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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE 
ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY 
COORDENAÇÃO GERAL DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA 
CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM 
NÚCLEO DE PESQUISA DE ENFERMAGEM E SAÚDE COLETIVA 
 
 
 
 
 
HOMENS IDOSOS E O CUIDADO DE SI 
 IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM GERONTOGERIÁTRICA 
 
 
 
 
 
Autora: Lidyane Gomes Soares 
 
Orientadora: Profª Drª Ana Maria Domingos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
MARÇO/2012 
 2 
 HOMENS IDOSOS E O CUIDADO DE SI 
IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM GERONTOGERIÁTRICA 
 
 
 
 
Lidyane Gomes Soares 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa 
de Pós-Graduação e Pesquisa em Enfermagem, 
Curso de Mestrado em Enfermagem da Escola de 
Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos 
necessários à obtenção do título de Mestre em 
Enfermagem. 
 
 
Orientadora: Profª Drª Ana Maria Domingos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
MARÇO/ 2012 
 3 
 HOMENS IDOSOS E O CUIDADO DE SI 
 IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM GERONTOGERIÁTRICA 
 
 
Lidyane Gomes Soares 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
_____________________________________________________ 
Profª Dra Ana Maria Domingos - EEAN/UFRJ 
Presidente 
 
_____________________________________________________ 
Profª Dra Selma Petra Chaves Sá - EEAAC/UFF 
1ª Examinadora 
 
_____________________________________________________ 
 
Profª Dra Regina Célia Gollner Zeitoune - EEAN/UFRJ 
2ª Examinadora 
 
_____________________________________________________ 
Profª Dra Ana Karine Ramos Brum - EEAAC/UFF 
Suplente 
 
_____________________________________________________ 
 
Profª Dra Sheila Nascimento Pereira de Farias - EEAN/UFRJ 
Suplente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
MARÇO/2012 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gomes Soares, Lidyane 
 Homens idosos e o cuidado de si Implicações para a enfermagem 
gerontogeriátrica/ Lidyane Gomes Soares. Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN. 2012. 
 Xii, 134f: Il, 31cm. 
 Orientadora: Ana Maria Domingos. 
 Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
Escola de Enfermagem Anna Nery. 2012. 
 Referências Bibliográficas: 109-119f. 
 1. Saúde do homem. 2. Idoso. 3. Cuidado de si. 4. Representações 
Sociais. 5. Enfermagem geriátrica- Tese. I. Domingos, Ana Maria. II. 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, EEAN. III. Título. 
CDD 610.73 
 
 5 
RESUMO 
 
 
Homens idosos e o cuidado de si 
 Implicações para a enfermagem gerontogeriátrica 
 
Lidyane Gomes Soares 
 
Orientadora: Ana Maria Domingos 
 
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em 
Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre 
em Enfermagem. 
 
Estudo sobre as representações sociais de homens idosos sobre o cuidado de si. Os 
objetivos foram: descrever as representações sociais do homem idoso sobre o cuidado 
de si, analisar as influências dessas representações sociais nas práticas do cuidado de si 
por homens idosos e discutir as implicações das representações do homem idoso sobre o 
cuidado de si para a assistência de Enfermagem Gerontogeriátrica. A base conceitual 
apoiou-se no conceito de cuidado de si, formulado por Focault. O caminho teórico-
metodológico foi desenvolvido, segundo o referencial teórico das Representações 
Sociais. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva realizada com 30 homens 
idosos de uma comunidade situada no campi de uma Universidade Federal no 
município do Rio de Janeiro. Foi aplicado um formulário para levantamento das 
características sócio-demográficas e epidemiológicas e utilizada a entrevista semi-
estruturada para apreensão das representações sociais. Na análise dos dados foi utilizada 
a categorização temática proposta por Bardin. Dos resultados emergiram as seguintes 
categorias: Implicações da velhice e do cuidado de saúde na construção da 
representação social do Cuidado de Si pelo homem idoso; O cuidado de si dos homens 
idosos: seu significado, manifestações e impeditivos. Foi possível verificar um 
compartilhamento de idéias e pensamentos centrais circulantes que convergem em 
saberes e modelam comportamentos e práticas do cuidado de si. As conclusões mostram 
que estão se operando mudanças nas representações sociais do homem idoso a cerca do 
cuidado de si, e apontam, também que o primordial para que a enfermagem 
gerontogeriátrica possa atuar junto a esses sujeitos é trabalhar as concepções da velhice, 
cuidado de saúde e cuidado de si nas diferentes etapas do ciclo da vida. 
 
 
Palavras-chave: Saúde do Homem, Idoso, Cuidado de si, Representações Sociais, 
Enfermagem geriátrica. 
 
 
 
 
 
 
 
 6 
ABSTRACT 
 
Elderly men and self-care 
Implications for geriatric nursing 
 
Lidyane Gomes Soares 
 
Instructor: Ana Maria Domingos 
 
Abstract of the Master’s Dissertation submitted to the Post Graduate Program in 
Nursing of the Anna Nery Nursing School, Federal University of Rio de Janeiro – 
UFRJ, that is required to earn the M.A. degree in Nursing. 
 
Study on the social representations of elderly men on self-care. The objectives were to 
describe the social representations of the old man about the care of each other, analyze 
the influences of these representations in the practice of self-care for elderly men and 
discuss the implications of representations of the old man about the care of each other 
for assistance geriatric nursing. The conceptual basis relied on the concept of self-care, 
formulated by Foucault. The theoretical and methodological framework was developed, 
according to the theory of social representations. This was a descriptive and qualitative 
research conducted with 30 elderly men from a community located in a University 
campus in the city of Rio de Janeiro. We administered a survey form to the socio-
demographic and epidemiological used semi-structured interview for seizure of social 
representations. In the data, analysis was used thematic categorization proposed by 
Bardin. The results highlight the following categories: Implications for aging and health 
care in the construction of social representations of Care for the old man himself; Self 
care of older men: its meaning, demonstrations and impediments. It was possible to see 
a sharing of ideas and thoughts that converge on central circulating knowledge and 
shape attitudes and practices of self-care. The findings show that changes are operating 
in the social representations of the old man about care of themselves, and also indicate 
that the primary for the geriatric nursing can act together with these guys is to work the 
concepts of aging, health care and care of themselves at different stages of the life cycle. 
 
 
 
Keywords: Men’s Healthy, Aging, Care of the self, Social Representations, 
Geriatric Nursing. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
 
Dedicatória 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À Deus, amigo, companheiro, acolhedor, que me deu força, 
conforto e segurança em cada etapa de minha vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 8 
 
AGRADECIMENTO ESPECIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus Avós, Walmir e Glorinha que sempre estiveram ao 
meu lado e que cuidaram de mim desde que nasci, me educando 
e me dando amor incondicional, sendo os principais 
responsáveis por eu ter chegado aonde cheguei. Minha dívida de 
gratidão será eterna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ainda que seja uma experiência acadêmica, fazer este mestradofoi sem dúvida um 
grande desafio e um grande aprendizado, que marcará minha vida profundamente em 
todos os âmbitos. Foram muitos os momentos compartilhados alegrias, tristezas, perdas 
e ganhos e é nesse momento que descobrimos ao nosso redor pessoas tão especiais, 
amigas e solidárias. 
 
Agradeço a todas essas pessoas por ter aprendido algo com elas e não poderia deixar 
neste momento de fazer menção a algumas, que sem dúvida foram especiais na 
conclusão dessa tarefa. 
 
Ao meu DEUS, pela fidelidade e cuidado a mim dispensados a cada dia da minha vida. 
 
À minha orientadora Drª Ana Maria Domingos pelo seu carinho, apoio por sua valiosa 
contribuição no desenvolvimento deste trabalho. Obrigada, pelo incentivo ajudando-me 
a transpor algumas barreiras. Obrigada, pelos ensinamentos que extrapolaram as 
questões técnicas. 
 
Aos professores dos cursos de Pós-Graduação, pelos ensinamentos, sem os quais não 
poderia realizar este trabalho. 
 
Aos colegas que fizeram parte desse Mestrado, que compartilharam comigo as mesmas 
experiências. 
 
Às Professoras que fizeram parte da Banca Examinadora, pela imensa colaboração no 
direcionamento deste trabalho. 
 
À todos os membros do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem e Saúde Coletiva pelas 
contribuições e incentivos na realização deste trabalho. 
 
À Professora Marléia não somente pelos ensinamentos, mas pela escuta qualificada nos 
momentos difíceis. 
 
Ao grupo de convivência “Viver e Ser Feliz”, pelo carinho, pela acolhida e pela 
participação no desenvolvimento deste trabalho. 
 
Aos funcionários e amigos da Associação de Moradores da Vila Residencial- UFRJ 
pelo apoio e confiança. 
 
Aos secretários Sônia e Jorge pelo apoio nos momentos solicitados. 
 
Aos meus pais, as minhas irmãs e irmão que me acompanharam no desenvolvimento 
deste trabalho e entenderam o meu comprometimento e as minhas ausências. 
 
Ao meu marido Fernando pelo carinho, apoio e compreensão nos momentos difíceis do 
desenvolvimento deste trabalho. 
 10 
 
SUMÁRIO 
 
CAPÍTULO I 
1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................13 
1.1. O cuidado de si por homens idosos como objeto de estudo..............................13 
1.2 As motivações....................................................................................................16 
1.3. Relevância.........................................................................................................20 
1.4. Justificativa........................................................................................................21 
1.5. Contribuições do estudo....................................................................................24 
CAPÍTULO II 
2.BASES CONCEITUAIS DO ESTUDO.............................................................26 
2.1. O envelhecimento masculino: Aspectos biopsicossociais e culturais................26 
2.2. Políticas Públicas voltadas à Pessoa Idosa.........................................................30 
2.3. Enfermagem Gerontogeriátrica: aspectos a destacar..........................................37 
2.4. Considerações sobre o cuidado de si..................................................................39 
CAPÍTULO III 
3. REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLOGICO......................................44 
3.1 Teoria das Representações Sociais.....................................................................44 
3.2.Procedimentos Metodológicos...........................................................................49 
CAPÍTULO IV 
4. CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS.........................................................57 
CAPÍTULO V 
5.APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS...............................................63 
5.1 Implicações da velhice e do cuidado de saúde na construção da representação 
social do Cuidado de Si pelo homem idoso.............................................................63 
5.1.1 Ser idoso é.......................................................................................................63 
5.1.2 O cuidado de saúde segundo o homem idoso.................................................71 
5.2 O cuidado de si dos homens idosos: seu significado, manifestações e 
impeditivos.............................................................................................................79 
5.2.1 O olhar do homem idoso para si ...................................................................79 
5.2.2 As práticas do cuidado de si..........................................................................84 
5.2.3 Entraves ao cuidado de si..............................................................................90 
CAPÍTULO VI 
6. Implicações das representações sociais do homem idoso sobre o cuidado de si 
para a assistência de enfermagem gerontogeriátrica..............................................97 
CAPÍTILO VII 
7.Considerações finais...........................................................................................104 
Referências...........................................................................................................109 
Apêndices..............................................................................................................120 
Apêndice 01 - Formulário Sociodemográfico........................................................120 
Apêndice 02- Entrevista Semi-estruturada.............................................................121 
Apêndice 03-Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................122 
Apêndice 04- Carta de autorização da pesquisa.....................................................123 
Apêndice 05- Tabelas e quadros sobre a caracterização dos sujeitos.....................124 
 
 
 11 
Lista de Tabelas 
 
Tabela 01-Distribuição dos dados mais relevantes dos artigos e teses segundo o ano de 
publicação, tipo de estudo, revista de publicação e eixo temático. 
Tabela 02-Distribuição dos homens idosos quanto à idade. 
Tabela 03-Distribuição dos homens idosos quanto à raça. 
Tabela 04-Distribuição dos homens idosos quanto à religião. 
Tabela 05-Distribuição dos homens idosos quanto à situação conjugal 
Tabela 06-Distribuição dos homens idosos quanto à situação de moradia. 
Tabela 07-Distribuição dos homens idosos quanto à pessoas com quem residem. 
Tabela 08-Distribuição dos homens idosos quanto à quantidade de cômodos na 
residência. 
Tabela 09-Distribuição dos homens idosos quanto às condições de moradia 
Tabela 10-Distribuição dos homens idosos quanto à escolaridade 
Tabela 11-Distribuição dos homens idosos quanto à Profissão. 
Tabela 12-Distribuição dos homens idosos quanto à ocupação 
Tabela 13-Distribuição dos homens idosos quanto à situação de renda 
Tabela 14-Distribuição dos homens idosos quanto ao número de salários mínimos 
recebido. 
Tabela 15-Distribuição dos homens idosos quanto à Situação previdenciária 
Tabela 16-Distribuição dos homens idosos quanto à auto percepção das condições de 
saúde. 
Tabela 17-Distribuição dos homens idosos quanto à existência de problemas de saúde. 
Tabela 18-Distribuição dos homens idosos quanto ao uso regular de medicamentos. 
Tabela 19-Distribuição dos homens idosos quanto ao recebimento de ajuda para 
realização das atividades de vida diária. 
Tabela 20-Distribuição dos 04 homens idosos que recebem ajuda nas atividades de vida 
diária quanto à quem os auxilia. 
Tabela 21-Distribuição dos homens idosos quanto às atividades de vida diária que 
recebem auxilio. 
 
 
 12 
Lista de Quadros 
 
Quadro 01- Quadro Demonstrativo da Construção de Categorias da Análise Temática. 
Quadro 02-Distribuição dos homens idosos quanto aos problemas de saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13CAPITULO I 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
1.1. O cuidado de si por homens idosos como objeto de estudo 
 
O objeto deste estudo é as representações sociais de homens idosos sobre o 
cuidado de si. O objeto enunciado privilegia quatro temas centrais: homem, idoso, 
cuidado de si e representações sociais. O primeiro, o homem, foi determinado como 
objeto porque compreende um grupo social que durante muito tempo, não foi priorizado 
nas Políticas Públicas de Saúde. No entanto, na última década, o aumento expressivo da 
população masculina nas estatísticas de morbimortalidade, deu visibilidade a provável 
relutância do homem com relação ao próprio cuidado, justificada pela baixa adesão aos 
serviços da rede de cuidados primários do sistema público de saúde. 
Assim, a saúde masculina tornou-se foco do interesse da saúde coletiva e das 
políticas públicas. A primeira intenção é a de promover uma transformação na forma 
como os homens lidam com a própria saúde e determinar as mudanças necessárias 
visando a ampliação da cobertura da assistência do Setor Saúde. 
 Uma questão que merece ser destacada quando se trata da saúde do homem são 
as diferenças de gênero. Gênero é definido como um conjunto de valores construídos 
histórica e socialmente (SAFFIOTI, 2004). Portanto, masculinidade e feminilidade são 
construções histórico-sociais. Tais construções organizam e fundam representações que 
dizem respeito às teorias do senso comum relacionadas à saúde e ao cuidado, e podem 
explicar comportamentos de risco e práticas do cuidado de si. Na verdade o gênero é 
uma categoria central nas análises das diferenças entre a velhice feminina e a masculina. 
Quando se compara dados demográficos e epidemiológicos, por exemplo, os 
resultados do último censo demográfico (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 
2010) apontaram que há no Brasil 190.755.799 habitantes, destes 51% são mulheres e 
49% são homens. A prevalência feminina também é constatada na população acima de 
60 anos, que de acordo com o IBGE (2010) está em torno de 20.590.599, sendo 
11.434.487 mulheres e 9.156.112 homens. 
Dois fatores justificam a prevalência das mulheres: a expectativa de vida, visto 
que os homens morrem em média 7,6 anos mais cedo, e a vida média ao nascer, que de 
 14 
1999 para 2009, obteve um incremento de 3,1 anos, com as mulheres em situação bem 
mais favorável que a dos homens (73,9 para 77,0 anos, no caso das mulheres, e 66,3 
para 69,4 anos, para os homens) (IBGE, 2010). 
O tema idoso justifica-se por corresponder a uma parcela da população cada vez 
mais presente do ponto de vista numérico, o que acarreta o aumento das demandas 
assistenciais. Tais demandas estão integradas as significações atribuídas à velhice que 
são alimentadas por estereótipos tais como: ser improdutivo, doente, dependente e 
pobre, ou seja, ser idoso indica passar por mudanças radicais, que inclui as perdas de 
papéis sociais. Sobre essa questão, Debert (1998, p.140) comenta que a velhice feminina 
seria mais “suave do que a masculina, na medida em que a mulher não experimenta 
uma ruptura em relação ao mundo do trabalho”. 
O último tema, cuidado de si, como linha teórica a ser investigada é entendido à 
luz das concepções de Focault. Este autor tomou por base em seus estudos a filosofia 
greco-romana e a espiritualidade cristã. Focault utiliza a expressão “tecnologias do eu” 
para se referir as práticas utilizadas pelos gregos, no cuidado de seus corpos e suas 
almas. Neste sentido, cabe um questionamento: como o homem idoso, por si ou com a 
ajuda dos outros, realiza os cuidados sobre seu corpo? 
Neste sentido tem pertinência a reflexão de que o homem idoso ao utilizar as 
tecnologias de si, através de práticas cotidianas que tem para consigo estará 
sedimentando sua governabilidade ou autonomia, valorando-se, pois ao realizar cada 
uma das formas de cuidado de si (conhecimento de si, ocupar-se de si, intercâmbio 
corpo e alma, prática de si, governo de si) mantém o espaço da dignidade, do respeito 
humano, de governo de si e da situação. 
Além disso, o cuidado de si do homem que vivencia a velhice pode refletir o 
autocuidado. O governo de si (autonomia, liberdade, decisão), implica na redução de 
espaços de governo do ser que envelhece pelos outros (desautonomia) e aumenta o 
conhecimento de si sobre verdades, temores, dúvidas e significados das suas vivências 
(SCUCATO, 2004). 
Sintetizando, o cuidado de si significa conhecer-se, portanto diz respeito à 
subjetividade do sujeito. Remetendo ao homem idoso, ocupar-se de si, preocupar-se 
consigo mesmo, daí derivando imperativos sociais e a elaboração de saberes coletivos 
(FOUCAULT, 1985). 
 15 
A opção por pesquisar o cuidado de si baseia-se no paradigma da 
simultaneidade, que na concepção de Silva et all (2009) deve ser empregado em 
pesquisas que preconizam desvendar o universo da pessoa. A partir desse entendimento, 
nesta pesquisa, se entende que o homem idoso tem a vivencia do seu cuidado e, por 
conseguinte é o único conhecedor da situação vivida. Através desta compreensão é 
possível para a enfermagem auxiliar o homem idoso acerca da importância da 
experiência no cuidado de si e assim de sua saúde, para deste modo melhorar sua 
qualidade de vida, eixo que no contexto da saúde do homem idoso pode se apresentar 
comprometido. 
É esse desvendar que permite esse cuidado singular que se configura à medida 
que o cuidado de si possibilita o estabelecimento de um processo dialógico com o outro, 
ouvindo-o em suas considerações e trançando um cuidado compartilhado e não 
prescritivo. 
Acredito que os significados conferidos ao cuidado de si, são socialmente 
construídos por meio de processos discursivos. Portanto, a forma como o homem idoso 
pensa e age acerca do cuidado de si é o resultado de representações socialmente 
elaboradas. Isso porque, condutas e comportamentos ligados ao cuidado de si fazem 
parte de um conhecimento do senso comum e agregam padrões justificatórios que 
abastecem esse segmento social e situam os homens idosos dentro de um espaço 
discursivo comum. 
A representação social é sempre uma unidade do que as pessoas pensam e do 
modo como agem. Então, a apreensão das representações do homem idoso acerca do 
cuidado de si é imprescindível para a compreensão dos determinantes psicossociais 
dessa prática social. Para Serge Moscovici, as representações sociais são conjuntos de 
conceitos, afirmações e explicações que são verdadeiras teorias do senso comum, que 
permitem a interpretação e a construção de realidades sociais (SÁ, 1993). 
Concordo com Sá (2004) que a atitude assumida pelos idosos em relação ao 
cuidado de si, reflete em seu corpo, e pode advir das representações sociais do 
envelhecimento, visto que o corpo é carregado de subjetividade, e é nele que a 
fragilidade humana se mostra, pois o seu todo e cada uma de suas partes guardam 
informações e experiências vividas ao longo da vida. 
 16 
Considerando, então, que os fatores demográficos, epidemiológicos e de gênero 
foram abordados em estudos já realizados, optei por explorar os fatores psicossociais 
associados ao cuidado de si, compreendendo que desvendar as representações sociais 
acerca do cuidado de si é primordial para nortear a atenção à saúde do homem na 
velhice. 
Deste modo, busco a incorporação de novos elementos à prática da Enfermagem 
Gerontogeriátrica, o que remete as categorias de pensamento, de ação e de sentimento 
que expressam a realidade social, seja explicando, justificando-a ou colocando-a em 
questão. 
1.2 As motivações 
 
A realização do estudo também se pautou nas experiências de ordem 
profissional. Neste sentido destaco que as questões que envolvem o homem idoso e o 
cuidado de si surgiram ainda na época que cursei a graduação na Escola de Enfermagem 
Anna Nery, a partir de observações empíricas no estágio curricular. 
No curso de graduação em enfermagemdiversos são os cenários de estágio 
percorridos, e estes além de possibilitarem ao estudante o conhecimento prático das 
funções profissionais também se caracterizam como mediadores de habilidades, 
vocações e competências tão necessárias a formação profissional. 
Logo que ingressei no Programa Curricular Interdepartamental IV denominado 
“Enfermagem nos cuidados básicos de saúde” me despertou o interesse pela consulta de 
enfermagem gerontológica que era realizada no Programa de Assistência Integral à 
Pessoa Idosa do Hospital Escola São Francisco de Assis da Universidade Federal do Rio 
de Janeiro. De imediato, me sensibilizei, com as necessidades de saúde emanadas pelos 
usuários e percebi uma tendência de gênero quanto à freqüência na consulta de 
enfermagem, as mulheres idosas prevaleciam na busca ao serviço. 
Em outros cenários de estágio notei que a proporção de homens idosos que 
procuravam atendimento na emergência e na atenção especializada tanto em nível 
secundário quanto terciário era percentualmente mais elevada quando comparada à 
demanda masculina aos serviços de atenção primária de saúde. 
Tomando como ponto de apreciação os agravos apresentados pelo segmento 
masculino idoso no contexto hospitalar, observei que destacaram-se: diabetes com 
 17 
complicações como neuropatias em vias de hemodiálise, retinopatias e neuropatias 
periféricas já em estágio avançado, amputações, principalmente de membros inferiores, 
hipertensão com alto grau de comprometimento cardíaco, renal, cerebral e vascular 
algumas vezes associada à história pregressa de infarto e Acidente Vascular Cerebral 
(AVC). Podem-se observar, também, tumores malignos de próstata e pulmão, 
necessitando de cirurgias e quimioterapia, e ainda casos de tumor intestinal, em que o 
homem idoso precisava realizar cirurgias de ressecção intestinal com exteriorização do 
intestino e uso de bolsa de colostomia, o que produzia um impacto social e psicológico 
para esse paciente. 
Em suma, a saúde do homem idoso nestes cenários já se apresentava 
comprometida e necessitando de intervenções mais complexas, justificadas pelo 
retardamento da atenção e da baixa adesão ao cuidado preventivo. Desse modo, 
compreendo que há uma lacuna entre o que é preconizado no atendimento à saúde do 
homem idoso e o que é realmente efetivado. Esse contexto levou- me a refletir acerca da 
importância do cuidado de enfermagem prestado a esse sujeito e da manifestação de sua 
autonomia nesse cuidado, particularmente se este homem idoso ainda convive com uma 
doença tão estigmatizada quanto o câncer. Percebo ser incipiente o conhecimento 
técnico-científico dos profissionais da saúde no que se refere ao cuidado específico da 
população idosa e do próprio idoso, no que tange ao seu direito de autodeterminação. 
Diante dessa perspectiva o retardamento da atenção à saúde do homem gera um 
maior custo tanto para o indivíduo quanto para o Sistema Único de Saúde, em virtude 
da maior complexidade das ações necessárias. No tocante aos custos elevados, cita-se o 
próprio usuário como exemplo, pois além da fragilidade física, psicológica e social 
ainda se depara com a precariedade econômica, desestabilizando, inclusive, os papéis na 
rede familiar. Nesse sentido, observo que essa conjuntura colabora diretamente para o 
enfraquecimento da autodeterminação do homem idoso. 
Prosseguindo em minhas observações, no último período do curso de graduação 
o contato com o homem idoso se estabeleceu através da atuação em unidades da 
Estratégia Saúde da Família (ESF). Nesse contexto, o comportamento dessa clientela 
em prol de sua saúde se apresentava controverso a proposta da ESF. Essa afirmativa 
toma por base o fato de que a entrada desse usuário no sistema de saúde é direcionada 
por “situações urgências” como: elevação da pressão arterial, curativos ou dores e 
 18 
desconfortos em geral. Portanto, não se tratava de uma conduta para um cuidado ativo 
pela sua saúde, apenas uma assistência esporádica a um problema momentâneo, não 
tinha objetivo de manutenção da saúde, mas sim de restabelecimento da mesma. 
Essa problemática tem sido apontada por diferentes autores, notadamente por 
aqueles que discutem a ESF, como é o caso de Schraiber (2005) que constatou esse 
fenômeno em 12 unidades da ESF, que cobriam geograficamente a cidade do Recife, e 
Figueiredo (2008) que descreveu a ocorrência em duas unidades de saúde em São Paulo. 
Portanto, é legítimo afirmar que o uso dos serviços de saúde pelos homens difere 
daquele feito pelas mulheres, concentrando-se na assistência a patologias instaladas. 
Pinheiro et all (2002) e Figueiredo (2005), por exemplo, comentam que “a 
despeito da maior vulnerabilidade e das altas taxas de morbimortalidade, os homens não 
buscam, como as mulheres, os serviços de atenção básica”, fato que pode ser explicado 
principalmente, pela prática cultural das mulheres desde cedo serem criadas para 
desempenharem e se responsabilizarem pelo papel de “Cuidadoras”. 
Sabo (2002), Keijzer (2003), Bozon (2004) e Schraiber et all (2005), apontam 
que os estereótipos de gênero, enraizados há séculos em nossa cultura patriarcal, 
potencializam práticas baseadas em crenças e valores do que é ser masculino. E é essa 
concepção hegemônica de masculinidade como apontado na Política Nacional de 
Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH, 2008) que ainda em nossa sociedade 
tem sido o eixo estruturante pela não procura aos serviços de saúde. 
Para Gomes e Nascimento (2006), essas dificuldades apresentadas pelo 
segmento masculino têm a ver com a noção de invulnerabilidade e a busca de risco 
como um valor, que dificultariam a verbalização de suas necessidades de saúde no 
contexto da assistência. Recentes investigações acerca das percepções dos homens sobre 
os serviços de APS apontam que estes se destinam às pessoas idosas, às mulheres e às 
crianças, sendo considerados pelos homens como um espaço feminilizado, o que lhes 
provocaria a sensação de não pertencimento àquele espaço (Gomes, Nascimento, 
Araújo, 2007; Figueiredo, 2008). 
Grande parte dos problemas de saúde que atingem o homem idoso pode ser 
explicada pela baixa adesão às medidas de atenção à saúde em outras etapas do ciclo 
vital, por influência das variáveis socioculturais e de gênero. Além do mais, não 
 19 
existiam até pouco tempo políticas voltadas à saúde do homem como há para as 
mulheres, o que sugere uma grande desigualdade de gênero. 
A aproximação a essa problemática me fez refletir que a saúde do homem na 
velhice é um desafio considerando que o seu engajamento no cuidado à sua saúde ao 
longo do ciclo da vida é manejado por aspectos culturais, sociais e pelo pensamento, 
hegemônico socialmente produzido e reproduzido sobre a invulnerabilidade masculina, 
o que determina seu modo de pensar e agir frente ao cuidado de si. 
Nas discussões Foucaltianas o cuidado de si é construído na relação com o outro, 
intermediado pelo diálogo, e contextualizado pela vivencia do cuidado para o corpo e 
para a alma. 
Certamente essa relação do homem idoso com o cuidado não depende apenas de 
serviços eficazes, mas também do próprio empreendimento desse sujeito na produção de 
saúde, o que não exime a necessidade de profissionais de saúde cada vez mais 
capacitados a lidar com as questões psicossociais implicadas na assistência à saúde 
desta clientela. 
Sobre esse aspecto destaco a importância da Enfermagem Gerontogeriátrica 
enquanto disciplina que abarca o conhecimento e a prática da enfermagem geral, da 
geriatria (Estudo das doenças e incapacidades nas idades avançadas, sua prevenção e 
tratamento) e da gerontologia (Estudo do processo de envelhecimento) justamente por 
ser a especificidade da enfermagem que cuida do idoso em todos os níveis de atenção à 
saúde (GONÇALVES, 2002). 
Assim, tendo em vista os eixos temáticos e as motivações apresentadas, 
constituiu-se como objeto dainvestigação, as representações sociais de homens idosos 
sobre o cuidado de si. 
E frente ao exposto, as questões norteadoras deste estudo foram: 
- Quais são as representações sociais do homem idoso sobre o cuidado de si? 
- Quais as influências dessas representações nas práticas do cuidado de si por 
homens idosos? 
- Quais são as implicações de tais representações para a atuação da 
Enfermagem Gerontogeriátrica junto aos homens idosos? 
 
 20 
Para responder as questões norteadoras foram formulados os seguintes objetivos 
do estudo: 
- Descrever as representações sociais do homem idoso sobre o cuidado de si. 
- Analisar as influências dessas representações sociais nas práticas do cuidado 
de si por homens idosos. 
- Discutir as implicações das representações do homem idoso sobre o cuidado 
de si para a assistência de Enfermagem Gerontogeriátrica. 
 
1.3. Relevância do Estudo 
 
Diante da problemática apresentada, a relevância deste estudo emerge por 
contemplar a Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Saúde (Brasil, 2008), em 
virtude da necessidade de estudos que norteiem a atenção à saúde do homem idoso, que 
diante da falta, até bem pouco tempo, de políticas públicas que assegurassem a atenção 
à saúde, vêm demandando atenção integral emergente. 
Outro aspecto se apresenta na prática de enfermagem gerontogeriátrica, quando 
se passa a perceber a relevância da sensibilização dos profissionais de enfermagem 
sobre a importância de uma assistência de enfermagem qualificada, levando em 
consideração que as representações sociais dos homens idosos sobre o cuidado de si, 
expressam os processos através dos quais esse grupo social produz saberes que lhes 
confere uma identidade social. Em conseqüência trará benefícios não somente a esta 
clientela, mas ao agente do cuidado, uma vez que o significado do cuidado para o 
homem idoso trará subsídios para um cuidado de enfermagem mais efetivo mediante o 
entendimento da influência da cultura, valores, conceitos e pré-conceitos. 
Ainda acrescenta-se que a relevância deste estudo diz respeito ao desejo de 
corroborar com a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem, que precisa 
se colocar em prática, de forma a orientar as ações e serviços de saúde para a população 
masculina, com integralidade e equidade, primando pela humanização da atenção. E 
ainda assim enfatizar a necessidade de mudança de paradigma no que concerne à 
percepção da população masculina em relação ao cuidado de si. 
 
 
 21 
1.4. Justificativa 
 
O estudo pretende desvendar por meio das representações sociais os saberes 
comuns compartilhados pelos homens idosos sobre o cuidar de si. Isso porque se 
entende que cada grupo pensa diferente, as mulheres em contraponto têm outra visão 
que pode ser evidenciada em suas práticas de cuidar o que difere dos homens. 
Assim justifica-se este estudo, ao possível preenchimento de uma lacuna no 
conhecimento sobre este vasto e complexo mundo que é o cuidar do homem que 
também é idoso. É fato que há essa lacuna de conhecimento na área da atenção a saúde 
do homem idoso no que se refere ao cuidado de si, e esta se comprova através da busca 
realizada para explorar o conteúdo bibliográfico concernente à temática. 
 Desta forma, através de um levantamento nas bases de dados LILACS, BDENF, 
MEDLINE e na biblioteca virtual SCIELO, com o uso dos descritores em saúde 
“IDOSO” e “SAÚDE DO HOMEM” encontrei um total de 103 publicações, 101 na 
MEDLINE, 01 na BDENF, 01 na LILACS e nenhum na SCIELO.. 
Ao fazer a leitura desses estudos, 101 artigos e 02 teses, verifiquei que nenhum 
dos estudos abordava a questão do cuidado de si ou as representações sociais do homem 
idoso, o que me incentivou a prosseguir meu estudo buscando preencher essa lacuna no 
conhecimento. 
Desta forma, ao verificar a ausência de produções nessa perspectiva, continuei a 
pesquisa buscando identificar e explorar o que vêm sendo estudado no campo de saúde 
do homem idoso e para tal, apliquei os critérios de inclusão e exclusão para uma 
refinada seleção. 
Entre os critérios de inclusão destaco artigos e teses com resumos ou trabalhos 
completos publicados dentro da temática “IDOSO” e “SAÚDE DO HOMEM”, sem 
recorte temporal
1
 e como critérios de exclusão enfatizo: produções sem resumo, 
resumos ou trabalhos completos que não abordavam a temática, e produções repetidas 
em bases diferentes. 
Após aplicar esses critérios, foram excluídos, 50 artigos: 30 artigos que não se 
enquadravam na temática, 19 artigos que não continham resumo e 01 tese porque se 
 
1
 Exceto na base de dados MEDLINE, pois este instrumento de pesquisa disponibiliza 
apenas resultados de trabalhos produzidos no período de 1997-2010. 
 22 
encontrava repetida em outra base de dados. Sendo assim, minha seleção final foi 
composta por 53 produções: 52 artigos e 1 tese. 
Abaixo segue tabela ilustrativa sobre os dados mais relevantes destas produções: 
 
Tabela 01- Distribuição dos dados mais relevantes dos artigos e teses 
segundo ano de publicação, país de publicação, tipo de estudo, revista de 
publicação e eixo temático. 
Indicador Resposta N % 
Ano 2007 22 41,6 
2008 16 30,2 
País de 
Publicação 
EUA 37 69,8 
Inglaterra 11 20,8 
Tipo de estudo Qualitativo 26 49,1 
Quanti-
qualitativo 
14 26,4 
Revista de 
Publicação 
Journal of 
Sexual Medicine 
11 21,3 
Journal Elder 
Abuse Neglect 
09 17,4 
Eixo Temático Função/ 
Disfunção sexual 
12 22,7 
Abuso sexual 07 13,3 
 
Analisando essas produções, constatei que a maioria das publicações foi 
realizada no ano de 2007 com 22 artigos, sendo seguido pelos anos de 2008 com 15 
artigos e 01 tese, ano de 2009 com 11 artigos e ano de 2003 e 2010 com 02 artigos cada 
um. 
Os países que mais publicaram estudos concernentes à temática em questão 
foram os Estados Unidos da América com 37 artigos, Inglaterra com 11 artigos, Polônia 
com 02 artigos e Brasil, Hungria e Rússia com 01 produção cada um. 
A abordagem metodológica predominante entre os estudos pesquisados foi a 
qualitativa com 26 artigos, seguido da abordagem quanti-qualitativa com 14, a 
quantitativa com 09 e 04 estudos teóricos. 
 23 
As Revistas e jornais que se destacaram nessas produções foram a Journal of 
Sexual Medicine (11 artigos), Journal Elder Abuse Neglect (09 artigos), BMC Public 
Healthy (05 artigos), American Journal of Public Healthy (03 artigos), Journal of 
Vascular Sugery (02 artigos), Health and Quality of Life Outcomes (02 artigos). Os 
demais periódicos apresentaram 01 artigo cada. 
As publicações selecionadas ainda foram divididas por eixo temático de modo a 
evidenciar a natureza e conteúdo dos estudos em saúde do homem idoso. Os eixos que 
se destacaram foram a Função/ Disfunção sexual (12 artigos), Abuso sexual (07 
artigos), Câncer de próstata (06 artigos) e Mortalidade (05 artigos). 
Dentre os estudos destaco o artigo de Poortinga W; Dunstan FD; Fone DL 
(2007) que trata das percepções do ambiente de vizinhança relacionando com a 
percepção da própria saúde de homens e mulheres idosas que mostrou que os diferentes 
aspectos do ambiente de bairro estão associados com a saúde das pessoas auto-
avaliadas, o que pode em parte refletir impactos na saúde. Os resultados sugerem ainda 
que o ambiente social é mais importante para a saúde das mulheres, mas que o estado 
socioeconômico individual é mais importante para a saúde dos homens, que mostraram 
sua saúde mais afetada pelo desemprego e em contrapartida as mulheres pela falta de 
coesão social. 
Ainda ratifico o estudo de Campbell BB; Shah S; Gosselin D (2009), sobre o 
fato de o homem apresentar maiores taxas de mortalidade ajustada pela idade de muitas 
das principais causas de morte, quando comparado com a mulher. Esses autores 
realizaram uma pesquisa sobre a abordagem aos homens no sentido de educá-los e 
estimulara prevenção de cuidados de saúde e do comportamento doentio que contribui 
para a morte prematura. Entre seus resultados ilustram a utilidade potencial do modelo 
de grupo para melhorar a educação quanto à manutenção da saúde entre os homens. 
Em suma, a revisão bibliográfica e a determinação dos eixos temáticos foram 
estabelecidos mediante a leitura dos resumos e trabalhos completos. No entanto, aponto 
como limitação o reduzido número de artigos completos, apenas 13 artigos em um total 
de 52, o que dificultou a apreensão da temática abordada, do tipo de estudo, bem como 
sua abordagem metodológica e teórica. 
 
 
 24 
1.5 Contribuições do Estudo 
 
Estudar as representações sociais dos homens idosos sobre o cuidado de si trará 
resultados importantes para melhor compreensão do universo masculino, para desvendar 
conceitos, crenças e valores sobre o cuidado de si que tem profunda conexão com a 
forma como se cuidam. 
A Teoria das Representações Sociais como referencial teórico possibilitou o 
melhor entendimento do homem idoso e do cuidado de si enquanto uma prática social 
que sofre influência do pensamento coletivo, à medida que as representações funcionam 
como um sistema de interpretação da realidade. 
 Quando se efetuou o presente estudo, teve-se o intuito de trazer contribuições 
para o ensino da enfermagem gerontogeriátrica, uma vez que, dando maior visibilidade 
à questão da saúde do homem idoso, o cuidado de si e a problemática que o circunda, se 
possa estimular a reflexão e o aprofundamento desse conhecimento nos cursos de 
graduação e de pós-graduação em enfermagem e de outras áreas de conhecimento. 
Também se pretendeu que esta pesquisa subsidie o desenvolvimento de estudos 
no campo da gerontogeriatria, acerca da temática na área de enfermagem e outras áreas 
afins de modo a possibilitar a produção de novos conhecimentos sobre a assistência a 
essa clientela. 
Essa produção contribuirá para que a enfermagem gerontogeriátrica reconheça e 
compreenda o cuidado de si do homem idoso mediante uma visão holística e clara das 
questões que modulam a atenção a sua saúde. E a partir dessas representações 
planejarem uma assistência singular à saúde do homem idoso primando pela qualidade. 
Além do mais ao reconhecer os aspectos subjetivos presente no cuidado de si, o cuidado 
de enfermagem será mais efetivo. 
Nessa linha de argumentação, almeja-se que este estudo suscite discussões e 
reflexões acerca da temática, visando que seus resultados, possam sustentar a assistência 
de outros profissionais de saúde que atuem no campo da gerontogeriatria, em uma 
perspectiva multidisciplinar. 
De outro lado na crença que as representações dão conta de uma vivencia 
singular e, ao mesmo tempo coletiva do cuidado de si, espera-se que as evidencias 
produzidas no estudo possam subsidiar os gestores do sistema de saúde na busca de 
 25 
soluções que envolvem desde o acesso ao sistema de saúde até as motivações para o 
cuidado de si. 
Pretende-se também propiciar contribuições para os sujeitos do estudo, na 
medida em que as evidencias servirão de fundamento para a formulação de estratégias 
no grupo de convivência intergeracional que estimulem a prática do cuidado de si. 
Finalmente, com esta investigação, pretende-se contribuir com a produção 
acadêmica do Grupo de Pesquisa e Estudos Interinstitucional em Enfermagem na 
Atenção à Saúde do Idoso, do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde Coletiva, 
do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública, da Escola de Enfermagem Anna 
Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
 
 26 
CAPÍTULO II 
2. BASES CONCEITUAIS DO ESTUDO 
 
2.1. O envelhecimento masculino: aspectos biopsicossociais e culturais 
 
A condição do “ser homem” é constituída segundo representações sociais 
compartilhadas e perpetuadas nos universos sociais. O masculino é um modelo cultural 
de gênero que existe e persiste no imaginário social. 
Para Marqués (2000), ao gênero masculino são atribuídas qualidades como: 
inteligência, força, rebeldia, transgressão, equilíbrio emocional, racionalidade entre 
outras que forjam modelos idealizados e socialmente reproduzidos de masculinidade 
que circulam na sociedade. 
O envelhecimento é um processo natural, dinâmico e progressivo, é um 
fenômeno biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na plenitude de sua 
existência, modificando sua relação com o tempo, seu relacionamento com o mundo e 
com sua própria história (PAPALEO NETTO, 2002). 
Trata-se de um fenômeno multidimensional que sofre a influência dos aspectos 
biopsicossócio-culturais que permeiam a existência humana e desta forma, tem sido o 
tema central de muitas discussões e debates, não somente pela sua complexidade e 
relevância, mas, sobretudo devido ao seu insidioso impacto na sociedade, na economia e 
na política. 
 Esse impacto tem sido mais evidente principalmente pelo aumento significativo 
da população idosa ao longo dos anos e conforme relata Santos (2001) este se deve a 
três eventos: a redução da mortalidade geral e em especial a mortalidade infantil, a 
diminuição das taxas de fecundidade e o aumento da expectativa de vida. 
Enquanto processo de desenvolvimento é complexo, heterogêneo e ao mesmo 
tempo singular para cada sujeito que o vive. 
Do ponto de vista sócio-cultural, o envelhecimento reflete uma inter-
relação de fatores individuais, sociais e econômicos, fruto da 
educação, trabalho, experiência de vida e cultura. A sociedade 
determina a cada idade funções adequadas que o indivíduo deve 
desempenhar como estudo, trabalho, matrimônio e aposentadoria 
(MOTTA, 2005). 
 
 27 
No Brasil, esses números também se destacam. Segundo o IBGE (2000), o total 
da população era de 169,7 milhões de pessoas, sendo 14,5 milhões de pessoas idosas, 
representando 8,6% do total da população. Ainda, destes 6,5 milhões eram homens, 
representando 44,8% de homens do total de idosos. 
Estatísticas mais atuais do Departamento de Estatísticas do Sistema Único de 
Saúde (DATASUS, 2009), já asseguram que há 19,4 milhões idosos no país, sendo que 
8,6 milhões são homens, representando cerca de 44,3% do total de idosos. Essas 
estatísticas revelam que apesar do crescimento populacional ser de 33,7%, a proporção 
de homens idosos - ainda que expressiva representando quase metade do total de idosos 
- apresentou pouca modificação ao longo dos anos, mantendo seu crescimento regular. 
Projeções do IBGE (2008) estimam que o número de pessoas com mais de 60 
anos
2
 no ano de 2050 será correspondente a 64 milhões de idosos, com uma expectativa 
de vida de 84,5 anos para mulheres e 78,2 anos para os homens, ou seja, uma diferença 
de 6,3 anos. 
A população idosa apresenta necessidades bem diferenciadas dos demais grupos 
populacionais, exigindo um atendimento amplo na área da habitação, lazer e transportes, 
mas é no campo da saúde que a pressão tem sido mais intensa, no sentido da 
necessidade urgente de se adequarem os sistemas locais de saúde, principalmente no 
que se refere à capacitação dos profissionais de saúde para lidar com as demandas dessa 
população (GONÇALVES, 2002). 
Essas demandas vão além da ordem física e mental, pois as capacidades física e 
biológica do ser humano diminuem naturalmente, com o passar dos anos, o que implica 
em redirecionar a ordem social, econômica e cultural. Além disso, o idoso, em função 
das doenças crônico-degenerativas, apresenta uma demanda elevada por bens e serviços 
de saúde e, com o aumento deste contingente, também aumentam os desafios para os 
governos, sociedade e familiares (SAAD, 1990, BERQUÓ & BAENIGER, 2000). 
A partir dessas prerrogativas, com o homem idoso esse processo não poderia 
acontecer diferente, uma vez que influenciado pelas diversas subjetividades do seu ser, a 
velhice do homem se constrói com base nas masculinidades construídas historicamente 
e sócioculturalmente.2
 Ponto de corte estabelecido pela OPAS/OMS para os países em desenvolvimento, firmado pela 
Política Nacional do Idoso (PNI, 1994). 
 28 
Acerca do envelhecimento, os discursos comumente reportam ao idoso uma 
imagem negativa desse processo, marcado quase sempre por perdas de ordem física, 
econômica, afetiva e social. Segundo Gatto (2002) velhice é o momento no qual se 
deparam com uma série de perdas significativas, como o surgimento das doenças 
crônicas, a viuvez, morte dos amigos, ausência de papéis sociais, isolamento crescente, 
dificuldade financeira decorrente da aposentadoria, as quais irão de alguma forma afetar 
a sua autoestima. 
Sobre o envelhecimento, Silva (2007) afirma que: 
...é visto pela sociedade como um aspecto negativo, desconhecido por 
parte da população em geral, que o vivencia, trazendo situações que 
impossibilitam o desenvolvimento de oportunidades de viver uma 
velhice com mais qualidade de vida. 
 
Acerca do aspecto biológico do envelhecimento, foi evidenciado num estudo de 
Silva (2007), que os homens têm consciência de que sua aparência física muda, a pele 
enruga, o cabelo fica grisalho, mas essas modificações, aparentemente, na avaliação dos 
mesmos, não merecem valor de destaque, pois são entendidas como naturais, não sendo 
motivos de preocupação. No entanto, os pensamentos expressos neste estudo, não 
retratam a realidade, pois se observa, cada vez mais, que os homens idosos têm se 
preocupado com sua aparência, com o objetivo de acobertar o que para eles os torna 
velhos e assim, indivíduos excluídos da sociedade. 
Tourinho Filho (2003) afirma que uma das funções que mais sofrem com o 
processo de envelhecimento é a força muscular, pois a fraqueza nos músculos pode 
avançar até que uma pessoa idosa não consiga realizar as atividades comuns do 
cotidiano. 
Como muito bem detalhado por Silva (2007) ao observar os homens idosos, nos 
deparamos com o descuido dos mesmos com seus corpos e sua saúde o que revela um 
estado de aprisionamento à cultura patriarcal que não admite a visibilidade da 
vulnerabilidade e fragilidade masculinas até então ainda tão negadas. Estudos, como o 
de Silva (2007) demonstram que os homens idosos não buscam assistência à saúde, este 
interesse só surge diante de alguma patologia já instalada. Isso porque a doença é vista 
como: 
... um sinal de fragilidade que os homens não reconhecem como 
inerentes à sua própria condição biológica. O homem julga-se 
invulnerável, o que acaba por contribuir para que cuide menos de si 
 29 
mesmo e se exponha mais às situações de risco (SABO, 2002, 
KEIJZER, 2003; BOZON, 2004; SCHRAIBER ET ALL, 2005). 
 
Além disso, a busca assistencial da saúde e a realização de exames periódicos 
como um cuidado preventivo não é uma prática comum entre os homens idosos, fato a 
ser constatado pelos altos índices de morbimortalidade por neoplasias, principalmente a 
de próstata. 
Segundo o Sistema Nacional de Auditoria, órgão do Ministério da Saúde, no 
quadro da saúde pública brasileira, o câncer de próstata é um dos grandes problemas. 
Esse tipo de câncer já é duas vezes mais freqüente do que o câncer de mama. Esses altos 
índices ocorrem em razão de a principal medida preventiva consistir no toque retal, 
prática que afronta as características identitárias masculinas, que é forjada pelas 
representações sociais construídas sobre a mesma (BRASIL, 2005). 
Além de ser tido como doloroso, e esse medo da dor tanto física quanto 
simbólica, presente no imaginário masculino, o leva a não se expor a esse exame que 
para ele é uma violação, uma experiência de desconforto físico e psicológico de estar 
sendo tocado, numa parte que para ele é interdita, pois é o que iguala o corpo masculino 
ao corpo feminino (DAMATTA, 1997). 
Assim, compreende-se que incluir a participação do homem nas ações de saúde 
constitui-se num desafio, principalmente porque o cuidado de si e a valorização do 
corpo não são questões colocadas na socialização dos homens. 
Por outro lado, vale a pena destacar a questão da sexualidade. Para os homens 
idosos, a capacidade de poderem realizar o ato sexual está diretamente ligada ao vigor 
físico e a afirmação da masculinidade e virilidade. Sobre esse ponto se observa que este 
aspecto sexual não tem sido considerado na prática diária de saúde. 
É preciso que o homem idoso seja visto como sujeito de direitos sexuais, 
reconhecendo que o exercício da sexualidade não é necessariamente interrompido com 
o avanço da idade, sendo uma importante dimensão da vida subjetiva, afetiva e 
relacional desse indivíduo, merecendo atenção especial, não somente pelo seu 
significado, mas também porque esta questão está intimamente relacionada à ingestão 
desregulada de medicações para aumento da potência sexual. 
Outro fato que deve ser referido é a valorização social das faixas de idades que 
se encontram ligadas aos ritmos sócioprofissionais nas diversas etapas da vida. Neste 
 30 
caso, a aposentadoria se apresenta como um importante marcador social do processo de 
envelhecimento. 
A chegada da aposentadoria ainda é encarada como o fim da 
produtividade, levando o homem muitas vezes ao sentimento de 
inutilidade, ainda mais quando este é o responsável pelo sustento da 
família, papel historicamente atribuído ao homem, que se mantém 
muitas vezes após se aposentar. O processo de envelhecimento 
extrapola a biologia e perpassa todas os aspectos da vida de um 
indivíduo. Com o tempo, mudam as dimensões psíquicas da pessoa, 
mudanças decorrentes de um acúmulo de experiência de vida. Tais 
experiências são o resultado dos acontecimentos vividos e de sua 
elaboração, e comportam paradoxos, sendo potencialmente 
produtivas, mesmo no caso de vivências afetivamente negativas como 
a aposentadoria e as perdas de vínculos por afastamento ou morte. O 
comportamento de uma pessoa diante de determinadas situações está 
de acordo com os hábitos, gostos e estilo de vida adquiridos e 
elaborados ao longo dos anos. Assim a capacidade de adaptação às 
perdas e outras mudanças durante a vida determinam grandemente a 
capacidade de adaptação do indivíduo à idade avançada (MOTTA, 
2005). 
 
Muitas são as heterogeneidades do ser homem idoso e também muitos são os 
questionamentos que cercam os processos que marcam o envelhecimento, cabendo 
nesse sentido, inferir que a condição de homem e idoso é marcada por mitos e 
esteriótipos, como os de que é inútil, o que o leva muitas vezes a aceitar essa condição, 
o que se reflete em suas ações e na sua saúde. Desta forma, se faz importante refletir 
acerca desse assunto afim de que medidas sejam tomadas. 
 
2.2. Políticas Públicas voltadas à Pessoa Idosa 
 
Quanto às políticas cabe ressaltar que o consenso em termos da abrangência das 
demandas e da necessidade da organização das praticas sanitárias de vigilância e 
atenção à saúde da população idosa levou a Assembléia Geral da Organização das 
Nações Unidas (1978) a convocar em 1982, uma Assembléia Mundial sobre o 
Envelhecimento. Essa Assembléia, ocorrida em Viena, foi o primeiro fórum global 
intergovernamental centrado no tema do envelhecimento populacional e foi considerada 
o marco inicial para o estabelecimento de uma agenda internacional de políticas 
públicas para a população idosa, sendo assim, foi aprovado o Plano de Ação 
Internacional de Viena sobre envelhecimento, mais conhecido como Plano de Viena. 
 31 
O Plano de Viena visa garantir a segurança econômica e social das pessoas 
idosas, bem como, oportunidades para que essas pessoas contribuam para o 
desenvolvimento de seus países. (PLANO DE AÇÃO INTERNACIONAL DE VIENA 
SOBRE O ENVELHECIMENTO, 2003). E apesar de ter sido aprovado em 1982, 
somente 20 anos depois, em 2002, numa segunda Assembléia realizada em Madri, na 
Espanha, é que este plano foi revisto, sendo lançado em 2003 com o objetivo de guiar a 
formulação e aplicação de políticas para oenvelhecimento, visando à melhoria da 
qualidade de vida dos idosos e sua integração na sociedade. Entre suas recomendações 
destaca-se a adoção de medidas em relação à pessoa idosa no que tange ao seu 
desenvolvimento, a promoção da saúde e bem-estar e a criação de ambiente propício e 
favorável para convivência intergeracional. 
Já se passado quase 10 anos após a publicação, reflete-se sobre as proposições 
de Viena, e observa-se que as recomendações ainda necessitam ser ampliadas, não 
obstante algumas medidas terem sido adotadas pelos governos, ainda são grandes as 
demandas desse grupo populacional. 
Em 1980, a Assembléia Geral como resultado da Assembléia mundial sobre 
envelhecimento manifestou também seu desejo de que “as sociedades reajam mais 
plenamente ante as conseqüências sócio-econômicas do envelhecimento das populações 
e ante as necessidades especiais das pessoas de idade” e mediante esse objetivo aprovou 
um plano concebido como Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento (PIAE) 
firmado em uma Segunda Assembléia realizada em 2002 pela Organização das Nações 
Unidas em Madri. 
 Esse Plano Internacional conhecido como Plano de Madri é considerado parte 
integrante das principais estratégias e programas internacionais, regionais e nacionais 
formulados em resposta a importantes problemas e necessidades de caráter mundial. 
Segundo o Centro de Informação das Nações Unidas em Portugal (2002) o 
documento afirma claramente que a velhice não é um problema, mas sim uma 
conquista, e que não se trata meramente de uma questão de segurança social e de bem-
estar, mas sim de desenvolvimento global e de políticas econômicas. E, pela primeira 
vez, os Governos concordaram em que é necessário integrar a velhice noutros quadros 
de desenvolvimento social, econômico e de direitos humanos. 
 32 
Entre seus objetivos destaca-se garantir que em todas as partes, a população 
possa envelhecer com segurança e dignidade e que os idosos possam continuar 
participando em suas respectivas sociedades como cidadãos com plenos direitos; 
oferecer um instrumento prático para ajudar os responsáveis pela formulação de 
políticas a considerar as prioridades básicas associadas com o envelhecimento dos 
indivíduos e das populações, além de reconhecer as características comuns do 
envelhecimento e os problemas que apresenta e formular recomendações concretas 
adaptáveis às mais diversas circunstâncias de cada país. 
No Plano levam-se em conta as diversas etapas do desenvolvimento e as 
transições que estão tendo lugar em diversas regiões, assim como a interdependência de 
todos os países na presente época de globalização. 
Deste modo, a concepção deste plano é um marco internacional no que concerne 
ao processo de envelhecimento e suas implicações. Ainda cabe destacar, que este 
documento reorientou a visão mundial sobre essa questão, tendo inúmeras repercussões. 
Como exemplo de repercussão, pode-se enfatizar o documento "Envelhecimento 
Ativo: um marco para elaboração de políticas", criado pela Organização Mundial de 
Saúde (OMS, 2002), que complementa e amplia o PIAE. Este Projeto de Política de 
Saúde pretende informar a discussão e a formulação de planos de ação que promovam 
um envelhecimento saudável e ativo como base para o desenvolvimento de ações mais 
específicas em nível regional, nacional e local, de acordo com o plano de ação adotado 
pelo Segundo Encontro Mundial das Nações Unidas sobre Envelhecimento de 2002. 
Secundariamente, os avanços no campo do envelhecimento não se deram apenas 
num nível internacional, a idéia da atenção ao idoso como pauta imprescindível, 
também se deu em nível nacional. 
No Brasil, a preocupação concernente ao idoso está contemplada, em diversos 
textos legais, a começar pela Carta Magna que em seu Art.Iº, determina a República 
Federativa do Brasil e estabelece, dentre seus fundamentos, a cidadania e a dignidade da 
pessoa humana; no Inc. IV do Art. 3º define o objetivo de promover o bem de todos, 
sem preconceitos e origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de 
discriminação (FIGUEIREDO, 2006). 
Em 1994, outro marco; influenciado pelas recomendações do documento 
Políticas para a terceira idade redigido por volta dos anos 90 produzido pela 
 33 
Associação Nacional de Gerontologia (ANG) foi criado a Política Nacional do Idoso 
sob a lei 8.842, a partir das inúmeras discussões e consultas ocorridas tanto 
internacionalmente como nacionalmente nos estados. 
Tendo como fim o de assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições 
para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade, a lei 
representa um passo inicial no sentido de reconhecer a importância desse segmento 
populacional. A política, conforme regulamentada em lei visa tratar as questões dos 
idosos pautadas pelos Princípios das Nações Unidas em favor das Pessoas de Idade e foi 
estabelecida na reunião geral da entidade, de 3 de dezembro de 1982. 
No entanto, ainda com uma política voltada ao idoso, havia a premente 
necessidade de que o setor saúde dispusesse de uma política atualizada, assim em 1999, 
o Ministério da Saúde anuncia a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, a qual 
determina que os órgãos e entidades do Ministério da Saúde relacionados ao tema 
promovam a elaboração ou a readequação de planos, projetos e atividades na 
conformidade das diretrizes e responsabilidades nela estabelecidas (BRASIL, 1999). 
Essa política assume que o principal problema que pode afetar o idoso é a perda 
de sua capacidade funcional, isto é, a perda das habilidades físicas e mentais necessárias 
para realização de atividades básicas e instrumentais da vida diária (BRASIL, 2006). 
Outro documento que reflete a questão do envelhecimento foi a denominada 
“Carta de Ouro Preto”, criada em Dezembro de 2002 durante uma oficina em Ouro 
Preto, Minas Gerais com cerca de trinta especialistas brasileiros, com grande 
experiência nacional e internacional nas áreas de Saúde Pública, Geriatria e 
Gerontologia e responde a aspectos críticos do Plano Internacional de Ação sobre 
Envelhecimento já apresentado neste trabalho que foi criado em abril do mesmo ano. 
O eixo central das discussões nesta carta foi “Desigualdades Sociais e de Gênero 
e Saúde dos Idosos no Brasil” onde foram sintetizados os debates realizados durante 
este encontro apontando questões que deveriam ser priorizadas com o objetivo de 
reduzir desigualdades sociais e de gênero em saúde enfrentadas pelos idosos brasileiros 
e reconhecendo que o envelhecimento é uma conquista social e que o idoso tem 
importantes contribuições para o desenvolvimento social e econômico do país. 
 34 
Ainda no Brasil, pode-se citar outro marco na trajetória do reconhecimento do 
envelhecimento como uma questão de destaque e na ampliação da atenção ao idoso que 
foi a criação do Estatuto do Idoso em 2003. 
Segundo Humberto Costa, Ministro da Saúde em 2003, o Estatuto do Idoso, 
elaborado com intensa participação das entidades de defesa dos interesses das pessoas 
idosas, aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado pelo presidente Luís Inácio 
Lula da Silva, ampliou em muito a resposta do Estado e da sociedade às necessidades 
dessas pessoas. Este estatuto trata dos mais variados aspectos da vida do idoso, 
abrangendo desde direitos fundamentais até o estabelecimento de penas para crimes 
mais comuns cometidos contra as essas pessoas. 
Embora a legislação brasileira relativa aos cuidados da população idosa seja 
bastante avançada, a prática ainda é insatisfatória. A vigência do Estatuto do Idoso e seu 
uso como instrumento para a conquista de direitos dos idosos, a ampliação da Estratégia 
Saúde da Família, criada em 1994, que revela a presença de idosos e famílias frágeis e 
em situação de grande vulnerabilidade social e a inserção ainda incipiente das Redes 
Estaduais de Assistência à Saúde do Idoso tornaram imperiosaa readequação da Política 
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006). 
Desta forma, em 2006 o Ministério da Saúde publicava por meio da Portaria nº 
399/GM, o documento das Diretrizes do Pacto pela Saúde que contempla o Pacto pela 
Vida, no qual a saúde do idoso aparece como uma das seis prioridades pactuadas entre 
as três esferas de governo sendo apresentada uma série de ações que visam, em última 
instância, à implementação de algumas das diretrizes da Política Nacional de Atenção à 
Saúde do Idoso. 
Entretanto, mesmo em meio a tantas políticas voltadas ao idoso, como as que 
foram apresentadas concordo com o conteúdo da Portaria nº 2.528 de 19 de outubro de 
2006, que aprova a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e aponta que muito há 
que se fazer para que o Sistema Único de Saúde dê respostas efetivas e eficazes às 
necessidades e demandas de saúde da população idosa brasileira. 
As políticas apresentadas e a intrigante situação dos idosos atualmente, na 
opinião de Pereira (1996), são bastante arrojadas, elogiadas e reconhecidas no plano 
internacional, com julgados e jurisprudências que envolvem essa matéria. Mas não pode 
ficar só por escrito. Não adianta a cobertura legal e judicial, se as estratégias e ações, no 
 35 
mínimo um direito de qualquer pessoa, não forem colocadas em prática pela sociedade e 
suas instituições. 
Quanto às políticas existentes no que tange os gêneros e ciclos de vida, sua 
grande maioria é voltada à mulher, a criança e ao adolescente. No que cabe a pessoa 
idosa e ao homem destaco a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI, 2006) 
e a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH, 2008). 
A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) tem em sua introdução o 
seu único apontamento ao homem, quando estabelece como meta final uma atenção à 
saúde adequada e digna para os idosos e idosas brasileiras, principalmente para aquela 
parcela da população idosa que teve, por uma série de razões, um processo de 
envelhecimento marcado por doenças e agravos que impõem sérias limitações ao seu 
bem-estar (PNSPI, 2006). 
E quem mais teria seu processo de envelhecimento mais afetado que o homem? 
Segundo Figueiredo (2006) os homens ressentem mais a debilidade física que as 
mulheres. E estudos comparativos entre homens e mulheres como os de Courtenay 
(2000), Luck et all (2000), Nardi et all (2007) e Laurenti et all (2005), comprovam o 
fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças, sobretudo às enfermidades 
graves e crônicas, e que morrem mais precocemente que as mulheres. Há que se 
reconhecer também que são os homens, segundo os indicadores tradicionais, que detém 
os maiores índices de mortalidade, em praticamente todas as idades e para quase a 
totalidade das causas. Isso implica na esperança de vida ao nascer e em outras idades 
sempre menor quando comparado às mulheres. 
A Política Nacional de Atenção Integral a Saúde do Homem (PNAISH), criada 
em agosto de 2008, é norteada pela Política de Atenção Básica, que define as estratégias 
de humanização em saúde e determina a rede de cuidados de saúde primários como a 
porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). 
A PNAISH visa qualificar a atenção à saúde do segmento populacional 
masculino na perspectiva das linhas de cuidado, resguardando a integralidade da 
atenção à saúde. E tem entre seus objetivos promover ações de saúde que contribuam 
significativamente para a compreensão da realidade masculina nos seus diversos 
contextos socioculturais e políticoeconômicos, e o respeito aos diferentes níveis de 
desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde e tipos de gestão. Este 
 36 
conjunto possibilita o aumento da expectativa de vida e a redução dos índices de 
morbimortalidade por causas preveníveis e evitáveis nessa população. 
Ainda a PNAISH explicita o reconhecimento de determinantes sociais que 
resultam na vulnerabilidade da população masculina aos agravos à saúde e aponta as 
variadas barreiras sócio-culturais e institucionais, destacando que o importante é 
resgatar o homem como sujeito de direitos à saúde. Nesta perspectiva, Daniels (1996) 
destaca que “[...] as pessoas têm direito ao acesso à atenção dos serviços de saúde para 
o restabelecimento de sua condição fisiológica normal porque só desse modo elas 
poderão ter garantido igualdade de oportunidades, que são as características de 
sociedades democráticas.” 
A PNAISH (2008) tem seu maior foco na faixa etária de 18 a 59 anos. Não 
obstante, a referência que pode ser extraída dessa política acerca do homem idoso é a de 
que na velhice, os homens são levados a se confrontar com a própria vulnerabilidade, 
sobretudo, porque nessa etapa do ciclo de vida muitos são levados a procurar suporte do 
sistema de serviços de saúde diante de quadros irreversíveis de adoecimento. 
Confrontando à questão da saúde do homem idoso com as legislações existentes, 
questiono o papel dessas políticas, isto porque, não se observa a complementaridade 
entre a Política Nacional da Pessoa Idosa e a Política Nacional de Atenção Integral a 
Saúde do Homem, uma vez que elas deixam uma lacuna no que se refere às 
singularidades do homem que é idoso, condição esta que considera-se fundamental para 
a melhoria da saúde do homem idoso e a redução das taxas de morbimortalidade. 
E apesar de seu foco não se direcionar intrinsecamente ao idoso, esta política 
tem profunda importância para o processo de envelhecimento, para o qual à médio e 
longo prazo trará muitos benefícios, à medida que o jovem de hoje será o idoso de 
amanhã e uma vez se apontando as barreiras para o cuidado do homem como relatado 
acima poderão ser traçadas ações que modifiquem a sua situação de saúde, o que vai 
inclusive mudar as próprias representações sociais do envelhecimento, de saúde e do 
próprio cuidado de si. 
 
 
 
 
 37 
2.3. Enfermagem Gerontogeriátrica: aspectos a destacar 
 
A enfermagem gerontogeriátrica supõe o agrupamento do conhecimento e da 
prática de enfermagem, provenientes da enfermagem geral, da geriatria e da 
gerontologia (GONÇALVES, 2002). 
Considerando a Geriatria como um ramo da medicina que estuda as doenças da 
velhice e seu tratamento e Gerontologia como a ciência que estuda e trata o 
envelhecimento; a enfermagem gerontogeriátrica se constitui; e à luz desses 
conhecimentos fundamenta o planejamento e a implementação da assistência de 
enfermagem ao idoso desde o nível primário, promovendo um envelhecimento saudável 
até o nível quaternário, promovendo a reintegração e reabilitação. 
A enfermagem, como disciplina voltada para o cuidado humano e para o ensino 
do cuidado à saúde da pessoa consigo própria, ou seja, ao cuidado de si, se aproxima da 
prática gerontogeriátrica à medida que aborda esse idoso em sua multidimensionalidade 
propiciando melhora na sua qualidade de vida. 
Desta forma, a Enfermagem Gerontogeriátrica através da promoção de um viver 
saudável efetivado por meio de estratégias que visam a manutenção da autonomia, da 
independência, do estímulo do bom humor e da auto-estima, bem como ao destaque das 
potencialidades e funcionalidades, conduz esse idoso a um cuidado ativo e contínuo 
através de seu desenvolvimento pessoal. 
Quando se trata da atenção à saúde da pessoa idosa, a sua finalidade 
principal é conseguir manutenção de um bom estado de saúde, para 
que essa pessoa possa alcançar um máximo de vida ativa, no ambiente 
em que está inserida, juntamente com sua família, com autonomia e 
independência física, psíquica e social (PASCHOAL, SALLES, 
FRANCO, 2006). 
 
Para Santos (2008) o trabalho em enfermagem gerontogeriátrica orienta-se, para 
os cuidados específicos, o que obriga a uma maior utilização dos conhecimentos 
adquiridos, da criatividade e da capacidade de compreender as relações existentes entre 
o idoso, sua família, comunidade e sociedade. 
Essa relação é deextrema importância e sobre isso, o Art. 3º do título 1 do 
Estatuto do idoso (2003) refere que: 
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder 
Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao 
 38 
esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao 
respeito e à convivência familiar e comunitária. 
 
O artigo destaca que a família veio se inovando ao longo dos anos e o conceito 
tradicional veio sendo modificado. A família brasileira do terceiro milênio está cada vez 
mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque, 
agora muitos são os casos na qual a família se apresenta como um ambiente 
comprometedor do equilíbrio psicosócioemocional do idoso. 
Essas mudanças que estão ocorrendo nas representações de família vêm 
exigindo novas formas de convívio familiar e, por conseguinte a reformulação de 
valores e de conceitos nas novas gerações. Nesse período de transformações que se 
vive se faz imprescindível o entendimento das transições e mudanças sociais, culturais e 
psicológicas que vem se processando nas últimas décadas, para encararmos o processo 
de envelhecimento dentro de expectativas que sejam condizentes com as novas formas 
de organização familiar. 
Isso quer dizer, que qualquer que seja o arranjo na qual se estruturará essa 
família do futuro, há de se manterem os vínculos afetivos entre seus membros e os 
idosos, principalmente porque nesta fase da vida se observa uma grande carência de 
atenção e carinho. 
Desta forma, nesta fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, 
respeitado, ter uma vida com dignidade, tranqüilidade, recebendo a atenção e o carinho 
da família e dos amigos e a enfermagem tem papel fundamental neste processo 
auxiliando o reconhecer desse idoso junto à sua família, compreendendo esse processo 
de vida, de transformações, reconhecendo suas fragilidades, modificando sua visão e 
atitude sobre a velhice colaborando para que o idoso mantenha sua posição junto ao 
grupo familiar e a sociedade e ainda orientando e garantindo seus direitos. 
Acerca dos direitos dos idosos, cabe ressaltar que esta também é uma das 
vertentes na qual a enfermagem gerontogeriátrica tem se debruçado, no sentido de 
conferir a esse cliente o conhecimento sobre seus direitos e de dar-lhes um 
direcionamento para a garantia de seus direitos. 
A enfermagem gerontogeriátrica integra todas as dimensões do viver da pessoa 
idosa, procurando desvendar e compreender as singularidades que compõe esse 
 39 
processo de envelhecer sejam elas evidentes ou obscuras, para que apropriada deste 
conhecimento possa aprimorar essa atenção à sua saúde. 
É preciso reconhecer o idoso com um ser carregado de subjetividades, e mais 
especificamente o homem idoso, sujeito desta pesquisa, e é a prática da enfermagem 
gerontogeriátrica através de seus cuidados que faz com que essa clientela escolha, 
modifique e/ ou congregue integralmente os seus cuidados. 
Compreender seus valores, crenças e pensamentos, ou seja, as representações 
acerca de seu cuidado é o que faz a diferença, tanto no sentido de estimular o homem 
idoso no cuidar de si, tornando-o ser ativo no cuidado, quanto do aperfeiçoamento do 
cuidado prestado ao idoso pela enfermagem. 
Contribuindo para o corpo de conhecimentos da enfermagem gerontogeriátrica, 
este estudo procura desvendar e evidenciar as representações sociais do cuidado de si do 
homem idoso, uma vez que esse cliente provido de um comportamento socialmente 
construído emerge uma atenção diferenciada à sua saúde, bem como os dados de 
morbimortalidade têm demonstrado. 
 
2.4. Considerações sobre o cuidado de si 
 
Estudar sobre o cuidado de si nos remete sobre o que significa cuidado. A 
expressão “cuidado” em latim, donde se derivam as línguas latinas e o português, 
significa Cura, seu sinônimo erudito. Em seu sentido mais antigo, cura se escrevia em 
latim coera e se usava em um contexto de relações humanas de amor e de amizade. 
Cura queria expressar a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de inquietação 
pelo objeto ou pela pessoa amada. (BOFF, 2005) 
Boff (2005) ainda esclarece que outros derivam cuidado de: cogitare-cogitatus e 
de sua corruptela coyedar, coidar, cuidar. O sentido de cogitare-cogitatus é o mesmo 
de cura: cogitar é pensar no outro, colocar a atenção nele, mostrar interesse por ele e 
revelar uma atitude de desvelo, até de preocupação pelo outro. 
O cuidado segundo Houaiss (2001) também se refere a “Dedicação, cujo 
comportamento, aparência, formação moral e intelectual são primorosos (falando de 
pessoa); atenção especial, comportamento precavido, zelo, desvelo que se dedica a 
alguém ou algo.” 
 40 
Muitas são as perspectivas que envolvem o cuidado, compreende-se que o 
importante é que se tenha o ideal de que não basta apenas garantir esse cuidado, esse 
desvelo, essa preocupação, mas prestá-lo com qualidade atendendo o cliente de forma 
humanizada e integral, respeitando suas particularidades de forma a proporcionar um 
cuidado efetivo. 
Uma perspectiva acerca do cuidado seria sua abordagem sob a luz do “cuidado 
de si”, uma contenda paradigmática do cuidado que não se restringe ao si e consigo, 
mas são práticas reais que ocorrem numa rede de relações sociais, com o apoio de 
outros sujeitos em uma reciprocidade. 
Esta concepção surgiu nos anos de 1981-1982 na França e foi trazido ao Brasil 
sob o nome de a hermenêutica do sujeito por Michael Foucault, que preocupado com 
reflexões a respeito da sexualidade, desvendou essa temática cuja importância habita em 
sua ligação com as formas dos sujeitos significarem seus corpos, suas ligações consigo 
mesmos e construírem sentido para sua existência, sendo sujeitos autônomos e 
independentes. 
Segundo Foucault (1985), o cuidado de si é um tema antigo dos gregos, onde se 
ocupar de si era um objetivo ligado ao treinamento físico e guerreiro, ao mesmo tempo 
em que era tema essencial do diálogo socrático que professava o conhecimento de si, 
que para Foucault não se distancia do cuidado de si, uma vez que os exercícios 
espirituais que compõem a figura de si são indistintamente práticas do autodomínio e 
exercícios reflexivos do cuidado e de conhecimento de si, já que exige que o sujeito 
olhe para si mesmo e que se modifique alterando o seu próprio ser. (FOUCAULT, 
2004; PRADEAU, 2004). 
Da perspectiva de Birman (2000), o “saber de si” é uma ética criada a partir da 
tradição do cristianismo que marcou o advento das ciências da modernidade e assinalou 
profundamente o momento de construção do saber psicanalítico, apontando o modelo de 
conhecimento e de prática psicanalítica. Em outras palavras, a tese do cuidado de si é 
que a subjetividade é capaz de produzir saber sobre si própria. “Eu acho que uma das 
críticas que eu faria a psicanálise é que a psicanálise, como a medicina, como as demais 
ciências humanas, produziu um certo efeito de despossessão de saber, sobre o corpo, 
sobre a vida, sobre a morte e a dor, ao invés de supor que existe um saber presente nas 
singularidades. 
 41 
O conceito do cuidado de si é antigo, porém tem sido objeto de estudo da ciência 
da enfermagem. Diferentes concepções de cuidado são referidas nas produções 
científicas dos enfermeiros. Neste sentido, cabe destacar a teoria do autocuidado de 
Dorotea Orem como a que mais tem influenciado a produção de conhecimento em 
enfermagem, e esta se diferencia consideravelmente desse novo conceito de cuidado. 
O autocuidado descreve e explica a prática de cuidados executados pela pessoa 
portadora de uma necessidade para manter a saúde e o bem-estar e tem como propósito, 
o emprego de ações de cuidado seguindo um modelo constituído de requisitos 
universais de desenvolvimento e de alterações da saúde. 
Suas diferenças primordiais