Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE BAIANA DE DIREITO DISCIPLINA: TURMA: PROFESSOR: DATA: NOME: ____________________________________________________________ 1ª AVALIAÇÃO 1. (2,5) Os ataques de 11 de setembro às Torres Gêmeas, nos EUA, chocaram o mundo e foram atribuídos ao líder da Al-Qaeda - Osama Bin Laden, que foi procurado por anos, até ser encontrado e executado por tropa militar norte- americana. Sua execução ocorreu no Paquistão, em maio de 2011, por ter sido a ele atribuída a prática de crimes contra a humanidade, assassinatos em massa e terrorismo. Essa “caça” realizada pelos EUA, com posterior execução de Bin Laden, seria um exemplo de aplicação de qual teoria da pena? Fundamente a sua resposta. 2. (2,5) A dosimetria (cálculo) da pena no sistema penal brasileiro é realizada em três fases distintas e sucessivas: na primeira fase, se analisam as circunstâncias judiciais e encontra-se a pena base; na segunda fase, se analisam as circunstâncias agravantes e atenuantes e encontra-se a pena provisória; na terceira fase, se analisam as causas de aumento e de diminuição de pena e se encontra a pena definitiva. Sobre a dosimetria da pena, o STJ editou a súmula 241, que afirma que “a reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”. Analisando o teor da aludida súmula, aponte e explique qual princípio penal a fundamenta. 3. (2,5) “[...] na atualidade, uma variada gama de negócios circunda o sistema penal, como a privatização dos presídios, a utilização de mão de obra aprisionada, a geração de empregos na construção e manutenção de penitenciárias. O problema central dessa exasperação da privatização da intervenção penal é o expansionismo desenfreado do punitivismo, como forma de saciar o afã lucrativo daqueles que exploram os serviços de segurança pública”. [...] Em países como os EUA não apenas a execução das penas privativas de liberdade foi delegada aos particulares (privatização dos presídios), mas até mesmo a execução da pena capital. A qual corrente de pensamento pode ser atribuída essa análise da existência de uma indústria de controle da criminalidade? Qual a solução proposta? Fundamente a sua resposta. 4. (2,5) Anai, conhecida vendedora de “muamba” e de “cacarecos” da cidade de Salvador, após viagem ao Paraguai, introduziu no Brasil diversos produtos importados sem o recolhimento dos tributos devidos, o que caracterizaria o crime de descaminho, previsto no art. 334 do Código Penal. Em que pese esse crime estar inserido no capítulo dos crimes contra a Administração Pública, tem recebido o mesmo tratamento dos crimes tributários, justamente por se referir ao não recolhimento do tributo. Anai, que sonegou 18 mil reais em tributos, teve sua mercadoria apreendida e está com muito medo da responsabilização penal que poderá lhe ocorrer. Desesperada, ela procura seu escritório de advocacia em busca da melhor solução para o seu caso. Assim, na qualidade de advogada(o) de Anai, indique a melhor tese de defesa, dentre os assuntos já estudados. Fundamente a sua resposta. Aluna: Ana Beatriz de Morais Data: 24/03/2021 Professora: Mayana Sales T2A Direito Penal I 1. (2,5) Os ataques de 11 de setembro às Torres Gêmeas, nos EUA, chocaram o mundo e foram atribuídos ao líder da Al-Qaeda - Osama Bin Laden, que foi procurado por anos, até ser encontrado e executado por tropa militar norte americana. Sua execução ocorreu no Paquistão, em maio de 2011, por ter sido a ele atribuída a prática de crimes contra a humanidade, assassinatos em massa e terrorismo. Essa “caça” realizada pelos EUA, com posterior execução de Bin Laden, seria um exemplo de aplicação de qual teoria da pena? Fundamente a sua resposta. R= A “caça” realizada pelos EUA, com posterior execução de Bin Laden, seria um exemplo de aplicação da teoria da retribuição, também conhecida como teoria absoluta, e o direito penal do inimigo. A teoria da retribuição busca castigar o condenado como uma forma de retribuir o mal causado por ele, assim, realizando a justiça. Há uma subdivisão dentro da Teoria Absoluta, entre os dois teóricos, Kant e Hegel. Neste caso, prevalece a teoria de Hegel, que por sua vez, percebe que a pena seria a negação da negação do direito, ou seja, se o delito é a negação do Direito, a aplicação da pena é a negação do crime e ao negá-lo, restaura o Direito. Hegel também considera que o Direito Penal seria uma manifestação da vontade racional, pois, ao cometer um crime, o indivíduo estaria optando conscientemente pela sua escolha, logo, também estaria optando pela sanção a ele imposta, em razão da conduta desviante. Isso iria servir para que a sociedade não tivesse a sensação de que a realidade particular de cada indivíduo (ao agir contrário às leis estabelecidas) se valeria sobre a vontade geral. Em contrapartida, há Kant, em que afirma que a pena é uma retribuição ética que se justifica pela moral, respaldada apenas no delito que o condenado cometeu e não como uma maneira prática de promover o bem aos outros ou ao próprio condenado. Kant também considera que a pena não precisa ser útil, e ratifica os postulados da Lei de Talião. O direito penal do inimigo, desenvolvido por Gunther Jakobs, determina que o inimigo é aquele que desfia as regras estabelecidas na sociedade, buscando sua destruição. Portanto, esse indivíduo não merece os direitos e garantias fundamentais. Esse sujeito não é aquele que pratica pequenos atos delituosos, mas sim aquele que se vincula a organizações criminosas e/ou terroristas, pondo em risco as convenções da coletividade. Esse modelo torna viável as práticas de tortura para se obter fins condenatórios ou anteceder atos terroristas. Assim, o direito penal do inimigo se baseia em condutas futuras do indivíduo para aplicar as sanções. Greco Filho diz que ao inimigo, aplicar-se- iam, algumas medidas: não é punido com pena, mas com medida de segurança; é punido conforme sua periculosidade e não culpabilidade; a punição não considera o passado, mas o futuro e suas garantias sociais; não é sujeito de direitos, mas de coação como impedimento à prática de delitos, para o inimigo, haverá a redução de garantias como o sigilo telefônico, o direito de ficar calado etc. Esse modelo foi aproveitado nos EUA, logo após o atentado, onde o Presidente assinou o “USA PATRIOT Act”, lei antiterrorista. 2. (2,5) A dosimetria (cálculo) da pena no sistema penal brasileiro é realizada em três fases distintas e sucessivas: na primeira fase, se analisam as circunstâncias judiciais e encontra-se a pena base; na segunda fase, se analisam as circunstâncias agravantes e atenuantes e encontra-se a pena provisória; na terceira fase, se analisam as causas de aumento e de diminuição de pena e se encontra a pena definitiva. Sobre a dosimetria da pena, o STJ editou a súmula 241, que afirma que “a reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”. Analisando o teor da aludida súmula, aponte e explique qual princípio penal a fundamenta. R= O Supremo Tribunal de Justiça, ao editar a súmula 241, se fundamentou no princípio penal non bis in idem. Este princípio considera que o mesmo fato não pode ser valorado duas vezes, ou seja, um fato não pode ser utilizado duas vezes para prejudicar o réu, apenas para beneficiá-lo. A súmula, ao afirmar que “a reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial”, resulta que a reincidência penal não irá poder ser utilizada duas vezes como agravantes na dosimetria da pena, por exemplo, na primeira fase (circunstâncias judiciais) e na segunda fase (atenuantes e agravantes). 3. (2,5) “[...] na atualidade, uma variada gama de negócios circundao sistema penal, como a privatização dos presídios, a utilização de mão de obra aprisionada, a geração de empregos na construção e manutenção de penitenciárias. O problema central dessa exasperação da privatização da intervenção penal é o expansionismo desenfreado do punitivismo, como forma de saciar o afã lucrativo daqueles que exploram os serviços de segurança pública”. [...] Em países como os EUA não apenas a execução das penas privativas de liberdade foi delegada aos particulares (privatização dos presídios), mas até mesmo a execução da pena capital. R= A análise da existência de uma indústria de controle da criminalidade, pode ser atribuída à corrente abolicionista de Nils Christie. Essa corrente discute a existência de uma indústria que controla a criminalidade, expandindo o punitivismo como uma forma de obter lucros, pois com ofertas inesgotáveis de crimes e o incentivo que é dado pela mídia sensacionalista principalmente, a população ávida por segurança, busca todos os meios que a garantam, seja ela assegurada pelo próprio Estado, seja ela iniciativa privada (ou uma aliança entre ambos). Poder-se-ia dar vários exemplos de serviços de segurança, como a vigilância patrimonial, segurança pessoal, a escolta armada, o monitoramento etc. Além de todos estes serviços, ainda existem outros tipos de investimento, como: a construção de novas penitenciárias, a alimentação dos presos, o vestuário, as camas, até mesmo o próprio sistema de segurança (câmeras, grades, armas), podem ser relegados ao privado. Uma das soluções propostas por Christie, seria não conferir o poder a quem quer que seja, resultando na abolição do sistema penal. Pois segundo Christie, o crime não existe, partindo da máxima “atos não são, eles se tornam alguma coisa”. À vista desse pensamento, o crime é uma criação social, atribuindo a certas práticas o caráter ilícito, e consequentemente, a definição de criminoso, aqueles indivíduos que praticam atos reprováveis. E assim como Hulsman, Nils defende que o Estado se apropriou de um conflito que não lhe pertence, ou seja, os crimes devem ser resolvidos pela própria sociedade e, nem todo crime precisa ser solucionado, se pode conviver com alguns. Outra solução para o conflito seria conferir o poder a determinada pessoa, nesse caso, a apenas o Estado. Onde ele seria o único responsável pela coerção, ressocialização do indivíduo, segurança pública etc. 4. (2,5) Anai, conhecida vendedora de “muamba” e de “cacarecos” da cidade de Salvador, após viagem ao Paraguai, introduziu no Brasil diversos produtos importados sem o recolhimento dos tributos devidos, o que caracterizaria o crime de descaminho, previsto no art. 334 do Código Penal. Em que pese esse crime estar inserido no capítulo dos crimes contra a Administração Pública, tem recebido o mesmo tratamento dos crimes tributários, justamente por se referir ao não recolhimento do tributo. Anai, que sonegou 18 mil reais em tributos, teve sua mercadoria apreendida e está com muito medo da responsabilização penal que poderá lhe ocorrer. Desesperada, ela procura seu escritório de advocacia em busca da melhor solução para o seu caso. Assim, na qualidade de advogada(o) de Anai, indique a melhor tese de defesa, dentre os assuntos já estudados. Fundamente a sua resposta R= Anai foi acusada de introduzir diversos produtos no Brasil sem o recolhimento dos devidos tributos após uma viagem ao Paraguai, o que caracterizou crime de descaminho, previsto no art. 334 do Código Penal. Uma tese de defesa para aplicar a esse caso, seria o uso do princípio da proporcionalidade, que proíbe penas excessivas ou desproporcionais em face do desvalor de ação/resultado do fato punível e, o princípio da insignificância, resume-se em não punir crimes que geram uma ofensa irrelevante a um bem jurídico. No caso de Anai, quando o magistrado for estabelecer a pena, averiguará nas respectivas fases que, a acusada não tem antecedentes, a personalidade não é voltada para o crime, o comportamento da acusada não é intolerável, o crime ocorreu sem circunstâncias agravantes e atenuantes (previstos nos artigos 61 e 62 do Código Penal), ausência de periculosidade da ação e inexpressividade da lesão jurídica. À vista disso, dado que Anai já teve a mercadoria apreendida, o magistrado deve absolvê-la, embasado nas atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda, onde diz que incide o princípio da insignificância aos crimes tributários e de descaminho quando o débito não ultrapassar o limite de 20 mil reais. FACULDADE BAIANA DE DIREITO DISCIPLINA: TURMA: PROFESSOR: DATA: NOME: ____________________________________________________________ 2ª AVALIAÇÃO 1. (2,5) Victor, cidadão brasileiro, decidiu fazer um intercambio na cidade de Washington nos Estados Unidos, abrigando-se na casa de seu amigo Jason, cidadão norte-americano. Durante a viagem, Victor resolve ir a uma boate com Jason e acaba exagerando no consumo de álcool, brigando com Jason e Lucas (um brasileiro que conheceu na boate). Vitor agride Jason e Lucas, entretanto, eles conseguem revidar, golpeando Victor com chutes. Com isso, Victor, mesmo muito machucado, vai em direção a embaixada brasileira, que se localiza próximo, na tentativa de ficar imune a polícia. Já Lucas, permaneceu no local e telefonou para o seu pai (diplomata brasileiro) ir ajudá-lo. Jason também permaneceu no local. Posto isso, será possível aplicar a lei brasileira em relação a Victor e a Lucas? E qual lei será aplicada a Jason? Fundamente a sua resposta. 2. (2,5) Eduardo é um agente diplomático brasileiro que foi convocado para uma missão no Japão. Diante disso, ele decide levar a sua família, de origem asiática, com ele. Quando estava sobrevoando sob a Rússia, na aeronave da FAB, houve um desentendimento entre Eduardo e Miguel (empregado particular), que acabou gerando o crime de lesão corporal (art. 129, CP). De acordo com tais situações acima responda: a) A lei de que país deverá ser aplicada em relação ao crime de lesão corporal? b) A família de Eduardo pode gozar da imunidade penal? c) Caso a agressão tivesse ocorrido em território japonês, e Eduardo e Miguel tivessem sido presos, tal prisão seria acertada? 3) (2,5) João ameaça agredir a sua esposa Maria no dia 25/05/2018, vindo a agredi-la somente 2 meses após a intimidação. Depois de julgado e condenado, é solto em 2019, espancando Maria até a morte no dia 20/03/2019. Posto isso, João cometeu um crime progressivo no dia 25/05/2018? Segundo o conflito aparente de normas, qual tipo de crime João realizou no dia 20/03/2019? Indique o princípio aplicado. 4) (2,5) Em 2020 o mundo sofreu o impacto do vírus Sars-Cov 2 e, em março desse ano, o Brasil parou por conta dessa pandemia. Com isso, várias medidas tiveram que ser tomadas e várias leis sancionadas com urgência e uma delas foi a Lei n° 14.019/2020 que torna obrigatório o uso de máscaras. Imagine que essa lei tivesse previsto como crime, punido com pena de detenção de 06 meses a 02 anos, a conduta de não usar máscara e Carlos, precisando ir à farmácia, esqueceu de colocar a sua máscara, tendo sido investigado e condenado por isso a uma pena de 6 meses de detenção. Passada essa situação, 1 ano depois, Carlos novamente infringiu essa lei, sendo descoberto, processado e condenado por suas infrações. Considerando essa situação, responda: a) Carlos poderá ser novamente penalizado por infringir esse tipo penal?? b) Supondo que depois de um tempo, a situação mundial e brasileira fosse normalizada (ou seja, se a pandemia estivesse acabado) e a Lei n° 14.019/2020 deixasse de existir, fazendo com que toda a população pudesse sair sem a obrigatoriedade do uso de máscara, pode-se dizer que tal mudança de situação poderia refletir, de alguma forma, na condenação do réu? Justifiquea sua resposta. Faculdade Baiana de Direito Aluna: Ana Beatriz de Morais Silva Turma: 2A Professora: Mayana Sales Disciplina: Direito Penal I Data: 30/05/2021 1. (2,5) Victor, cidadão brasileiro, decidiu fazer um intercambio na cidade de Washington nos Estados Unidos, abrigando-se na casa de seu amigo Jason, cidadão norte-americano. Durante a viagem, Victor resolve ir a uma boate com Jason e acaba exagerando no consumo de álcool, brigando com Jason e Lucas (um brasileiro que conheceu na boate). Vitor agride Jason e Lucas, entretanto, eles conseguem revidar, golpeando Victor com chutes. Com isso, Victor, mesmo muito machucado, vai em direção a embaixada brasileira, que se localiza próximo, na tentativa de ficar imune a polícia. Já Lucas, permaneceu no local e telefonou para o seu pai (diplomata brasileiro) ir ajudá-lo. Jason também permaneceu no local. Posto isso, será possível aplicar a lei brasileira em relação a Victor e a Lucas? E qual lei será aplicada a Jason? Fundamente a sua resposta. R: Após a análise do caso, não será possível aplicar a lei brasileira em relação a Victor e Lucas. No caso de Lucas, se o pai estiver em Missão Diplomática em Washington, ele terá a imunidade de jurisdição e de execução penal, civil, administrativa e tributária, pois, ela incide sobre o agente diplomático e sua família, os adidos militares e o pessoal técnico e administrativo, como secretárias etc. No caso de Victor, a lei norte-americana será aplicada, porque apesar de ter ido para a embaixada brasileira, na tentativa de ficar imune a polícia, ela não é mais considerada uma extensão do território brasileiro. Para que a lei brasileira pudesse ser aplicada em relação a Victor e Lucas (se o pai não estiver em Missão Diplomática), dependeria do concurso de algumas condições, previstas no parágrafo 2, art. 7°, do Código Penal: a) entrar o agente no território nacional; b) ser o fato punível também no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável. Como nada disso ocorreu, a lei que será aplicada em relação, em princípio, somente a Victor, será a norte-americana. Já em relação a Jason, a lei aplicada também será a norte-americana, porque para que a se incida a lei brasileira, de acordo com o art. 7, parágrafo 3, CP, a lei brasileira aplica-se ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do brasil, se, reunidas as condições: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; b) houve requisição do Ministro da Justiça. Tudo o que foi exposto vale-se do critério de territorialidade, considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado (art. 6 do Código Penal). 2. Eduardo é um agente diplomático brasileiro que foi convocado para uma missão no Japão. Diante disso, ele decide levar a sua família, de origem asiática, com ele. Quando estava sobrevoando sob a Rússia, na aeronave da FAB, houve um desentendimento entre Eduardo e Miguel (empregado particular), que acabou gerando o crime de lesão corporal (art. 129, CP). De acordo com tais situações acima responda: a) A lei de que país deverá ser aplicada em relação ao crime de lesão corporal? R: A lei do Brasil deverá ser aplicada em relação ao crime de lesão corporal, porque o avião em que Eduardo e Miguel estavam era uma aeronave brasileira, que são consideradas extensão do território brasileiro, de acordo com o parágrafo 1, art. 5°, CP: “para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar”. b) A família de Eduardo pode gozar da imunidade penal? R: Não, porque apesar de a família de um diplomata ter a imunidade de jurisdição e de execução penal, civil, administrativa e tributária em qualquer caso, direito este previsto no artigo 37 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas: “os membros da família de um agente diplomático que com ele vivam gozarão dos privilégios e imunidades mencionados nos artigos 29 e 36, desde que não sejam nacionais do estado acreditado”, fica claro que se a família de Eduardo que tem origem asiática, for do Japão, não terá direito a imunidade penal, mas se tiverem origem de qualquer outro país asiático, que não seja o Japão, que é o estado acreditado, terá a imunidade penal. c) Caso a agressão tivesse ocorrido em território japonês, e Eduardo e Miguel tivessem sido presos, tal prisão seria acertada? R: A prisão de Eduardo não seria correta, pois, um diplomata tem imunidade, no caso, penal, no país em que está em Missão, mesmo que cometa um ato grave no país em que se encontra. Já no caso de Miguel, a prisão seria acertada, poque a imunidade penal não se estende aos empregados particulares dos agentes diplomáticos, ainda que sejam brasileiros. 3. (2,5) João ameaça agredir a sua esposa Maria no dia 25/05/2018, vindo a agredi- la somente 2 meses após a intimidação. Depois de julgado e condenado, é solto em 2019, espancando Maria até a morte no dia 20/03/2019. Posto isso, João cometeu um crime progressivo no dia 25/05/2018? Segundo o conflito aparente de normas, qual tipo de crime João realizou no dia 20/03/2019? Indique o princípio aplicado. R: No dia 25/05/2018, João não cometeu crime progressivo, pois, a ameaça não é um crime meio para a prática de lesão corporal (Apelação Crime n° 70077035368, Segunda Câmara Criminal, TJRS, relator: Luiz Mello Guimarães, julgado em 24/05/2018). Já no dia 20/03/2019, João, segundo o conflito aparente de normas, realizou um crime progressivo. Que consiste em o agente, desde o início, ter o objetivo de produzir o resultado mais grave, por isso ele pratica atos sucessivos, para poder alcançar o resultado desejado. Em relação a João, a lesão corporal foi um meio natural para que ocorresse do homicídio. Com isso, o resultado, o mais grave, consome os atos praticados anteriormente, de menor grau, chamados, doutrinamento, de crime de ação de passagem. Podem ser observados alguns elementos, como: unidade de elemento subjetivo: só houve uma única vontade desde o começo; progressividade na lesão ao bem jurídico: os atos violam o bem jurídico a cada vez de maneira mais intensa, sendo assim, os atos anteriores absorvidos pelo ato mais grave, unidade de fato: há apenas um crime, uma única vontade etc. 4. (2,5) Em 2020 o mundo sofreu o impacto do vírus Sars-Cov 2 e, em março desse ano, o Brasil parou por conta dessa pandemia. Com isso, várias medidas tiveram que ser tomadas e várias leis sancionadas com urgência e uma delas foi a Lei n° 14.019/2020 que torna obrigatório o uso de máscaras. Imagine que essa lei tivesse previsto como crime, punido com pena de detenção de 06 meses a 02 anos, a conduta de não usar máscara e Carlos, precisando ir à farmácia, esqueceu de colocar a sua máscara, tendo sido investigado e condenado por isso a uma pena de 6 meses de detenção. Passada essa situação, 1 ano depois, Carlos novamente infringiu essa lei, sendo descoberto, processado e condenado por suas infrações. Considerando essa situação, responda: a) Carlos poderá ser novamente penalizado por infringir esse tipo penal?? R: Sim, porque Carlos não está sendo penalizado por sua reincidência, mas sim pela nova conduta delitiva, ao infringir novamente a lei que torna obrigatórioo uso de máscaras durante a pandemia da covid-19, constituindo um objeto de nova condenação. b) Supondo que depois de um tempo, a situação mundial e brasileira fosse normalizada (ou seja, se a pandemia estivesse acabado) e a Lei n° 14.019/2020 deixasse de existir, fazendo com que toda a população pudesse sair sem a obrigatoriedade do uso de máscara, pode-se dizer que tal mudança de situação poderia refletir, de alguma forma, na condenação do réu? Justifique a sua resposta R: A lei n° 14.019/2020, que torna o uso obrigatório de máscaras, é uma lei penal excepcional, que se trata de leis editadas para vigência durante acontecimento determinado (guerra, calamidades públicas, como epidemias, terremotos etc.), que no caso, foi a pandemia da covid-19. Esta lei penal excepcional está subtraída de exceção da retroatividade de lei mais favorável porque teriam ultra-atividade (art. 3, CP: a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência). De acordo com Juarez Cirino dos Santos: “A teoria dominante admite a ultra-atividade da lei penal excepcional em prejuízo do réu, sob o argumento utilitário de que inevitáveis dilações processuais impediriam a aplicação da lei durante o tempo ou o acontecimento determinados ou sob o argumento técnico de que o tempo ou o acontecimento integrariam o tipo legal, excluindo, em ambas as hipóteses, a retroatividade da lei penal mais favorável” (pag. 74, 2020) Portanto, a mudança da lei, permitindo que toda a população pudesse sair sem o uso obrigatório de máscaras, não reflete uma mudança na condenação do réu, já que o mesmo irá continuar recluso por ter cometido o ato ilegal, porque no momento de sua condenação a lei estava vigendo, e só iria retroagir em prejuízo do réu.
Compartilhar