promovam o consumo. O primeiro estudo (Capítulo 1) revelou que as características sensoriais e os aspectos hedônicos foram as principais motivações para o consumo. No entanto, a falta de adequação deste tipo de carne em situações de consumo do dia-a-dia pode ser uma barreira para o aumento da ingestão. O segundo estudo (Capítulo 2) explorou os hábitos de compra e consumo de carne ovina. Os resultados indicaram a importância da familiaridade e experiência prévia com este tipo de carne e também forneceram informações para o desenvolvimento de estratégias de marketing visando a promoção do consumo da carne ovina e a disseminação de novos produtos, destacando-se os cortes cárneos resfriados e produtos defumados e temperados. Os aspectos das ocasiões de consumo envolvendo os produtos cárneos industrializados, especificamente os frios especiais, foram investigados no terceiro estudo (Capítulo 3). Os resultados indicaram que a lembrança do consumidor relacionada às ocasiões de consumo de produtos cárneos fatiados foi fortemente relacionada às experiências positivas, na qual o prazer do consumidor deveu-se às características dos produtos, às pessoas com quem compartilhavam a refeição ou ao estado emocional positivo em que se encontravam. O quarto estudo (Capítulo 4) investigou o impacto das características extrínsecas de cortes de cordeiro na intenção de compra do consumidor em dois contextos de consumo evocados. Observou-se que independente do contexto de consumo, o preço foi a variável mais importante na intenção de compra de cortes de cordeiro. Os consumidores manifestaram maior intenção de compra para o pernil, sem tempero com preço alto. No quinto estudo (Capítulo 5) foi investigado a influência dos parâmetros de processo de produtos elaborados com carne ovina – presunto cru e copa – na escolha do consumidor sob diferentes contextos de consumo. Os resultados indicaram que os parâmetros do processo tiveram um impacto significativo na escolha do consumidor por produtos dessecados, maturados de carne ovina. A escolha de presunto cru foi afetada positivamente pelo tempo de maturação. A alegação do teor reduzido de sódio e a defumação tiveram influência significativa na escolha do consumidor para ambos os produtos. Os consumidores parecem preferir copa com antioxidante natural em relação aos produtos convencionais. O sexto estudo (Capítulo 6) indicou que com o processamento de copa ovina elaborada com carne de animais mais velhos foi possível agregar valor com adequada aceitação dos consumidores, mostrando-se uma alternativa tecnológica para o setor industrial com grande potencial para comercialização do produto no mercado brasileiro. O estudo proporcionou informações importantes ao segmento agroindustrial para o desenvolvimento de estratégias que visam promover o consumo da carne ovina. Palavras-chave: carne ovina, produtos cárneos, frequência de consumo, consumidor, avaliação sensorial. ABSTRACT ANDRADE, Juliana Cunha de. Brazilian consumer perception concerning sheep meat and its products. Rio de Janeiro, 2017. Thesis (PhD in Food Science) – Institute of Chemistry, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Understanding the factors that determine consumers' food choice processes is of crucial importance for product innovation, marketing selection, and appropriate communication strategies. In particular, the differentiation of sheep meat through the development of consumer products and market segmentation are relevant strategies to improve the profitability of the sheep agro-industrial system. In this scenario,the study aimed to understand how the Brazilian consumer perceives sheep meat and its derived products, in order to find strategies that promote consumption. The first study (Chapter 1) revealed that the sensory characteristics and hedonic attitude and feelings related to sheep meat may be the main motivation for its consumption. However, the lack of appropriateness of this type of meat in day-to-day consumption situations may be a barrier to increase consumption. The second study (Chapter 2) explored the buying and eating habits of sheep meat. The results indicated the importance of familiarity and previous experiences with this type of meat, and also provided information for the development and the dissemination of new products, especially cold cuts of meat as well as smoked and seasoned products. The aspects of eating occasions related to industrialized meat products, specifically special cold meats, were investigated in the third study (Chapter 3). The results indicated that the memories of the eating occasion of special cold meats was strongly related to positive experiences, in which the pleasure of the consumer is due to the characteristics of the products, the people with whom they shared the meal or the positive emotional state in which they were. The fourth study (Chapter 4) investigated the impact of extrinsic characteristics of lamb meat cuts on the consumer's intention to purchase in two evoked consumption contexts. It was observed that, regardless of the context of consumption, price was the most important variable in lamb meat the intention to purchase. Consumers expressed higher intention to purchase for leg cuts without seasoning at the highest price. In the fifth study (Chapter 5) we investigated the influence of the process parameters of products made with sheep meat – dry-cured ham and coppa - on the consumer’s choice under different contexts of consumption. The results indicated that the process parameters had a significant impact on the consumer's choice of dried products, matured from sheep meat. The choice of dry-cured sheep ham was positively affected by the maturation time. The claim of reduced sodium content and smoking had significant effect on consumer choice for both products. Results suggested that consumers preferred coppa with natural antioxidant to regular products. The sixth study (Chapter 6) indicated that the processing of sheep coppa made with meat from old animals had added value to the product, and reached adequate acceptance by consumers, proving to be a technological alternative for the industrial sector and with great potential for commercialization of the product in the Brazilian market. The study provided important information to the agro-industrial segment allowing the development of strategies to promote the consumption of sheep meat. Keywords: sheep meat, meat products, consumption frequency, consumers, sensory evaluation. PRODUÇÃO CIENTÍFICA Durante o desenvolvimento da tese os seguintes artigos científicos foram publicados em periódicos internacionais: ANDRADE, J. C.; SOBRAL, L. A.; ARES, G.; DELIZA, R. Understanding consumers’ perception of lamb meat using free word association. Meat Science, v. 117, p. 68-74, 2016. (Capítulo 1). ANDRADE, J. C.; NALÉRIO, E. S.; GIONGO, C.; De BARCELLOS, M. D.; ARES, G.; DELIZA, R. Influence of evoked contexts on rating-based conjoint analysis: Case study with lamb meat. Food Quality and Preference, v. 53, p. 168-175, 2016. (Capítulo 4). Os seguintes artigos científicos foram submetidos em periódicos internacionais e estão sob revisão: ANDRADE, J. C.; ARES, G.; DELIZA, R. Exploring consumer memorability of cold meat: Insights for marketing and product development. Enviado para o periódico Food Quality and Preference. (Capítulo 3). ANDRADE, J. C.; NALÉRIO, E. S.; GIONGO, C.; De BARCELLOS, M. D.; ARES, G.; DELIZA, R. Consumer perception of dry-cured sheep meat products: Influence of process parameters under different evoked contexts. Enviado para o periódico Meat Science. (Capítulo 5). ANDRADE, J. C.; NALÉRIO, E. S.; GIONGO, C.; De BARCELLOS, M. D.; ARES, G.; DELIZA, R. Consumer sensory and hedonic perception of sheep meat coppa: Influence of process parameters under blind and informed conditions. (Capítulo 6). Durante o desenvolvimento da tese os seguintes resumos foram apresentados em congressos internacionais: ANDRADE, J. C.; SOBRAL, L. A.; ARES, G.; DELIZA, R. Understanding consumers’ perception of lamb meat using free word association In: 11th Pangborn Sensory Science Symposium, Gotemburgo, 2015. ANDRADE, J. C.; SOBRAL, L. A.; NALÉRIO, E. S.; BARCELLOS, M. D.; ARES, G.; DELIZA, R. Identificando oportunidades para o mercado brasileiro de carne ovina de acordo com o consumidor In: 7mo Simposio Internacional de Innovación y Desarrollo de Alimentos, Montevideo, 2015. Durante o desenvolvimento da tese os seguintes resumos expandidos foram apresentados em congressos nacionais: ANDRADE, J. C.; SOBRAL, L. A.; DELIZA, R. Neofobia alimentar associada ao consumo de carne ovina In: 5º Simpósio de Segurança Alimentar, Bento Gonçalves/RS, 2015. ANDRADE, J. C.; NALÉRIO, E. S.; GIONGO, C.; BARCELLOS, M. D.; ARES, G.; DELIZA, R. Impacto das características não sensoriais na escolha de presunto cru e copa In: XXV Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Gramado/RS, 2016. SUMÁRIO ESTRUTURA DA TESE ............................................................................................ 14 INTRODUÇÃO GERAL ............................................................................................ 18 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 24 OBJETIVOS .............................................................................................................. 44 CAPÍTULO 1 – Uso da metodologia associação livre de palavras para compreender a percepção do consumidor frente à carne ovina......................................................... 48 CAPÍTULO 2 – Avaliação dos hábitos de compra do consumidor brasileiro e o consumo de carne ovina ........................................................................................... 52 CAPÍTULO 3 – O papel da lembrança do consumidor em relação às ocasiões de consumo de produtos cárneos fatiados ..................................................................... 76 CAPÍTULO 4 – Impacto das características extrínsecas do produto na intenção de compra do consumidor em diferentes condições de consumo: Estudo de caso com cortes de cordeiro ...................................................................................................... 80 CAPÍTULO 5 – Influência dos parâmetros de processo de produtos elaborados com carne ovina na escolha do consumidor sob diferentes contextos evocados ............. 84 CAPÍTULO 6 – Percepção sensorial e hedônica de copa ovina: Influência dos parâmetros de processo na avaliação do produto nas condições às cegas e informada .................................................................................................................................. 88 DISCUSSÃO GERAL E CONCLUSÕES .................................................................. 92 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 98 APÊNDICES ........................................................................................................... 118 Apêndice A .............................................................................................................. 120 Apêndice B .............................................................................................................. 146 Apêndice C ..............................................................................................................158 Apêndice D .............................................................................................................. 182 Apêndice E .............................................................................................................. 208 14 ESTRUTURA DA TESE ESTRUTURA DA TESE Estrutura da tese 16 A questão geral que norteou esta pesquisa de tese foi responder à pergunta: Como o consumidor brasileiro percebe a carne ovina? Em função disto, a tese começa com a apresentação da introdução geral, seguida da revisão bibliográfica que incluiu o panorama da ovinocultura no mundo e no Brasil, a caracterização nutricional e sensorial da carne ovina, aspectos relacionados à percepção do consumidor e as metodologias que foram utilizadas no estudo. A parte experimental da tese foi desenvolvida em quatro partes principais: compreensão da percepção do consumidor em relação à carne ovina (Capítulos 1 e 2), importância do papel da lembrança do consumidor em relação a produtos cárneos fatiados (Capítulo 3), investigação da intenção de compra de produtos de carne ovina (Capítulos 4 e 5), e o desenvolvimento e avaliação de produto elaborado com carne ovina (Capítulo 6). O Capítulo 1 apresenta o estudo intitulado “Uso da metodologia associação livre de palavras para compreender a percepção do consumidor frente à carne ovina” que teve como principal objetivo reunir informações sobre a percepção do consumidor brasileiro em relação à carne ovina e investigar se é afetada pela frequência de consumo deste tipo de carne. Foi possível identificar motivações e barreiras para o consumo que podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias que promovam o uso deste tipo de carne na dieta, a qual é fortemente afetada pela frequência de consumo. No Capítulo 2 é apresentado o estudo intitulado “Avaliação dos hábitos de compra do consumidor brasileiro e o consumo de carne ovina” que teve por objetivo entender os fatores que afetam este processo. Os resultados demonstraram a importância da familiaridade e experiência prévia com este tipo de carne nos hábitos de compra e consumo e também forneceram informações para o desenvolvimento de estratégias de marketing visando a promoção do consumo da carne ovina e a disseminação de novos produtos. Dentre estes produtos, duas categorias se destacaram como de maior interesse dos participantes do estudo, os quais foram enfocados nos Capítulos 4 e 5. Considerando a importância do contexto de consumo em estudos de consumidor, foi realizado estudo preliminar (Capítulo 3) visando identificá-los. Foi investigado o papel da lembrança do indivíduo relacionada às ocasiões de consumo Estrutura da tese 17 de produtos cárneos fatiados especiais. Os achados foram aplicados nos Capítulos 4 e 5. Dois estudos de caso com produtos de carne ovina usando a metodologia análise conjunta foram realizados e descritos nos Capítulos 4 e 5. O estudo intitulado “Impacto das características extrínsecas do produto na intenção de compra do consumidor em diferentes condições de consumo: Estudo de caso com cortes de cordeiro” (Capítulo 4) revelou que independente do contexto de consumo, o preço foi a variável mais importante na intenção de compra, seguido pelo tipo de corte. Os consumidores manifestaram maior intenção de compra para o pernil, sem tempero com preço alto. Os resultados também sugerem que o contexto evocado ofereceu uma alternativa metodológica para aumentar a capacidade preditiva da análise conjunta, contribuindo para o desenvolvimento de estratégias de venda para este tipo de produto. O Capítulo 5 apresenta o estudo intitulado “Influência dos parâmetros de processo de produtos elaborados com carne ovina na escolha do consumidor sob diferentes contextos evocados”. Nesta etapa da tese, presunto cru e copa foram os produtos investigados e os resultados indicaram que a escolha de presunto cru foi afetada positivamente pelo tempo de maturação. A alegação do teor reduzido de sódio e a defumação tiveram uma influência significativa positiva na escolha do consumidor para ambos os produtos. E os consumidores parecem preferir copa com antioxidante natural em relação às contrapartes convencionais. A partir dos resultados desse estudo foram desenvolvidas quatro formulações de copa elaboradas com carne ovina considerando-se o impacto das variáveis estudadas. No Capítulo 6 é apresentado o estudo denominado “Percepção sensorial e hedônica de copa ovina: Influência dos parâmetros de processo na avaliação do produto nas condições às cegas e informada”. No geral, as copas elaboradas com carne ovina foram avaliadas positivamente pelos consumidores, revelando grande potencial para o mercado brasileiro. No final da tese é apresentada uma discussão geral dos principais resultados obtidos e conclusões. 18 INTRODUÇÃO GERAL INTRODUÇÃO GERAL Introdução geral 20 A carne tem um papel central na cultura alimentar ocidental. Sem dúvida é uma importante fonte de proteínas com alto valor biológico em muitos países e desempenha papel crítico na manutenção da saúde humana (ARIHARA, 2006). A carne também é uma excelente fonte de nutrientes, como minerais e vitaminas (BIESALSKI, 2005). Alguns desses nutrientes, tais como o ferro, a vitamina B12 e o ácido fólico, não estão presentes ou possuem biodisponibilidade inferior em outros alimentos. Globalmente, a carne suína é a mais consumida (16,0 kg/habitante/ano), seguida pela de frango (15,0 kg/habitante/ano), bovina (9,3 kg/habitante/ano) e, finalmente, carne ovina e caprina (1,9 kg/habitante/ano) (FAO, 2013). O consumo varia entre e dentro dos países e depende basicamente de fatores socioeconômicos, éticos, aspectos religiosos e tradições culturais (FONT-I-FURNOLS e GUERRERO, 2014). Apesar de a carne ovina representar uma pequena parte do total global da produção de carnes, a ovinocultura tem relevância econômica e social nos países produtores (PONNAMPALAM, HOLMAN e SCOLLAN, 2016). Diferentes sistemas de criação de ovinos são utilizados em todo o mundo, que oferecem diversas opções de manejo os quais determinam as características intrínsecas e extrínsecas da carne (SAÑUDO et al., 2007). No caso específico do Brasil, a produção de ovinos é predominantemente de um sistema de criação em pasto, formada por raças especializadas para produção de carne e raças classificadas como rústicas para produção de carne e pele (SOBRINHO, 2001; BARSANTE, 2010; RICARDO et al., 2015). Embora tenha clima favorável e pastagem altamente produtiva, o Brasil ainda continua sendo um país importador de carne ovina, principalmente do Uruguai, Argentina, Chile e Nova Zelândia (BRASIL, 2015). O país tem cerca de 18,4 milhões de cabeças de ovinos, o que mostra uma taxa de crescimento de 18% ao longo dos últimos dez anos (IBGE, 2015). Por esta razão, a ovinocultura tem grande potencial de crescimento no país (RICARDO et al., 2015). O consumo de carne ovina no Brasil aumentou de 0,55 kg/habitante/ano em 2003 para 0,62 kg/habitante/ano em 2013 (FAO, 2013). No entanto, é marcadamente inferior a outros tipos de carne. Tal carne é comercializada quase exclusivamente congelada (FERNANDES et al., 2012); Introdução geral 21 porém, com a tendência de maior procura por produtos de conveniência, fica clara a demanda do mercado por novos produtos. A ovinocultura brasileira tem grande potencial para se destacar no cenário nacional (CARRER, 2009). O aumento na produção e consumo dos produtos dessa cadeia é algo que deve ocorrer a longo prazo em função de alguns fatores, seja pelo crescimento natural da população e da renda, seja pela organização desses setores para expandir seus mercados, dado o seu potencial. Questões culturais precisam ser superadas, ao mesmo tempo em que os aspectos organizacionaisdevem ser equacionados e nesses aspectos despontam fortemente a questão da formalização do abate e da inspeção sanitária dos produtos (MARTINS et al., 2016). Além disso, ressalta-se a necessidade atual de importação de carne ovina visto que nossa produção supre apenas pequena parcela do consumo, retratando, portanto, potencial de crescimento. A compreensão da percepção dos consumidores sobre o produto pode contribuir para o desenvolvimento de estratégias para aumentar o seu consumo, ajudando no entendimento do produto em termos de segurança e qualidade (TROY e KERRY, 2010; FONT-I-FURNOLS e GUERRERO, 2014). Em particular, a diferenciação da carne de cordeiro através do desenvolvimento de produtos do ponto de vista do consumidor e a segmentação de mercado foram identificadas como estratégias relevantes para melhorar a rentabilidade da indústria (BERNUÉS, OLAIZOLA e CORCORAN, 2003; SEPÚLVEDA, MAZA e MANTECÓN, 2010). A percepção do consumidor em relação à carne, como qualquer outro produto alimentício, é complexa e depende de muitas variáveis inter-relacionadas (KÖSTER, 2003). Entender como os consumidores percebem os produtos é um grande desafio para os pesquisadores devido à complexidade do processo de escolha (DONOGHUE, 2000). Desta forma, o entendimento dos fatores que determinam os processos de escolha dos alimentos por parte dos consumidores é de crucial importância para a inovação de produtos e para adequadas estratégias de marketing (VERBEKE, 2005). Embora vários estudos tenham sido realizados para compreender a percepção do consumidor em relação à carne, poucos abordaram a carne ovina. Os estudos sobre a carne ovina se concentraram principalmente na influência das características intrínsecas e extrínsecas na aceitação do consumidor e intenção de compra (FONT- I-FURNOLS et al., 2009, 2011; BERNUÉS, RIPOLL e PANEA, 2012; HERSLETH et Introdução geral 22 al., 2012). No entanto, poucos consideraram a percepção do consumidor particularmente em países não tradicionais na produção de carne ovina, como o Brasil. Deste modo, esta pesquisa teve como foco de estudo a percepção do consumidor de carne ovina. 24 REVISÃO DE LITERATURA REVISÃO DE LITERATURA Revisão de literatura 26 1. Panorama da ovinocultura A ovinocultura teve início nos primórdios da civilização. Desde a antiguidade, os ovinos (Ovis aries) foram domesticados para produção de carne, embora frequentemente como um produto secundário para produção de lã. Isto resultou em uma variedade de raças ovinas que divergem em termos de produção e adaptação climática. Portanto, existem diferenças inerentes entre as raças ovinas quanto à produtividade e qualidade da carne. Atualmente, existem mais de 800 raças de ovinos domésticos espalhadas pelo mundo, das quais as maiores concentrações encontram- se na Ásia, África e Oceania (BELLUZO, KANETO e FERREIRA, 2001; ZEN, SANTOS e MONTEIRO, 2014). Mundialmente, a carne ovina representa aproximadamente apenas 7% de toda a carne produzida. Segundo dados da FAO (2014), o rebanho ovino mundial é de aproximadamente 1,2 bilhões de cabeças, a China se destaca como sendo o país com maior número de animais, seguido da Austrália, Índia, Irã, Sudão e Nova Zelândia. A Austrália e Nova Zelândia são reconhecidos por desenvolverem sistemas de produção de alta produtividade, possuindo rebanhos de 73 e 30 milhões de cabeças, respectivamente (FAO, 2014). Apesar da tradicional atividade laneira, a produção de carne ovina e, em especial, a carne de cordeiro principalmente voltada à exportação, é destaque na produção agropecuária desses países. O Brasil representa aproximadamente 1,5% do rebanho ovino mundial, em 2005 possuía 15,6 milhões de cabeças, passando para 18,4 milhões de cabeças em 2015 (IBGE, 2015). Apesar do crescimento da produção de carne nos últimos anos, o Brasil importa carne ovina para abastecer o mercado consumidor, visto que a oferta ainda é insuficiente. De acordo com os dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), em 2014 as importações brasileiras de carne ovina atingiram aproximadamente 10 mil toneladas (peso de embarque), deste total cerca de 90% teve origem do Uruguai, enquanto o restante se dividiu entre Argentina, Chile e Nova Zelândia. Apesar de a carne ovina representar uma pequena parte do total global da produção de carnes, a ovinocultura tem relevância econômica e social nos países produtores (PONNAMPALAM, HOLMAN e SCOLLAN, 2016). A criação de ovinos tem custos menores se comparada com outras espécies, devido às características rústicas Revisão de literatura 27 dos animais (MONTEBELLO e ARAÚJO, 2009). Esses pequenos ruminantes se adaptam facilmente a vários ambientes, são precoces sexualmente e atingem peso de abate em pouco tempo, ou seja, produzem uma grande quantidade de carne rapidamente. Por todas estas características, a ovinocultura é uma atividade pela qual atualmente muitos programas governamentais e associações de incentivo estão sendo criados para estimular principalmente os pequenos produtores (IBGE, 2013). Segundo Martins et al. (2016), o pequeno produtor, inclusive familiar, deve ser colocado como elemento essencial no direcionamento estratégico, dado a sua importância produtiva e social. No Brasil, a criação de ovinos está sendo cada vez mais explorada nas diversas regiões do país, tornando-se uma nova alternativa para o produtor rural (TEIXEIRA, 2010; NOGUEIRA e NOGUEIRA JUNIOR, 2005). A região Nordeste se destaca e representa 60,6% do rebanho nacional, seguida da região Sul com 26,5%, e uma pequena parcela representada pelas regiões Centro-Oeste (5,6%), Sudeste (3,8%) e Norte (3,6%) de acordo com o IBGE (2015). Segundo Nogueira e Nogueira Junior (2005), apesar de a região Nordeste apresentar a maior porcentagem dos animais, estes são utilizados para a subsistência da população rural. O consumo de carne ovina no Brasil aumentou de 0,55 kg/habitante/ano em 2003 para 0,62 kg/habitante/ano em 2013 (FAO, 2013). Apesar do progressivo aumento da ovinocultura, o mercado consumidor de carne ovina ainda é bastante reduzido, uma vez que há uma oferta inconstante do produto, sem padronização e com excesso de gordura nas carcaças (FERRÃO et al., 2009). Dessa forma, a produção de carne ovina vem suprindo apenas uma pequena parte do consumo interno, onde o cordeiro é a categoria de maior demanda (PILAR et al., 2002; PINHEIRO et al., 2009; DUTRA et al., 2013). Atualmente, observa-se um aumento do consumo nos grandes centros, principalmente na região Sudeste (VIEIRA et al., 2010). Os principais mercados desses produtos têm duas frentes bem definidas, de um lado o consumo de caráter regional e tradicional, associado a produtos mais simples e de baixo valor agregado, e de outro, o consumo gourmet, em centros urbanos com maior poder de compra (MARTINS et al., 2016). Considerando os vários segmentos produtivos, é importante pensar em uma produção de carne que atenda tanto aos interesses do produtor quanto do consumidor. O produtor precisa ter uma produção maximizada e o consumidor um Revisão de literatura 28 produto com qualidade, tanto nutricional quanto sensorialmente, que incentive o consumo (BONAGURIO, 2001; SEABRA et al., 2002). 2. Aspectos nutricionais da carne ovina A carne ovina possui uma estrutura complexa que consiste de água (73%), proteína (21%), lipídios (5%), carboidratos, vitaminas e minerais que também estão presentes em menores quantidades (PONNAMPALAM et al., 2016). A composição da carne pode ser afetada pela genética, alimentação e idade dos animais. O teor de gordura da carne ovina pode variar de 2% a 10% o que influencia substancialmente os aspectos sensoriais, como aroma, sabor e textura. A fração proteica é altamente digerível, e fornece os aminoácidos essenciais.A carne ovina é uma valiosa fonte de selênio e pode fornecer aproximadamente 20% da ingestão diária recomendada para um adulto, também fornece zinco que pode ser mais facilmente absorvido do que o mineral de origem vegetal, principalmente pela ausência de fitato e fibras que dificultam sua absorção. A carne ovina também é importante fonte de cálcio, magnésio, cobre, fósforo e potássio, sendo todos essenciais para a saúde humana. Curiosamente, a presença desses minerais não só contribui para benefícios de saúde nutricional, mas também desempenha papel importante nas características sensoriais e na qualidade da carne (PONNAMPALAM et al., 2016). Os consumidores muitas vezes relacionam a carne com uma imagem negativa, principalmente pelo alto teor de gordura e a possível associação entre o consumo de carne vermelha e o câncer (OVESEN, 2004a, 2004b; VALSTA, TAPANAINEN e MANNISTO, 2005). Contudo, essa visão ignora o fato de que a carne desempenha papel crítico na manutenção da saúde humana (ARIHARA, 2006). Esforços recentes para reverter essa imagem estão sendo realizados, ressaltando o desenvolvimento de carne ovina com melhor conteúdo de gordura “saudável” a partir de estratégias de manejo alimentar, peso adequado de abate, diferentes sistemas de produção e melhoramento genético (COSTA et al., 2008; PONNAMPALAM et al., 2016). Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 são uma dessas gorduras “saudáveis”, uma vez que têm sido associados com uma maior prevenção de doenças Revisão de literatura 29 cardiovasculares e diabetes, e com a manutenção do sistema neural e dos tecidos (BLANKSON et al., 2000; PONNAMPALAM et al., 2016). Existem muitos tipos de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3, mas aqueles benéficos à saúde são os de cadeia longa (> C13), que incluem o ácido eicosapentaenóico (C20:5n3 - EPA) e o ácido docosahexaenóico (C:22: 6n3 - DHA). Estes ácidos graxos não são propensos à modificação pelos microrganismos ruminais, o que favorece o aumento da deposição no músculo, melhorando, portanto, a qualidade nutricional e funcional da carne (PONNAMPALAM et al., 2001). Além disso, o conteúdo de ácidos graxos poli- insaturados ômega-3 nos ovinos pode ser melhorado com suplementos alimentares ricos em ômega-3. Ponnampalam et al. (2001) observaram que dietas para cordeiros à base de farinha de peixes ou óleo de peixe, por sete semanas antes do abate, proporcionou elevação significativa do percentual de ácidos graxos de cadeia longa na carne. Outra gordura "saudável" encontrada na carne ovina é o ácido linoléico conjugado (CLA), geralmente 0,2 a 2% da gordura total do tecido é CLA, a qual está altamente correlacionada com o teor de gordura da dieta animal (BOLTE et al., 2002; AUROUSSEAU et al., 2004). A genética e a flora microbiana presente no rúmen também desempenham papel importante no teor de gordura e na composição da carne ovina. Efeito significativo do genótipo na composição dos ácidos graxos da carne ovina foi verificado por Sañudo et al. (2000a), Hoffman et al. (2003) e Salvatori et al. (2004). Carne ovina é uma fonte valiosa de vitaminas chave na dieta humana, 100 g de carne pode fornecer quase dois terços da ingestão diária recomendada de vitamina B12 para um adulto, e um quarto das necessidades diárias de vitaminas B2, B3, B5 e B6. A carne ovina também é fonte de vitaminas lipossolúveis, incluindo a vitamina A. No entanto, esforços para produzir uma carne cada vez mais magra tiveram influência negativa no conteúdo desta vitamina (PONNAMPALAM et al., 2016). A vantagem comparativa, em termos nutricionais, da carne ovina em relação aos principais tipos de carnes consumidas no Brasil está relacionada ao baixo valor energético. O Quadro 1 mostra a composição nutricional das principais carnes comercializadas no mercado brasileiro. Revisão de literatura 30 Quadro 1. Composição nutricional (por 100g) da carne bovina, suína, frango e ovina. Bovino1a Suíno1b Frango1c Ovino2 Nutrientes Energia (kJ) 908 778 947 546 Umidade (%) 64,8 67,1 66,5 72,9 Proteína (g) 19,2 20,1 16,4 21,9 Lipídeos (g) 15,0 11,1 17,3 4,7 Gordura saturada (g) 6,9 4,2 5,2 1,7 Gordura mono-insaturados (g) 6,2 5,0 7,2 2,1 Gordua poli-insaturados (g) 0,1 1,7 3,9 0,6 Colesterol (mg) 63 59 85 66 Minerais Sódio (mg) 58 102 63 69 Ferro (mg) 1,5 0,9 0,6 2,0 Zinco (mg) 3,5 1,7 1,1 4,5 Fósforo (mg) 144 192 174 194 Cálcio (mg) 6,0 13,0 6,0 7,2 Vitaminas Retinol (vitamina A) (µg) 4,0 Tr 7,0 8,6 Tiamina (B1) (mg) 0,09 1,06 0,08 0,12 Riboflavina (B2) (mg) 0,09 0,06 0,03 0,23 Niacina (B3) (mg) 1,55 5,67 3,28 5,20 Piridoxina (B6) (mg) 0,2 Tr Tr 0,1 1 Fonte: NEPA, (2011). a Capa de contra-filé sem gordura crua; b Pernil cru; c Frango intero com pele cru. Tr: traço; valores de nutrientes arredondados para números que caíram entre 0 e 0,005 ou valores abaixo dos limites de quantificação. 2 Fonte: Williams, (2007). 3. Aspectos sensoriais da carne ovina As características sensoriais dos alimentos são de grande importância para a preferência e satisfação do consumidor (TUORILA e MONTELEONE, 2009). A cor desempenha um importante papel sobre a qualidade sensorial da carne e destaca-se Revisão de literatura 31 como principal fator de apreciação no momento da compra (VERBEKE et al., 2005; NGAPO, MARTIN e DRANSFIELD, 2007; GRACIA e De MAGISTRIS, 2013). A mioglobina, proteína envolvida nos processos de oxigenação do músculo, caracteriza- se como principal pigmento responsável pela cor da carne (RENERRE, 1990; FAUSTMAN et al., 2010). Entre os componentes dos alimentos, a gordura é o principal composto responsável pelo sabor e pelas propriedades de textura e, assim, para a palatabilidade global do alimento (BEHRENDS et al., 2005; CALKINS e HODGEN, 2007). A gordura atua como reservatório e transportadora de compostos aromáticos, e durante a mastigação do alimento atua como um precursor para certos sabores. Além disso, a quantidade e a composição da gordura influenciam na dinâmica dos compostos de sabor durante o consumo (HORT e COOK, 2007). Sañudo et al. (2000b) relataram que uma menor quantidade de gordura subcutânea, inter e intramuscular reduz consideravelmente a aceitabilidade da carne de cordeiros. O sabor da carne ovina difere com a idade do animal, alimentação e genética (DUCKETT e KUBER, 2001; ARSENOS et al., 2002; SAÑUDO et al., 2000a, 2007; VASTA e PRIOLO, 2006). Por exemplo, o odor e o sabor da carne ovina de animais alimentados com forrageiras ou grãos estão relacionados com a incorporação de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e ômega-6 no músculo (SAÑUDO et al., 2000a). A carne de cordeiros alimentados com pastagens ou de ovinos mais velhos geralmente apresenta odor e sabor intensos, provavelmente devido ao maior teor de ácido α-linolênico (DÍAZ et al., 2005; WOOD e FISHER, 1990) e de produtos de oxidação, conferindo um estranho sabor de ranço (RESCONI et al., 2009) que alguns consumidores provavelmente não gostam porque não estão familiarizados (FONT-I- FURNOLS et al., 2006, 2009). Normalmente, a intensidade do odor da carne ovina se eleva com o aumento do peso de abate (MARTINEZ-CEREZO et al., 2005). Zapata et al. (2000) observaram que o baixo consumo da carne ovina pode estar associado, em parte, às características sensoriais, algumas vezes consideradas desagradáveis, como odor e sabor. Maciez e suculência são atributos de qualidade que influenciam positivamente a preferência do consumidor para a carne de cordeiro (THOMPSON et al., 2005; FONT-I-FURNOLS et al., 2009). Pannier et al. (2014) mostraram que os consumidores preferem carne de cordeiro mais macia e, por vezes, suculenta. Revisão de literatura 32 Globalmente, a prosperidade das indústrias de carne ovina depende da capacidade de atender constantemente às demandas e exigências do consumidor. No entanto,na decisão de compra, os consumidores aplicam uma abordagem mais holística e consideram uma vasta gama de fatores além da aparência e experiência de consumo (FERGUSON et al., 2014). Apesar de ser necessário compreender a percepção dos consumidores, poucas pesquisas sobre o tema em relação às carnes e derivados têm sido conduzidas. De acordo com De Barcellos, Grunert e Scholderer (2011), a qualidade dos produtos cárneos processados depende tanto da informação do produto no ponto de venda como da experiência ao consumi-lo. A experiência do consumo tornou-se um elemento chave para a compreensão do comportamento do consumidor, bem como para o desenvolvimento de novos produtos e o planejamento de estratégias de marketing (CARÙ e COVA, 2003). 4. Potencialidades do mercado brasileiro para produtos derivados de ovinos O maior desafio da ovinocultura reside na produção de carnes com alto padrão de qualidade. Os consumidores brasileiros têm demonstrado que preferem carne de cordeiro macia e com sabor mais suave se comparado à carne de animais mais velhos (PINHEIRO et al., 2009). Por este motivo, as carcaças de animais adultos não têm bom valor de mercado e geralmente não são aceitas para consumo direto, dificultando a comercialização (DUTRA et al., 2013). A industrialização é uma estratégia importante para agregar valor à carne de animais mais velhos, fora do padrão de abate, ou seja, aqueles que não são adequados para a produção de cortes padronizados (MADRUGA, 2004; MATOS et al., 2007). Estudos recentes demonstraram a viabilidade da utilização da carne ovina proveniente de animais mais velhos na elaboração de produtos com adequada aceitação pelos consumidores (GUERRA et al., 2012; YALINKILIÇ et al., 2012, DUTRA et al., 2013, STAJIĆ et al., 2013, PAULOS et al., 2015, STOJKOVIĆ et al., 2015, SAÑUDO et al., 2016). A salga, a secagem e a defumação são consideradas os métodos tradicionais e importantes para a conservação da carne (HÅSETH et al., 2015). Produtos cárneos Revisão de literatura 33 dessecados são produzidos em todo o mundo, que vão desde linguiças até presunto cru (TOLDRÁ e HUI, 2015). Embora esses produtos, na sua maioria, sejam geralmente elaborados com carne suína e bovina, também podem ser utilizados carne de pequenos ruminantes (FEINER, 2006; TEXEIRA, PEREIRA e RODRIGUES, 2011; HÅSETH et al., 2015). O desenvolvimento de produtos de carne ovina de alta qualidade adaptados às exigências dos consumidores representa uma opção interessante para agregar valor e melhorar a rentabilidade do sistema agroindustrial da ovinocultura. No entanto, um dos pontos relevantes é a percepção do consumidor para identificar oportunidades de mercados promissores (VERBEKE et al., 2010; FONT-I-FURNOLS e GUERRERO, 2014). Faz-se também necessário que as informações científicas se complementem e sejam de fácil acesso para toda cadeia produtiva. 5. Percepção do consumidor Escolher o que comer ou beber está entre os comportamentos humanos mais frequentes. Embora aparentemente simples, a escolha de alimentos é um ato complexo que envolve muitos fatores, que podem ser agrupados em características do consumidor, do produto e do contexto específico em que a escolha é feita (KÖSTER, 2009). Essas características interagem e, por sua vez, dependem de fatores adicionais que afetam a tomada de decisão dos consumidores. De acordo com Jaeger (2006), as propriedades sensoriais dos alimentos, bem como um grande número de fatores não sensoriais, determinam as decisões de escolha em relação aos alimentos. A percepção das características de um produto pelo consumidor pode ser influenciada por diversos fatores individuais que afetam a percepção dos atributos sensoriais, os quais interagem com fatores fisiológicos, comportamentais e cognitivos (BREDAHL, 2003). Diferenças individuais na percepção sensorial existem e podem ser influenciadas notadamente por: i) fatores genéticos que afetam a sensibilidade do indivíduo ou, ii) por questões culturais que influem nos hábitos alimentares (BARTOSHUK, 1993). Entretanto, a percepção pode também ser influenciada pelo processo cognitivo próprio de cada indivíduo. Diferenças de natureza cognitiva entre indivíduos podem ser explicadas tanto por diferenças de personalidade como por Revisão de literatura 34 diferenças na abordagem de coleta e processamento de informação do meio ambiente (COREN et al., 1994). A percepção sobre a qualidade de um produto é baseada nas características intrínsecas e extrínsecas no momento da compra (GRUNERT, 2002), as quais são características concretas do produto, que podem ser observadas pelo consumidor, sem o consumo real ou uso (OUDE OPHUIS e VAN TRIJP, 1995). As pistas intrínsecas fazem referência à parte física do produto, como a cor e a quantidade de gordura aparente, específicos da carne. E as pistas extrínsecas estão relacionadas com o produto, como o preço, a marca, a embalagem, o país de origem, não havendo relação com as características físicas do mesmo (OUDE OPHUIS e VAN TRIJP, 1995; STEENKAMP e VAN TRIJP, 1996). De acordo com Steenkamp (1990), as características intrínsecas e extrínsecas são categorizadas e integradas pelos consumidores para estabelecer os atributos de qualidade, os quais também podem advir da experiência ou confiança no alimento. A experiência origina-se do consumo do produto, enquanto que a confiança não pode ser determinada mesmo depois da compra e do consumo, como exemplo, os sistemas de produção, a utilização de medicamentos nos animais, o bem-estar animal. Esses sinais estão ganhando importância devido à crescente preocupação dos consumidores principalmente em relação aos fatores éticos e sustentáveis na produção de carne (FERGUSON et al., 2014). Embora as propriedades sensoriais sejam as dimensões de qualidade mais importantes que conduzem às escolhas do consumidor, fatores não sensoriais também afetam esta escolha. As informações dadas através do rótulo das embalagens podem criar expectativas no consumidor (LANGE, ISSANCHOU e COMBRIS, 2000; DELIZA, MacFIE e HEDDERLEY, 2003), as quais exercem papel importante em relação ao consumo de produtos alimentícios, pois podem beneficiar ou prejudicar a percepção do produto, mesmo antes que ele o experimente (DELIZA e MacFIE, 1996; HURLING e SHEPHERD, 2003). Segundo alguns autores, a expectativa é elemento fundamental no processo de avaliação de produtos alimentícios, pois forma o contexto no qual o mesmo será avaliado (CARDELLO e SAWYER, 1992; DELIZA, ROSENTHAL e COSTA, 2003; DI MONACO et al., 2004). Expectativa pode ser definida como o conjunto de ideias, sentimentos ou atitudes geradas pelo indivíduo a partir de situações, pessoas ou produtos que venha Revisão de literatura 35 experimentar (CARDOZO, 1965; CARDELLO, 1994; DELIZA, ROSENTHAL e COSTA, 2003). Para criar expectativas sobre os produtos, os consumidores usam pistas intrínsecas e extrínsecas. Se a expectativa criada pelo consumidor for elevada, o consumidor pode estar interessado no produto e optar por comprá-lo. Contudo, as expectativas sensoriais e hedônicas também afetam a resposta do consumidor ao provar o produto (TUORILA et al., 1998). Quando o produto é consumido, as características sensoriais esperadas são comparadas com as reais, levando à confirmação ou não confirmação (DELIZA e MacFIE, 1996). Se as características sensoriais esperadas forem confirmadas, ele provavelmente vai repetir a compra do produto. No entanto, se as características sensoriais esperadas não forem confirmadas, o consumidor provavelmente não irá comprar o produto novamente (DELIZA e MacFIE, 1996). Adicionalmente, tem sido demonstrado que os fatores contextuais podem afetar a aceitabilidade, a intenção de compra e a escolha dos alimentos. Meiselman (2006) definiu contexto de consumo como condiçõesfísicas, sociais e situacionais específicas nas quais os alimentos e/ou bebidas são consumidos. De acordo com Köster (2003), estudo com consumidores na ausência de um contexto de consumo pode implicar em uma avaliação menos precisa, pelo fato dos consumidores estarem menos envolvidos com a tarefa de avaliação dos produtos. Em muitos estudos é evidenciado que o contexto de consumo tem uma grande influência nas atitudes dos consumidores, percepções e escolhas (HEIN et al., 2010, 2012; SESTER et al., 2013; BANGCUYO et al., 2015; LUSK et al., 2015; HERSLETH et al., 2015; JAEGER et al., 2017a). Além disso, estudos recentes têm explorado o impacto do contexto de consumo e adequação dos produtos às respostas emocionais (PIQUERAS-FISZMAN e JAEGER, 2014a, b, c). Estes estudos evidenciam que as associações emocionais diferem quando o consumo do produto é imaginado em diferentes contextos (por exemplo, café da manhã, almoço ou jantar). Consumidores também tendem a selecionar emoções positivas quando o contexto e o produto são apropriados à situação de consumo comparado quando estes são incompatíveis. A influência contextual em estudos de consumidor foi recentemente reconhecida como uma das Revisão de literatura 36 principais direções para estudos futuros para área de ciência sensorial (JAEGER et al., 2017b). 6. Avaliação sensorial e estudos de consumidor A ciência sensorial é ainda jovem, tem forte caráter multidisciplinar que une diferentes áreas, como química de alimentos, tecnologia de alimentos, fisiologia nutricional e psicologia, na busca de compreender o comportamento dos indivíduos relacionados ao comer e beber (KÖSTER, 2003). Diferentes metodologias sensoriais podem ser aplicadas de acordo com a informação que se deseja obter. Estudos com consumidores utilizam basicamente duas abordagens metodológicas, quais sejam, a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. Os métodos qualitativos possuem uma série de técnicas que foram desenvolvidas para uso em pesquisas de marketing e quando se tem pouca informação sobre determinado produto e/ou serviço. Esses métodos abordam principalmente questões de natureza criativa e os fatores motivacionais que impulsionam o comportamento de compra dos consumidores. Possuem grande utilidade em estudos exploratórios, permitindo aos avaliadores explicar as motivações e razões para as suas atitudes, percepções e preferências e, muitas vezes, permitem ao investigador explorar mais profundamente os fatores subjacentes ao comportamento do consumidor (CARDELLO e SCHUTZ, 2005). Desse modo, os métodos qualitativos podem ser usados de forma bastante eficaz para gerar hipóteses que podem ser posteriormente testadas em análises confirmatórias. Os métodos quantitativos podem ser classificados principalmente como testes analíticos e testes afetivos. Os testes analíticos podem ser divididos em duas categorias: métodos discriminativo e descritivo. Os métodos discriminativos visam indicar se os produtos são diferentes ou semelhantes sensorialmente. Enquanto os métodos descritivos visam identificar e quantificar as características sensoriais do produto. Em contraste, os testes afetivos avaliam o quanto os consumidores gostam ou desgostam de um ou mais produtos ou se há preferência (STONE e SIDEL, 2004; Revisão de literatura 37 LAWLESS e HEYMANN, 2010; ABNT, 2014). Na prática, dependendo da especificidade do estudo, esses testes podem ser usados em combinação. As informações geradas pelas metodologias descritivas fornecem resultados expressivos para o estabelecimento de especificações sensoriais de produtos, comparações entre medidas ao longo do tempo para um mesmo atributo com foco em garantia da qualidade, e benchmarking de produtos e protótipos juntamente com produtos da concorrência. Nessa última situação, quando os dados são correlacionados com estudos de aceitação torna-se possível a identificação de atributos que contribuem positivamente para a aceitação, ou seja, aqueles direcionadores do sucesso do produto, assim como a identificação de atributos associados aos defeitos, que impactam negativamente e devem ser evitados (MEILGAARD, CIVILLE e CARR, 2006). 6.1. Associação livre de palavras A associação livre de palavras (Free Word Association) é uma metodologia qualitativa, recentemente aplicada na área de ciência sensorial (ROININEN, ARVOLA e LÄHTEENMÄKI, 2006). É um dos métodos mais utilizados na área da psicologia e sociologia para avaliação de estruturas conceituais, e também para o estudo de crenças ou atitudes (DOISE, CLÉMENCE e LORENZI-CIOLDI, 1993; SCHMITT, 1998; HIRSH e TREE, 2001; ROSS, 2003; HOVARDAS e KORFIATIS, 2006). Esta metodologia consiste em pedir aos participantes que forneçam as primeiras palavras, associações, pensamentos ou sentimentos que vêm à mente quando pensam em um determinado produto ou conceito. Ao lidar com produtos alimentícios, as associações que chegam à mente podem ser as mais relevantes para a decisão do consumidor relacionada à compra de produtos (ROININEN et al., 2006). As ideias expressas na tarefa de associação de palavras são espontâneas e as respostas dos participantes não são influenciadas pelos entrevistadores ou opiniões, como em entrevistas ou grupos focais (WAGNER, VALENCIA e ELEJABARRIETA, 1996; ARES, 2009). Revisão de literatura 38 6.2. Análise Conjunta A análise conjunta (Conjoint Analysis) é um método com princípios estatísticos que tem sido empregado no desenvolvimento de produtos, embalagens, segmentação de mercado e em estudos da influência da marca e de informações na intenção de compra do consumidor (CARNEIRO et al., 2005; MOSKOWITZ e SILCHER, 2006). Visa determinar a importância dada aos diferentes atributos que compõem um produto ou serviço na preferência ou intenção de compra (GREEN, KRIEGER e WIND, 2001). De maneira simplificada, a análise conjunta é a avaliação da combinação de elementos do produto, com o objetivo de entender como esses elementos ou componentes das combinações influenciam a resposta dos consumidores (MOSKOWITZ et al., 2004). A principal vantagem da análise conjunta é a aproximação dos consumidores a uma situação real de compra, na qual a escolha por um produto se dá, entre outros motivos, por aquele que possui a melhor combinação de atributos (CARDELLO, SCHUTZ e LESHER, 2007; MALHOTRA, 2011). O modelo da análise conjunta foi ampliado, no sentido de permitir a avaliação do consumidor por meio de escolhas entre produtos simulados em vez de atribuição de notas em escalas (como no modelo rating-based) ou ordenação de preferências (no modelo ranking-based) (LOCKSHIN et al., 2006). Na realidade, em situações em que um grande número de alternativas de tratamentos ou produtos precisa ser submetido à avaliação pelos consumidores, não é um bom procedimento de coleta requerer que cada consumidor avalie todas as alternativas, conforme ocorre nos modelos tradicionais de análise conjunta (rating-based e ranking-based). Uma possível solução é apresentar os tratamentos a cada avaliador e solicitar que ele escolha uma única alternativa (intenção de compra ou preferência). O método de análise, nesse caso, utiliza dados obtidos pela avaliação baseada na escolha de tratamentos (CARNEIRO et al., 2010). Este método é conhecido como análise conjunta baseada em escolhas (Choice-based Conjoint Analysis) (LOUVIERE e WOODWORTH, 1983). Comparada às formas tradicionais da análise conjunta, é mais realista na simulação do comportamento de compra, o que pode levar a uma validade maior dos resultados (MOORE, 2004). Essas técnicas têm sido amplamente utilizadas em pesquisas de mercado para avaliação da influência de estímulos controlados sobre a resposta do consumidor Revisão de literatura 39 (GREEN e RAO, 1971; GREEN e WIND, 1975; GREEN e SRINIVASAN, 1980,1990; MOSKOWITZ e SILCHER, 2006). A interação entre as características extrínsecas e intrínsecas também tem sido explorada usando várias abordagens para a análise conjunta (ENNEKING et al., 2007; JOHANSEN et al., 2010; MENICHELLI et al., 2012; De PELSMAEKER, DEWETTINCH e GELLYNCH, 2013). 6.3. Questões CATA As características sensoriais dos produtos têm sido tradicionalmente avaliadas por avaliadores treinados por meio da análise descritiva quantitativa (STONE e SIDEL, 2004; LAWLESS e HEYMANN, 2010) representando um dos métodos mais completos e sofisticados para a caracterização sensorial de produtos. Embora esta metodologia forneça resultados detalhados, confiáveis e reprodutíveis, é muito demorada (MURRAY, DELAHUNTY e BAXTER, 2001). Nesse contexto, metodologias que permitem a coleta de informações sobre as características sensoriais dos produtos em um curto prazo, e diretamente dos consumidores, são ferramentas valiosas. Recentemente várias metodologias rápidas para caracterização sensorial foram desenvolvidas e estão sendo aplicadas na área de ciência sensorial. Estas metodologias podem ser realizadas sem treinamento prévio, o que as torna uma alternativa simples e flexível para a caracterização sensorial de produtos (VARELA e ARES, 2012). O método questão CATA (Check-all-that-apply) é um dos mais recentes baseados na avaliação de atributos específicos (ADAMS et al., 2007) e fornecem informações detalhadas sobre como os avaliadores percebem os atributos sensoriais dos produtos, permitindo investigar como as amostras diferem nesses atributos (ARES e VARELA, 2014). Normalmente a pesquisa das questões CATA é realizada em conjunto com testes de aceitação. As questões CATA referem-se a um questionário de múltipla escolha com base em uma lista de características. Nesse tipo de questionário, não existe limite de número de termos a serem selecionados (ARES et al., 2014), os quais podem estar associados tanto com características intrínsecas dos produtos como com aspectos emocionais, intenção de compra, usos e aplicações (MEYNERS e CASTURA, 2014). Consiste em uma lista de palavras ou frases na qual o avaliador é solicitado selecionar Revisão de literatura 40 todas aquelas que ele considera adequadas para descrever o produto (VARELA e ARES, 2012; MEYNERS e CASTURA, 2014), sendo importante garantir o correto entendimento dos termos por parte dos consumidores envolvidos no estudo (VARELA e ARES, 2012; ARES e JAEGER, 2015). Esta metodologia tem sido relatada como uma alternativa simples, válida e reprodutível para a coleta de informações sobre a percepção dos consumidores em relação às características sensoriais de uma ampla gama de produtos (DOOLEY, LEE e MEULLENET, 2010; PARENTE, MANZONI e ARES, 2011; BRUZZONE, ARES e GIMÉNEZ, 2012; PLAEHN, 2012; JAEGER et al., 2013a; MEYNERS, CASTURA e CARR, 2013), especificamente carnes e produtos cárneos (Dos SANTOS et al., 2015; JORGE et al., 2015; MEIER-DINKEL et al., 2016; ALVES et al., 2017; GRASSO et al., 2017). Além disso, a questão CATA não parece influenciar os escores hedônicos (JAEGER et al., 2013b; JAEGER e ARES, 2014). Ares e Varela (2014) ressaltam que nenhuma generalização pode ser feita a respeito da superioridade de qualquer metodologia em termos de sua capacidade discriminativa. Pesquisas adicionais são necessárias para comparar resultados de estudos de caracterização sensorial com diferentes metodologias inovadoras e categorias de produtos. Logo, é uma metodologia que não deve ser utilizada como uma alternativa aos métodos clássicos de análise descritiva, mas sim como uma abordagem rápida para obtenção de informações sobre as características sensoriais dos produtos a partir de consumidores (ARES e JAEGER, 2015). 6.4. Testes afetivos Outra metodologia quantitativa comumente utilizada em estudos com consumidor é o teste afetivo ou hedônico que busca avaliar a resposta do consumidor em relação ao grau de gostar ou preferência frente ao produto como um todo ou frente a alguma característica específica como aparência, odor, sabor e textura (STONE e SIDEL, 2004; MEILGAARD, CIVILLE e CARR, 2006). Existem duas abordagens principais entre os métodos sensoriais, a medição da aceitação e a medição da preferência. Em testes de preferência, os consumidores escolhem um produto sobre um ou mais avaliados. Ao medir a aceitação, o consumidor avalia para cada produto o quanto gostou usando, por exemplo, escala hedônica de 9 pontos ancorada nos Revisão de literatura 41 extremos como “desgostei extremamente” a “gostei extremamente” (PERYAM e PILGRIM, 1957). A utilização de escala hedônica estruturada ou não estruturada tem sido bastante aplicada, tanto devido à confiabilidade e validade dos resultados como à simplicidade para ser utilizada pelos consumidores (STONE e SIDEL, 2004). Determinar a aceitação de um produto a partir de informações obtidas junto a consumidores requer análise estatística que permita segmentar os consumidores em função de suas preferências. O simples cálculo da média de aceitação, quando existem duas ou mais opiniões diferentes a respeito do produto em questão, reduz a validade dos resultados e conclusões obtidas (MacFIE, 1990). É comum haver segmentação de respostas em medidas de atitude em estudos com consumidores, uma vez que os mesmos divergem em seus pontos de vista sobre determinada questão. Desta forma, pode-se aplicar a análise de agrupamento com o objetivo de classificar a amostra em um pequeno número de grupos exclusivos com base na similaridade dos indivíduos que os compõem (HAIR et al., 2009). Os dois principais métodos de análise de agrupamento são a hierárquica e a não-hierárquica. O primeiro combina as observações em uma estrutura hierárquica (dendrograma) que vai de um grupo contendo todas as observações até as observações individuais. Os métodos não hierárquicos, por sua vez, buscam distribuir as observações da melhor forma possível entre o número de grupos especificado (HAIR et al., 2009). Vários procedimentos estatísticos podem ser utilizados na interpretação de dados obtidos em testes sensoriais, entre eles destacam-se histogramas de frequências, análise de variância univariada (ANOVA) e técnicas multivariadas, como a análise de componentes principais e o mapa de preferência (SIDEL et al., 1994). Quando os dados da aceitação são analisados por técnicas estatísticas univariadas, assume-se que o critério de aceitabilidade dos consumidores seja homogêneo, o que implica que os valores obtidos desta forma podem não refletir a média real. Esse valor médio anula o significado dos resultados quando existem padrões de preferência opostos. Por esta razão, a variabilidade individual dos dados deve também ser considerada, e a estrutura dos dados analisada. Greenholff e MacFie (1994) ressaltam que o mapa de preferência pode complementar a análise de aceitação de um produto, pois considera as preferências individuais dos consumidores e não as médias. De acordo com Costell et al. (2000) a inspeção visual do mapa de Revisão de literatura 42 preferência fornece informação relevante para a identificação de grupos de consumidores com diferentes padrões de preferência. Ao identificar os determinantes da aceitação dos consumidores, produtos alimentícios poderiam ser desenvolvidos para melhor atender as necessidades e desejos dos consumidores e, portanto, garantir seu sucesso no mercado (ARES, 2009). 44 OBJETIVOS OBJETIVOS Objetivos 46 O objetivo geral da tese foi avaliar a percepção do consumidor brasileiro em relação à carne ovina e produtos derivados, a fim de encontrar estratégias que promovam o consumo. Os objetivos específicos do presente estudo foram: Entender a percepção do consumidor em relação à carne ovina. Investigar os hábitos de comprae consumo da carne ovina. Avaliar o papel da lembrança do consumidor associada às ocasiões de consumo de produtos cárneos fatiados. Investigar a intenção de compra dos consumidores de produtos elaborados com carne ovina. Desenvolver novos produtos de carne ovina e investigar a percepção dos consumidores. Avaliar o efeito do contexto de consumo na resposta dos consumidores. 48 CAPÍTULO 1 USO DA METODOLOGIA ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS PARA COMPREENDER A PERCEPÇÃO DO CONSUMIDOR FRENTE À CARNE OVINA1 1 Artigo publicado no periódico Meat Science, v. 117, p. 68-74, 2016 (Apêndice A). Capítulo 1 50 O objetivo deste estudo foi reunir informações sobre a percepção do consumidor brasileiro em relação à carne ovina e investigar se é afetada pela frequência de consumo deste tipo de carne. Os participantes foram recrutados via e- mail a partir de uma base de dados das instituições envolvidas no estudo. Na fase de recrutamento, nenhuma informação foi fornecida sobre o objetivo específico e o único critério de seleção dos participantes foi o interesse e disponibilidade em participar do estudo. Um total de 1.025 consumidores brasileiros (65% gênero feminino; faixa etária 18 a 74 anos) participaram da pesquisa. Para caracterizar o perfil dos participantes em relação ao consumo de carne ovina foi perguntado “Você já consumiu carne ovina (ovelha, carneiro e cordeiro)?”; sendo a resposta positiva, o participante foi questionado sobre a frequência de consumo, tendo como opções: “poucas vezes na minha vida”; “algumas vezes por ano”; “pelo menos uma vez por mês”; “pelo menos uma vez por semana”; e “todos os dias ou quase todos os dias”. Os participantes foram divididos em três grupos de acordo com a frequência de consumo de carne ovina: consumo frequente (participantes que responderam que consomem carne ovina na frequência de: “pelo menos uma vez por mês”, “pelo menos uma vez por semana”, “todos os dias ou quase todos os dias”); consumo ocasional (participantes que responderam que consomem carne ovina na frequência de: “poucas vezes na minha vida”, “algumas vezes por ano”); e nunca consumiu (participantes que relataram que nunca tinham consumido carne ovina). Foi apresentada aos participantes a tarefa de associação livre de palavras, na qual foi solicitado que escrevessem quatro palavras, associações, pensamentos ou sentimentos que vinham à mente quando pensavam em carne ovina. Todas as palavras mencionadas pelos participantes foram consideradas para análise de dados, com exceção de palavras ou sequência de caracteres que não tinham sentido. A frequência de cada palavra foi calculada. Em seguida, os dados foram analisados agrupando-se as palavras em categorias e, posteriormente em dimensões. A classificação foi realizada por triangulação. Os resultados foram obtidos por consenso entre três pesquisadores para equilibrar as influências subjetivas dos indivíduos. As categorias e dimensões mencionadas por pelo menos 5% dos participantes foram consideradas para análise. Considerando-se a natureza do estudo exploratório, 5% foi selecionado para evitar a perda de grande quantidade de informações. A existência de diferenças estatísticas na frequência de menção das categorias e dimensões entre os grupos de frequência de consumo de Capítulo 1 51 carne ovina foi avaliada utilizando o teste Qui-quadrado. As associações com a carne ovina foram principalmente relacionadas com características sensoriais e atitude hedônica e sentimentos, indicando que palavras relacionadas com essas dimensões podem ser a principal motivação para o consumo deste tipo de carne. A carne ovina também foi fortemente associada às ocasiões especiais de consumo, sugerindo que a falta de adequação deste tipo de carne em situações de consumo do dia-a-dia pode ser uma barreira para o aumento do consumo de carne ovina. O conceito da carne ovina foi fortemente afetado pela frequência de consumo dos participantes. Os resultados deste estudo forneceram uma visão abrangente sobre a percepção do consumidor brasileiro frente à carne ovina tendo sido possível identificar motivações e barreiras para o consumo, as quais podem ser usadas para desenvolver estratégias visando o aumento do consumo e, desse modo, favorecendo maior lucratividade da cadeia produtiva. 52 CAPÍTULO 2 AVALIAÇÃO DOS HÁBITOS DE COMPRA DO CONSUMIDOR BRASILEIRO E CONSUMO DE CARNE OVINA Capítulo 2 54 Resumo O presente estudo teve como objetivo avaliar a influência de variáveis sociodemográficas nos hábitos de compra e consumo de carne ovina. Foi desenvolvido um questionário on-line composto por 11 questões, no qual foram abordados temas para identificar os conceitos da carne ovina no Brasil e os atributos que direcionam a compra e consumo. Para caracterizar o perfil dos participantes em relação ao consumo de carne ovina, os indivíduos foram divididos em três grupos de acordo com a frequência de consumo: consumo frequente; consumo ocasional; e nunca consumiu. A frequência de consumo de carne ovina afetou fortemente a percepção dos consumidores, sugerindo que familiaridade e experiência prévia tiveram importante papel para este tipo de carne. Os resultados desse estudo forneceram informações úteis para o desenvolvimento de estratégias de marketing que podem promover o consumo de carne ovina entre os consumidores brasileiros e favorecer a disseminação de novos produtos. Palavras-chave: questionário on-line, consumidor brasileiro, carne ovina. Capítulo 2 55 1. Introdução Escolher o que comer ou beber estão entre os comportamentos humanos mais frequentes. Embora aparentemente simples, a escolha de alimentos é um ato complexo, influenciado por muitos fatores e suas interações (KÖSTER, 2009) e, para alcançar o sucesso do produto no mercado é importante compreender a interação entre esses fatores, uma vez que podem ser otimizados durante as etapas de desenvolvimento do produto (VERBEKE et al., 2010). Pelo fato dos consumidores estarem na última etapa da cadeia de produção, estes se tornam uma ferramenta útil para identificar quais fatores afetam seus padrões de comportamento, permitindo que o setor industrial atenda às expectativas, demandas e necessidades do público alvo (FONT-I-FURNOLS e GUERRERO, 2014). Uma das características da atual demanda é a multiplicidade dos consumidores, que envolve distintos conceitos sobre qualidade, onde exigências com relação à procedência, ao modo de produção e ao valor nutricional dos alimentos têm gerado mudança de paradigmas em relação ao consumo de alimentos, especialmente no que diz respeito à proteína de origem animal. Desta forma, o entendimento dos fatores que determinam os processos de escolha dos alimentos por parte dos consumidores é de crucial importância para a inovação de produtos e para adequadas estratégias de marketing (VERBEKE, 2005). De acordo com De Barcellos, Grunert e Scholderer (2011) a qualidade dos produtos cárneos depende tanto da informação do produto no ponto de venda como da experiência de consumi-lo. A experiência do consumo tornou-se um elemento chave para a compreensão do comportamento do consumidor, bem como para o desenvolvimento de novos produtos e de estratégias de marketing (CARÙ e COVA, 2003). A pesquisa focada no consumidor tem fundamental importância para sustentar a demanda futura de carne vermelha, beneficiando não somente a cadeia produtiva da carne bovina e ovina, mas também os consumidores (PETHICK et al., 2011). No entanto, poucos estudos têm enfocado no consumo e percepção do consumidor de carne ovina em comparação com outras carnes (BERNUÉS et al., 2012). Diante deste contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a influência de variáveis sociodemográficasnos hábitos de compra e consumo de carne ovina Capítulo 2 56 pelos brasileiros, visando a importância de se ter uma orientação para o mercado e demanda futura de carne ovina e produtos derivados. 2. Material e Métodos 2.1. Participantes O estudo foi realizado com uma amostra não aleatória de consumidores brasileiros. Este tipo de amostragem pode ser usado em pesquisas qualitativas quando o objetivo é obter uma aproximação do assunto específico (KINNEAR e TAYLOR, 1993). O presente estudo teve a intenção de explorar os conceitos da carne ovina entre os consumidores brasileiros. Os participantes foram recrutados via e-mail a partir de bases de dados das instituições envolvidas no estudo. Na fase de recrutamento, nenhuma informação foi fornecida sobre o objetivo específico e o único critério de seleção dos participantes foi o interesse e disponibilidade em participar do estudo. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2.2. Procedimento experimental Foi desenvolvido e disponibilizado um questionário on-line utilizando a plataforma Survey Monkey®, no qual foram abordados temas para identificar os conceitos da carne ovina no Brasil e os atributos que direcionam a compra e consumo deste tipo de carne. O questionário foi composto por 11 questões, contendo questões abertas e fechadas. Para caracterizar o perfil dos participantes em relação ao consumo de carne ovina, os consumidores foram divididos em três grupos de acordo com a frequência de consumo: frequente (participantes que responderam que consomem carne ovina na frequência de: “pelo menos uma vez por mês”, “pelo menos uma vez por semana”, “todos os dias ou quase todos os dias”); consumo ocasional (participantes que responderam que consomem carne ovina na frequência de: “poucas vezes na minha vida”, “algumas vezes por ano”); e nunca consumiu (participantes que relataram que nunca tinham consumido carne ovina). A fim de facilitar a compreensão do leitor, a Figura 1 contém a sequência das questões, conforme a resposta do participante. Capítulo 2 57 Legenda: - nove afirmativas apresentadas, os participantes podiam marcar mais de uma afirmativa: Razões do não consumo – Nunca tive oportunidade de experimentar; Acho que têm um sabor ruim; Possui um preço superior/maior em relação às outras carnes que compro; Dificuldade de encontrar nos estabelecimentos que normalmente faço compras; Não vejo vantagens nutricionais em consumir esse tipo de carne; Falta de hábito/costume; Irregularidade de oferta; Baixa qualidade dos produtos ofertados; Má apresentação comercial. Razões do baixo consumo – Das vezes que experimentei eu não gostei; Prefiro outros tipos de carne; Possui um preço superior/maior em relação às outras carnes que compro; Dificuldade de encontrar nos estabelecimentos que normalmente faço compras; Não vejo vantagens nutricionais em consumir esse tipo de carne; Falta de hábito/costume; Irregularidade de oferta; Baixa qualidade dos produtos ofertados; Má apresentação comercial. - seis e quatro afirmativas apresentadas, os participantes avaliaram utilizando escala de frequência de 5 pontos (variando de 1: nunca a 5: sempre). Costumo comprar carne ovina – Supermercado; Mercearia; Açougue; Casa de carnes; Direto da fazenda; Feiras livres. O local de consumo é – Na minha casa; Na casa de amigos ou parentes; Em restaurantes; Em festivais de gastronomia. Figura 1. Esquema de sequência das questões conforme resposta do participante. A B Capítulo 2 58 - treze, dez e nove afirmativas apresentadas, os participantes avaliaram utilizando escala Likert de 7 pontos (variando de 1: discordo totalmente a 7: concordo totalmente). Para compra é importante – A cor da carne; A embalagem; O preço; O tamanho da peça; A quantidade de gordura aparente do corte cárneo; Se o corte cárneo têm osso ou não; Ter controle sanitário (inspeção sanitária federal, estadual ou municipal); Ter procedência identificada; Ser vendida a granel, no balcão de carnes do estabelecimento; Ser vendida refrigerada; Ser vendida congelada; A informação de ser carne de cordeiro; O tipo de corte (pernil, paleta, costeleta, steak, T-bone, etc). Consumo carne ovina porque – Gosto do seu sabor; Gosto do seu aroma; Gosto da sua textura; Prefiro a carne ovina em relação às outras carnes; Considero a carne ovina um alimento de alto valor nutricional; O consumo regular traz benefícios à minha saúde; É costume na minha família; Por razões religiosas; Está disponível nos restaurantes que frequento; As informações que obtenho em revistas, jornais e TV são positivas. Interessante encontrar no mercado – Maior variedade de linguiças; Produtos derivados de carne ovina como salsicha e mortadela; Produto derivado de carne ovina como salame; Produto derivado de carne ovina como presunto cozido; Produto derivado de carne ovina como hambúrguer; Produto temperado de carne ovina como espetinhos; Maior variedade de cortes de carne ovina; Cortes defumados; Cortes temperados. - quatro opções apresentadas, os participantes podiam marcar somente uma opção. Termo que se refere à carne ovina – Carne ovina; Carne de ovelha; Carne de carneiro; Carne de cordeiro. Existe diferença – Não existe diferença; Não sei responder se existe diferença; Sim, existe diferença, mas não sei qual é; Sim, existe diferença. Por favor, descreva. Figura 1 (continuação). Esquema de sequência das questões conforme resposta do participante. As perguntas foram realizadas de acordo com a resposta da frequência de consumo dos participantes. Em todas as questões foi utilizada a ferramenta de randomização das afirmações/opções para cada participante. Após o término das questões, os participantes foram convidados a responder algumas perguntas sociodemográficas. 2.3. Análise estatística Para a análise dos dados foi calculada a porcentagem de cada resposta e realizada a distribuição de frequência em gráfico de barras. Os resultados da questão “Para você seria interessante encontrar no mercado” foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e posteriormente ao teste de comparação de médias de Tukey, para identificação de quais grupos de frequência de consumo diferiram entre si ao nível de 5% de significância. Estes resultados foram analisados utilizando-se o programa XLSTAT versão 1.01. 2013. A existência de diferenças estatísticas na frequência de respostas entre os grupos de consumo de carne ovina foi avaliada utilizando o teste Qui-quadrado. Em seguida, um Qui-quadrado por célula foi aplicado para identificar a fonte de variação global do teste (SYMONEAUX, GALMARINI e MEHINAGIC, 2012). C D Capítulo 2 59 Para analisar a questão em que os participantes escreveram a diferença entre a carne de cordeiro, ovelha e carneiro utilizou-se a codificação indutiva (KRIPPENDORFF, 2004). Em primeiro lugar, a busca de termos recorrentes em cada resposta foi realizada, e os termos com significados similares foram agrupados formando diferentes categorias. Esta classificação foi realizada com base na interpretação pessoal de dois pesquisadores envolvidos no estudo. Depois de avaliar os dados individualmente foram definidas as dimensões e categorias por consenso entre os pesquisadores. A frequência de cada categoria foi determinada pela contagem do número de participantes que utilizou a palavra ou frase dentro da mesma dimensão. 3. Resultados e Discussão 3.1. Perfil dos participantes O questionário foi acessado por 1.332 indivíduos, sendo que 0,5% não concordaram em participar da pesquisa, e 21,0% do total de participantes não terminaram de responder o questionário. As características dos participantes em relação ao gênero, idade e naturalidade de cada grupo de consumo estão resumidas na Tabela 1. Três grupos
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