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Instituto de Matemática - UFRJ Análise real - Paulo Amorim Lista 3 1. Seja A = [0, 1) ∪ (1, 2] ∪ {3}. Determine A, int(A), Ac, (int(A))c. Solução: A = [0, 2] ∪ {3}, int(A) = (0, 1) ∪ (1, 2), Ac = (−∞, 0) ∪ {1} ∪ (2, 3) ∪ (3,+∞) = (−∞, 0] ∪ {1} ∪ [2, 3] ∪ [3,+∞), (int(A))c = ((0, 1) ∪ (1, 2))c = (−∞, 0] ∪ {1} ∪ [2,∞). 2. Para cada conjunto abaixo, determine se é: fechado? aberto? discreto (ou seja, todos os seus pontos são pontos isolados)? (a) A = { 1 2 , 1 3 , 1 4 , . . . } . (b) B = A ∪ {0}. (c) C um conjunto finito. (d) Nc. (e) Z. (f) Qc. Solução: Relembre que x ∈ X é isolado se existe um intervalo aberto I 3 x tal que I∩X = {x}. Podemos tomar o intervalo aberto da forma (x− ε, x+ ε). (a) Não fechado, não aberto, discreto. (b) Fechado, não aberto, não discreto. (c) Todo conjunto finito é discreto: suponhamos que F ⊂ R não é discreto. Então, F tem um ponto x para o qual, para todo ε > 0, o intervalo (x − ε, x + ε) contém pontos de F diferentes de x. Então, com ε = 1, encontro x1 6= x tal que x1 ∈ F e x1 ∈ (x − 1, x + 1). Depois, encontro x2 ∈ F com x2 6= x e x2 ∈ (x − |x − x1|, x + |x − x1|). Desse modo, x2 está mais próximo de x do que x1 estava. Em particular, x2 6= x1. E assim sucessivamente. Como posso fazer este processo tantas vezes quanto eu queira, e todos os xn são distintos, 1 de 7 Análise real - Paulo Amorim Lista 3 (continuação) concluímos que F não pode ser finito. Todo conjunto finito é fechado: Se F é finito, então F = {x1, x2, . . . , xn}. Logo F c = (−∞, x1) ∪ (x1, x2) ∪ · · · ∪ (xn,+∞), que é aberto por ser a união de abertos. Logo F é fechado. (d) Não é fechado, é aberto, não é discreto. (e) É fechado, não é aberto, é discreto. (f) Não é fechado, não é aberto, não é discreto. 3. Prove que se A ⊂ R é aberto e a ∈ A, então A− {a} é aberto. Solução: Solução simples: Tem-se que A− {a} = A ∩ ((−∞, a) ∪ (a,+∞)), que é aberto por ser a interseção de dois abertos. Solução mais complicada para se ver que não era necessário ter essa sacada: Seja x ∈ A − {a}. Como A é aberto, existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ A. Das duas, uma: ou a ∈ (x − ε, x + ε), ou não. Se a não pertence a (x − ε, x + ε), então x ∈ int(A − {a}). Suponha agora que a ∈ (x − ε, x + ε). Como x 6= a, temos que |x− a| > 0. Então, a não está no intervalo (x− |x− a|, x+ |x− a|). Mas |x− a| < ε, logo (x − |x − a|, x + |x − a|) está contido em A, pois está contido no intervalo (x − ε, x + ε) ⊂ A. Em qualquer dos casos, concluímos que x ∈ int(A − {a}), e portanto A− {a} é aberto. 4. Seja B ⊂ R aberto. Prove que para todo x ∈ R, o conjunto x+ B = {x+ y : y ∈ B} é aberto. Solução: Seja z ∈ x + B. Então, z = x + y, para algum y ∈ B. Então, z − x = y, logo z−x ∈ B. Portanto, como B é aberto, existe ε > 0 tal que (z−x−ε, z−x+ε) ⊂ B. Logo, o intervalo x+ (z − x− ε, z − x+ ε) = (z − ε, z + ε) contém z e está contido em x+B, mostrando que x+B é aberto. 5. Sejam A,B ⊂ R abertos. Prove que o conjunto A + B = {x + y : x ∈ A, y ∈ B} é aberto. 2 de 7 Análise real - Paulo Amorim Lista 3 (continuação) Solução: Basta observar que A+B = ⋃ x∈A(x+B) que é aberto por ser união de abertos. 6. Mostre que um conjunto A ⊂ R é aberto sse, para todo X ⊂ R, se tem A∩X ⊂ A ∩X. Solução: Suponha que A é aberto. Seja X ⊂ R e seja x ∈ A ∩X. Como x ∈ A e A é aberto, existe ε1 > 0 tal que (x − ε1, x + ε1) ⊂ A. Por outro lado, como x ∈ X, então x é limite de uma sequência de pontos xn ∈ X. Portanto, tomando ε1 na definição de limite, vemos que a partir de certa ordem n0 podemos garantir que todos os xn estão em (x − ε1, x + ε1). Assim, a sequência (xn)n>n0 está em A, está em X (logo em A ∩ X) e converge para x; isso mostra que x ∈ A ∩X. Como x era um ponto qualquer de A ∩X, concluímos que A ∩X ⊂ A ∩X. Reciprocamente, suponhamos que A não é aberto. Para provar o resultado, temos que ver que existe algum X ∈ R tal que A∩X 6⊂ A ∩X. Esse X vai ser Ac. Observe que A ∩ Ac = ∅ = ∅, logo basta mostrarmos que se A não é aberto, então A∩Ac 6= ∅. Se A não é aberto (logo, em particular A 6= ∅), então existe algum ponto x ∈ A com a propriedade que ∀ε > 0, o intervalo (x − ε, x + ε) contém pontos que não estão em A, ou seja, pontos de Ac. Mas isso é precisamente a definição de x ∈ Ac. Logo x ∈ A ∩ Ac que, consequentemente, não é vazio. 7. Prove que int(X) é o maior conjunto aberto contido em X. Ou seja, prove que: (a) int(X) é aberto; (b) Se A é um aberto com A ⊂ X, então A ⊂ int(X). Solução: (a) Seja x ∈ int(X). Então, existe um intervalo aberto (x − ε, x + ε) ⊂ X. Seja y ∈ (x− ε, x+ ε) qualquer. Então, se ε1 = min{x+ ε− y, y− x+ ε}, temos que (y − ε1, y − ε2) ⊂ (x− ε, x+ ε) ⊂ X (ε1 é a distância de y à extremidade mais próxima do intervalo (x − ε, x + ε) – faça um desenho). Ou seja: y ∈ int(X). Provámos então que, dado qualquer x ∈ int(X), consigo achar um intervalo à volta de x onde todos os pontos y estão em int(X). Isto significa que int(X) é aberto. 3 de 7 Análise real - Paulo Amorim Lista 3 (continuação) (b) Se A ⊂ X é aberto, então para todo x ∈ A consigo achar um pequeno intervalo aberto à volta de x que esteja contido em A. Mas então esse intervalo está contido em X, logo x ∈ int(X) por definição. 8. Mostre que int(X) é a união de todos os conjuntos abertos A que estão contidos em X. Solução: Mostremos que int(X) ⊂ ⋃ A aberto ⊂X A. Isso é trivial, pois x ∈ int(X), que é um aberto contido em X e portanto um dos conjuntos que formam a união. Recipro- camente, seja x ∈ ⋃ A aberto ⊂X A. Então, existe algum aberto A ⊂ X tal que x ∈ A. Portanto, existe um intervalo aberto I ⊂ A com x ∈ I. Mas então I ⊂ A ⊂ X, e assim x ∈ int(X). 9. Investigue as seguintes afirmações, onde A,B ⊂ R. (a) (A ∪B) = A ∪B. (b) int(A ∪B) = int(A) ∪ int(B). Solução: (a) É verdade: se x ∈ (A ∪B), então existe uma sequência em A ∪B que converge para x. Sejam MA,MB ⊂ N dados por MA = {n ∈ N : xn ∈ A}, MB = {n ∈ N : xn ∈ B}. como xn ∈ A ou xn ∈ B, temos que MA ∪MB = N. Logo, pelo menos um desses dois conjuntos é infinito. Isso significa que pelo menos uma das duas sequências (xn)n∈MA ou (xn)n∈MB é uma subsequência de (xn)n∈N (e não apenas uma coleção finita dos xn). Portanto, ou existe uma sequência de elementos de A que converge para x, ou existe uma sequência de elementos de B que converge para x (ou os dois). Ou seja, x ∈ A ou x ∈ B ⇒ x ∈ A ∪ B. Isto prova que (A ∪B) ⊂ A ∪B. Reciprocamente, se x ∈ A ∪ B, suponhamos por exemplo que existe xn ∈ A sequência que converge para x. Então, claro que xn ∈ A∪B, logo x ∈ (A ∪B). 4 de 7 Análise real - Paulo Amorim Lista 3 (continuação) (b) É falso: por exemplo, se A = [0, 1] e B = [1, 2], teremos int(A∪B) = (0, 2) mas int(A) ∪ int(B) = (0, 1) ∪ (1, 2). 10. Mostre que se F é fechado e A é aberto, então F \ A é fechado. Solução: Temos que F \ A = F ∩ Ac, que é fechado por ser a interseção de dois fechados (Ac é fechado pois é o complementar de um aberto). 11. (a) Diga se é verdadeiro ou falso que, para todo X ⊂ R, se tem ( X )c = Xc. (b) Diga se é verdadeiro ou falso que para algum X ⊂ R, se tem ( X )c = Xc. Solução: (a) É falso: por exemplo, se X = {0}, temos ( X )c = R \ {0} mas Xc = R. (b) É verdadeiro. Por exemplo, se X = R. 12. Mostre que um número a é ponto de acumulação de X sse é ponto de acumulação de X. Solução: Como X ⊂ X sempre, a implicação =⇒ fica provada. Reciprocamente, suponha que a é ponto de acumulação de X. Então, para cada � > 0, existe algum x ∈ X tal que 0 < |x − a| < �/2 (é a definição de ponto de acumulação). Por outro lado, como x ∈ X, então existe y ∈ X (que pode eventualmente ser o próprio x) tal que |x − y| < |x − a|. Por isso, vemos que y 6= a. Então, temos 0 < |a − y| = |a− x+ x− y| ≤ |a− x|+ |x− y| < �, ou seja, a é ponto de acumulação de X. 13. Prove que (X ∪ Y )′ = X ′ ∪ Y ′. 5 de 7 Análise real - Paulo Amorim Lista 3 (continuação) Solução: Seja a ∈ (X ∪ Y )′. Então, para cada � > 0, existe z ∈ X ∪ Y tal que 0 < |z− a| < �. Como z ∈ X ou z ∈ Y , concluímos que a ∈ X ′ ∪ Y ′. Reciprocamente, suponha que a ∈ X ′ ∪ Y ′. Suponha, porexemplo, que a ∈ X ′. Então, para cada � > 0, existe x ∈ X tal que 0 < |x − a| < �. Em particular, x ∈ X ∪ Y também. Logo, a ∈ (X ∪ Y )′. 14. Com a notação do Exercício 5, prove (supondo que todos os conjuntos são não vazios): (a) Se A é compacto e B é fechado, então A+B é fechado. (b) Se A e B são compactos, então A+B é compacto. Solução: (a) Suponha que A é compacto e B é fechado. Seja (yn) uma sequência de elementos de A + B convergindo para um ponto x. Temos de mostrar que x ∈ A + B. Temos que yn = an + bn para algum an ∈ A, bn ∈ B. Temos que yn é limitada (por ser convergente) e an é limitada, por A ser compacto. Logo bn = yn − an é limitada (este passo foi essencial e precisa do fato de A ser compacto). Como an é limitada, possui uma subsequência (ank) convergente para algum a ∈ A. Por outro lado, a sequência (bnk), por ser uma subsequência de (bn), é limitada e portanto possui uma subsequência (bnkj ) que converge para algum b ∈ B (por B ser fechado). Assim, a subsequência (ankj ) também vai convergir para a. Finalmente, vemos que (ynkj ) converge para a+b. Como (yn) é convergente (por hipótese), então a sequência (yn) converge toda para a + b (e não apenas uma sua subsequência converge). Pela unicidade do limite, temos x = a+ b ∈ A+B. (b) Pelo resultado anterior, temos que A+B é fechado. Como A e B são limitados (por serem compactos), temos que A+B é limitado. Logo é limitado e fechado, e portanto compacto. 15. (a) Obtenha uma cobertura aberta de [0,+∞) que não possua uma subcobertura finita. (b) Obtenha uma cobertura aberta de (0, 1] que não possua uma subcobertura finita. 6 de 7 Análise real - Paulo Amorim Lista 3 (continuação) Solução: (a) C = (−1, 1) ∪ (0, 2) ∪ (1, 3) ∪ (2, 4) ∪ · · · (b) C = (1 2 , 2) ∪ (1 3 , 2) ∪ (1 4 , 2) ∪ · · · 16. (Difícil!) Prove que se X ⊂ R é não vazio e aberto e fechado ao mesmo tempo, então X = R. Solução: Sup que Xc 6= ∅. Seja y ∈ Xc. Como é aberto, ∃ε > 0 tq (y − ε, y + ε) ⊂ Xc. Seja Ey = {ε > 0 : (y − ε, y + ε) ⊂ Xc}. Obs primeiro que se ε ∈ Ey, então 0 < δ < ε também. Logo, Ey é um intervalo (0, a), com a finito ou +∞. Das duas uma: ou Ey é limitado, ou não. Se não é limitado, então é (0,+∞). Assim, para todo M > 0, tem-se (y −M, y +M) ⊂ Xc e portanto X = ∅, que é absurdo. Então, Ey é limitado, e por isso tem majorante. Logo existe o seu supremo b = supEy > 0. Para todo n > 0, então, o intervalo (y − b − 1n , y + b + 1 n ) não pode estar contido em Xc (senão b + 1 n estaria em Ey, e b é o seu supremo). Ou seja, (y − b − 1 n , y + b + 1 n ) tem de intersetar X. Seja xn nessa interseção. Note que xn ∈ (y − b− 1n , y − b] ∪ [y + b, y + b+ 1 n ). Como os intervalos (y − b− 1 n , y + b+ 1 n ) estão contidos uns nos outros quando n aumenta, vemos que xn é limitada. Logo possui uma subsequência convergente, xnk → x. Tem-se x ∈ X, pois x é fechado. Por outro lado, x ∈ ⋂ n∈N (y − b− 1 n , y − b] ∪ [y + b, y + b+ 1 n ) = {y − b} ∪ {y + b}. Assim, um destes dois números está em X, digamos y + b. como X é aberto, existe um pequeno intervalo centrado em y + b que está contido em X. Mas isso é um absurdo, pois existem pontos de Xc arbitrariamente próximos de y + b. Pronto. 7 de 7
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