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Introdução à Criminologia

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Prévia do material em texto

1 
 
Disciplina: Criminologia 
Autores: M.e. Fabiana Irala de Medeiros 
Revisão de Conteúdos: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior 
Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki 
Ano: 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
 
 
 
2 
 
Fabiana Irala de Medeiros 
 
 
 
 
 
Criminologia 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
MEDEIROS, Fabiana Irala de 
Criminologia / Fabiana Irala de Medeiros – Curitiba, 2019. 
35 p. 
Coordenação Técnica: Marcelo Alvino da Silva. 
Revisão de Conteúdos: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior 
Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki. 
Material didático da disciplina de Criminologia – Faculdade São Braz (FSB), 2019. 
ISBN 978-85-5475-336-8 
 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Apresentação da disciplina 
 
Nesta disciplina estudar-se-á a importância do estudo da criminologia, 
passando pela contextualização evolutiva do crime e da punição; após, análise 
das Escolas Clássica, Positivista e Contemporânea. Também será estudado 
sobre a criminologia marxista e crítica e as Teorias do Consenso e do Conflito. 
Desta forma, este material abordará os quatro objetos centrais da criminologia, 
quais sejam: delito, delinquente, vítima e controle social – através de sua 
fundamentação teórica. 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Aula 1 – Introdução à criminologia 
 
Apresentação da aula 1 
 
 Nesta aula, será analisada a importância do estudo da criminologia, 
pontuando as diferenças entre o Direito Penal e essa matéria. Será discorrido 
sobre os quatro objetos criminológicos: delito, delinquente, vítima e controle 
social. Por fim, será abordado o contexto histórico de desenvolvimento da 
criminologia, finalizando na fase pré-científica. 
 
1.1 Importância do estudo da criminologia 
 
Criminologia é uma ciência empírica, de experimentação que visa a 
estudar aspectos correlacionados ao crime, principalmente antes de sua 
ocorrência. A punição ao delito é matéria aludida ao estudo do Direito Penal. 
Desta forma, a busca pela prevenção do crime passa necessariamente pela 
criminologia. 
Possui quatro objetos criminológicos: delito, delinquente, vítima 
(destacando a vitimização primária, secundária e terciária) e o controle social 
(formal e informal). Ademais, destaca-se a importância do estudo da chamada 
criminologia pré-científica com autores como Platão e Aristóteles. 
Destaque para a teoria do contrato social de Rosseau e sua correlação 
com a Teoria do Direito Penal do Inimigo: determinados criminosos não podem 
ser submetidos ao mesmo regramento jurídico que os cidadãos comuns, isto em 
razão da periculosidade das ações que optaram por praticar. Nesse sentido, 
seriam exemplos os crimes de terrorismo, organizações criminosas e delitos 
sexuais. Por terem voluntariamente violado o Pacto Social, devem sujeitar-se às 
regras mais severas, que flexibilizam direitos e garantias fundamentais e 
permitem, até mesmo, a tortura como meio de obtenção de prova. 
A palavra criminologia vem do latim crimino (crime) e do grego logos 
(estudo, tratado), significando estudo do crime. 
Desta forma, Nestor Sampaio Penteado Filho conceitua Criminologia 
como uma ciência empírica (ou seja, uma ciência de observação e de 
experiência) e interdisciplinar que tem por objeto analítico o crime, a 
 
 
 
7 
 
personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o controle social 
das condutas. 
Embora possa parecer, de fato o objeto de estudo desta ciência não é o 
crime em si - isto é tarefa do Direito Penal -, mas sim compreender as 
especificidades que concorrem para sua ocorrência e, principalmente, os meios 
de controle social. Segundo o Finalismo de Welzel, crime para o Direito Penal é 
fato típico, antijurídico e culpável. 
Conceito analítico de crime 
Fato típico Antijuridicidade Culpabilidade 
Conduta Estado de 
necessidade 
Imputabilidade 
Resultado Legítima defesa Potencial consciência sobre 
a ilicitude do fato 
Nexo de causalidade Estrito cumprimento 
do dever legal 
Exigibilidade de conduta 
diversa 
Tipicidade (formal e 
conglobante) 
Exercício regular do 
direito 
 
Fonte: Acervo do autor (2019). 
 
Segundo Roxin, a finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens 
essenciais ao convívio em sociedade, devendo o legislador fazer a sua seleção. 
Já a criminologia vê o crime como um problema social, possuindo quatro 
vertentes principais de estudo: delito, delinquente, vítima e controle social. 
Nesse sentido, Antonio Garcia-Pablos de Molina e Luiz Flávio Gomes 
ensinam: 
 
Cabe definir criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que 
se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do 
controle social do comportamento delitivo, e que trata de subministrar 
uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e 
variáveis principais do crime – contemplado este como problema 
individual e como problema social, assim como sobre os programas de 
prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no 
homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de respostas 
ao delito. 
 
No que se refere ao delito, foi estudado que o conceito analítico de crime 
para o Direito Penal é fato típico, antijurídico e culpável. Já a criminologia 
analisará a conduta antissocial, causas geradoras, tratamento dado ao 
delinquente visando a sua não reincidência, bem como as falhas nos métodos 
de prevenção. Nesse sentido, o crime é um problema social. 
 
 
 
8 
 
Ou seja, no estudo do delito, a criminologia buscará responder por que 
determinados crimes ocorrem com mais frequência em determinadas 
localidades e quais as formas de prevenção, compreendendo tais 
especificidades. 
Quanto ao estudo do delinquente, o professor Sergio Salomão Schecaria 
enfatiza que: “O criminoso é um ser histórico, real, complexo e enigmático, um 
ser absolutamente normal, que pode estar sujeito às influências do meio (não 
determinismos)”. 
Para tal estudo, busca-se amparo nas escolas criminológicas, que em 
tópico seguinte serão tratadas. De qualquer forma, de antemão pontua-se que 
na Escola Clássica o criminoso era um ser que optou pelo mal podendo escolher 
o bem; para a escola positivista, o criminoso era um ser atávico, com 
determinismos biológicos que o sujeitavam à criminalidade e, para a escola 
correcionalista, o criminoso era um ser inferior, merecedor de uma piedade 
estatal. 
Sobreo papel da vítima, de fato o Direito Penal relega a um papel 
secundário, especificamente já no momento da dosimetria da pena. Para a 
criminologia, houve três momentos sobre sua análise: 
 
 A idade do ouro: compreendia as hipóteses de autotutela, lei de Talião 
etc; 
 Período de neutralização do poder da vítima: surgiu com o processo 
inquisitivo, em que a vítima não possuía lugar de destaque na persecução 
penal; 
 Revalorização de sua importância: após o 1° Seminário Internacional 
de Vitimologia (Israel, 1973). 
 
Ainda sobre a vítima e seu papel para a criminologia, é importante 
destacar: 
 
 A vitimização primária como sendo aquela em que o indivíduo é atingido 
diretamente pela conduta criminosa. Sabe-se que determinadas pessoas 
estão mais sujeitas a sofrerem condutas delitivas, seja em razão de 
questões étnicas ou profissionais. Exemplo: policiais estão mais sujeitos 
 
 
 
9 
 
a serem vítimas de homicídios; profissionais de saúde constantemente 
sofrem ameaças, etc. 
 Vitimização secundária, estuda-se a consequência das relações entre 
as vítimas primárias e o Estado (polícia, Ministério Público etc). Nesse 
sentido, podemos destacar a súmula 542 do Superior Tribunal de Justiça 
que modifica o tipo de ação penal a ser promovida no crime de lesão 
corporal resultante de violência doméstica, uma vez que a Lei n° 
11.340/2006, em seu artigo 16, previa Ação Penal Pública Condicionada 
à Representação. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal 
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública 
incondicionada, ou seja, a edição desta súmula atende a uma questão 
criminológica, qual seja: corrigir a opção da Lei pela ação penal pública 
condicionada à representação que não permitia uma eficaz persecução 
penal nos crimes de violência doméstica, uma vez que muitas vítimas 
desistiam de promover a representação. 
 Vitimização terciária, entende-se como aquela decorrente de um 
excesso de sofrimento quando a vítima é abandonada, em certos delitos, 
pelo Estado e estigmatizada pela comunidade, incentivando a cifra 
negra. Nesse sentido, a redação do artigo 225 do Código Penal, que 
alterou o tipo de ação penal nos delitos sexuais: 
 
 
 
Artigo 225 do Código Penal 
Dispõe sobre o Código Penal e dá outras providências. 
 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, 
decreta a seguinte Lei: 
 
CAPÍTULO IV 
DISPOSIÇÕES GERAIS 
Ação Penal 
 Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se 
mediante ação penal pública incondicionada. 
Parágrafo único. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 
 
 
 
10 
 
Professores de Direito Penal têm questionado a opção legislativa pela 
mudança do tipo de ação penal, uma vez que antes era pública condicionada à 
representação. A alteração foi realizada para evitar a impunidade desses delitos, 
uma vez que muitas mulheres não denunciavam por vergonha ou mesmo porque 
os agressores eram pessoas de seu círculo pessoal. No entanto, a Lei passou a 
desconsiderar a vontade da vítima dos delitos sexuais, o que pode gerar 
constrangimentos sociais, uma vez que, infelizmente, nossa sociedade ainda 
não sabe como acolher as vítimas de crimes sexuais. 
 Quanto ao controle social, analisa-se o conjunto de mecanismos e 
sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência 
social. Sabe-se que há regras sociais implícitas de boa convivência e a 
criminologia buscará estudar de que forma essas regras impedem práticas 
delitivas. Rogério Sanches define como: 
 
O controle social pode ser definido como a reunião de mecanismos e 
sanções sociais imbuídos do propósito de submeter os componentes 
do grupo social às regras estabelecidas para a comunidade. Pode ser 
formal (órgãos de Estado) ou informal (família, opinião pública, etc.). A 
principal forma de controle, todavia, é a informal, que se aplica em 
todos os momentos da vivência em comunidade. Constatada a sua 
insuficiência, o controle informal cede lugar aos mecanismos de 
controle formal. 
 
Na análise do Controle Social, há dois sistemas que coexistem: 
 
 O controle social informal: exercido pela família, escola, religião, 
profissão etc; 
 Controle social formal: exercido pela polícia, ministério público, 
Forças Armadas etc. 
 
Assim, a pesquisa do criminólogo esquece-se temporariamente do ato 
criminoso para analisar questões antecedentes e desprezadas pelo Direito 
Penal, que possam auxiliar na compreensão dos motivos sociais da ocorrência 
de determinado crime. Nesse sentido, o professor Rogério Greco explica: “a 
pesquisa do criminólogo mergulha no seio da família do delinquente, no seu meio 
social, nas oportunidades sociais que lhe foram concedidas, no seu caráter; [...] 
retrocede-se em buscas de possíveis causas do crime”. 
 
 
 
11 
 
Importante 
Quatro objetos de estudo da criminologia: Delito, Delinquente, 
Vítima, Controle Social. 
 
 
 
1.2 Crime e punição (contextualização evolutiva) 
 
Não existe consenso na doutrina quanto ao surgimento da criminologia. 
Segundo Mauricio Dieter, professor de Criminologia da USP, o marco fundador 
dessa ciência foi a publicação do livro O homem delinquente, em 1876, de 
Cesare Lombroso. 
Para Antonio Garcia-Pablos Molina, essa disciplina tem origem no 
antropólogo francês Paul Toppinard, ao ter usado a expressão “criminologia” em 
1879; no entanto, ainda há quem defenda que somente adquiriu força graças à 
obra de Rafael Garófalo, de 1885. 
 Ainda, não se pode desprezar a influência da Escola Clássica, com 
Francesco Carrara (Programa de direito criminal, 1859), tampouco 
desconsiderar que essa Escola sofreu forte influência das ideias liberais e 
humanistas de Cesare Bonesana – o Marquês de Beccaria, com a edição do 
clássico livro Dos delitos e das penas, em 1764. 
 
1.2.1 Criminologia pré-científica 
 
 Na Antiguidade, temos algumas obras que já buscavam explicar a 
criminalidade de forma ainda esparsa. Nesse sentido, destacam-se os seguintes 
autores: 
 
 Código de Hamurábi: defendia a autotutela, permitindo à vítima 
comportamentos “justiceiros”; também defendia a punição de funcionários 
corruptos; 
 
 
 
12 
 
 Hipócrates (460-377 a.C.): pode ser considerado o primeiro autor que 
destacava a alteração da saúde mental. Acreditava que todo crime, assim 
como o vício, é fruto da loucura. Prenúncio de estudos acerca das 
inimputabilidades mentais; 
 Confúcio: tecia crítica às desigualdades sociais, afirmando que 
impossibilitavam o governo do povo; 
 Platão: no livro A República, defendia que era necessária uma tentativa 
prévia de reeducação do criminoso. Caso restasse infrutífera, defendia 
então a pena de banimento do país. Presságio da teoria do Direito Penal 
do Inimigo; 
 Aristóteles: destacava as correlações entre causas econômicas e 
práticas delituosas. Em sua obra “A Política” ressaltou que a miséria 
engendra rebelião e delito. Os delitos mais graves eram os cometidos 
para possuir o supérfluo. 
 
Quanto aos teólogos, importante destacar a contribuição de São Tomás 
de Aquino, que correlacionava a pobreza ao crime de roubo e que também 
defendia a justiça distributiva. 
Já quanto aos filósofos, destaca-se Hobbes – livro O Leviatã: os 
governantes devem dar segurança aos súditos; Montesquieu – livro O Espírito 
das Leis, em que destaca que o legislador deveria evitar o delito em vez de 
castigar; separação dos poderes; Voltaire – pobreza e miséria como fatores 
criminógenos; Rosseau – livro Do Contrato Social (utilizado como fundamento 
para o Direito Penal do Inimigo). 
Direito Penal do Inimigo (em alemão, Feindstrafrecht) é um conceito 
introduzido em 1985 por Günther Jakobs, jurista alemão, professor de 
Direito Penal e Filosofia do Direito na Universidade de Bonn. Para o 
autor, determinados criminososnão podem ser submetidos ao mesmo 
regramento jurídico que os cidadãos comuns, isto em razão da 
periculosidade das ações que optaram por praticar. Nesse sentido, 
seriam exemplos os crimes de terrorismo, organizações criminosas e 
delitos sexuais. Por terem voluntariamente violado o Pacto Social, 
devem sujeitar-se às regras mais severas, que flexibilizam direitos e 
garantias fundamentais e permitem, até mesmo, a tortura como meio 
de obtenção de prova. 
 
 
Quanto aos penólogos, destaca-se John Howard (criador do sistema 
penitenciário em 1777) e Jeremy Bentham: 
 
 
 
13 
 
 
Modelo Panótico de Jeremy Bentham: segundo o modelo abaixo, os 
presos seriam intensivamente vigiados, sem que soubessem quando 
ou por quem. Este modelo foi defendido por Foucault: [...]induzir no 
detido um estado consciente e permanente de visibilidade que 
assegura o funcionamento autoritário do poder. Fazer com que a 
vigilância seja permanente nos seus efeitos. 
 
 
O apogeu do Iluminismo na Revolução Francesa produziu significativas 
obras expoentes do pensamento liberal e humanista, dentre os quais se 
destacam os já citados Rosseau, Voltaire e Montesquieu. Saindo do período 
inquisitório, defendiam a necessidade da individualização da pena, da redução 
de penas cruéis, do princípio da legalidade com determinações prévias ao 
cometimento do crime. Assim, desenvolveram-se as Escolas Penais ou 
Criminológicas, que buscavam questionar e apontar soluções para a 
criminalidade. 
 
Resumo da aula 1 
 
Nesta aula foi estudada a criminologia, uma ciência empírica, de 
experimentação, que visa a estudar aspectos correlacionados ao crime, 
principalmente antes de sua ocorrência. A punição ao delito é matéria aludida ao 
estudo do Direito Penal. Desta forma, a busca pela prevenção do crime passa 
necessariamente pela criminologia. Os quatro objetos criminológicos: delito, 
delinquente, vítima (destacando a vitimização primária, secundária e terciária) e 
o controle social (formal e informal). Ademais, destacamos a importância do 
estudo da chamada “criminologia pré-científica”, principalmente apontando sua 
correlação com teorias e modelos de repressão atuais, como a Teoria do Direito 
Penal do Inimigo e o modelo Panótico de vigilância. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Disserte sobre a vitimização terciária e a Lei n° 11.340/2006 (Lei 
Maria da Penha). 
 
 
 
 
14 
 
Aula 2 – Introdução à criminologia 
 
Apresentação da aula 2 
 
 Nesta aula, serão analisadas as escolas Clássica e Positivista, estudando 
as fases antropológica, sociológica e jurídica. Abordaremos a cifra negra e a cifra 
dourada. Passaremos a seguir ao estudo da criminologia contemporânea 
através da Escola de Política Criminal (ou Moderna Alemã) e a Terza Scuola 
Italiana. 
 
2.1 Criminologia e a Escola Clássica 
 
 Nestor Sampaio Penteado Filho e Rogério Greco alertam que não existiu 
propriamente uma Escola Clássica, mas que assim foi denominada em tom 
pejorativo pelos positivistas, no sentido de antiga, anterior, ultrapassada. 
 As ideias consagradas pelo Iluminismo acabaram por influenciar a 
redação do célebre livro de Cesare Beccaria – Dos Delitos e das Penas em 1764, 
com a crítica às penas aflitivas, tortura e proposta de humanização: 
 
Um crime já cometido, para o qual já não há remédio, só pode ser 
punido pela sociedade política para impedir que os outros homens 
cometam outros semelhantes pela esperançada impunidade. Se é 
verdade que a maioria dos homens respeita as leis pelo temor ou pela 
virtude, se é provável que um cidadão prefira segui-las a violá-las, o 
juiz que ordena a tortura expõe-se constantemente a atormentar 
inocentes. (BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2 ed. São Paulo: 
Saraiva, 2015, p. 22). 
 
 
 
Além de Beccaria, despontam como representantes dessa corrente 
Francesco Carrara e Giovanni Carmignani. Com a Escola Clássica, vários 
princípios basilares do Direito Penal ganharam força, como o princípio do in 
dubio pro reo, presunção de inocência e o princípio da dignidade da pessoa 
humana, fazendo com que a pena deixe de ser aflitiva. 
Os clássicos partiram de duas teorias distintas: 
 
 
 
 
15 
 
 O jusnaturalismo: direito natural, que decorria da natureza eterna e 
imutável do ser humano; 
 O contratualismo: decorrente do contrato social ou utilitarismo de 
Rosseau, em que o Estado surge a partir de um grande pacto entre 
homens, no qual estes cedem parcela de sua liberdade e direitos em prol 
da segurança coletiva. 
 
No século XVIII, a burguesia em ascensão procurava afastar o arbítrio e 
a opressão do poder soberano com a manifestação desses seus representantes 
através da junção das duas teorias, que, embora distintas, igualavam-se no 
fundamental, isto é, a existência de um sistema de normas anterior e superior ao 
Estado, em oposição à tirania e à violência reinantes. 
O principal fundamento da Escola Clássica é a punibilidade do delito 
baseada no livre-arbítrio, levando em conta a responsabilidade moral do 
delinquente. Ou seja, parte da premissa de que o homem é um ser livre e 
racional, capaz de pensar, tomar decisões e agir em consequência disso. 
Segundo Rogério Greco, “entre a escolha de cometer ou não um delito, a 
pena deveria ser utilizada como fator de dissuasão nessa escolha, ou seja...entre 
o mal da pena e o benefício a ser alcançado pela prática da infração penal”. 
 
Para Refletir 
A questão da redução da maioridade penal. Segundo o 
art. 228 da Constituição Federal: São penalmente 
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas 
da legislação especial. Este é um tema controverso. Para 
alterar-se a idade de maioridade penal no Brasil, será 
necessária uma alteração constitucional através de PEC. Os 
contrários à redução compreendem que o artigo 228 é uma 
garantia constitucional ao indivíduo, razão pela qual seria 
cláusula pétrea – portanto, imutável. Por outro lado, os 
defensores da redução utilizam como principal argumento o 
“fato de o adolescente já compreender a ilicitude da conduta”, 
razão pela qual deveria responder criminalmente (e não 
como ato infracional). Portanto, o argumento é baseado no 
senso de “livre-arbítrio” – elemento fundamental da Escola 
Clássica Criminológica. 
 
 
 
 
16 
 
 
Embora a Escola Clássica tenha seu mérito, em razão da quebra dos 
paradigmas aflitivos de punição criminal e ascensão de garantias individuais, 
críticas surgiram em razão de seus fundamentos, principalmente sobre o livre-
arbítrio como conduta humana. Inegável que essa teoria não conseguia uma 
resposta jurídica adequada em relação aos absolutamente inimputáveis. 
 
2.2 A Escola Positiva e o paradigma etiológico-explicativo 
 
Inicia suas raízes no século XIX na Europa influenciada pelos princípios 
fisiocratas e iluministas no século anterior. Pode-se afirmar que a Escola Positiva 
teve três fases: 
 
 Fase antropológica: o médico Cesare Lombroso publicou o livro O 
homem delinquente em 1.876, instaurando um período científico de 
estudos criminológicos. Examinava com profundidade as características 
fisionômicas e as comparou com os dados estatísticos de criminalidade, 
o que fundou a Escola Biológica da Criminologia. Analisava dados como 
estrutura torácica, estatura, peso, tipo de cabelo, comprimento de mãos e 
pernas, tamanho de crânio. Assim, criou a teoria do criminoso nato. Seus 
estudos possuíam uma feição multidisciplinar, compreendendo que o 
delito possuía múltiplas causas como variáveis ambientais e sociais, por 
exemplo, o clima, abuso de álcool, educação, trabalho. Grande parte de 
suas pesquisas foram feitas na maioria em manicômios e prisões, 
concluindo que o criminoso é um ser atávico, um ser que regride ao 
primitivismo, um verdadeiro selvagem (ser bestial), que nasce criminoso, 
cuja degeneração é causada pela epilepsia. 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Sugiro a leitura dolivro Holocausto Brasileiro, 
Autora: Daniela Arbex. Importante livro que 
demonstra a realidade do que foi o Hospital 
Psiquiátrico de Barbacena-MG. 
 
 
 
17 
 
 Determinismo biológico: embora não tenha afastado os fatores 
exógenos (clima, vida social etc.), entendia que esses apenas 
desencadeariam a propulsão interna para o delito, pois o criminoso nasce 
criminoso. Ou seja, negava o livre-arbítrio. Para o determinismo a 
liberdade de escolha e o livre-arbítrio são meras ilusões sustentadas e 
defendidas por algumas correntes filosóficas. 
 Premissas básicas de sua teoria: atavismo, degeneração epilética e 
delinquente nato. Características do homem atávico: fronte fungidia, 
crânio assimétrico, rosto largo e chato, grandes maçãs no rosto, lábios 
finos, canhotismo, barba rala, tatuagens etc. 
 Crítica: milhares de pessoas sofriam de epilepsia e jamais praticaram 
qualquer delito. Vide o livro/documentário indicado. 
Saiba Mais 
A respeito da criminalização da tatuagem, importante 
destacar o Recurso Extraordinário (RE) 898450, com 
repercussão geral reconhecida, em que um candidato a 
soldado da Polícia Militar de São Paulo foi eliminado por ter 
tatuagem na perna. “Editais de concurso público não podem 
estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo 
situações excepcionais, em razão de conteúdo que viole 
valores constitucionais”, foi a tese de repercussão geral 
fixada. 
 
 Fase sociológica: O jurista, político e sociólogo Enrico Ferri foi o criador 
da “sociologia criminal” com seu livro I nuovi orizzonti del diritto e della 
procedura penale, de 1880. Para ele, a criminalidade derivava de 
fenômenos antropológicos, físicos e culturais. Nega com veemência o 
livre-arbítrio como base da imputabilidade; entendeu que a 
responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade 
social e que a razão de punir é a defesa social (a prevenção geral é mais 
eficaz que a repressão). Agregou às ideias lombrosianas a questão dos 
fatores sociais, econômicos e políticos como determinantes 
criminológicos. Classificou os criminosos em: 
 Natos; 
 Loucos; 
 
 
 
18 
 
 Habituais; 
 De ocasião; 
 Passionais. 
 
 Fase jurídica: Rafael Garófalo afirmou que o crime estava no homem e 
que se revelava como degeneração deste. Criou o conceito de 
temibilidade ou periculosidade, que seria o propulsor do delinquente e a 
porção de maldade que deve se temer em face deste. Defendeu a 
necessidade de se conceber outra forma de intervenção penal – a medida 
de segurança. 
Saiba Mais 
A medida de segurança é tratada pelo Código Penal a partir 
do artigo 96, adotando o sistema vicariante e não do duplo 
binário. Lembrem-se de que a sentença que reconhece a 
responsabilidade penal do absolutamente inimputável é 
classificada como Absolutória Imprópria, uma vez que não 
aplica pena e sim medida de segurança, que possui 
finalidade terapêutica. 
 
 
Importante destacar também que o belga Adolphe Quetelet possui uma 
importante contribuição a essa Escola: a Teoria das Leis Térmicas (1835), por 
meio da qual identificava que determinados delitos ocorreriam de forma mais 
reiterada de acordo com a estação do ano. Nesse sentido, identificou que no: 
 
 Inverno: ocorreriam mais crimes patrimoniais; 
 Verão: ocorreriam mais crimes contra a pessoa; 
 Primavera: ocorreriam mais crimes contra as liberdades sexuais. 
 
Também desenvolveu outros três importantes preceitos: 
 
 O crime é um fenômeno social; 
 Há várias condicionantes da prática delitiva, como miséria, analfabetismo, 
clima etc. 
 
 
 
19 
 
 Era um grande defensor das estatísticas, mas de forma cautelosa, uma 
vez que percebeu que há uma grande quantidade de delitos não 
comunicados (cifra negra). 
 
Cifra negra: (zona obscura, "dark number" ou "ciffre noir") 
refere-se à porcentagem de crimes não solucionados ou punidos 
em razão de não terem sido informados ao sistema de 
persecução penal. Ex.: delitos sexuais, furtos. Cifra dourada: 
trata-se dos crimes denominados de "colarinho branco", tais 
como as infrações contra o meio ambiente, contra a ordem 
tributária, o sistema financeiro, que também não chegam ao 
conhecimento das instâncias oficiais. 
 
 
2.3 Criminologia contemporânea 
 
Após o surgimento das Escolas Clássica e Positivista, outras foram 
surgindo ao longo dos anos. Visando a apontar as mais significativas ao estudo 
da criminologia, destaca-se a Escola de Política Criminal e a Terza Scuola 
Italiana. 
 
2.3.1 Escola de Política Criminal ou Moderna Alemã 
 
Também denominada de Escola Sociológica Alemã, teve como principais 
expoentes Franz Von Lizt, Adolphe Prins e Von Hammel – criadores da União 
Internacional de Direito Penal, em 1888. Lembrando que é de Von Liszt a 
célebre frase: “ O Código Penal é a Carta Magna do delinquente e o Direito Penal 
é a barreira intransponível da Política Criminal”. 
Postulados da Escola: 
 
 Distinção entre imputáveis e inimputáveis; 
 Crime como fenômeno humano-social e como fato jurídico; 
 Função finalística da pena – prevenção especial (positiva – 
ressocialização do indivíduo; negativa: “visa” evitar a reincidência – inibir 
novas práticas de crime); 
 
 
 
20 
 
 Eliminação ou substituição das penas privativas de liberdade de curta 
duração. 
 
2.3.2 Terza Scuola Italiana 
 
Surgiu como o propósito de conciliar as posições das Escolas Clássica e 
Positivista, tendo como expoentes Manuel Carnevale, Bernardino Alimena e 
João Impallomeni. Também foi denominada Positivismo Crítico. Para esta 
Escola, a finalidade da pena não se esgota com o castigo do culpado, mas requer 
também a sua correção e a sua readaptação social. 
 
Resumo da aula 2 
 
Nesta aula foram abordadas as escolas Clássica e Positivista, estudando 
as fases antropológica, sociológica e jurídica, a cifra negra e a cifra dourada, 
passando-se, ainda, pelo estudo da criminologia contemporânea através da 
Escola de Política Criminal (ou Moderna Alemã) e a Terza Scuola Italiana. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Disserte sobre a correlação entre a teoria lombrosiana e a 
proibição contida em alguns editais de concurso público vetando 
candidatos que ostentem tatuagens. 
 
 
 
Aula 3 – Ensaios de explicação do crime embasados no Determinismo - 
PENSAMENTO CRIMINOLÓGICO MODERNO 
 
Apresentação da aula 3 
 
 Nesta aula, analisar-se-á a Teoria do Determinismo em suas concepções 
biológica e social e a Teoria da Coculpabilidade. No que tange ao pensamento 
criminológico moderno, serão estudadas as teorias do consenso e do conflito. 
 
 
 
21 
 
 
 
3.1 Ensaios de explicação do crime embasados no Determinismo 
 
O determinismo social é a crença de que o ambiente no qual o indivíduo 
está inserido determina o seu comportamento, inibindo-o do poder de escolha. 
Ou seja, segundo esta teoria, “o meio influencia” a criminalidade, afastando a 
crença do livre-arbítrio. 
 Importante relembrar a lição do sociólogo Thomas Hobbes, que 
compreendia a ideia do livre-arbítrio como uma ilusão, compreendendo que o 
homem determina seu comportamento mediante o meio em que vive. Por isso a 
necessidade do contrato social buscando a manutenção da paz entre os 
indivíduos, pois “o homem em seu estado de natureza é o lobo do próprio 
homem”. 
 No que se refere ao determinismo biológico, é a (errada) compreensão de 
que as características físicas, psicológicas e criminológicas do ser humano são 
determinadas por sua raça ou nacionalidade. Por essa teoria, as generalizações 
são a regra, como no exemplo de creditar inteligência acima da média a todos 
os asiáticos, a cor de pele negra a todos os africanos, etc. 
 Como destacado sobre o determinismo social, considera-se que o meio 
influencia a criminalidade, destacando-se sua correlação entre capitalismo e 
criminalidade. Há acadêmicos que defendem que o modelo de mercado 
capitalista, por incentivaro consumo, seria determinante para a prática de 
delitos, especialmente os patrimoniais e contra a Administração Pública. Em 
razão desta teoria, há a criminologia crítica, baseada em fundamentos marxistas. 
 Por outro lado, há ainda a Teoria da Coculpabilidade. Explicando-a, segue 
trecho de Rogério Greco: 
 
Sabemos, como regra geral, a influência que o meio social pode 
exercer sobre as pessoas. A educação, a cultura, a marginalidade e a 
banalização no cometimento de infrações penais, por exemplo, podem 
fazer parte do cotidiano. Sabemos, também, que a sociedade premia 
poucos em detrimento de muitos. Não existe distribuição de riquezas. 
 
 
Desta forma, a Teoria da Coculpabilidade evidencia a parcela de 
responsabilidade que deve ser atribuída à sociedade quando da prática de 
 
 
 
22 
 
determinadas infrações penais pelos seus cidadãos, principalmente aqueles 
marginalizados. Assim, como explica Rogério Greco: “quando tais pessoas 
praticam crimes, devemos apurar e dividir essa responsabilidade com a 
sociedade”. 
 
3.2 Pensamento criminológico moderno 
 
 O pensamento criminológico moderno é influenciado por duas visões: 
uma de cunho funcionalista (chamadas teorias do consenso) e outra de cunho 
argumentativo (chamadas teorias do conflito). 
 
3.3 Teorias do consenso 
 
 As teorias do consenso compreendem que os objetivos da sociedade são 
atingidos quando há o funcionamento perfeito de suas instituições, com os 
indivíduos compartilhando das metas sociais comuns e agindo de acordo com 
as regras de convívio. 
 São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a Teoria da 
Associação Diferencial, a Teoria da Anomia e da Subcultura Delinquente. 
 
3.3.1 Escola de Chicago 
 
A Revolução Industrial proporcionou uma forte expansão do mercado 
americano, com a consolidação da burguesia comercial. Em função do 
crescimento desordenado da cidade de Chicago, que se expandiu do centro para 
a periferia, inúmeros e graves problemas sociais, econômicos e culturais criaram 
ambiente favorável à criminalidade. Esse crescimento urbano é favorável à 
aproximação entre as pessoas, com a vizinhança se conhecendo. Isso favorece 
as redes de controle informal (polícia natural), na medida em que há relações de 
mútuo auxílio contra a criminalidade. 
No entanto, os avanços do progresso cultural aceleram a mobilidade 
social, com mudanças de emprego, residência, bairro etc. Assim, essa 
mobilidade acaba por ser um impeditivo ao controle social informal nas cidades. 
 
 
 
23 
 
A Escola de Chicago foi a responsável pelo desenvolvimento da teoria 
ecológica, que pontua que o crescimento desordenado das cidades faz 
desaparecer o controle informal, fazendo com que os cidadãos sejam 
desconhecidos entre si, o que favoreceria o aumento da criminalidade. 
Desta forma, são propostas da ecologia criminal: 
 
 Alteração socioeconômica das crianças; 
 Efetivação de programas comunitários; 
 Reurbanização de bairros pobres. 
 
Assim, a principal contribuição da Escola de Chicago foi o destaque à 
prevenção, reduzindo a repressão, bem como a implementação de ações 
afirmativas que incluam o indivíduo na sociedade. 
 
3.3.2 Teoria da Associação Diferencial 
 
 Foi desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland. Afirma que 
o comportamento do criminoso é aprendido, nunca herdado, criado ou 
desenvolvido pelo indivíduo. 
 Assim, a associação diferencial é um processo de apreensão de 
comportamentos desviantes, ou seja, de aplicação direta da lei da imitação, 
sendo a criminalidade uma consequência de uma socialização incorreta. 
 
3.3.3 Anomia. Subcultura delinquente 
 
Anomia foi uma teoria profundamente estudada pelo sociólogo Emile 
Durkheim, que enxergava o crime como um fenômeno social cultural. 
Compreendia que a pena deve ser utilizada não com fins meramente punitivos, 
mas com a finalidade de mostrar à sociedade que o crime é algo reprovável, 
demonstrando que a conduta é proibida. A pena, nesse sentido, serviria também 
para impedir o sentimento de impunidade. 
Desta forma, compreende que se o Estado falha na proteção aos seus 
cidadãos, há a anomia, isto é, manifestações comportamentais em que as 
normas sociais são ignoradas ou contornadas. Ou seja, o descumprimento da 
 
 
 
24 
 
Lei gera nos cidadãos a impressão de que esta não é cumprida, o que favorece 
a criminalidade. 
Exemplo de anomia jurídica ocorre com o artigo 273, §1° do Código Penal: 
 
 
 
Artigo 273 do Código Penal 
 
Dispõe sobre o Código Penal e dá outras providências. 
 
 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, 
decreta a seguinte Lei: 
 
CAPÍTULO III 
DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA 
Modalidade Culposa 
 
Art. 273. Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins 
terapêuticos ou medicinais: (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) 
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 
9.677, de 2.7.1998) 
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em 
depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto 
falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. (Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998) 
 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm 
 
 
 
Observe que a pena mínima desse crime é de 10 anos (enquanto, por 
exemplo, a pena mínima do crime de estupro é de 06 anos), mas apesar disso a 
grande maioria da população brasileira desconhece o delito de importação de 
medicamentos ou continuam a praticar por conta da baixa incidência punitiva 
desse delito. 
O termo “subcultura delinquente” foi consagrada na literatura 
criminológica pela obra de Albert Cohen: Delinquent boys. O conceito não é 
exclusivo da área criminal, sendo utilizado igualmente em outras esferas do 
conhecimento, como na antropologia e na sociologia. Trata-se de um conceito 
importante dentro das sociedades complexas e diferenciadas existentes no 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9677.htm#art273
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9677.htm#art273
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9677.htm#art273
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9677.htm#art273
https://jus.com.br/tudo/antropologia
https://jus.com.br/tudo/sociedades
 
 
 
25 
 
mundo contemporâneo, caracterizado pela pluralidade de classes, grupos, 
etnias e raças. Portanto, refere-se às pessoas que “se retiram da sociedade”. 
A Teoria da Subcultura Delinquente foi de fato desenvolvida por Wolfgang 
e Ferracuti em 1967. Defende a existência de uma subcultura da violência, que 
faz com que alguns grupos passem a aceitar a violência como um modo normal 
de resolver os conflitos sociais. Ademais, compreende ainda que algumas 
sociedades fazem apologia à violência, punindo com desdém aqueles indivíduos 
que não se adaptam aos padrões do grupo. 
Caracteriza-se por três fatores: não utilitarismo da ação; malícia da 
conduta e negativismo: 
 
 O não utilitarismo da ação considera que muitos crimes não possuem 
motivação racional; 
 A malícia da conduta é o prazer em desconcertar, em prejudicar o outro. 
Ex.: gangues; 
 Já o negativismo da conduta mostra-se como polo oposto aos padrões da 
sociedade. 
 
3.4 Teorias do conflito 
 
 Estas teorias argumentam que a harmonia social decorre da força e da 
coerção. A pacificação social somente seria conseguida através da imposição 
de sanções. 
 
3.4.1 Labelling Approuch 
 
Também denominada teoria do interacionismo simbólico, etiquetamento, 
rotulação ou reação social, surgiu nos anos 60 nos Estados Unidos, tendo como 
principais expoentes Erving Goffman e Howard Becker. 
Para essa teoria, a criminalidade não é uma qualidade, mas a 
consequência de um processo de estigmatização. Assim, o que diferencia o 
delinquente do “homemcomum” é o processo de rotulação que recebe. 
Nestor Sampaio ensina que “a criminalização primária produz a etiqueta 
ou rótulo, que por sua vez produz a criminalização secundária (reincidência). A 
https://jus.com.br/tudo/violencia
 
 
 
26 
 
etiqueta ou rótulo (materializados em atestado de antecedentes, folha corrida 
criminal, divulgação de jornais sensacionalistas etc.) acaba por impregnar o 
indivíduo”. Exemplo disso é o artigo 61, inciso I do Código Penal, que destaca 
como primeira agravante a reincidência criminal. 
Sobre a criminalização primária, Sandro Sell aduz que o processo 
legislativo de criação dos tipos penais gera desproporções, mormente punindo 
de forma mais severa as condutas dos mais pobres. 
 
Ao criar leis, portanto, há um processo de criminalização primária, 
resultante da intolerância legislativa com a conduta dos mais pobres. 
Quando falamos de criminalização primária, falamos, em síntese, de 
duas coisas: a) O crime não é uma realidade natural, descoberta e 
declarada pelo Direito, mas uma invenção do legislador, algo é crime 
não necessariamente porque represente um conduta socialmente 
intolerável, mas porque os legisladores desejaram que assim fosse; b) 
E essa invenção segue critérios de preferência legislativa, cujos 
balizamentos não costumam respeitar princípios de razoabilidade ou 
proporcionalidade, gerando leis penais duríssimas contra as condutas 
dos mais pobres e rarefeitas em se tratando de crimes típicos dos 
estratos sociais elevados. 
 
 
Já o processo de criminalização secundária ocorre pelos órgãos de 
persecução penal e imprensa, que usualmente condenam e estigmatizam 
pobres, desempregados e moradores de áreas menos favorecidas. O tratamento 
diferenciado ao cidadão em decorrência de sua cor de pele e poder 
socioeconômico faz que alguns estejam sempre “à margem da sociedade”, o que 
influencia no ciclo delitivo. 
A criminalização terciária ou interacionismo simbólico demonstra que 
existem agentes estigmatizantes que vão desde o mercado de trabalho até o 
sistema penitenciário. Aqui, o próprio indivíduo passa a internalizar o rótulo, 
adotando-o em suas condutas. 
As consequências políticas da teoria do labelling approuch são 
conhecidas como “política dos quatro Ds”: 
 
 Descriminalização; 
 Diversão; 
 Devido processo legal; 
 De desinstitucionalização. 
 
 
 
 
27 
 
No plano jurídico-penal, os efeitos criminológicos dessa teoria ocorreram 
no plano da não intervenção ou do Direito Penal mínimo. O que significa: quanto 
menor a ingerência do Estado na repressão criminal, menor seria a violência 
criminal experimentada pela sociedade. Desta forma, a teoria do Direito Penal 
mínimo aplica, na prática, o princípio da última ratio do Direito Penal: o Direito 
Penal deve ser a última instância de proteção dos bens jurídicos. 
Percebe-se que muitas vezes o processo legislativo de criação das 
normas penais apenas ratifica a discriminação e rotulação de determinados 
indivíduos, gerando apenas punição, sem, contudo, ser eficiente para a 
prevenção do crime. 
 
Resumo da aula 3 
 
Nesta aula foi analisada a Teoria do Determinismo em suas concepções 
biológica e social e a teoria da coculpabilidade, no que tange ao pensamento 
criminológico moderno, e também às teorias do consenso e do conflito. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Disserte sobre antecedentes criminais, reincidência e labelling 
approuch. 
 
 
 
Aula 4 – Continuação das Teorias do Conflito – Vitimologia – Prevenção – 
Teoria da reação social 
 
Apresentação da aula 4 
 
Nesta aula serão estudadas as escolas criminológicas que representam 
as teorias do conflito, quais sejam: teoria crítica ou radical e neorretribucionismo ; 
por fim, serão analisados aspectos sobre vitimologia, espécies de prevenção e 
a teoria da reação social. 
 
 
 
28 
 
 
 
4.1 Teoria crítica ou radical 
 
A criminologia crítica, também conhecida como criminologia radical ou 
marxista, estuda a criminalidade através dos processos seletivos de construção 
social do comportamento criminoso e de indivíduos criminalizados como forma 
de perpetuação das desigualdades sociais. Em razão disso, seu núcleo central 
é o combate à desigualdade social defendendo a tese de que a solução para a 
problemática do crime depende da abolição da exploração econômica e da 
arbitrariedade política sobre as classes dominadas. 
Sua origem remonta ao século XX com o trabalho do holandês Bonger, 
que, inspirado pelo marxismo, entende ser o capitalismo a base da criminalidade, 
na medida em que promoveria o egoísmo entre os indivíduos, levando os 
homens a delinquir. 
Esta teoria compreende que a realidade não é neutra e que tendenciona 
o processo de estigmatização da população apenas àquelas marginalizadas. 
Características da corrente crítica: 
 
 O Direito Penal ocupa-se de proteger os interesses do grupo social 
dominante; 
 Em razão das desigualdades, reclama compreensão pelo criminoso; 
 Entende que o capitalismo é a base da criminalidade. 
 
A grande crítica que se faz à teoria radical reside no fato de apontar 
problemas criminológicos apenas nos países capitalistas, sem o fazer, contudo, 
em relação aos países socialistas. 
 
4.2 Neorretribucionismo 
 
 Esta teoria moderna surgiu nos Estados Unidos com a denominação de 
lei e ordem ou tolerância zero (zero tolerance), decorrente da teoria das “janelas 
quebradas” (broken windows theory), inspirada pela Escola de Chicago. 
 
 
 
29 
 
Parte da premissa de que os pequenos delitos devem ser rechaçados de 
forma absoluta, o que inibiria delitos mais graves, atuando como prevenção 
geral. 
As críticas a esta teoria apontam que sua aplicação gera um elevado 
número de encarceramentos, já que mesmo os pequenos delitos – usualmente 
punidos com medidas alternativas- são agora passíveis de reclusão. 
 
4.2.1 Broken Windows Theory (Teoria das janelas quebradas) 
 
Teoria das janelas quebradas: 
 
Em 1982 foi publicada na revista The Atlantic Monthly uma teoria 
elaborada pelos americanos James Wilson e George Kelling, 
denominada Teoria das Janelas Quebradas (Broken Windows 
Theory). Essa teoria parte da premissa de que existe uma relação de 
causalidade entre a desordem e a criminalidade. Baseia-se num 
experimento realizado por Philip Zimbardo, psicólogo da Universidade 
de Stanford, com um automóvel deixado em um bairro de classe alta 
de Palo Alto (Califórnia) e outro deixado no Bronx (Nova York). No 
Bronx o veículo foi depenado em 30 minutos; em Palo Alto, o carro 
permaneceu intacto por uma semana. Porém, após o pesquisador 
quebrar uma das janelas, o carro foi completamente destroçado e 
saqueado por grupos de vândalos em poucas horas. 
 
 
Na ocasião, o psicólogo percebeu que em razão da janela quebrada do 
automóvel, surgiu uma sensação de impunidade no bairro que, até então, não 
tinha histórico de criminalidade, o que gerou o ato delitivo. 
Com base nessa teoria, Rudolph Giuliani aplicou Operação Tolerância 
Zero em Nova York, reduzindo consideravelmente a criminalidade. 
 
4.2.2 Tolerância zero 
 
A Operação Tolerância Zero, baseada na Teoria da Janela Quebrada, 
adotou um modelo de repressão criminal inflexível a crimes pequenos (como 
extorsão de “cuidadores de automóveis em vias públicas”, pichação etc), visando 
a promover o respeito à estrita legalidade e a redução de crimes. 
Como citado, essa operação foi aplicada na cidade de Nova York no ano 
de 1994 pelo então prefeito Rudolph Giuliani. Como diretrizes, houve o aumento 
do policiamento ostensivo nas ruas e punições a contravenções penais e crimes 
 
 
 
30 
 
de menor potencial ofensivo. Como resultado desta política de Tolerância Zero, 
houve a diminuição de 61% dos homicídios e 44% dos crimes em geral. 
Por outro lado, a tolerância zero também foi chamada de “choque de 
polícia”, por consentir ampla atuação repressiva, admitindo, inclusive,atos 
discricionários. Em razão disso, gerou críticas em razão de possíveis abusos 
policiais e do aumento da população carcerária. 
 
4.2.3 Teoria da lei e ordem 
 
Como decorrência da aplicação da tolerância zero, foi desenvolvida a 
teoria da lei e da ordem. Wesley Skogan, em 1990, correlaciona mais incisiva a 
causalidade entre desordem e criminalidade do que entre desordem e pobreza. 
Desta feita, é necessária uma “disciplina social”, em que os indivíduos cumpram 
as normas, do contrário, haverá caos e criminalidade. 
Damásio de Jesus explicava que “um dos princípios do ‘Movimento de Lei 
e Ordem’ separa a sociedade em dois grupos: o primeiro, composto de pessoas 
de bem, merecedoras de proteção legal; o segundo, de homens maus, os 
delinquentes, aos quais se endereça toda a rudeza e severidade da lei penal”. 
Um dos autores mais críticos dessa teoria é Loïc Wacquant, que tem 
tecido críticas à propagação dessa política, explanando sua preocupação ao 
chamá-la de “tendência de Ventos Punitivos vinda do outro lado do Atlântico”. 
 
4.3 Vitimologia 
 
Durante a Escola Clássica, a criminologia preocupava-se apenas com o 
crime e a Escola Positivista preocupava-se com o criminoso. Assim, o estudo da 
vítima resumia-se apenas na análise de seu comportamento como circunstância 
judicial do artigo 59 do Código Penal. 
O marco teórico foi o 1° Simpósio Internacional de Vitimologia ocorrido em 
1973, em Israel. Buscaram traçar perfis de vítimas potenciais, com o auxílio do 
Direito Penal, da Psicologia e da Psiquiatria. 
De acordo com Benjamim Mendelsohn, classificam-se as vítimas em: 
 
 Vítima inocente; 
 
 
 
31 
 
 Vítima provocadora; 
 Vítima agressora: justifica a legítima defesa de seu agressor. 
 
Uma vez analisada a classificação das vítimas, é importante analisar a 
relação entre criminoso e vítima, chamada de par penal. Como destacado, o 
comportamento da vítima deve ser considerado para fins de responsabilidade 
criminal, como no caso dos crimes culposos ou do homicídio privilegiado, em 
que a vítima do autor do delito é diminuída se o crime ocorreu “logo após a injusta 
provocação da vítima”. 
Da mesma forma que existem criminosos reincidentes, também é certa a 
existência de vítimas potencias. A isso nomeia-se de “potencial de receptividade 
vitimal”. Nesse sentido, são exemplos os agentes policiais – sujeitos diariamente 
à violência; médicos e profissionais de enfermagem; vigias de bancos. 
Por fim, cumpre destacar a classificação da vitimização: 
 
 Vitimização primária: é aquela que corresponde diretamente aos danos 
sofridos e suportados pela vítima; 
 Vitimização secundária: também conhecida como sobrevitimização. É 
aquela causada pelas instâncias formais de controle social, no decorrer 
do processo. Ex.: depoimento de vítima de delito sexual na delegacia de 
polícia e novamente em audiência instrutória; 
 Vitimização terciária: ocorre quando a vítima é “abandonada” pelos 
órgãos oficiais e pela própria sociedade que não acolhe a vítima, 
desfavorecendo a denúncia dos delitos às autoridades competentes, 
gerando a cifra negra. 
 
4.4 Prevenção 
 
Prevenção delitiva é o conjunto de ações que visam a evitar a ocorrência 
do delito. Para que seja efetiva, é necessária a aplicação de medidas preventivas 
atingindo indiretamente o crime e medidas que o ataquem diretamente. 
Nas medidas preventivas indiretas busca-se atingir positivamente a 
sociedade, como no caso de desfavelização, fomento de empregos, programas 
medicinais de exames pré-natal, planejamento familiar etc. 
 
 
 
32 
 
Por outro lado, nas medidas preventivas diretas volta-se a atenção para o 
delito em si, como no caso de repressão criminal implacável (tolerância zero) , 
atuação de polícia ostensiva etc. 
Ademais, temos ainda três espécies de prevenção que devem ser 
observadas: 
 
 Prevenção primária: ataca a raiz do conflito, atuando na educação, 
emprego, moradia etc. Determina que o Estado implemente direitos 
sociais através de políticas públicas a longo prazo; 
 Prevenção secundária: dirige-se não ao indivíduo, mas a setores da 
sociedade, visando políticas de curto e médio prazo. Dirige-se às polícias, 
programas de apoio etc; 
 Prevenção terciária: voltado ao preso, visando a sua recuperação social. 
Busca evitar a reincidência através de medidas socioeducativas, como 
liberdade assistida, prestação de serviços comunitários etc. 
 
Perceba que o mero aumento de penas, do preceito secundário de tipos 
penais, por si só, jamais terá o efeito de coibir a prática delitiva. É necessário um 
conjunto de políticas sociais atreladas a estudos criminológicos. 
 
4.5 Teoria da reação social 
 
A prática de delitos gera reações sociais, sendo que o Estado 
obrigatoriamente deve estudá-las e considerá-las em seus estudos 
criminológicos. Os programas de prevenção devem agregar os modelos de 
reação social, aplicando medidas pertinentes para evitar o conflito social. 
Todo crime gera uma reação da sociedade. Atualmente, temos três 
modelos de reação social: dissuasório, ressocializador e restaurador: 
 
 Modelo dissuasório (Direito Penal clássico): também denominado 
modelo retributivo, volta sua atuação para o delinquente. Visa à repressão 
por meio da punição intimidatória e proporcional ao dano causado. As 
sanções penais somente são aplicadas aos imputáveis e semi-
imputáveis, vez que os inimputáveis são submetidos a tratamento 
 
 
 
33 
 
psiquiátrico. Antonio García-Pablos de Molina tece críticas a esse modelo, 
dizendo que pode potencializar os conflitos ao invés de resolvê-los, já que 
exclui a vítima e a sociedade do processo ressocializador; 
 Modelo ressocializador: praticado o delito, o delinquente está sujeito a 
uma punição, no entanto este modelo não se limita ao mero castigo, 
procurando também a reinserção social do preso. Em razão disso, a 
participação da sociedade é necessária para prevenir e evitar a 
estigmatização. Nesse modelo, ações são tomadas para melhorar o 
regime de execução penal, buscando preparar o egresso para a 
reinserção social; 
 Modelo restaurador (integrador): também conhecida como “justiça 
restaurativa”, visa à completa e real reeducação do infrator, à assistência 
à vítima e ao controle social afetado pelo crime. Busca a reparação do 
dano causado. Este modelo visa a solucionar o problema criminal por 
meio de ação conciliadora, que procura atender aos interesses e 
exigências de todas as partes envolvidas. 
 
Ao compreender o crime como um fenômeno interpessoal, defende que 
as pessoas envolvidas devem participar da solução do conflito por meios 
alternativos, distanciados de critérios legais, e do formalismo. 
 
Resumo da aula 4 
 
Nesta aula foram abordadas as escolas criminológicas como a 
criminologia crítica e a criminologia radical, mais conhecida por marxista. 
Também foram citados o neorretribucionismo, a vitimologia, a prevenção e a 
teoria da reação social. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Disserte sobre a diferença entre os modelos de justiça retributiva 
e restaurativa. 
 
 
 
 
34 
 
Resumo da disciplina 
 
Nesta disciplina abordou-se a criminologia pré-científica, analisando o 
modelo Panótico de vigilância de Jeremy Bentham, em que o preso permanecia 
constantemente sob vigilância. Tratou-se, ainda, da punição do delito, aludida 
ao estudo do Direito Penal, bem como dos quatro objetos criminológicos: delito, 
delinquente, vítima (primária, secundária e terciária) e controle social. 
Foram citadas as escolas Clássica e Positivista e suas fases - 
antropológica, sociológica e jurídica -, que deram origem às escolas penais ou 
criminológicas, as quais buscavam questionar e apontar as soluções para a 
criminalidade. 
Também foi apresentada a teoria de determinismo em suas concepções 
biológicas e sociais, a teoria da coculpabilidade, as escolas criminológicas que 
apresentam as teoriasde conflito, como a teoria crítica ou teoria radical, o 
“neorretribucionismo”, encerrando com vitimologia, espécies de prevenção e a 
teoria da reação social. 
 
 
 
 
 
 
 
35 
 
REFERÊNCIAS 
 
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CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. 6ª ed. Juspodium, 
Salvador, 2018. 
 
GARCIA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. GOMES, Luis Flávio. Criminologia: 
introdução a seus fundamentos teóricos. 8 eds. Revista dos Tribunais: São 
Paulo, 2002. 
 
LOMBROSO, Cesare. O homem delinquente. Tradução Sebastião José 
Roque. São Paulo: Ícone, 2007. 
 
MOLINA, Antonio García-Pablos de. O que é criminologia? Tradução Danilo 
Cymrot. – 1ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. 
 
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Manual esquemático de criminologia. 3 
ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 
 
SELL, Sandro César. A etiqueta do crime:. Jus Navigandi, Teresina, ano 12, 
n. 1507, 17 ago. 2007. Disponível em: http://jus.com.br/artigos/10290. 
 
SHECARIA, Sergio Salomão. Criminologia. 4 eds. Revista dos Tribunais, São 
Paulo, 2012. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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http://jus.com.br/revista/edicoes/2007
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