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TRILHAS INTERPRETATIVAS: ENSINO DE 
BIOLOGIA PARA ESTUDANTES COM 
NECESSIDADES ESPECIAIS 
Marilane de Jesus Ferreira 
Elis Cristina Correr 
Mariana Aparecida Bologna Soares de Andrade 
Resumo 
O presente trabalho teve como objetivo apresentar 
um relato de experiência com estudantes com 
deficiência visual em trilhas interpretativas. O projeto 
foi realizado no espaço urbano, em uma praça de 
uma cidade do interior do Estado do Paraná que 
apresenta diferentes espécies de plantas nativas e 
exóticas, possibilitando a aprendizagem de conceitos 
biológicos. Participaram da atividade 22 estudantes, 
sendo 10 cegos ou com baixa visão e 12 videntes, do 
Ensino Fundamental. Para o desenvolvimento da 
atividade foi realizado o mapeamento da praça 
visando verificar espécies nativas e exóticas, as 
espécies foram identificadas usando o nome comum 
e científico com placas em Braille que seriam lidas 
pelos estudantes cegos e com baixa visão e faladas 
para os estudantes videntes vendados. Com os 
roteiros interpretativos elaborados e aplicados na 
Trilha foi possível perceber por meio de relatos, que 
os estudantes veem a natureza de modo especial 
mediante estímulos sensoriais naturais, possibilitando 
o conhecimento biológico das espécies presentes na 
trilha. 
Palavras-chave: Trilhas ecológicas, Deficiência 
Visual, Educação Ambiental. 
 
Introdução 
Em análise histórica e documental do ensino de Biologia 
percebe-se uma incessante busca de estratégias de ensino que 
estimulem a curiosidade dos estudantes, que os instiguem a 
conhecer cientificamente o mundo que os cerca, com o intuito 
de torná-los capazes de compreender, explicar e atuar de modo 
positivo sobre os fenômenos naturais, adquiridos nas aulas de 
Biologia (BRASIL, 1961; BRASIL, 1996; CNE 1998; BRASIL, 
1998; KRASILCHIK, 1986). 
A Lei Nº. 9.795, de 07 de Abril de 1999, que institui a 
Política Nacional de Educação Ambiental (EA), em seu artigo 2º, 
afirma que a EA é um componente essencial e permanente da 
educação nacional, devendo estar presente de forma articulada 
 
 
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em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em 
caráter formal e não formal. Esta lei, em seu artigo 13º define 
Educação Ambiental Não-Formal como: 
[...] as ações e práticas educativas voltadas à 
sensibilização da coletividade sobre as questões 
ambientais e à sua organização e participação na 
defesa da qualidade do meio ambiente. 
A educação ambiental não formal é compreendida pelo 
fato de que ela não opera dentro de um determinado conjunto 
de regras com uma estrutura e currículos rígidos e suas 
avaliações. Ela abrange ações interdisciplinares e isto vale para 
a Educação não formal em qualquer área de conhecimento. 
Segundo Tristão, 
A abordagem tradicional de educação é contestada 
para o processo de resolução de problemas 
ambientais por causa da complexidade da maioria, 
senão de todas as questões ambientais, o que 
impede que eles se encaixem dentro dos limites de 
determinada disciplina, uma vez que são, por 
natureza, interdisciplinares (TRISTÃO, 2008, p. 9). 
Para que a atividade de caráter ambiental se torne mais 
eficiente, de modo que possibilite essa tomada de consciência 
por parte das pessoas, Moreira (2008) propõe a realização de 
trilhas interpretativas conduzidas. 
Segundo Vasconcelos (1997) uma trilha é considerada 
interpretativa quando os recursos que ali se encontram são 
traduzidos por intérprete, folhetos ou painéis, desenvolvendo 
novos campos de percepção. 
Desta visão do papel significativo de atividades de 
educação ambiental em ambientes não formais, outra questão 
surge como ponto de discussão. Como desenvolver atividades 
que sejam significativas tanto para estudantes que não 
precisam de cuidados especiais como estudantes com 
deficiência? 
As pessoas com deficiência ficaram, durante muito 
tempo, esquecidas e negligenciadas pela sociedade e 
pela educação. Sua participação na escola e atuação 
fora dela sempre foram limitadas, restritas por sua 
condição de deficiente. (OLIVEIRA e MACIEL, 2013, 
p.139). 
A Declaração Internacional de Montreal, de 1996, sobre 
inclusão cuja tradução para o português data de 2001 e é 
disponibilizada pelo portal do MEC, estabelece que o acesso 
igualitário a todos os espaços da vida é um pré-requisito para 
os direitos humanos universais e liberdades fundamentais do 
cidadão. 
A Educação Inclusiva consiste em socializar e incluir 
portadores de necessidades educacionais especiais (NEEs) ou de 
distúrbios de aprendizagem na Educação Básica em todos os 
seus graus. Essa educação deve se desenvolver de forma 
 
 
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especial, numa tentativa de atender às diferenças individuais de 
cada criança, através de uma adaptação do sistema educativo 
(LECHNER, 2006). 
A inclusão escolar de pessoas com NEEs é um tema de 
grande relevância e vem ganhando espaço cada vez maior em 
debates e discussões que explicitam a necessidade de a escola 
atender às diferenças intrínsecas à condição humana (SILVEIRA 
e NEVES, 2006). 
O interesse em trabalhar as questões ecológicas, 
incluindo o público com NEEs, nos remete a uma reflexão sobre 
sensibilização e o sentido mais íntimo de educação ambiental. A 
deficiência visual não é barreira para o contato com a natureza 
e há muitas iniciativas que estimulam a inclusão, mostrando 
que as belezas naturais, além de apreciadas com os olhos, 
podem ser percebidas por outros sentidos. (MACIEL e WACHHO, 
2009, p.5). 
Nesta perspectiva, propõem-se como metodologia de 
ensino, atividades desenvolvidas através da trilha interpretativa, 
de forma a possibilitar a percepção e a integração dos 
participantes com o meio ambiente em estudo. 
O objetivo desse trabalho é apresentar a elaboração e 
identificar potencialidades didático-metodológicas em uma trilha 
interpretativa como forma de contribuição para atividades dos 
professores de Biologia. Busca-se subsidiar aulas que 
despertem maior interesse aos valores para a vida sobre 
educação ambiental e biodiversidade e a convivência e interação 
entre estudantes cegos, com baixa visão e videntes. 
 
Atividade em trilhas urbanas para estudantes 
com deficiência visual total, baixa visão e sem 
deficiência com olhos vendados. 
A abordagem educacional das trilhas interpretativas em 
Educação Ambiental para deficientes visuais, como proposta 
didática, tem o seu foco centrado nas possibilidades do 
educando e não em suas limitações. 
As Trilhas Interpretativas em Educação Ambiental 
visam estimular a capacidade de observação e 
reflexão, viabilizando assim, a informação biológica, 
social, cultural, geográfica e histórica, a 
sensibilização e a conscientização socioambiental, 
propiciando ao cidadão, a partir de uma nova leitura 
da realidade, repensar e rever sua relação com o 
meio ambiente como um todo, tanto para o 
deficiente visual quanto para os sem deficiência 
(SÃO PAULO, 2013). 
A interpretação em áreas naturais, por meio de trilhas, é 
uma estratégia educativa que integra o ser humano com a 
natureza, motivando-o a contribuir para a conservação do meio 
ambiente. Além disso, representa uma oportunidade para se 
trabalhar a educação ambiental e garantir o acesso a todos os 
segmentos da população, incluindo portadores de NEEs. 
 
 
 4 
De acordo com pesquisa divulgada em 2012, detalhando 
os resultados do Censo do IBGE de 2010, a deficiência mais 
frequente entre a população brasileira é a visual. Cerca de 35 
milhões de pessoas (18,8%) declararam ter dificuldade de 
enxergar, mesmo com óculos ou lentes de contato (IBGE, 
2012). 
Corn e Koenig (1996) definem a pessoa de baixa visão, 
como: 
[..] aquela que possui dificuldades em desempenhar 
tarefas visuais, mesmo com prescrição de lentes 
corretivas, mas que pode aprimorar sua capacidade 
de realizar tais tarefas com a utilização de 
estratégias visuais compensatórias, baixa visãoe 
outros recursos, e modificações ambientais (p. 4). 
Barraga (1985) define pessoa cega como 
[...] aquela cuja percepção de luz, embora possa 
auxiliá-la, em seus movimentos e orientação, é 
insuficiente para a aquisição de conhecimentos por 
meios visuais, necessitando utilizar o sistema Braille 
em seu processo de ensino e aprendizagem (p.18). 
Esta proposta também é orientada pela Convenção sobre 
os Direitos das Pessoas com Deficiência Protocolo Facultativo à 
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – 
Decreto Legislativo nº 186/2008 – Decreto nº 6.949/20 que 
afirma que os Estados deverão garantir as pessoas cegas as 
competências práticas e sociais. Para isso é necessário a 
 
[...] garantia de que a educação de pessoas, em 
particular crianças cegas, surdas cegas e surdas, 
seja ministrada nas línguas e nos modos e meios de 
comunicação mais adequados ao indivíduo e em 
ambientes que favoreçam ao máximo seu 
desenvolvimento acadêmico e social (BRASIL, 2012, 
p. 50). 
Com essa porcentagem significativa de pessoas com 
baixa visão ou cegas na sociedade e, consequentemente, na 
escola, Lopes e Capellini, (2013, p.154) consideram o 
desenvolvimento de práticas cada vez mais flexíveis e 
inovadoras, a fim de atender às necessidades de todos os 
estudantes, assim como fortalecer o respeito às diferenças. 
Organização da atividade da trilha e da 
pesquisa 
Para o desenvolvimento desta atividade, desenvolvemos 
um trabalho com caráter qualitativo (BOGDAN e BIKLEN, 1996), 
de análise da percepção de 22 estudantes de uma escola da 
rede pública de ensino (10 estudantes cegos ou baixa visão) da 
trilha. Dados foram coletados por meio de uma entrevista que 
 
 
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foi realizada após a atividade na praça. Esta entrevista, grava 
em áudio, consistiu de 4 questões: 
 
1- Quais as maiores dificuldades que você percebeu na 
execução da atividade? 
2- Você se sentiu seguro na trilha? Por quê? 
3- Como você se localizou na trilha? 
4- Comente os aspectos positivos e negativos da 
atividade. 
As questões formuladas permitiram identificar aspectos 
da atividade por meio da percepção dos diferentes estudantes. 
A elaboração da atividade da trilha 
interpretativa 
Para a atividade foi escolhida uma praça conhecida pelos 
moradores da cidade onde fica a escola. A escolha dessa praça 
é justificada como local para o desenvolvimento da atividade 
por estar situada em área urbana proporcionando ao seu 
público usuário um espaço geográfico propício para convivência 
social, lazer, prática de esportes, contemplação, educação 
ambiental e pela coexistência do ambiente natural com o 
ambiente construído. 
Para viabilização do projeto definiu-se as seguintes 
atividades: 
A. Parceria com Escola, Centro de Atendimento a Deficientes 
(CAEDV) e estudantes da escola. 
B. Elaboração da Unidade Didática Trilhas Interpretativas: 
B.1 - Visita à praça urbana para definição do percurso e 
reconhecimento das espécies. As espécies elencadas para a 
construção da trilha foram: Caesalpinia ferrea (Pau-Brasil); 
Araucaria angustifolia (Pinheiro do Paraná); Anacardium 
occidentale (Cajueiro); Camelia japonica (Camélia); Caesalpinia 
ferrea (Pau-ferro); Murraya paniculata (Falsa murta); Mangifera 
indica (Mangueira), Caesalpinia peltophoroides (Sibipiruna); 
Psidium guajava (Goiabeira) Livistona chinensis (Palmeira-
leque); Jacaranda mimosaefolia (Jacarandá-mimoso). 
B.2 Confecção e exposição de cartazes com o nome comum e 
científico das espécies estudadas em letras grandes e em Braile. 
B.3 Para que todos os estudantes pudessem ter acessibilidade 
para seguir a trilha da praça existia uma corda com nós 
(sinalização tátil) que indicavam o local onde os estudantes 
deveriam parar para analisar as diferentes espécies de árvores. 
B.4 Orientações foram elaboradas pelas professoras 
organizadoras do projeto sobre o desenvolvimento das ações 
durante a trilha aos colaboradores e guias dos deficientes 
visuais. Os colaboradores e guias dos deficientes visuais 
receberam as orientações durante a capacitação na escola. No 
momento da trilha foi feita uma apresentação aos deficientes 
para que conhecessem seus guias e foi ofertada uma descrição 
geral da visita guiada e das características da praça, explanando 
 
 
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como seria a trilha por eles percorrida. Foram proporcionados 
aos deficientes visuais detalhes e características que 
possibilitassem aos estudantes uma imagem verbal do local, 
numa linguagem acessiva e descritiva. Os guias dos deficientes 
visuais foram orientados a oferecer informações concretas 
como: a frente possui um obstáculo, vamos à esquerda, a 
direita. 
Os estudantes foram transportados até a praça escolhida para a 
atividade e lá foram recepcionados pelas professoras e 
colaboradores do projeto, onde receberam as orientações do 
percurso da trilha que já estava demarcada pela corda guia. 
Eles fizeram o percurso observando e anotando, dentro das 
possibilidades da sua deficiência e com a ajuda dos professores, 
as espécies de árvores nativas e exóticas, frutíferas ou 
ornamentais. O contato com as árvores foi feito respeitando 
possíveis toxicidades. 
Resultados 
A partir dos dados obtidos, tornou-se possível analisá-los 
e correlacioná-los entre si, comparando os resultados dos 
estudantes com deficiência visual e sem deficiência visual 
vendados, com relação à trilha urbana. 
É preciso salientar que os estudantes sem deficiência 
vendados e os cegos tiveram, de modo geral, muita dificuldade 
na locomoção pela diferença de nível do terreno e obstáculos 
como: gramado, calçadas quebradas, bancos, entre outros. 
Além da localização pela corda tátil, outros modos 
mencionados de se localizar foram o tato, além de pontos na 
trilha utilizados como referência, como as placas de 
identificação de cada árvore escrita em braile e letras com 
fontes aumentadas. Para os estudantes sem deficiência visual, a 
dificuldade encontrada para se localizar na trilha foi maior do 
que a dos estudantes com deficiência, essa dificuldade se deve 
ao fato deles estarem com os olhos vendados e ser esta uma 
experiência nova, fazendo-os perder a percepção do espaço. 
Com relação aos aspectos positivos e negativos da trilha, 
os estudantes com deficiência visual acharam a atividade em si 
positiva, proporcionando a eles uma experiência nova e 
diferente. Para os deficientes visuais entre os aspectos 
negativos alguns citaram os obstáculos naturais da trilha. O 
barulho dos carros, por ser uma trilha urbana central, na 
opinião dos estudantes, dispersava mais, dificultando a 
concentração. Segundo os estudantes sem deficiência visual 
vendados, o principal aspecto positivo foi o uso com mais 
intensidade dos outros sentidos, como o tato e a audição. 
Também foram citados: a maior interação com a natureza, a 
conscientização da importância da visão, as dificuldades 
enfrentadas pelos deficientes visuais, e também o fato da trilha 
não ser muito extensa. Quanto aos aspectos negativos da trilha 
citados pelos estudantes sem deficiência visual, vendados, 
foram os obstáculos naturais, a interferência externa, a 
dependência para se locomover por meio de guias, o que lhes 
causavam uma certa insegurança e a ausência de infraestrutura 
do local. 
 
 
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A seguir destacamos alguns relatos de estudantes que 
participaram da atividade. 
Para um estudante com deficiência visual total (DVT): 
DVT-1: No dia 04 de junho de 2013, nós, os 
deficientes visuais e os professores e ainda outras 
pessoas fizemos aquela trilha na praça. Achei foi 
muito importante para nós e para o povo da cidade. 
Eu, em particular, jamais me esquecerei de tudo o 
que aconteceu naquele dia, principalmente a leitura 
em braile sobre o nome de cada árvore e a 
divulgação tátil o que tem os deficientes visuais. 
Três estudantes com deficiência visual baixa visão 
(DVBV) consideraram:DVBV-1: Foi informativo o dia da trilha, aprendi 
muito. Foi bem legal, aprendi sobre vários tipos de 
árvores, comi algumas frutas deliciosas como manga 
e goiaba. As árvores são incríveis algumas cascudas 
ocas e meio molhadas, foi muito legal. Na trilha 
tinha uma corda que os deficientes visuais iam 
seguindo e os nomes das árvores em braile e 
ampliado. 
DVBV-2: Meu passeio na praça onde eu conheci as 
árvores, frutos e um pouco da paisagem. Eu gostei 
de coisas bonitas, tudo foi bom demais, a equipe foi 
muito inteligente, tudo era gostoso e algumas 
imagens eram inteligentes. 
DVBV-3: Nós saímos até a praça e começamos a 
trilha interpretativa com a ajuda dos guardiões da 
natureza para guiar-nos até cada árvore que nós 
passamos. Nós relamos nela, lemos o nome dela. Na 
primeira árvore nós comemos manga, porque a 
árvore era um pé de manga. Na segunda, nós 
comemos goiaba, mais para frente no final nós 
bebemos suco de caju. Foi tudo filmado desde o 
começo da trilha interpretativa, foi muito legal 
caminhar nessa trilha com os professores. Tinha os 
nomes das árvores escritos com nome científico e 
nome popular, em todas elas. 
Considera-se interessante, também, apresentar as 
respostas dos estudantes que não apresentam deficiência visual 
(SDV) e que participaram da trilha com os olhos vendados: 
SDV-1: A experiência da trilha dos cegos foi muito 
boa, eu consigo enxergar perfeitamente, mas 
quando fiz o percurso inteiro com os olhos vendados 
e sendo guiada por uma pessoa foi como se não 
tivesse chão. 
SDV-2: Tendo esta experiência nós acabamos 
prestando atenção no que as outras pessoas falam, 
 
 
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a gente precisa escutar o próximo se não a gente 
não ia conseguir andar, e a maneira de como você 
precisa tocar as coisas e ir imaginando o formato das 
coisas em sua mente é muito diferente de quando 
você enxerga totalmente. 
Os portadores de deficiência visual fazem parte de um 
dos segmentos da população que sofrem pela falta de espaço 
que oportunizem a recreação e a possibilidade de admirar a 
natureza, principalmente em ambientes naturais como as 
praças urbanas. A atividade educativa com utilização de trilhas 
interpretativas urbanas, adaptadas de acordo com as NEEs dos 
estudantes com deficiência visual, pode instrumentalizar o 
ensino, tornando-se uma estratégia educativa que faz a 
integração entre o homem e o meio ambiente, fazendo com que 
possam contribuir com a preservação, promovendo a 
possibilidade de o estudante com deficiência visual de apreciar, 
compreender e cooperar com a preservação da natureza. 
Na atividade, e pelas considerações apresentadas pelos 
estudantes pode-se concluir a importância desta proposta para 
a educação ambiental em ambientes não formais. Considera-se 
também, significativa as relações e compreensões dos 
diferentes estudantes sobre a atividade. Para os estudantes com 
deficiência visual, a proposta apresentou-se como a superação 
de obstáculos, compreensão da natureza e de ambientes 
urbanos que agregaram o natural como meio de lazer da 
sociedade. Para os estudantes sem deficiência visual, a 
atividade permitiu noções e limitações sobre a deficiência visual, 
fazendo com que os estudantes que enxergam fossem 
sensibilizados pelas dificuldades dos colegas, bem como 
perceber a importância e as potencialidades de seus outros 
sentidos (como o tato e a audição). Considera-se que esses são 
princípios norteadores de atividades de educação ambiental, o 
reconhecimento do ambiente, a percepção da natureza e suas 
riquezas e a relação do homem com esses fatores, além da 
relação entre o homem e suas diferenças. 
Considerações finais 
A trilha interpretativa para deficientes visuais 
proporciona uma experiência que envolve os quatro sentidos, o 
tato, que possibilita o contato com as diferentes texturas das 
folhas, troncos; a audição perceptível pelos sons dos pássaros e 
outros ruídos presentes no espaço urbano; o olfato dos 
diferentes aromas das espécies; o paladar através da 
degustação de sucos e frutas das espécies frutíferas presentes 
na trilha. Esta proposta pode, também, ser considerada como 
significativa para que a percepção do ambiente ocorra por meio 
de diferentes sentidos, tanto para os estudantes cegos ou com 
baixa visão como pelos estudantes que enxergam e tiveram os 
olhos vendados. A natureza e o ambiente ao qual o homem está 
presente devem ser percebidos nos seus mais diferentes 
aspectos seja pelo seu sabor, odor, consistência e som. 
 
 
 
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Sobre as autoras 
Marilane de Jesus Ferreira 
Mestre em Ensino de Ciências Humanas, Sociais e da Natureza 
pela UTFPR. Graduação em Ciências Biológicas pela UEL. 
Graduação em Licenciatura de Química pela FAFICLA. 
Especialista em Química pela UNOPAR. Atualmente é professora 
QPM da Secretaria Estadual de Educação do Paraná. Experiência 
na área de Química, com ênfase em Química há 28 anos. 
E-mail: marilanedejesusferreira@yahoo.com.br 
Elis Cristina Correr 
Graduada em Ciências Biológicas pela UEL. Licenciatura em 
Química pela FAFICLA. Especialização em Ensino de Química 
pela UNOPAR. É Professora PDE - Programa de 
Desenvolvimento Educacional pela UEL - Universidade Estadual 
de Londrina (2011). Atualmente é professora de Química, QPM 
da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. 
E-mail: eliscorrer@hotmail.com 
Mariana Aparecida Bologna Soares de Andrade 
Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UEPJMF). Mestrado e 
Doutorado em Educação Para a Ciência (UEPJMF). Atualmente é 
professora adjunta da Universidade Estadual de Londrina, 
pesquisadora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 
Experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino de 
Ciências e Matemática. 
E-mail: mariana.bologna@gmail.com 
mailto:marilanedejesusferreira@yahoo.com.br
mailto:eliscorrer@hotmail.com
mailto:mariana.bologna@gmail.com
 
 
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INTERPRETIVE TRAILS: BIOLOGY EDUCATION 
FOR STUDENTS WITH SPECIAL NEEDS 
Abstract 
This study aimed to present an experience with students 
with visual impairment in interpretative trails. The project 
was carried out in the urban space, in a town’s square 
from a city of Paraná State, which presents different 
species of native and exotic plants, enabling the learning 
of biological concepts. Participated in the activity 22 
elementary school students, 10 are blind or low vision and 
12 seers. For the development of the activity was carried 
out mapping of the square in order to verify native and 
exotic species, species were identified using the common 
and scientific name with signs in Braille to be read by 
blind students and low vision and spoken to the 
blindfolded sighted students. With elaborate interpretive 
tours and applied to the track it was revealed by reports 
that students see the nature in a special way by natural 
sensory stimuli, enabling the biological knowledge of the 
species present on the track. 
 
Key words: Ecological trails, Visual impaired, Ambiental 
Education.

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