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1 EMERGÊNCIA EM NEFROLOGIA 2 EMERGÊNCIA EM NEFROLOGIA DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES Segunda a Sexta das 09:00 as 18:00 ATENDIMENTO AO ALUNO editorafamart@famart.edu.br mailto:editora 3 SUMÁRIO ANATOMIA RENAL .................................................................................................................... 5 FISIOLOGIA RENAL .................................................................................................................. 9 HEMODIÁLISE ......................................................................................................................... 14 EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA RENAL CRÔNICA NO BRASIL ........................................... 17 TERAPIAS DIALÍTICAS ATUAIS ............................................................................................. 23 GLOMERULOPATIAS .............................................................................................................. 33 INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO......................................................................................... 35 INCIDÊNCIA ............................................................................................................................. 36 NEFROPATIA DE REFLUXO................................................................................................... 40 NEFRITE LÚPICA .................................................................................................................... 43 NEFROPATIA DIABÉTICA ....................................................................................................... 45 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ................................................................................ 48 NEFROLITÍASE ........................................................................................................................ 52 INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA ............................................................................................ 57 TRATAMENTO ......................................................................................................................... 57 MÉTODOS DIALÍTICOS NA INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA ............................................. 58 DOENÇA RENAL CRÔNICA.................................................................................................... 59 PRINCÍPIOS BÁSICOS ............................................................................................................ 63 APARELHO PARA HEMODIÁLISE ......................................................................................... 65 ÁGUA PARA HEMODIÁLISE ................................................................................................... 68 ACESSO VASCULAR PARA HEMODIÁLISE ......................................................................... 71 DIALISADORES ....................................................................................................................... 73 MEMBRANAS ........................................................................................................................... 74 REUTILIZAÇÃO DE DIALISADORES ..................................................................................... 75 CUIDADOS COM O DIALISADOR .......................................................................................... 75 SOLUÇÕES ESTERILIZANTES .............................................................................................. 76 TÉCNICA DE REPROCESSAMENTO .................................................................................... 76 ANTICOAGULAÇÃO ................................................................................................................ 77 SELEÇÃO DO ANTICOAGULANTE ........................................................................................ 78 COAGULAÇÃO DO CIRCUITO EXTRACORPÓREO ............................................................. 79 AÇÕES DE ENFERMAGEM .................................................................................................... 80 4 COMPLICAÇÕES DURANTE A HEMODIÁLISE..................................................................... 80 AÇÕES DE ENFERMAGEM .................................................................................................... 82 CONTROLE DE INFECÇÕES NA UNIDADE DE HEMODIÁLISE .......................................... 82 INFECÇÃO RELACIONADA À CONTAMINAÇÃO DAS SOLUÇÕES DE DIÁLISE............... 83 INFECÇÃO RELACIONADA AO ACESSO VASCULAR PARA HD ....................................... 84 INFECÇÕES VIRAIS EM UNIDADE DE HD............................................................................ 85 ENFERMAGEM NO REUSO DE DIALISADORES ................................................................. 89 FUNÇÕES DO ENFERMEIRO ................................................................................................ 89 FUNÇÕES DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM ....................................................................... 92 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMODIÁLISE ................. 93 AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA ............................................................................................ 98 SELEÇÃO DO RECEPTOR ................................................................................................... 100 DOADOR CADÁVER.............................................................................................................. 100 DOADOR VIVO....................................................................................................................... 101 PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO DO RECEPTOR DE RIM DE DOADOR CADÁVER ......... 101 AVALIAÇÃO DO DOADOR VIVO .......................................................................................... 105 PREPARO DO PACIENTE ..................................................................................................... 108 COMPLICAÇÕES DO TRANSPLANTE RENAL ................................................................... 109 DISFUNÇÃO INICIAL DO ENXERTO .................................................................................... 109 REJEIÇÃO DO ENXERTO ..................................................................................................... 109 TIPOS DE REJEIÇÃO ............................................................................................................ 110 COMPLICAÇÕES TARDIAS .................................................................................................. 113 COMPLICAÇÕES INFECCIOSAS ......................................................................................... 114 COMPLICAÇÕES CIRÚRGICAS ........................................................................................... 115 ENFERMAGEM NO TRANSPLANTE COM DOADOR VIVO ............................................... 117 ENFERMAGEM NO TRANSPLANTE COM DOADOR CADÁVER ...................................... 120 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 122 5 Anatomia Renal Os rins são órgãos pares com formato semelhante a um grão de feijão. A coloração é marrom-avermelhada, envolvidos por uma resistente cápsula fibrosa. Sua localização é retroperitoneal, ou seja, estão posicionados atrás do revestimento peritoneal da cavidade abdominal, um de cada lado da coluna vertebral, paralelo ao músculo psoas maior. Quando estamos em pé sua margem superior está ao nível da primeira vértebra lombar e a inferior, na altura da quarta vértebra lombar. Eles se deslocam com a respiração cerca de 1,9 cm, atingindo até 4,1 cm de deslocamento durante a inspiração profunda. O órgão direito é um centímetro menos que o esquerdo e encontra-se levementemais inferior. A medida de um rim adulto varia de 11 a 13 cm de comprimento, a largura está entre 5 e 7,5 cm, a espessura entre 2,5 e 3 cm e o peso está entre 125 a 170 gramas, em pessoas do sexo masculino, e entre 115 a 155 gramas em pessoas do sexo feminino. Há tendência à diminuição do peso com a idade. Em recém-natos o peso varia de 13 a 44 gramas. A variação de tamanho dos rins está mais associada à superfície corporal do que a outros fatores, tais quais etnias, sexo ou idade. O nível de hidratação do organismo e a pressão arterial também provocam alteração no tamanho do rim. 6 Fonte: RIELLA, M.C Relações anatômicas dos rins com a estrutura musculoesquelética em uma visão posterior da região lombar. *Extraído de RIELLA, M.C. Princípios de nefrologia e distúrbios do equilíbrio hidroeletrolíticos. Porto Alegre, 2008. Na porção medial interna de cada rim está localizado o hilo renal, onde se observam a artéria e a veia renal, além de vasos linfáticos, plexos nervosos e o ureter, que se expande para o interior do seio renal, formando a pelve. É envolto por uma cápsula de tecido conjuntivo e apresenta uma região mais externa (córtex renal) e uma estrutura triangular (medula renal) localizada profundamente no interior do rim. Na medula renal podem ser observadas estruturas em forma de cones, as pirâmides renais. Cada pirâmide é separada de outra pelas colunas renais, que são projeções do córtex renal. A extremidade inferior da pirâmide, denominada ápice, está voltada em direção à pelve renal, responsável pela coleta da urina produzida pelo rim e que forma a extremidade superior do ureter. As margens, em forma de taça da pelve renal, que coletam a urina formada pelo rim. 7 Figura -Rim direito seccionado em vários pontos expondo o parênquima e a pelve renal. *Extraído de RIELLA, M. C. Princípios de nefrologia e distúrbios do equilíbrio hidroeletrolíticos. Porto Alegre, 2008. A menor unidade do rim é o néfron, formado por uma parte inicial dilatada, o corpúsculo de Malpighi, ao qual se seguem o túbulo contorcido proximal, a parte espessa e delgada da alça de Henle, o túbulo contorcido distal e o ducto coletor. Cada néfron nasce no glomérulo, que é um novelo de capilares recobertos por células epiteliais que têm por função a filtração do sangue. O glomérulo é formado pela invaginação de um tufo de capilares para o interior da extremidade dilatada do néfron, a cápsula de Bowman. O líquido da cápsula de Bowman flui para um segmento contorcido, o túbulo contorcido proximal. O túbulo contorcido proximal termina no segmento delgado do ramo descendente da alça de Henle. 8 Figura- Relações entre os vários segmentos do néfron e o córtex e a medula renal. *Extraído de RIELLA, M.C. Princípios de nefrologia e distúrbios do equilíbrio hidroeletrolíticos. Porto Alegre, 2008. O ramo ascendente da alça de Henle termina em outro segmento contorcido, o túbulo contorcido distal. Os túbulos distais formam os ductos coletores, que passam através do córtex e da medula renal e se esvaziam na pelve do rim, nos ápices das pirâmides medulares. Os glomérulos são compostos de três camadas filtradoras: endotélio capilar, epitélio e membrana basal. A membrana glomerular é responsável 9 pela filtração, permitindo a passagem do líquido e de pequenas moléculas e bloqueando o acesso de moléculas maiores como células sanguíneas e a albumina. Fisiologia Renal O sistema urinário desempenha diversas funções essenciais para a homeostasia do organismo. Assim, o rim possui basicamente duas funções: endócrina, mesmo não sendo uma glândula endócrina, e homeostática, que se configura com a sua principal função. A realização da função endócrina do rim é sabida, porém, as estruturas renais envolvidas nesse processo são desconhecidas. Estima-se que esteja no córtex renal, no complexo justaglomerular, a porção secretora do rim. Quadro Funções do rim Formação da urina; Excreção de produtos residuais; Regulação de eletrólitos; Controle do equilíbrio hídrico; Controle da pressão arterial; Clearance renal; Regulação da produção de eritrócitos; Síntese de vitamina D ativa; Secreção de prostaglandina. Função endócrina O rim secreta a renina, substância responsável pela ativação do sistema Reninaangiotensina II através da ação enzimática sobre a reação de transformação de angiotensinogênio em angiotensina I, que por sua vez transforma-se em 10 angiotensina II sob ação da enzima conversora de angiotensina (ECA) que também atua hidrolisando a bradicinina. A Angiotensina II possui diversas formas de atuação. Quadro Atuação da Angiotensina II Modifica a ação renal, promovendo maior ação de vasoconstricção das arteríolas eferentes no rim, aumentando assim a filtração glomerular; Influencia o córtex da adrenal, levando à produção de aldosterona que, por sua vez, age nos túbulos renais estimulando a retenção e absorção de sódio; Aumenta a absorção de água, através de mecanismos osmóticos, como consequência há um aumento da pressão arterial; Promove redução do ritmo de filtração glomerular contraindo as células mesangiais, diminuindo a área de filtração glomerular; Secreta o 1,25 dihidroxi-calciferol, importante para a absorção de cálcio no túbulo renal e no depósito de cálcio no osso; Secreta eritropoetina, fator de crescimento com ação de estímulo da medula óssea em produzir glóbulos vermelhos. Função homeostática Dentre as formas pelas quais os rins desempenham a regulação do equilíbrio no organismo observa-se: Manutenção da tonicidade - ocorre em função da excreção de água e solutos, formando um gradiente osmolar adequado entre os compartimentos intra e extracelulares, ou seja, em equilíbrio osmótico; Regulação da concentração de íons – com o auxílio da excreção de água e solutos as concentrações de sódio, potássio, cloreto, bicarbonato, magnésio e fosfato são reguladas; 11 Manutenção do pH – a manutenção do pH ocorre na ação conjunta de rins e pulmões que possuem a capacidade de excretar H+ e reabsorver HCO-3; Manutenção da concentração de nutrientes – através da reabsorção tubular, nutrientes, como a glicose, por exemplo, são reabsorvidos ao invés de ser eliminados pela urina, caso estejam em níveis mais baixos que os desejados; Eliminação de escórias – produtos do metabolismo como ureia, ácido úrico e timina são excretados na urina. Além disso, são eliminadas drogas e outras substâncias tóxicas presentes nos alimentos. Clearance ou depuração plasmática geral É a capacidade renal para depurar solutos a partir do plasma. A coleta de urina de 24 horas é o teste primário do clearance renal para avaliação da função excretora do rim. O clearance depende de vários fatores. Utiliza-se a medição do clearance de creatinina, de modo mais particular, para investigar as alterações na depuração renal dessa substância, indicativo de alteração na função renal. Quadro Fatores que interferem no clearance Velocidade de filtração glomerular da substância; Quantidade de substância reabsorvida pelos túbulos; Quantidade de substância secretada para o interior dos túbulos. A creatinina é o produto residual do metabolismo da creatina, presente nas fibras dos músculos esqueléticos. Ela é filtrada pelo glomérulo, atravessa os túbulos e é excretada na urina. Por essa razão, o clearance de creatina é utilizado para monitorar a função renal, pois à medida que a função renal diminui, diminui também o clearance de creatinina. O clearance de creatina é também uma boa medida do ritmo de filtração glomerular (RFG), calcula-se utilizando uma fórmula matemática. 12 Quadro Fórmulado clearance de creatinina (Volume da urina [ml/min] x creatinina urinária [ mg/dL] Creatinina sérica (mg/dL) Néfron É subdivido em duas porções interrelacionadas: Porção circulatória: composta pela arteríola aferente, glomérulo e arteríola eferente; Porção urinária, composta pela cápsula de Bowman, túbulos renais e ducto coletor. É a arteríola aferente a responsável por fornecer fluxo de sangue aos capilares glomerulares, formando um líquido sem proteínas, o ultrafiltrado, que escoa para a cápsula de Bowman, transpassando a barreira dos vasos glomerulares, a barreira justaglomerular. O ultrafiltrado possui concentração igual a do plasma, excetuando-se a presença de proteínas. O líquido atravessa o capilar e chega à cápsula de Bowman ganhando os túbulos renais, formando então a urina. O capilar glomerular é constituído de três estruturas: Endotélio; Membrana basal; Diafragma A estrutura do capilar do glomérulo representa a barreira pela qual o plasma atravessa formando o ultrafiltrado. Porém, apenas uma fração do plasma é filtrada e, associado a isso, existem substâncias que são reabsorvidas, total ou parcialmente, pelos túbulos renais e podem contribuir em pequena parte na composição final da urina. 13 Mecanismos básicos da formação da urina A filtração glomerular não depende apenas da membrana capilar, mas também de uma somatória de pressões que estão vinculadas ao glomérulo renal: Pressão hidrostática capilar (PHC) - pressão do sangue que chega às arteríolas aferentes e tende a deslocar líquido do capilar para o espaço de Bowmann. A PHC é muito alta no glomérulo, pois as distâncias entre a aorta e a artéria renal e entre a artéria renal e a arteríola aferente são curtas; não existe resistência ao fluxo de sangue da aorta abdominal até a arteríola aferente e a arteríola eferente tem diâmetro menor que a aferente, dificultando o escoamento sanguíneo e deixando o glomérulo repleto de sangue, levando a um maior PHC. A PHC varia entre 80 e 85 mmHg; Pressão de Bowmann - exercida pelo líquido formado previamente no espaço de Bowmann, tendendo a retê-lo neste local. Esta é a pressão de Bowmann (pB) e ela varia entre 5 e 15 mmHg; Pressão efetiva de filtração - a somatória das pressões, denominada pressão efetiva de filtração (PEF), a pressão efetiva de filtração é de aproximadamente 40 mmHg e é dada pela seguinte equação: PEF = Phc – Ponc – PB. Teorias Miogênica (localizada nas artérias renais) Segundo esta teoria, um aumento no Pam provocaria um estímulo da musculatura lisa da arteríola aferente, o que levaria a uma vasoconstricção, causando a redução do fluxo de filtração glomerular. Por outro lado, uma queda na Pam provocaria relaxamento da musculatura da arteríola aferente com consequente vasodilatação, provocando um aumento do fluxo de filtração glomerular. 14 Teoria do metabolismo Uma redução do fluxo sanguíneo leva a um acúmulo de substâncias vasodilatadoras (principalmente cininas e prostaglandinas) que, por sua vez, provocam aumento do fluxo sanguíneo. O contrário também é verdadeiro, ou seja, um aumento do fluxo promove uma drenagem maior de substâncias vasodilatadoras diminuindo a vasodilatação do vaso. Isso provoca uma redução do fluxo sanguíneo. Teoria da mácula densa (controle local do RFG) A mácula densa encontra-se na porção final da alça de Henle, túbulo localizado entre as arteríolas aferente e eferente e pelo qual passa o filtrado glomerular. A mácula densa capta alterações na concentração de sódio, sendo que uma maior concentração de sódio no filtrado é entendida como um elevado RFG. Frente a esta situação, a mácula densa envia um estímulo para a arteríola aferente promovendo sua vasoconstricção, resultando em diminuição do fluxo sanguíneo e do RFG. Quando se trata de uma diminuição da concentração de sódio o inverso ocorre, tendo como resultado um aumento no RFG. Histórico da Diálise Hemodiálise Willen Kollf é considerado o “Pai da Diálise”, entretanto, diversos experimentos foram pré e pós-Kolff. Quadro ANO ACONTECIMENTO 15 1912 John Jacob Aerel, juntamente com Rowntree e Turner, do laboratório de farmacologia do John Abel Medical School de Baltimore, realizam a primeira diálise com sucesso em um animal vivo. 1913 John Jacob e seus colegas publicam a experiência realizada com a técnica de vividifusão, mais tarde chamada de hemodiálise. 1926 O médico, Georg Haas submete um paciente de 20 anos a uma sessão de diálise utilizando a técnica descrita por Aerel; A sessão dura 35 minutos e apresenta problemas ligados à anticoagulação e ao dialisador durante o procedimento*. 1937 William Thalhimer descobre o celofane como membrana dialisadora. 1940 Willen Kolff desenvolve um protótipo de rim artificial. 1943 Kolff realiza a primeira diálise em seres humanos, utilizando um tambor rotativo que continha um tubo de celofane enrolado em forma de hélice em torno de um eixo mergulhado em um grande reservatório contendo solução de diálise. 1946 John Merrill implementa o rim artificial em maior escala de uso; Nils Alwal introduz a tela de proteção; Willen Kolff usa celofane selada em fibra de vidro; Jack Leonards insere a placa de fluxo paralelo. 1948 É realizada a primeira hemodiálise em sistema complexo sem complicações, no Hospital Monte Sinai, em Nova Iorque. 1949 No Brasil, o médico Tito Almeida emprega um rim artificial para tratar um portador de Doença Renal Crônica. 1956 É lançado no mercado o primeiro dialisador do tipo ”coil descartável”. 1960 O primeiro “shunt” de teflon arteriovenoso é implantado em humano por Scribner e Wayne Quinton 1964 James Cimino desenvolve a técnica da fístula arteriovenosa utilizando a ceia arterializada, cuja técnica ainda é utilizada. 16 * Mesmo tendo encontrado problemas durante a sessão, Haas repete o procedimento por mais três vezes. As primeiras hemodiálises realizadas no Brasil tinham por finalidade o tratamento de pacientes com Insuficiência Renal Aguda. Somente na década de 60 a hemodiálise e a diálise peritoneal passam a ser modalidades de tratamento para a doença renal crônica. A partir de então, devido aos avanços tecnológicos e científicos, diversos modelos foram desenvolvidos. Diálise Peritoneal A história da Diálise Peritoneal se inicia com a publicação do trabalho de Putnam, no qual demonstra que o peritônio pode ser usado como uma membrana dialisadora. Porém, experimentos no campo da DP datam de pré-Putnam e se seguem até os dias atuais. Quadro ANO ACONTECIMENTO 1.500 a.C. Descrição da cavidade peritoneal em papiros. 1877 Wegner observa os princípios da osmose e da difusão. 1923 A diálise através da membrana do peritônio é utilizada pela primeira vez como procedimento terapêutico (Ganter). 1960 Scribner inicia a técnica da Diálise Peritoneal como manutenção de vida. 1964 O cateter de longa permanência é descoberto por Palmer, Quinton e Gray.* 1976 Nos Estados Unidos, Moncrief e Popovich criam a Diálise Peritoneal Contínua (CPD); O Sistema fechado com bolsas flexíveis para Diálise Peritoneal é desenvolvido; 17 1977 No Canadá, o médico Oreopoulus e seus colaboradores comprovam a eficácia da técnica da Diálise Peritoneal Contínua com o Sistema Standard.** 1978 Surge a Diálise Peritoneal Ambulatória Contínua (CAPD) 1980 No Brasil, Miguel Riella, introduz o conceito da Terapia Ambulatorial Contínua e se torna pioneiro nesta modalidade. Daisy Pasqual, enfermeira, introduz o Programa Educacional que habilita e capacita o paciente e um membroda família para a realização em domicílio da CAPD. *Posteriormente este cateter foi modificado por Tenckhoff. **Nesta época a CAPD era conhecida por Sistema Standard. Este era composto por um único segmento de linha, que ao mesmo tempo conectava-se ao paciente e à bolsa de diálise. A partir dos anos 80 a evolução se desenvolve no aperfeiçoamento tecnológico dos sistemas de conexão de CAPD, o que fez diminuir a ocorrência de episódios de peritonites nos pacientes que estão sob esta modalidade terapêutica. Epidemiologia da doença renal crônica no Brasil A doença renal crônica (DRC) apresenta crescimento progressivo e em proporções epidêmicas, em todo o mundo, com elevadas taxas de mortalidade e morbidade. No Brasil ainda não existe um sistema nacional de registro que possa fornecer dados confiáveis do ponto de vista epidemiológico sobre a doença renal, como ocorre em determinados países como os Estados Unidos, que conta com o United States Renal Data System (USRD), que fornece informações precisas sobre o perfil da doença no país. Entretanto, inúmeros esforços são realizados para a coleta de dados sobre a DRC no Brasil, em especial o censo anual da Sociedade Brasileira 18 de Nefrologia (SBN), que busca os dados diretamente das clínicas de terapia renal em todo o país. A doença renal em estágio terminal (DRET) é uma doença grave que no ano de 2000 teve sua taxa de mortalidade maior que a maioria dos casos mais letais de câncer. No Brasil, segundo dados do censo realizado em março de 2008 pela SBN, são 41.614 pacientes em diálise, sendo a maioria na região sudeste do país. Figura - Pacientes em diálise no Brasil, por região. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. Em março de 2008, a prevalência de pacientes em diálise por milhão da população (pmp) era de 470. Essa taxa segue apresentando um aumento progressivo nos últimos anos, chamando a atenção dos profissionais como um problema de saúde pública. 19 Figura - Prevalência de pacientes em diálise no Brasil, de 1994 a 2008. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. Figura - Total de pacientes em tratamento dialítico no Brasil por ano. Fonte: Censo de diálise SBN 2008 20 O maior percentual de pacientes em diálise agrega a faixa etária compreendida entre 40 a 59 anos (43,7%). É importante destacar que 36,3% dos pacientes em diálise têm mais de 60 anos de idade, e que essa proporção tende a se elevar com o aumento progressivo da expectativa de vida da população brasileira. Atualmente 57% dos pacientes em diálise são do sexo masculino e 43% do sexo feminino. Figura-Distribuição por sexo dos pacientes em diálise no Brasil. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. A prevalência de sorologia positiva para Hepatite B é de 1,9%, enquanto para Hepatite C se mostra bem mais frequente, atingindo o índice de 7,6%. A sorologia para HIV se mostra em 0,7%. Esses percentuais têm decaído ao longo dos anos em função de cuidados associados ao reuso de dialisadores e adoção de medidas de proteção na prática profissional. As comorbidades mais frequentes nos pacientes em diálise foram insuficiência cardíaca congestiva (10,4%), insuficiência coronariana (8,2%), doença venosa periférica (5,2%), infecções (3,9%), AVE (3,7%) e neoplasias (1,8%). 21 O alto índice de doenças ligadas ao coração deve-se, principalmente, ao fato de a maioria dos pacientes em diálise apresentarem como doença de base a hipertensão arterial sistêmica (HAS), 35,8%. Entre as outras causas principais de DRC estão o diabetes mellitus (DM), 25,7% e as glomerulopatias (15,7%). A causa mais importante de DRC continua, ao longo dos anos, no Brasil, a HAS. Isto se deve, entre outros fatores, ao fato de muitos indivíduos não saberem que são hipertensos, o que os impede de adotar medidas de controle dos agravos em decorrência dos altos níveis pressóricos. Embora a prevalência de diabéticos tenha aumentado no Brasil (16,7% em 1999) muitos pacientes morrem antes de atingir o estágio terminal da doença renal. Nos Estados Unidos, cerca de 40% dos pacientes em diálise têm nefropatia diabética. Entre as glomerulopatias, a glomeruloesclerose segmentar e focal e a glomerulonefrite membranosa são as que, com frequência, levam os pacientes para a DRC. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. 22 Com relação à modalidade de terapia renal substitutiva, cabe destacar que 89,4% estão sob a modalidade Hemodiálise e 10% recebem Diálise Peritoneal, sendo 4,9% em Diálise Peritoneal Automatizada (DPA), 5,3 em Diálise Peritoneal Ambulatorial contínua (CAPD) e 0,4% em Diálise Peritoneal Intermitente (DPI). O número de óbitos dos pacientes em diálise é 6.180 (15,2%), porém, estima-se que o número chegue a 13.338 óbitos/ano. A principal causa é dada por problemas cardiovasculares com 36,9% do número total de óbitos, seguida de infecções (26%) e causas cérebro- vasculares (9,9%). Outras causas ou causas desconhecidas agregam 27,2% do total de óbitos de pacientes em diálise no Brasil. Figura - Pacientes conforme a terapia de substituição renal. Fonte: Censo de diálise SBN 2008. 23 Figura -Distribuição do percentual de causa de óbito. Fonte: Censo de diálise SBN 2008 Estas informações são importantes para descrever a situação atual da DRC no Brasil, o que permite promover ações que melhorem a assistência ofertada a esses pacientes. Além disso, esses dados servem para alertar para a importância da criação de um sistema de informações acerca da DRC constando de registro, análise e divulgação de dados epidemiológicos de pacientes portadores da DRC e em terapias renais substitutivas. Terapias Dialíticas Atuais O termo diálise descreve o transporte de água e solutos por meio de uma membrana semipermeável que pode ser artificial, como as membranas dos dialisadores empregados na Hemodiálise ou biológica, como o peritônio, na Diálise Peritoneal. A remoção de solutos durante a diálise ocorre por meio de dois princípios: difusão e ultrafiltração. 24 Quadro Princípios de diálise Difusão: passagem de solutos do meio mais concentrado (plasma) para o menos concentrado (solução de diálise ou dialisato). Ultrafiltração (UF): filtração da água do plasma através da membrana dialítica. As moléculas, através de movimentos randômicos, colidem de maneira aleatória com a membrana semipermeável promovendo assim o transporte de solutos por difusão. Ao encontrar um poro por onde seja possível a passagem, a molécula atravessa a membrana. Para que isso ocorra, alguns fatores são levados em consideração como o peso da molécula, a resistência da membrana ao soluto além do gradiente de concentração dos meios envolvidos neste processo. Na ultrafiltração, o gradiente de pressão entre os dois lados da membrana, ou gradiente de pressão transmembrana (PTM), determina a velocidade de passagem de água de um lado para o outro. No caso de pressão hidráulica, ocorre a passagem de água do lado maior para o de menor pressão. Em se tratando de pressão osmótica, ocorre o lado de maior osmolaridade. O transporte por convecção tem importante clínica quando grandes volumes de ultrafiltrado são obtidos em curto espaço de tempo. Por isso, na hemodiálise ou na diálise peritoneal, a convecção contribui pouco para o transporte de solutos. Esse tipo de transporte é importante na hemofiltração, na qual há significativa passagem de solutos acompanhando grandes volumes de UF. Hemodiálise É um método de terapia de substituição da função renal caracterizado pela circulação extracorpórea do sangue do paciente para ser ‘filtrado’ e ‘depurado’. Os 25 objetivos da Hemodiálise(HD) consistem na extração de toxinas nitrogenadas do sangue e remoção do volume excessivo de água utilizando-se de alguns elementos. O sangue, contendo as toxinas e resíduos nitrogenados, é desviado do paciente para um aparelho, o dialisador, onde é limpo e, em seguida, devolvido ao paciente. Quadro Elemento Características Dialisador Também chamado de “capilar” ou “filtro”. Tubo cilíndrico contendo uma câmara externa, para passagem do dialisato, e uma câmara interna contendo fibras de membranas semipermeáveis por onde circula o sangue do paciente. Linha arterial Circuito tubular plástico que leva o sangue contendo as escórias do paciente para o dialisador, impulsionado através da bimba de sangue. Linha venosa Circuito tubular plástico que leva o sangue ‘filtrado’ do dialisador para o paciente. Possui um dispositivo de segurança de forma cilíndrica, que captura as bolhas de ar do sistema a fim de evitar embolia, o cata-bolhas. Máquina de diálise Também chamada de “rim artificial”. Máquina onde é realizada a HD, contém a bomba de sangue, aquecedor, monitor de pressão, temperatura, condutividade do dialisato, fluxo de dialisado e sangue, além de dispositivos de segurança. Normalmente funciona por proporção. Dialisato Também chamado de “banho de diálise”. Líquido estéril semelhante ao plasma sanguíneo que preenche e percorre a 26 câmara externa do dialisador, em sentido contrário ao sangue (câmara interna), promovendo osmose. Agulha de fístula Arteriovenosa Agulhas especiais descartáveis para HD, com segmento longo, que permite sua conexão às linhas arterial e venosa a partir da punção da fístula. A difusão, a ultrafiltração e a osmose são os princípios da HD. A difusão é responsável pela remoção das toxinas. Isto ocorre pela movimentação da área mais concentrada (plasma) para a menos concentrada (solução de diálise ou dialisado). Quadro Características do dialisato Composição semelhante ao plasma. Dois tipos: Bicarbonato – diminui a acidose metabólica, reduzindo as alterações hemodinâmicas, não promove queda do PCO2 sanguíneo; a solução de bicarbonato tende a precipitar cálcio e bicarbonato, por isso deve-se ter rigorosa esterilização na máquina de diálise; Acetato - O ajuste do banho de dialisado, por possuir características muito semelhantes ao plasma, é capaz de controlar os níveis dos eletrólitos no sangue do paciente. A difusão de grandes moléculas, como as proteínas e os eritrócitos, é impedida pela membrana semipermeável. Quadro 27 Composição do dialisato para HD Na – 130/140 mEq/L; K – 1/ 2,5 mEq/L; Ca – 2,5/3,5 mEq/L; Mg – 1,0/ 1,5 mEq/L; Cloreto – Aprox. 106mEq/L; Glicose – 0/2,5 mEq/L*; Acetato ou Bicarbonato – Aprox. 36 mEq/L *Utiliza-se solução glicosada a fim de evitar a hipoglicemia durante a HD. Através da osmose, o excesso de água é removido através da movimentação da área de maior concentração (sangue) para a de menor concentração (o dialisato). A movimentação, sob alta pressão, da água para uma área de menor pressão é tida como ultrafiltração (UF), sendo esta mais eficaz na remoção da água que a osmose. A UF é realizada ao se aplicar uma força de aspiração na membrana de diálise. Esta força é aplicada para restabelecer o equilíbrio hídrico do paciente que, por si só, não é capaz de excretar a água em excesso. O dialisato é responsável pela manutenção do sistematampão do corpo. No procedimento é administrado anticoagulante, em geral heparina, para evitar a coagulação do sangue no circuito extracorpóreo. 28 Dialisador ou Capilar Figura - Máquina de diálise e circuito extracorpóreo. O sangue, livre das escórias, é devolvido ao paciente que ao findar a sessão do tratamento tem restabelecido o sistema-tampão. Terapias contínuas lentas Essas terapias estão indicadas para pacientes que apresentam insuficiência renal aguda ou crônica e estão muito instáveis para realização de HD tradicional. As modalidades de terapias contínuas lentas são: 29 Hemofiltração Arteriovenosa Contínua (CAVH) – Iniciou-se para tratamento de sobrecarga hídrica, em 1977. Nesta modalidade o sangue é circulado através de um filtro de pequeno volume e baixa resistência, usando a própria pressão arterial do paciente em substituição a bombas, como na HD. Como é necessário um gradiente de pressão para a filtração contínua, geralmente é usado um cateter arterial inserido na artéria femoral do paciente como meio de ligação do sangue ao hemofiltro. O posicionamento na artéria femoral propicia o gradiente necessário nas pressões arterial e venosa. Logo após a filtragem o sangue retorna ao paciente através de cateter venoso. Como na CAVH não há gradiente de concentração para permitir a filtragem apenas do líquido, há perda de eletrólitos que são removidos juntamente com o líquido, portanto, os líquidos intravenosos podem ser administrados para repor a volemia perdida através do procedimento. Para a instalação da CAVH é necessária equipe de diálise treinada. O monitoramento, em geral, é realizado pelos profissionais da terapia intensiva; Hemodiálise Arteriovenosa Contínua (CAVHD) – semelhante à CAVH, porém, para fins de aceleração na depuração da ureia, conta um gradiente de concentração ao promover a circulação do dialisado em um lado de uma membrana semipermeável. Como na CAVH o fluxo sanguíneo depende da pressão arterial do paciente e a instalação requer equipe de diálise treinada. O monitoramento pode ser realizado pela equipe da terapia intensiva; Hemofiltração Venovenosa Contínua (CVVH) – empregada no tratamento da insuficiência renal aguda. Para obtenção do fluxo sanguíneo é inserido um cateter venoso de duplo lúmen pelo qual o sangue é bombeado através de um hemofiltro e, logo após, devolvido ao paciente pelo mesmo cateter. Na CVVH os efeitos hemodinâmicos são mais tolerados e brandos, pois a remoção de líquidos PE é lenta e contínua. Quando comparada à CAVH, se mostra mais vantajosa pelo 30 fato de não haver necessidade de acesso arterial e da equipe de diálise para instalação, que pode ser feita pela equipe da terapia intensiva; Hemodiálise Venovenosa Contínua (CVVHD) – é semelhante à CVVH, tendo o sangue bombeado através de um cateter venoso de duplo lúmen através de um hemofiltro e, em seguida, devolvido ao paciente pelo mesmo cateter. A CVVHD também agrega o gradiente de concentração a fim de facilitar a remoção das escórias urêmicas do paciente. Os efeitos hemodinâmicos são leves e todo o processo pode ser feito pela equipe da terapia intensiva. Diálise Peritoneal É um método de substituição da função renal onde se utiliza a membrana peritoneal como filtro dialisador. A solução de diálise possui composição especial e é colocada na cavidade peritoneal, utilizando-se um cateter intra-abdominal. A perda de líquidos ocorre por UF osmótica, geralmente pela adição de glicose ao dialisato. A glicose é um agente osmoticamente ativo e permite a transferência das toxinas do sangue para a solução. A diálise peritoneal é uma modalidade de escolha para pacientes que não podem submeter-se à HD nem, tampouco, ao transplante renal. Pacientes que apresentam problemas como doença cardiovascular, hipersensibilidade e reações adversas ao anticoagulante heparina (de forma sistêmica), hipertensão grave, entre outros fatores, são candidatos a esta modalidade de tratamento. Para o tratamento crônico pode ser realizadas duas formas de DP: Diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD) – as infusões são realizadas pelo próprio paciente, de modo manual, em seu domicílio. São realizadas quatro trocas de solução por dia,com volume de infusão de 2 a 2,5 litros em cada uma (referência para pacientes adultos), com intervalo de 6 horas entre cada troca; Diálise peritoneal automática (APD) – as trocas são feitas utilizando uma máquina, a cicladora. Nesta modalidade as trocas noturnas possuem números 31 variados enquanto, no período diurno, o paciente pode permanecer com o líquido na cavidade (diálise peritoneal contínua por cicladora - CCPD) ou drenar o líquido (diálise peritoneal noturna intermitente - NIPD). http://nefroclinica-se.com.br/servicos Na DP os banhos se apresentam em bolsas plásticas transparentes, que são recebidas em casa. A composição da solução de diálise peritoneal envolve os seguintes componentes: sódio, magnésio, cálcio, lactato, cloro e um agente osmótico, geralmente a glicose que está disponível em três concentrações diferentes de dextrose monoidratada: 1,5%, 2,5% e 4,25% (Tabela 1). A glicose é facilmente absorvida, o que limita a capacidade de UF. Além disso, sua absorção gera complicações metabólicas, tais como hiperinsulinemia, hiperglicemia, dislipidemia e ganho de peso. O paciente ou o cuidador são treinados pela equipe de enfermagem especializada para realizar a conexão das bolsas e o cateter de maneira estéril. Este treinamento visa evitar a infecção do peritônio (peritonite). 32 Tabela 1 Dextrose 1,5% 2,5% 4,25% Na (mEq/L) 132 132 132 K (mEq/L) 0 0 0 Cl (mEq/L) 95 95 95 Ca (mEq/L) 3,5 3,5 3,5 Mg (mEq/L) 0,5 0,5 0,5 Lactato (mEq/L) 35 35 35 Glicose (mg/dL) 1.369 2.270 3.860 pH 5,2 5,2 5,2 Osmolaridade (mOsm/kg) 345 395 484 * Extraído de Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. Porto Alegre, 2006. O cateter utilizado na diálise peritoneal crônica é um tubo flexível que possui diversos poros na extremidade intra-abdominal, que deve permanecer livre na região pélvica. Sua porção média é implantada na parede abdominal através do cuff presente no corpo do cateter, o cuff de Dacron. Para o implante do cateter é fundamental uma equipe cirúrgica experiente, uma vez que a técnica empregada no implante influencia significativamente sua evolução ao longo do tempo. As complicações da DP são, em geral, simples. Porém quando não tratadas podem representar graves riscos ao paciente. As mais comuns são: Peritonite; Extravasamento do dialisato; Sangramento. Para evitar as complicações em decorrência de falhas assépticas durante as conexões das bolsas, o enfermeiro deve, constantemente, checar o modo pelo qual os pacientes estão realizando o procedimento e aplicar, sempre que necessário, 33 novos treinamentos a fim de melhorar a capacidade do paciente ou cuidador lidar com as técnicas que visam diminuir os riscos de infecção e outras complicações. O monitoramento por parte da equipe e a observação e adoção das recomendações recebidas pela equipe multiprofissional são essenciais para manutenção e melhoria da qualidade de vida. Glomerulopatias Geralmente conhecidas como glomerulonefrites (GN), as glomerulopatias são doenças que acometem os glomérulos, pequenas massas arredondadas de novelos de alças capilares que se projetam no lúmen de um corpúsculo renal. São variadas e podem possuir natureza aguda ou crônica; podem ser inflamatórias ou não; algumas delas são tratáveis e outras não. Classificação Podem ser primárias, quando acontecem nos rins e acometem apenas esses órgãos, ou podem ser secundárias a patologias já existentes, dentre outras, o diabetes, hepatites, doenças autoimunes. Podem ser assintomáticas ou apresentar edema de membros inferiores, face ou edema de todo corpo e ainda sintomas urinários como diminuição do volume urinário. Ao exame de urina é possível observar a presença de hemácias (hematúria) e/ou de proteínas (proteinúria). Quadro Clínico 34 Em alguns casos, como a doença de lesões mínimas, a glomerulosclerose segmentar e focal e a glomerulopatia membranosa podem ser observadas grandes perdas de proteína pela urina que, em geral, determinam síndrome nefrótica. Na síndrome nefrótica há um aumento na permeabilidade da membrana basal dos capilares que ocasiona proteinúria maciça (> 3,5g/24h/1,73m² de superfície corporal), sendo comum acompanhar-se de tendência a edema, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia. Outras glomerulopatias têm apresentação mais aguda e frequentemente associam-se a déficit de função renal, como a glomerulonefrite difusa aguda (GNDA), embora possam ter um curso autolimitado, como costuma acontecer com a glomerulonefrite pós-estreptocócica. Diagnóstico A função renal no momento do diagnóstico pode estar normal ou, ainda, apresentar-se diminuída ou deficiente. Muitas vezes a biópsia renal é utilizada para a determinação do tipo de glomerulopatia, o que norteia a terapêutica que será empregada. O diagnóstico precoce é importante, pois o tratamento adequado pode controlar os sinais e sintomas e impedir a progressão da doença para insuficiência renal terminal. Tratamento Nos casos agudos, de modo geral, visam tratar os sintomas na tentativa de preservação da função renal e tratamento das complicações imediatas. A terapia farmacológica depende da causa da GN. Nos casos de GN aguda rapidamente progressiva podem ser prescritos corticosteroides, porém, na maioria dos casos, esses medicamentos não possuem valor positivo, podendo agravar a retenção de líquido e a hipertensão. Podem ser prescritos diuréticos de alça para controle de hipertensão. As proteínas da dieta são restringidas caso haja desenvolvimento de insuficiência renal e retenção de nitrogênio. 35 Em casos crônicos, o tratamento é baseado na sintomatologia do paciente. O peso é monitorado diariamente e há prescrição de diuréticos para tratar a sobrecarga hídrica. As infecções do trato urinário devem ser tratadas a fim de evitar maiores complicações. Para manutenção da condição física do paciente e evitar as alterações hidroeletrolíticas, a diálise é prescrita de modo precoce. Atenção de enfermagem Em pacientes agudos é importante orientar o paciente a seguir as recomendações médicas que incluem a ingestão abundante de carboidratos para diminuir o catabolismo de proteína, o consumo de líquidos de acordo com as perdas diárias. É importante, ainda, orientar o paciente e/ou cuidador quanto à importância do autocuidado seguro e efetivo em ambiente domiciliar. Em pacientes crônicos é importante atentar para as alterações no estado hidroeletrolítico do paciente bem como os sinais e sintomas de diminuição da função renal. As alterações cardíacas e neurológicas devem ser observadas e tão logo comunicadas ao médico. O enfermeiro deve promover, para o paciente e familiar, ações de controle para a ansiedade que, em geral, encontra-se em níveis bastante elevados. Promover um espaço para troca de informações e sanar dúvidas pode auxiliar para eficácia desta ação. Infecção do Trato Urinário A infecção do trato urinário (ITU) se configura como um dos agravos mais frequentes na prática clínica, sendo observada na comunidade e em paciente hospitalizado, ocorrendo em todas as faixas etárias. Caracteriza-se pela presença de microrganismos nas vias urinárias, habitualmente bactérias, seja na bexiga, próstata, sistema coletor ou rins. Em geral são classificadas de acordo com sua localização como ITU inferior ou superior. Quando associada à condição pré-existente a ITU pode ser complicada, aumentando assim o risco de falha na terapêutica empregada e o tempo de tratamento necessário. O microrganismo que mais frequentemente causa 36 ITU é Escherichia coli. A ITU de repetição se deve a inúmeros fatores e deve ser investigada. IncidênciaÉ variável conforme a faixa etária, sendo mais comum no primeiro ano de vida no sexo masculino devido à maior incidência de má-formações congênitas do trato urinário. Na fase pré-escolar e no adulto a incidência é maior no sexo feminino com picos no início ou relacionado à atividade sexual, durante a gestação e na menopausa. Devido aos problemas relacionados à próstata a incidência no sexo masculino volta a aumentar na faixa etária compreendida entre 50 e 60 anos. A maior incidência no sexo feminino se deve a fatores anatômicos, além de possuir a uretra mais curta que os homens, há maior proximidade do ânus com a uretra e a cavidade vaginal, o que torna maior a possibilidade de colonização destes por enterobactérias que habitualmente causam ITU. Classificação Pode-se classificar o paciente com ITU de diferentes maneiras. A mais comum segue dois critérios: Presença de complicações; Localização da infecção. Uma forma de classificar as ITUs é de acordo com a presença ou ausência de complicações. Quadro Classificação da ITU quanto à presença de complicações ITU não complicada 37 - mulheres (não grávidas); - sem alterações anatômicas do trato urinário; - sem alterações funcionais do trato urinário; - sem cateteres urinários; - sem alterações da imunidade; - adquirida na comunidade. ITU complicada - homens; - obstrução urinária; - alterações anatômicas do trato urinário; - alterações na função do trato urinário; - microrganismos resistentes; - corpo estranho; - imunossupressão; - cateteres urinários; - presença de cálculos urinários. Quanto à localização são classificadas em: ITUs inferiores - acometem bexiga e estruturas abaixo da bexiga. São mais comuns e incluem cistite, prostatite e uretrite. ITUs superiores - acometem os rins e os ureteres. São menos comuns e incluem nefrite intersticial bacteriana ou pielonefrite (aguda ou crônica) e abscessos renais. Cistite: é uma ITU inferior comum, caracterizada pela invasão e aderência de microrganismos na bexiga, ocasionando uma resposta inflamatória. Clinicamente caracteriza-se por dificuldade na emissão de urina (disúria), emissão frequente de urina (polaciúria), tenesmo vesical e dor na região hipogástrica. Aproximadamente 30% das ITUs inferiores apresentam comprometimento alto oculto e o tratamento nestes casos deve ser feito para ITU superior. O diagnóstico de ITU superior oculta 38 deve ser feito quando estiver presente uma das complicações mencionadas no Quadro ou idade avançada, infecção hospitalar, gestação, procedimento cirúrgico recente do trato urinário, história de ITU na infância, persistência de sintomas por sete dias ou mais, uso recente de antibióticos e diabetes melito. Uretrite: a disúria e polaciúria são abundantes, porém a urocultura se mostra negativa, e sedimento urinário normal ou com presença de leucócitos. É habitualmente associada às infecções por microrganismos não habituais e cistites não infecciosas. Pielonefrite: também chamada de nefrite intersticial bacteriana, caracteriza-se pela invasão de microrganismos no rim, gerando resposta inflamatória. Caracteriza- se por dor em flanco, presença do sinal de Giordano (sensibilidade na região lombar), febre, acompanhados de urocultura positiva. Diagnóstico laboratorial O diagnóstico ocorre através de urocultura. A urina colhida deve ser, de preferência, a primeira do dia e a amostra deve ser obtida através do método do jato médio e colhida com assepsia em pacientes que não apresentem anormalidades funcionais do trato urinário. Caso não seja possível colher a primeira urina do dia, a amostra deve ser obtida com intervalo mínimo de duas horas após a última micção. A presença de nitrito no exame bioquímico da urina é específica para infecção do trato urinário. Indica a atividade redutora de nitrato causada por enterobactérias. Tratamento É realizado baseando-se na localização e presença de determinados fatores (Tabela 2). A recorrência de ITU pode se manifestar como recaída quando verificada a presença do mesmo microrganismo, que não foi efetivamente eliminado. Acontece até duas semanas após o fim do tratamento realizado. Quando ocorre um novo episódio de infecção, seja pelo mesmo microrganismo ou por outro diferente do 39 causador da infecção anterior, chamamos de reinfecção. Nesse caso, os sintomas reaparecem num período maior que duas semanas após o fim do tratamento adotado. Tabela 2 Tratamento da ITU Tratamento Tipo ITU inferior ITU superior Comunitária Em gestantes Não complicada - 7 dias - norfloxacin - ácido pipemídico - cefuroxima - 14 dias - ciprofloxacin - 7 dias - cefalexina - cefuroxima - 14 dias* - cefalotina - cefuroxina - 7 dias - norfloxacin - ácido pipemídico - cefalexina - nitrofurantoína - cefuroxima - 14 dias* - ciprofloxacin *o administração deve ser iniciada por via endovenosa, passando a via oral quando da melhora do estado geral do paciente. ITU de repetição é uma condição comum em mulheres com investigação do trato urinário sem anormalidades devido à maior susceptibilidade de colonização vaginal, mesmo em períodos assintomáticos. Há vários fatores de risco, entre eles estão o ato sexual; uso de contraceptivos com espermicida, no último ano; novo parceiro sexual no último ano; primeira infecção urinária antes dos 15 anos; mãe com história de infecção urinária; distância significativamente menor entre o ânus e a 40 uretra; incontinência urinária depois da menopausa; resíduo pós-miccional; alteração do pH vaginal (associada a alterações hormonais). A repetição da ITU pode danificar os rins e por esta razão devem ser investigadas e tratadas. Diversas medidas podem ser adotadas como profilaxia da repetição da ITU, como alteração do método contraceptivo, maior ingesta hídrica, micção pós-coital, quimioprofilaxia contínua e tratamento de episódios, quando aparecem, sem profilaxia nos intervalos. Nefropatia de Refluxo Através de uma anomalia congênita ocorre a passagem da urina da bexiga para o ureter promovendo sucessivas lesões glomerulares semelhantes às causadas pela pielonefrite crônica. Por conta das lesões há sempre perda focal ou difusa do parênquima renal. As cicatrizes provocadas por essas lesões são mais comuns nos polos renais superiores e inferiores e promovem a diminuição do tamanho do órgão. Classificação As cicatrizes renais englobam tanto alterações renais congênitas quanto as adquiridas. A maioria dos casos são identificados e classificados durante a avaliação do paciente que apresenta ITU 41 Quadro Classificação das cicatrizes renais 1. Congênitas ou primárias: resultam da ação de condições atuantes no período intrauterino e se manifestam em áreas focais ou difusas de displasia renal; 2. Adquiridas: depende de ITU com febre podendo ou não apresentar refluxo vésico-ureteral. No Quadro são listados os fatores envolvidos na nefropatia de refluxo. Quadro Fatores etiopatogênicos envolvidos na nefropatia de refluxo - Refluxo intrarrenal - Infecção urinária - Pressão intravesical - Displasia Renal - Genéticos Incidência É uma das doenças mais frequentes em crianças, que se manifesta, geralmente, como ITU. Em 30% dos casos de ITU foi identificado o refluxo vesicoureteral. Estima-se que a nefropatia de refluxo acometa cerca de 1% a 2% dos lactentes normais. Ela é responsável por 15 a 30% dos casos de DRC em adultos e crianças. Diagnóstico 42 Para o diagnóstico da nefropatia de refluxo são utilizados exames de imagem tais como: Cintilografiarenal com DMSA (padrão para o diagnóstico da nefropatia de refluxo); Urografia excretora Ultrassonografia; Ressonância magnética. Tratamento O tratamento clínico pauta-se na quimioprofilaxia e na monitorização da função renal, seguindo os seguintes princípios: Quimioprofilaxia antimicrobiana prolongada e diária; Prevenção e tratamento da constipação intestinal; Realização de higiene perineal eficiente nas meninas; Tratamento da disfunção miccional, caso haja; Realização de exames de urina a cada dois a três meses, ou quando houver sinais ou sintomas de ITU; Avaliação por imagem, no diagnóstico e no seguimento, conforme evolução clínica; Monitorização clínica quanto ao aumento da pressão arterial. Também é adotado o tratamento endoscópico, as cirurgias aberta e laparoscópica como métodos de corrigir a disfunção. Existem alguns fatores que agregam o risco de aparecimento das cicatrizes renais. Quadro-Fatores de risco para cicatrizes renais - Início tardio do tratamento; - Baixa idade no início; 43 - Infecções urinárias febris recorrentes; - Refluxo vesicoureteral primário; - Síndrome de disfunção das eliminações. Atenção de enfermagem As ações de enfermagem, no que tange a nefropatia de refluxo, visam erradicar ou prevenir a recorrência de ITU. Para tanto é importante investir no planejamento de ações educativas de promoção da saúde que esclareçam os pacientes acerca da doença, seu tratamento e suas complicações. A promoção do autocuidado eficaz visa diminuir a ocorrência de ITU, com consequente queda nos níveis de lesão renal. Nefrite Lúpica O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença causada pelo distúrbio multifatorial e envolve susceptibilidade genética, fatores ambientais, fatores imnunoneuroendócrinos e fatores hormonais. A associação desses fatores provoca a produção exagerada de autoanticorpos. Esse aumento resulta na função anormal da célula T supressora, alteração da regulação imune e disfunção da resposta inflamatória. No LES a inflamação estimula os antígenos, que, por sua vez, estimulam anticorpos adicionais e o ciclo se repete. O comprometimento renal associado ao LES é um fator importante, geralmente de mau prognóstico da doença. Aproximadamente 90% dos pacientes com LES apresentam depósitos de imunocomplexos no tecido renal, a presença dessa lesão aumenta em até duas vezes a mortalidade nesses pacientes. Incidência 44 A prevalência da nefropatia em paciente lúpicos é 90% maior para quem tem caráter polimorfo, e a morbimortalidade dos pacientes depende do tipo de comprometimento renal. A sobrevida dos pacientes com LES que apresentavam ou não comprometimento renal, nas últimas décadas, aumentou. Isto porque tratamentos mais efetivos que permitem o diagnóstico precoce têm sido empregados. Diagnóstico Normalmente a nefrite lúpica evolui a logo prazo, tendo episódios de recidivas e períodos de remissão. Um dos fatores importantes nesse pacientes é a detecção precoce de injúria renal. O exame do sedimento urinário, quando comparado aos exames anteriores, pode ser uma ferramenta importante na avaliação da função renal. Outros exames de avaliação da função renal são marcadores fracos da condição renal, podendo não revelar a real gravidade das lesões. Tratamento O prognóstico e tratamento da nefrite lúpica estão relacionados à lesão subjacente, ao grau de comprometimento da filtração glomerular e, possivelmente, aos índices de atividade e cronicidade revelados pela biópsia renal. Atenção de enfermagem Alguns dos problemas mais comuns nos pacientes lúpicos. O curso natural da doença, ou seu tratamento, pode provocar nos pacientes alterações na aparência que afetam diretamente o modo de vida destes indivíduos na medida em que promovem seu sofrimento. As alterações e a evolução imprevisível do LES exigem habilidades de avaliação e cuidados de enfermagem especializados e sensibilidade para as reações psicológicas do paciente. Os pacientes podem beneficiar-se da participação nos grupos de apoio através do recebimento de informações sobre a doença. 45 Quadro Problemas comuns vivenciados pelos pacientes lúpicos Fadiga; Integridade cutânea prejudicada; Distúrbios da imagem corporal; Falta de conhecimento para as decisões sobre o autotratamento. Apoio social e dicas para monitoramento diário das condições individuais podem auxiliar o tratamento. Orientações para evitar a exacerbação ou a atividade da doença, como evitar a exposição ao sol e a luz ultravioleta ou se proteger com o uso de filtros solares e roupas. Nefropatia Diabética Uma complicação comum no diabetes mellitus (DM) é a doença renal provocada pelas alterações microvasculares ocasionadas no rim, a Nefropatia Diabética (ND). Incidência A ND é, ao lado da nefropatia hipertensiva, a principal causa de doença renal crônica em pacientes que ingressam nos programas de diálise em países desenvolvidos e, no Brasil, estudos recentes indicam progressão no número de pacientes diabéticos em hemodiálise, cerca de 26%. 46 Classificação A albumina é uma das proteínas sanguíneas mais importantes que se extravasam para a urina. É baseando-se nos valores de excreção urinária dela que se classifica a ND em estágios (Tabela 3). Tabela 3 Valores de albuminúria utilizados no diagnóstico da ND Estágio Urina de 24 h (mg/24 h) Normoalbuminúria < 30 Microalbuminúria 30 a 299 Macroalbuminúria > 300 *Adaptada de American Diabetes Association. Nephropathy in Diabetes Care 2004; 27:S79-83 Normoalbuminúria: estágio em que se observa concentração normal de albumina na urina (< 30mg/24 h). Microalbuminúria: é o achado clínico mais precoce na ND é a microalbuminúria. Observa-se a presença de pequenas quantidades de albumina na urina, (30 a 299mg/24h), que métodos convencionais não são capazes de detectar. Constitui um fator de risco para doença arterial coronariana e para o aumento da mortalidade em pacientes com DM tipo 1 e nos que apresentam o tipo 2 da doença. É considerado um fator de risco para o desenvolvimento de macroalbuminúria, porém nem todos os pacientes progridem para esse estágio e alguns retornam para a normoalbuminúria. 47 Macroalbuminúria: caracterizada pela presença de proteinúria, detectada tradicionalmente através de fitas reagentes que se tornam positivas a partir do valor de proteínas totais na urina equivalente a 500mg/24h. O controle da hiperglicemia e da HAS constitui um fator importante na redução do desenvolvimento da ND que tem a maior prevalência entre os negros, asiáticos e americanos nativos. Quadro Fatores de risco para ND Etnia Dislipidemia Tabagismo Proteinúria Fatores alimentares Hiperfiltração glomerular Tratamento e Prevenção O tratamento envolve a prevenção da instalação da ND, prevenção primária, medidas para evitar a progressão de microalbuminúria para macroalbuminúria, prevenção secundária e desaceleração na diminuição do ritmo de filtração glomerular na macroalbuminúria visando o impedimento do progresso para insuficiência renal terminal, prevenção terciária (Tabela 4). Tabela 4 Tratamento da ND Tratamento Complicação DM 1 DM 2 IECA IECA 48 Microalbuminúria Persistente Proteinúria IECA Tratamento combinado com IECA, AAS, melhor controle de glicemia, PA, colesterolemia, HDL-colesterol e trigliceridemia. Atenção de enfermagem Como o tratamento do DM envolve a necessidade do conhecimento de uma série de conceitos alémde habilidades para desenvolver ações do tratamento em longo prazo, é importante que o enfermeiro desenvolva, junto ao paciente e/ou familiar, atividade educativa que oriente questões sobre a doença, tratamento, complicações além de práticas saudáveis que o auxiliem no cotidiano crônico de saúde vivenciado. Alguns elementos são essenciais no plano educativo para o paciente, realizado pelo enfermeiro, entre eles: Informações acerca do DM (causa, tratamento, complicações...), a fim de reconhecer os déficits de conhecimento do paciente; Treinamento de habilidades necessárias para a realização de automedicação (insulinodependentes) e de verificação periódica da glicemia capilar; Orientações para o autocuidado (cuidado com a pele e pés); Orientações/esclarecimentos acerca das recomendações dietéticas; Monitoramento de possíveis complicações; Continuidade do cuidado. Hipertensão Arterial Sistêmica 49 Ao ano no Brasil a hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a principal causa de doença renal crônica em estágio terminal. Em síntese, é a HAS quem leva a maioria dos pacientes à necessidade de terapia de substituição renal. Além disso, para os pacientes portadores de doença renal crônica, a HAS representa um fator de risco importante para o desenvolvimento de doença cardiovascular, maior morbidade e mortalidade. Incidência No início da terapia renal substitutiva, cerca de 80% dos pacientes apresentam HAS. No Brasil, em 2008, 35,8% dos pacientes em diálise tem por doença de base a hipertensão, os outros que apresentam este problema o têm como causa secundária em função de outra patologia ou lesão renal. Classificação A HAS é definida a partir de valores de pressão sistólica maior ou igual a 140 mmHg e pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg, em pessoas que não fazem uso de anti-hipertensivos. Diagnóstico Para firmar o diagnóstico do paciente é fundamental conhecer a história clínica do paciente para identificar fatores de risco, hábitos de vida que favorecem o surgimento de HAS; exame físico e avaliação laboratorial inicial do paciente hipertenso a fim de verificar o comprometimento de outros órgãos e sistemas e definir metas de prevenção e retardo da progressão da doença renal. 50 A HAS é um fator que deve ser permanentemente avaliado. A avaliação se inicia pela investigação clínico-laboratorial que deve compreender as seguintes etapas: Verificação da elevação dos valores pressóricos e confirmação do diagnóstico; Avaliação a presença de lesões em órgãos-alvo; Identificação de fatores de risco para doenças cardiovasculares; Diagnóstico de doenças ligadas à hipertensão; Investigação da causa da hipertensão arterial (quando houver); Figura - Fluxograma de exame de urina para grupo de risco de DRC. *Extraído de Ministério da Saúde. Cadernos de atenção básica nº 15: Hipertensão Arterial Sistêmica Tratamento O tratamento da HAS pode ser de dois tipos: Não farmacológico: consiste no controle do excesso de peso, adoção de hábitos alimentares saudáveis, redução do consumo de bebidas 51 alcoólicas, abandono do tabagismo, prática de atividades físicas regulares; Farmacológico: agentes anti-hipertensivos, esquemas terapêuticos (monoterapia ou terapia combinada), terapia antiagregante plaquetária. Os medicamentos anti-hipertensivos mais eficazes no retardo da progressão da doença renal são os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), porém, seu uso é geralmente associado a alguma outra droga como diuréticos e propranolol. Deve-se monitorar o aumento de potássio e creatinina quando utilizado o IECA no tratamento da HAS. Quadro Objetivos da terapia anti-hipertensiva em portadores de DRC Reduzir a pressão arterial para níveis abaixo de 130 /85 mmHg; Diminuir o risco cardiovascular; Limitar a progressão da doença renal; Reduzir a proteinúria. Atenção de enfermagem A principal ação para controle da HAS e seus efeitos em outros órgãos e sistemas visando retardar a progressão da lesão renal provocada por níveis pressóricos elevados é a elaboração de estratégias para o controle rigoroso da pressão arterial. Tendo em vista esse princípio, cabe ao enfermeiro: 1. Capacitar a equipe de enfermagem; 2. Realizar consulta, abordando fatores de risco, tratamento não- medicamentoso, adesão e possíveis intercorrências ao tratamento; 52 3. Desenvolver atividades de promoção de saúde e atividades educativas individuais ou em grupo com os pacientes hipertensos; 4. Estabelecer estratégias que possam favorecer a adesão a grupos de hipertensos; 5. Repetir a medicação de indivíduos controlados e sem intercorrências; Nefrolitíase Também conhecido com cálculo renal ou pedra nos rins, é um problema comum que acomete cerca de 10% da população, sendo mais comum no sexo masculino (três homens para cada mulher), atingindo a faixa etária compreendida entre 20 e 50 anos. É mais frequente em países industrializados, países de clima tropical, pessoas com história de cálculos renais na família e cerca de quatro vezes mais comum em pessoas de etnia branca. Constantemente observa-se a recorrência do problema em pacientes que, após o episódio de cálculo não se submeteram a nenhum tipo de tratamento. Cerca de 50% desses pacientes apresentarão um novo episódio em até dez anos após o primeiro. Classificação Os cálculos são formados quando as concentrações de determinadas substâncias aumentam no organismo supersaturando a urina e envolvendo fatores como o pH urinário, a quantidade de substância e a força iônica (Tabela 5). Tabela 5 Fator de formação dos cálculos Características Oxalato de cálcio - Tipo mais comum, correspondendo a mais de 65% dos cálculos renais; 53 - Isolado ou associado a fosfato; - Causado pelo aumento do cálcio urinário sem aumento nos níveis séricos de cálcio (hipercalciúria idiopática)*. Estruvita - Relacionados à infecção urinária por microrganismos produtores de urease; - Tipo mais comum de cálculos coraliformes; - Causado pela deposição de cristais de estruvita, produto da hidrólise da ureia provocada pela urease. Ácido úrico - Relacionado ao pH, baixa ingestão de líquidos e altos níveis de ácido úrico; - São invisíveis à radiografia quando estão associados a cálculos de oxalato de cálcio. Cistina - Ocorre em pacientes com uma doença autossômica recessiva ligada ao transporte renal e intestinal da cistina, a cistinúria. Cristais de Indinavir - Desenvolve-se durante o tratamento de pacientes com HIV1 com o medicamento sulfato de indinavir, um inibidor de protease. * Os fatores envolvidos na hipercalciúria envolvem o aumento da absorção intestinal do cálcio pelo intestino, o aumento da desmineralização óssea e a perda renal de cálcio. A supersaturação urinária é a principal condição para a formação de cálculo renal, considerando os principais mecanismos fisiopatogênicos. A formação do cálculo 54 pode não ocorrer mesmo em situações onde haja a supersaturação da urina. Isto se deve à ação de substâncias inibidoras da cristalização que agem, principalmente, na superfície dos cristais, bloqueando as zonas de agregação de outros cristais. Os principais inibidores são o citrato, o pirosfato, o magnésio e os glicosaminoglicanos. Através das ligações destas substâncias os cristais têm seu crescimento bloqueado. A deficiência destes inibidores também pode ser um fator formador de cálculos em situações onde não há supersaturação ou fatores de risco associados. Quadro Fatores de risco para formaçãode cálculos urinários Distúrbios metabólicos Infecções urinárias Anormalidades anatômicas pH urinário Volume urinário Fatores dietéticos Causas idiopáticas Uso de medicamentos como sulfato de indinavir Quadro clínico As manifestações clínicas principais são dor, hematúria, obstrução e aumento do risco de infecção urinária. Entretanto, existem casos assintomáticos em que os cálculos são descobertos por ‘acidente’ durante a realização de exames para investigação de outros agravos. A dor em cólicas, popularmente conhecida como cólica renal, ocorre por conta de espasmo ureteral produzido pela passagem do cálculo ou coágulo que obstrui a mesma. Manifesta-se na região lombar, geralmente 55 com início repentino e aumento progressivo, necessitando de analgesia potente, como morfina e derivados. Pode vir acompanhada de vômitos, agitação e íleo paralítico. Durante a passagem do cálculo pelo ureter é comum haver obstrução deste. Em geral, é temporária e/ou parcial, e não oferece maiores problemas ao paciente. Cálculos com menos de 5 mm normalmente são eliminados espontaneamente e a metade dos cálculos entre 5 e 7mm também são eliminados. Já os cálculos maiores que 7 mm são raramente eliminados. A desobstrução torna-se emergencial quando há infecção urinária. A obstrução crônica pode provocar perda da função renal irreversível. Tratamento O tratamento clínico envolve orientações dietéticas, reduzindo a ingestão de alimentos que contenham as substâncias formadoras do cálculo. No tratamento da cólica, na crise aguda, envolve analgesia e diminuição na ingestão de líquidos a fim de evitar o aumento da filtração renal, o que aumentaria a dor. Para dor leve e moderada são utilizados analgésicos e/ou antiinflamatórios não-esteroides (AINES) e em casos de dor intensa são utilizados morfina e seus derivados, além de outros opiáceos. No tratamento intervencionista a maior parte dos cálculos pode ser tratada de maneira não-invasiva através de litotripsia extracorpórea por ondas de choque (LECO), descartada a necessidade de anestesia e internação. A escolha do tratamento envolve fatores tais como: o tamanho do cálculo, sua composição e sua localização anatômica. Há alguns anos os cálculos eram tratados através de processos cirúrgicos, o que aumentava o risco de infecção e morbidades, além dos custos com o tratamento. Hoje a cirurgia está indicada apenas para os casos em que outros tratamentos não são prescritos, pois não há possibilidade de erradicação voluntária do cálculo. 56 Atenção de enfermagem As ações de enfermagem no tratamento e orientação dos pacientes com cálculos renais envolvem metas para alívio da dor e desconforto além de orientação para evitar novos episódios e complicações. No âmbito hospitalar as ações pautam- se na analgesia eficaz, no controle e registro de eliminações vesicais, bem como sua análise macroscópica (para verificar a eliminação de cálculos). Orientar o paciente quanto à possibilidade de mover os cálculos (quando possui tamanho que permita sua eliminação espontânea) através da deambulação. O enfermeiro deve conhecer a história do paciente, os fatores envolvidos na formação do cálculo e os meios de prevenir recidiva do problema. Para tanto é necessária a ação educativa do enfermeiro, fornecendo ao paciente e seus familiares informações acerca do problema e orientações para evitar a formação de novos cálculos. Quadro Evitando os cálculos renais recorrentes Seguir rigorosamente a dieta prescrita; Durante o dia, ingerir líquidos (de maneira ideal, água) a cada 1 a 2 horas; Beber dois copos de água na hora de dormir e um copo adicional a cada despertar noturno para evitar que a urina fique muito concentrada; Evitar atividades que provocam a sudorese excessiva e a desidratação; Evitar aumentos súbitos nas temperaturas ambientes que possam causar sudorese excessiva e desidratação; Contatar o médico-assistente ao primeiro sinal de uma ITU. *Extraído de SMELTZER, S.C.; BARE, B.G. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. v.3, p.1420. 57 Uma recomendação importante é manter a elevada ingestão de líquidos, preferencialmente água – dentro dos padrões de normalidade, cerca de 30ml/Kg/dia – pois se sabe que os cálculos se formam mais facilmente em urina concentrada. Insuficiência Renal Aguda É a perda súbita da função renal provocando o acúmulo de escórias no organismo. Possui diferentes causas: Pré-renais Hipovolemia: perdas gastrointestinais, desidratação, diuréticos, insolação, hemorragias importantes; Insuficiência Cardíaca: falência do coração, infarto agudo do miocárdio, sepse, arritmias, choque anafilático; Obstrução Arterial: trombose, aneurismas, embolias Renais: Isquêmicas: pielonefrite, rejeição do enxerto (transplante), necrose cortical, gestação; Nefrotóxicas: antibióticos, quimioterápicos, metais pesados, contraste iodado, alcoolismo, choque elétrico, intoxicação e hemólise; Pós-renais: obstruções por litíase, tumor ou traumatismo, aumento da próstata. Tratamento O tratamento da IRA tende restabelecer o equilíbrio da homeostase e é adotado o controle hídrico e da pressão arterial sistêmica, prevenção de infecções, visando evitar a sepse, e modificações dietéticas para prevenir o acúmulo maior das escórias no sangue do paciente. Terapias dialíticas são empregadas com visas a realizar a 58 função que o comprometimento renal não permite realizar. As terapias indicadas nos casos de IRA serão descritas a seguir. Métodos Dialíticos na Insuficiência Renal Aguda Os tipos de diálise disponíveis e indicados atualmente para pacientes que apresentam insuficiência renal aguda (IRA) são: Terapia renal substitutiva intermitente (TRSI): qualquer terapia extracorpórea de depuração sanguínea indicada para substituir a ausência da função renal, seja parcial ou total, aplicada por período menor que 12 h/dia; Terapia renal substitutiva contínua (TRSC): idêntica a TRSI, porém é aplicada por período prolongado de tempo, durante 24 h/dia; Hemodiálise contínua (HDC): o tratamento procede de maneira ininterrupta, 24 por dia, com fluxos de sangue (100 a 150mL/min.) e de solução de diálise (0,5 a 2 L/h), oferecendo menor instabilidade hemodinâmica no paciente. Hemodiafiltração contínua: é a diálise com a capacidade de depuração dos hemofiltros alterada por uma membrana de alto fluxo; Hemodiálise diária estendida (HDDE): solutos e água são transportados através de uma membrana de baixo fluxo, semipermeável artificial (celulose ou sintética) para o dialisato; a duração é inferior a 12 horas; Hemodiálise sustentada de baixa eficiência (HDSBE): solutos e água são transportados através de uma membrana de baixo fluxo, semipermeável (celulose ou sintética) para o dialisato, a duração é de 12 horas; Ultrafiltração isolada contínua (UFIC): processo de remoção de líquidos, contínuo, através de uma membrana de baixa permeabilidade; 59 Ultrafiltração isolada (UFI): processo agudo de remoção de líquidos através de uma membrana de baixa permeabilidade, sem o uso de dialisato; Hemoperfusão (HP): o sangue é exposto a uma substância com propriedades adsortivas (carvão ativado, proteína A ou material sintético), com a finalidade de remover fármacos, toxinas, solutos ou outras substâncias. O balanço hídrico não é alterado e não exige a reposição de solutos. Doença Renal Crônica A doença renal crônica (DRC) é a fase final de diversas patologias renais, sendo, muitas vezes, somente diagnosticada a partir de sintomatologia urêmica. É definida pela presença destes sintomas pormais de três meses e redução gradual da excreção de creatinina endógena e/ou evidência de diminuição de tamanho dos rins e/ou sinais de agravos oriundos da uremia crônica como: anemia, neuropatia periférica e osteodistrofia renal. Incidência No Brasil ainda não existe um banco de dados com descrição exata do percentual de pacientes em diálise, porém, analisando os resultados dos censos realizados pela Sociedade Brasileira de Nefrologia é possível notar no país a tendência que ocorre em todo o mundo com relação à progressão do número de casos de DRC. De acordo com o último censo realizado verificou-se que a prevalência de 470 pacientes em diálise por milhão da população. Classificação 60 A DRC é dividida em estágios ou fases classificadas de acordo com o dano renal ou a perda de sua função (Tabela 6). Tabela 6 Fases Taxa de filtração glomerular Fase 1 Maior ou igual a 90 mL/min Fase 2 60-89 mL/min Fase 3 30-59 mL/min Fase 4 16-29 mL/min Fase 5 Menor que 15 mL/min Na Fase 1, embora a filtração glomerular seja normal, o dano renal é evidenciado pela presença de marcadores para nefropatia, como proteinúria, por exemplo; na Fase 2 existe o dano renal associado à leve diminuição da filtração glomerular; na Fase 3 há uma perda moderada da função renal; na Fase 4 a perda da função é severa, com filtração glomerular a níveis baixos; a Fase 5, também chamada de Insuficiência Renal Terminal, é caracterizada por níveis insatisfatórios de filtração ( menor que 15mL/min) e necessidade de diálise. Quadro Clínico O quadro clínico nas fases iniciais da DRC é de sinais discretos ou ausentes. Conforme a progressão da doença, o estado de uremia crônica ocasionado pela ineficácia na filtração glomerular com consequente deficiência na eliminação de escórias sanguíneas provoca manifestações em várias partes do organismo (Tabela 7). Em geral, as manifestações clínicas estão associadas às alterações laboratoriais séricas (aumento da ureia, creatinina, fósforo, ácido úrico, potássio, magnésio, fosfatase alcalina, paratormônio, glicose, colesterol e triglicérides; diminuição de bicarbonato, cálcio, ferro, albumina, calcitriol e eritropoetina), urinárias (isotenúria, proteinúria e cilindros) e de Imagem (ecografia mostra rins contraídos). 61 Diagnóstico Para realização do diagnóstico é importante primeiramente realizar o diagnóstico diferencial entre DRC e IRA. Uma vez descartando-se a possibilidade de IRA, alguns elementos devem ser adotados para diagnosticar a DRC: História do paciente; Exame físico; Sedimento urinário (quantificação da proteinúria); Biópsia renal. Tratamento A escolha do tratamento mais apropriado para o paciente envolve alguns fatores. As modalidades de tratamento são: Tratamento conservador: para fases iniciais da DRC, quando é possível identificar sinais de dano renal e uremia, consiste no tratamento medicamentoso a fim de melhorar a sintomatologia e controlar os sinais presentes; Diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal); Transplante renal. Manifestações clínicas da Síndrome urêmica Hidreletrolíticas Hiperpotassemia, acidose metabólica, hipocalcemia, hiperfostatemia, expansão e depleção de volume, hipermagnesemia, hiper/hiponatremia, Renais Noctúria, poliúria, oligúria, edema 62 Cardiovasculares Hipertensão arterial sistêmica, pericardite, insuficiência cardíaca congestiva, arritmia Hematológicas Anemia, coagulopatia, linfocitopenia Gastrointestinais Anorexia, náuseas, vômitos, gosto metálico Neurológicas Fadiga, insônia, neuropatia periférica, convulsões, estupor, coma Osteomusculares Osteodistrofia renal, miopatia proximal Endócrinas Intolerância a carboidratos, má-nutrição Metabólicas Infertilidade, amenorreia, impotência, hiperuricemia, dislipidemia, hiperparatireodismo secundário Dermatológicas Palidez, prurido, hiperpigmentação, equimose * Extraído de BARROS, E. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. Porto alegre: 2008. Atenção de enfermagem A atenção de enfermagem do paciente portador de DRC, como em qualquer situação crônica de saúde, deve se ampliar para além do campo da terapêutica empregada e do tratamento de sinais e sintomas clínicos da doença em questão, mas deve atingir o indivíduo de modo sistêmico, fornecendo-lhe informações que o auxiliem na adoção de estratégias para diminuir o estresse provocado pela condição de saúde, pela dependência de máquinas, de outras pessoas, além de perda da autonomia. 63 Quadro Fatores que influenciam na escolha do tratamento da DRC Relacionados ao paciente: Características clínicas Características psicossociais, familiares Convicções pessoais Efetividade do método Relacionados ao nefrologista: Intimidade com o médico Ganho direto ou indireto Convicções pessoais Relacionados à instituição: Disponibilidade Logística Prática local/ governamental Popularidade Princípios Básicos A diálise é um processo no qual a composição do soluto de uma solução (solução A) é modificada pela exposição à outra (solução B) utilizando-se, para isto, uma membrana semipermeável. Podemos considerar a membrana como sendo uma superfície contendo poros por onde as moléculas de água e de solutos com baixo peso molecular, presentes nas soluções A e B, conseguem passar e se misturar, enquanto moléculas maiores não conseguem atravessar a membrana. Na hemodiálise, a membrana semipermeável está no dialisador. 64 Para ocorrer essa passagem da solução A para o lado da membrana onde se encontra a solução B e vice-versa, os solutos capazes de atravessar a membrana se utilizam de dois mecanismos: Difusão: as moléculas de baixo peso se movem rapidamente e encontram os poros da membrana, por onde atravessam com maior frequência. Já as moléculas maiores se movem lentamente por possuírem alto peso molecular; por essa razão, moléculas de alto peso raramente se encontram com a membrana e consequentemente com os poros localizados em sua superfície. Difusão. Ultrafiltração: As moléculas de água são pequenas e conseguem atravessar todas as membranas semipermeáveis. A ultrafiltração ocorre quando a água impulsionada por uma força hidrostática é impulsionada através da membrana. Nesse processo as moléculas que não conseguem passar através dos poros da membrana por si só são arrastadas juntamente com a água. As moléculas maiores dos poros da membrana ficam retidas. 65 Figura - Ultrafiltração. Fonte: <www.meiofiltrante.com.br> O sangue para hemodiálise é proveniente de um acesso vascular (cateter venoso, fístula arteriovenosa ou prótese) e impulsionado para o circuito extracorpóreo por uma bomba. No circuito o sangue entra em contato com a membrana semipermeável do dialisador, onde ocorrem as trocas entre o sangue e o dialisato. A difusão de solutos entre o sangue e a solução de diálise resulta na remoção das escórias metabólicas e na reposição de solutos como o bicarbonato. Para a remoção eficaz das escórias, o sangue é bombeado através do circuito com um fluxo de 300 a 500mL/ min, enquanto o dialisato flui em direção contrária, com fluxo de 500 a 800mL/ min. O bicarbonato utilizado na composição do dialisato tem a finalidade de tampão. Na composição do dialisato as concentrações das substâncias levam a perdas das mesmas que se encontram em maior quantidade no sangue do paciente. Aparelho para Hemodiálise Atualmente é grande a variedade de máquinas de hemodiálise disponível no mercado. São diversos modelos com variáveis técnicas e financeiras que influenciam diretamente na escolha do equipamentopelos gestores de centros de diálise e instituições hospitalares. Diante da variedade, há normatização técnica em relação 66 aos equipamentos necessários e ao funcionamento de uma unidade de diálise, com objetivo de manter a eficiência e a segurança do tratamento hemodialítico. Essas normas preconizam alguns itens e funções obrigatórias para os aparelhos de diálise. São elas: Condições de realizar diálise com solução de bicarbonato de sódio; Monitores de temperatura e de pressão do compartimento de sangue e de diálise; Monitor de condutividade e de ruptura de membrana; Detector de bolhas; Módulo de ultrafiltração; Sistema de bypass da solução de diálise. O aparelho para hemodiálise se divide em circuito de sangue e circuito de solução de diálise (“banho”) que se encontram no dialisador, o circuito de sangue preenchendo a câmara interna e o circuito de diálise preenchendo a câmara externa. https://www.hc.unicamp.br/node/776 67 O circuito de sangue se inicia no acesso vascular (fístula arteriovenosa ou cateter), é bombeado através do equipo de infusão de sangue arterial (linha arterial) até o dialisador e, então, o sangue retorna para o paciente através do equipo para infusão de sangue venoso (linha venosa). O sistema possui diversas câmaras, portas laterais e monitores ligados aos equipos de infusão arterial e venosa que são utilizados para infundir solução de heparina e salina, para medir as pressões e para detectar a entrada de ar no circuito. O circuito de diálise inclui o sistema de aporte de solução de diálise, que forma a solução de diálise on-line a partir da água purificada e concentrada, e logo após bombeia a solução através de vários monitores que asseguram que a solução de diálise está de acordo com os padrões de temperatura, concentração de sais dissolvidos e não está sendo exposta ao sangue. www.nefroclinica.med.br É recomendado que todos os equipamentos sejam testados antes de seu uso, limpos internamente com solução desincrostante e desinfetados com agentes químicos ou calor, respeitando as orientações do fabricante e as normas da comissão 68 de controle de infecção da instituição. Após cada turno de diálise deve-se realizar a desinfecção das máquinas de hemodiálise. Água para Hemodiálise Numa sessão de hemodiálise cada paciente tem contato com cerca de 120 a 200 litros de solução de diálise. Além disso, todos os contaminantes presentes na água de peso molecular baixo na solução de diálise conseguem penetrar livremente e se acumulam no sangue do paciente que não consegue realizar excreção renal eficaz. Algumas substâncias adicionadas aos sistemas de tratamentos de água dos municípios, por medidas de saúde pública, não representam riscos à população normal. Entretanto, para os pacientes com comprometimento renal, incapazes de excretar essas substâncias, se configuram um perigo pela possibilidade de absorção destas substâncias em solução, ao longo da vida. Por isso, nos centros de diálise é vital que haja um sistema de purificação da água que será utilizada pelas máquinas de HD. A escolha do sistema de tratamento depende do volume de água a ser tratada e, para isso, são levados em consideração o número de pacientes atendidos, a duração das sessões e os fluxos de solução de diálise ofertados. A eficácia e eficiência do sistema de tratamento devem ser monitoradas em razão da possibilidade de crescimento bacteriano. Periodicamente, amostras são coletadas, em diversos pontos do sistema, para cultura. Quadro- Análise da água Característica Parâmetro Frequência Cor aparente Incolor Diária Turvação Ausente Diária Sabor Insípido Diária Odor Inodoro Diária Cloro residual livre > 0,5 mg/L Diária pH 6,0 a 9,5 Diária 69 Coliforme total Ausência em 100 mL Mensal Bactérias heterotróficas Até 200 UFC/mL Mensal Endotoxinas 2 EU/mL Mensal Nitrato (NO3) 2 mg/L Mensal Elementos quimos diversos Semestral Os sistemas de tratamento de água para HD são: Deionizador: tem custo elevado; composto por várias colunas em série, uma de areia de variados tamanhos de grãos, uma de carvão, uma de resina catiônica, uma de resina aniônica e filtros microporosos; é muito eficaz contra os contaminantes iônicos, mas, representam alto risco para contaminação microbiológica. Osmose reversa: mais comum; oferece água de melhor qualidade; composto por várias colunas em série, uma de areia de vários tamanhos de grãos, uma de carvão e uma de abrandador; a água é transferida de um compartimento para outro através da diferença de pressão hidrostática e osmótica, utilizando uma membrana semipermeável; retêm 90 a 99% de elementos minerais e 95 a 99% dos elementos orgânicos. Para realização de HD externas aos centros de diálise, utiliza- se a osmose reversa portátil. O reservatório de água dos centros de diálise deve ser constituído por material atóxico, não deve possui cantos e o fundo deve ser cônico a fim de permitir seu total esvaziamento. A tubulação deve ser do mesmo material do reservatório, sem pontos cegos e deve possuir ainda um sistema de recirculação da água tratada – a água deve estar em constante movimentação. Para desinfecção do reservatório recomenda-se o uso de hipoclorito a 0,1%, seguido de enxágue até que o teste residual para o produto apresente resultado negativo. 70 A periodicidade deve ser mensal. A seguir estão listadas as substâncias mais comumente encontradas na água e que podem representar perigo aos pacientes. Seus efeitos no organismo podem variar de leves náuseas atingindo níveis fatais de complicações: Alumínio: é adotado, por muitos sistemas municipais de tratamento de água, como agente floculador, removendo partículas suspensas incapazes de serem filtradas; Cloramina: evita a proliferação bacteriana na água; Fluoreto: no Brasil, é adicionada à água para evitar a deterioração dos dentes; Cobre e Zinco: podem estar presentes na água por sua eliminação de canos e equipamentos constituídos ou compostos por esses elementos; Bactérias e Endotoxinas: uma vez que as substâncias adicionadas ao abastecimento de água para prevenir a proliferação bacteriana são removidas pelo sistema de purificação da água do aparelho de diálise, aumenta a susceptibilidade de contaminação microbiológica por bactérias e endotoxinas. Quadro– Contaminantes da água e seus efeitos Contaminante Fonte Efeitos adversos Alumínio Concessionária Encefalopatia, Doença óssea Cloramina Concessionária Hemólise Fluoreto Concessionária Arritmia fatal e Anemia Cianotoxina Fonte de água Insuficiência hepática Nitrato Fonte de água Anemia Endotoxina Centro de diálise Reação pirogênica, Inflamação crônica Cobre Centro de diálise Hemólise, Náusea e Vômito Zinco Centro de diálise Hemólise, Náusea e Vômito 71 Cálcio Fonte de água Náusea e Vômito Magnésio Concessionária Náusea e Vômito Acesso Vascular para Hemodiálise A necessidade de acesso vascular para hemodiálise pode ser permanente (fístula arteriovenosa) ou temporária (cateter). Tipos de acesso vascular para hemodiálise: Fístula arteriovenosa (FAV): anastomose subcutânea de uma artéria e uma veia nativa adjacente, permitindo o fluxo direto da artéria para a veia. Tradicionalmente é realizada no punho entre a artéria radial e a veia cefálica, embora haja variações possíveis. É necessário aguardar aproximadamente seis semanas para que ocorra a dilatação da artéria que nutre a veia, promovendo sua dilatação. Vantagens: Possui maior durabilidade; Baixo índice de infecção e trombose; Promove liberdade de movimentos e ação; Maior segurança.Desvantagens: Isquemia de extremidade; Necessita de tempo para estar em condições de uso; Baixo fluxo e espasmo; Trombose venosa parcial ou total; Surgimento de aneurisma; Pode haver dor no momento da punção; 72 Hematomas. Orientações: Realizar exercícios de apreensão e extensão; Manter o local limpo e seco; Não usar o membro da FAV para carregar peso, aferir pressão arterial ou colher sangue para exames; Observar sinais de infecção; Lavar os braços antes de cada tratamento, com água e sabão, e secá- los com papel toalha. 1. Cateter: constitui um acesso temporário para hemodiálise que é estabelecido através da inserção percutânea em uma veia calibrosa (jugular interna, femoral e subclávia). Pode ser de duplo ou triplo lúmen e confeccionado de diferentes materiais. Em geral tem as vias de acesso diferenciadas por cor (Azul para venoso e Vermelha para arterial). Vantagens: Indolor durante a sessão de diálise; Produz baixa resistência venosa; Pode ser utilizado imediatamente após instalação. Desvantagens: Maior risco de infecção; Maior risco de trombose; Alto índice de recirculação. 73 www.biomedical.ind.br Dialisadores Os dialisadores são também chamados de “filtros” ou “capilares”. São constituídos por um cilindro dividido em duas partes: Câmara interna: nesta parte ficam as membranas capilares semipermeáveis que será preenchida com o sangue do paciente; Câmara interna: Esta parte abriga o dialisato para que este entre em contato com o sangue que flui na parte interna das membranas capilares semipermeáveis que flui em direção contrária, no interior da câmara interna. Características A capacidade de remoção de moléculas pequenas e médias através da membrana de um dialisador é chamada de clearance. Geralmente, o clearance disponibilizado pelo fabricante do dialisador é maior que o obtido na hemodiálise. O clearance é influenciado pelo tamanho da fibra do dialisador, que varia de 0.3 a 2.1 74 m². É necessário certificar a capacidade ou volume do enchimento (prime) de um dialisador para avaliar sua eficácia, jamais se deve utilizar um dialisador que, após ter sido reprocessado, tenha uma perda de 20% do prime. Acerca da capacidade de ultrafiltração é aconselhável que dialisadores com coeficiente de ultrafiltração (CUF – volume de mL/h de filtrado para cada mmHg de pressão transmembrana) superiores a 8.0, seja utilizado apenas em aparelhos de ultrafiltração Membranas As membranas existentes para os dialisadores possuem duas naturezas: Celulósicas: Cuprofane, acetato celulose, triacetato celulose; Sintéticas: Polisulfona, hemophan. São mais compatíveis com o organismo. Possuem ainda duas variações com relacionadas à função: Membranas de Alto Fluxo: São os dialisadores CA170, CA210 e F8. Possuem alta capacidade de ultrafiltração, porém o alto clearance de ureia nem sempre é observado. Esses dialisadores devem ser utilizados em máquinas de ultrafiltração controlada. Membranas de alta eficiência: são os dialisadores do tipo F60, F80 e CT 190. Possuem alto clearance por ter maior superfície e alta capacidade de ultrafiltração. Promovem grande remoção de drogas como, por exemplo, vancomicina. A membrana dialisadora funciona como corpo estranho e desencadeia reações adversas como reposta do organismo, entre elas: Reação de hipersensibilidade (mais relacionadas com o 1º uso do dialisador – Síndrome do primeiro uso); Alteração da função leucocitária; 75 Aumento do catabolismo proteico; Geração de precursor de amiloides (causador de síndrome do carpo e artropatias). Reutilização de Dialisadores A prática de reuso ou reutilização de dialisadores é adotada no mundo inteiro e deve ser executada corretamente para que os pacientes sofram os menores riscos possíveis. Pode ser de modo manual ou automático e o modo pelo qual é realizado define o número de vezes que esse processo poderá ocorrer (12 vezes para o reuso manual e 20 vezes no reuso automático). Cuidados com o dialisador Identificar o dialisador e as linhas com nome do paciente, data do 1º uso, HBS e HCV em caso positivo; Armazenamento dos sistemas em recipientes plásticos, individuais, em que constem o nome, o número de registro e o turno de cada paciente, além de marcadores para hepatite; Anotar em impresso próprio os dados referentes ao 1º uso, prime, CUF, e assinatura do técnico responsável pelo reuso, além de assinatura do paciente ou responsável (em cumprimento à portaria ministerial que trata dos reusos permitidos); Medir o prime inicial antes de utilizar o dialisador; Preencher o sistema com cloro sempre que for desprezá-lo. O reuso deve ser realizado pelo técnico de enfermagem devidamente experiente e treinado, com utilização de equipamentos de proteção individual (óculos, máscara de gases, avental de manga comprida, luvas de borracha, touca e bota de borracha). A sala de reuso para pacientes portadores de hepatite C deve ser separada. As características da sala de reuso são: 76 Boa iluminação; Ventilação satisfatória; Temperatura média de 25°C; Sistema de exaustão. As soluções químicas devem ser protegidas das fontes de calor e luz. Soluções esterilizantes As soluções esterilizantes utilizadas no reuso de dialisadores são: Formol: 3 a 4% ou a 1% quando armazenado em estufa; Ácido peracético: esta substância possui característica bactericida, virucida e esporicida, possui, portanto, alta eficácia no que diz respeito à esterilização do sistema. É a mais utilizada atualmente; Cloreto de sódio 24%: É utilizada no dialisador de pacientes alérgicos a outras substâncias. Tem ação bacteriostática, Técnica de reprocessamento A técnica adotada no reprocessamento de dialisadores é a descrita a seguir: Utilizar água tratada (observando a pressão de 20PSI); Desconectar as linhas do dialisador; Realizar flash de água na câmara interna do dialisador para retirar o excesso de sangue; Deixar o dialisador em ultrafiltração reversa por 20 minutos; Retirar o dialisador da ultrafiltração reversa e realizar outro flash de água na câmara interna; Medir o volume interno das fibras; Verificar o valor através de cálice graduado. Se o valor for abaixo de 80% do valor de prime inicial deve-se desprezar o dialisador, caso contrário prossegue-se o reuso; 77 Esterilizar o sistema com o preenchimento da solução esterilizante de escolha; Realçar a identificação do sistema e anotar os dados na ficha de reuso. Anticoagulação O uso de anticoagulantes no circuito extracorpóreo e de modo sistêmico visa evitar a formação de coágulos no acesso vascular do paciente, impedindo o bom fluxo sanguíneo necessário para a hemodiálise; e impedir a formação de coágulos no circuito extracorpóreo, evitando assim aumento nos custos e gastos de material, pois toda vez que o circuito coagula é necessário interromper a remoção de líquidos, o que compromete o tratamento e aumenta as perdas sanguíneas. Vários são os fatores que podem favorecer a formação de coágulos. A coagulação pode ocorrer no aceso vascular (cateter vascular) obstruindo um ou mais vasos de modo parcial ou total. A anticoagulação deve ser eficaz para não permitir a formação de coágulos, porém deve ser respeitada a dose indicada de acordo com o paciente e o tipo de circuito extracorpóreo, pois a anticoagulação excessiva ainda tem sido observada em cerca de 30% dos pacientes em hemodiálise. O regime de anticoagulação deve: Ser de fácil manuseio; Ser eficaz para deixar o sistema livre de coágulos durantetodo o dia; Prolongar a vida útil do dialisador; Diminuir as chances do aparecimento de outros efeitos colaterais. Quadro Fatores que favorecem a coagulação do circuito extracorpóreo Baixo fluxo sanguíneo Hematócrito elevado 78 Taxa de ultrafiltração alta Recirculação no acesso de diálise Transfusão de hemoderivado e de sangue intradialítico Infusão intradialítica de lipídios Uso de câmaras de gotejamento *Extraído de DAUGIRDAS, J.T. Manual de Diálise. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Seleção do anticoagulante A coagulação do sangue no circuito extracorpóreo tem relação com a adesão plaquetária e os anticoagulantes agem diretamente sobre a cascata de coagulação impedindo o agrupamento destas células. Como a cascata de coagulação é um fator individual e o tempo de coagulação varia de uma pessoa para outra, as doses de anticoagulante para manter o circuito pode variar assim como o tipo de anticoagulação empregada no sistema. Quadro Tipos de anticoagulação Heparina contínua Heparinização regional com protamina Heparina de baixo peso molecular Soro fisiológico (sem uso de droga anticoagulante) Citrato Prostaciclina (PGI2) Fonte: LIMA, E. X. Atualização de Enfermagem em Nefrologia. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004. 79 Outros fatores ligados ao circuito também podem interferir na seleção da anticoagulação adotada. Circuitos arteriovenosos são menores que venovenosos e, por essa razão, necessitam de doses menores de anticoagulantes para evitar a formação de trombos. Abaixo estão as características dos principais anticoagulantes em uso: Coagulação do circuito extracorpóreo O enfermeiro deve estar em constante monitoramento das características do circuito extracorpóreo além dos parâmetros registrados pela máquina de diálise para evitar que sinais de coagulação presentes ou registrados no painel da máquina de diálise passem despercebidos e torne mais difícil preservar o sistema e, como consequência, continuar a diálise. Controlar a adequação da taxa de infusão do anticoagulante adotado a partir de resultados laboratoriais é função do enfermeiro que deve, ainda, verificar a presença de coágulos nas linhas arterial e venosa. Caso seja verificado algum coágulo na linha arterial, deve-se interromper a continuidade da diálise desconectando o sistema sem realizar a devolução do sangue ao paciente. O circuito com o coágulo é desprezado e se reinicia o processo a partir da montagem de um novo circuito. É importante ressaltar que a administração de soluções no circuito de diálise deve estar restrita a anticoagulantes ou líquidos de reposição hídrico-eletrolítica. Coloração do sangue extremamente escura Estrias negras ou sombras no dialisador Espuma com formação de coágulo subsequente nas câmaras de gotejamento e na retenção venosa Enchimento rápido dos monitores do transdutor com sangue 80 *Extraído de DAUGIRDAS, J.T. Manual de Diálise. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Ações de Enfermagem É de responsabilidade do enfermeiro o monitoramento do sistema dialítico durante toda a sessão de diálise, bem como a avaliação das respostas do paciente frente à terapia adotada. Para isso, uma série de cuidados e medidas de controle deve ser observada, entre elas: Avaliação hemodinâmica; Integridade do circuito; Fluxo do dialisato; Fluxo sanguíneo; Monitoração do balanço de fluidos; Monitoração da ultrafiltração; Monitoração da reposição de volemia para o paciente; Controle da anticoagulação do circuito extracorpóreo. O enfermeiro deve ter em vista a importância do acesso vascular para a hemodiálise e, assim, realizar inspeção constante visando à detecção imediata do início do processo de coagulação nas linhas e/ou no dialisador. Uma vez aumentado o valor de pressão venosa, deve-se suspeitar de coagulação no circuito. Complicações Durante a Hemodiálise Apesar de todos os avanços feitos no campo da hemodiálise e de sua crescente melhora muitas complicações podem ocorrer durante uma sessão. As complicações mais comuns são: hipotensão, câimbras, febre e calafrios. Estas complicações podem estar relacionadas ao paciente ou ao equipamento. A detecção precoce de níveis pressóricos baixos durante a hemodiálise e a orientação do paciente para comunicar os sinais e sintomas que precedem a hipotensão devem ser os focos de controle da 81 pressão arterial associados aos parâmetros pré-diálise como o peso seco, a aferição da pressão arterial e a verificação de edemas. O aparecimento de febre e calafrios durante a hemodiálise pode estar ligado a pirogenia ou infecção. Neste caso, cabe ao enfermeiro investigar o possível foco da infecção inspecionando o acesso vascular, providenciando hemocultura, cultura do dialisato e da água para diálise. No que diz respeito às câimbras, geralmente ocorrem quando o paciente é submetido à ultrafiltração muito intensa para remoção do excesso de líquido ingerido no período interdialítico. Para a correção desta complicação administra-se solução salina isotônica. Outras complicações comuns são: Hematoma em FAV; Aneurisma em FAV; Fluxo sanguíneo arterial insuficiente em FAV; Fluxo sanguíneo diminuído ou obstrução em CDL; Reação ao peróxido de hidrogênio/formol; Reações alérgicas medicamentosas; Presença de exudação na inserção do CDL; Hipotensão arterial; Síndrome do primeiro uso; Síndrome do desequilíbrio hidroeletrolítico; Hipoglicemia; Precordialgia; Reações pirogênicas/bacteremias; Hipercalemia; Hipernatremia/hiponatremia; Hemólise; Hipertermia; Hipertensão; Edema agudo de pulmão; 82 Parada cardiorrespiratória; Embolia gasosa; Convulsão; Arritmia; Ruptura das fibras do dialisador; Ruptura das linhas do circuito extracorpóreo (arterial e/ou venosa); e Coagulação do sistema extracorpóreo. Ações de Enfermagem A assistência de enfermagem é importante na intervenção, na prevenção e na avaliação das possíveis complicações durante a hemodiálise, o monitoramento constante é fundamental na garantia da segurança do tratamento. Para isso, é necessário que o enfermeiro tenha uma base sólida de conhecimento que o permita identificar, atender e avaliar qualquer complicação decorrente da hemodiálise, além de adotar mecanismos para a prevenção destas complicações. A avaliação de parâmetros pré-diálise (do cliente e do equipamento), seguida da aplicação da prescrição, da evolução do tratamento e da avaliação do cliente após a terapia constituem as ações que a equipe de enfermagem deve desenvolver a cada sessão de diálise do paciente. Controle de Infecções na Unidade de Hemodiálise As infecções são a segunda maior causa de óbitos dos pacientes em diálise no Brasil e a principal causa de internação hospitalar de pacientes com doença renal crônica em programas de substituição da função renal. O grande número de infecções ocorre pela realização constante, e em grande número, de procedimentos invasivos além de distúrbios imunológicos, seja por fatores orgânicos (linfócitos e granulócitos em baixa por causa do acúmulo de toxina urêmica, desnutrição e deficiência de 83 Vitamina D) ou por bioincompatibilidade de materiais utilizados nos procedimentos. Os maiores agentes causadores de infecção em pacientes renais são microrganismos da flora bacteriana da sua própria pele que, eventualmente, contaminam equipamentos e soluções. Nos serviços de diálise pacientes e funcionários estão sujeitos à infecção. Sendo assim, a preocupação com a sua prevenção e controle é foco constante dos profissionais e gestores que devem seguiros protocolos estabelecidos na RDC nº 154, que é o Regulamento Técnico para o Funcionamento dos Serviços de Diálise publicado pelo Ministério da Saúde. Em seu texto há uma determinação para que todos os centros de diálise implementem um Programa de Controle e Prevenção de Infecções e Eventos Adversos, de acordo com a legislação do Programa de Controle de Infecção Hospitalar do Ministério da Saúde e sob a responsabilidade do médico ou do enfermeiro do serviço de diálise. Alguns fatores são importantes de serem observados pela equipe atendendo as rotinas estabelecidas para o controle e prevenção de infecções. Entre eles: o monitoramento da água (qualidade, tratamento, armazenagem e distribuição da água tratada), monitoramento das máquinas de diálise (verificação da eficácia dos processos de desinfecção automática e a desinfecção externa), avaliação da solução de diálise e observação do uso corretos de técnicas de prevenção de infecção (lavagem das mãos; uso de EPI e EPC). Infecção Relacionada à Contaminação das Soluções de Diálise Umas das complicações mais comuns oriundas da contaminação bacteriana da solução de diálise são as reações pirogênicas e as bacteremias por microrganismos gram-negativos (Tabela 8). Existe relação entre o número de bactérias presentes na água e nas soluções de diálise e as reações pirogênicas. Por esta razão, a contagem de bactérias na água que abastece a máquina de diálise deve ser menor que 200 UFC/mL e após o preparo da solução, menor que 2.000UFC/mL. Valores superiores a esse podem facilitar a produção de biofilme. 84 Tabela 8 Complicação Características Reações pirogênicas* - Tremores; - Febre; - Náuseas; - Hipotensão; - Mialgias; - Escurecimento súbito do sangue. - Febre; - Calafrios; Bacteremia/Sepse - Hipotensão; - Comprometimento do estado geral. *Reação em paciente afebril, sem manifestação de sinais ou sintomas pré- diálise. Infecção Relacionada ao Acesso Vascular para HD Infecção no acesso vascular representa uma das complicações mais comuns em pacientes submetidos à hemodiálise, sendo a maior responsável pelo aumento da morbidade, hospitalização, necessidade de mudança de acesso e, eventualmente, morte do paciente. Há aumento de infecção, principalmente, osteomielite, endocardite e bacteremia, quando o acesso vascular para hemodiálise é o cateter. A melhor forma de prevenção de infecção relacionada ao cateter é a redução na sua permanência, pela confecção da fístula arteriovenosa. A infecção relacionada ao cateter tem origem na contaminação do lúmen e posterior migração de microrganismos da flora da pele do próprio paciente pelo local de inserção colonizando a ponta do cateter e causando a infecção. A maioria das 85 infecções relacionadas ao cateter é causada por microrganismos da própria pela do paciente, especialmente, Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus aureus, porém estes não são os únicos causadores de infecção. Infecções virais em unidade de HD (I) Hepatites: os vírus da hepatite B (HBV) e da Hepatite C (HCV) são os mais prevalentes nos pacientes em terapia renal substitutiva. A identificação sorológica deve ser realizada a fim de identificar os pacientes portadores e isolá-los dos pacientes suscetíveis para prevenir novas contaminações, comumente chamada de soroconversão. (II) HBV: A exposição ao vírus da hepatite B ocorre devido ao reprocessamento de dialisadores, equipamentos, equipe e transfusões sanguíneas (quando indicadas) além da tendência à baixa imunidade associada à uremia. A prevenção da transmissão do vírus em pacientes submetidos à hemodiálise se faz através de implementação de medidas de precaução universal, além de vacinação de pacientes que iniciam o tratamento e apresentam HBsAg e anti-HBs negativos (controle do HBsAg e anti-HBs são feitos com base na legislação vigente, semestralmente). É recomendada a vacinação de todos os pacientes com doença renal crônica contra hepatite B. Para a imunização é realizada dose dupla da vacina, pois a resposta vacinal nesse grupo é baixa; (III) HCV: Atualmente a prevalência de hepatite C é maior entre os pacientes dependentes de hemodiálise do que na população em geral. Entre os fatores de risco estão o tempo de tratamento hemodialítico, transmissão via componentes sanguíneos, transmissão paciente-paciente através de equipamentos e materiais compartilhados. Não é recomendado o isolamento de pacientes com HCV. Recomenda-se que o reuso dos dialisadores de portadores do HCV seja em sala separada e as máquinas de diálise sejam desinfetadas entre cada turno além da adoção de medidas de precaução universal; (IV) HIV: os fatores de risco para esta infecção em pacientes em tratamento hemodialítico englobam as transfusões sanguíneas, transplante renal, contato sexual 86 ou compartilhamento de agulhas (em caso de abuso de drogas). Melhorias nas práticas no controle de infecções nos centros de diálise diminuíram a prevalência de HBV e HCV, porém a prevalência de pacientes infectados com HIV tem aumentado. Esse aumento se deve ao próprio aumento da população geral infectada pelo HIV, já que não há registro de transmissão horizontal desse vírus. Como medida de controle, o Ministério da Saúde recomenda o descarte do circuito de diálise após a sessão de hemodiálise. Ações de Enfermagem As ações de enfermagem no que tange ao controle de infecções em unidades de hemodiálise baseiam-se em estratégias de prevenção e controle, tais como: Lavagem das mãos antes e após qualquer procedimento, mesmo tendo utilizado luvas de procedimento; Lavagem das mãos entre um procedimento e outro realizado em um mesmo paciente; Lavagem das mãos com sabão neutro comum após procedimentos de rotina e com antisséptico para procedimentos de risco; Uso de luvas ao tocar sangue e fluidos ou itens potencialmente contaminados; Não reutilização de materiais descartáveis; Limpeza e desinfecção dos equipamentos utilizados pelo paciente; Uso de técnica asséptica rigorosa na implantação e manuseio do cateter; Uso de antisséptico visando à redução de microrganismos patogênicos (em geral clorexidina a 2%); Uso de máscara, avental e óculos de proteção ao realizar procedimentos onde haja risco de respingo de sangue e fluidos; Remoção de luvas imediatamente após seu uso; Reprocessamento de dialisadores de pacientes portadores de HCV em sala separada; 87 Descarte de dialisadores de pacientes portadores de HIV após cada sessão; Observação rigorosa de medidas de precaução padrão; Proteção de lesões com materiais cortantes; Identificação dos marcadores virais precocemente no paciente em fase pré-dialítica; Realização de exames de marcadores virais periódicos; Vacinação contra hepatite B (pacientes e equipe); Monitorização periódica do anti-HBs (pacientes e equipe); Limpeza mecânica antes de qualquer procedimento de desinfecção; Limpeza mecânica externa e desinfecção dos materiais mais utilizados; Desinfecção das máquinas entre os turnos de hemodiálise; Descarte de isoladores de pressão após as sessões; Desinfecção química de superfícies que tiveram contato com sangue e fluidos; Uso único para materiais descartáveis; Descarte ou reuso de dialisadores feito na própria máquina de hemodiálise para pacientes com sorologia desconhecida; Evitar superlotação da sala; As salas devem ter paredes e pisos laváveis e deve-se evitar o excesso de materiais para facilitar a higienização; Os membros da equipe não devem consumir alimentos ou bebidas na sala de diálise ou área potencialmente contaminada; Os membros da equipe devem ter suas roupas trocadas sempre que sesujarem e entre os turnos. Enfermagem na Hemodiálise A enfermagem começou a participar ativamente do processo de hemodiálise, como integrante da equipe multiprofissional que assiste aos pacientes renais, a partir 88 dos avanços feitos nessa área, antes exclusivamente médica. Para dar início ao tratamento é necessário o preparo do ambiente, da água para hemodiálise, dos equipamentos e material que será utilizado. Ao receber na unidade de hemodiálise o paciente faz-se uma breve anamnese e exame físico, para adequar a prescrição da diálise às suas condições atuais. Após isso, seguem-se as etapas descritas: Preparo do sistema de hemodiálise: ligar a máquina e realizar checagem de seu funcionamento, valores de condutividade e temperatura, montar o sistema de diálise, preencher câmara interna do dialisador e interna do circuito extracorpóreo com solução salina, checar remoção completa de ar do sistema e/ou resíduos de solução esterilizante com reagente específico; Preparo do paciente para hemodiálise: orientar o paciente a checar seu nome e registro gravado no material de diálise, verificar sinais vitais e peso seco do paciente, higienizar o braço da fístula (quando for esta a via de acesso vascular), acomodar o paciente de modo confortável à poltrona ou cama; Instalação do paciente: proceder à punção da fístula ou a abertura do cateter, coletar material para exames (se solicitado), anticoagular o paciente (se prescrito), conectar a linha arterial à via arterial do cateter ou fístula e a linha venosa à via venosa, ligar a bomba de sangue; Monitorizar o tratamento hemodialítico; Finalização do tratamento hemodialítico: verificar sinais vitais e pesar o paciente, desligar a bomba de sangue e devolver ao paciente o conteúdo do segmento pré-bomba do equipo arterial, administrar drogas prescritas e coletar exames antes de desconectar os equipos, desconectar os equipos do acesso do paciente encaminhando o circuito para o reprocessamento, retirar as agulhas do paciente (em caso de fístula como acesso vascular) e realizar hemostasia com gaze estéril por cinco minutos, orientar quanto aos cuidados no período interdiálise. 89 Enfermagem no Reuso de Dialisadores O enfermeiro deve atentar para a realização correta do reprocessamento de dialisadores, o reuso, obedecendo ao número estabelecido pelo Ministério da Saúde de reutilização de dialisadores conforme a técnica de reprocessamento empregada (até 12 vezes para reuso manual e até 20 vezes para reuso automático), desde que seja respeitado o mínimo de 80% do seu volume de enchimento (priming). Deve-se ainda efetuar controle do número de reutilização com registro em ficha própria e assinatura do paciente ou responsável. Além disso, devem-se realizar exames laboratoriais periódicos estabelecidos pela Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA (RDC 154). 1. Exames de rotina: distribuídos em periodicidades diferentes: (a) Mensais: medição do hematócrito, dosagem de hemoglobina, ureia pré e pós-sessão de diálise, potássio, cálcio, fósforo, transaminase glutâmicopirúvica (TGP), glicemia para pacientes diabéticos e creatinina durante o primeiro ano; (b) Trimestrais: hemograma completo, medição da saturação da transferrina, dosagem de ferritina, ferro sérico, proteínas totais e frações fosfatase alcalina; (c) Semestrais: parato-hormônio, anti-HBs, HBsAg e anti-HCV (para pacientes suscetíveis e com resultado negativo anterior), dosagem de creatinina após o primeiro ano; (d) Anuais: colesterol total e fracionado, triglicérides, dosagem de anticorpos para HIV e do Nível sérico de alumínio, radiografia de tórax. Funções do Enfermeiro 90 O enfermeiro deve estar em constante atualização para possibilitar melhorias na assistência à clientela em hemodiálise. Desenvolver ações no âmbito assistencial, administrativo, educativo e de pesquisa. Quadro Área de atuação Ações Assistencial Orientar paciente e familiares para o autocuidado e tratamento; Realizar encaminhamento a outros profissionais sempre que houver necessidade; Utilizar o processo de enfermagem em todas as suas etapas na assistência ao paciente em hemodiálise; Prevenir, identificar e tratar complicações que possam ocorrer durante a hemodiálise juntamente com a equipe médica; Realizar vigilância epidemiológica (em conformidade com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar); Estabelecer normas e rotinas para prevenção e controle de infecções na unidade de diálise; Elaborar normas e protocolos da equipe de enfermagem, visando garantir eficácia e qualidade no tratamento; Gerenciar a realização de exames laboratoriais de rotina; Orientar e supervisionar os procedimentos de desinfecção de equipamentos e reprocessamento de dialisadores; Administrativa Participar da monitorização do controle da qualidade da água e das soluções para diálise; Realizar atividades interdisciplinares para a troca de informações; 91 Educativa Pesquisa Realizar técnicas e procedimentos não-delegáveis ao pessoal técnico; Participar do controle da qualidade do tratamento dialítico, em conjunto com a equipe multiprofissional. Coordenar e comandar a equipe de enfermagem; Elaborar a escala de folga, férias e atividades de pacientes; Realizar reuniões com a equipe de enfermagem sob sua supervisão; Participar do planejamento da unidade; Implementar programas de melhoria da qualidade da assistência; Gerir a necessidade material da unidade; Controlar condições de funcionamento dos equipamentos da unidade; Controlar medicações e entorpecentes; Participar da avaliação de produtos novos em nefrologia; Cumprir as normas para funcionamento dos Serviços de Terapia renal Substitutiva. Realizar programas educativos para desenvolvimento dos profissionais de enfermagem; Supervisionar a equipe de enfermagem; Avaliar o desempenho da equipe de enfermagem; Participar e estimular a participação em eventos científicos; Desenvolver programas educativos destinados aos pacientes e familiares. 92 Realizar e participar no desenvolvimento de projetos de pesquisa. Funções do Técnico de Enfermagem O técnico de enfermagem é responsável pela execução da prescrição médica e de enfermagem com vistas a dar assistência ao paciente renal em hemodiálise, proporcionando um tratamento individualizado, seguro e eficiente. O técnico deve oferecer através de sua assistência higiene, conforto na instalação, monitorização e retirada do paciente da máquina onde realiza tratamento hemodialítico, visando uma assistência humanizada, atendendo ao paciente de modo integral. Quadro Ações do Técnico de Enfermagem Auxiliar na elaboração de escala de tarefas; Auxiliar no controle e no uso racional de roupas, materiais utilizados pela enfermagem e pela equipe multiprofissional de cuidado ao paciente renal; Auxiliar na conservação e no controle do patrimônio da unidade; Operar equipamentos da unidade de diálise com cautela, desde o preparo para diálise, monitorização transdialítica e desinfecção pós- procedimentos; Seguir as normas de biossegurança; Executar ações de assistência de enfermagem ao paciente renal, com exceção àquelas privativas do enfermeiro * Adaptado de BARROS, E. et al. Nefrologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. Porto Alegre, 2008. 93 Sistematização da Assistência de Enfermagem na Hemodiálise A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é considerada pelo Conselho Federal de Enfermagem como atividade privativa do enfermeiro e decaráter obrigatório. Deve ser abrangente, sendo presente em todas as áreas de atuação do enfermeiro, seja ela pública ou privada. A SAE deve ser baseada em um referencial teórico que permita orientar a coleta de dados sobre o estado de saúde dos pacientes, conduza aos diagnósticos de enfermagem, ajude a estabelecer as prioridades, fundamente as ações de enfermagem e forneça parâmetros avaliativos. A SAE consiste em cinco etapas sequenciais e relacionadas entre si: Histórico de enfermagem: primeira etapa do processo de enfermagem onde é realizado o levantamento de dados do paciente. Caracteriza-se pelo levantamento de dados, subjetivos e objetivos, do paciente, da família e de outros profissionais, através de entrevista em roteiro sistematizado, exame físico e exames laboratoriais ligados à função renal. É uma etapa fundamental para o processo de enfermagem, pois a avaliação dos dados obtidos permitirá a identificação de diagnósticos de enfermagem, bem como a escolha das intervenções que serão adotadas a partir das necessidades dos pacientes, além da avaliação dos resultados esperados; Diagnóstico: aparece em três contextos: como processo de raciocínio diagnóstico, como sistemas de classificação e como uma das etapas do processo de enfermagem. Podem ser reais (Tabela 8) ou de risco (Tabela 9); Planejamento: determina as estratégias e definição dos resultados esperados diante das ações de enfermagem prestadas por um período determinado; Implementação: é a execução das estratégias de intervenção de enfermagem definidas no planejamento; 94 Avaliação: também conhecida por evolução, é o registro das modificações do estado geral do paciente diante das intervenções de enfermagem empregadas. Deve-se registrar o resultado da avaliação em prontuário. A utilização de classificações padrão pode mostrar uma elevada eficácia na padronização de resultados e avaliação dos resultados das intervenções empregadas. As classificações mais difundidas são: NANDA (North American Nursing Diagnosis Classification): classificação para os diagnósticos de enfermagem; NIC (Nursing Interventions Classification): classificação para as intervenções de Enfermagem; NOC (Nursing Outcomes Classification): classificação de resultados esperados. Tabela 8 Partes do diagnóstico real Diagnóstico real Definição Característica definidora Fator Relacionado Excesso no volume de líquidos Retenção aumentada Edema periférico ou facial, de líquidos isotônicos dispneia, estertores, distensão da veia jugular. Mecanismo regulador comprometido Alteração na perfusão tissular renal Estado em que o indivíduo apresenta uma diminuição na nutrição e oxigenação celular. Oligúria ou anúria, hematúria, elevação nas taxas de ureia e creatinina sanguíneas, pressão sanguínea alterada. Redução do fluxo sanguíneo arterial e/ou venoso 95 Tabela 9 Partes do diagnóstico de risco Diagnóstico de Risco Definição Fator Relacionado Risco de infecção Estado em que o indivíduo está em risco aumentado para ser invadido por microrganismos patogênicos Procedimento invasivo (Cateter duplo lúmen, FAV) Risco para tensão de vida ao papel do cuidador É o estado em que o indivíduo está em risco para demonstrar ou sentir dificuldades para realizar as atividades de cuidado requeridas Sistemas de apoio inadequados ou insuficientes. Falta de recursos financeiros e materiais para o cuidado. Indicações O Transplante Renal (Tx) surge como opção dentre as terapias renais substitutivas quando há perda gradual e irreversível da função renal, provocada pela insuficiência renal crônica em estágio terminal. O Tx apresenta-se hoje como a melhor forma de terapia da doença renal, na fase 5, em pacientes selecionados. O primeiro Tx realizado em humanos ocorreu na Ucrânia, em 1933, porém, não obteve sucesso pela ausência de funcionamento do enxerto. Experimentos seguiram na França e nos Estados Unidos, durante a década de 50, sem uso de medicações para prevenção da rejeição do enxerto e somente um paciente sobreviveu ao procedimento. No Brasil, o primeiro transplante com doador vivo foi realizado no Rio 96 de Janeiro em 1964, e com doador cadáver, em 1967, no interior do estado de São Paulo. O primeiro esquema de imunossupressores, com vistas à proteção e não- rejeição dos enxertos surgiu em 1963 com a associação de corticosteroides e azatropina e seguiu até 1980, quando a ciclosporina modificou radicalmente os transplantes de órgãos. A partir de então houve o aprimoramento da terapia de imunossupressão, o que levou à diminuição das rejeições e ao aumento da vida média do enxerto transplantado, ampliando o tempo de vida do receptor. Porém, a toxicidade dessas drogas passou a ser vista como um problema e a monitorização terapêutica dos imunossupressores passou a ocupar um lugar imprescindível no bom prognóstico dos procedimentos de pós-enxerto de órgãos. Para a realização do transplante há dois grupos de doadores: vivos ou cadáveres. Para doadores vivos a legislação brasileira permite a doação de cônjuges ou parentes até quarto grau. Há ainda outros casos possíveis de doação diferentes desses, porém é necessária autorização judicial para a realização do transplante. Para doação de órgão proveniente de cadáver é necessário o diagnóstico de morte encefálica por médico que não pertença à equipe do transplante. São observados melhores resultados a curto e longo prazo em pacientes transplantados que obtiveram o enxerto de doadores vivos, exigindo terapia imunossupressora menos agressiva, maior rapidez no início do funcionamento do enxerto, além de diminuição do tempo de espera por um órgão proveniente de cadáver. As contraindicações para o transplante podem ser absolutas ou relativas, dependendo de sua importância e possibilidade de correção pré-cirúrgica. Quadro Contraindicações para o transplante renal Contraindicações Absolutas 97 - Tumor maligno; - Recusa do paciente; - Distúrbio psiquiátrico; - Doença neurológica grave; - Doença pulmonar avançada; - Doença hepática progressiva; - Doença cardíaca avançada; - Infecção incurável; Contraindicações Relativas - Doença renal com levado índice de recorrência; - Doença do trato urinário inferior; - Doença crônica cardiopulmonar; - Doença aortoilíaca ou venosa ilíaca-cava. No procedimento cirúrgico envolvido no receptor, o rim doado é colocado na fossa ilíaca do lado oposto ao rim que foi retirado, a veia ilíaca externa é utilizada para anastomose com a veia renal, bem como a artéria renal é anastomosada com a artéria ilíaca interna ou externa. O ureter do doador é anastomosado à bexiga do receptor. Alguns fatores de risco são considerados na decisão da realização do procedimento cirúrgico para transplantes renal. 98 www. kidney.niddk.nih.gov Avaliação Pré-operatória Na avaliação pré-operatória do paciente que é candidato a receptor são levados em consideração aspectos como: Tempo de diálise; História do paciente; Fatores sanguíneos (hematócrito, coagulação, bioquímica, ABO e fatores imunológicos); Endoscopia digestiva; 99 Ultrassonografia abdominal; Radiografia do tórax; Cistoscopia; Urodinâmica; EAS; Cultura e antibiograma de secreção nasal; Expectativa de vida. Tabela 12 Fatores de risco para Tx Natureza Fator de risco Clínica Idade menor que 5 ou maior que 60 anos; Doenças sistêmicas; Doença gastrintestinal prévia; Obesidade ou desnutrição grave; Doença renal recorrente Doença maligna prévia. Cirúrgica Refluxo vesicoureteral; Deformidades vesicais; Hipertrofia prostática; Transplantes prévios; Doença vascular periférica. Imunológica Transplantes prévios; Pacientes hipersensibilizados; Pacientes imunologicamente hiper- responsivos; Transplantes conjugados de rim e pâncreas. 100 *Extraído de BARROS, E. Nefrologia: rotinas, diagnósticos e tratamento. Porto Alegre: 2008. Seleção do Receptor A seleção do paciente para receptor de transplante renal pode ser de doador cadáver ou doador vivo. Doador cadáver Nesse tipo de transplante a seleção para receptor de transplante considera as barreiras imunológicas e critérios clínicos dos candidatos ao transplante. A escolha do receptor obedece à lista de espera, de caráter estadual, de acordo com critérios legais estabelecidos pelo Governo Federal. O primeiro critério observado é o sistema ABO e são então selecionados os receptores com compatibilidade ABO com o doador. A seguir a tipagem HLA do doador é comparada ao dos receptores, que possuem tipagem realizada previamente. A partir de então é realizada uma pontuação para cada doador baseando-se na compatibilidade HLA com o doador. Havendo empate nesta pontuação os receptores são reclassificados de acordo com os critérios a seguir: tempo de espera, idade, presença de diabetes e hipersensibilizados. São então selecionados dez candidatos a receptor para cada rim doado. Logo após a seleção ocorre a realização de prova cruzada que consiste em um teste de microlinfocitotoxicidade para detectar anticorpos contra antígenos HLA do doador, presentes no soro do receptor. Estes anticorpos são geralmente encontrados em pacientes já transplantados, gestantes e pacientes que receberam transfusão sanguínea. 101 Doador vivo Como já visto, é previsto na lei de transplantes em vigor a doação de rim consanguíneo até o quarto grau ou cônjuge respeitando a compatibilidade no grupo sanguíneo ABO. Havendo mais de um doador, elege-se o que possui maior compatibilidade HLA com o receptor. Nesses casos, também é realizada a prova cruzada nas fases iniciais da avaliação do doador e pré-transplante. Protocolo de avaliação do receptor de rim de doador cadáver I. Identificação a) Nome: b) Sexo: c) Idade: d) Doença de base: e) Tempo e modalidade de diálise: f) Grau de parentesco do doador: VIII. II. História e Exame físico Nº de transfusões prévias: Data da última transfusão: Nº de gestações: Nº de transplantes prévios: XIII. III. HLA, reatividade contra painel e prova cruzada pré-transplante XIV. IV. Avaliação dos pacientes em lista de espera XV. V. Avaliação e manejo pré-transplante imediato Hemograma. Plaquetas, tempo de protrombina, KTTP, tempo de coagulação, glicemia, ureia, creatinina, sódio, potássio, cloro, reserva alcalina, urocultura, líquido peritoneal (CAPD), anti- CMV, anti-HIV, HBsAg, anti-HCV, HTLV I, ECG, Raio-X de tórax. Planejamento da diálise de acordo com os resultados da bioquímica, condições clínicas e tempo decorrido desde a última análise. XVII. VI. Eventuais 102 XVIII. I. Identificação a) Nome: b) Sexo: c) Idade: d) Doença de base: e) Tempo e modalidade de diálise: f) Grau de parentesco do doador: XXV. II. História e Exame físico Nº de transfusões prévias: Data da última transfusão: Nº de gestações: Nº de transplantes prévios: 103 XXX. III. Avaliação imunológica a) Tipagem ABO b) Prova cruzada inicial c) Tipagem HLA d) Complemento (C3 e C4) e) Prova cruzada pré-transplante XXXVI. IV. Avaliação hematológica e bioquímica Hemograma, plaquetas, protrombina, KTTP, tempo de coagulação, glicemia de jejum, ureia, creatinina, sódio, potássio, reserva alcalina, cálcio, fósforo, albumina, colesterol, triglicerídeos, ALT, AST, gama GT e fosfatase alcalina. a) HbsAG (continua) (continuação) b) Anti-HCV c) Anti-HIV d) VDRL e) HTLV I f) Chagas g) IgG/IgM toxoplasmose h) Anti-CMV i) Urocultura j) Raio-X de tórax k) Exame de fezes (três amostras) l) Líquido peritoneal (cultura) LIII. VI. Avaliação TGI (Indicação clínica) a) Endoscopia b) Ecografia via biliar c) Enema opaco/colonoscopia LVII. VII. Avaliação urológica a) Clínica b) Uretrocistografia c) Cistoscopia LXI. VIII. Avaliação cardiovascular a) ECG 104 b) Ecografia c) Cintilografia miocárdica d) Cateterismo cardíaco LXVI. IX. Avaliação ginecológica LXVII. X. Avaliação odontológica LXVIII. XI. Avaliação otorrinolaringológica LXIX. XII. Avaliação psiquiátrica e de nível intelectual LXX. XIII. Eventuais 105 Avaliação do doador vivo LXXI. I. Identificação a) Nome: b) Sexo: c) Idade: d) Grau de parentesco do doador: LXXVI. II. História e Exame físico LXXVII. III. Avaliação imunológica a) Tipagem ABO b) Prova cruzada inicial c) Tipagem HLA d) Prova cruzada pré-transplante LXXXII. IV. Avaliação hematológica a) Hemograma b) Plaquetas c) Ácido úrico d) Glicemia e) Colesterol f) Triglicerídeos g) Cálcio h) Fósforo i) Exame de urina j) Proteinúria de 24 horas k) DCE XCIV. V. Avaliação infecciosa a) HBsAg b) Anti-HIV c) VDRL com teste d) Sorologia Chagas e) IgG/IgM toxoplasmose 106 f) Anti-CMV g) Urocultura h) Anti-HCV i) HTLV I CIV. VI. Avaliação radiológica a) Raio X de tórax b) Ecografia abdominal c) Urografia excretora d) Aortografia com arteriografia renal seletiva bilateral CIX. VII. Eletrocardiograma CX. VIII. Avaliação psiquiátrica CXI. IX. Eventuais CXII. I. Identificação a) Nome: b) Idade: c) Sexo: d) Cor: e) Peso: f) Altura: CXIX. II. Etiologia e avaliação da morte encefálica Causa da lesão cerebral: a) Pré-requisitos para o diagnóstico de morte encefálica: Paciente comatoso no respirador. Verificação da parada total e irreversível da atividade do tronco e hemisférios cerebrais. Diagnóstico positivo de dano estrutural encefálico irremediável e irreversível. b) Potenciais exclusões do diagnóstico de morte encefálica: Hipotermia. Distúrbio metabólico ou endócrino grave. Intoxicação exógena grave CXXIX. III. Exame neurológico 107 Deve ser realizado e registrado em duas ocasiões por profissionais diferentes (intensivista e neurologista ou neurocirurgião) que não sejam integrantes da equipe de remoção ou transplante. Essas duas avaliações devem ser realizadas em um intervalo mínimo de tempo, de acordo com a faixa etária, conforme listado abaixo: 7 dias – 2 meses incompletos 48 horas 2 meses – 1 ano incompleto 24 horas 1 ano – 2 anos incompletos 12 horas Acima de 2 anos 6 horas CXXXVI. Elementos do exame neurológico a) Coma aperceptivo b) Pupilas fixas e arreativas c) Ausência de reflexo corneopalpebral d) Ausência de reflexos oculocefálicos e) Ausência de resposta às provas calóricas f) Ausência de reflexo da tosse (continua) (continuação) g) Apneia * Os elementos do exame devem ser positivos nas duas avaliações para o diagnóstico de morte encefálica. CXLVII. IV. Exames complementares O exame complementar visa demonstrar, de forma inequívoca, a ausência de circulação cerebral ou de atividade elétrica ou metabólica cerebral. Devem-se observar as seguintes disposições em relação ao tipo de exame e a faixa etária: a) Pacientes com 2 anos ou mais: um exame entre angiografia, cintilografia radioisotópica, Doppler transcraniano, monitorização da pressão intracraniana, tomografia computadorizada com xenônio, SPECT, eletroencefalograma, PET ou extração cerebral de oxigênio. b) Pacientescom 1 a 2 anos: qualquer um dos exames citados acima. Para encefalograma, há necessidade de registro com intervalo mínimo de 12 horas. c) Pacientes com 2 meses a 1 ano incompleto: dois encefalogramas com intervalo mínimo de 24 horas. d) Pacientes com 7 dias a 2 meses incompletos: dois encefalogramas com intervalo mínimo de 48 horas. 108 *Protocolos extraídos de BARROS, E. Nefrologia: rotinas, diagnósticos e tratamento. Porto Alegre, 2008. Preparo do Paciente Anterior à cirurgia do transplante renal o receptor deve receber suporte dialítico, seja hemodiálise ou diálise peritoneal. Após a sessão, quando o paciente está estabilizado e com parâmetros laboratoriais e clínicos aceitáveis prossegue-se o transplante renal. Existe uma modalidade de transplante que não exige suporte dialítico, é o transplante pré-emptivo. A necessidade de transfusões sanguíneas prévias ao transplante é uma prática abandonada atualmente em virtude da diminuição de processos infecciosos pós-transplante pela disponibilidade de imunossupressores mais potentes. No preparo do paciente para o transplante renal pode haver necessidade de cirurgias pré-transplante para preparar o trato urinário corrigindo qualquer obstrução que possa haver com vistas a facilitar e melhorar a implantação do enxerto. Cirurgias prétransplante podem ser indicadas ainda nos casos de infecção renal persistente, rins policísticos de grande volume que não permitem a implantação do enxerto, uropatia obstrutiva grave, tumores renais bilaterais. No pré-operatório imediato deve- se tratar qualquer foco infeccioso que possa haver no paciente receptor (cáries dentárias, sinusite, otite, infecção ginecológica, etc.). CLIV.VI. Termo de declaração de morte encefálica CLV. VII. Critérios de elegibilidade e exclusão a) Contraindicações relativas b) Contraindicações absolutas 109 Complicações do Transplante Renal As principais complicações imediatas envolvidas no transplante renal são a disfunção inicial do enxerto e a rejeição ao enxerto. Disfunção Inicial do Enxerto A Necrose Tubular Aguda (NTA) é caracterizada pela ausência de função do enxerto, sendo necessária a realização de sessões de hemodiálise na primeira semana após o transplante. É a principal causa de disfunção inicial do enxerto. A NTA é comum, sendo vista frequentemente em receptores de rins de doadores cadáveres. Os principais fatores de risco são: Estado e manejo do doador; Qualidade da nefrectomia; Tempo de isquemia; Tempo das anastomoses vasculares; e Estado de hidratação do receptor. A NTA se configura com uma complicação pela necessidade de hemodiálise no pós-operatório, pelo aumento na dificuldade para o diagnóstico de rejeição aguda e nefrotoxicidade por drogas imunossupressoras, necessidade maior de procedimentos diagnósticos invasivos e elevação no período de internação hospitalar. Rejeição do Enxerto A rejeição ocorre pela formação de anticorpos anti-HLA ou, ainda, incompatibilidade nos antígenos desse sistema. A ativação de linfócitos T CD4+ pelos antígenos HLA do doador é iniciada logo após o transplante e leva à estimulação de mecanismos envolvidos na destruição do corpo estranho, neste caso o enxerto. Nesses mecanismos há o predomínio de anticorpos, responsáveis pela rejeição com 110 componente humoral; e de células (linfócitos T, monócitos e macrófagos), responsáveis pela rejeição com componente celular. Tipos de Rejeição 1. Rejeição Aguda: Representa um tipo frequente de rejeição que pode ocorrer a qualquer tempo do período pós-transplante, sendo crítico o período que engloba da primeira semana até os três primeiros meses após o transplante. As drogas de imunossupressão empregadas no tratamento podem alterar sua apresentação clínica, principalmente se forem drogas potentes como a ciclosporina A ou o tacrolimus. Os sinais e sintomas clássicos envolvidos neste tipo de rejeição são: Febre; Hipertensão arterial; Ganho de peso; Aumento do volume do enxerto; Dor no enxerto; Diminuição do volume urinário; e Aumento da creatinina sérica. Ao exame histológico se observam achados de nefrite intersticial com edema e infiltrados corticais por linfócitos, linfoblastos, macrófagos e eosinófilos. Pode haver focos de necrose nos túbulos. A agressividade dos infiltrado é dada pela invasão da parede de túbulos e/ou vasos sanguíneos por leucócitos mononucleados (tubulite e/ou vasculite). Outros sinais de mau prognóstico quanto à possibilidade de reverter a rejeição do enxerto são: Necrose fibrinoide de pequenas artérias e arteríolas; Agregados plaquetários; Trombos de fibrina. Para este tipo de rejeição há terapia efetiva. 111 2. Rejeição Hiperaguda: é a forma de rejeição mediada por anticorpos antiHLA, que são geralmente detectados na prova cruzada. Nesse caso o rim é rejeitado imediatamente após sua vascularização ou dentro das 24 horas seguintes ao procedimento. Essa rejeição ocorre por conta de anticorpos pré-formados do receptor aos antígenos HLA presentes no endotélio vascular do enxerto, que ativa o sistema complemento e coagulação intravascular. No exame histológico é possível verificar a presença de trombos plaquetários nos glomérulos e capilares dos túbulos. Passado algum tempo ocorre o infarto renal. Essa complicação também pode ocorrer quando o sistema ABO não é obedecido. Os anticorpos anti-HLA que podem estar presentes no receptor antes mesmo do transplantes são decorrentes de exposição à aloantígenos em virtude de transfusão sanguínea, gestação e/ou transplantes prévios. Para este tipo de rejeição não existe terapia efetiva, porém, a detecção precoce destes anticorpos através da realização da prova cruzada pode evitar o quadro dramático que envolve a rejeição do enxerto. 3. Rejeição Acelerada: é uma forma de rejeição de baixa incidência que ocorre entre o segundo e o quinto dia após o transplante. Acontece devido à resposta imune secundária e apresenta um componente celular, mas é mediada de forma predominante por anticorpos. Configura-se como uma das causas de perda precoce do enxerto. 4. Rejeição Crônica: na rejeição crônica do enxerto, também conhecida como nefropatia crônica do enxerto, é possível notar dois componentes: Imunológico: resultante da incompatibilidade HLA, com presença de mecanismos humorais e ocorrências de rejeição aguda; 112 Não-imunológico: secundário à HAS, hipertensão/hiperfiltração glomerular, isquemia renal, nefrotoxicidade por drogas, hiperlipidemia, e infecção por citomegalovírus. O componente imunológico é o responsável pela rejeição crônica que ocorre nas fazes mais tardias após a realização do transplante. Ao exame histológico são encontradas manifestações após três a quatro meses da realização do enxerto. As alterações clínicas são: Deterioração da função renal; Diminuição do tamanho do enxerto; HAS; e Proteinúria. A característica predominante da rejeição crônica é a alteração vascular oclusiva, que causa isquemia do tecido do rim. Ao exame histológico é possível notar alterações em diferentes regiões. (Tabela 13): Tabela 13 Alterações Características Glomerulares Diminuição do tamanho dos glomérulos; Espessamento da membrana basal; Hialinização e fibrose intracapsular. Vasculares Proliferação da camada íntima e alterações degenerativas da camada média com duplicação e interrupção da lâmina elástica interna e obliteração dos capilares peritubulares. 113 Tubulointersticiais Atrofia tubular com obliteração luminal; Fibrose intersticial; Focos de infiltração por linfócitos mononucleados.Complicações Tardias Inúmeras complicações podem surgir ou evoluir de maneira tardia em pacientes que foram submetidos a transplante renal. Elas estão associadas a fatores próprios do enxerto (rejeição crônica) e do paciente. Doença cardiovascular: representa uma importante causa de morbimortalidade em paciente transplantados devido a complicações cardiovasculares influenciadas por doenças pré-existentes como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e doença vascular; Dislipidemias: possui prevalência elevada, englobando cerca de 80% dos pacientes transplantados. Em geral surge de maneira precoce e segue durante toda a sobrevida do enxerto. Atribui-se aos corticosteroides e à ciclosporina a responsabilidade pelo surgimento da dislipidemia, pois induzem o aumento da produção hepática de lipoproteínas e triglicerídeos, além de diminuírem o catabolismo de partículas periféricas; Doença hepática: ocorre principalmente por toxicidade de drogas ou infecções por vírus hepatotrópicos e constitui uma complicação importante pós-transplante; Neoplasias: sua incidência acomete cerca de 5% dos pacientes póstransplante; os fatores de risco estão relacionados à terapia imunossupressora e são: exposição ao sol, raça branca, idade avançada e sexo masculino; observa-se maior incidência de neoplasias nos lábios, 114 linfomas, carcinoma de cérvice uterina e sarcoma de Kaposi. O prognóstico, em geral, é ruim, e o principal tratamento é a excisão cirúrgica; Diabetes mellitus: o surgimento do diabetes mellitus pós-transplante é verificado em cerca de 20% dos pacientes, sendo a hiperglicemia assintomática a forma mais comum de apresentação da doença; acreditase que muitas dessas variações ocorrem em função da terapia imunossupressora, em especial os corticosteroides que atuam reduzindo o número e a afinidade dos receptores de insulina, o que causa uma resistência periferia à sua ação; o tratamento consiste basicamente em dieta, podendo, mais raramente, haver necessidade do uso de insulina e, de modo geral, sendo utilizado hipoglicemiantes orais; Disfunção renal tardia: pode ocorrer eventualmente e envolve causas: Vasculares: estenose de artéria renal; Obstrutivas: obstrução no trato urinário; Nefropatias: doença crônica do enxerto; Glomerulopatias: a recorrência de glomerulopatias primárias ou secundárias. Neste caso, deve-se considerar a possibilidade de rejeição aguda tardia do enxerto devido a falhas na terapia de imunossupressão por não-adesão do paciente; esta representa uma importante causa de perda do enxerto, principalmente, em pacientes jovens de baixo padrão socioeconômico; o Infecciosas: pielonefrite; uso de agentes nefrotóxicos como contraste ou fármacos. Complicações Infecciosas Infecção do trato urinário: principal causa de infecção no transplantado renal, acometendo cerca de 80% dos pacientes. O alto índice de incidência é devido ao uso de sondas vesicais, trauma cirúrgico, imunossupressão e refluxo vesicoureteral; 115 Infecção pulmonar: representa uma forma importante de infecção nos pacientes transplantados, acometendo 20% destes indivíduos. Suas características são: infiltrado pulmonar e febre. O diagnóstico precoce é fundamental para a sobrevida do paciente; Infecção do sistema nervoso central: ocorrem geralmente no primeiro anos pós-transplante e seus sinais e sintomas são: febre e cefaleia, em geral, sem sintomatologia sistêmica. Quatro padrões clínicos são encontrados comumente: meningite aguda, meningite subaguda ou crônica, disfunção neurológica focal e demência progressiva. Complicações cirúrgicas As complicações cirúrgicas envolvidas no transplante renal estão diretamente relacionadas ao processo cirúrgico ou a outras complicações clínicas, que exigem intervenção cirúrgica. Vasculares: as complicações vasculares estão relacionadas a índices significativos de morbimortalidade em pacientes transplantados. Elas atingem cerca de 5% dos pacientes transplantados e suas manifestações envolvem: Trombose vascular: causada por erro técnico ou aterosclerose dos vasos do doador ou receptor. Quando não detectada pode levar à perda do enxerto; Hemorragia: rara, sendo originada de sangramento de pequenos vasos não-ligados ou, mais incomum, por problemas na anastomose vascular; Ruptura do enxerto: pode ocorrer devido necrose tubular aguda, trombose da veia renal ou rejeição aguda; Tromboflebite: complicação rara que ocorre, mais frequentemente, a partir do quarto mês do transplante. É caracterizada pelo edema persistente na perna ipsilateral ao enxerto; Estenose da artéria renal: costuma estar localizada na anastomose ou diretamente após e os fatores de risco para seu desenvolvimento incluem erros 116 técnicos, lesões do endotélio vascular do doador e angulação de artéria excessivamente longa. Quadro Circunstâncias que influenciam no surgimento de complicações Uso de fármacos imunossupressores Presença de diabetes mellitus Doença vascular periférica Idade superior a 50 anos Anormalidades do trato urinário superior Prostaciclina (PGI2) Urológicas: são as complicações mais frequentemente observadas em pacientes transplantados, acometendo cerca de 15% deles. Suas manifestações são as seguintes: Obstrução urinária: mais comum no pós-operatório imediato devido à grande quantidade de coágulos na bexiga neste período, o que ocasiona o problema. Outras causas são: infarto do ureter, compressão pelo cordão espermático, compressão da extremidade distal ureteral do túnel vesical e angulação do ureter; o Linfocele e extravasamento de linfa: ocorrem pela insuficiência no ligamento dos vasos linfáticos que circundam a veia e a artéria ilíaca causando extravasamento da linfa para a loja renal ou drenagem da linfa pela ferida operatória ou drenos. Enfermagem no Transplante Renal 117 Enfermagem no transplante com doador vivo A enfermagem exerce fundamental papel no transplante, desempenhando ações em todas as esferas descritas a seguir. Cuidados de enfermagem no pré-operatório A equipe de enfermagem é responsável pela coleta de exames de sorologia e pré-operatórios e encaminhamento do material para análise laboratorial. Além disso, deve providenciar para que haja reserva de sangue para a cirurgia e para que sejam realizados eletrocardiograma e radiografia de tórax. Cabe ainda a equipe de enfermagem providenciar reservas no centro cirúrgico e na unidade de terapia intensiva. Deve ser feita ainda uma análise da arteriografia renal do doador (quando doador vivo) para determinar qual dos órgãos será removido. Essa análise é uma importante ação da equipe de enfermagem a fim de detectar possíveis equívocos que possam levar à retirada do rim diferente do doador. O jejum por oito horas antes da cirurgia deve ser garantido pela equipe de enfermagem tanto do receptor quanto do doador. No caso de doador vivo, este deve ser hidratado por via parenteral com aproximadamente dois litros de solução salina durante a noite antecedente à cirurgia. Antes da cirurgia, doador e receptor devem ser encaminhados ao banho de aspersão antes de seguirem para o centro cirúrgico com seus prontuários, exames préoperatórios, de imagem, evolução de enfermagem e arteriografia do doador. Cuidados de enfermagem no operatório No doador: após a anestesia geral realiza-se antissepsia da pele da região abdominal e genital com solução antisséptica degermante e cateterismo vesical com sonda Foley que permanecerá instalada por 24 horas. Logo após, prepara-se o paciente posicionando-o em decúbito lateral, mantendo elevado lateral do corpo onde será realizada a retirada do rim (nefrectomia). 118 No receptor:realiza-se também a degermação da pele e cateterização vesical com sonda Foley de três vias para irrigação após a cirurgia, e será mantida por quatro dias. O posicionamento do receptor será decúbito dorsal, já que o enxerto será posicionado na fossa ilíaca. Após a realização da nefrectomia no doador ocorre o início da perfusão renal que deve ser realizada com 500 mL de solução de preservação de órgãos a 4°C. A perfusão ocorre em mesa auxiliar numa altura de 60 cm, até que seja observada a drenagem pela veia renal. Assim ocorre o preparo do órgão para implante no receptor. Esse período entre a perfusão do órgão e a anastomoses vasculares chama-se isquemia fria. Cuidados de enfermagem no pós-operatório Os cuidados de enfermagem no pós-operatório imediato, com o doador, são: Lavagem das mãos sempre, antes e após prestar assistência ao paciente; Manutenção do jejum oral; Elevação da cabeceira da cama a 30°; Manutenção do repouso absoluto no leito; Controle dos sinais vitais e diurese horária nas primeiras 12 horas e a cada 2 horas nas 12 horas seguintes; Manutenção da hidratação venosa; Manutenção da perfusão na sonda vesical; Realização de controle hídrico; Troca de curativo da incisão cirúrgica, caso haja necessidade; Sedação e antibioticoterapia segundo prescrição médica. Após 24 horas: Oferecer dieta leve e observar aceitação; Pesar o paciente; Retirar a sonda vesical e o acesso venoso; 119 Auxiliar no banho de aspersão; Retirar o curativo da incisão cirúrgica; Observar débito urinário; Controlar sinais vitais; Observar o funcionamento intestinal. O enfermeiro deve orientar o paciente e seus familiares para os cuidados pós- cirúrgicos, a observação dos sinais e sintomas de infecção e a que serviços recorrer no caso de complicação. A alta hospitalar é programada para o dia seguinte. A assistência de enfermagem ao receptor tem por objetivo evitar as intercorrências ligadas à instabilidade hemodinâmica e a necessidade de reposição parenteral em grande quantidade. As ações de enfermagem são: Lavagem das mãos sempre, antes e após prestar assistência ao paciente; Elevação da cabeceira da cama a 30°; Manutenção do repouso absoluto no leito por 24 horas; Monitorização cardíaca; Observação do nível de consciência, alterações respiratórias, cianose de extremidades e hipotermia; Controle dos sinais vitais e diurese horária; Garantir oxigenação; Reposição da hidratação volêmica com Soro Fisiológico 0,9%, alternando com Soro Glicosado 5% monitorado pela bomba infusora, não excedendo 500mL/hora; Verificação da glicemia capilar a cada 2 horas; Manutenção da perfusão na sonda vesical; iniciar irrigação vesical se for observada hematúria; Controle de débito urinário; Controle hídrico rigoroso; Observar sangramento na incisão cirúrgica, realizando a troca de curativo caso haja necessidade; 120 Sedação e antibioticoterapia segundo prescrição médica; Observar sinais e sintomas de infecção e possível rejeição do enxerto. Após 24 horas: Lavagem das mãos sempre, antes e após prestar assistência ao paciente; Realização do exame físico céfalo-caudal; Coleta de sangue para exames laboratoriais; Pesar o paciente em jejum; Auxiliar o paciente no banho de aspersão; Trocar curativo se necessário; Auxiliar na alimentação; Estimular a hidratação oral; Retirar o acesso venoso; Realizar controle dos sinais vitais de 6 em 6 horas; Manutenção da perfusão na sonda vesical; Controle de débito urinário por períodos (manhã, tarde e noite); Orientar sobre as medicações imunossupressoras; Observar o funcionamento intestinal; Observar sinais e sintomas de infecção e possível rejeição do enxerto. Enfermagem no Transplante com Doador Cadáver Após a constatação de morte encefálica, o médico assistente do potencial doador deve informar as familiares sobre o diagnóstico e comunicar à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO). A omissão por parte do médico assistente à CNCDO da morte encefálica do paciente pode acarretar sanção legal (prisão) para o mesmo. A CNCDO informa a Organização para Procura de 121 Órgãos (OPO) que é responsável pela Instituição que fez a notificação e providencia um profissional para avaliar o potencial doador e questionar a família em relação à doação dos órgãos. Caso haja autorização da família, um familiar e duas testemunhas assinam o Termo de Consentimento em três vias. Os cuidados de enfermagem para a garantia da estabilidade hemodinâmica e a viabilidade dos órgãos do indivíduo com morte encefálica são: Punção de acessos vasculares para hidratação e administração de eletrólitos; Manutenção de ventilação mecânica com aspiração frequente; Cateterização vesical; Sondagem nasogástrica em sifonagem; Administração de drogas vasoativas para manter a pressão arterial; Controle da temperatura corporal; Realização de glicemia capilar de controle; Oclusão das pálpebras para proteção das córneas. Cabe ainda à equipe de enfermagem providenciar a coleta de sangue para análises clínicas, sorologia e confirmação da tipagem sanguínea e ainda linfonodos inguinais que serão encaminhados ao laboratório de imunologia para realizar a tipagem HLA e a prova cruzada. Os órgãos e tecidos para doação seguem rotinas preconizadas de retirada. Após nefrectomia pelo cirurgião inicia-se a perfusão renal, esta sob responsabilidade do enfermeiro a garantia de material necessário para este procedimento. A seguir, os rins são condicionados em 3 invólucros estéreis e armazenados em recipiente com gelo. O recipiente é vedado, identificado e armazenado no Centro Cirúrgico até o implante do órgão no receptor selecionado. O enfermeiro desempenha papel de ligação entre a OPO, o hospital e a CNCDO, os laboratórios, o Centro Cirúrgico, as equipes transplantadoras e a família, conduzindo e organizando as ações de captação desde o momento da notificação até a devolução do corpo à família para providenciar o sepultamento do doador. 122 REFERÊNCIAS ABRAHÃO, S. S. Determinantes de falhas da diálise peritoneal no domicílio de crianças e adolescentes assistidos pelo Hospital das Clínicas da UFMG. 2006. 163 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde) – Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. 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