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UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Avaliação do Perfil Fitoquímico e Atividade Anti-Leishmania amazonensis de Nasturtium officinale W.T. Aiton (Brassicaceae) IASMIM CASTRO DE LIMA SANTIAGO Rio de Janeiro 2018 ii IASMIM CASTRO DE LIMA SANTIAGO Avaliação do Perfil Fitoquímico e Atividade Anti-Leishmania amazonensis de Nasturtium officinale W.T. Aiton (Brassicaceae) Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Dr. Igor de Almeida Rodrigues Coorientadora: Drª. Ana Claudia F. Amaral Rio de Janeiro 2018 iii IASMIM CASTRO DE LIMA SANTIAGO Avaliação do Perfil Fitoquímico e Atividade Anti-Leishmania amazonensis de Nasturtium officinale W.T. Aiton (Brassicaceae) Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Aprovada em _________________ Orientador: ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Igor de Almeida Rodrigues, FF, UFRJ. Coorientadora: ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Ana Claudia F. Amaral, Farmanguinhos, FIOCRUZ. Banca examinadora: ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Carla Holandino Quaresma, FF, UFRJ. ___________________________________________________________________ Prof. Dr. Leopoldo Barrato, FF, UFRJ. ___________________________________________________________________ Profª. Drª. Danielle Pereira Vieira, IMPG, UFRJ. iv AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me guiou e me capacitou para essa conquista. Agradeço à minha família. Minha mãe Eliane, meu pai Alfredo e minha avó Gentilina que me criaram e se preocuparam sempre com a minha educação, me permitindo chegar até aqui. Ao meu irmão Matheus, à minha tia Elisione e minha prima Roberta, muito obrigada pelo carinho e pelo apoio de todas as horas. Em especial agradeço ao meu marido Mateus Santiago por sempre estar ao meu lado, por todo apoio e compreensão. Eu amo vocês. Aos meus orientadores, Igor e Ana Claudia por me dedicarem seu tempo e sua confiança. Obrigada pela compreensão, pelo ensinamento e por todos os esforços para concretização deste trabalho. Aos companheiros de laboratório, do LABAN e do PN1: Flávia, Michele, Elis, Geisa, Viviane, Aline, José Luiz, em especial à Andreza, Mariana, Maria Athana e Jerfferson, obrigada por todo auxílio que vocês me deram, pela paciência e pelos bons momentos vividos que tornaram o trabalho mais agradável. À Profª. Drª Suzana Côrte-Real pelo auxílio e por abrir as portas de seu laboratório. À Profª. Drª Alane Vermelho pela colaboração. Ao Prof. Dr. Alexandre Pyrho pela doação de animais para os experimentos. Ao Prof. Dr. Eduardo Ricci pelo método de obtenção das nanoemulsões. Ao professor Leopoldo Baratto pela excelente experiência proporcionada a mim com o estágio à docência. Aos professores Suzana Leitão, Carla Holandino, Danielle Vieira, Leopoldo Baratto e Alexandre Pyhro por aceitarem participar desta banca examinadora, como titular ou suplente. Também a todos que de alguma forma participaram da minha trajetória, amigos, familiares, líderes, professores. E aos órgãos de fomento CNPq, CAPES e FAPERJ pelo apoio financeiro. v RESUMO LIMA, Iasmim Castro Santiago. Avaliação do perfil fitoquímico e atividade anti- Leishmania amazonensis e Nasturtium officinale W.T. Aiton (Brassicaceae). Rio de Janeiro, 2018. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018. A leishmaniose é uma doença causada por protozoários intracelulares do gênero Leishmania. Os medicamentos disponíveis apresentam eficácia limitada e muitos efeitos adversos. Neste contexto, os produtos naturais surgem como fonte promissora de substâncias bioativas e potenciais candidatas a novos antileishmaniais. Nasturtium officinale (Brassicaceae) é uma espécie vegetal rica em substâncias ativas, com diversas ações farmacológicas descritas na literatura, como atividade anticâncer, antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil fitoquímico e a atividade anti-Leishmania amazonensis dos extratos, frações e subfrações de N. officinale, bem como da principal substância bioativa, o 2-feniletil-isotiocianato (PEITC), na forma livre e nanoemulsionada. Para isto, foram obtidos macerados da planta inteira seca (NOFS) e fresca (NOFF) em diclorometano, e em etanol absoluto (fresca - NOEE). NOEE seco foi submetido a partições sólido-líquido em diclorometano (NODIC) e metanol (NOMET). NODIC e NOMET foram submetidas à cromatografia de coluna aberta com Sephadex® LH20, gerando 20 (ND1 a 20) e 16 (NM1 a 16) subfrações, respectivamente. Todos os derivados de N. officinale foram analisados por cromatografia gasosa acoplada ao espectrômetro de massas (CG-EM). Ainda, foi preparada uma nanoemulsão contendo PEITC (Nano-PEITC), utilizando Pluronic® 127 como tensoativo. A atividade antileishmanial e citotóxica (magrafagos murinos) foram avaliadas utilizando o sal de tetrazólio (MTT) como indicador. NODIC, NOFF e ND11 apresentaram atividade anti-L. amazonensis sob as formas promastigotas (IC50 = 110, 8,2 e 1,02 µg/mL, respectivamente). A atividade observada pode ser atrelada à concentração de PEITC das amostras. PEITC apresentou IC50 igual a 0,9 µg/mL. As principais alterações na ultraestrutura de parasitos tratados com PEITC foram dilatação mitocondrial, formação de vesículas no citoplasma e na bolsa flagelar. NOFF e PEITC apresentaram citotoxicidade para macrófagos (CC50 = 3,02 e 1,25 µg/mL, respectivamente); e células VERO (CC50 = 45,9 e 15,7 µg/mL, respectivamente). Nano-PEITC aumentou a atividade antileishmanial (IC50 = 0,18 µg/mL), além de melhorar o perfil citotóxico frente a macrófagos e células VERO (CC50 = 0,9 e 6,1 µg/mL, respectivamente). Somados, os resultados apresentados mostram o potencial dos extratos, subfrações de N. officinale, de PEITC e sua nanoemulsão como agentes antileishmaniais. Palavras-Chave: Nasturtium officinale; 2-feniletil-isotiocianato; Leishmania amazonensis; leishmaniose; atividade antileishmanial; nanoemulsão. vi ABSTRACT LIMA, Iasmim Castro Santiago. Evaluation of phytochemical profile and anti-Leishmania amazonensis activity of Nasturtium officinale W.T. Aiton (Brassicaceae). Rio de Janeiro, 2018. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós- graduação em Ciências Farmacêuticas, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018. Leishmaniasis is a disease caused by intracellular protozoa from Leishmania genus. The current drugs have limited efficacy and many adverse effects. In this context, natural products emerge as a promising source of bioactive substances and potential drug candidates leishmaniasis treatment. Nasturtium officinale (Brassicaceae) is a plant species rich in active substances, with several pharmacological properties previously described as anticancer activity, antioxidant, anti-inflammatory and antimicrobial activity. Thus, the objective of this study was to evaluate the phytochemical profile and anti-Leishmania amazonensis activity of extracts, fractions and subfractions of N. officinale, as well as its major component2-phenylethyl- isothiocyanate (PEITC) in the free and nanoemulsion forms. For this, macerates of dried (NOFS) and fresh (NOFF) plants were obtained in dichloromethane, and in absolute ethanol (fresh plant - NOEE). The dry extract of NOEE was subjected to solid-liquid partitions in dichloromethane (NODIC) and methanol (NOMET). NODIC and NOMET were subjected to open-column chromatography with Sephadex® LH20, generating 20 (ND1-20) and 16 (NM1-16) subfractions, respectively. All N. officinale derivatives were analyzed by gas chromatography coupled to the mass spectrometer (GC-MS). Further, a nanoemulsion containing PEITC (Nano-PEITC) was prepared using Pluronic® 127 as surfactant. The antileishmanial and cytotoxic (murine macrophages) activities were determined by tetrazolium salt method (MTT). NODIC, NOFF and ND11 showed anti-L. amazonensis activity against promastigote forms (IC50 = 110, 8.2 and 1.02 μg/mL, respectively). The activity was shown to be linked to the PEITC concentration of the samples. PEITC showed IC50 equal to 0.9 μg/mL. Changes in the ultrastructure of parasites treated with PEITC such as mitochondrial dilatation, formation of vesicles in the cytoplasm and in the flagellar pocket were observed. NOFF and PEITC presented cytotoxicity against macrophages (CC50 = 3.02 and 1.25 μg/mL, respectively); and VERO cells (CC50 = 45.9 and 15.7 μg/mL, respectively). Nano-PEITC showed higher antileishmanial activity (IC50 = 0.18 μg/mL), and a better cytotoxic profile against macrophages and VERO cells (CC50 = 0.9 and 6.1 μg/mL, respectively). Finally, the results presented show the potential of N. officinale, PEITC and its nanoemulsion as antileishmanial agents. Key words: Nasturtium officinale; 2-phenylethyl-isothiocyanate; Leishmania amazonensis; leishmaniasis; antileishmanial activity; nanoemulsion. vii LISTA DE ABREVIATURAS 5’-GDP - Guanosina 5’-difosfato-D-manose AKT - Proteína quinase B C5-C9 – Elementos do sistema complemento CC50 - Concentração tóxica de 50% (do inglês half maximal citotoxicity concentration) CC90 - Concentração inibitória de 90% (do inglês maximal citotoxicity concentration) CCD – Cromatografia de camada delgada CG-MS – Gas chromatography–mass spectrometry (CG – EM - Cromatografia gasosa acoplada espectrometria de massas) CMI - Concentração mínima inibitória DMEM - Dulbecco's Modified Eagle Medium DMSO - Dimetilssulfóxido DR4 e DR5 - Receptores de morte celular EGFR - Receptor do fator de crescimento epidérmico HER2 - Receptor do fator de crescimento epidérmico humano 2 i.p.- Intraperitoneal IC50 – Concentração inibitória de 50% (do inglês half maximal inhibitory concentration) IC90 - Concentração inibitória de 90% (do inglês maximal inhibitory concentration) IDRM - Intradermorreação de Montenegro LCD – Leishmaniose cutânea disseminada LCL – Leishmaniose cutânea localizada LD – Leishmaniose difusa LMC -Leishmaniose mucocutânea LT – Leishmaniose cutânea LV – Leishmaniose visceral MDA - Malondialdeído hepática MTT - Sal de tetrazólio NNK - 4-(metilnitrosamino)-1-(3-piridil)-1-butanona NODIC – Partição em diclorometano do extrato etanol de N. officinale NOEE – Extrato etanólico de Nasturtium officinale viii NOMET – Partição em metanol extrato etanol de N. officinale ND11 – Subfração de NODIC NOFF – Extrato em diclorometano da planta fresca NOFS – Extrato em diclorometano da planta seca Nano-PEITC – Nanoemulsão de 2-feniletil-isotiocianato PBS - Tampão fosfato-salino PCR – Reação de cadeia da polimerase PDI - Índice de polidispersão PEITC - 2-feniletil-isotiocianato PKDL - leishmaniose pós-calazar R2 – Coeficiente de determinação Sb – Antimônio SFB – Soro fetal bovino SOD - Superóxido desmutase subCMI - Concentração subinibitória inibitória ROS – Espécies reativas de oxigênio Th1 – T cell helper 1 Th2 – T cell helper 2 TRAIL - Vias apoptóticas mediadas pelo ligante indutor de apoptose relacionado com TNF v.o. – Via oral UV - Ultravioleta ix LISTA DE FIGURAS Figura 1. Formas clínicas da leishmaniose Cutânea............................................................2 Figura 2. Principais formas evolutivas de Leishmania durante o ciclo de vida....................5 Figura 3. Ciclo biológico da Leishmania..............................................................................7 Figura 4. Status epidemiológico de leishmaniose cutânea endêmica no mundo em 2015................................................................................................................................9 Figura 5. Fármacos utilizados no tratamento da leishmaniose.........................................11 Figura 6. Nasturtium officinale............................................................................................17 Figura 7: Produtos da hidrólise enzimática dos glucosinolatos..........................................20 Figura 8. Estrutura de uma nanoemulsão O/A ou A/O.......................................................23 Figura 9: Configuração e funcionamento do microfluidizador, homogeneizador e ultrassonicador.................................................................................................................26 Figura 10. Fluxograma de fracionamento do extrato bruto em etanol da espécie vegetal...................................................................................................................32 Figura 11. Fluxograma de fracionamento dos extratos em diclorometano........................33 Figura 12: CCD de algumas das subfrações (ND) obtidas de NODIC antes da reunião de semelhantes.................................................................................................44 Figura 13. Efeito inibitório de NODIC (A), ND11 (B), NOFF (C) e anfotericina B (D) sobre formas promastigotas de L. amazonensis....................................47 Figura 14. Efeito inibitório de PEITC sobre formas promastigotas de L. amazonensis...................................................................................................................48 Figura 15. Curva de inibição das amostras ND11, NOFF e PEITC...................................49 Figura 16. Efeito citotóxico das subfrações sobre macrófagos peritoneais.......................51 Figura 17. Efeito inibitório sobre formas promastigotas de L. amazonensis (A) e efeito citotóxico em macrófagos peritoneais (B) da forma nanoemulsionada x de PEITC (nano-PEITC).....................................................................................................53 Figura 18. Efeito citotóxico das NOFF, PEITC e nano-PEITC sobre células VERO..................................................................................................................................55 Figura 19. Atividade hemolítica das amostras NOFF, PEITC e nano-PEITC....................56 Figura 20. Alterações na ultraestrutura de L. amazonensis...............................................58 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Massa das frações obtidas das colunas cromatográficas NODIC e NOMET.................................................................................................................................35 Tabela 2: Substâncias detectadas pela análise de CG-EM.................................................45 Tabela 3: Caracterização da nanoemulsão: diâmetro, PDI e características organolépticas......................................................................................................................52 Tabela 4. Índice de Seletividade..........................................................................................54 Tabela 5. Relação dos valores de CC50 em macrófagos peritoneais e em células de linhagem VERO das amostras NOFF, PEITC e nano-PEITC...........................56 xii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 1 1.1 Leishmaniose e suas classificações ........................................................... 1 1.2 Ciclo biológico e formas evolutivas da Leishmania ..................................... 3 1.3 Epidemiologia ............................................................................................. 8 1.4 Diagnóstico e tratamentos medicamentosos convencionais ..................... 10 1.5 Os produtos naturais ................................................................................. 14 1.6 A espécie Nasturtium officinale ................................................................. 17 1.7 Propriedades químicas, nutricionais e farmacológicas de N. officinale..... 18 1.8 Nanoemulsões .......................................................................................... 22 2. OBJETIVOS........................................................................................... 29 2.1 Objetivo geral ............................................................................................ 29 2.2 Objetivos específicos ................................................................................ 29 3. MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................... 30 3.1 Material vegetal ........................................................................................ 30 3.1.1 Aquisição e autenticação da espécie N. officinale ................................. 30 3.1.2 Extração e fracionamento do extrato em etanol de N. officinale ............ 30 3.1.3 Subfracionamento e análise por cromatografia em camada delgada (CCD).........................................................................................................................33 3.1.4 Análises dos extratos e frações de N. officinale por CG-EM ................. 36 3.1.5 Obtenção e caracterização das nanoemulsões ..................................... 36 3.2 Atividade antileishmanial .......................................................................... 37 3.2.1 Cultura de parasitas ............................................................................... 37 3.2.2 Animais .................................................................................................. 37 3.2.3 Cultura de macrófagos peritoneais murinos .......................................... 38 3.2.4 Cultura de células VERO ....................................................................... 38 xiii 3.2.5 Avaliação da atividade antileishmanial .................................................. 38 3.2.6 Perfil de inibição do crescimento de L. amazonensis ............................ 39 3.2.7 Ensaio de citotoxidade ........................................................................... 40 3.2.8 Índice de Seletividade ............................................................................ 41 3.2.9 Potencial hemolítico ............................................................................... 41 3.2.10 Avaliação de alterações na ultraestrutura celular ................................ 41 4. RESULTADOS ...................................................................................... 43 4.1 Obtenção das subfrações ativas ............................................................... 43 4.2 Análises dos cromatogramas obtidos por CG-EM .................................... 44 4.3 Avaliação da atividade antileishmanial ..................................................... 46 4.4 Efeito de ND11, NOFF e PEITC no crescimento de L. amazonensis ....... 48 4.5 Citotoxidade em macrófagos peritoneais murinos .................................... 50 4.6 Caracterização da nanoemulsão de PEITC .............................................. 50 4.7 Atividade antileishmanial e citotóxica de nano-PEITC .............................. 52 4.8 Índice de seletividade ............................................................................... 53 4.8 Citotoxidade em células VERO ................................................................. 54 4.9 Potencial hemolítico .................................................................................. 56 4.10 Avaliação de ultraestruturas do parasita – microscopia eletrônica ......... 57 5. DISCUSSÃO.......................................................................................... 59 6. CONCLUSÃO ......................................................................................... 69 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 70 8. APÊNDICES ........................................................................................... 86 1 1. INTRODUÇÃO 1.1 Leishmaniose e suas classificações Leishmaniose é um termo genérico para diversas manifestações clínicas causadas por espécies de parasitas pertencentes ao gênero Leishmania (Trypanosomatidae). É uma doença tropical causada por protozoário intracelular que acomete células do sistema imunitário. Sua transmissão ocorre através da picada de insetos flebotomíneos. Trata-se de uma doença zoonótica, ou seja, acomete outras espécies vertebradas além de humanos, como cães e ratos. A leishmaniose pode ser classificada de acordo com a localização geográfica e as diferentes espécies do parasita. A leishmaniose do Velho Mundo ocorre no oriente, continente Asiático, continente Africano e sul da Europa. Já a leishmaniose do Novo Mundo está relacionada ao Ocidente, sendo endêmica na América Central e na maioria dos países da América do Sul (KEVRIC et al., 2015). Quando classificadas em função das manifestações clínicas, as leishmanioses são divididas inicialmente como leishmaniose visceral (LV) e leishmaniose tegumentar (LT). A primeira envolve a infecção de órgãos internos vitais, como fígado, baço e medula óssea. Já a leishmaniose tegumentar é caracterizada por lesões ulcerosas na pele que podem retroceder espontaneamente, mas deixam cicatrizes que levam ao estigma social dos indivíduos acometidos (ALVAR & ARANA, 2017). Na LV normalmente estão envolvidas as espécies Leishmania donovani e Leishmania infantum. No caso da LT e suas variações, as espécies mais frequentes em humanos incluem: Leishmania major, Leishmania tropica e Leishmania aethiopica no Velho Mundo; e Leishmania mexicana, Leishmania amazonensis, Leishmania braziliensis, Leishmania panamensis e Leishmania guyanensis no Novo Mundo (BARRETT & CROFT, 2012). A LT é ainda subdivida em leishmaniose cutânea localizada (LCL), mucocutânea (LMC), cutânea disseminada (LD) e cutânea difusa (LCD) (Figura 1). Esta diferenciação decorre das apresentações clínicas diversas que são geralmente associadas à resposta imunológica variada do hospedeiro e às diferentes espécies 2 infectantes do parasita (MARTINS et al., 2014; VRIES et al., 2015). Outra manifestação cutânea, conhecida como leishmaniose pós-calazar (PKDL), pode surgir após o tratamento da LV. Esta manifestação clínica é caracterizada pelo surgimento de lesões maculares, papulares ou nodulares na pele. No entanto, os mecanismos pelos quais a PKDL surge ainda não são bem compreendidos (ALVAR & ARANA, 2017). Figura 1. Formas clínicas da leishmaniose cutânea. (A) Leishmaniose cutânea localizada. A formação de lesão caracterizada por úlcera com bordas elevadas, infiltrada, fundo profundo e granuloso, drenado e com secreção esbranquiçada pode ser observada; (B) Leishmaniose cutânea difusa. Caracterizada pela formação de placas infiltradas; (C) Leishmaniose cutânea disseminada. Nesta forma da doença, há formação de polimorfismo lesional e lesões distribuídas em diversos segmentos do corpo; (D) Leishmaniose mucocutânea. Edema nasal com comprometimento da parte superior do lábio (TEIXEIRA et al., 2013). A forma mais comum de leishmaniose é a LCLcom 0,7 a 1.3 milhão de novos casos ocorrendo anualmente em todo o mundo. É caracterizada por uma ou mais lesões formadas no local da picada que podem se desenvolver em meses ou semanas após o inóculo. Úlceras surgem no local da picada, apresentando bordas rígidas e erosão central que pode ser coberta por crosta. As lesões podem 3 apresentar infecções secundárias, mas em geral, apresentam boa resposta ao tratamento, podendo ocorrer inclusive sua regressão espontânea. (KEVRIC et al., 2015). É estimado que de 3% a 5% dos casos de LT desenvolvam lesões em mucosas, levando ao quadro de LMC. Esta pode evoluir após a cura clínica da LCL, com início insidioso e pouca sintomatologia. Os parasitas migram das lesões na pele até as mucosas da boca, nariz, palato, faringe e laringe, através da corrente sanguínea ou linfática. A LMC se expressa por lesões destrutivas localizadas nas mucosas das vias aéreas superiores, formando úlceras que causam destruição do septo nasal, lábios e palato, podendo acarretar em desfiguração facial (DAVID & CRAFT, 2009). As características clínicas da LD incluem múltiplas lesões em mais de uma parte do corpo, podendo ser acneiformes, nodulares ou ulceradas, em um quadro que sugere disseminação hematogênica. Alguns estudos prévios confundiam a LD com a LCD, mas na forma disseminada, do ponto de vista histopatológico, são observados nas lesões infiltrados mononucleares com presença de linfócitos, macrófagos e poucos parasitos. Outro aspecto a ser destacado nesta forma clínica é o acometimento mucoso concomitante que tem sido observado em até 30% dos pacientes (BRASIL, 2007; CARVALHO et al., 2008). A LCD constitui uma forma clínica rara, porém grave, que ocorre em pacientes com anergia e deficiência específica na resposta imune celular a antígenos de Leishmania. Tem início com lesão única que não cicatriza espontaneamente. A lesão tende a regredir após tratamento, mas recidivas podem ocorrer. Estas evoluem de forma lenta com formação de placas e múltiplas lesões nodulares não ulceradas recobrindo grandes extensões cutâneas (BRASIL, 2007; SUNDAR & RAI, 2009; KEVRIC et al., 2015). 1.2 Ciclo biológico e formas evolutivas da Leishmania Os vetores responsáveis pela transmissão dos parasitas são conhecidos popularmente como mosquitos-palha (sandflies no inglês) e integram os gêneros Phlebotomus (velho mundo) e Lutzomyia (novo mundo) da família Psychodidae e 4 subfamília Phlebotominae. O primeiro ocorre no Velho Mundo, e o segundo é responsável pela disseminação da doença no Novo Mundo (KEVRIC et al., 2015). O ciclo biológico da Leishmania é heteroxênico, ocorrendo parte no hospedeiro vertebrado e a outra parte no inseto. Desta maneira, o parasita apresenta dois estágios de desenvolvimento: a forma promastigotas, encontrada no interior do inseto vetor; e a forma amastigota, que ocorre mediante a diferenciação de promastigotas após a infecção de células do sistema fagocítico mononuclear do hospedeiro mamífero (SÉGUIN & DESCOTEAUX, 2016). As diferentes formas evolutivas do parasita dependem das mudanças nas condições ambientais encontradas no hospedeiro vertebrado e no vetor flebotomíneo, como a disponibilidade e tipos de nutrientes, pH, temperatura e disponibilidade de oxigênio. Desta forma, os parasitas são capazes de regular sua taxa de crescimento e divisão celular, expressão de moléculas de superfície e morfologia, entre outros fatores. No flebotomíneo, a Leishmania se reproduz como células flageladas extracelulares e ativamente móveis, conhecidas como promastigotas, que residem principalmente no trato alimentar do inseto. Entre várias formas intermediárias detectadas, é possível descrever duas formas principais: promastigotas procíclicas, presentes no intestino médio do inseto; e promastigotas metacíclicas, presentes no intestino médio toráxico e probóscide do flebotomíneo. As formas promastigotas se diferenciam em amastigotas que por sua vez multiplicam dentro do vacúolo parasitóforo de células fagocíticas (por exemplo, macrófagos). As amastigotas são parasitas intracelulares obrigatórios e adaptados ao ambiente hostil do vacúolo. Nesta forma evolutiva, os parasitas apresentam tamanho reduzido, flagelo menor internalizado na bolsa flagelar e não possuem motilidade. As amastigotas são acidófilos, adaptados ao baixo pH, e possuem um metabolismo energético diferenciado (BESTEIRO et al., 2007). A célula promastigota (Figura 2) apresenta forma alongada e elíptica, cujo corpo celular mede entre 6 a 8 μm de comprimento, e flagelo alongado emitido da bolsa flagelar. Apresenta organelas e estruturas típicas dos eucariotos, tais como núcleo, mitocôndria, retículo endoplasmático, complexo de Golgi e citoesqueleto. Também são encontradas organelas exclusivas da Família Trypanosomatidae como o cinetoplasto, estrutura paraflagelar, acidocalcissomo, glicossomo e microtúbulos subpeliculares. As amastigotas (Figura 2) são arredondadas e ovaladas, medem 5 aproximadamente 3 μm de largura e 6 μm de comprimento, com flagelo reduzido e internalizado. O cinetoplasto possui forma de bastão e fica entre o núcleo e a base do flagelo. As amastigotas possuem todas as organelas e estruturas semelhantes às promastigotas, exceto pela presença adicional dos megassomos e ausência da estrutura paraflagelar (TEIXEIRA et al., 2013; SUNTER & GULL, 2017). Figura 2. Principais formas evolutivas de Leishmania durante o ciclo de vida. Representação esquemática das principais organelas intracelulares das formas promastigota (esquerda) e amastigota (direita). A porção anterior da célula é marcada pela presença da bolsa flagelar (adaptado de BESTEIRO et al., 2007). Os membros da família Trypanosomatidae como a Leishmania apresentam uma única mitocôndria que possui DNA próprio que pode chegar a 30% do DNA total. Nestes protozoários, o DNA mitocondrial se organiza na forma de círculos pequenos e grandes que formam cadeias. Concentram-se em uma determinada região da mitocôndria, localizada logo abaixo do corpúsculo basal, dando origem a uma estrutura denominada cinetoplasto, este apresenta-se em forma de bastão levemente curvado. O corpúsculo basal está associado ao flagelo e pode ser 6 definido com um local de crescimento de microtúbulos. A estrutura paraflagelar é formada por um arranjo de estruturas proteicas associadas ao axonema e se prolonga na extensão do flagelo da promastigota. Os acidocalcissomos são organelas ácidas ricas em cálcio, polifosfatos e outros íons, além de apresentarem canais de transporte passivos e ativos, e trocadores iônicos. São estruturas pequenas (600 nm) distribuídas em toda célula e estão envolvidas na manutenção da homeostase intracelular, pH e osmorregulação. Os glicossomos são estruturas esféricas e distribuídos nas células como os acidossomos, mas tratam-se de um tipo de peroxissomos carreando um conjunto de enzimas que compõem a via glicolítica e outros processos celulares como β-oxidação de ácidos graxos, gliconeogênese, biossíntese de lipídeos, pirimidinas, aminoácidos, dentre outros. Os túbulos multivesiculares são estruturas revestidas por membrana e que se encontram ao longo do corpo celular de formas promastigotas, é sustentado por dois microtúbulos citoplasmáticos que o envolvem. Também estão presentes os megassomos que são grandes estruturas eletrondensas encontradas em amastigotas que possuem atividade lisossomal, atuam como destino de macromoléculas capturadas no meio extracelular por endocitose. Por fim, a Leishmania apresenta estruturas esféricas denominadas inclusões lipídicas que são envoltas por uma monocamada de fosfolipídios, algumas eletronlucentes e outras eletrondensas (TEIXEIRA et al., 2013). O ciclo biológico (Figura 3) tem início durante o repasto sanguíneo de fêmeas hematófagas dos flebotomíneos quandoingerem macrófagos infectados com formas amastigotas junto com o sangue. As diferenças no ambiente dentro do inseto em relação às células do hospedeiro mamífero, como temperatura e pH, fazem com que o parasita sofra modificações morfológicas. As amastigotas se diferenciam em promastigotas procíclicas no intestino médio posterior do inseto. Para não serem excretados, as promastigotas expressam moléculas que se ligam ao epitélio intestinal do inseto. Cerca de 48 a 72 h depois, os parasitas iniciam a replicação e melhoram a mobilidade, migrando para o intestino médio anterior, onde secretam um tipo de gel feito de proteofosfoglicanos que obstruem fisicamente o intestino. Posteriormente, elas migram mais uma vez e alcançam a válvula estomodeal (cardíaca), diferenciando-se em promastigotas metacíclicas infectantes e causando danos ao epitélio destas células, o que facilita o refluxo dos parasitas através da 7 probóscide até alcançarem o hospedeiro. Desta forma, o inseto necessitará regurgitar este gel junto com as formas metacíclicas infectantes no hospedeiro para conseguir se alimentar novamente, dando início à segunda etapa do ciclo (BATES, 2007; DOSTÁLOVÁ & VOLF, 2012). Figura 3. Ciclo biológico da Leishmania. A leishmaniose é transmitida pela picada do flebotomíneo fêmea infectado. Os insetos injetam formas promastigotas (estágio infectivo) a partir da probóscide durante o repasto sanguíneo (1). As formas promastigotas que atingem a região da picada são fagocitadas por macrófagos e outros tipos de células do sistema mononuclear fagocítico (2). Os promastigotas transformam-se em amastigotas dentro das células do hospedeiro vertebrado (3), que se multiplicam por divisão binária simples e passam a infectar outras células do sistema mononuclear fagocítico (4). Neste estágio, a infecção apresenta sintomas e os insetos flebotomíneos tornam-se carreadores pela ingestão de células infectadas durante o repasto sanguíneo (5, 6). No vetor, formas amastigotas são diferenciadas em promastigotas, desenvolvem-se no intestino (7) e migram para a probóscide (8) (Adaptado de CDC, 2013). 8 As formas promastigotas metacíclicas são inoculadas no hospedeiro mamífero e logo ocorre uma infiltração de neutrófilos, seguida de recrutamento de macrófagos, devido à lesão causada pela picada. Então, os parasitas são fagocitados por células do sistema fagocítico mononuclear, principalmente macrófagos. Estes internalizam a Leishmania em vacúolos parasitóforos. Desta forma, tem início um processo de diferenciação em formas amastigotas e replicação por divisão binária. Quando esta multiplicação alcança um ápice, ocorre o rompimento do fagócito e formas amastigotas são liberadas, alcançando outras células e disseminando a infecção. O ciclo é completado com o repasto sanguíneo do flebotomíneo que internaliza células infectadas com Leishmania e servirá de vetor para disseminar a doença (KEVRIC et al., 2015). Os parasitas do gênero Leishmania são capazes de sobreviver aos mecanismos imunes do hospedeiro. Promastigotas metacíclicas infecciosas são resistentes à lise mediada pelo sistema complemento, impedindo a inserção do complexo de ataque à membrana C5-C9. Para sobreviver dentro do macrófago, o parasita precisa resistir ao pH ácido, alta temperatura e ao estresse oxidativo e nitrosativo. No vacúolo parasitóforo, eles são capazes de atrasar a fusão dos lisossomas e neutralizar parcialmente o meio ácido. Também produzem enzimas antioxidantes e proteínas que inibem espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, como peróxido de hidrogênio, peroxinitrito, hipoclorito e óxido nítrico, sendo capaz de permanecer neste fagolisossomo e proliferar. Além disso, os parasitas alteram a sinalização celular, modulam a produção de citocinas e estudos mostram que são capazes de modificar o perfil de reposta imune celular Th1 efetora para um fenótipo Th2 suscetível (GUPTA et al., 2014). 1.3 Epidemiologia A LT é classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença negligenciada de ocorrência em países pobres ou em desenvolvimento. Apesar de não ser considerada fatal, as lesões podem causar desfiguração, mutilação e trazerem forte estigma social aos indivíduos acometidos. É considerada endêmica em 98 países (Figura 4), onde cerca de 350 milhões de pessoas estão 9 expostas. Todavia, 75% dos casos são relatados em apenas dez países: Afeganistão, Argélia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Etiópia, Irã, Sudão, Peru e Síria. Estima-se que ocorram de 0,6 a 1.2 milhão de novos casos todo ano, ou seja, um novo caso a cada 30 segundos. No entanto, estes números podem ser maiores tendo em vista possíveis falhas de diagnóstico e de notificação de os novos casos. O índice tende a aumentar cada vez mais devido à falta de profilaxia correta, como a carência de vacinação adequada e o fato de a maior parte da população não realizar o controle dos vetores e seus reservatórios corretamente (KARIMKHANI, C. et al. 2016; ALVAR & ARANA, 2017). No Brasil, entre 2007 a 2013, a LT foi verificada e praticamente todos os Estados, com maior registro na Bahia (22.255), Pará (19.930) e no Mato Grosso (15.144). Neste mesmo período no Acre foram notificados 5.689 casos, sendo responsável pela maior taxa de incidência do país (11,1 casos / 10.000 habitantes/ano) (MELCHIOR et al., 2017). Figura 4. Status epidemiológico de leishmaniose cutânea endêmica no mundo em 2015. Estes dados apontam para o Brasil como sendo um dos países com o maior índice da doença no mundo. (Adaptado de OMS, 2015). 10 1.4 Diagnóstico e tratamentos medicamentosos convencionais Além do diagnóstico clínico obtido a partir da observação das características das lesões, o diagnóstico laboratorial é fundamental. Este consiste em exames imunológico, parasitológico e histopatológico. A intradermorreação de Montenegro (IDRM) ou da Leishmania é um teste intradérmico que se baseia na resposta de hipersensibilidade celular retardada. Deve ser feito de quatro a seis semanas após surgimento da lesão. É feita uma aplicação de antígenos de Leishmania no antebraço e observada a reação que será considerada positiva quando maior que 5 mm (GOTO & LINDOSO, 2012). Também são realizados exames de demonstração direta ou indireta do parasita. Para a pesquisa direta são utilizadas as seguintes técnicas: escarificação da borda da lesão, biópsia ou punção aspirativa. O material coletado é fixado e corado com Giemsa, seguida da observação no microscópio ótico para pesquisa de formas amastigotas. Também é possível inocular in vitro e in vivo o material da lesão obtido por biópsia. O método mais sensível usado é a reação em cadeia da polimerase (PCR) que amplifica várias vezes regiões específicas do DNA da Leishmania, obtidos de amostras como pele e mucosa. No entanto, esta metodologia de análise possui um custo elevado (KEVRIC et al., 2015; BRASIL, 2017). A terapêutica para os tipos de LT inclui a limpeza das lesões através do uso de antissépticos e tratamento das possíveis infecções secundárias com uso de antibióticos por via oral ou tópica. Além disto, o paciente deve ser tratado com o quimioterápico adequado, em associação ou não, para controle e morte dos parasitas (PONTE-SUCRE, 2013). Os fármacos mais utilizados estão demonstrados na figura 5. Os medicamentos de primeira escolha pertencem à classe dos antimoniais pentavalentes: estibogluconato de sódio (Pentostam®) e antimoniato de meglumina (Glucantime®). A aplicação do medicamento pode ser intralesional ou sistêmica. Nesta última, as injeções devem ser feitas por via intramuscular ou intravenosa, com repouso após a aplicação. A via intravenosa é mais recomendada, pois permite a aplicação de grandes volumes sem o inconveniente da dor local (BRASIL, 2017). O mecanismo de ação desta classe aindanão é bem elucidado, mas são descritas quatro hipóteses: (i) antimônio (Sb)(V) sofre redução à Sb(III) no organismo, sendo 11 tóxico ao parasita; (ii) formação de complexos entre o Sb(V) e nucleotídeos, interferindo no metabolismo através da inibição da topoisomerase do parasita; (iii) formação de complexos entre o Sb(V) com alguns glicoconjugados ricos em manose e guanosina 5’-difosfato-D-manose (5’-GDP), interferindo na virulência do parasita; (iv) inibição da enzima superóxido dismutase (SOD), ocasionando o aumento do nível de radicais superóxido, com a consequente morte do parasita. Os efeitos adversos incluem artralgia, mialgia, anorexia, náuseas, vômitos, epigastralgia, pirose, dor abdominal, pancreatite, prurido, febre, fraqueza, cefaleia, tontura, palpitação, insônia, nervosismo, choque pirogênico, edema e insuficiência renal aguda e ainda pode causar efeito sobre o sistema cardiovascular (arritmia) (OLIVEIRA et al., 2011; BASTOS et al., 2016). Figura 5. Fármacos utilizados no tratamento da leishmaniose. 12 A segunda escolha terapêutica é a anfotericina B, também administrada via intravenosa e comercializada na forma de suspensão coloidal ou na forma lipossomal (AmBisome®). Trata-se de um antifúngico que também possui ação contra Leishmania. Interage com o ergosterol na membrana celular do microrganismo causando desorganização na membrana com formação de poros e agregados (PURKAIT et al., 2012). Os efeitos adversos mais frequentes incluem febre, cefaleia, tremores, cianose, hipotensão, hipomagnesemia, distúrbio de comportamento, calafrios, náuseas, vômitos, hipopotassemia e flebite no local da infusão. É contraindicado na gravidez e os pacientes em terapia devem ser monitorados quanto a função renal, hepática, eletrólitos séricos e dos componentes sanguíneos, além de outros cuidados. Ao realizar a troca do antimonial Glucantime® para anfotericina B, deve-se esperar 14 dias para evitar toxicidade cardíaca grave. Apesar do AmBisome® possuir melhores resultados devido ao tratamento mais curto e diminuição dos efeitos colaterais, possui alto custo, sendo inacessível em lugares do mundo onde ocorre alta taxa da doença (KEVRIC et al., 2015; BRASIL, 2017). Outra alternativa terapêutica de tratamento para indivíduos resistentes ou intolerantes aos antimoniais é a pentamidina. Sendo o medicamento utilizado como primeira escolha para tratar infecções pela espécie L. guyanensis, também pode ser administrado via intramuscular ou intravenosa (KEVRIC et al., 2015). Seu mecanismo de ação ainda não foi totalmente elucidado, mas um importante alvo parece ser a mitocôndria. O fármaco interfere na síntese de DNA, acarretando em alterações morfológicas no cinetoplasto e causando a fragmentação da membrana mitocondrial, o que leva à morte do parasita (MAES et al., 2013). Os efeitos adversos descritos incluem hiperglicemia resistente após uso prolongado de pentamidina, elevação de creatina quinase, apontando efeito cardiotóxico, além de hipotensão, nefrotoxicidade e hepatotoxicidade. O medicamento é contraindicado na gestação e lactação, diabetes mellitus, intolerância à glicose, insuficiência renal e hepática, além de doenças cardíacas (KEVRIC et al., 2015; BASTOS et al., 2016). A miltefosina é um agente terapêutico usado para o tratamento da leishmaniose de administração oral. Atua no parasita por meio de diferentes mecanismos, tais como interferência com lipídios (fosfatidilcolina), alterações nas atividades das fosfolipases C, A2 ou D e na sinalização da transdução de lipídeos, inibe a atividade da citocromo c oxidase, e causa despolarização mitocondrial e 13 morte semelhante à apoptose (GAMARRO et al., 2013). Efeitos adversos comuns incluem náusea, vômito, diarreia, distúrbios gastrointestinais e nefrotoxicidade. É um medicamento teratogênico, ou seja, deve ser usado com cautela em mulheres na idade fértil e pode causar rápido desenvolvimento de resistência devido ao seu longo tempo de meia-vida (BASTOS et al., 2016; BRASIL, 2017). A miltefosina demostrou ser muito eficaz para LV, com uma taxa de cura de 95%, enquanto que para LCL apresentou taxa bem menor de eficácia: 53% (L. mexicana) e 21% (L. brasiliensis); apenas para L. panamensis a taxa de cura foi mais significativa, ficando em 91%. Para LMC os percentuais de cura são de 60% a 80% (KEVRIC et al., 2015). Outros fármacos que podem ser utilizados incluem a paromomicina - um aminoglicosídeo de uso tópico ou oral que possui baixo custo, mas que apresenta eficácia variável e efeitos adversos como nefrotoxicidade, ototoxidade e disfunção hepática (NASSIF et al., 2017) - azitromicina, cetoconazol e fluconazol, imiquimode, entre outros. Há ainda os imunomoduladores usados como adjuvantes no tratamento como alopurinol e pentoxifilina que aceleram o processo de cura, mas não tem indicação isoladamente. No entanto, estes fármacos de uso secundário apresentaram eficácia relativa e necessitam de mais estudos que justifiquem seu uso (KEVRIC et al., 2015; BRASIL, 2017). Outro recurso terapêutico para o tratamento da leishmaniose é o uso combinado de medicamentos, visando diminuir o tempo de tratamento e atenuar os efeitos adversos. Estudos realizados com a associação de estibogluconato de sódio e paromomicina apresentaram eficácia de 93%. Também foi realizado um estudo de fase III na Índia, utilizando anfotericina lipossomal, miltefosina e paromomicina (ZULFIQAR et al., 2017). No entanto, mesmo com o recurso das diferentes terapias combinadas ainda ocorrem as reações adversas e há outra problemática: o surgimento de cepas resistes a muitos destes fármacos (MOHAPATRA, 2014). Existem vários mecanismos bioquímicos que conferem resistência medicamentosa aos parasitas do gênero Leishmania. Entre eles estão: retroalimentação negativa de sistemas de captação de fármacos; inativação ou modificação do fármaco; alterações estruturais da molécula-alvo da droga ou em sua produção; sequestro intracelular; reparação mais eficaz dos danos causados pela ação do fármaco; e ainda contornando um alvo bloqueado através da ativação de outros recursos. A compreensão destes mecanismos é importante na intervenção 14 inicial do tratamento, utilizando outros recursos terapêuticos como a mudança do fármaco ou utilizando a associação de medicamentos, e ainda na busca por novas moléculas mais eficazes na morte do parasita (MANDAL et al., 2017). Em suma, a terapia usada atualmente é considerada antiga e não há inovação neste mercado há algum tempo. Os medicamentos disponíveis apresentam efeitos colaterais significativos e alguns destes possuem taxas de eficácia relativa, além da identificação de cepas resistentes de espécies de Leishmania. Desta forma, torna-se necessária a busca por novos antileishmaniais que apresentem maior eficácia e segurança, que exijam um tempo de tratamento menor e que sejam administrados por via mais confortável ao paciente (via oral ou tópica). 1.5 Os produtos naturais Os produtos naturais possuem grande importância na história da humanidade sendo os principais recursos terapêuticos antes da evolução da medicina alopática em meados do século XX, quando houve diminuição do interesse do uso de plantas medicinais que foram sendo substituídas por medicamentos sintéticos nos centros urbanos (FIGUEIREDO et al., 2014). Todavia, nas últimas décadas tem sido reconhecida e resgatada a importância do uso desses recursos. Os produtos naturais são relevantes na pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos, tanto de uso direto quanto servindo como precursores na síntese de compostos ativos. É estimado que cerca de 40% dos medicamentos disponíveis foram desenvolvidos a partir de produtos naturais, de forma direta ou indireta. O Brasil possui uma grande parcela da biodiversidade global, cerca de 15 a 20%, com destaquepara as plantas superiores com 24% da biodiversidade. Tendo em vista seu amplo patrimônio genético e sua diversidade cultural, o país deve investir na exploração sustentável desses recursos, visto as potencialidades do uso de plantas medicinais gerando inovação, riquezas e inclusão social (BRASIL, 2006; LIMA-SARAIVA et al., 2015). Os vegetais sintetizam metabólitos primários e secundários. Os primários, proteínas, carboidratos e lipídeos, são essenciais para a sobrevivência, promovendo energia e constituição morfológica. Já os metabólitos secundários promovem 15 vantagens adaptativas como proteção contra o ataque de predadores e microrganismos, atração de polinizadores, entre outras que favorecem a perpetuação de espécies. Estes metabólitos secundários são conhecidos por apresentarem atividades biológicas, benéfica ou tóxica, o que proporciona o uso de plantas como remédios e como fonte de novos bioativos (POSER, 2016). As plantas medicinais podem ser definidas como vegetais que possuem moléculas ativas usadas para fins terapêuticos ou como precursoras na síntese de fármacos. Enquanto o fitoterápico consiste no uso da planta medicinal para elaborar uma formulação específica com finalidade terapêutica. O fitoterápico possui parâmetros de eficácia e segurança, o que proporciona a reprodutibilidade do produto e garante a qualidade. Diferente dos fitofármacos, os fitoterápicos não podem apresentar sustâncias isoladas ou altamente purificadas em sua composição (VEIGA et al., 2005; BRASIL, 2006). O uso de plantas medicinais e fitoterápicos é uma importante alternativa terapêutica, tornando o acesso à saúde mais inclusivo e eficaz, em alguns casos apresenta-se como uma opção menos danosa frente aos efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos (SANTOS et al., 2011). As doenças tropicais negligenciadas são um conjunto de doenças infecciosas, no qual a leishmaniose está inserida, que inclui uma série de patógenos e vetores que acometem predominantemente as populações mais carentes de países em desenvolvimento. Os recursos financeiros globais para pesquisa e desenvolvimento de doenças tropicais negligenciadas são menos que 10%, em contraste com outras patologias não transmissíveis como câncer, diabetes, cardiopatias que recebem o maior apoio das multinacionais farmacêuticas e centros de pesquisa. Há falta de interesse pelas grandes indústrias farmacêuticas em investir na busca por novos fármacos ou no desenvolvimento de vacinas para tratamento e profilaxia destas enfermidades devido ao menor lucro obtido na exploração deste mercado (FEASEY et al., 2010; HOTEZ, 2017). Desta forma, os recursos encontrados na natureza têm sido reconhecidos como ótima fonte de inovação e alternativa à população mais pobre que não têm acesso aos tratamentos convencionais (FUNARI e FERRO, 2005). Foram descritos na literatura diversos extratos de plantas e moléculas isoladas derivadas de produtos naturais que se apresentaram como candidatas a novos antileishmaniais. Por exemplo, a luteolina e a quercetina, dois flavonoides 16 isolados de espécies vegetais, apresentaram IC50 contra amastigotas intracelulares de L. donovani de 12,5 e 45,5 μM, além de reduzirem a carga parasitária em roedores em 80% (3,5 mg/kg) e 90% (14 mg/kg), respectivamente. O mecanismo de ação dos compostos está relacionado com a indução da topoisomerase II que promove clivagem no DNA do cinetoplasto do parasita. Outra classe interessante é das chalconas. A licochalcona, por exemplo, isolada de espécies de alcaçuz (Glycyrrhiza spp.) apresentou forte atividade antileishmanial, contra L. donovani, o valor de IC50 em amastigotas intracelulares foi de 0,9 μg/mL (2,7 μM) e 7,2 μg/mL (21 μM) para formas promastigotas de L. major. Outra classe interessante é a dos alcaloides quinolínicos. Quinolinas 2–substituídas isoladas de Galipea longiflora (Rutaceae) apresentaram atividade contra a espécie L. amazonensis. Em experimentos in vivo, houve redução no tamanho da lesão em 74% e redução de mais de 90% da carga parasitária total em camundongos BALB/c infectados sob regime de dosagem de 50 mg/kg em 5 injeções com intervalos de 4 dias. Também foram encontrados iridoides, alcaloides quinolínicos, saponinas, terpenos e outras classes de metabólitos secundários ativos contra diferentes espécies do gênero Leishmania (POLONIO & EFFERTH, 2008). Kalanchoe pinnata (Crassulaceae) é uma espécie vegetal cuja composição química compreende triterpenos, esterois, flavonoides (quercetina e kaempferol). Seu extrato aquoso apresentou efeito leishmanicida em tratamento de camundongos BALB/c infectados com L. amazonensis após 30 dias de uso de forma comparável ao efeito do antimoniato de meglumina. A atividade do extrato está associada ao aumento na produção de óxido nítrico por macrófagos, o que também pode aumentar ainda mais o óxido nítrico induzido por INF-γ. A quercetina é a principal substância ativa do extrato e apresentou isoladamente um IC50 de 1,0 μg/mL sob formas amastigotas intracelulares de L. amazonensis, sendo mais ativa que o medicamento de referência Pentostan®. O extrato aquoso de K. pinnata foi testado clinicamente em um paciente brasileiro no Estado do Amazonas. O paciente recebeu 21 mg do extrato liofilizado duas vezes por dia no decorrer de 14 dias. Os resultados mostraram uma redução significativa no tamanho da lesão durante o tratamento (DE OLIVEIRA et al., 2016). 17 1.6 A espécie Nasturtium officinale A espécie Nasturtium officinale R. Brown (Figura 6) (Protólogo: W.T. Aiton, Hortus kew. 4:111, 1812) pertence à família Brassicaceae (Cruciferae) que é composta por cerca de 37 gêneros 4.060 espécies (The Plant List, 2010). Também conhecida como família da mostarda, a família Brassicaceae é cultivada no mundo inteiro e teria surgido na costa norte do Mediterrâneo e da Ásia, expandindo-se para outras regiões, particularmente no hemisfério norte, onde é bastante abundante. Os membros desta família são vegetais importantes na horticultura, sendo hortaliças muito consumidas na dieta devido aos seus altos valores nutricionais (ISERI et al., 2014). Figura 6. Nasturtium officinale (agrião). Planta com inflorescência e exposição dos caules com raízes saindo dos nós. (Fonte: Davidse, Gerrit – 39668 Disponível em: <http://www.tropicos.org/Image/100234643>). O gênero Nasturtium reúne 14 espécies vegetais, sendo que destas se destacam o N. officinale (agrião) seguido do N. microphyllum, encontrada comumente na Europa. A espécie N. officinale (sinonímia: Rorippa nasturtium- aquaticum (L.) Hayek, 1905) é uma erva verde, suculenta, rizomatosa e perene (ISERI et al., 2014). Por se tratar de uma planta aquática ou semi-aquática, o agrião é muitas vezes colhido a partir de sistemas de águas naturais e dependendo das características destas águas, a qualidade da planta pode ser comprometida. É uma espécie amplamente consumida em vários países, incluindo o Brasil. Possui rápido 18 crescimento e pode ser consumida crua, como em saladas, ou cozida, como em sopas e outras receitas (GOUNDEN et al., 2016). O agrião é uma planta herbácea com caule verde e a base pode ser arroxeada, sendo flexível, glabro, fistuloso, semicilíndrico e possui sulcos longitudinais pouco profundos. Pode atingir entre 10 a 60 cm, mais comumente entre 15 a 30 cm de comprimento, e até 1 cm de diâmetro na base. Dos nós são originadas finas raízes adventícias de coloração esbranquiçada. Apresenta folhas alternas, compostas, pecioladas, imparipinadas providas de três a onze folíolos membranosos, glabros, de forma variando entre oval, elíptica até orbicular. As flores são pequenas, medindo cerca de 5mm de comprimento, brancas e dispostas em espigas terminais ou opostas as folhas. A corola é actinomorfa, crucífera e o cálice é dialissépalo regular formado dequatro sépalas. O androceu é tetradínamo e o ovário apresenta-se súpero bicarpelar. O fruto é siliquo, um pouco recurvado e mais comprida que o pedúnculo, e produz muitas sementes. As sementes são pequenas e de cor marrom-avermelhadas. A espécie floresce duas vezes ao ano, de abril a maio e novembro a fevereiro (SCAVONE & PANIZZA, 1973; CARVALHO, 2001; KLIMEK-SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). 1.7 Propriedades químicas, nutricionais e farmacológicas de N. officinale N. officinale possui importantes propriedades nutricionais e terapêuticas. Sua composição em macronutrientes é de 13,4 g/100 g de proteínas, 3,1 g/100 g de lipídeos e 68,5 g/100 g de carboidratos. Além disto, é rico em moléculas protetoras como vitamina C (ácido ascórbico), vitamina E (principalmente α-tocoferol), vitamina A (β-caroteno), além de vitaminas do complexo B; também contêm minerais como cálcio, fósforo, potássio, ferro, magnésio, zinco, e traços de selênio. Apresenta alta concentração de ácidos graxos insaturados, principalmente ácido α-linolênico, ácido palmítico e ácido linoleico. Para uma boa qualidade nutricional e efeitos benéficos à saúde, o alimento deve possuir uma taxa de ácidos graxos poli-insaturados por ácidos graxos saturados maior que 4,5% e proporção de ácidos graxos n-6/n-3 menor que 4%. Neste contexto, o agrião apresenta ótimos valores para estes 19 parâmetros, 4,9% e 0,2%, respectivamente (PEREIRA et al., 2011; ZAHRADNIKOVA & PETŘIKOVA, 2012). Como outros membros da família Brassicaceae, o agrião contém glucosinolatos, compostos de enxofre glucosilados, que são responsáveis pelo aroma e sabor picante característico inerente à família. Possuem importantes ações farmacológicas, atuando como anti-câncer, antioxidante e antibacteriano, entre outras (GIALLOUROU et al., 2016). Foram descritos oito glucosinolatos principais encontrados no agrião: gluconasturtina, glucobrassicina, glucohirsutina, glucoiberina, glucosiberina, glucotropaeolina, 4-hidroxi-glucobrassicina, 4-metoxi-glucobrassicina, a partir de folhas, caules, raízes, flores e também sementes. Nas flores e nas sementes estão as maiores concentrações destas substâncias, sendo o gluconasturtina (2-feniletil glucosinolato) o mais abundante na espécie vegetal. Os glucosinolatos são hidrolisados pela ação da enzima mirosinase (β-tioglucosidase) (Figura 7) que é ativada através de dano celular, como na mastigação e ao fragmentar a hortaliça. Quando cozida, a hidrólise dos glucosinolatos ocorre após a ingestão e se dá pela ação de enzimas providas pela microbiota intestinal. No entanto, a concentração de isotiocianatos no organismo é muito menor do que a fornecida pela ingestão do agrião cru. Os produtos dessa hidrólise são, entre outros, isotiocianatos, nitrilas e enxofre, tiocianatos, epitionitrilas, oxazolidina-2-tionas, ou compostos indólicos (GETAHUN & CHUNG, 1999; ISERI et al., 2014; KLIMEK- SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). Os óleos de mostarda são compostos de enxofre formados pela hidrólise enzimáticas dos glucosinolatos e são caracterizados pelos isotiocianatos. Os isotiocianatos apresentam muitos efeitos biológicos e são identificados pelo forte odor (voláteis). De fato, são moléculas relativamente instáveis quando armazenadas por algum tempo, podendo formar produtos de decomposição e oxidação (KLIMEK- SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). É relatada atividade antimicrobiana, inseticida, antifúngica e nematicida para os isotiocianatos, sendo utilizados principalmente no preparo e sanitização de solos na agricultura (ZAHRADNIKOVA & PETŘIKOVA 2012; ISERI et al., 2014). O 2-feniletil-isotiocianato (PEITC), produto de hidrólise do gluconasturtina possui atividade antitumoral e quimioprotetora. É capaz de induzir apoptose e interromper o ciclo celular em células tumorais (CASANOVA & CARBALLO, 2011). 20 Como quimioprotetor atua inibindo enzimas do metabolismo de fase I, monoxigenases e citocromo P450, que estão envolvidas na bioativação de agentes cancerígenos; e por indução de enzimas de fase II, o que leva a formação mais intensa de conjugados com substâncias carcinogênicas, resultando em maior taxa de excreção destes componentes (ENGELEN-EIGLES et al., 2006). Figura 7: Produtos da hidrólise enzimática dos glucosinolatos (A) e a estrutura do 2-feniletil- isotiocianto (B), produto da hidrólise do gluconasturtina. Na reação é liberado o grupo sulfato (HSO4-). Os colchetes indicam os intermediários instáveis. R = cadeia lateral (adaptado de HALKIER & GERSHENZON, 2006). A atividade antimicrobiana associada ao N. officinale é atribuída principalmente aos isotiocianatos. Seu mecanismo de ação está relacionado à inativação de enzimas extracelulares por meio da clivagem oxidativa de ligações dissulfeto e pela formação de uma espécie reativa de tiocianato mediando esta atividade. Este efeito também é associado aos compostos fenólicos presentes 21 capazes de alterar a permeabilidade da célula microbiana, interferir nas funções de membrana (transporte de elétrons, absorção de nutrientes, entre outras) e interagir com proteínas de membranas, causando uma deformação estrutural e perda de função (TIWARI et al., 2009; NIKAN; 2014). Os flavonoides e ácidos fenólicos são grupos importantes de metabólitos secundários na espécie. Possuem atividade antioxidante, formando derivados radicalares que estabilizam e deslocam elétrons desemparelhados, além da capacidade de formar quelatos com íons metálicos (ISERI et al., 2014). Um experimento realizado em ratos com extratos de N. officinale (500 mg/kg/dia) demonstrou queda significativa da enzima malondialdeído hepática (MDA – um marcador de dano oxidativo em lipídeos celulares), bem como as atividades da glutationa peroxidase e da glutationa redutase. O tratamento com extrato hidroalcoólico de N. officinale (50, 100 e 200 mg/kg/dia) foi capaz de proteger contra o aumento de espécies reativas de oxigênio, glutationa, peroxidação lipídica e proteína carbonil na nefrotoxicidade induzida por gentamicina em ratos (YAZDANPARAST et al., 2008; KLIMEK-SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). É relatado na literatura alto teor de polifenois, dentre eles, ácido clorogênico e ácido cafeico, ácido p-cumárico, ácido ferúlico, ácido gálico, ácido p- hidroxibenzoico em extratos de N. officinale. Há presença de derivados de quercetina, kaempferol e rutina, além de antocianinas. Também contribuem para a atividade antioxidante a vitamina C, vitamina E (α-tocoferol) e carotenoides como β- caroteno, luteína e zeaxantina, abundantes na espécie (BOLIGON et al., 2013; ISERI et al., 2014; GIALLOUROU et al., 2016; KLIMEK-SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). A composição do óleo essencial inclui a presença de miristicina, α- terpinoleno, limoneno, óxido de cariofileno e p-cimen-8-ol (AMIRI, 2010). Também carvacrol, 1,8-cineol, pulegona e o sesquiterpeno óxido de α-bisabolol A (KLIMEK- SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). Experimentos com extrato aquoso e etanólico mostram atividade antioxidante contra peroxidação lipídica em ácido linoleico, no fígado, cérebro e rins (modelo homogeneizado), além de benefícios no funcionamento cardiovascular e propriedades anticâncer (BOLIGON et al., 2013; ZEB, 2015). Na literatura, o extrato hidroalcóolico de agrião (500 mg/kg) apresentou atividade anti-inflamatória, diminuindo significativamente o edema de pata de ratos 22 induzido por carragenina e por formalina, e o edema de orelha induzido por TPA (12- O-tetradecanoil forbol acetato), quando comparado ao controle com indometacina (10 mg/kg). Também houve redução da hiperplasia e do infiltrado de células inflamatórias no exame histológico do grupo tratado (SADEGHI et al., 2014). Outro trabalho demostrou a proteção de N. officinale (20, 100 e 200 mg/kg/dia) em ratos contra o aumento de óxido nítrico (NO) e fator de necrose tumoral (TNF-α). Atividades biológicastais como antialérgica, antipsoriática, antidiabética, indução do aumento de hormônios sexuais (testosterona, LH, FSH) e aumento da motilidade dos espermatozoides (melhorando parâmetros da reprodução em ratos) também foram descritas para extratos de N. officinale. O tratamento via oral em ratos com extrato hidroalcoólico de agrião durante 10 dias foi capaz de reduzir o colesterol total, triglicérides e colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL) em 34,2; 30,1 e 52,9%, respectivamente. Além disso, verificou-se o aumento dos níveis de colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL) no sangue em 27,0% (YAZDANPARAST et al., 2008; KLIMEK-SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). O agrião possui um longo histórico como planta medicinal sendo antiescorbútico, laxativo e usado para coceira da pele (SCHIPPERS, 2004). As folhas da planta também são amplamente utilizadas como um diurético, agente antidiabético e expectorante. É considerado uma planta medicinal para tratamento da tosse, bronquite e asma. Adicionalmente, é utilizado para tratamento de dores de dente, resfriados, auxiliar da digestão e cicatrização de feridas (ISERI et al., 2014). Também é descrito para o tratamento da hipertensão e cólicas renais (KLIMEK- SZCZYKUTOWICZ et al., 2018). 1.8 Nanoemulsões As formulações farmacêuticas são elaboradas de acordo com as propriedades físico-químicas da substância ativa e devem ser estáveis e eficazes. Um dos principais objetivos de um sistema de liberação de fármaco ideal é potencializar o efeito terapêutico e minimizar a toxicidade. As nanoemulsões são geralmente sistemas bifásicos simples de óleo em água (O/A) ou água em óleo (A/O) com gotículas da fase dispersa variando de 50 a 1000 nm de diâmetro, mas 23 geralmente de 100 a 500 nm. Mas podem existir formas mais complexas, por exemplo, uma gotícula de óleo revestindo uma gotícula de água pode ser suspensa em água para formar uma emulsão água em óleo em água (A/O/A) ou o contrário (O/A/O), sendo denominados emulsões múltiplas. Estas possuem interesse principalmente como veículos de liberação e ação retardada de fármacos. Quando dois líquidos imiscíveis são agitados é formada uma emulsão temporária, na qual as gotículas dispersas na fase contínua tendem à coalescência e separação do sistema em duas fases, retornando ao estado de energia livre superficial mínima. As emulsões são estabilizadas por um agente tensoativo que é adsorvido na interface óleo-água (Figura 8), garantindo o aumento da área superficial e impedindo a coalisão (AULTON & TAYLOR, 2016; CHIME et al., 2014). Figura 8. Estrutura de uma nanoemulsão O/A ou A/O. São sistemas bifásicos nos quais um volume otimizado de fase oleosa dispersa está contida na fase contínua aquosa ou o contrário, com a ajuda de um composto tensoativo. São utilizados líquidos imiscíveis e o teor de fármaco é geralmente solubilizado na fase dispersa (adaptado de SINGH et al., 2017). As nanoemulsões possuem vantagens em relação às emulsões mais grosseiras sendo mais estáveis a longo prazo devido ao tamanho das gotículas formadas, o que dificulta fenômenos de desestabilização como cremagem, sedimentação e coalescência. As nanoemulsões são capazes de dissolver fármacos pouco solúveis aumentando sua biodisponibilidade e protegendo-os de fatores 24 ambientais diversos como hidrólise, degradação enzimática, pH e oxidação. Alguns estudos demonstraram que as nanoemulsões sofrem absorção linfática direta, evitando assim o metabolismo de primeira passagem quando a administração é feita por via oral. Tal fato leva a um aumento na biodisponibilidade, além de reduzir a dose de drogas que sofrem transformação hepática. Ainda são capazes de mascarar sabor amargo ou metálico de um fármaco, o que pode causar efeito nauseante, levando o paciente a não aderir ao tratamento. Apesar das muitas vantagens, algumas considerações devem ser feitas como a incapacidade para solubilizar substâncias com alto ponto de fusão; o cuidado na escolha e na dose do surfactante usado, que deve ser atóxico para o uso humano. Além disso, sua concentração aumentada, requerida em métodos de formulação de baixa energia, pode causar fluidificação de membrana celular (SINGH et al., 2017). As principais vantagens das nanoemulsões como transportadores de liberação de drogas incluem aumento da carga de fármaco, maior solubilidade e biodisponibilidade, redução da variabilidade da resposta farmacológica pelo paciente, controle de liberação do fármaco e proteção de degradação enzimática. Podem ser administradas por diversas vias. Além disto, as gotículas pequenas que são formadas melhoram a penetração profunda em diferentes tecidos através de capilares finos, sendo capazes de atingir locais específicos no organismo, como o fígado e o encéfalo. As propriedades das nanoemulsões podem ser modificadas através do controle de cargas formadas no filme interfacial ou incorporando ao filme sinalizadores que guiam a formulação a órgãos específicos. As partículas carregadas negativamente são depuradas mais rapidamente do sangue do que as neutras ou positivamente carregadas. As emulsões catiônicas facilitam a permeação de fármacos antifúngicos pouco solúveis e de ceramidas através da pele, devido à sua interação com as células epiteliais carregadas negativamente na pele. Outro exemplo são as formulações água em óleo que estão sendo investigadas para quimioterapia, pois podem prolongar a liberação do fármaco após injeção intramuscular ou intratumoral ainda como forma de melhorar o transporte de agentes anticâncer pelo sistema linfático (AULTON & TAYLOR, 2016; CHIME et al., 2014). As nanoemulsões podem ser produzidas por método de alta e baixa energia. Os processos de baixa energia são mais simples e econômicos, no entanto, muitas vezes necessitam de uma maior concentração de tensoativos, o que pode tornar o 25 produto tóxico. O ponto de inversão de fase é um método de emulsificação espontânea de baixa energia, que consiste em diluição progressiva com água ou óleo, para criar nanoemulsões diretas ou inversas termodinamicamente instáveis, mas cineticamente estáveis. No método de temperatura de inversão de fase, a temperatura do sistema é aumentada para alterar a solubilidade do surfactante (lipofílico ou hidrofílico) o qual forma microemulsões bicontínuas seguida por inversão da emulsão. Métodos de nanoemulsificação de baixa energia dependem do comportamento de fase e das propriedades dos constituintes, os mesmos utilizam a energia armazenada do sistema para formar gotículas em escala nanométrica. A nanoemulsificação pode ser realizada alterando parâmetros como a temperatura e a composição, o que afetaria o equilíbrio lipofílico-hidrofílico do sistema (SUTRADHAR, & AMIN, 2013; CHIME et al., 2014). Os procedimentos de formação de nanoemulsões de alta energia consistem na utilização de dispositivos mecânicos que geram forças de cisalhamento acentuadas capazes de fragmentar, a partir de uma emulsão mais grosseira, partículas micrométricas em nanométricas. A obtenção e tamanho das gotículas dependem de aspectos relacionados ao equipamento como força, fluxo, intensidade de energia, além de outros fatores como a temperatura, tensão superficial e viscosidade do sistema, características da amostra e do surfactante escolhido. Os aparelhos empregados na obtenção de nanoemulsões pelo método de alta energia são: microfluidizadores, homogeneizadores e ultrassonicadores, estão esquematizados na figura 9 (MCCLEMENTS & RAO, 2011). Nos microfluidizadores é utilizada uma bomba de alta pressão que desloca a emulsão em direção a uma câmara de interação, na qual ocorre uma divisão do fluxo. Posteriormente, estes dois fluxos gerados retornam ao mesmo ponto gerando colisão entre as partículas. Este impacto entre os fluxos gera força de cisalhamento constituindopartículas menores. O processo de homogeneização por alta pressão utiliza um homogeneizador no qual as micropartículas da emulsão fluem através da válvula e do assento da válvula em alta velocidade, através de pressão gerada por uma bomba de deslocamento positivo que fornece um fluxo constante ao sistema. A mistura contendo as micropartículas flui através da válvula e do assento da válvula em alta velocidade. Desta forma, o fluido é descarregado homogeneizado e é formada a nanoemulsão. O método empregando sonicador utiliza a aplicação de 26 energia para agitar as partículas da amostra através de uma sonda que emite ondas ultrassônicas que desintegram a macroemulsão por meio de forças de cavitação. Ocorre um colapso entre as microbolhas formadas o que provoca uma turbulência altamente localizada. Estas pequenas implosões atuam fragmentando as partículas iniciais em gotículas nanométricas (SUTRADHAR, & AMIN, 2013; CHIME et al., 2014). Figura 9: Configuração e funcionamento do microfluidizador, homogeneizador e ultrassonicador. (A) No microfluidificador, a nanoemulsão grosseira é passada através de microcanais da câmara de interação sob intensa pressão. Diferentes forças atuam conjuntamente para efetuar a redução de tamanho das partículas a partir da interação entre elas como o atrito, cisalhamento, cavitação, entre outros. A nanoemulsão é submetida a várias passagens através do instrumento para garantir uniformidade de tamanho. (B) O processo de homogeneização por alta pressão utiliza um homogeneizador ou pistão no qual as micropartículas entram na válvula a uma velocidade relativamente baixa. Então, a pressão é gerada por uma bomba de deslocamento positivo 27 que fornece um fluxo constante ao sistema. A mistura contendo as micropartículas flui através da válvula e do assento da válvula em alta velocidade. Desta forma, o fluido é descarregado homogeneizado e é formada a nanoemulsão. (C) No processo de ultrassonicação, a eletricidade fornecida é convertida em ondas de ultrassom pela sonda piezoelétrica. Estas ondas intensas criam bolhas de cavitação que crescem em uma forma instável e, finalmente, implodem para gerar uma corrente de líquido circulante que fragmenta as gotículas (adaptado de SINGH et al., 2017). Ao formular uma nanoemulsão, deve-se realizar a escolha do tipo de emulsão (O/A, A/O ou emulsão múltipla), tipo de óleo, surfactante, podendo-se utilizar co- surfactante ou não, de acordo com as características do fármaco e com a via de administração desejada para o uso clínico final. Além disto, são utilizados conservantes e antioxidantes para evitar o crescimento microbiano e alterações físico-químicas do produto, bem como a deterioração oxidativa do óleo utilizado (AULTON & TAYLOR, 2016). O óleo utilizado na formulação, geralmente entre 5% e 20% nas nanoemulsões O/A, pode ser o próprio fármaco ou funcionar como carreadores de moléculas lipossolúveis. Alguns exemplos de óleos utilizados incluem miristato de isopropilo, monocaprilato de propileno glicol, triacetina, óleo de coco, óleo de cravo, triglicerídeos (preferencialmente os de cadeia média). Os surfactantes usados para estabilizar nanoemulsões podem ser aniônicos (ex. laurilsulfato de sódio), catiônicos (ex. cetrimida), não iônicos (ex. tween 80 e span 80), poliméricos (ex. Pluronic F- 127®), anfifílicos graxos para emulsões A/O (ex. alcool cetílico e ácido esteárico) e emulsificantes naturais para administração por via oral (ex. metilcelulose e lecitinas). Para selecionar o tensoativo ideal para formulação, ele deve ser menos tóxico e usado na menor concentração possível, além de apresentar valor adequado do balanço hidrofilia-lipofilia (HBL). Os surfactantes não iônicos são considerados menos tóxicos e irritantes que os iônicos. Desta forma, os agentes iônicos são mais utilizados em preparações para via tópica. Ocasionalmente, os co-surfactantes são usados para complementar os surfactantes, já que se ajustam adequadamente entre áreas estruturalmente mais fracas, fortalecendo o filme interfacial. Alguns dos co- surfactantes usados incluem propilenoglicol, polietilenoglicol, etanol, glicerina, etilenoglicol e propanol (AULTON & TAYLOR, 2016; SINGH, 2017). O Pluronic F-127® (PF127) faz parte do grupo dos poloxâmeros que constituem uma série de copolímeros neutros sintéticos compostos em blocos de 28 unidades de óxido de etileno e óxido de polipropileno e terminam em grupos hidroxila primários. O PF127 é uma molécula anfifílica que é capaz de formar micelas em soluções aquosas quando submetido a certa temperatura e concentração. As micelas formadas apresentam um núcleo hidrofóbico de polióxido de propileno envolvido por uma corona hidrofílica de polióxido de etileno. O PF127 é utilizado na preparação de nanoemulsões O/A (MARQUES et al., 2018). A alta incidência da leishmaniose no Brasil e no mundo associada com a eficácia limitada e efeitos colaterais dos medicamentos antiparasitários disponíveis revelam a necessidade da descoberta de novas substâncias que possam gerar novos medicamentos. A fitoquímica associada a ensaios biológicos pode ser uma interessante ferramenta para a descoberta de novos alvos terapêuticos e agentes antileishmaniais mais eficazes e acessíveis aos pacientes. Estudos prévios do Laboratório de Investigação de Susbtância Bioativas (LISBio) da Faculdade de Farmácia/UFRJ coordenado pelo prof. Dr. Igor de Almeida Rodrigues demostraram a atividade antileishmanial de algumas espécies vegetais e seus derivados, tais como o óleo essencial de Croton cajucara (Euphorbiaceae) (RODRIGUES et al., 2013), extratos fixos de Citrus sinensis (Rutaceae) (GARCIA et al., 2017), fração rica em alcaloides de Quassia amara L. (Simaroubaceae) (GABRIEL et al., 2016), e nanoemulsão do extrato rico em oleoserinas de Copaifera paupera (Fabaceae) (RODRIGUES et al., 2018), entre outas. Desta forma, a investigação da atividade antileishmanial do N. officinale torna-se relevante e promissora, tendo em vista os resultados obtidos anteriormente pela equipe e a riqueza de substâncias bioativas presentes na espécie vegetal. 29 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar o perfil fitoquímico e a atividade anti-L. amazonensis dos extratos, frações e subfrações de N. officinale, bem como do seu componente 2-feniletil- isotiocianato, na forma livre e nanoemulsionada. 2.2 Objetivos específicos a) Obter os extratos de N. officinale e fracionamentos; b) Avaliar o perfil fitoquímico dos extratos, frações e subfrações; c) Identificar os extratos, frações e subfrações com atividade antileishmanial em formas promastigotas de L. amazonensis; d) Identificar e obter o componente responsável pela atividade dos derivados de N. officinale; e) Obter as curvas de inibição das amostras ativas; f) Avaliar a citotoxidade das amostras ativas em macrófagos peritoneais, eritrócitos e células VERO; g) Formular e caracterizar a nanoemulsão do componente mais ativo; h) Investigar a atividade antileishmanial e a citotoxidade da nanoemulsão; i) Analisar por microscopia os parasitas tratados com componente mais ativo; j) Comparar a atividade antileishmanial dos extratos NOFF e NOFS. 30 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Material vegetal 3.1.1 Aquisição e autenticação da espécie N. officinale Exemplares cultivados em sistema orgânico foram adquiridos no Hortifruti do Recreio dos Bandeirantes em julho de 2016 e em setembro de 2017. A autenticação da espécie foi feita pelo Dr. Marcelo Neto Galvão de Farmanguinhos/FIOCRUZ. Os vouchers foram depositados na Coleção Botânica de Plantas Medicinais de Farmanguinhos/FIOCRUZ, com o número de identificação CBPM 1082. 3.1.2 Extração e fracionamento do extrato em etanol de N. officinale Folhas e caules frescos (291,0 g) de N. officinale foram triturados,
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