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Teoria da Pena

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TEORIA DA PENA
1. FINALIDADE
1.1. Teoria Retributiva
A finalidade da pena era punir, mas não se vislumbrava no Estado a legitimidade necessária para castigar, através da punição, o sujeito que praticasse conduta nociva à sociedade.
1.2. Teoria Relativa ou Preventiva
A finalidade da pena não é castigar, e sim prevenir a ocorrência de crime. A finalidade tem caráter de prevenção geral, para que as demais pessoas se intimidem e não manifestem vontade de praticar crime, e caráter de prevenção especial, em relação ao autor do crime, para evitar que este pratique novo crime. 
1.3. Teoria Mista
A finalidade da pena é prevenir o crime e ressocializar o agente. 
Não há uma teoria que explique científica e satisfatoriamente a finalidade da pena. Por um lado, é certo que a pena não deve ter como único objetivo a punição, mas, de outro, não se percebe na realidade a intimidação das pessoas face à punição, tão pouco a ressocialização do agente; o que se nota é que crimes continuam a ser praticados e que os agentes, pelo menos em nossa realidade, não são ressocializados.
Na prática, a finalidade da pena é de segregação social do agente, não importando o que aconteça com ele depois de ser apenado, desde que fique distante da sociedade.
2. ESPÉCIES
São espécies de pena:
Art. 32 - As penas são: 
I - privativas de liberdade;
II - restritivas de direitos;
III - de multa.
2.1. Privativa de Liberdade
2.1.1. Espécies
A pena privativa de liberdade pode ser de reclusão ou de detenção, diferenciando-se ambas pelo regime de cumprimento de pena:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
2.1.2. Regimes de cumprimento de pena
Lei 7210/84, Art. 110. O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade, observado o disposto no artigo 33 e seus parágrafos do Código Penal.
São regimes de cumprimento da pena: 
- Regime fechado: é aquele cumprido em presídio, encarcerado;
- Regime semi-aberto: cumprido em colônia agrícola ou industrial (poucas colônias existem, o que faz com que na prática o preso cumpra a pena em presídio, mas com privilégio de maior circulação em relação aos presos que cumprem regime fechado;
- Regime aberto: a pena é cumprida em pernoite em casa de albergado (por esse regime se percebe que não é pelo fato de ser a pena privativa de liberdade que o condenado fica efetivamente encarcerado); no regime aberto é possível aplicação de visita periódica ao lar (VPL), como medida de ressocialização do condenado.
2.1.3. Sistema progressivo de cumprimento de pena
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.
§ 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor.
§ 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes. 
A regra é a progressão da pena do regime mais pesado para o mais brando, depois de cumprido 1/6 da pena. Pode haver, contudo, regressão do regime, conforme art. 118, LEP:
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execução, torne incabível o regime (artigo 111).
§ 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta.
§ 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá ser ouvido previamente o condenado.
2.1.4. Aplicação da pena
Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento.
Parágrafo único - No concurso de causas de aumento ou de diminuição previstas na parte especial, pode o juiz limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
O Código Penal, no art. 68, adotou o sistema trifásico de aplicação da pena privativa de liberdade, sendo realizado o cálculo da pena segundo 3 fases:
- 1ª fase: cálculo da pena-base;
- 2ª fase: consideração de circunstâncias atenuantes e agravantes;
- 3ª fase: consideração das causas de aumento e de diminuição de pena.
2.1.4.1. Pena-base
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: 
Para o cálculo da pena-base, deve o juiz considerar:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
O juiz escolhe uma dentre as penas cabíveis, isso apenas nos casos em que houver cominação alternativa (ex: pena restritiva de direito ou de multa).
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
O juiz determina quantidade de pena entre a mínima e máxima cominada no tipo, chamada de pena-base, considerando as circunstâncias do art. 59, caput, e devendo justificar o ato.
Trata-se das circunstâncias judiciais: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, motivos, circunstâncias e consequências do crime, além do comportamento da vítima.
Em regra, é adotado como pena-base a mais próxima do mínimo cominado no tipo penal, uma vez que geralmente há escassez de informações sobre o crime no processo.
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
2.1.4.2. Circunstâncias atenuantes e agravantes
Incidem sobre a pena-base definida na 1ª fase, observando-se as seguintes regras:
1. As circunstâncias atenuantes e agravantes não podem fazer com que a pena-base fique abaixo da pena mínima ou superior à pena máxima cominada.
2. A lei não determina quanto será aumentado ou diminuído da pena-base em função de agravante ou atenuante, limitando-se a elencar os casos correlatos (…). A jurisprudência diz que esse aumento ou diminuição deve ser de um valor que corresponda de 1/6 (…), muito embora na prática os juízes apliquem 6 meses, 1 ano, em vez de frações.
3. (…) Com o fim de evitar bis in idem.
4. Havendo concurso de agravantes e atenuantes, o juiz deve aproximar-se do fator preponderante, dependendo dos motivos do crime, personalidade do agente e reincidência: sendo mais preponderante a agravante, deverá aumentar mais a pena do que diminuí-la; caso contrário, deverá mais diminuir a pena do que aumentá-la; sendo de igual peso, aplica-se o mesmo quantum para a atenuante e para a agravante, de forma que uma neutralize a outra (…):
Art. 67 - No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.
A atenuante da menoridade (assim considerado aquele menor de 21 anos e maior de 70 anos), prepondera sobre qualquer outra circunstância atenuante ou mesmo agravante.
A agravante da reincidência prepondera sobre qualquer atenuante, exceto sobre a menoridade.
Ex: Condenado tem 18 anos e é reincidente. A menoridade prevalece sobre qualquer outra circunstância, agravante ou atenuante, logo a respectivaatenuação deve prevalecer sobre a agravante da reincidência. Como solução, reduz-se a pena-base em 1 ano, em razão da menoridade, e a aumenta em 6 meses, em função da reincidência, resultando numa diminuição de 6 meses, pois o fator preponderante é a menoridade.
Circunstâncias Agravantes
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência; 
II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher na forma da lei específica; 
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida.
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.
Agravantes no caso de concurso de pessoas
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que: 
I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;
II - coage ou induz outrem à execução material do crime; 
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de condição ou qualidade pessoal; 
IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.
Reincidência
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. 
Art. 64 - Para efeito de reincidência: 
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: 
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença; 
II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.
O art. 66 trata de circunstância atenuante inominada, que é aquela relevante, anterior ou posterior ao crime, mas não prevista em lei.
2.1.4.3. Causas de aumento e diminuição de pena
Previstas no tipo penal. 
Devem ser obedecidas as seguintes regras:
1. Podem fazer com que a pena fique abaixo do mínimo ou acima do máximo cominado.
2. Deve o juiz, em primeiro lugar, considerar as causas da Parte Especial do Código Penal e, somente em seguida, levar em conta as causas de aumento e diminuição da Parte Geral.
3. Havendo mais de uma causa de diminuição ou mais de uma causa de aumento de pena na Parte Especial, em vez de aumentar ou diminuir a pena mais de uma vez, fá-lo-á apenas uma vez, devendo, para tanto, considerar aquela que mais aumente ou diminua a pena.
2.1.4.4. Quantidade de pena
Percorridas as sobreditas fases, chegar-se-á à condenação do réu:
- Havendo concurso de crimes que leve à adoção do sistema do cúmulo material (concurso material ou concurso formal imperfeito de crimes), as penas de cada crime serão somadas.
- Em caso de exasperação da pena (concurso formal perfeito), ultrapassadas as 3 fases para aplicação da pena de cada crime, escolherá o juiz a pena mais grave, aplicando sobre a mesma a última causa de aumento (…)
2.1.4.5. Definição do regime inicial de cumprimento de pena
Definida a pena, o juiz dá continuidade à sentença (…), fixando o regime inicial de cumprimento de pena conforme art. 33, §§2º e 3º:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. 
§ 1º - Considera-se: 
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: 
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
Se a condenação for superior a 8 anos, o condenado cumprirá a pena inicialmente em regime fechado.
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
Se a condenação for superior a 4 anos e menor ou igual a 8 anos, o condenado, não reincidente, cumprirá a pena inicialmente em regime semi-aberto.
Se o réu for reincidente, o regime inicial será o fechado.
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
Se a condenação for igual ou superior a 4 anos, o condenado, não reincidente, cumprirá a pena inicialmente em regime aberto.
Se o réu for reincidente, o regime inicial será o fechado, se crime punido com reclusão, ou semi-aberto, se crime punido com detenção.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código.
O juiz pode quebrar a regra do §2º se as circunstâncias assim determinarem (art. 59, CP), aplicando regime diverso, a partir de motivação idônea:
Súmula nª 719/STF - A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea. 
Relevantes são outras duas Súmulas do STF:
Súmula 718/STF - A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.
Súmula 269/STJ - É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.
§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. 
2.1.4.6. Efeitos da Reincidência
Condenação é consequência penal de sentença condenatória com trânsito em julgado, que produz efeitos ao condenado de natureza:
a) Civil: este último previsto nos arts. 91 (efeitos genéricos incidentes sobre qualquer condenação):
Art. 91 - São efeitos da condenação: 
I - tornar certa a obrigação de indenizaro dano causado pelo crime;
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso.
e 92 (efeitos específicos):
Art. 92 - São também efeitos da condenação:
I - a perda de cargo, função publica ou mandato eletivo, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Publica quando a pena aplicada for superior a quatro anos; 
I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: 
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos. 
II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado; 
III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime doloso.
Parágrafo único - Os efeitos de que trata este artigo não são automáticos, devendo ser motivadamente declarados na sentença. 
a) Penal: os efeitos penais da condenação penal são:
- Obrigação de cumprir a pena;
- Lançamento do nome do condenado, a mando de órgão judicante, no rol dos culpados em livro próprio de cartório;
- Reincidência: que ocorre, em regra, quando sujeito pratica crime depois do trânsito em julgado de sentença penal condenatória referente a outro crime, conforme estabelece o art. 63, do CP:
Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.
Contudo, também trata da reincidência o art. 7º, da Lei de Contravenções Penais:
Art. 7º Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção. 
Segundo este dispositivo, também é reincidente o sujeito que praticar contravenção depois de ter sido condenado, irrecorrivelmente, por outra contravenção ou crime.
Assim, são as seguintes as hipóteses de reincidência:
a) Sujeito pratica crime e é condenado por sentença penal transitada em julgado; em seguida, pratica outro crime: será reincidente pelo art. 63, CP;
b) Sujeito pratica contravenção, sendo por ela condenado irrecorrivelmente; posteriormente, pratica outra contravenção: será reincidente segundo o art. 7º, LCP;
c) Sujeito pratica crime, sendo condenado por sentença penal transitada em julgado; em seguida, pratica contravenção: será reincidente pelo art. 7º, LCP;
*Se pratica contravenção, sendo por ela condenado, e, em seguida, pratica crime, não poderá ser considerado reincidente.
Consideremos o seguinte exemplo:
Ex: Sujeito pratica roubo no dia 16/05/2008. Ao aplicar a pena, o juiz, na dúvida, prefere, anteriormente, verificar a folha de antecedentes criminais (FAC) do condenado, na qual constava:
- prática de crime de estelionato cometido no dia 22/10/09, pelo qual foi condenado definitivamente no dia 18/04/2010;
- prática de estupro no dia 14/06/2007, sendo condenado pelo crime, com sentença transitada em julgado, no dia 19/03/2010;
- prática de crime de homicídio, ainda em fase de inquérito.
Para saber se o sujeito é reincidente, realiza-se o seguinte exercício:
1. É preciso verificar-se o dia em que praticou o último crime, que ocorreu no dia 16/05/2008.
2. Em seguida, verifica-se se há sentença penal condenatória transitada em julgado em data anterior ao cometimento do crime, capaz de torná-lo reincidente: percebe-se que o condenado tem 2 sentenças condenatórias transitadas em julgado, ocorridas nos dias 19/03/2010 e 18/04/2010, logo ocorridas em data posterior à do crime, não podendo, portanto, ser considerado reincidente, já que isso só seria possível se as condenações tivessem ocorrido antes de 16/05/2008; além disso, o fato de estar respondendo a inquérito por crime de homicídio também não determina reincidência, que exige trânsito em julgado (se praticasse novo crime em 2011, seria reincidente, pois já haveria trânsitos em julgado em 2010).
Não sendo reincidente, o réu é primário. O que é diferente do fato de ter o réu bons antecedentes ou maus antecedentes. Só é considerado mau antecedente a sentença penal condenatória transitada em julgado, tendo em vista o princípio da não-culpabilidade ou da presunção de inocência:
CRFB/88, art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 
Portanto, sendo o sujeito absolvido ou se for suspenso o processo, por exemplo, não pode se cogitar hipótese de mau antecedente a ser considerado na pena-base:
Súmula nº 444/STJ - É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. 
O réu primário pode ter bons antecedentes ou maus antecedentes. Considerando o mesmo exemplo, pode dizer-se que o réu é primário, mas possui maus antecedentes, pois contra ele pesa o trânsito em julgado, considerado independentemente de ter ido anterior ou posterior ao último crime. O réu primário de maus antecedentes é também chamado de tecnicamente primário (…).
Infere-se, ainda, do exposto, que todo reincidente tem maus antecedentes, justamente porque o fato gerador da reincidência, que é o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, também o é para determinar mau antecedente. Entretanto, a mesma sentença penal condenatória transitada em julgado não pode ser considerada em relação aos maus antecedentes e para a reincidência, agravando, pois, a pena duas vezes (vedação ao bis in idem):
Súmula nº 241/STJ - A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial. 
A sentença penal condenatória transitada em julgado, porém, não gera efeitos indefinidamente, manchando o nome do condenado para sempre. Tais efeitos duram até o 5º ano subsequente ao final do cumprimento ou extinção da pena; após esse tempo, não será mais considerado reincidente, conforme determina o art. 64, I, 1ª parte, CP:
Art. 64 - Para efeito de reincidência: 
I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
Do exposto, depreende-se que é primário o sujeito que:
a) Nunca praticou crime, pois obviamente nunca foi condenado irrecorrivelmente;
b) Pratica vários crimes, mas em nenhum deles tem sentença penal condenatória transitada em julgado;
c) Pratica crime, é condenado, cumpre a pena ou é esta extinta, e decorrem 5 anos do cumprimento ou extinção da pena.
A parte final do art. 64, I, fala em “computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação”. Como visto, os efeitos da reincidência duram até o 5º ano seguinte ao final do cumprimento da pena; vale ressaltar, porém, que deve ser computado o período de prova cumprido em sursis ou livramento condicional não revogados (...)
2.1.4.7. Substituição da pena privativa de liberdade
Depois da fixação do regime de cumprimento de pena, segue-se para o art. 59, IV, analisando-se a possibilidade de substituição da pena restritiva de liberdade por pena de multa ou pena restritiva de direito:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 
2.1.4.7.1. Substituição da pena privativa de liberdade pela pena de multa
Trata-se da pena substitutiva de multa, não da pena de multa cominada no tipo penal (art. 58, caput, c/c art. 49): 
Art. 58 - A multa, prevista em cada tipo legal de crime, tem os limites fixados no art. 49 e seus parágrafos deste Código.
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. 
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. 
A pena de multa substitutiva é mencionada no art. 58, parágrafo único, c/c arts. 44, II e III, e 60, §2º:
Parágrafo único - A multa prevista no parágrafo único do art. 44 e no § 2º do art. 60 deste Código aplica-se independentemente de cominação na parte especial. 
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: 
II - o réu não for reincidente em crime doloso; 
III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. 
Art. 60, § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código. 
Quando o juiz aplicar pena privativa de liberdade de até 6 meses, poderá substituí-la pena pela de multa, substitutiva, que é aplicada da mesma forma do que o é a pena de multa cominada (art. 49 e ss.). Atualmente o legislador não estipula o valor, justamente porque Códigos Penais anteriores, quando o faziam, tornavam a pena ineficiente, uma vez que constantemente a moeda nacional se desvalorizada, fazendo com que o valor pago fosse irrisório frente o mal que o agente cometeu à sociedade, não pagando efetivamente pelo crime. Por essa razão, o legislador atual, aproveitando a forma de aplicação da pena de multa cominada, estipulou também para a multa substitutivo o sistema de dias-multa, unidade utilizada para fixar o valor dessas duas multas, considerando-se as seguintes fases:
- 1ª fase: o juiz fixa a quantidade de dias-multa, segundo art. 49, caput, que determina mínimo de 10 e máximo de 360 dias-multa, utilizando e justificado, para a determinação desse quantum, os critérios estabelecidos pelo art. 59;
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: 
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 
- 2ª fase: o juiz fixa o valor de cada dia-multa, conforme art. 49, §1º, não podendo ser inferior a 1/30 e superior a 5 salários mínimos
Art. 49, § 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário. 
O valor da multa será alcançado com a multiplicação da quantidade de dias-multa pelo valor de cada dia-multa, cálculo este realizado pelo contador judicial.
Na fixação do valor da multa, deverá o juiz, conforme art. 60, considerar a condição econômica do réu, podendo aquele, ainda, de acordo com o art. 60, §1º, triplicar o valor máximo da multa (caso em que o réu for muito rico e o valor da multa pouco afete seu patrimônio, não sentindo os efeitos da pena).
Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu. 
§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo. 
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária. 
Fixada a pena de multa, o réu tem 10 dias para efetuar o pagamento na respectiva vara de execuções penais, sendo possível parcelá-la (...):
Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a sentença. A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir que o pagamento se realize em parcelas mensais. 
§ 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do condenado quando: 
a) aplicada isoladamente;
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;
c) concedida a suspensão condicional da pena.
§ 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua família.
Caso a multa substitutiva não seja paga, ainda assim não será preso o condenado, passando a constituir-se em dívida de valor, equiparada a dívida ativa da Fazenda pública, executada através da Procuradoria do Estado ou Nacional, conforme o caso (…):
Art. 51 - Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição. 
No entanto, para executar essa dívida, é necessário que esta seja de valor considerável, acima de R$ 10.000,00, do contrário causará mais despesar ao Estado do que vantagens; eis a razão pela qual a pena de multa, atualmente, voltou a ser considerada desvalorizada, pois se não pagar nada acontece, principalmente quando cai em dívida ativa com valor irrelevante para o Estado (tramita projeto de lei que tem como objetivo converter a pena de multa substitutiva não paga em pena de prestação de serviços à comunidade).
2.1.4.7.2. Substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direito
As penas restritivas de direito não estão cominadas no tipo penal, que só prevê a pena de multa e a privativa de liberdade, justamente por deterem caráter substitutivo em relação a esta última. Em regra, as penas restritivas de direito duram o mesmo tempo da pena privativa de liberdade aplicada.
Estão elencadas no art. 43, CP:
Art. 43. As penas restritivas de direitos são: 
I - prestação pecuniária;
A pena de multa não é restritiva de direito, não se confunde com a prestação pecuniária, prevista no art. 49 e ss:
Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
A prestação pecuniária representa valor pago à vítima ou a seus dependentes, em caso de sua morte, ou, ainda, a entidade com destinação social, na hipótese de não haver vítima, tal como ocorre nos crimes contra a coletividade. Está prevista no art. 45, §§ 1º e 2º:
§ 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinaçãosocial, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. 
A prestação pode ser de outra natureza, não apenas pecuniária, desde que haja concordância do beneficiário, hipótese em que, por exemplo, o condenado não dispõe de dinheiro para pagar a prestação de natureza pecuniária, conforme dispõe o art. 45, §2º:
§ 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza.
Neste mesmo parágrafo se encontra a previsão legal da cesta básica (...).
A prestação pecuniária não tem a mesma duração da pena privativa de liberdade que vem a substituir, pois, uma vez paga, faz cessar a condenação (…).
II - perda de bens e valores;
Prevista no art. 45, §3º:
Art. 45, § 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime. 
Significa perda de bem ou valor que o condenado obteve, alguma vez na vida, de forma lícita, ou seja, que não seja produto do crime. Deve equivaler ao prejuízo ou lucro que o condenado auferiu com a prática do crime.
O legislador não previu o procedimento para a perda de bens, sendo esta a razão por que a doutrina entender que deve ser adotado o procedimento da execução forçada (…)
A perda de bens e valores também não possui a mesma duração da pena privativa de liberdade que vem a substituir (...)
III - (VETADO)
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;
Prevista no art. 46:
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade. 
§ 1o A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado. 
§ 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. 
§ 3o As tarefas a que se refere o § 1o serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. 
§ 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.
Trata-se de pena diferenciada, pois só é aplicada se a condenação à pena privativa de liberdade for superior a 6 meses. 
A duração da prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas depende da quantidade da condenação à pena privativa, na razão de 1 hora de prestação de serviço por dias de condenação (se sujeito é condenado a pena privativa de liberdade de 1 ano e 1 mês, o que equivale a 395 dias, em sendo a pena substituída, deverá prestar 395 horas de serviço à comunidade ou entidade pública. Portanto, essa pena pode vir a durar o mesmo tempo da privativa de liberdade se vier a ser prestado 1 hora de serviço diário.
Caso a condenação à privativa de liberdade seja superior a 1 ano, diz o §4º que é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em tempo menor, mas nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade. Assim, se condenado a 1 ano e 1 mês, ou seja, 395 dias, metade da pena equivale a 197 dias e meio, logo não poderia o condenado cumprir 3 h diárias de serviços à comunidade, a fim de cumprir mais rapidamente a condenação, uma vez que em muito menos do que 197 dias já teria cumprido a pena.
V - interdição temporária de direitos;
Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são: 
O legislador prevê 4 espécies de interdição temporária de direitos, sendo as três primeiras específicas, pois aplicáveis apenas em certos casos, e a última genérica.
I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;
II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;
III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. 
Não tem mais aplicabilidade, assim como o art. 57, uma vez que os crimes de trânsito estão previstos em lei específica – CTB (...)
IV - proibição de freqüentar determinados lugares.
A maior dificuldade na aplicação dessa espécie de interdição, incidente sobre qualquer crime, está na fiscalização de seu cumprimento (…). Por essas razões, é hoje considerada uma pena totalmente desmoralizada.
A pena de interdição temporária de direitos dura o mesmo tempo da pena privativa de liberdade.
VI - limitação de fim de semana.
Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. 
Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas. 
Trata-se de recolhimento em casa de albergado durante os fins de semana. Dura o mesmo tempo da pena privativa de liberdade.
2.1.4.7.2.1. Observações importantes 
Art. 53 - As penas privativas de liberdade têm seus limites estabelecidos na sanção correspondente a cada tipo legal de crime. 
Art. 54 - As penas restritivas de direitos são aplicáveis, independentemente de cominação na parte especial, em substituição à pena privativa de liberdade, fixada em quantidade inferior a 1 (um) ano, ou nos crimes culposos. 
Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos incisos III, IV, V e VI do art. 43 terão a mesma duração da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado o disposto no § 4o do art. 46. 
Art. 56 - As penas de interdição, previstas nos incisos I e II do art. 47 deste Código, aplicam-se para todo o crime cometido no exercício de profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que houver violação dos deveres que lhes são inerentes.
Art. 57 - A pena de interdição, prevista no inciso III do art. 47 deste Código, aplica-se aos crimes culposos de trânsito. 
2.1.4.7.2.2. Requisitos para substituição da pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direito
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: 
O art. 44 traz os requisitos para substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direito:
a) I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
A pena privativa, não superior a 4 anos, a que se refere o dispositivo, em se tratando de crime doloso, não cometido com violência ou grave ameaça, é a pena aplicada pelo juiz, não a cominada no tipo penal. Sendo o crime culposo, é indiferente a pena aplicada.
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos. 
O §2º instrui o juiz sobre como aplicar a pena substitutiva de acordo com a pena aplicada:
- Se a pena aplicada for de até 1 ano, o juiz substituirá a pena privativa de liberdade por uma restritiva de direitos ou pela pena de multa, substitutiva;
Reside aqui controvérsia entre o dispositivo em tela e o art. 60, §2º, que diz ser possível a aplicação de pena de multa substitutiva se a pena privativa de liberdade for inferior a 6 meses; entende-se que este dispositivo fora revogado pelo do art. 44, §2º; ocorre que, para poder aplicar o art. 60, §2º, é precisocumprir os requisitos dos incisos II e III (…); assim, embora tenha sido reduzida sua aplicação, não é correto dizer que foi revogado.
- Se a pena aplicada for superior a 1 ano, o juiz substituirá a pena privativa de liberdade por 2 restritivas de direito ou por 1 restritiva de direito e 1 pena de multa, substitutiva;
b) II - o réu não for reincidente em crime doloso;
Para viabilização da substituição da pena privativa de liberdade é preciso que o réu não seja reincidente em crime doloso; pode sê-lo, portanto, em crime culposo.
Contudo, a regra é excepcionada se aplicáveis as condições do §3º:
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. 
c) III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
2.1.4.7.2.3. Execução da pena restritiva de direito
Substituída a pena privativa de liberdade pela pena restritiva de direito, e transitada em julgado a condenação, segue-se à execução da pena restritiva de direitos.
Inicialmente, o juiz intima o condenado, a fim de explicar-lhe as condições da condenação.
Caso o condenado abandone, injustificadamente, o cumprimento da pena restritiva de direito a ele aplicada, ocorrerá a conversão da pena para a privativa de liberdade inicialmente aplicada.
Contudo, o tempo já cumprido na pena restritiva de direito será descontada na aplicação da privativa de liberdade.
Art. 44, § 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão. 
Outra hipótese de conversão é descrita no §5º, do art. 44, hipótese em que é o condenado, enquanto cumprindo pena restritiva de direito substitutiva, é condenado por outro crime; porém, nessa situação, o juiz somente aplicará a conversão se foi impossível ao condenado conciliar a restritiva de direito em cumprimento com a sobrevindo condenação por novo crime:
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior.
2.1.4.7.3. Sursis Penal ou Suspensão Condicional do Processo Penal
Se o juiz não puder substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direito ou de multa substitutiva, conforme o exposto, será condenado à pena privativa de liberdade. Porém, o legislador acena com derradeira possibilidade de o réu vir a não ser preso.
O sujeito é condenado, mas o juiz suspende a pena privativa de liberdade, impondo àquele o cumprimento de certas condições, ou seja, fica submetido, durante certo tempo, a período de prova; cumprindo as condições estabelecidas, não será preso. 
A natureza jurídica da sursis é de forma de cumprimento de pena, vez que as condições estabelecidas pelo juiz funcionam como substitutivos ao cumprimento da pena privativa de liberdade.
Porém, há requisitos para que o juiz possa propor a suspensão condicional do processo:
a) Só é cabível com relação a pena privativa de liberdade:
Art. 80 - A suspensão não se estende às penas restritivas de direitos nem à multa. 
b) A pena privativa de liberdade, sobre a qual incidirá a sursis não pode ser superior a 2 anos, e o período de prova será de 2 a 4 anos, ou seja, será maior do que a própria pena privativa de liberdade:
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: 
O §2º, contudo, traz exceção à condição de a pena privativa de liberdade não ser superior a 2 anos: é o caso do condenado a pena privativa de liberdade não superior a 4 anos maior de setenta anos de idade ou que se encontre com sua saúde em condição que justifique a suspensão (sursis humanitário):
§ 2o A execução da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, poderá ser suspensa, por quatro a seis anos, desde que o condenado seja maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde justifiquem a suspensão. 
c) Não pode ser o condenado reincidente em crime doloso, mas pode sê-lo em crime culposo:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; 
Exceção a esta condição se encontra no §1º, que diz que se o crime doloso anterior, a que o réu foi condenado e que o torna reincidente, foi punido apenas com multa, é possível a aplicação da sursis:
§ 1º - A condenação anterior a pena de multa não impede a concessão do benefício. 
d) II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
e) Não ser indicado ou cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito.
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. 
O arts. 78 tratam das condições que deverão ser cumpridas pelo condenado durante o período de prova:
Art. 78 - Durante o prazo da suspensão, o condenado ficará sujeito à observação e ao cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz.
O art. 78, §1º, cuida das condições legais, que podem vir a ser substituídas pelas condições especiais previstas no §2º, as quais tem direito o condenado que tiver reparado o dano e tenha sido considerado amparado pelo art. 59:
§ 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (art. 48).
§ 2° Se o condenado houver reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâncias do art. 59 deste Código lhe forem inteiramente favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do parágrafo anterior pelas seguintes condições, aplicadas cumulativamente:
a) proibição de freqüentar determinados lugares;
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz;
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. 
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: 
As condições judiciaisi, impostas pelo juiz, conforme o caso concreto, estão previstas no art. 79:
Art. 79 - A sentença poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado.
A execução da sursis: juiz marca audiência admonitória, regulada na Lei de Execuções Penais, onde perguntará ao condenado se este aceita ou não cumprir as condições do período de prova. Desta audiência é que começa a correr o prazo do período de prova.
É possível a revogação da sursis, que poderá ser obrigatória ou facultativa. A revogação obrigatória está prevista no art. 81:
Art. 81 - A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário: 
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso;
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado, a reparação do dano;
III - descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código.
As hipóteses de revogação facultativa estão previstas no art. 81, §1º:
§ 1º - A suspensão poderá ser revogada se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos. 
Sendo revogada a sursis, o condenado cumprirá toda a pena aplicada preso, não sendo descontado o período de prova, justamente porque este não correspondea pena.
Sendo facultativa a revogação, o juiz poderá decidir pela prorrogação do período de prova:
§ 3º - Quando facultativa a revogação, o juiz pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado.
Caso o beneficiado pela sursis estiver sendo processado por outro crime ou contravenção, o juiz também poderá optar pela prorrogação do período de prova até o julgamento definitivo:
§ 2º - Se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo. 
Ultrapassado o período de prova, tendo o condenado cumprido a contento as condições da suspensão condicional do processo, ocorrerá a extinção da punibilidade:
Art. 82 - Expirado o prazo sem que tenha havido revogação, considera-se extinta a pena privativa de liberdade 
Atualmente, a sursis tem pouca aplicação, já que por ser cabível apenas em crimes dolosos (…)
2.1.4.8. Execução da Pena Privativa de Liberdade
(...)
2.1.4.8.1. Detração Penal
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior. 
Detração de pena é o cômputo, o desconto, na pena definitiva, do tempo cumprido em prisão provisória, administrativa e em internação.
Prisão provisória é a prisão processual cautelar, anterior ao trânsito em julgado de sentença penal condenatória. A prisão provisória pode ser: a) preventiva; b) temporária; c) flagrante. Sobrevindo condenação, o tempo de pena cumprido em prisão provisória será descontado na pena, sendo considerado, inclusive, para cálculo de concessão de progressão de regime.
(…)
Prisão administrativa foi extinta.
A detração prevista com relação à internação não diz respeito a medida de segurança, mas à hipótese do art. 41, que cuida de superveniência de doença mental:
Art. 41 - O condenado a quem sobrevém doença mental deve ser recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, a outro estabelecimento adequado. 
O art. 183, da LEP também fala em superveniência de doença mental (…)
2.1.4.8.2. Progressão de Regime
Após a detração penal, realiza-se o cálculo para progressão de regime.
O condenado só cumpre, preso, parte da pena, depois é colocado em livramento condicional, é posto em liberdade, mas submetido a certas condições, as quais, caso cumpridas, farão com que o condenado não cumpra a pena preso.
Natureza jurídica de forma de cumprimento de pena.
São requisitos para o livramento condicional:
a) Condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos; antes disso, cumprirá a pena preso, embora já tenha certamente sido privilegiado com restritiva de direito ou sursis, por exemplo;
Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: 
b) I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;
c) II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; 
d) III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto;
e) IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração;
f) V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza.
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinqüir. 
As condições para o livramento condicional estão previstas ao art. 132, LEP:
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o livramento.
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obrigações seguintes:
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho;
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação;
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução, sem prévia autorização deste.
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre outras obrigações, as seguintes:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção;
b) recolher-se à habitação em hora fixada;
c) não freqüentar determinados lugares.
Quanto à possibilidade de revogação do livramento condicional, cuidam do tema os arts. 86 (revogação obrigatória) e 87 (revogação facultativa):
Art. 87 - O juiz poderá, também, revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade.
Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:
As consequências da revogação dependem do motivo que a ensejaram:
I - por crime cometido durante a vigência do benefício; 
a) No caso do inciso I, do art. 86, não se desconta o período de prova (...)
II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código. 
b) No caso do inciso II, do art. 86, desconta-se o período de prova (...)
Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o tempo em que esteve solto o condenado. 
*Vide observação final do tópico que trata da Reincidência.
Professora Patrícia Glioche		Direito Penal – julho de 2011

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