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MATHEUS ALVES DE BARROS AMBIENTALIZAÇÃO DO URBANO: O caso do Complexo do Alemão na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Orientador: Prof. Dr. Carlos Bernardo Vainer (Doutor em Desenvolvimento Econômico e Social/Université de Paris I Panthéon, Sorbonne). Rio de Janeiro 2012 B277a Barros, Matheus Alves de. Ambientalização do urbano : o caso do Complexo do Alemão na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro / Matheus Alves de Barros. – 2012. 94 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Carlos Bernardo Vainer. Tese (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2012. Bibliografia: f. 93-94. 1. Ambientalismo – Rio de Janeiro (RJ). 2. Conflito social. 3. Favela do Alemão (Rio de Janeiro, RJ) – Aspectos ambientais. I. Vainer, Carlos Bernardo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Título. CDD: 303.6 MATHEUS ALVES DE BARROS AMBIENTALIZAÇÃ DO URBANO: O caso do Complexo do Alemão na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós- Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Planejamento Urbano e Regional. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Prof. Dr. Carlos Bernardo Vainer – Orientador Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional - UFRJ ____________________________________ Prof. Dr. Eder Jurandir Carneiro Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ _____________________________________ Prof. Dr. Pedro Novais Lima Junior Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – UFRJ. Dedicatória Dedico esse trabalho aos meus pais: Maria Antônia de Barros e Mauro Ronan Alves (in memoriam). Agradecimentos: A realização e conclusão deste trabalho contaram com o apoio e ajuda de muitas pessoas que seria difícil falar de todas elas, cito apenas algumas, mas sem perder de vista os demais. Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, aos meus pais e aos meus irmãos que amo incondicionalmente. De outra parte, gostaria de agradecer aos professores e funcionários do IPPUR/UFRJ, em especial, ao professor Carlos BernardoVainer pela orientação e leitura atenta. Aos professores Henri Acselrad e Pedro Novais que contribuíramcom suas críticas e comentários. Ao professor Eder Jurandir Carneiro (UFSJ) pela amizade e pelas orientações. Aos amigos, companheiros de lutas e pesquisas, Breno Pimentel Câmara e João Batista Araújo (BABA), pelas orientações, leituras e comentários. RESUMO A pesquisa busca identificar e qualificar o uso da retórica ambiental aplicada ao espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro, por um lado, pelos governos e organismos multilaterais e, por outro, pelas ONGs e atores sociais locais. A partir das análises do material empírico coletado, explanou-se o que diferentes atores sociais entendem pelas mesmas categorias e conceitos (meio ambiente, sustentabilidade, desenvolvimento e justiça ambiental) dentro de um mesmo contexto histórico. A hipótese inicial de que haveria uma dicotomia entre o que se denominava “ambientalistas dos pobres” (Martinez-Alier, 2009), personificado pelo “ambientalismo da Serra da Misericórdia” (SIMAS, 2007), e o ambientalismo oficial (ambientalismo do governo) não se sustentou. Com efeito, constatou-se que o ambientalismomisericordiano– que a primeira vista apresentava-se como sendo dos pobres – se configurava, em determinadas práticas, como sendo o mesmo que aquele preconizado pelo governo. Por outro lado, porém, em outros momentos ele apresenta elementos que o aproxima da concepção preconizada pela justiça ambiental e toda a luta por igualdade e garantia de direitos. Diante disso, perguntar-se-ia: como caracterizá-lo? E porque assim fazê-lo? Eis algumas questões que emergem para a reflexão. Palavras chaves :Ambientalismo.Conflitos. Alemão. Résumé La recherche vise à identifier et qualifier l’utilisation de la rhétorique de l’environnement appliquée à l’espace de la ville de Rio de Janeiro, d’une part, par les gouvernements et par les organisations multilatérales et, d’autre part, par les ONGs et les acteurs locaux. L’analyse des données empiriques recueillies a possibilité d`expliquer comment les différents acteurs sociaux comprendre et signifie les concepts (environnement, la durabilité, le développement et la justice environnementale) dans un contexte historique. L’hypothèse initiale qu’il y avait une dichotomie entre le « environnementalisme des pauvres » (MARTINEZ, ALIER, 2009), personnifiés par le « environnementalisme de Serra da Misericórdia (SIMAS, 2007), et environnementalisme official (du gouvernement) ne sont pas est mis à jour. En effet, il a été constaté que l’environnementalisme Misericórdiano – qui, à première vue, s’est présentée comme étant des pauvres – a été configuré à de telles pratiques comme étant écologiste. D’un autre côté, cependant, d’autres fois il présente des preuves que la démarche de conceptions préconisée par la justice environnementale et la lutte ensemble pour l’égalité des droits et la sécurité. Ainsi, on pourrait demander: comment on peut fais pour le caractérisé? Et pourquoi on le faire? Voici les questions qui émergent pour la réflexion. Mots-Clés : L’environnementalisme. Conflits.Alemão. Sumário: INTRODUÇÃO...................................................................................................09 CAPITULO 1 – O COMPLEXO DO ALEMÃO: OCUPAÇÃO E CONTROLE...18 1.1 – ELEMENTOS DA HISTÓRIA DE OCUPAÇÃO.........................................18 1.2 – AS ATUAIS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DO ALEMÃO..............22 1.3 –VIGIAR E PUNIR: AS OPERAÇÕES MILITARES DE 2007 E 2010.........25 1.3.1 - Operação de 2007: Pan-Americano e PAC..........................................25 1.3.2 - Operação de 2010: a tomada do “controle” bélico do Alemão.................27 1.3.3 - Vigiar e punir: a lógica das ações militares no Alemão?..........................31 CAPÍTULO 2– O PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC)..................................................................................................................34 2.1 - O PAC NACIONAL......................................................................................34 2.2 –O PAC NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO..............................................36 2.3 - O PAC NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO...........................................39 2.4 - O PAC NO COMPLEXO DO ALEMÃO E O PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO ALEMÃO (PDSA)..........................40 2.4.1 - Orçamento e as obras físicas...............................................................43 2.4.2 - O Trabalho Social e o PDSA....................................................................48 2.4.3 - PDSA: uma conclusão.............................................................................52 CAPÍTULO 3– AMBIENTALIZAÇÃO DO COMPLEXO DO ALEMÃO: ATORES E REPRESENTAÇÕES.......................................................................................583. 1 – OS ATORES: VERDERJAR, RAIZES EM MOVIEMENTO E EFETA.......58 3.1.1 - O Verdejar: um fator ambientalizante do Alemão...............................58 3.1.2 - O Raízes em Movimento.........................................................................62 3.1.3 - O Efeta: Movimento de Integração Social................................................63 3.1.4 Verdejar, Raizes, Efeta e o Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia: articulações e parcerias.................................................................65 CAPÍTULO4REPRESENTAÇÕES E AMBIENTALISMOS: JUSTIÇA AMBIENTAL, MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO................................69 4.1. TRAJETÓRIAS QUE SE CRUZAM NA AMBIENTALIZAÇÃO DO ALEMÃO..............................................................................................................69 4.1.1 Entrevistado 1 e o Raízes........................................................................69 4.1.2 Entrevistado 2 e o Verdejar........................................................................70 4.1.3 Entrevistado 3 e o Efeta.............................................................................73 4.1.4 CDLMS: uma conclusão.............................................................................74 5CONSIDERAÇÕES FINAIS:AMBIENTALIZAÇÃO DO URBANO E O CASO DO ALEMÃO.......................................................................................................81 5.1 AMBIENTALIZAÇÃO DOS CONFLITOS SOCIAIS.......................................82 5.2 AMBIENTALIZAÇÃO DAS CIDADES............................................................87 5.3 AMBIENTALIZAÇÃO DO ALEMÃO OU UM VIGIAR E UNIR?.....................92 6 REFERÊNCIAS................................................................................................93 9 Introdução: O tema desta dissertação surgiu a partir de inquietações e investigações, realizadas anteriormente1, sobre os conflitos ambientais que se manifestam na cidade, em particular, aqueles que ocorrem nos territórios habitados pelas classes populares. Na cidade do Rio de Janeiro essas inquietaçõe levaram o autor deste trabalho a refletir sobre os significados e usos das categorias de “meio ambiente”, “favela” e “desenvolvimento sustentável”, sobretudo, dentro do contexto de aplicação de políticas governamentais. Ao que parece, os significados de tais categorias são construídos em determinados contextos culturais, com base em “saberes” específicos. As categorias, porém, tendem a circular por entre os grupos e atores sociais que animam a realidade social. À medida que vão sendo incorporadas, essas imagens ganham novos contornos e outras são construídas. Essa “circulação” está permeada por relações de poder, no sentido de que grupos que, numa determinada sociedade, detêm o controle dos meios de comunicação e da produção de saberes tidos como superiores, ou mesmo “únicos”, têm uma capacidade muito maior de fazer com que suas imagens sejam incorporadas ao imaginário social, em sentido amplo. Desse modo, este estudo se insere no tema geral sobre as formas como determinados conceitos com origens históricas e culturais específicas, e que servem como base tanto para a atuação de governos e organismos multilaterais quanto para os movimentos sociais, são reinventados e reordenados com os mais diferentes sentidos. No caso, estamos analisando as percepções sociais envolvidas nos chamados “conflitos ambientais” sobre categorias como “natureza”, “meio ambiente” e “desenvolvimento sustentável”, nos processos de implantação do Programa de Aceleração do Crescimento 1 Trata-se de projetos de pesquisa de iniciação científica desenvolvidos durante a graduação (2002- 2006), dentre eles destaca-se o “Justiça ambiental e construção de um território de classe popular: o caso do bairro São Dimas na cidade de São João del-Rei –MG.” que pode ser encontrado nos anais do encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Sociedade e Ambiente (ANPPAS, 2006). 10 (PAC/Social e Urbano)2, no Complexo de Favelas do Alemão3, na Zona Norte da cidade. Figura 1 Áreas do Complexo que terão obras de intervenção do PAC - Aspecto do Complexo de Alemão. Fonte: www.emop.gov.br/pac/alemão. 2 Trata-se de um programa proposto pelo governo Federal em parceira com os governos do Estado e Município do Rio de Janeiro. O PAC/Social e Urbano, que ficou conhecido como PAC/Favelas, compõe uma pequena parte de um programa muito mais amplo, lançado em 22 de janeiro de 2007 pelo Governo Federal, com o nome de Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que engloba um conjunto de políticas econômicas, elaboradas para serem aplicadas em quatro anos, 2007 a 2010, nas mais variadas áreas. 3 Trata-se de um conjunto de favelas (o número exato de favelas é alvo de polêmicas, já que o governo diz serem 14, as ONGs e moradores falam em 13, outros contabilizam 12) da Zona Norte do Rio de Janeiro, com uma área de 296,09 hectares (IBGE, 2005) e uma população de aproximadamente 97. 026 habitantes (IBGE, 2010), distribuídos por 22.245 domicílios (RELATÓRIO, 2010). O Complexo apresenta um dos piores indíces de IDH e é considerado uma das áreas mais violentas da cidade. Do ponto de vista sociológico, cabe, aqui, salientar que o entendimento do que seja “Complexo do Alemão” é um objeto de estudo deste trabalho, na medida em que a denominação genérica de “Complexo do Alemão” tende a homoginazar a constelação de relações e identidades sociais presente nessas favelas e ofuscar a análise. Com efeito, há que se considerar que as condições e interesses de quem vive no “Morro do Adeus”, por exemplo, não são as mesmas que aqueles que moram na “Vila Cruzeiro, na “Grota” ou no “Morro da Baiana”. Além disso, é preciso considerar que cada localidade tem sua história, seu mito de origem, seus valores que não são necessariamente os mesmos que as demais, pode até haver valores compartilhados, processos parecidos ou até contemporâneo, mas ainda sim terão identidades distintas. Por outro lado, a midía além de homegenizar ainda constroi visões diferentes para o genérico “Complexo do Alemão” ofusando ainda mais a compreensão. Basta uma rápida olhada na mídia e notaremos que imagem de Complexo do Alemão construida, por exemplo, pelo jornal “O Globo” não é a mesma que aquela sugerida pelo programa “Balanço Geral” do apresentador e deputado estadual do Rio de Janeiro Wagner Montes. Para o presente trabalho optamos em denominar o Complexo do Alemão como um Conjunto de Favelas, com o objetivo evitar a homegenização. Acreditamos que a palavra “conjunto”, em certa medida, fornece uma ideia de heterogeneidade, por isso, ela será utilizada, ao longo do trabalho, para se referir ao então denominado Complexo do Alemão. 11 Ao longo do cronograma da pesquisa foram realizadas observações participantes em um grande número de encontros, audiências públicas (8 no total), reuniões, debates, Fóruns etc., cujo tema central é a implantação do PAC/Social e Urbano na cidade do Rio de Janeiro e os impactos deste na população residente, em particular, no território do Alemão. Além disso, realizamos pesquisas nos arquivos das Secretárias Estadual e Municipal de Obras, arquivos da Empresa de Obras Públicas (EMOP) da prefeitura e, ainda, leituras sistemáticas de textos sobre a história de ocupação do território do Alemão, além de textos sobre sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, conflitos ambientais e ambientalismos. Nesse sentido, a luta de moradores e ONGs do Complexo do Alemão pela preservação, recuperação e transformação da Serra da Misericórdia4 em Parque Ecológico, contra outras formas de uso5 deste recurso “natural”, podem ser lida nos termos de Acselrad (2004), como um conflitoambiental. Ao analisarmos a história da luta de moradores nucleados em torno do Verdejar e de outras ONGs, percebemos uma constelação de relações sociais e atores coletivos que configuram e animam os conflitos ambientais urbanos na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, percebemos, nos territórios considerados como “favelas”, para além das gestões governamentais, uma lógica comum de atuação do Estado, que, através de programas, políticas e projetos, buscam se apropriar da cidade e de seus territórios. Essa lógica atua de duas maneiras. A primeira busca, através de intervenções urbanísticas, “aparelhar” a cidade 4 A Serra da Misericórdia abrange cerca de 43,9 km2 no município do Rio de Janeiro, e está localizada após uma faixa de baixada de aproximadamente 6 km a norte do Maciço da Tijuca e 3 km da costa oeste da Baia de Guanabara no ponto mais próximo de seu relevo: o bairro da Maré. O maciço da Misericórdia chega a aproximados 260 metros de altitude em seu pico culminante a Serra do Juramento. Sua formação geológica de morros e nascentes, quase toda destruída pela construção do Complexo. Restam poucas áreas verdes na região, apesar dos esforços de preservação empreendidos pelo Verdejar e seus parceiros. Disponível em: http://verdejar.wordpress.com/2009/05/24/serra-da-misericórdia, acessado em 10/10/11. 5 Referimo-nos aos “usos” que as empresas de Pedreira (Lafarge, ), Grileiros e Estado dão ao mesmo espaço. 12 com equipamentos urbanos6 que lhe possibilitem ser “competitiva” e “atraente” ao mercado mundial (ACSELRAD, 2009). A segunda busca, através da retórica, a legitimidade ampliada dos responsáveis pelas políticas urbanas; assim, tanto as obras de intervenção urbanísticas quanto as ações militares ocorridas no Complexo do Alemão, entre 2007 e 2011, tendem a ser legitimadas, na medida em que “razões universais” são evocadas7 (ACSELRAD, 2009). O estudo dos processos de implantação do PAC no Complexo do Alemão, por um lado, e o estudo das retóricas acionadas pelos vários atores envolvidos no processo, por outro, iluminam a compreensão desta dinâmica conflitual. Um estudo dessa natureza se justifica na medida em que há um grande número de trabalhos acadêmicos sobre o PAC no Rio de Janeiro (já realizados e em andamento), mas grande parte deles se concentra no Complexo de Manguinhos. Um menor número se dedica ao estudo dos processos de implantação do PAC no Complexo do Alemão. Além disso, o estudo pretende contribuir para a reflexão sobre a forma de atuação das políticas governamentais aplicadas às favelas cariocas num momento em que a cidade passa por grandes transformações fisícas e sociais para se adequar, minimamente, para sediar dois grandes eventos esportivos internacionais: a Copa do Mundo de Futebol (2014) e as Olímpiadas Mundiais (2016). Esse estudo busca jogar luz sobre a problemática do que são os conflitos ambientais urbanos, na medida em que revela a dinâmica conflitual resultante das ações de ONGs e Associações de Moradores em resposta (ou demanda) às políticas sociais omitidas e/ou implantadas nas favelas. 6 Refere-se, aqui, aos projetos de intervenção na parte física da cidade, como, por exemplo: melhorias no sistema de rodo e ferroviário (melhorias circulação de mercadoria e pessoas), melhorias nos portos e aeroportos (infra-estrutura produtiva), etc. 7 Entende-se por razões universais aquelas que de algum modo seria justificada ou legitimada por todos, sem exceções. No caso, cita-se como exemplo as retóricas, ambiental e de segurança pública, já que, supostamente, as consequências da precariedade ou falta de controle desses dois campos afetaria à todos independente de classes, gênero, raça ou crença; ou seja, a insegurança pública - proveniente da delinquência e da criminalidade - e degradação ambiental de um território afetaria toda a população da cidade e, ainda, no caso da degradação ambiental, todo o planeta. 13 Para tanto, realizamos um conjunto de entrevistas semi-estruturadas com um conjunto de atores, tais como: lideranças comunitárias, moradores, militantes, coordenadores e membros da ONG e, também, com o coordenador do projeto Pacto pela Cidadania8. Essas entrevistas permitiram problematizar a maneira como alguns atores locais e de fora do território têm-se utilizado das noções de “desenvolvimento sustentável”, “meio ambiente”, “sustentabilidade” e “justiça ambiental”, no embate com as instituições governamentais e suas políticas. Em contraste, objetivou-se a realização de um conjunto de entrevistas com alguns dirigentes de instituições governamentais, como a Secretária-Executiva do PAC/Rio Mirian Belchior, a coordenadora do PAC/Social estadual, a arquiteta e urbanista Ruth Juberg, e o Coordenador do PAC/Rio pela prefeitura Municipal, o Sr. Icaro Moreno (presidente da Empresa de Obras Públicas – EMOP). Apesar de procurá-los várias vezes não obtivemos sucesso, com exceção da Sra. Ruth, que nos recebeu no dia 19 de outubro de 2011. Diante do insucesso, traçamos outro caminho metodológico para atender a essa demanda da pesquisa. Optamos por utilizar entrevistas e outras matérias divulgadas na impressa - e em outras fontes, entrevistas proferidas por eles nos meios de comunicação de massa - cujo contéudos tratassem da implantação do PAC/Social e Urbano nas favelas cariocas. Assim, assistimos e transcrevemos seis entrevistas, das quais uma com Secretária- Executiva do PAC/Rio Mirian Belchior, duas com a coordenadora do PAC/Rio, Ruth Juberg9, e duas com Icaro Moreno. Além disso, foram pesquisados textos, boletins informativos, filmes e outros materiais de divulgação e propaganda dos governos. A 8 Refere-se ao projeto do Instituto Brasileiro de Análises Social e Econômica (IBASE), cujo objetivo principal é criar “um espaço de negociação das diferenças e de construção de convergências e para a elaboração de propostas e alternativas que potencializem as ações do PAC” (IBASE, 2010). O projeto realizou três encontros denominados de “Fórum pela Cidadania”, no qual estavam presentes os governos Estadual e Municipal, lideranças e moradores de Manguinhos, Rocinha e Alemão. Disponível em: http//www.pactopelacidadania.org.br/index.php/o-projeto, acessado em 05/09/2010). 9 Mesmo realizando a entrevista com a coordenadora do PAC/Social no dia 19/10/11 foi realizado esse procedimento metodológico para ampliar a percepção dos discursos proferidos pelos representantes dos governos. 14 partir desse material e das entrevistas, analisou-se a maneira que os governos têm-se incorporado da questão ambiental e como a utilizam – por exemplo, menções as noções de “meio ambiente”, “desenvolvimento sustentável”, “sustentabilidade” etc., - no contexto da aplicação de suas politícas, em particular, a política do PAC/Social e Urbano. A partir dessas análises (atores locais e externos de um lado e instituições governamentais de outro), objetivou-se explanar o que esses dois conjuntos de atores entendem pelas mesmas categorias e conceitos. Nesse momento, algumas questões são levantadas tais como: quais são os objetivos dos “usos” dessas categorias? Há um confronto (de significado e representação) entre esses dois grupos de atores? Se positivo, poder-se-ia caracterizá-lo como sendo “ambientalistas dos pobres” (grupo de atores locais) e “ambientalistas oficiais” (governos e suas instituições)? O que poder-se- ía afirmar ou negar desses usos ou deste suposto confronto? Além disso, a partir da constatação de que houve a criação de novos espaços de debates e diálogo - entre as instituições governamentais e as organizações locais (Alemão, Manguinhos e Rocinha) – poder-se-ia perguntar quais são as “vozes” do Alemão nos processosde implantação do PAC? O que essas “vozes” dizem ou têm a dizer? De que maneira poder-se-ia falar de autonomia do movimento popular do Alemão? Até que ponto os “dizeres” se confundem e se distanciam? O que pensam algumas lideranças comunitárias sobre a atuação dos governos estadual e municipal na condução de suas políticas e, ainda, o que pensam sobre atores internos: Verdejar, Raízes em Movimento, Efeta? Quais são esses tais espaços de debates? Essas e outras questões foram levantadas no início e, na medida do possível, respondidas no desenrolar do cronograma da pesquisa. Algumas delas ficaram sem respostas, em grande parte, pela ausência ou precariedade dos dados coletatos10 que, dentre outros motivos, apresentou uma incompatibilidade entre o tempo de maturação do objeto (por se tratar de uma análise diacrônica) e o 10 Gravações de seminários, debates, encontros, Fóruns relativos ao tema; coleta de vídeos e gravações disponíveis na Rede Internacional de Computadores (Internet) e em sites oficiais, tais como: Secretárias Estadual e Municipal de Obras; Empresa de Obras Públicas (EMOP), Secretária de Assistência e Direitos Humanos, etc.; anotações feitas a partir das observações participantes, leitura de atas, entrevistas, realização de fotografias e entrevistas semi-estruturadas. 15 tempo de execução do projeto dissertativo. Tinha-se, nos momentos inciais da pesquisa, a hipótese de que haveria uma dicotomia entre o que se denominava “ambientalistas dos pobres” (Martinez-Alier, 2009), personificado pelo “ambientalismo da Serra da Misericórdia” (SIMAS, 2007), e o ambientalismo oficial ou preservacionista (ambientalismo do governo). No decorrer da pesquisa, porém, essa hipótese foi se enfraquecendo, na medida em que os dados apontavam para outra direção: constatou- se que o ambientalismo – que a primeira vista se apresentava como sendo dos pobres, nos termos de Martinez-Alier (2009) – se configurava, em determinadas práticas, como sendo preservacionista11. Essa constação abalou teoricamente, por assim dizer, o modelo analítico proposto pela pesquisa que, em última instância, teve que se adequar (ou aceitar) ao fato de que o material coletado demonstrava algo novo, não previsto pelo projeto inicial. Essa “adequação” gerou uma reflexão: a análise sociológica - de um determinado fenômeno social que é, por natureza, dinâmico, mutável e permeado por conflitos e relações de poder – deve-se ater primeiramente à teoria que, de maneira científica, explicaria o que ele seja ou a descrição tal como ele aparece para o campo epistemológico escolhido12? Ou devem ser feitos os dois movimentos simultaneamente? Sem entrar no mérito da questão, constata-se que a tentativa de análise do assim chamado ambientalismo da Serra da Misericórdia (Alemão) apresenta- se, em parte, um ambientalismo conservacionista que legitima as ações dos governos, que vem desde muito tempo, buscando alternativas à contenção da favelização da Serra da Misericórdia13. Por outro lado, porém, ele apresenta elementos que o aproxima 11 Refe-se ao fato de que o mito que dá origem ao que Simas (2007) denominou como ambientalismo da Serra da Misericórdia, é a preservação ambiental e a preocupação que o espaço da Serra – que também é usado e significado pelas Mineradoras – se transformassem num “grande favelão”. Nesse sentido, se aproximam daquele dissiminado e praticado pelos governos e agências multilaterais. 12 Alusão ao fato de que a Ciência (Gaia) pode ser diferenciada pelo seu objeto e por suas características e pecularidades analíticas; logo, a análise sociológica parte de campo espistemológico distinto daquele elaborado para as ciências naturais ou da terra. Do mesmo modo que a análise sociológica de um fenômeno social é distinta daquela elaborada pela antropologia, ciência política, psicologia ou filosofia para descrever e analisar o mesmo fenômeno que, por sua natureza, tende a ser objeto para todas elas. 13 Este significado e uso atribuídos a Serra da Misericórdia contrapõem aqueles dados pelos invasores (grileiros) e ocupantes (trabalhadores precarizados sem teto) que atribuem a ela o significado e uso de 16 da concepção preconizada pela justiça ambiental e toda a luta por igualdade e garantia dos direitos. Diante disso, perguntar-se-ia: como caracaterizá-lo? E porque assim fazê- lo? Eis questões que emergem para a reflexão. A estrutura do texto está organizada da seguinte maneira. Discute-se, no primeiro capítulo, a história de ocupação, fornecendo elementos que compõem a construção social do território. No item I, do referido capítulo, apresentamos os processos pelos quais se deram a transformação de um ambiente rural para um ambiente urbano. No item II, realizamos um esforço analítico para construir uma leitura dos processos de ocupação do território pelas forças criminosas e sua militarização pelas forças policiais como sendo um “vigiar e punir” (FOUCAULT, 2009). Simultaneamente, busca-se relacionar esse processo de vigiar e punir ao processo ambientalizador, iniciado na última década, para descrevê-los, nos termos que Acselrad (2009) propõe, como um “vigiar e unir”: vigiar pelas forças policiais (as operações militares para garantir a realização das obras do PAC aparelhando a cidade de equipamentos que a possiblite ser competitiva no mercado dos mega-eventos) e unir pela questão ambiental (vista como um problema de todos ou, em termos mais específicos, de toda a cidade). Neste capítulo, apresenta-se o movimento de preservação da Serra da Misericórida como sendo o elemento que unifica a luta de diversas ONGs e atores sociais locais. No item sobre o PAC/Alemão, no capítulo II, retoma-se a questão do vigiar e unir, oferecendo mais elementos, tais como: a participação da população; os interesses obscuros dos governos, empreiteiras e lideranças; plano de desenvolvimento sustentável do Alemão (PDSA) e todo seu processo de elaboração. Em seguinda, no capítulo III, realiza-se uma descrição das ONGs a partir das falas de seus coordenadores e de pesquisas em seus sites, arquivos construção de habitações e demais edificações urbanas. Além disso, observa-se outro uso e significado para o mesmo espaço: exploração mineral, com a produção de britas, cascalhos e derivados pelas empresas Lafarj. O Estado aparece como regulador de tais conflitos e, por vez, interventor – agente responsável pelas políticas de “controle, organização e construção do espaço” – paternalista e corenealista. 17 e outras fontes. Tem-se por objetivo, neste capítulo, demostrar a formação de atores coletivos atuantes no Alemão e seus envolvimentos com as questões políticas do território, sobretudo, aquelas que abordem a temática ambiental. Nesse sentido, a análise se concentrou os processos de “ambientalização das questões sociais” do Alemão. Ao que tudo indica, a formação do Grupo Verdejar aparece como o promotor dessa ambientalização (SIMAS, 2006) que vai, paulatinamente, envolvendo os moradores e as demais ONGs (Raízes em Movimento, Éfeta e outras). Essa “onda” ambientalizante do Alemão que se propaga ao longo da formação e das ações do Verdejar tende a ser incorporada nos discursos e práticas do Raízes em Movimento, Efeta e governos. Por outro lado, busca-se caracterizar as instituições governamentais (seja federal, estadual e municipal) promotoras do PAC como ambientalistas oficiais, cujas práticas e discursos “ambientais” podem ser entendidos, como o “evangelho da ecoficiência” (MARTINEZ-ALIER, 2009). Por fim, faz-se uma análise do conflito ambiental urbanocomo um processo de confronto simbólico, cujas representações culturais para os espaços e ambientes tendem a ser antagônicas e, portanto, estão em permanente disputa entre grupos sociais distintos (ACSELRAD, 2004). Por fim, faz-se uma apresentação do processo de ambientalização dos conflitos sociais (LEITE LOPES, 2004) e das cidades (BRAND & PRATA, 2006) e os conecta ao caso do Alemão. Além disso, retoma-se o “vigiar e unir” (ACSELRAD, 2009) exemplificando-o com a análise do caso do Complexo do Alemão e da cidade do Rio de Janeiro, como parte integrante da lógica global presente em diversas cidades do mundo. 18 CAPITULO 1 O COMPLEXO DO ALEMÃO: OCUPAÇÃO E CONTROLE. Neste capítulo abordaremos alguns aspectos e elementos da história de ocupação e construção social do território atualmente denominado “Complexo do Alemão”, com o objetivo de apresentar e descrever o objeto empírico desta dissertação. 1.1 ELEMENTOS DA HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO. O Complexo do Alemão está localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro e é, atualmente, formado por 14 favelas14, com uma população de aproximadamente 97.542 (IBGE, 2010), que ocupa uma área de 296,09 hectares (IBGE, 2010). O nome do bairro está relacionado com a história de um imigrante polonês chamado Leonard Kaczmarkiewicz, que, na década de 1920, adquiriu terras na Serra da Misericórdia15. À época, essa área era considerada como parte da zona rural da Leopoldina16. Ao que consta, o proprietário era conhecido pela população local como alemão, por sua aparência e sotaque ao falar o português. Logo, a área ficou conhecida como Morro do Alemão. Nesse mesmo período, se instalou na região o Curtume 14 São elas: Morro da Baiana, Morro do Alemão, Nova Brasilia, Pedra do Sapo, Palmeiras, Grota, Mineiros, Reservatório de Ramos, Casinhas, Morro do Adeus, Canitar, Sérgio Silva. 15A Serra da Misericórdia é um maciço rochoso situado na Zona Norte do Rio de Janeiro abrangendo diversos bairros, tendo o seu entorno intensivamente ocupado por áreas residenciais, indústrias, centros comerciais, ruas e avenidas, linhas de trem e de metrô, entre outros equipamentos urbanos. Uma descrição pormenorizada do que se entende e quem entende a Serra da Misericórida será trabalhado no capítulo 4. 16Trata-se da área do entorno da estação de trem denominada Leopoldina. Simas (2006) a define da seguinte maneira: aquelas áreas que eram mais bem atendidas pelos sistemas de transporte tiveram um processo de urbanização mais precoce. Principalmente as áreas atendidas pela Estrada de Ferro D. Pedro II (depois Central do Brasil), como Cascadura, principal aglomeração urbana da freguesia na virada do século. Em seguida vieram as áreas atendidas pela Leopoldina Railway, como Olaria, Ramos e Bonsucesso. Da divisão entre essas linhas principais, veio a divisão entre “subúrbios da Central” e “subúrbios da Leopoldina”, que caracterizam a atual “zona da Leopoldina” (SIMAS, 2006, p. 290 19 Carioca, no bairro da Penha17, considerado nos anos 1950 como a maior indústria de curtição e fabricação de produtos de couro das Américas e a segunda do mundo. O curtume chegou a empregar 3.000 funcionários (MOURA DOS SANTOS, 1987). Paulatinamente, contigentes de operários foram se instalando nas imediações, atraídos pelas indústrias, que cada vez mais ampliavam suas atividades. Com a abertura da Avenida Brasil, em 1946, a região se tornou mais “atrativa”, catalisando mais indústrias, formando, até 1980, o principal pólo de desenvolvimento industrial da cidade (MOURA DOS SANTOS, 1987). O comércio e a indústria cresceram e diversificaram-se, mas a ocupação do território se deu de forma desordenada. Ao que parece, a ocupação da região para fins de habitação começou nos anos inciais do século XX, quando trabalhadores das indústrias que começavam a surgir na região construíam suas casas nos arredores de forma precária e sem nenhuma infra- estrutura, tais como: rede de coleta de esgoto, rede de distribuição de água, (MOURA SANTOS, 1987). No decorrer da administração Pereira Passos foi levado a cabo um verdadeiro projeto de urbanização e de novas formas de deslocamento e distribuição das camadas sociais no espaço, alterando de maneira muito significativa o modo de vida de grandes parcelas da população do município. (MOURA SANTOS, 1987, p. 220) A ocupação começou pelo Morro do Adeus (denominado, à época, como Morro dos Cabritos) e pelo Morro do Alemão. Nas décadas de 1940 e 1950 houve um aumento expressivo da população devido à imigração de trabalhadores nordestinos, que ocuparam as áreas atualmente conhecidas como Nova Brasília, Itararé, Grota, Esperança e Mineiros (MOURA DOS SANTOS, 1987). Como afirma Simas (2006): No decorrer do século XX a região da antiga Freguesia de Inhaúma, já desmembrada em bairros, fortaleceu a sua função de “morada de trabalhador”, com a inovação de que, principalmente nas últimas quatro décadas, algumas 17 Bairro localizado na Zona Norte da cidade que faz limites geográficos com o Complexo do Alemão. 20 atividades industriais se instalaram em bairros como Del Castilho, Ramos, Olaria, Inhaúma e outros. As encostas da Serra da Misericórdia viram o surgimento e a expansão das favelas, principalmente, na segunda metade do século. Como o Morro do Alemão, que dá nome ao complexo e que teria surgido em 1951, quando o “Alemão” (que na verdade era polonês), dono das terras, dividiu e vendeu os lotes (SIMAS, 2006, p. 31) Ainda nos anos 1950, mais precisamente no dia 9 de dezembro de 1951, o Sr. Leonard Kaczmarkiewicz (o Alemão) realizou um empreendimento imobiliário, dividindo sua propriedade em lotes. O loteamento foi realizado de forma irregular, de modo que as obras de infraestrutura básica não foram realizadas, ficando a cargo dos futuros moradores ou do Estado o provimento de equipamentos de uso coletivo, tais como iluminação pública, rede de esgoto, infraestrutura básica etc. A partir dos anos 1960 a ocupação se intensificou. Ao lado das moradias de zinco ou estuque existentes, começaram a surgir construções de alvenaria. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980 a apropriação se completou, com obras na Fazendinha, Palmeiras e Baiana (MOURA DOS SANTOS, 1987). A velocidade com que se deu a ocupação, reforçada pela ausência e omissão de políticas sociais e urbanas, a região se favelizou – se observarmos, nesse mesmo período, veremos que se tratava de um fenômeno comum a todas as regiões da cidade18, uma reprodução capitalista do espaço (HARVEY, 1987) reforçada por uma espoliação urbana (KOWARICK, 1980). O bairro foi constuído sobre a Serra da Misericórdia19. Apesar disso, ainda há áreas de mata e pontos de nascentes de rios20 que são usados como fonte de água 18 Segundo dados do Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1960 a 2000 a população residente em favelas no Rio de Janeiro triplicou. 19 A Serra da Misericórdia abrange cerca de 43,9 km2 no município do Rio de Janeiro, e está localizada após uma faixa de baixada de aproximadamente 6 km a norte do Maciço da Tijuca e 3 km da costa oeste da Baia de Guanabara no ponto mais próximo de seu relevo: o bairro da Maré. O maciço da Misericórdia chega a aproximados 260 metros de altitude em seu pico culminante a Serra do Juramento. Sua formação geológica de morros e nascentes, quase toda destruída pela construção do Complexo. Restam poucas áreas verdes na região, apesar dos esforços de preservação empreendidos pelo Verdejar e seus parceiros. Disponível em : http://verdejar.wordpress.com/2009/05/24/serra-da-misericórdia, acesso: 06/08/2009) 21 pela população. Atualmente grande parte dessas nascentes se transformouem valões de esgoto, devido à falta ou precariedade do sistema de coleta de esgoto e lixo. Por outro lado, parte significativa da Serra é explorada por empresas de mineração (Lafarge, Annhanguera, SNM), que começaram a se fixar a partir da segunda metade do século XX. Atualmente, esses empreendimentos estão em pleno funcionamento e são apontados pela ONGs e lideranças locais como um dos principais causadores da poluição atmosférica da região que se encontra na bacia aérea III21. A partir dos anos 1980, o bairro começa a sofrer com o esvaziamento econômico (desindustrialização), já que a maioria das indústrias da área e entorno fecharam ou se transferiram para outras localidades. A expansão das fronteiras da área residencial coincide com um momento de crise econômica (final dos 1970 e início dos anos 1980) e com aumento do desemprego. Cresce o número de trabalhadores desempregados e precarizados nas grandes cidades brasileiras. Esse contigente vê nas ocupações e na autoconstrução (irregular, precária e insalubre) a saída para o seu problema de habitabilidade, mas ao fazê-lo é, segundo Kowarick (1980), duplamente explorado ou, nos termos do autor, espoliado. Com efeito, o processo de modernização brasileira, em 20 Estando dentro da macro bacia hidrográfica da Baia de Guanabara destacam-se como principais corpos hídricos da região: O Canal do Cunha, o Canal da Penha, os rios Jacaré, Faria, Timbó (que tem suas águas enriquecidas por inúmeros afluentes na Serra da Misericórdia), Faria-Timbó, Cachorros (com suas nascentes na Misericórdia), Irajá e Ramos; onde se situa a Praia de Ramos, considerada pelos órgãos públicos como “a mais poluída do Brasil”. Disponível em: http://verdejar.wordpress.com/2009/05/24/serra-da-misericórdia, acessado em 06/08/2009. 21 O conceito de bácia aerea vem sendo utilizado pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema) na gestão da qualidade do ar da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) levando em consideração a topologia e a meterologia ela dividiu a RMRJ em quatro bácias áreas. A Zona Norte e os municípios da Baixada Fluminense estão localizada na bácia aérea III, considerada a mais poluída da RMRJ. Não é objetivo, aqui, avaliar o grau de influência da atividade mineradora na poluição atmosférica, menos ainda sobre esta na saúde humana (até porque não temos formação técnica para isso), porém, chamamos atenção para o fato por ser ele uma das grandes preocupações das ONGs e lideranças locais, já que no confronto com as mineradoras esse fato é sempre envocado como forma de legitimar o uso da Serra como espaço de preservação, recreação e lazer em detrimento ao uso minerário das empresas. Mais detalhes sobre a categoria de bacia aérea podem ser encontrados no site da Feema. Disponível em www.feema.rj.gov.br, acessado em 08/08/2009. 22 particular da cidade do Rio de Janeiro, pode ser lido, dentre outras leitura possíveis, como um caso de injustiça ambiental. Primeiro porque o projeto de modernização brasileira deixa um passivo sócio-ambiental22 que é sentido, pelas classes populares, até a atualidade. Segundo, porque a lógica do modo de produção capitalista produz, por sua natureza, desigualdades que forçam as classes populares a ocuparem o território, não só porque não tinham onde morar, mas também porque “foram condicionadas a isso para garantir mão-de-obra barata, exercíto industrial de reserva para o processo de industrialização da região” (MOURA DOS SANTOS, 1987, p. 34). Terceiro porque os espaços da chamada região da Leopodina foram sendo, progressivamente, degradado pelas próprias condições de exploração impostas pela industrialização e modernização da então capital brasileira. 1.2 AS ATUAIS CONDIÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS E AMBIENTAIS DO ALEMÃO. Um retrato das injustiças sócio-econômicas e ambientais pode ser observado a partir da consideração de alguns indicadores sociais, tais como: renda per capita; expectativa de vida; mortalidade infantil; nível de escolarização; Índice de Desenvolvimento Humano (IDH); dentre outros23. A renda per capita (1/2 salário minímo) dessa população é 3,3 vezes menor a renda per capita média da cidade (1,7 salários minímos) 29% vivem abaixo da linha de 22 Alguns exemplos podem ser citados aqui: as transformações ocorridas na Zona Norte durante o século XX, sobretudo na segunda metade, como, por exemplo, os aterramentos de ilhas e manguezais para a construção de condições de infra-estrutura capazes de promover o processo de industrialização, como a Av. Brasil, a construção da cidade universitária do Fundão diminuíram a vazão dos rios e gerando “problemas ambientais” como as enchentes que atormenta a vida de quem mora no Complexo da Maré, de Manguinhos e parte baixa do Alemão. 23 Os dados sobre a caracterização sócio-econômica da população que serão utilizados aqui foram extraídos do Relatório do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Alemão (PDSA) publicado pela impresa oficial do governo do Estado do Rio de Janeiro em 2011. Apesar de oficiais e por isso podem ser tendenciosos, os dados apresentam, minimamente, como se apresenta autalmente a situação sócio- econômica e ambiental da população. Há controvérsias (levantadas pelas ONGs locais) sobre os métodos de realização da pesquisa, mas nenhuma delas desconsidera a validade dos dados. Veremos essas controvérsias mais detalhadamente no capítulo 4. 23 pobreza24, o que significa que têm renda inferior a 1/2 salário mínimo (RELATÓRIO PDSA, 2011). Os piores indicadores de renda per capita dentro do Complexo estão nas favelas das Palmeiras, Mineiros-Matinha e Itararé, abaixo de 1/2 salário mínimo. A expectativa de vida dos moradores é de 64,8 anos, nove anos mais baixa do que a média carioca (74, 9 anos). A taxa de mortalidade infantil é de 40,15 por 100.000 habitantes, cinco vezes mais alta que a da Zona Sul da cidade (7,76 por 100.000 habitantes). A região apresenta o mais baixo IDH25entre os 126 bairros da cidade, com 0,711 (igual ao do Gabão), bem distante dos 0,97 pelo bairro da Gávea com 0,97 (equivalente ao da Noruega) e bem abaixo da média da cidade, 0,811 (RELATÓRIO PDSA, 2011). Além disso, a taxa de desemprego é 10,3% índice bem acima da média da cidade (6,8%) (IBGE, 2010). Em localidades como Casinhas, a situação é ainda mais grave, já que de cada 100 habitantes 25 estão desempregados. No universo dos que trabalham 51% estão em situação precária – definida como a dos que não têm carteira assinada e acesso a benefícios trabalhistas – ou vivem de trabalhos eventuais. Na educação, os indicadores não são melhores: 5,9% são analfabetos, bem acima da média da cidade, que é de 4,4%. No grupo etário de 15 a 17 anos, 79% dos jovens frequentam escolas, mas apenas 34% estão na série adequada para sua idade (RELATÓRIO PDSA, 2011). Comparada à população da Zona Sul da cidade, os moradores do Alemão recebem grande parcela de degradação ambiental da cidade – haja vista se situarem 24 Segundo o governo do Estado, o critério adotado no censo domiciliar e empresarial (aplicado entre 2009 e 2010 nas favelas do Alemão) para definição de “linha da pobreza” é aquele formulado pelo Banco Mundial (BM), para o qual “linha da pobreza” são indivíduos que vivem com menos de um dolar por dia (RELATÓRIO PDSA, 2011). 25 IDH é uma medição utilizada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), orgão vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), para avaliar o bem-estar de uma população, levando em consideração renda, educação e esperança média de vida. 24 na baciaaérea III, a mais poluída do Estado. Além disso, boa parte das atividades econômicas poluidoras se concentra nas suas proximidades, como por exemplo, as mineradoras26. As explosões para a extração da brita lançam partículas sólidas no ar que, somadas à poluição química proveniente das indústrias da região, faz dela uma das áreas mais poluídas da cidade. Um dos efeitos dessa poluição é observado na saúde da população que passaram apresentar o chamado “pulmão de pedra” decorrente da inalação da poeira de pedra emitida pelas freqüentes explosões de pedra para extração de brita (PSF/Alemão)27. O esgotamento não atende toda a população, a rede existente é precaria e insuficiente, o mesmo acontece com o abstecimento de água, por exemplo, na favela Mineira-Matinha apenas 9% das residências têm ligações interna a rede oficial (REALTÓRIO PDSA, 2011). Nas partes mais altas, quando há falta de água, é preciso usar uma bomba, administrada pela Associação de Moradores, que cobra uma taxa pelo serviço. Os reservatórios não passam por manutenções regulares gerando, muitas vezes, a chegada de água suja nas residências. Não há coleta regular do lixo para todo o Complexo, apenas 40% dos domicílios são atendidos pela Comlurb (empresa municipal de coleta de lixomado). Segundo dados do Relatório do PDSA (2011) 12% dos domicílios o lixo ainda é queimado ou enterrado no próprio local. Nas proximidades da favela Fazendinha há um lixão que acumula lixo há 20 anos e está na cifra de 400 toneladas de resíduos (RELATÓRIO PDSA, 2011). Além dos lixões o Complexo ainda possui as chamadas “valas negras” (corpos d´águas que se transformam em depósito de lixo) e redes de esgoto, fossas e sumidouros irregulares. 26 As mineradoras que nos referimos são aquelas que se concentram na área da Serra da Misericórida, tais como: a Lafarj, Inhaguera e Sociedade Nacional de Mineração SNM. 27 Ver, por gentileza, o segundo parágrafo da nota 16. 25 1.3 VIGIAR E PUNIR: AS OPERAÇÕES MILITARES de 2007 e 2010. o exército está ocupando o território há um ano e força militar é força militar. A própria palavra já indica que está aqui é a força para manter a “ordem”. Historicamente você militariza um lugar, será que o tempo todo você vai ter que ser vigiado, militarizado? O tempo todo? Uma instância que a partir do medo, imposto pelo Estado junto com a mídia execer um poder de dominação muito forte, então, na medida em que você faz – que enclausura a população e mete medo porque ele sabe que depois do medo vem a esperança de dias melhores. Isso vai sustentar o regime totalitário (Morador da favela Nova Brasilia, entrevista concedida ao autor em 09/10/11). 1.3.1 Operação de 2007: Pan-Americano e PAC. A operação polícial realizada em 2007 nas favelas que compõem o Conjunto do Alemão teve por objetivo disseminar na sociedade uma sensação de “segurança” para a realização do envento dos Jogos Pan-Americanos. O governo municipal da época (César Maia) e o governo estadual (Sérgio Cabral) fizeram uma articulação pontual, já que eram de partidos adversários. Naquele momento, a cidade do Rio de Janeiro já tinha sido oficialmente definida como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014; logo, era preciso esquecer as divergências políticas e trabalhar juntos. A ocupação militar do Alemão começou no dia 2 de maio de 2007. A partir daí foram constantes os tiroteios e confrontos entre policiais e bandidos. Alunos ficaram semanas sem aulas e o comércio local paralisado. A ocupação se intensificou com a operação policial ocorrida em 27 de junho de 2007, que reuniu 1.350 policiais, entre civis, militares e soldados da Força Nacional. Houve método e organização na incursão, planejada ao longo de dois meses28. Na manhã do ataque, nove atiradores de elite ocuparam pontos estratégicos, no alto do morro. Dezenove pessoas foram mortas e várias outras feridas. Treze corpos foram recolhidos pela própria polícia, e outros seis foram deixados à noite numa van em frente à delegacia local, no bairro da Penha. Entre os feridos, sete pessoas foram vítimas de balas perdidas, além de um policial e cinco 28 www.policiamilitar.rj.gov.br, acessado em 08/10/2010 26 traficantes atingidos. De acordo com nota publicada à época pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pelo menos onze dos mortos não tinham relação alguma com o tráfico. Em outubro de 2007, relatório feito por peritos forenses designados pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH) comprovou que houve execuções sumárias e arbitrárias no Complexo do Alemão. Segundo o documento, a polícia gastou 70 balas para matar 19 pessoas, sendo que, pelo menos em dois casos, os laudos comprovam que houve execução. Algumas organizações atuantes no local denunciam que o número de mortos seria muito maior que os 19 anunciados oficialmente. Até hoje não se confirmou a ligação entre esses mortos e o tráfico. Segundo o entrevistado 1: nove tinham alguma ligação – por serem parentes, amigos ou conhecido ainda que inocentes - quatro ou cinco deles tiveram comprovação direta com o tráfico. Teve execução sumária. À pequena distância, três deles menores de 15 anos. Então, foi a matança que eles fizeram em menos de três horas de operação e aí esse processo foi de amedrontar, de opressão (Entrevistado 1, entrevista concedida ao autor em 30/11/ 2011). Já outro entrevistado relata a história de um policial, “chamado” Trovão, que, teria sido um dos grandes caras que a mídia alardeou com fotos dele passando na avenida pisoteando os corpos no chão e ele passando como se estivesse flutuando em cima dos corpos, com um detalhe muito interessante: ele estava com um charuto cubano, um símbolo fortíssimo, para quem lê. Fumar um charuto se traduz em vitória e ele deu uma declaração nos jornais que, para ele, estar aqui é como estivesse no Iraque. Nessa nova invasão policial no Alemão em 25 de novembro de 2010 ele foi pego, e aí abafaram o caso, envolvido em todos os problemas que tiveram, a Dracon e os subtenentes de parte da força de pacificação do exército, em corrupção. Para a gente isso diz muito: um agente do governo militarizado que passa aquela imagem de “ordem”, ele foi pego metido em atividades fora da “ordem”, extorquindo os traficantes. (Entrevistado 3, entrevista concedida ao autor em 23/11/ 2011). 27 1.3.2 - Operação de 2010: a tomada do “controle” bélico do Alemão. A partir de denúncias e de todo o trabalho das organizações locais, juntamente com as instituições de proteção dos direitos humanos da cidade (OAB/RJ, Tortura Nunca Mais, dentre outras), do Estado, do país e internacional, a operação de 2010 teve um resultado, do ponto de vista da violação dos direitos, mais satisfatório, se comparada com as demais. Ainda no ano de 2007, em novembro, três meses depois da operação militar, esteve no Brasil o Alto Comissário chefe de Direitos Humanos da ONU, Filipe Alston29, para compor a mesa de uma audiência pública aberta para a população, com intuito de internacionalizar as denúncias de violações de direitos cometidas pelo Estado nas operações militares. Para a operação de 2010, houve um planejamento, um trabalho de inteligência e construiu-se uma estratégia de intervenção. Isso foi benéfico, na medida em que não houve baixa letal da população civil. Mas isso não quer dizer que não houve violações. No dia 25 de novembro de 2010, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMRJ), com apoio da Marinha do Brasil, ocupou a favela Vila Cruzeiro (Vila da Penha, bairro próximo ao Alemão). No dia seguinte, 26 de novembro, a PMRJ, juntamente com a Polícia Federal, a Polícia Civil e as Forças Armadas, se posicionaram nos arredores do Alemão. Realizaram uma nova operaçãopara tomar o controle de toda a região. Houve intensa troca de tiros entre traficantes e policiais no início da noite do dia 26. Mais cedo, o traficante Anderson Roberto da Silva Oliveira, o Dande, foi preso por policiais da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE). Na operação, a polícia apreendeu mais de trezentas motos na Favela do Cruzeiro, onde também foram 29 O Relatório do Alto Comissário da ONU pode ser visualizado no endereço: http://labirintosdodireito.blogspot.com/2010/07/relatorio-do-comissario-da-onu-sobre.html, acessado em 11/10/11. Trata-se de uma versão do texto do relatório não oficial. 28 encontradas munições e cerca de duas toneladas de maconha, além de cocaína e crack. No dia 27 de novembro, ao final da tarde, cerca de 31 traficantes se renderam à polícia. No dia 28 de novembro de 2010, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE/PMRJ) e as forças armadas fizeram mais uma operação para a retomada do Complexo do Alemão. Os traficantes fugiram pela mata da Serra da Misericórida, que dá acesso a 27 bairros da região. Nesta operação, o BOPE/PMRJ apreendeu cerca de quarenta toneladas de maconha, cocaína, crack e armas de grosso calibre. A imagem que o governo tenta construir com a operação de 2010 é a de que o Estado fez um trabalho de inteligência, uma comunicação de mídia prévia em que ele se colocou em seu papel institucional de acuar, através da intimidação, o poder do tráfico, cujo poder e organização (criminosa) não se apresentam como é propagado pela mídia e pelas instituições governamentais. Ao que parece, trata-se de pequenas organizações (facções) que dominam frações de territórios e que estão em permanente disputa do controle dos pontos de vendas de drogas espalhado pelas favelas do Conjunto. Eles (os criminosos) sentiram o peso do Estado antes mesmo dele chegar; com isso houve todo um recuo e uma fuga em massa pela Serra da Misericórdia que dá acesso a outro grande conjunto de favelas da Zona Norte, o da Penha. O Estado retoma o “domínio do território” – isso não implica dizer que ele tem o domínio no sentido de inibir o tráfico de drogas, pelo contrário, o tráfico continua, porém “desarmando” – o Estado “retoma” o papel de regulador da vida social nesses territórios. No entanto, o Estado não possui instrumentos capazes de desempenhar esse papel, como explica o entrevistado 1: área de favela se você xinga minha mãe eu não posso brigar com você, antes de revidar com um soco num bar da esquina na favela, eu tinha que ir lá no chefe do tráfico e pedir o direito de revidar. Então este tipo de domínio caiu – o de regular a vida em sociedade volta para as mãos do Estado -, só que o Estado não tem instrumentos para regular e a violência interna cresce, tais como: brigas de bares, agressão contra a mulher, dentre outros (Entrevistado 1, entrevista concedida ao autor em 30/11/ 2011). 29 O entrevistado acrescenta que quanto ao tráfico de drogas, o negócio permanece funcionando regularmente: todas as bocas [locais onde são comercializado as drogas] estão funcionando normalmente, na mesma intensidade e quantitativo – o que mudou neste aspecto foi a retirada da ostentação das armas, quando usadas é de pequeno porte e ocultada. A força policial não está fixamente e nem num domínio desse território fisicamente, os traficantes têm sua circulação e atividade inalterada. Agora nem o Estado consegue entrar para fazer a mediação de conflitos da vida social e nem desarticular o tráfico de drogas (Entrevistado 1, entrevista concedida ao autor em 30/11/2011, acrecimo do autor) Outras falas nos levam a refletir sobre as narrativas que são construídas pelos diversos atores que às vezes se assemelham e às vezes se diferenciam. Durante as idas e vindas ao Alemão para a realização do trabalho de campo, o autor se encontrava (nos ônibus, vans e kombis, motos taxis e, mais no final da pesquisa, nas cabines do teleférico) com moradores diversos que, em entrevistas informais, emitiam suas narrativas sobre os mais variados assuntos, dentre eles, estão: as obras e intervenções do PAC, a preservação da Serra da Misericórdia e questão ambiental local e da cidade, a violência e a militarização. Essas narrativas, sem o crivo do gravador e compromisso ou formalidade de uma entrevista a um pesquisador universitário, nos apresentam quadros e imagens destintas para os temas pesquisados. A questão do aumento da violência interna, por exemplo, é um tema interessante a ser investigado, já que essas narrativas - construídas alí num encontro casual, cotidano, numa conversa informal de transporte coletivo – afirmam que a violência permanece como antes e, ainda, que a intervenção do tráfico nos conflitos se dá se somente se, quando pelo menos uma das partes estiver ligada direta ou indiretamente com eles e, por outro lado, quando há casos de extrema covardia30. Logo, a mediação do tráfico nos conflitos intrafavelas 30 Nas falas coletadas, o conceito de covardia aparece como injustiças cometidas por uma das partes no conflito, por exemplo: força física, agressões “gratuidas”, ou seja, violência cometida sem motivo “justificável”, etc. 30 está condicionada, por um lado, a uma relação anterior àquela que se estabelece no conflito e, por outro, por uma relação de justiceiro nos casos de covardias. Assim, a ideia de que a violência interna aumentou pode não ser verdadeira, assim como a de que ela permanece também. Diante deste impasse, somente um trabalho exaustivo sobre o tema poderia nos assegurar uma assertiva quanto à mediação dos conflitos internos e a variação no índice de violência interna. Seria preciso, então, quantificar e classificar todos os conflitos ocorridos em um dado período de tempo - que compreenderia o antes, o durante e o pós PAC – o que não será realizado aqui. Por hora, apresenta-se esse problema com intuito de demonstrar que numa realidade social como a do conjunto de favelas do Alemão afirmar que o Estado, através pela polícia e forças armadas, retomou o controle das mãos do tráfico – como o governo e a mídia em geral vêm construindo essa imagem – é, no mínimo, uma falácia. Por outro lado, assegurar uma assertiva sobre a atual configuração do poder e dos conflitos com base nas narrativas, construídas pelos diversos atores pesquisados é prematura e carente de informações e dados mais precisos. Por fim, o chamado “controle do território” tem sido mantido com a presença do Exército, que permenecerá patrulhando a região até junho de 2012, quando está prevista instalação de quatro Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) 31. 31 “Criadas pela atual gestão da secretaria de Estado de Segurança, as UPPs trabalham com os princípios da Polícia Comunitária. A Polícia Comunitária é um conceito e uma estratégia fundamentada na parceria entre a população e as instituições da área de segurança pública. O governo do Rio está investindo R$ 15 milhões na qualificação da Academia de Polícia para que, até 2016, sejam formados cerca de 60 mil policiais no Estado”. Disponível em: http://upprj.com/wp/?page_id=20, acessado 06/01/12. . 31 1.3.3 Vigiar e punir: a lógica das ações militares no Alemão? Em seu livro “Vigiar e Punir: a história das prisões” Michel Foucault (2009) examina a formação das sociedades dos séculos XVIII a XIX, através de um estudo aprofundado sobre nascimento da prisão. O autor busca descortinar a história dos domínios do saber se concentrando na formação do poder como produção de toda uma hierarquia que se realiza a partir da troca entre saberes disciplinares nas mais diversas instituições, sejam elas propriamente repressivas (tal qual a prisão e asforças armadas); econônomica (como as fábricas) ou até pedagógicas (como as escolas). Para Foucault, nessa troca, o que caracteriza o conjunto hierárquico como vida é o poder difuso, e não o uso privado pelo topo da hierarquia. Ao analisar os séculos XVII a XIX, Foucoult percebe que eles não foram apenas um marco na regulamentação dos exércitos, escolas, prisões, hospitais e fábricas, mas principalmente uma ideia construtiva de uma conversão do homem em máquina, “é algo com intenção de tornar o indivíduo útil, dócil e disciplinado” (FOUCAULT, 2009, p. 30). Este tipo específico de poder que se expande por toda a sociedade, investindo sobre as instituições e tomando forma de técnica de dominação, possui, segundo Foucault, uma tecnologia e história específicas, pois, atinge o corpo do indivíduo, realizando um controle detalhado e minucioso sobre seus gestos, hábitos, atitudes, comportamentos. Nesse sentido, o uso das forças armadas nas favelas do Alemão pode ser visto como parte de uma política que buscar disciplinar os corpos, mudar os “hábitos”, “atitudes” e “comportamentos” entendidos como inadequados ou “fora do padrão”. Um relato de uma liderança exemplifica isso ao falar da ação do exército no território: Não tem o mínimo de diálogo com a população, eles dizem que tem, mas é mentira. Na verdade, o Alemão se tornou um grande circo, né?! E num certo sentido um grande presídio, cartilhas de comportamentos aceitáveis, toque de recolher, existe toqude recolher não para moradores que moram nas vias principais (Itararé e outras), mas para os moradores que moram no pico do Morro. Lá se chega depois das 22 horas vocês será revistado; não são poucos os moradores que reclamam do modo de abordagem do exército e você deve ter ouvido em suas andanças e conversas com os moradores que há uma resistência por parte dos moradores. A última delas foi noticiada pela mídia de um jogo mal explicado, sem a menor ética do ponto de vista da apuração técnica: 32 aconteceu que na favela da Alvorada alguns moradores estavam assistindo a um jogo de futebol e alguns soldados do exército que faziam a patrulha os mandaram abaixarem o som da televisão e paralelo a isso tem a cultura do funk aqui dentro – que é uma cultura fortíssima - eles, em diversas ocasiões, mandaram abaixar o som por ser este visto como uma cultura marginal. Ora, se tem lá cultura que desconsideram como tal eles a proíbem, como tem proibido os garotos de ouvir o funk, nem na sua casa você pode ouvir porque se o som estiver alto eles mandam desligar (Entrevistado 3, entrevista concedida ao autor em 23/10/11) Esse relato oferece, por assim dizer, elementos de como se dá, no caso da militarização do Alemão, a disciplina e controle dos corpos, dos hábitos e comportamentos. Esse tipo de ação das forças armadas e militares se dá em todos os momentos em que a cidade vai sediar algum evento internacional ou de grande porte, ainda com o entrevistado: Você observa isso em todas as ações que tiveram aqui no Alemão; seja na Eco 92 e aí com a morte do jornalista Tim Lopes; nos jogos de 1994, nas ações para o PAN em 2007, na operação de 2010 (Entrevistado 3, entrevista concedida ao autor em 23/10/11). Para Foucault (2009), essa ação do Estado sobre o corpo dos indivíduos não opera simplesmente pela consciência, mais também pelo condicionamento biológico e corporal. É, portanto, justamente esse aspecto que explica o fato de que o corpo humano seja alvo, pela prisão, não para supliciá-lo, mutilá-lo, mas para adestrá-lo e aprimorá-lo. Isso converte, segundo Foucault, numa riqueza estratégica e numa eficácia positiva. Desse modo, o corpo é o meio para a dominação e controle de um grupo (ou grupos) sobre os outros. Para o autor, há um corpo político composto de um conjunto de elementos materiais e técnicos que servem de armas, prolongamentos, pontos de apoio às relações de poder sobre outros corpos, gerando as prescrições, as reformas, as disciplinas. Assim, a anatomia política desenvolve seus efeitos segundo três direções privilegiadas: o poder, o corpo e o saber. Essas direções não são isoladas uma das outras, pois, correlacionam-se. Essas direções podem ser identificadas, no caso do Alemão, na medida em que o poder se estabelece através do “adestramento do corpo” (FOUCAULT, 2009) que, por sua vez, é adquirido na constante militarização do território que se dá pela invocação de 33 “razões universais” (a ideia de segurança pública e de poluição atmosférica, por exemplo). Esse adestramento busca condicionar os indivíduos para que eles apresentem comportamentos e hábitos pré-estabelecidos pelos governos. Assim, os indivíduos que habitam as favelas são vigiados e punidos o tempo todo pelas forças polícias (razão de estado) e, em momentos de que a cidade é sede de grandes eventos, essa “pedagogia” é intensificada de modo a impor comportamentos e hábitos ditos “aceitáveis”. Outra forma de fazer isso é o curso, chamado de módulo de integração, que os futuros moradores dos apartamentos, construídos pelo PAC, são obrigados a frequentar. Neste curso são ministradas aulas de como se deve comportar em condomínio e de como é morar em um apartamento. Então eles participam de um sorteio dos apartamentos e aí eles precisam passar pelo o que a gente chama de modulo de integração por quinze horas presenciais, no qual eles aprendem, dentre outas coisas, a usar a descarga, a viver em condomínio, participar de encontros, a construir uma convenção de condomínio, entender o que é morar em apartamento sem isso não entra (Entrevistada 4, entrevista concedida ao autor em 19/10/2012). Por outro lado, o saber pode ser identificado nos programas de educação ambiental promovidos pelos governos, nos quais se buscam normatizar os comportamentos e hábitos dos indivíduos numa espécie de “código de conduta” (LEITE LOPES, 2004). A fala da coordenadora do PAC/Social expressa essa necessidade de disciplinar os hábitos e comportamentos dos indivíduos que habitam as favelas do Alemão. Ao falar sobre os problemas de destinação do lixo, ela conclui: [...] “a população também é muito mal educada, ela lança o lixo – ela não quer na porta dela, mas ela joga por lado de fora aí atraí roedores, então a população também não ajuda” (Entrevistado 5, entrevista concedida ao autor em 19/10/2012). Essa percepção de que a população é sem “educação” fundamenta e legitima o adestramento promovido pelas forças policiais e pela pedagogia dos programas de educação ambiental, nos quais o “saber” é transmitido para os bárbaros como forma “civilizá-los”. 34 CAPITULO 2 O PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO (PAC). 2. 1 O PAC NACIONAL. O presente capítulo busca descrever a estrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo Federal, com o objetivo de realizar uma análise crítica dessa política governamental, que pretende ser um “plano de desenvolvimento sustentável” e um modelo de “governança” para todo o território (BRASIL, 2010, p. 10) ··. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi lançado em 22 de janeiro de 2007 pelo Governo Lula (2006-2010), com o objetivo de “acelerar” o crescimento econômico do Brasil - já que a economia brasileira vinha apresentando baixas taxas de incremento do PIB por quase três décadas. O programa compreendeu um conjunto de políticas econômicas e sociais para serem aplicadas em quatro anos (2007 a 2010), nas mais variadas áreas: transporte, energia, saneamento, habitação, recursos hídricos etc. Esse programa tem sido coordenado pelo Comitê Gestor do PAC (CGPAC), composto pelos Ministérios da Casa Civil, da Fazenda e do Planejamento, Orçamento e Gestão. Para consolidar as ações, estabelecer metas e acompanhar os resultados de implantação e execução do programa, o governo Federal instituiu o Grupo Executivo do PAC (GEPAC). Esse grupo foi composto pela “Subchefiade Articulação e Monitoramento (Casa Civil), Secretaria de Orçamento Federal (Planejamento), Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (Planejamento), Secretaria Nacional do Tesouro (Fazenda) e Secretaria de Política Econômica (Fazenda) (BRASIL, 2010, p. 20)32. Acredita-se que a expansão de investimentos em infraestruturas social e produtiva é a “condição fundamental para a aceleração do desenvolvimento sustentável no 32 MEDIDAS, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). BRASIL, out. 2010. Disponível em : http://www.brasil.gov.br/pac/medidas-institucionais-e-economicas/medida-degestao/print acessado em 12/10/11. 35 Brasil” (BRASIL, 2010, p. 11) 33. Esperava-se, portanto, que o país pudesse superar as “amarras” da economia e estimular o aumento da produtividade, além de diminuir as desigualdades regionais, sociais e ambientais. (BRASIL, 2010, p. 11). Segundo o relatório do governo federal (BRASIL, 2010), o conjunto de investimentos foi dividido em três eixos principais: (1) Infraestrutura Logística, envolvendo a construção e ampliação de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias; (2) Infraestrutura Energética, contemplando a geração e transmissão de energia elétrica, produção, exploração e transporte de petróleo, gás natural e combustíveis renováveis; (3) Infraestrutura Social e Urbana, englobando saneamento, habitação, urbanização de favelas, melhorias e construção de metrôs, trens urbanos etc. Para a Infraestrutura Logística, a previsão de investimentos durante o quadriênio (2007 a 2010) foi de R$ 58,3 bilhões. Para a Energética, o PAC destinou R$ 274,8 bilhões e para a Social e Urbana R$ 170,8 bilhões. Busca-se com as obras de infraestrutura realizar uma “universalização” dos benefícios econômicos e sociais para todas as regiões do país, integrando-as a um “plano de desenvolvimento nacional” (BRASIL, 2010, p. 15). Observa-se que o objetivo principal do PAC é estimular a eficiência produtiva dos principais setores da economia, impulsionar a “modernização tecnológica”, acelerar o crescimento nas “áreas já em expansão e ativar as áreas deprimidas, aumentar a competitividade e integrar o Brasil” (BRASIL, 2010, p. 15). Para tanto, o programa busca, através de investimentos públicos e de Parcerias Público- Privadas (PPPs), viabilizar a realização das obras e alcançar as metas pré- estabelecidas. Para atingir o volume de recursos previstos, inicialmente de 503,9 bilhões de reais, o governo somou os investimentos públicos diretos (67,8 bilhões de 33 RELATÓRIO, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). BRASIL, out. 2010. Disponível em : www.brasil.gov.br/pac/relatorios-balanco-de-4anos, acessado em 12/10/11. 36 reais em quatro anos), a investimentos dos estados e municípios, financiamento dos bancos oficiais e investimentos privados. A estratégia principal, para aperfeiçoar as medidas e alcançar os resultados em menor tempo, foi a de recuperar a infraestrutura existente, concluir os projetos em andamento e buscar “novos projetos” com potencial para gerar o “desenvolvimento econômico e social”. Entre outras ações, o plano de investimentos previa: 45 mil quilômetros de estradas, 2.518 quilômetros de ferrovias, ampliação e melhoria de 12 portos e 20 aeroportos, geração de mais de 12.386 MW de energia elétrica, construção de 13.826 quilômetros de linhas de transmissão, instalação de quatro novas unidades de refinos ou petroquímicas, construção de 4.526 quilômetros de gasodutos e instalação de 46 novas usinas de produção de biodiesel e de 77 usinas de etanol (BRASIL, 2010, P. 16). Para a área de habitação, o PAC destinou R$ 106,3 bilhões, entre 2007 e 2010, e esperava beneficiar quatro milhões de famílias. Além disso, o programa também deveria prover investimentos em abastecimento de água e coleta de esgoto para 22,5 milhões de domicílios, infraestrutura hídrica para 23,8 milhões de pessoas, bem como garantir a ampliação e a conclusão de metrôs em quatro cidades. Além de infraestrutura e investimentos urbano-sociais, o Programa inclui medidas para estimular o crédito e financiamento, alterações do marco regulatório na área ambiental, desoneração tributária e medidas fiscais de longo prazo. 2. 2 O PAC NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. O governo federal estabeleceu com os estados e municípios da federação uma parceria, através da qual viabilizaria a implantação do PAC em todo o território nacional, de forma a garantir os investimentos públicos nas “áreas estratégicas” elencadas pelo programa. Para o estado do Rio de Janeiro, a estratégia principal do PAC foi a ampliação foi da infraestrutura produtiva existente, com a expectativa de dinamizar o escoamento da 37 produção regional, tanto para o consumo interno quanto para a exportação. Neste sentido, foram projetadas: A construção do Arco Rodoviário do Rio de Janeiro, BR - 393/RJ, com um orçamento previsto de 1.067 milhões; duplicação da BR – 101/RJ no trecho Santa Cruz – Mangaratiba e a construção do acesso ao porto de Itaguaí, com investimento previsto de 220 milhões; a manutenção de rodovias em todo Estado e a construção de sinalização adequada, para tanto, estão previstos 145 milhões em investimentos; a construção de uma ferrovia de Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligará Rio de Janeiro à São Paulo e Campinas, com investimentos orçados em 4.510 milhões até 2010 e após mais 18.040 milhões (BRASIL, 2010, p. 20). Além disso, o PAC/Rio previu a dragagem dos portos de Itaguaí, do Rio de Janeiro e de Angra dos Reis e, também, a adequação da Linha Férrea de Barra Mansa e melhorias nos aeroportos Galeão e Santos Dumont, na cidade do Rio de Janeiro. Segundo o governo do estado, os aeroportos receberão obras de ampliação e melhoramento, respectivamente, da pista, dos Terminais de Cargas e Passageiros I e obras “complementares”. Para infraestrutura social e urbana, o PAC/Rio prevê durante os quatro anos (2007 a 2010), a realização de 18.765 ligações de energia elétrica para a população pobre, que contará também com os recursos oriundos do programa federal Luz para Todos34. Ainda na infraestrutura social está previsto a ampliação do sistema de esgotamento sanitário, com um investimento de 3,1 bilhões de reais. Esses recursos estão destinados às obras de despoluição das baías de Guanabara e Sepetiba; das bacias dos rios Botas e Sarapuí e à revitalização do rio Paraíba do Sul; de ampliação do sistema de abastecimento de água da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Novo Guandu). O PAC social objetiva, 34O Programa Luz Para Todos é um programa do Governo Federal que visa levar energia elétrica para a população do meio rural, seja ela com ou sem recursos financeiros, de forma gratuita. O PLPT foi lançado em novembro de 2003 com o desafio de acabar com a exclusão elétrica no país. A meta era levar energia elétrica para mais de 10 milhões de pessoas do meio rural até o ano de 2008, tendo sido atingida em maio de 2009 e em 2010 já soma-se mais de 12 milhões de beneficiados, ultrapassando as metas iniciais. 38 ainda, a remoção de moradias localizadas em beiras de córregos e áreas de “riscos ambientais”. A lista de localidades a serem removidas é bem ampla e engloba praticamente quase toda a região metropolitana e algumas cidades do interior do estado35. No que se refere ao saneamento básico, uma parte será realizada pela FUNASA36, com investimentos de 36,7 milhões de reais e contemplará praticamente todos os municípios do Estado do Rio de Janeiro. Projetam-se melhorias sanitárias domiciliares, abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta de resíduos sólidos e saneamento em áreas de quilombolas localizadas no
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