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CRIMINOLOGIA APLICADA A SEGURANÇA PÚBLICA-EAD

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CADERNO DE ESTUDOS 
 CRIMINOLOGIA APLICADA 
A SEGURANÇA PÚBLICA 
2 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
Apresentação 3 
Objetivo geral 3 
Ementa 3 
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 4 
1.2. Conceito 4 
1.3. Objeto 5 
1.4. Método 8 
1.5. Funções 9 
Capítulo 2 – DA FASE PRÉ-CIENTÍFICA À CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA E SUAS 
PRINCIPAIS ESCOLAS 
10 
2.1. Escola Clássica 10 
2.2. Escola Positiva 13 
2.3. Teorias da Socialização Deficiente/ Teoria Ecológica (Escola de Chicago) 16 
2.4. Teoria da Associação Diferencial 19 
Capítulo 3 – AS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS 20 
3.1. Teoria da Anomia 20 
3.2. Teoria do Etiquetamento, Rotulação ou Paradigma da Reação Social. 24 
 
Capítulo 4 – DIREITO PENAL, POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA 
27 
4.1. O modelo Tripartido de Franz Von Liszt 27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Apresentação 
 
A Criminologia é uma ciência, relativamente, nova, seu reconhecimento 
como Ciência correspondem aos momento finais do século XIX com a obra do 
médico psiquiatra Cesare Lombroso, O Homem Delinquente, e ainda podemos 
suscitar que seu desenvolvimento continua contemporâneamente, através das obras 
dos mais diversos sociólogos, filósofos, jurístas, criminólogos e tantos outros que se 
prestam a estudar o fenômeno crimonológico. Este trabalho visa apresentar ao aluno 
os principais conceitos desenvolvidos ao longo de pouco mais de um século em que 
os autores, professores e doutrinadores se debrussaram em estudar e teorizar sobre 
a relação indivíduo-crime-sociedade. 
 
Objetivo Geral 
 
Desenvolvimento da capacidade de mobilizar conceitos fulcrais da 
criminologia – crime, criminoso, violência, seus estereótipos e formas de 
organização e atuação sobre a sociedade – para melhor compreender os fenômenos 
da violência e do crime em diferentes situações da prática profissional, em que as 
reflexões antes, durante e após a ação estimulem a autonomia intelectual, bem 
como sua legitimidade. 
 
Ementa 
 
Criminologia, conceitos, objetos, métodos e funções. O autor do delito frente ao 
paradigma etiológico. Microcriminologia: teorias biológicas, psicológicas e 
psiquiátricas; teorias da aprendizagem; teoria ecológica da Escola de Chicago; teoria 
de associações diferencial. Teoria da anomia; teoria do etiquetamento ou da 
rotulação. Paradigma da Reação Social.. Política Criminal e Prevenção Criminal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
Capítulo 1 – INTRODUÇÃO A CRIMINOLOGIA 
 
 
 
 
1.1. Conceito 
 
O conceito de Criminologia foi e, até certo ponto, ainda é uma construção 
científica de caráter histórico. À medida que esta ciência evolui seu método científico 
e sua dinâminca e interelação com outras ciências e fontes de conhecimento, 
também se atualiza suas bases principiológicas e, consequentemente, seu 
entendimento como ciência. 
Tentando melhor explicar a Criminologia, podemos nos socorrer dos 
autores clássicos da disciplina como o professor Nelson Hungria, que segundo o 
qual a Criminologia “é o estudo experimental do fenômeno do crime, para pesquisar- 
lhe a etiologia e tentar a sua debelação por meios preventivos ou curativos”. 
A Criminologia segundo Antonio García-Pablos de Molina – é uma ciência 
empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, 
da vítima, do controle social do comportamento delitivo, e trata de ministrar uma 
informação válida e contrastada sobre a gênese, dinâmica e variações principais do 
crime, contemplando-o como problema individual e social, assim como sobre os 
programas para sua prevenção especial, as técnicas de intervenção positiva no 
homem delinquente e os diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito.1 
A Criminologia segundo Eugenio Raúl Zaffaroni e Jose Henrique 
Pierangeli – é a disciplna que estuda a questão criminal do ponto de vista 
biopsicossocial, ou seja, integra-se com as ciências da conduta aplicadas às 
condutas criminais2. 
A Criminologia segundo Edwin H. Sutherland – é um conjunto de 
conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a 
personalidade do deliquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo. 
Trata, pois, a Criminologia, da aplicação das ciências sociais e humanas no controle 
 
1 PABLOS DE MOLINA, Antonio Garcia. Criminologia: una introducción y sus fundamientos teóricos. 
Editorial Tirant lo Blanch, 2007. p.1. 
2 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro – 
parte geral. Revista dos Tribunais, 12ª Edição, 2018. p. 148. 
5 
 
e ressocialização do criminoso com vistas à prevenção da delinquência3. 
 
A Criminologia segundo os autores Newton e Valter Fernandes – é a 
ciência que estuda o fenômeno criminal, a vítima, as determinantes endógenas e 
exógenas, que isolada ou cumulativamente atuam sobre a pessoa e a conduta do 
delinquente, e os meios laborterapêuticos ou pedagógicos de reintegrá-lo ao 
agrupamento social4. 
 
 
1.2. Objeto 
 
O objeto da moderna Criminologia, segundo o professor Cristiano Menezes - 
é o crime, suas circunstâncias, seu autor, sua vítima e o controle social. Deverá ela 
orientar a política criminal na prevenção especial e direta dos crimes socialmente 
relevantes, na intervenção relativa às suas manifestações e aos seus efeitos graves 
para determinados indivíduos e famílias. Deverá orientar também a Política Social 
na prevenção geral e indireta das ações e omissões que, embora não previstas 
como crimes, merecem a reprovação máxima5. 
Segundo o professor Paulo Sumariva6, o crime deve preencher os seguintes 
elementos constitutivos: 
 Incidência massiva na população – não é possível atribuir a condição 
de crime a fato isolado na sociedade. Se o fato não se reitera, 
desnecessário considerá-lo como criminoso. 
 Incidência aflitiva do fato pratiado – o crime produz dor a vítima e à 
sociedade. Para puní-lo no âmbito criminal, é necessário que o fato 
 
3 SUTHERLAND, Edwin H. Apud FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia 
Integrada. Revista dos Tribunais, 1ª Edição, 2012, p 24. 
4 FERNANDES, Newton; FERNANDES, Valter. Criminologia Integrada. Revista dos Tribunais, 1ª 
Edição, 2012, p 24. 
5 MENEZES, Cristiano. Noções de Criminologia. Acesso em: (PDF) NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA 
Professor Cristiano Menezes Instituto Marconi | Emerson Zacarella - Academia.edu. 
6 SUMARIVA, Paulo. Criminologia: Teoria e Prática. Editora Impetus, 3ª Edição, Revista, Ampliada e 
Atualizada, 2021. p. 8. 
https://www.academia.edu/5830920/NO%C3%87%C3%95ES_DE_CRIMINOLOGIA_Professor_Cristiano_Menezes_Instituto_Marconi
https://www.academia.edu/5830920/NO%C3%87%C3%95ES_DE_CRIMINOLOGIA_Professor_Cristiano_Menezes_Instituto_Marconi
6 
 
tenha relevância social. 
 
 Persistencia espaço-temporal do fato a ser considerando criminoso – 
para ter um fato como criminoso, além de ser massivo e aflitivo, é 
necessário que ele se distribua pelo nosso território e ao longo de um 
tempo juridicamente relevante. 
 Inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e de quais técnicas 
de intervenção seriam eficazes para o seu enfrentamento. 
Na criminologia moderna, o criminoso tende a ser examinado como 
unidade biopsicossocial e não mais uma unidade biopsicopatológica. A visão atual 
do criminoso é de um ser normal, isto é, não é o pecador dos clássicos, não é o 
animal selvagem dos positivistas, não é o coitado dos correcionalistas e nem a 
vítima da filosofia marxista. Trata-se de homem real do nosso tempo, que se 
submete às leis e pode não cumprí-las por razões que nem sempre compreendidas 
por seus pares7. 
A vítima, historicamente, foi deixada de lado no estudo do crime e das 
circunstâncias que o envolvem, tanto que pouco se observa na legislação brasileira 
atual no amparo as vitimas de delitos, principalmente, aqueles com maior incidência 
criminôgena como o roubo e o furto, excetuando-se situações excepcionais de 
proteção à testemunha,a qual apesar de deficitária ainda é existente, vide lei 9807 
de 13 de julho de 1999, e a proteção a dignidade sexual tutelada pela recente lei 
14.245, de 22 de novembro de 2021. 
Segundo o professor Paulo Sumariva8, o papel da vítima no contexto 
delituoso corresponde à pelo menos quatro perspectivas, quais sejam: 
 A vítima como sujeito capaz de influir signitivamente no fato delituoso: 
em sua estrutura, dinâmica e prevenção. 
 As atitudes e propensão dos indivíduos para se converterem em 
 
 
7 SUMARIVA, Paulo. Criminologia: Teoria e Prática. Editora Impetus, 3ª Edição, Revista, Ampliada e 
Atualizada, 2021. p. 9. 
8 Ibid., p. 10. 
7 
 
vítimas dos delitos. 
 
 Variáveis que intervem nos processos de vitimização: cor, raça, sexo, 
condição social, etc. 
 Situação da vítima em face do autor do delito, bem como do sistema 
legal e de seus agentes. 
Nesse sentido, a doutrina majoritária ensina que os processos de 
vitimização se dividem em pelo menos quatro, os quais segundo Haidar e Rossino9: 
 Vitimização Primária – consiste no proprio crime e nos resultados 
diretos que este irá gerar na vítima. Reflete, portanto, as experiências 
pessoais do ofendido e os mais variados reflexos produzidos pelo 
delito (danos materiais, físicos e psicológicos). 
 Vitimização Secundária – é o produto da relação entre a vítima e o 
sistema jurídico penal. Ou seja, tal categoria reflete a funcionalidade 
das instâncias formais de controle social. Na prática, a vitimização 
secundária se concretiza com a ação dos responsáveis pelo processo 
de resolução de conflito sem a devida consideração em relação as 
expectativas e ao sofrimento da vítima. 
 Vitimização Terceária – a vítima sofre as consequências que vão 
além daquelas decorrentes do delito proriamente dito e da ausência 
de assistência necessária por parte do aparato estatal. O ofendido 
padece de afastamento da receptividade social, logo, o indivíduo é 
vitimado justamente por aqueles que o cercam, inclusive, por seu 
grupo familiar. Tal categoria é decorrente da pressão imposta a vítima 
pelo sociedade; a repulsa inconsciente à identificação com quem 
simboliza atributos negativos (responsabilização da vítima em face 
do crime sofrido por ela, grifo nosso). 
 
9 HAIDAR, Caio Abou e ROSSINO, Isabela Bossolani. Redescobrindo a Vitimologia: Estudos 
Contemporâneos da Vitimização Quaternária e da Influência Midiática na Criminologia. Artigo 
científico. Acesso em: https://sites.usp.br/pesquisaemdireito-fdrp/wp- 
content/uploads/sites/180/2017/01/caio-haidar.pdf. 
https://sites.usp.br/pesquisaemdireito-fdrp/wp-content/uploads/sites/180/2017/01/caio-haidar.pdf
https://sites.usp.br/pesquisaemdireito-fdrp/wp-content/uploads/sites/180/2017/01/caio-haidar.pdf
8 
 
 Vitimização Quaternária – é o medo de se converter em vítima que se 
internaliza pela falsa percepção da realidade a partir das informações 
levantadas pela mídia. Dessa forma, cria-se um estado irracional de 
temor que, na prática, não determina a transformação daquele 
indivíduo aflito em vitima propriamente de um crime (vitimização 
primária), mas mantém um sentimento latente de insegurança que, 
por sua vez, tem consequências graves (políticas desastrosas de 
enfrentamento à criminalidade publicas e privadas, fortalece 
processos discriminatórios e etc., grifo nosso). 
O controle social, que segundo o professor Paulo Sumariva10, pode ser 
definido como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que 
pretendem promover a submissão dos indivíduos aos modelos e normas de 
convivência social. A doutrina majoritária divide o controle social em formal e 
informal, se observa a seguir: 
 Controle Social Formal – é constituído pela aparelhagem política do 
Estado (Polícia, Judiciário, Administração Penitenciária, Ministério 
Público, etc.), com conotação político-criminal. São os agentes 
formais do controle social, que atuam em ultima ratio, utilizados como 
meio coercitivo, através dos órgãos públicos, cuja finalidade será 
punir o indivíduo infrator das normas impostas. 
 Controle Social Informal – é constituído pela sociedade civil (família, 
igreja, escola, clubes de serviço, etc.), com uma visão claramente 
preventiva e e educacional, isto é, operam educando, socializando o 
indivíduo e inserindo-o na vida em sociedade. 
 
 
1.3. Método 
 
Já quanto ao método utilizado na Criminologia, podemos aludir que sua 
definição ainda está em desenvolvimento junto com a evolução da própria 
Criminologia como ciência, tendo em vista que ela se socorre de métodos científicos 
10 SUMARIVA, op. cit., p 11 e 12. 
9 
 
típicos de outras ciências para construir e desenvolver suas próprias teses 
criminológicas. 
Historicamente, a Criminologia nasce como ciência a partir da Escola 
Positiva, a qual estabeleceu o método empírico-indutivo como método ciêntífico para 
explicar o fenômeno criminológico. Logicamente, isso não quer dizer que não existia 
a Criminologia antes da Escola Positiva, apenas que a noção dela como ciência só 
se reconheceu, após a definição de seu método científico. Nesse sentido, ensina o 
professor Vitorino Prata Castelo Branco: 
“Em geral, método é o meio empregado pelo qual o pensamento 
humano procura encontrar a explicação de um fato, seja referente à 
natureza, ao homem ou à sociedade. Só o método científico, isto é, 
sistematizado, por observações e experiências, comparadas e 
repetidas, pode alcançar a realidade procurada pelos pesquisadores. 
O campo das pesquisas será, na Criminologia, o fenômeno do crime 
como ação humana, abrangendo as forças biológicas, sociológicas e 
mesológicas que o induziram ao comportamento reprovável”.11 
Observando o ensinamento acima, pode-se entender que o método da 
Criminologia é método empírico-indutivo de caráter biopsicosocial, tendo em vista 
que quantos aos fatores exogenos a pessoa do criminoso esta ciência se socorre 
dos métodos da sociologia e quanto aos fatores endógenos do autor do delito, ela se 
ampara na Biologia, Fisiologia, Psicologia, Psiquiatria, etc. 
1.4. Funções 
 
Assim como qualquer ciência, a Criminologia tem a função de produzir 
conhecimento para o homem e para a sociedade a fim de melhor lidar com as 
mazelas ali estudadas. Segundo o professor Paulo Sumariva, a Criminologia tem 
como função linear: 
“Informar a sociedade e os poderes públicos sobre o crime, o 
criminoso, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo de 
conhecimentos seguros que permita compreeder 
cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com 
 
 
11 CASTELO BRANCO, Vitorino Prata. Criminologia Biológica, Sociológica e Mesológica. Editora: 
Sugestões Literárias, São Paulo, 1980. 
10 
 
eficácia e de modo positivo no homem criminoso”12. 
 
Desse entendimento, o professor Sumariva conclui que que a função desta 
ciência é atender o ser humano com um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre 
o crime, sempre se observando a o caráter dinâmico das relações humanas e do 
próprio crime, já que, para o autor, “a criminologia não é causalista com leis 
universais exatas e nem mera fonte de dados ou de estatística. Na realidade, trata- 
se de uma ciência prática, preocupada com problemas e conflitos concretos e 
históricos”. 
 
 
Capítulo 2 – DA FASE PRÉ-CIENTÍFICA À CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA E 
SUAS PRINCIPAIS ESCOLAS 
 
 
2.1. Escola Clássica. 
 
A Criminologia como ciência só foi reconhecida a partir de meados do final 
do século XIX, entretanto, mesmo antes, alguns autores, dentro de sua respectiva 
área científica, já buscavam explicar o fenômeno criminológico. 
Segundo o professor Sérgio Salomon Shecaira, a obra do filósofo Cesare 
Bonesana, mais conhecido como o Marques de Beccaria, denominada de Dos 
Delitos e Das Penas foi o marco fundamental da Escola Clássica e de todo o 
pensamento revolucionário filosófico da época, o qual não só contextualizava seu 
momento histórico a partir do pontode vista da ascenção economica e social de 
membros da burguesia europeia que se voltava ao antigo regime monárquico, 
caracterizando-o como autoritário, opressor e arbitrário; mas que representa um 
marco o pensamento punitivo da época. Nesse sentido, ensina: 
A rigor, o que se explica sua importância para o direito penal 
moderno não é a originalidade nem tampouco o conteúdo específico 
de sua obra. Ele produziu uma síntese das ideias iluministas então 
em curso, algumas das quais bastante antigas. A concepção 
filosófico-penal de Beccaria foi a maior expressão da hegemonia da 
burguesia no plano das ideias penais, motivadas pelas necessidades 
 
12 SUMARIVA, op. cit., p. 12 e 13. 
11 
 
de transformações políticas e econômicas.13 
Observando os ensinamentos dos professores Alfonso Serrano Maíllo e Luiz 
Regis Prado, podemos nos situar melhor em como estava as relações jurídicas 
criminais no período da Criminologia Clássica: 
No século XVIII, as normas penais eram caóticas (...). Isso inclui que 
se saiba com uma exatidão mínima quais atos estão proibidos e 
quais são de cumprimento obrigatório, e ambos os casos sob a 
ameaça de uma pena, e quais são as penas que receberão no caso 
de incorrer em alguma de tais condutas. Assim sendo, naquela 
época predominava uma grande insegurança sobre quais condutas 
eram constitutivas de delitos e quais penas correspondiam a tais 
delitos14. 
Tamanha era a desproporção das penas implementadas naquele período 
que o renomado filósofo Michel Foucault assim transcreveu em seu livro “Vigiar e 
Punir: história da violência nas prisões” fazendo alusão às sentenças penais 
condenatórias estabelecidas naquele século: 
[Damiens fora condenado, a 2 de março de 1757], a pedir 
perdão publicamente diante da porta principal da Igreja de 
Paris [aonde devia ser] levado e acompanhado numa carroça, 
nu, de camisola, carregando uma tocha de cera acesa de duas 
libras: [em seguida], na dita carroça, na praça, de Grève, e 
sobre um patíbulo que aí será erguido, atenazado nos mamilos, 
braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita 
segurando a faca com que cometeu o dito parricídio, queimada 
com fogo de enxofre, e às partes em que será atenazado se 
aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, pinche em fogo, 
cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo 
será puxado e desmembrado por quato cavalos e seus 
membros e corpo consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e 
suas cinzas lançadas ao vento.15 
Todavia, em que pese o contexto histórico ser por demais importante para 
entender a Escola Clássica, ainda se deve questionar como essa escola 
compreendia o fenômeno do crime. Para tanto, nos recorremos das lições de 
 
13 FREITAS, Ricardo de Brito A. P. Razão e Sensibilidade: fundamentos do direito penal moderno. 
Editora Juarez de Oliveira, Porto Alegre, 2000. p.145. 
14 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis. Curso de Criminologia. 3ª Edição, revista, 
atualizada e ampliada, editora Revista dos Tribunais – São Paulo, 2016. p. 93 e 94. 
15 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. 26ª Edição, Editora Vozes – 
Petrópolis, 2002. p. 9. 
12 
 
MAÍLLO e PRADO ao citar BECCARIA: 
 
A escola clássica parte da concepção do homem como um ser livre e 
racional que é capaz de refletir, tomar decisões e atuar em 
consequência. Em suas decisões, basicamente realiza um cálculo 
racional das vantagens e inconvenientes que lhe vai proporcionar 
sua ação, e atua ou não segundo prevaleçam umas ou outras; em 
sua terminologia, ‘o prazer e a dor’ são os motores da conduta 
humana. Quando alguém encara a possibilidade de cometer um 
delito, efetua um cálculoracional dos benefícios esperados (prazer) e 
os confronta com os prejuízos (sofrimento) que acredita vão derivar 
da prática do delito; se os benefícios são superiores aos prejuízos, 
tenderá a cometer a conduta delitiva.16 
Nesse sentido, a sanção penal ou pena, segundo a Escola Clássica, devia 
possuir três características fundamentais para se alcançar a máxima prevenção do 
delito, quais sejam: 
 Certeza – nem todos os delitos são punidos, por exemplo, porque 
não se prende o culpado ou por falta de provas. Pois bem, as 
sanções são tanto mais eficazes quanto mais seguras, ou provável 
seja sua imposição ao infrator. Se o número de delitos que se pune é 
relativamente elevado e, portanto, as possibilidades do castigo são 
elevadas, os prejuízos que haverá de levar em conta o delinquente 
potencial serão mais altos; se, ao contrário, é difícil que uma conduta 
delitiva seja punida, tenderá a delinquir com maior facilidade. 
 Rapidez – se os castigos são impostos logo após a prática do fato 
delitivo, ou seja, com prontidão, terão um efeito preventivo maior do 
que se forem impostos após certo lapso. Isso se deve a que o homem 
busca prazeres e pricura evitar sofrimentos, mas sobretudo, próximos 
no tempo: quanto mais imediatos, mais peso tem. Por esse motivo, 
uma ação que potencialmente proporcione prazer imediato tenderá a 
ser escolhida se a sanção ou a dor anexa estiverem mais 
distanciadas. 
 Severidade – penas severas, por sua duração ou pela intensidade do 
sofrimento que provocam, tendem a ser mais efetivas que as leves, 
 
16 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis, op.cit., p. 96 
13 
 
posto que significam sofrimento ou prejuízo maior. Esses autores 
também destacam ser fundamental que a sanção guarde 
proporcinalidade com o delito que se pune. A escola clássica, pois, 
não apenas não propõe o recurso a sanções crueis ou ao castigo dos 
inocentes, mas antes, ao contrário representa em geral uma reação 
contra os abusos e se esforça em denunciar sua inutilidadee sua 
injustiça. 
Da análise dessas três características, se pode observar que os autores da 
Escola Clássica se apresentavam contra a tortura como meir de prova, as penas 
capitais e as penas atrozes ou de punição excessiva, pois entendiam que ao invés 
de alcançar a prevenção do delito, pelo contrário, serviam na sociedade um efeito 
criminógeno, ou seja, ao revés de evitar o crime, tais sanções poderiam incentivar 
delitos mais graves. 
2.2. Escola Positiva 
 
Ainda sob a influência do Iluminismo, se desenvolveu, em meados do século 
XIX, a Escola Positiva também conhecida como Escola Italiana, tendo como seus 
maiores expoentes o psiquiatra italiano Cesare Lombroso autor da obra “O Homem 
Delinquente”, seu sucessor Enrico Ferri autor de “Sociologia Criminal” e Rafael 
Garófalo com sua obra “Criminologia”. 
Obviamente, o surgimento da Escola Positiva não se deu de forma aleatória 
ou instantânea, muito pelo contrário, a doutrina atual reconhece que desde o início 
do século XIX autores como Adolphe Quetelet, o qual deu grandiosa contribuição 
com a Criminologia, ao desenvolver, baseado em publicações de dados estatísticos 
ocorridos na França em 1827, três preceitos criminologicos fundamentais, quais 
sejam: 
 O crime é um fenômeno social; 
 
 Os crimes são cometidos ano a ano com intensa precisão e 
 
 Há várias condicionantes a prática delitiva, como miséria, 
analfabetismo, clima, etc. 
14 
 
Segundo o professor Nestor Sampaio Penteado Filho17, além desses três 
preceitos, Quetelet foi responsável por formular a teoria das leis térmicas, por meio 
da qual este autor teoriza que durante o inverno existe uma maior incidência da 
prática de crimes contra o patrimônio, já no verão os crimes contra a pessoa seriam 
os mais numerosos, enquanto que na primavera os crimes contra os costumes 
(sexuais) seriam cometidos em maior quantidade. 
No entanto, apesar de inovador e científico, a doutrina ensina que o próprio 
Adolphe Quetelet percebeu a limitação de sua teoria. Por ser baseada na 
esstatística, o autor percebeu que nem todos os crimes eram contabilizados (cifra 
negra), havendo assim, uma gama de delitos que não entravam para as estatísticas 
criminais da época, o que, por sua vez, tornou suas conclusões limitadasapenas ao 
crimes contabilizados. 
Daí a gradiosidade da teoria Lombrosiana, diferente dos pensadores da 
Escola Clássica cuja metologia era lógico-dedutiva, a Escola Positiva decidiu por 
estabelecer o método científico ao estudo do delito. Nas palavras de Maíllo e Prado: 
A metodologia racionalista da escola clássica – baseada no 
raciocínio consciente, mas desvinculado da observação empírica 
sistemática – parecia manifestamente insastisfatória nos anos de 
maior influência do positivismo ante a explicação e prevenção do 
delito: para essas funções resultava masis metafísica, e o 
conhecimento e a técnica humana não avançavam muito desse 
modo.18 
Corroborando a ideia de que havia um aparente limite ao método lógico- 
dedutivo da Escola Clássica, o sociólogo Edwin Sutherland, assim se manifestou: 
É altamente intelectual. Assume uma liberdade da vontade que não 
deixa espaço para investigações ulteriores nem para esforços para 
prevenir o delito. O sistema de pensamento era essecialmente pré- 
científico e metafísico; o método foi a especulação superficial sem 
nenhuma análise detida de dados reais. 19 
Nesse sentido, os defensores da Escola Positiva deram a observação e a 
experiência um papel decisivo na elaboração de suas teorias criminologicas. Cesare 
17 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. Editora Saraiva 
Educação, 8ª edição, São Paulo, 2018. p. 34. 
18 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis, op.cit., p. 108 
19 SUTHERLAND, E.H. Principles of Criminology. 3ª edição, Chicago – 1939. p. 50 e 51. 
15 
 
Lombroso, por exemplo, realizou um minucioso estudo das caracterísitcas 
fisionômicas de criminosos e as comparou as estatísticas criminais da época. 
Em seu livro O Homem Delinquente, o autor anota detalhes como estrutura 
toráxica, peso, estatura, tipo de cabelo, formato do crânio, comprimento das mãos e 
das pernas, se possuíam ou não tatuagens nos presos, entre outros detalhes. Ao 
todo, ao final da 5ª Edição de sua obra, Cesare Lombroso já contava com pelo 
menos uma amostra de 66 crânios de delinquentes, além da análise antropométrica 
e fisionômica de outros 832 presos italianos20. 
A conclusão a que chegou Cesare Lombroso, segundo o professor 
Penteado Filho, foi de que “o crime não é uma entidade jurídica, mas sim um 
fenômeno biológico, razão pela qual o método indutivo-experimental deveria ser 
empregado”21. 
E mantendo a sua análise, continua o autor que, para Cesare Lombroso, “o 
criminoso é um ser atávico, um ser que regride ao primitivismo, um verdadeiro 
selvagem (ser bestial) que nasce criminoso, cuja degeneração é causada pela 
epilepsia, que ataca seus centros nervosos”22. Corroborando esse entendimento, 
recorremos ao lecionado por Bandeira e Portugal: 
Lombroso não esgota a sua abordagem na tipologia do delinquente 
nato, mas também do ‘louco moral’, o ‘delinquente epiléptico’, o 
‘delinquente louco’, o ‘delinquente passional’, o ‘delinquente 
ocasional’, a ‘mulher delinquente’ e o ‘delinquente político’. Assim, a 
teoria lombrosiana sobre a criminalidade trata de integrar atavismo, 
morbidadee epilepsia.23 
Até aqui, é possível perceber que, diferente da Escola Clássica, os 
positivistas se debruçaram em explicar a origem do crime por meio da análise do 
criminoso, sem, contudo, desprezar os fatores ambientais e sociais. Apesar de ficar 
evidente que, ao menos para Cesare Lombroso, os fatores exógenos não eram 
determinantes para a ocorrência delituosa. 
 
20 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis, op.cit., p. 109. 
21 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. op.cit., p. 34. 
22 Ibid, p. 35. 
23 BANDEIRA, Thais e PORTUGAL, Daniela. Criminologia. Superintendência de educação a 
distância da UFBA – 2017. p. 31. 
16 
 
Seguindo os ensinamentos de Cesare Lombroso, temos Enrico Ferri, criador 
da Sociologia Criminal. Seu pensamento difere um pouco de seu antecessor em 
razão daquele entender o fenômeno criminológico por fatores antropológicos, físicos 
e culturais. Segundo Penteado Filho: 
Ferri negou com veemência o livre-arbítrio (mera ficção) como base 
da imputabilidade; entendeu que a responsabilidade moral deveria 
ser substituída pela responsabilidade social e que a razão de punir é 
a defesa social (a prevenção geral é mais eficaz que a repressão). 
Classificou os criminosos em natos, loucos, habituais, de ocasião e 
por paixão. 24 
Outro pensador destaque da Escola Positiva é o jurista Rafael Garófalo, 
quem foi responsável por dar o nome Criminologia a esta ciência e, segundo 
Penteado Filho, também afirmou que: 
O crime estava no homem e que se revelava como degeneração 
deste, criou o coneito de temibilidade ou periculosidade, que seria o 
propulsor do delinquente e a porção de maldade que deve se temer 
em face deste; fixou, por derradeiro, a necessidade de conceber 
outra forma de intervenção penal – a medida de segurança (...). 
Classificou os criminosos em natos (instintivos), fortuitos (de ocasião) 
ou pelo defeito moral especial (assassinos, violentos, ímprobos, e 
cínicos), propugnando pela pena de morte aos primeiros.25 
E dando continuidade ao desenvolvimento do método científico estabelecido 
pela Escola Positiva, porém com um enfoque diferente, muito mais voltada a análise 
dos fatores exógenos ao indivídiuo deliquente, temos a fundação da Universidade de 
Chicago, em 1892, cujo Departamento de Sociologia dos Estados Unidos, contribuíu 
de forma brilhante ao desenvolvimento de uma nova forma de se estudar o 
fenõmeno criminológico. 
2.3. Teorias da Socialização Deficiente/ Teoria Ecológica (Escola de 
Chicago). 
Os intelectuais da Escola de Chicago foram os responsáveis por 
desenvolver diversas pesquisas científicas na área da Sociologia Criminal, cujo 
enfoque estava no estudo do comportamento humano e social, baseados em 
preceitos teóricos e, fundamentalmente, na observação objetiva. 
 
24 Ibid., p. 36. 
25 Idem, p.36 
17 
 
No entanto, diferentemente de seus antecessores positivistas, os membros 
da Escola de Chicago, não consideravam os fatores biológicos como 
preponderantes para a explicação da origem do crime, muito pelo ccontrário, essa 
escola tem como principal característica o interacionismo simbólico e a ecologia 
humana. O primeiro corresponde, nas palavras de Maíllo e Prado: 
“Essa perspectiva parte da importancia que a sociedade tem para os 
individuos; estes se movem em grupos mais ou menos pequenos e 
íntimos e se comunicam, interagem, inter-relacionam por meio da 
linguagem; e é precisamente essa interação que influi em sua 
personalidade e em sua conduta. A imagem que alguém tem de si 
mesmo, do mundo em que vive e, em geral, das situações que se lhe 
apresentam se forma principlamente a partir das concepções dos 
demais”.26 
Essa escola também ficou marcada pela sua metodologia voltada a 
observação participante que consistia num acompanhamento por parte do 
investigador com a pessoa ou grupo que estava sendo pesquisado, ou seja, o 
investigador basicamente convivia com as pessoas investigadas. Já quanto a teoria 
da Ecologia Humana, assim ensina Maíllo e Prado: 
Partindo de um enfoque semelhante, que se tinha utilizado no estudo 
das plantas, propugnou-se o estudo da ecologia humana, a qual se 
ocupa das relações dos seres humanos com seu meio, ou mais 
concretamente das relações que tem as pessoas no hábitat urbano.27 
Tendo esses preceitos em mente, o sociólogo Ernest Burgess destacou em 
seus estudos que as cidades americanas tendiam a se organizar, idealmente, 
formando círculos concêntricos. Nessa linha de pensamento, a zona central 
corresponderia, às cidades americas da época, aos locais de negócios e indústria; 
segundo o autor, em seguida teríamos as zonas em transição, local onde os menos 
ricos residiam e à medida em que se afastava do centro era possível observar um 
aumento da condição econômica-finaceira das familias que ali se estabeleciam, 
culminando com conhecidos subúrbios americanos,ou bairros residenciais.28 
 
 
26 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis, op.cit., p. 120. 
27 Ibid., p. 122. 
28 BURGES, Ernest W. The growth of the city: an introduction to a research Project. In: PARK, R.E et 
al. The city. Suggestions for the investigation of human behavior in the urban environment. Chicago e 
London: the university of chicago press – 1984. 
18 
 
E reconhecendo as investigações de Ernest Burgess entre outros, Clifford 
Shaw e H. D. Mckay desenvolveram a teoria da desorganização social, a qual 
consiste na ideia de que “os delinquentes não estão distribuídos de maneira 
uniforme pelas cidades, mas se concentram em determinadas zonas”29. Esses 
autores observaram que as áreas em que os delinquentes se estbeleciam possuíam 
algumas características, quais sejam: 
 Baixo status socioeconômico – muitas famílias recebiam 
subsídios, suas rendas médias eram baixas, poucos eram 
proprietários de sua residência; 
 Alta mobilidade da população – ou seja, a população tendia a se 
mudar e, portanto, os mesmos grupos não ficavam muito tempo 
nelas e a população tendia a baixar. Nisso influía o fato de que 
ditas zonas se caracterizavam por um alto grau de deterioração 
física, como as explorações industriais já mencionadas ou edifícios 
demolidos ou danificados e, portanto, eram poucos atrativos como 
residencias; e 
 Concentração de grupos pertencentes as minorias – sobretudo 
imigrantes e negros, o que conduzia a que em tais zonas houvesse 
certa heterogeneidade. 
Com essas premissas reconhecidas, os pensadores da Escola de Chicago 
concluíram que que a criminalidade e comportamentos deviantes podiam ser, até 
certo ponto, controlados pela própria comunidade (controle social informal) e em 
menor medida por controles formais como as instituições govenamentais como a 
polícia. 
No entanto, eles também reconheciam que para que esse controle informal 
fosse efetivo era necessário que os membros dessas comunidades, possuam entre 
si o reconhecimento de que fazem parte daquele comunidade e se identifiquem com 
aquela cidade, bairro, localidade, etc. Daí um dos problemas observados nas 
famílias de imigrantes e negros, essencialmente, a maior parte deles só habitavam 
 
29 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis, op.cit., p. 124. 
19 
 
certas localidades de estrutura precária, em razão dos poucos recursos que 
possuíam, tanto que tão logo se melhovara a condição financeira familiar, tais 
famílias tediam a se mudar para outras localidades, deixando seus membros, 
inclusive, de praticar certos delitos ou comportamentos desviantes. 
Nesse sentido conclui James F. Short citado por Maíllo e Prado: 
 
“portanto, nem o tratamento ou prevenção individual nem a 
intervenção policial ou os recursos a sanções se apresentavam como 
muito promissores em dito trabalho – o qual originou reações 
fortemente adversas. O que se tinha de fazer, pelo contrário, era 
devolver à comunidade o controle dos bairros e, consequentemente, 
do delito”.30 
E, talvez, de forma até inovadora para sua realidade, o sociólogo Clifford R. Shaw 
também idealizou e dirigiu um programa de prevenção e tratamento da delinquência juvenil 
chamado de Chicago Area Project (CAP), em 1932, o qual acabou sendo um grande 
destaque e seus fundamentos ainda são utilizados ainda hoje. 
2.4. Teoria da Associação Diferencial. 
 
Outra teoria que ganhou grande destaque nos estudos de Criminologia é a 
Teoria da Associação Diferencial desenvolvida por Edwin H. Sutherland, o qual 
depois trabalhar junto aos pensadores da Escola de Chicago, acabou por 
desenvolver sua própria teoria a partir, obviamente, do interacionismo simbólico. 
De acordo com essa teoria, o criminoso é um pessoa como qualquer outra, e 
assim como em qualquer atividade o delinquente é possui a capacidade de 
aprender. Nesse sentido, o sociólogo Edwin Sutherland visava desconstituir a ideia 
de hereditariedade criminógena, conforme podemos inferir de Maíllo e Prado: 
A aprendizagem do delito – na verdade, de qualquer conduta – 
ocorre basicamente mediante processos de interação, de 
comunicação com outras pessoas, m especial nos pequenos grupos 
íntimos e nas relações diretas, tanto verbais como gestuais.31 
De suas teorias sobre a Associação Diferencial, Edwin Sutherland destacou 
um novo paradigma a ser estudo pela Criminologia, o autor definiu que o crime pode 
ser cometido por qualquer pessoa, independenmente, de sua herença genética e do 
 
30 MAÍLLO, Alfonso Serrano, PRADO, Luiz Regis, op.cit., p. 128. 
31 Ibid., p. 132. 
20 
 
seu local de moradia, mas ainda sujeita a fatores sociais relevantes. Dessa forma, e 
diferentemente do que seus antecessores apresentaram, até então, o renomado 
sociólogo apresentou a cifra oculta dos crimes do colarinho branco. 
Tal quebra de paradigma ocasionou uma nova forma de pensar não só do 
delinquente, mas também das peculiaridades criminosas de acordo com a classe 
social do criminoso. Assim como, permitiu que autores como o também sociólogo 
Robert Merton questionassem como os meios de controle social formais e informais 
agiam de acordo com essa diferença entre os crimes praticados e punidos por 
delinquentes pobres e ricos. Nesse sentido, ensina o professor, filósofo, sociólogo e 
jurista Alessandro Baratta: 
As primeiras mostravam quão grande era a discrepância entre 
as estatísticas oficiais da criminalidade e a criminalidade oculta, 
especialmente no caso da criminalidade, predominantemente 
econômica, de pessoas ocupantes de posições sociais de 
prestígio. Por isso, a teoria da maior exposição dos estratos 
sociais inferiores à delinquência era integrada com esses 
dados, e o principio da espcífica exposição das classes pobres 
ao desvio inovador encontrava um terreno fecundo de controle, 
devendo-se verificar até que ponto a criminalidade de colarinho 
branco podia explicar-se com a discrepância entre fins culturais 
e acesso aos meios institucionais.32 
Do anteriormente desenvolvido por Edwin Sutherland, deriva para autores 
como Robert Merton o suficiente para a elaboração de sua própria teoria a fim de 
alcançar de forma satisfatória o que, em tese, a teoria da Associação Diferencial não 
conseguiu responder. 
 
 
Capítulo 3 – AS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS 
 
3.1. Teoria da Anomia. 
 
Anomia é uma palavra cuja origem é o grego e significa sem lei (a = 
ausência; nomos = lei), e seu conceito dentro da Criminologia foi amplamente 
 
32 BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e crítica ao Direito Penal: Introdução à Sociologia 
do Direito Penal. Instituto Carioca de Criminologia, 3ª edição, editora Revan – Rio de Janeiro, 2002. 
p. 34 e 35. 
21 
 
desenvolvido pelo sociólogo, filósofo e antropólogo Émile Durkheim, o qual 
conceituava anomia como sendo aquele estado social de ausência, falta ou 
desintregação de normas. Segundo Shecaira33, a acepção da palavra conforme os 
ideais de Durkheim podem ser resumidos nas seguintes proposições: 
 A situação existente de transgressão das normas por quem pratica 
ilegalidades – é o caso do delinquente; 
 A existencia de um conflito de normas claras, que tornam difícil a adequação 
do indivíduo aos padrões sociais; 
 A existência de um movimento contestátório que descortina a inexistência de 
normas que vinculem as pessoas num contexto social. É a chamada crise de 
valores, causadora das grandes mudanças comportamentais de nosso tempo. 
Obviamente, não importa qual proposição seja considerada, todas 
representam uma ruptura aos padrões sociais pré-estabelecidos. O filósofo Émile 
Durkheim acaba por desenvolver a teoria da estrutural-funcionalista da anomia 
dando uma olhar diverso do fenômeno criminôgeno muito diferente do que se tinha 
estabelecido em sua época e que, posteriormente, foi desenvolvido pelas Escolas 
Clássica, Positiva, de Chicago e etc. Ressalta-se que o Pai da Sociologia, segundo 
lições de Alessandro Baratta34, entende que: As causas do desvio não devem ser pesquisados nem em fatores 
bioantropológicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica 
da estrutura social. 
 O desvio é um fenômeno normal de toda estrutura social. 
 
 Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do 
desvio é negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, 
seguindo-se um estado de desorganização, no qual todo o sistema de regras 
de conduta perde valor, enquanto um novo sistema não se afirmou (esta 
 
33 SHECAIRA, Sergio Salomão. Criminologia. Editora Revista dos Tribunais, 8ª edição, revista, 
atualizada e ampliada – São Paulo, 2020. p. 247 
34 BARATTA, op cit., p. 59 e 60. 
22 
 
situação de “anomia”). Ao contrário, dentro de seus limites funcionais, o 
comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o 
desenvolvimento sócio-cultural. 
Nesse sentido, o conceito de anomia de Emile Durkheim se fundamenta na 
ideia de consciência coletiva ou comum, o que, por sua vez, corresponde, nas lições 
de Sergio Shecaira, a um “conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à média 
dos membros de uma mesma sociedade e que forma um sistema determinado que 
tem sua vida própria”35. 
Para Émile Durkheim, não existe sociedade sem criminalidade, logo a 
criminalidade faz parte da vivência social, assim como a conduta não desviante. E o 
autor ainda vai mais além em seu raciocínio, entende ele que o crime possui uma 
funcionalidade social, ou seja, ele serve de parâmetro para o desenvolvimento da 
própria sociedade. Como bem leciona o professor Alessadro Baratta: 
Este paradoxo se explica tendo em vista aquilo em que consiste a 
normalidade e funcionalidade do delito para o grupo social: em 
primeiro lugar, o delito, provocando e estimulando a reação social, 
estabiliza e mantém vivo o sentimento coletivo que sustenta, na 
generalidade dos consócios, a conformidade às normas. Mas o delito 
é também um fenômeno de entidade particular, sancionado pelo 
direito penal. O fato de que a autoridade pública, sustentada pelo 
sentimento coletivo, descarregue a própria reação reguladora sobre 
fenômenos de desvio que atingem a intensidade do crime, permite 
uma maior elasticidade em relação a outras setores normativos, e 
torna possível, desse modo, mediante o desvio individual, a 
transformação e a renovação social. 
Nesse sentido, o fato criminoso só será realmente relevante, segundo a 
filosofia de Émile Durkheim, quando afetar a consciência coletiva para além do 
aceitável socialmente por aquela mesma sociedade. O que provocaria uma reação 
social contrária ao delito, o que por sua vez exigirá das intituições de controle social 
a sanção daquela conduta criminosa. Ou numa outra perspectiva, provocará a 
revalorização dos preceitos sociais a fim de não mais considerar aquela conduta 
como criminosa. 
Outro sociólogo que, aprovetando os ensinamentos de Emile Durkheim, 
também desenvolveu a teoria da Anomia no sentido de demonstrar o quanto certas 
35 SHECAIRA, op. cit., p. 247. 
23 
 
estruturas sociais precionam membros da sociedade para que sigam condutas não 
conformistas, ao invés de seguir os valores socialmente aprovados, foi Robert King 
Merton. 
Este autor, ao definir a estrutura cultural como, segundo Sérgio Shecaira, “o 
conjunto de valores normativos que governam a conduta comum dos membros de 
uma determinada sociedade ou grupo”36 e por estrutura social, nada mais, nada 
menos que “o conjunto organizado de relações sociais, no qual os membros da 
sociedade ou grupo são implicados de várias maneiras”37, acaba por definir que a 
conduta criminosa advém da relação desbalanceada de pressão sofrida pelo 
indivíduo entre a estrutura cultural em relação as contradições da etrutura social. De 
uma maneira mais simples, significar dizer: 
A anomia, fomentadora da criminalidade, advém do colapso na 
estrutura cultural, especialmente de uma bifurcação aguda entre as 
normas e objetivos culturais e as capacidades (socialemente 
estruturadas) dos membros do grupo de agirem de acordo com essa 
normas e objetivos. 
Para Robert Merton, o crime se origina no momento em que o indivíduo ao 
se ver inserido em uma determinada sociedade (ou grupo), a qual exige de seus 
membros que sejam bem sucedidos e este indivíduo percebe não possuir os meios 
adequados para alcançar o sucesso exigido, busca no crime uma forma de alcançar 
seu objetivo. Entretanto, nem todos buscarão o crime como alternativa, assim o 
autor previu cinco tipos de adaptação (adequação social) possíveis aos membros de 
uma sociedade, segundo Alessandro Baratta38, quais sejam: 
 Conformidade – corresponde à adesão aos fins culturais, sem respeito aos 
meios institucionais. 
 Ritualismo – corresponde ao respeito somente formal aos meios 
institucionais, sem a persecução dos fins culturais. 
 Inovação – corresponde a adesão aos fins culturais, sem o respeito aos 
meios institucioanis. 
 
36 SHECAIRA, op. cit., p. 255. 
37 Idem, p. 255. 
38 BARATTA, op cit., p. 64. 
24 
 
 Apatia – corresponde a negação tanto dos meios institucionais quanto dos 
fins culturais. 
 Rebelião – corresponde, não à simples negação dos fins e dos meios 
institucionais, mas a afirmação substitutiva de fins alternativos, mediante 
meios alternativos. 
Segundo essas premissas, o criminoso seria classificado como parte da 
INOVAÇÃO, pois compreende àquele indivíduo que pressionado pela estrutura 
cultura que vive e não possuindo os meios institucionais para alcançar, por exemplo, 
a riqueza, recorre ao crime como um atalho ao seu objetivo (fins culturais). 
3.2. Teoria do Etiquetamento, Rotulação ou Paradigma da Reação 
Social. 
O desenvolvimento dessa teoria reflete muito do que as sociedades 
estadunidense e europeia ocidental estavam vivendo em meados de 1960. Nos 
EUA, por exemplo, varios movimentos sociais ganharam destaque sob a bandeira 
da igualdade social, de gênero e negação a guerra e ao grandemente incentivado 
american way of life. Essa quebra de paradigma também se refletiu na Criminologia, 
o que servio de subtrato para uma teoria que, novamente, passou a analisar o 
fenômeno criminológico por uma outra perspectiva. 
Enquanto o clássicos pensavam no criminoso como um ser humano comum 
que utlizava de seu livre-arbítrio para cometimento de seus delitos, enquanto os 
positivistas viam no criminoso um ser pouco evoluído que trazia consigo um herança 
genética capaz de fazê-lo predisposto ao delito, enquanto a escola de chicago se 
preocupava em analisar o criminoso a partir do local onde ele residia e sua interação 
com ele e a teoria da anomia se orientava seus estudos no sentido de identificar a 
relação que a estrutura cultural e social exigiam deste indivíduo uma certa conduta 
ou o alcance de certos parâmetros sociais previamente estabelecidos. A teoria do 
Etiquetamento irá questionar, entre outros preceitos, o “por quê de tal ou tais 
condutas são consideradas crimes?”. 
Nesse sentido, os teóricos dessa teoria deixam de lado a tentativa de 
explicar o fenômeno criminológico por meio da ação do indivíduo e passam a ver no 
ato criminoso uma reação aos preceitos sociais e culturais estabelecidos. 
25 
 
O criminoso, então, é um indivíduo que ao cometer um delito acaba por ser 
etiquetado ou rotulado (desviação primária) e assim será tratado pelas instituições 
formais (ex.: a polícia, o ministério público, o judiciário, etc.) e informais (ex.: os 
meios de comunicação, as mídeas sociais, etc.) como criminoso em um caráter 
perpétuo, o qual por sua vez implicarão na pessoa do delinquente a crença de ele é 
essencialmente um criminoso (desviação secundária). 
Ou seja, o próprio delinquente passa a se ver como criminoso e, portanto, 
deve agir como tal. Nessa concepção, ao estigmatizar um indivíduo como criminoso, 
os meios institucionais formais e informais acabam por criar um ciclo de reincidência 
criminal. Nesse sentidoensina Sérgio Shecaira: 
Neste passo, há que se fazer uma breve recapitulação para melhor 
compreensão dos novos conceitos introduzidos pelos adeptos dessa 
teria. A desviação primária é poligenética e se deve a uma variante 
de fatores culturais, sociais, psicológicos e sociológicos. A 
desviação secundária traduz-se num resposta de adaptação ao 
problemas ocasionados pela reação social à desviação primária. 
Surge a teoria do estigma, etiqueta ou rótulo, status diferenciado que 
vai aderir ao autor do crime e com o qual ele interagirá. Toda reação 
à conduta criminal passa por cerimônias degradantes, processos 
ritualizados a que é submetido o réu e que atinge a autoestima do 
agente do delito. Quando a reação à conduta criminal é uma pena 
privativa de liberdade, nasce um processo institucionalizador que 
recolhe o condenado a um local isolado de moradia com rotina diária 
e administração formal. As consequências disso serão, sempre, a 
acentuação da carreira criminal e a institucionalização do 
condenado, potencializando-se a recidiva. A interação e a 
autoimagem tendem a polarizar-se em torno do papel do desviante, o 
que cria o role engulfment (grifo nosso). 39 
Ao tentar entender melhor esta teoria, algumas considerações precisam ser 
melhor explanadas, de início é tentar compreender o conceito de desviação primária, 
a qual nada mais é do que o primeiro delito praticado por um indivíduo que, segundo 
esta teoria, pode ser originado por diversos fatores de cunho pessoais, sociais, 
culturais, econômicos, etc. Nesse sentido, ensina Alessadro Baratta: 
Se reporta, pois, a um contexto de fatores sociais, culturais e 
psicológicos, que não se centram sobre a estrutura psíquica do 
indivíduo, e não conduzem, por si mesmos, a uma ‘reorganização da 
atitude que o indivíduo tem para cosigo mesmo, e do seu papel 
 
 
 
39 SHECAIRA, op. cit., p. 340. 
26 
 
social’.40 
A desviação secundária, por sua vez, compreende ao ciclo de continuidade 
delitiva que, segundo a teoria da rotulação, equivale a reação social da sociedade 
em face do delito cometido, por intermédio dos meios formais e informais de controle 
social, os quais passam a tratar o indivíduo como um ser a parte da própria 
sociedade; taxando-o, etiquetando-o ou rotulando-o como criminoso. Como bem se 
observa: 
Os devios sucessivos à reação social (compreendida a incriminação 
e a pena) são fundamentalmente determinados pelos efeitos 
psicológicos que tal reação produz no indivíduo objeto da mesma; o 
comportamento desviante (e o papel social correspondente) 
sucessivo à reação ‘torna-se um meio de defesa, de ataque ou de 
adaptação em relação aos problemas manifestos e ocultos criados 
pela reação social ao primeiro desvio’.41 
Ainda se deve ressaltar a observação feita pelo Sérgio Shecaira ao afirmar: 
 
Muitas instituições destinadas a desencorajar o comportamento 
desviante operam, na realidade, de modo a perpetuá-lo. Essas 
instituições acabam reunindo pessoas que estão a margem da 
sociedade em grupos segregados, o que a eles a oprtunidade de 
ensinar uns aos outros as habilidades e comportamentos da carreira 
delinquente e, até mesmo, provocar o uso dessas habilidades para 
reforçar o senso de alienação do resto da sociedade.42 
Já quanto as cerimônias degradantes e a institucionalização, podemos nos 
socorrer das lições de Sergio Shecaira, para o qual os primeiros correspondem aos 
“processos de ritualizados a que se submetem os envolvidos com um processo 
criminal, em que um indivíduo é condenado e despojado de sua identidade, 
recebendo uma outra degredada”43. Enquanto que a segunda, corresponde ao modo 
de vida dos detentos nas casas penais que, em um primeiro momento, acabam por 
ser uma novidade imposta pela instituição de controle formal, porém que, num 
segundo momento, passa a ser, para o detento, um modo de vida. 
E por fim, outro conceito fundamental a ser entedido sobre esta teoria é a 
concepção de Role Engulfment, a qual, por uma tradução livre corresponde ao 
 
40 BARATTA, op cit., p. 90. 
41 BARATTA, op cit., p. 90. 
42 SHECAIRA, op. cit., p. 331. 
43 Ibid, p. 332. 
27 
 
envolvimento do indivíduo com o papel que ele deve interpretar, ou seja, é o 
envolvimento que o delinquente irá adquirir em relação a desviação secundária e o 
quanto ele irá se envolver com aquela condição de delinquente. Nas palavras de 
Sergio Shecaira: 
Role engulfment – à medida que o mergulho no papel desviado 
cresce, há uma tendência para que o autor do delito defina-se como 
os outros o definem. A personalidade do agente se referenciará no 
papel do desviado ainda que ele se defina como não desviado.44 
 
 
Capítulo 4 – DIREITO PENAL, POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA 
 
4.1. O modelo Tripartido de Franz Von Liszt 
 
 
 
Criminologia Direito Penal Política Criminal 
Ocupa-se com o estudo 
da origem do crime. 
Volta-se para o estudo, 
a interpretação e a 
sistematização das 
normas penais. 
Compreende as 
políticas de prevenção 
ao crime. 
 
 
 
Durante muito tempo, a doutrina majoritária de Direito Penal ou Dogmática 
Penal, acreditou que tanto a Criminologia quanto a Política Criminal seriam 
disciplinas ou ciências auxiliares ao Direito Penal. No entanto, com o tempo, a 
doutrina majoritária percebeu a diferença de objeto de estudo de cada uma dessas 
ciências e seus respectivos métodos de análise. 
Muito desse entendimento adveio dos ensinamentos do jurista alemão Franz 
Von Liszt e sua teoria que ao perceber a complexidade e a importancia do Direito 
Penal para a sociedade, em razão, logicamente, dele lidar exatamente com as 
relações humanas indesejadas. Este autor foi o primeiro a pensar nos fenômenos 
criminológicos a partir de uma visão interdisciplinar, para o qual chamou de modelo 
 
44 Ibid, p.331. 
28 
 
tripartido da Ciência Total do Direito Penal ou Ciência Conjunta do Direito Penal. 
Bandeira e Portugal ao analisar a doutrina de Von Liszt, ensina: 
Para o autor alemão, existiria a necessidade do estudo da infração 
penal a partir de uma abordagem total que reunisse o objeto de 
estudo da Dogmática Criminal, da Criminologia e da Política 
Criminal, todas ligadas em uma unidade funcional, mas com campos 
de observação autônomos.45 
O modelo de Von Liszt reconhecia que a Dogmática Penal, sozinho, era 
insuficiente para entender e explicar o fenômeno da criminalidade, tão pouco era 
capaz de prevení-lo. Daí socorrer-se da Criminologia e da Política Criminal, a 
primeira voltada para explicar a origem do crime, o criminoso, suas razões e 
motivações, enquanto que a segunda auxiliava a Dogmática Penal pensando em 
políticas futuras de prevenção criminal. Conforme podemos inferir dos ensinamentos 
do Doutor Mario Lucio Garcez Calil: 
Tal Criminologia, denominada de Criminologia Positivista, cumpria a 
função de ciência auxiliar da Dogmática Penal, munindo-a de 
conhecimentos antropológicos psicológicos e sociológicos para a 
construção dos conceitos dogmáticos de interpretação da lei penal, 
bem como da sua operacionalização para ser aplicada pelas 
agências judiciárias.46 
No entanto, deve-se ressaltar que o modelo tripartido de Von Liszt, apesar 
de inovador só se apresentou eficiente na medida que os conceitos criminlógicos 
serviam como auxiliares aos preceitos da Dogmática Penal. A medida que a 
Criminologia se tornou mais complexa e buscou na relação homem-sociedade novos 
paradigmas criminológicos, novos problemas foram levados ao modelo tripartido de 
Von Liszt. Conforme podemos observar: 
A Criminologia “positiva” foi estudada durante a maior parte do 
século XX. Em determinado momento, todavia, recebeu nova 
modelagem, passando a julgar o Direito Penal e sua própria 
roupagem, passando a não existir por si e per si, mas, sim, a ser 
socialmente construíd, convertendo o sistema penal em seu objeto e 
problemática. A criminologia etiológica e o direito penal dogmático 
são denunciados por su função instrumentalizadora e legitimadorada 
seletividade. Nasce uma nova problemática para a Política Criminal, 
 
45 BANDEIRA, Thais e PORTUGAL, Daniela. Criminologia. Superintendência de Educação a 
Distância, 2017. p. 24. 
46 CALIL, Mario Lucio Garcez et all. Ensinar Criminologia entre Liszt e Baratta. Revista de Direito 
Brasileira, Florianópolis – 2020, p. 473. 
29 
 
concernente a prisão e ao sistema penal.47 
Nesse sentido, ao criticar toda a estrutura da Dogmática Penal e do sistema 
jurídico e carcerário, a Criminologia evoluiu como ciência e acabou por não mais 
condizir com a condição de ciência auxiliar modelada pela Ciência Total do Direito 
Penal. Com o tempo, pensar na estrutura tripartite de Von Liszt deixou de ser um 
pensar dogmático penal que buscava na Criminologia e na Política Criminal meios 
auxiliares para explicar seus próprios conceitos e teorias e passou a se pensar de 
forma multidisciplinar e interdisciplinar. 
Da mesma forma, a Política Criminal se distanciou da Dogmática Penal ao 
estabelecer parâmetros próprios na tentativa da alcançar a prevenção delituosa. 
Nesse sentido, Penteado Filho48 destaca o menos três modelos de prevenção 
fundamentais: 
 Prevenção Primária – ataca a raiz do conflito (educação, emprego, moradia, 
segurança, etc.); aqui desponta a inelutável necessidade de o Estado, de forma 
célere, implantar os direitos sociais progressiva e universalmente, atribuindo 
a fatores exógenos a etiologia delitiva, a prevenção primária liga-se a garantia 
de educação, saúde, trabalho, segurança e qualidade de vida do povo, 
instrumentos preventivos de médio e longo prazo. 
 Prevenção secundária – destina-se a setores da sociedade que podem vir a 
padecer do problema criminal e não ao indivíduo, manifestando-se a curto e 
médio prazo de maneira seletiva, ligando-se à ação policial, programas de 
apoio, controle das comunicações, etc. 
 Prevenção terciária – voltada ao recluso, visando sua recuperação e 
evitando a reincidência (sistema prisional; realiza-se por meio de medidas 
socioeducativas, como a laborterapia, a liberdade assistida, a prestação de 
serviços comunitários, etc. 
 
 
 
 
47 Ibid., p. 474. 
48 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. Editora Saraiva 
Educação, 8ª edição, São Paulo – 2018, p.107. 
30 
 
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