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Os primeiros 1000 dias de vida como uma oportunidade para a prevenção das DCNT bucais e sistêmicas: O que o cirurgião-dentista precisa saber? APOIO INSTITUCIONAL: REALIZAÇÃO: Coordenação do Projeto Profa. Dra. Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Coordenação Geral da DINTE/UNA-SUS/UFMA Profa. Dra. Ana Emilia Figueiredo de Oliveira Gestão de projetos da UNASUS/UFMA Katherine Marjorie Mendonça de Assis Coordenação de Produção Pedagógica da UNASUS/UFMA Profa. Dra. Paola Trindade Garcia Coordenação de Ofertas Educacionais da UNASUS/UFMA Profa. Dra. Elza Bernardes Monier Coordenação de Tecnolo- gia da Informação da UNASUS/UFMA Dilson José Lins Rabêlo Junior Coordenação de Comuni- cação da UNASUS/UFMA José Henrique Coutinho Pinheiro Professoras-autoras Sângela Maria da Silva Pereira Cecilia Claudia Costa Ri- beiro Validadoras técnicas da USP Letícia Yumi Arima Emanuella Pinheiro da Silva Oliveira Marcelo José Strazzeri Bönecker Validadoras técnicas da Coordenação Geral de Saúde Bucal/SAPS Amanda Bandeira Ana Beatriz de Souza Paes Flávia Santos de Oliveira Nicole Aimée Rodrigues José Mariana Tunala Sumaia Cristine Coser Validadora pedagógica Luana Martins Cantanhede Revisora textual Camila Cantanhede Vieira Designer instrucional Steffi Greyce de Castro Lima Designer gráfico Fabianne Vianna Rodrigues Ferreira Créditos PEREIRA, Sângela Maria da Silva; RIBEIRO, Cecilia Claudia Costa. Os primeiros 1000 dias de vida como uma oportunidade para a prevenção das DCNT bucais e sistêmicas: o que o cirurgião-dentista precisa saber? In: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Curso Saúde Bucal na Atenção Primária: urgências, doenças transmissíveis, gestantes e pessoas com deficiência. Assistência odontológica para pacientes com DCNT na Atenção Primária: doenças cardiovasculares. Assistência à saúde bucal para gestantes e puérperas. São Luís: UFMA; Curso Saúde Bucal na Atenção Primária: urgências, doenças transmissíveis, gestantes e pessoas com deficiência, 2020. COMO CITAR ESSE MATERIAL Apresentação....................................................................................................................... 1 OS PRIMEIROS 1000 DIAS DE VIDA............................................................................5 2 TEORIA DOHaD.................................................................................................................6 3 ESTRESSORES AMBIENTAIS NOS PRIMEIROS 1000 DIAS DE VIDA: O QUE O CIRURGIÃO-DENTISTA PRECISA SABER?.....................................................................7 3.1 Estressores ambientais na gestação........................................................................7 3.2 Estressores ambientais nos dois primeiros anos de vida da criança................9 4 PREVENÇÃO PRECOCE DAS DCNT: AÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA NOS PRIMEIROS 1000 DIAS DE VIDA....................................................................................12 Considerações Finais........................................................................................................14 Referências......................................................................................................................... Sumário 4 15 Prezada (o) aluna (o), Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 71% de todas as mortes no mundo; e, destas, mais de 85% são precoces, pois ocorrem entre as idades de 30 a 69 anos, afetando países de baixa e média renda, como o Brasil.1 Embora as DCNT se manifestem especialmente na vida adulta, exposições a estressores ambientais em estágios mais precoces da vida do indivíduo (gestação e infância) estão implicados no aumento do risco de DCNT no futuro. O Comitê de Saúde Bucal da OMS reconhece a cárie e a doença periodontal como DCNT;2 3 e preconiza que as estratégias para prevenção das DCNT bucais e sistêmicas devem ser direcionadas para seus fatores de risco comuns. A atuação dos profissionais de saúde pode ser determinante no equilíbrio saúde/doença, com repercussões para todo o ciclo vital do indivíduo. O incentivo e a orientação profissional nas comunidades resultam em adoção de práticas para uma vida mais saudável. O cirurgião-dentista é um dos profissionais da equipe da Estratégia de Saúde da Família que tem contato direto com os pacientes nos primeiros 1000 dias de vida (gestação e dois primeiros anos de vida da criança), período considerado um “intervalo de ouro” para a prevenção de DCNT, com impactos ao longo da vida. Nesse contexto, é imperativo que haja uma atuação multidisciplinar de equipes de saúde para a prevenção primordial (manter-se longe dos fatores de risco) das DCNT, na qual o cuidado odontológico deve ser enfatizado durante os primeiros 1000 dias de vida e os profissionais devem estar preparados para atuar em equipe na promoção da saúde. Bons estudos! Apresentação 1 2, 3 4 4 OBJETIVO Reconhecer os 1000 dias de vida como uma oportunidade para prevenção das doenças crônicas não transmissíveis bucais e sistêmicas. Os primeiros 1000 dias de vida compreendem desde o momento da concepção do indivíduo até os dois anos de idade da criança. O INTERVALO DE OURO Esse período é considerado o “intervalo de ouro”, no qual as rápidas mudanças fisiológicas e a plasticidade do fenótipo podem ter efeitos na saúde da criança ao longo da vida, não apenas em termos biológicos (crescimento e desenvolvimento), mas também em questões intelectuais e sociais. 1 OS PRIMEIROS 1000 DIAS DE VIDA São 270 dias da gestação, mais 365 dias do primeiro ano, somados aos 365 dias do segundo ano de vida da Esse período é crucial para o crescimento e para o desenvolvimento infantil, pois correspon- de a uma “janela de oportunidades” para prevenir e/ou reverter a programação metabólica e melhorar os resultados maternos, fetais, do nascimento, da infância e até mesmo reduzir o risco das crianças desenvolverem DCNT no futuro. Fatores ambientais presentes no período gestacional (alimentação não saudável, estresse, exposição ao fumo e ao álcool) podem ter impactos negativos nos indicadores de saúde da gestante, como ganho de peso excessivo, hipertensão, diabetes gestacional, doença periodontal, dentre outras DCNT , bem como resultar em efeitos negativos ao final da gestação, tais como prematuridade (< 37 semanas), bebês grandes para a idade gestacional ou macrossômica (≥ 4000g), ou na sua prole a curto prazo (asma, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor) e também a longo prazo (DCNT). 5 6, 7, 8 9, 10 11, 12, 13 Sabendo disso, o cirurgião-dentista pode orientar as gestantes para um estilo de vida mais saudável, haja vista que suas atitudes e comportamentos nesses primeiros 1000 dias de vida são determinantes para uma gestação mais saudável, com reflexos na sua saúde e na saúde de seu filho. Imagem livre para uso. Banco de imagens: Unsplash. Similarmente, fatores ambientais presentes nos primeiros dois anos de vida (nascer de cesárea, aleitamento artificial, exposição precoce aos açúcares e uso de antibióticos) podem causar impactos imediatos na primeira infância (ganho de peso excessivo, desenvolvimento de asma, cárie e gengivite) e ao longo da vida (DCNT). Assim, o cirurgião-dentista deve orientar as mães que estimulem seus filhos a também terem um estilo de vida saudável, a fim de que tenham um bom desenvolvimento, com reflexos ao longo da vida. 10, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 5 2 TEORIA DOHaD A Teoria Desenvolvimentista da Saúde e das Doenças - DOHaD (do inglês, The Developmental Origins of Health and Disease) baseia-se nas evidências da origem precoce das DCNT, em especial nos efeitos das exposições ambientais intrauterinas e nos primeiros anos de vida, o que aumenta o risco futuro de DCNT, como a dislipidemia, diabetes tipo II, depressão e doenças cardiovasculares. Estudos emdiversas partes do mundo têm relacionado a influência de fatores ambientais do início da vida com alterações no padrão de saúde-doença nos indivíduos, nos quais agravos na vida fetal ou nas fases iniciais da vida pós-parto influenciam o surgimento de DCNT ao longo da vida, inclusive com potencial de transmitir condições adversas para gerações sucessoras. 21, 22, 23 21, 22, 24 Nesse contexto, a teoria DOHaD propõe que o risco de desenvolvimento de DCNT seja influenciado por modificações ambientais, especialmente no período intrauterino e nos primeiros dois anos de vida da criança, resultando em alterações permanentes no organismo. Essa teoria propõe uma ligação entre a concepção, a fase fetal e a infância com as alterações no desenvolvimento em longo prazo. Foto de Iuliia Bondarenko no Pixabay. Grátis para uso comercial. Além disso, a teoria DOHaD também dá suporte à prerrogativa de que o melhor momento para promover intervenções para prevenção de DCNT com redução substancial de risco são os períodos de maior desenvolvimento: vida intrauterina, infância e, em menor potencial, a adolescência. 21, 22, 25 PARA SABER MAIS! Caso você queira saber mais sobre a Teoria DOHaD, leia o artigo Origens desenvolvimentistas da saúde e da doença (DOHaD). Você pode acessá- lo clicando aqui. 6 3 ESTRESSORES AMBIENTAIS NOS PRIMEIROS 1000 DIAS DE VIDA: O QUE O CIRURGIÃO-DEN- TISTA PRECISA SABER? Os primeiros 1000 dias de vida caracterizam-se por serem uma janela de oportunidades para prevenção de DCNT. Estressores ambientais presentes nesse período podem levar a desfechos negativos no desenvolvimento da criança e ao longo de sua vida. Assim, o cirurgião-dentista deve reconhecer esses fatores de risco e suas repercussões nos primeiros mil dias de vida, bem como saber como atuar na comunidade de modo a realizar a prevenção. 3.1 Estressores ambientais na gestação Na gestação, estressores ambientais, como uma alimentação não saudável e exposição ao fumo e ao álcool, podem levar a desfechos sistêmicos e bucais desfavoráveis. Uma alimentação inadequada, com adição de açúcares, tem sido apontada como um importante fator de risco para o desenvolvimento de DCNT. O consumo abusivo de bebidas ricas em açúcares de adição, por exemplo, está associado a um maior ganho de peso na gestação, o que pode desencadear o desenvolvimento de hipertensão e diabetes gestacional, doenças crônicas bucais (cárie dentária e doença periodontal), e até mesmo o nascimento prematuro da criança e o desenvolvimento de sintomas de asma na prole. 8, 10, 26, 27, 28, 29 Imagem livre para uso. 7 Além disso, os pais têm uma influência importante nos comportamentos de saúde dos seus filhos. Crianças expostas ao açúcar tendem a seguir o mesmo padrão de dieta dos pais. 30 Para conhecer mais sobre os desfechos negativos associados ao consumo de bebidas ricas em açúcares de adição, clique nos artigos abaixo: • The First 1000 Days of Life Factors Associated with “Childhood Asthma Symptoms”: Brisa Cohort, Brazil. • Soft drink consumption and periodontal status in pregnant women. PARA SABER MAIS! Curso na Área de Odontologia A exposição ao cigarro durante a gestação pode levar a prejuízos para a gestante – hipertensão, desenvolvimento de trombose venosa e doença periodontal; para o feto, pode resultar em má formação da membrana placentária, o que aumenta a chance de nascimento pré-termo e de bebê pequeno para a idade gestacional – e para a criança – desenvolvimento de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Até mesmo a exposição passiva à fumaça do cigarro está associada à restrição de crescimento fetal e ao nascimento pré-termo. Semelhantemente, o consumo de álcool durante a gestação está associado a desfechos negativos para a gestante e sua prole. Na gestante, a exposição ao álcool pode levar ao parto prematuro, redução do leite materno, perda dentária e até mesmo ao aborto. O conjunto de complicações para o bebê, acarretado pela exposição ao álcool durante a gestação, é conhecido como Síndrome Alcoólica Fetal. 7 IMPORTANTE Foto de Julia Engel no Unsplash. 8 Síndrome Alcoólica Fetal Essa condição leva a complicações como: anomalia facial, restrição de crescimento fetal, deficiências congênitas nos órgãos e anomalias relacionadas ao aprendizado, por exemplo, o desenvolvimento do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.6, 31 Foto de Patrick Fore no Unsplash. Curso na Área de Odontologia Nesse contexto, durante o pré-natal, o cirurgião-dentista deve fazer uma anamnese completa da gestante atendida pela Equipe de Saúde da Família, de modo a reconhecer a presença de possíveis fatores de risco e a orientar e incentivar a adoção de práticas saudáveis no período gestacional. É imperativo que a gestante entenda que decisões tomadas no período gestacional podem levar a problemas sistêmicos e bucais na gestação e influenciar todo o ciclo vital de sua prole. Portanto, as seguintes orientações devem ser transmitidas durante o pré-natal: A atuação do cirurgião-dentista durante o tratamento odontológico das gestantes também pode ser determinante no equilíbrio saúde/doença, com repercussões ao longo da vida do indivíduo. Orientações no pré-natal Adotar uma alimentação saudável, livre de bebidas ricas em açúcares de adição; Não fumar durante o período gestacional e de amamentação; Evitar se expor de forma passiva à fumaça de cigarro; Não consumir bebidas alcóolicas no período gestacional e de amamentação. IMPORTANTE O uso de antibióticos no período da gestação pode aumentar o risco de asma na primeira infância, e já foi associado ao aumento do risco de epilepsia e de obesidade infantil. Assim, o cirurgião-dentista deve avaliar criteriosamente a real necessidade de prescrição de antibióticos para cada caso durante o tratamento odontológico das gestantes. 32 9 Nos dois primeiros anos de vida da criança, fatores ambientais, como o parto cesáreo, aleitamento artificial e exposição precoce aos açúcares de adição podem levar a desfechos sistêmicos e bucais desfavoráveis ao longo da vida. 3.2 Estressores ambientais nos dois pri- meiros anos de vida da criança O parto cesáreo, eletivo ou de urgência, tem sido associado a um maior risco de desenvolvimento de doenças imunológicas e metabólicas durante a infância, como: asma, alergia alimentar, diabetes tipo I e obesidade.19 Insegurança materna; Medo do parto; Medo de dor no parto; e Predisposição da equipe médica para realizar a cirurgia cesárea. Por isso, é importante que na consulta pré-natal haja incentivo ao parto vaginal e que sejam mencionados os riscos a longo prazo do parto cesáreo para a prole. A OMS recomenda que o parto cesáreo seja realizado apenas em condições nas quais a saúde ou a vida da mãe e/ou do recém-nascido estão ameaçadas.33 No entanto, a frequência de partos cesáreos aumentou em todo o mundo e isso pode ter ocorrido devido a fatores como: 33 19 Imagem livre para uso. Banco de imagens: Unsplash. 10 Foto de Ben Kerckx no Pixabay. Grátis para uso comercial. O aleitamento artificial está associado ao desenvolvimento de obesidade tardia. A obesidade é um importante fator de risco metabólico para o desenvolvimento de DCNT ao longo da vida.16, 18 Nesse sentido, o cirurgião-dentista e a equipe da Estratégia de Saúde da Família devem orientar as mães a não introduzirem fórmulas sem a indicação do pediatra. 16, 18 Nesses atendimentos, deve ser ressaltado que o aleitamento artificial só deve ocorrer quando a amamentação não pode ser realizada. A amamentação exclusiva é recomendada nos primeiros 6 meses de vida da criança e deve ser continuada até os dois anos ou mais, pois, além de aumentar o vínculo entre a mãe e o filho e de proteger contra infecções, trata- se de um fator protetor para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis e seus fatoresde risco, como menor risco para sobrepeso, obesidade, asma e diabetes do tipo 2. 14, 16, 18 O incentivo profissional ao aleitamento materno pode ampliar a duração da amamentação. Nesse sentido, é crucial que o cirurgião-dentista conheça as campanhas de incentivo ao aleitamento materno frequentemente lançadas pelo Ministério da Saúde, a fim de participar, incentivar e orientar as gestantes nas consultas pré-natais. A exposição precoce aos açúcares de adição, em especial às bebidas ricas em açúcares de adição, está associada com a epidemia global de obesidade e com o desenvolvimento de DCNT a curto prazo – asma, cárie dentária e doença periodontal/gengivite – e a longo prazo – hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Evidências sobre os efeitos nocivos do consumo de açúcares levaram a Associação Americana do Coração (AHA – American Heart Association) a publicar diretrizes que visam à redução do consumo de açúcares a não mais que 25 gramas diárias para crianças e adolescentes, com a recomendação de que crianças menores de dois anos não devem consumir açúcares adicionados. A OMS publicou diretrizes pautadas na redução do consumo de açúcares para a prevenção da obesidade e da cárie, de modo que o consumo de açúcares livres não ultrapasse 10% da quantidade total das calorias ingeridas diariamente. Há, ainda, uma recomendação condicional para uma redução no consumo para 5% das calorias totais ingeridas diariamente. Por isso, durante as consultas odontológicas, o cirurgião-dentista deve orientar aos pais e cuidadores para que a criança não consuma açúcares adicionados até os dois anos de vida, visto que este padrão de consumo pode levar a problemas bucais, como a cárie dentária e a gengivite – marcador precoce da doença periodontal – e ao desenvolvimento de DCNT sistêmicas no decorrer da vida do indivíduo. 2 11 10, 15, 17, 20 34 35 PARA SABER MAIS! Para conhecer mais sobre as campanhas, clique aqui. Para conhecer as diretrizes pautadas na redução do consumo de açúcares para a prevenção da obesidade e da cárie publicadas pela Organização Mundial da Saúde, acesse: • Dietary Sugars Intake and Cardiovascular Health • Guideline: Sugars intake for adults and children • Manual “Ending childhood dental caries” 12 Como cirurgião-dentista inserido na Estratégia de Saúde da Família, você lida diretamente com pacientes nos primeiros 1000 dias de vida, podendo acompanhar a gestante durante seu pré-natal odontológico e durante o procedimento de saúde bucal nos dois primeiros anos de vida da criança. Além disso, é importante conhecer a realidade em que estes pacientes estão inseridos para que você possa melhor orientar a gestante/mãe nesse período, que é uma janela de oportunidades para prevenção primordial das DCNT. 4 PREVENÇÃO PRECOCE DAS DCNT: AÇÕES DO CIRURGIÃO-DENTISTA NOS PRIMEIROS 1000 DIAS DE VIDA Para a prevenção precoce dessas DCNT, o cirurgião-dentista precisa superar os limites de uma prática profissional somente voltada para ações curativas e fortalecer seu papel nas ações interdisciplinares que devem estar voltadas para a promoção de saúde e prevenção de doenças. Serão destacadas a seguir as importantes ações do cirurgião-dentista nos primeiros 1000 dias de vida para prevenção precoce das DCNT bucais e sistêmicas: 1. Realizar o pré-natal odontológico das gestantes, com orientações de saúde bucal e saúde geral; 2. Durante as consultas de pré-natal, incentivar a gestante a optar pelo parto vaginal, se não houver contraindicação médica; 3. Orientar a gestante a não se expor ao cigarro e ao álcool durante a geração; 4. Prescrever antibióticos para tratamentos odontológicos de forma consciente, para os casos realmente necessários e com base em evidências científicas da real necessidade de cada caso; 5. Durante as consultas da gestante, incentivar o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida e a continuidade da amamentação até os dois anos de idade ou mais, conforme recomendação da Organização Mundial de Saúde; 6. Orientar o núcleo familiar a ter hábitos saudáveis de dieta, com a forte recomendação de que crianças até dois anos de idade NÃO DEVEM SER EXPOSTAS AOS AÇÚCARES DE ADIÇÃO para prevenção não só das doenças bucais (cárie e doença periodontal/ gengivite), mas também visando à redução de risco cardiovascular, da obesidade e de DCNT; 7. Orientar os pais quanto aos doze passos para uma alimentação saudável, para que eles possam implantar hábitos de dieta adequados aos filhos. (http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/guia_da_ crianca_2019.pdf – página 221); 8. Incentivar a consulta odontológica no primeiro ano de vida da criança para promoção de saúde bucal na primeira infância. 13 Com o aumento da prevalência de DCNT ao redor do mundo, estratégias para prevenção primordial destas doenças devem ser o foco da atuação dos profissionais da saúde. Os primeiros 1000 dias de vida caracterizam-se como um “intervalo de ouro” para prevenção das DCNT sistêmicas e bucais. Intervenções nesse período podem mudar o curso do desenvolvimento de doenças no indivíduo. No contexto da atuação multidisciplinar na Estratégia de Saúde da Família, o cirurgião-dentista deve assumir um papel importante na atenção odontológica das gestantes e crianças, incentivando a adoção de práticas saudáveis no ambiente familiar, com foco na prevenção das DCNT bucais e sistêmicas. Até a próxima! Considerações Finais 14 1 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Noncomunicable disease. 2018. Disponível em: <https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/ noncommunicable-diseases> Acesso em: 20 de fevereiro de 2020. 2 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guideline: sugars intake for adults and children. 2015. Geneva, Suiça: WHO Library Cataloguing. Disponível em: <http:// www.who.int/nutrition/publications/guidelines/sugars_intake/en/>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020. 3 FDI World Dental Federation. FDI policy statement on non-communicable diseases. 2013. Adopted by the FDI General Assembly: 30 August 2013— Istanbul, Turkey. Int Dent J. 63(6): 285–286. 4 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Oral health. Factsheet No. 318. Geneva (Suiça). 2012. Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/ fs318/en/index.html>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020. 5 BLACK, R.E.; VICTORA, C.G.; WALKER, S.P. et al. Maternal and child undernutrition and overweight in low-income and middle-income countries. The Lancet. p .427–451.2013. 6 MAY, P.A.; HASKEN, J. M.; BLANKENSHIP, J.; MARAIS, A.S.; JOUBERT, B.; CLOETE, M. et al. Breastfeeding and maternal alcohol use: prevalente and effects on child outcomes and fetal alcohol spectrum disorders. Reprodtoxicol. 2016, 63, 13-21. 7 ABRAHAM, M.; ALRAMADHAN, S.; INIGUEZ, C.; DUIJTS, L.; JADDOE, V.W.V.; DEN DEKKER, H.T. et al. A systematic review of maternal smoking during pregnancy and fetal measurements with meta-analysis. PLoS ONE. V. 12, n. 2, 2017. 8 PIETROBELLI, A.; AGOSTI, M. & THE MENU GROUP. Nutrition in the first 1000 days: ten practices to minimize obesity emerging from published Science. International Journal of Environmental Research and Public Health. V. 14, n. 12, 2017. Referências 9 GUSTAVSON, K.; YSTROM, E.; STOLTENBERG, C., SUSSER, E.; SUREN, P.; MAGNUS, P. et al. Smoking in pregnancy and child ADHD. Pediatrics. V. 139, n. 2, 2017. 10 NASCIMENTO, J.X.P.T.; RIBEIRO, C.C.C.; BATISTA, R.F.L.; ALVES, M.T.S.; SIMOES, V.M.F.; PADILHA, L.L.; et al. The first days of life factors associated with “Childhood Asthma Symptoms”: Brisa Cohort, Brazil. Scientific Reports. N. 22, V. 7. 2017. 11 BLACK, R.; ALLEN, L.; BHUTTA, Z.A.; CAULFIELD, L.E.; EZZATI, M.; MATHERS, C.; RIVERA, J. Maternal and child undernutrition: global and regional exposures and health consequences. The Lancet. v. 371, p. 243-260, 2008. 12 BHUTTA, Z.; AHMED, T.; BLACK, R.E.; COUSENS, S.; DEWEY, K.; GIUGLIANI, E. et al. What works? Interventions for maternal and child undernutritionand survival. The Lancet. V. 371. 417-440, 2008. 13 VICTORIA, C.; ADAIR, L.; FALL, C.; HALLAL, P.C.; MORTORELL, R.; RICHTER, L. Maternal and child undernutrition: consequences for adult health and human capital. The Lancet. V. 371, 340-357, 2008. 14 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009.112 p: il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Cadernos de Atenção Básica, n. 23) 15 LULA, E.C.O.; RIBEIRO, C.C.C.; HUGO F.N.; SILVA, A.A. Added sugars and periodontal disease in young adults: an analysis. Am J Clin Nutr.100:1182-1187. 2014. 16 KELISHADI, R.; FARAJIAN, S. The protextive effects of breastfeeding on chronic non-communicable diseases in adulthood: A review of evidence. Adv Biomed Res. 2014 Jan 9; 3:3. 17 STEVENS, A.; HAMEL, C.; SINGH, K.; ANSAR, M.T.; MYERS, E.; ZIEGLES, P. Do Sugar-sweetened beverages cause adverse health outcomes in children? A systematic review protocol. Systematic Reviews. V.3, n. 96, 2014. 18 MAZARIEGOS, M.; ZEA, M.R. Breastfeeding and non-communicable diseases later in life. Arch Latinoam Nutr. 2015 Sep; 65(3):143-51. 19 MAGNE, F.; SILVA, A.; CARVAJAL, B.; GOTTELAND, M. The elevated rate of cesarean section and its contribution to non-communicable chronic diseases in Latin America: The growing involvement of the microbiota. Frontiers in Pediatrics. V.5. 2017. 20 CARMO, C.D.S.; RIBEIRO, M.R.C.; TEIXEIRA, J.X.P. et al. Added Sugar Consumption and Chronic Oral Disease Burden among Adolescents in Brazil. J Dent Res. 2018. 21 BARKER, D.J.P. The Developmental Origins of Adult Disease. Journal of the American College of Nutrition. V. 23. 588-595. 2004. 22 BARKER, D.J.P. Developmental origins of chronic disease. Public Health. V. 126, n. 3. 185-189, 2012. 23 LACAGNINA, S.D.O. The developmental origins of health and disease (DOHaD). American Journal of Lifestyle Medicine. 1-4. 2019. 24 SILVEIRA, P.P.; PORTELLA, A.K.; GOLDANI, M.Z.; BARBIERI, M. Developmental origins of health and disease (DOHaD). Jornal de Pediatria. Jornal de Pediatria - Vol. 83, Nº 6, 2007 494-504. 25 JOSS-MOORE, L.; LANE, R. The developmental origins of adult disease. Maternal and Child Nutrition. V. 21, n. 2, 230-234, 2009. 26 CARVALHO, C.; FONSECA, P.; PRIORE, S.; FRANCESCHINI, C.C.; NOVAES, J.F. Food consumption and nutritional adequacy in Brazilian children: A systematic review. Revista Paulista de Pediatria. V. 33, n. 2, 211-221, 2015. 27 MAMELI, C.; MAZZANTINI, S.; ZUCCOTTI, G. Nutrition in the first 1000 days: The origin of childhood obesity. International Journal of Environmental Research and Public Health. V. 13, n. 9, 2016. 28 VERDUCI, E.; MARTELLI, A.; MINIELLO, V.; LANDI, M.; MARIANI, B.; BRAMBILLA, M.; DIAFERIO, L.; PERONI, D.G. Nutrition in the first 1000 days and respiratory health: a descriptive review of the last five years’ literature. Allergologia et Immunopathologia. V. 45, n. 4, 405-413, 2017. 29 MENEZES, C.C.; RIBEIRO, C.C.C.; ALVES, C.M.C.; THOMAZ, E.B.A.F.; FRANCO, M.M.; BATISTA, R.F.L.; SILVA, A.A.M. Soft dring consumption and periodontal status in pregnante women. Journal of Periodontology. 2019, Feb; 90(2):159- 166. 30 COSTA, E.L.; COSTA, F.; SANTOS, P.; LADEIRA, L.L.C.; SILVA, R.A.; RIBEIRO, C.C. Streptococcus mutans in Mother-Child Dyads and Early Childhood Caries: Examining Factors Underlying Bacterial Colonization. Caries Res. 2017; 51:582- 589. 31 EILERTSEN, E.M.; GJERDE, L.C.; REICHBORN-KJENNERUD, T.; ORSTAVIK, R.E.; KNUDSEN, G.P.; STOLTENBERG, C. et al. Maternal alcohol use during pregnancy and offspring attention-deficit hyperactivity disorder (ADHD): a prospective sibling control study. International Journal of Epidemiology, 2017, 1633–1640. 32 KUPERMAN, A.; KOREN, O. Antibiotic use during pregnancy: How bad is it?. BMC Medicine. V. 14, n. 1, 1-7 2015. 33 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. WHO Statement on Caesarean Section Rates. 2016. Disponível em: <http://www.who.int/reproductivehealth/ publications/maternal_perinatal_health/cs-statement/en/>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020. 34 JOHNSON, R. K. et al. Dietary sugars intake and cardiovascular health: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation, v. 120, n. 11, p. 1011-1020, 2009. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/19704096>. Acesso em 28 de abril de 2020. 35 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Guideline: Sugarsintake for adultsandchildren. Geneva. 2015. Disponível em: <https://www.who.int/ publications-detail/9789241549028>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2020. APOIO INSTITUCIONAL: REALIZAÇÃO: