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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Orientador: Cláudio Fernando Mahler Rio de Janeiro Setembro de 2010 COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Examinada por: ________________________________________________ Prof. Cláudio Fernando Mahler, DSc. ________________________________________________ Prof. Cezar Augusto Burkert Bastos, Dr. Eng. ________________________________________________ Prof. Marcos Barreto de Mendonça, DSc. ________________________________________________ Prof. Maurício Ehrlich, DSc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL SETEMBRO DE 2010 iii Schuler, Alexandre Roberto Análise do Comportamento de um Aterro Municipal de Resíduos Sólidos Urbanos Instrumentado/ Alexandre Roberto Schuler. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2010. XXI, 152 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Cláudio Fernando Mahler Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Civil, 2010. Referências Bibliográficas: p. 148-152. 1. Aterro de resíduos sólidos urbanos. 2. Estabilidade. 3. Instrumentação geotécnica. 4. Método dos Elementos Finitos. I. Mahler, Cláudio Fernando. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil. III. Título (série). iv “A independência é o privilégio dos fortes, da reduzida minoria que tem o calor de auto-afirmar-se. E aquele que trata de ser independente, sem estar obrigado a isso, mostra que não apenas é forte, mas também possuidor de uma audácia imensa. Aventura-se num labirinto, multiplica os mil perigos que implica a vida; se isola e se deixa arrastar por algum minotauro oculto na caverna de sua consciência. Se tal homem se extinguisse estaria tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentiriam nem se comoveriam em absoluto. Seu caminho está traçado, não pode voltar atrás, nem sequer lograr a compaixão dos seres humanos.” Friedrich Nietzsche v AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho só foi possível graças à participação direta e indireta de muitas pessoas. Manifesto a minha gratidão a todas de forma particular: - A Deus que me ajudou a ter força e saúde o suficiente para terminar este trabalho; - Professor Dr. Cláudio Fernando Mahler pela amizade, “puxões de orelha” e orientação sobre os rumos deste trabalho; - Dr. J.A.R. Ortigão, Diretor da empresa Terratek Tecnologia Ltda, pela amizade, apoio técnico e profissional no desenvolvimento deste trabalho; - Professor Dr. Cezar Augusto Burkert Bastos, meu grande orientador de graduação, amigo e excepcional profissional, ao qual agradeço por todo apoio em realizar pesquisas e o mestrado na área de geotecnia; - Demais membros da banca, Professor Maurício Ehrlich – Coppe/UFRJ e Professor Marcos Barreto de Mendonça Poli/UFRJ; - Aos responsáveis pelo aterro de resíduos sólidos urbanos estudado, que liberaram a publicação dos dados, com a condição de não divulgar o local onde fica o aterro por questões de sigilosidade; - Em especial, a minha namorada, companheira e amiga, também engenheira geotécnica, Lydice Salome Estrada Polanco, muito obrigado pela força em continuar lutando. - A minha família que sempre me apoiou em tudo que fiz. Mesmo distantes uns dos outros, estamos sempre juntos; - Aos meus amigos, que compartilharam muitos chimarrões durante as aulas do mestrado, em especial: Diego de Freitas Fagundes, Evandro Santiago, Louis-Martin Losier, José Simão e Silvana Vasconcelos; - Ao corpo técnico da empresa Terratek, em especial aos técnicos em instrumentação Valnei Vasconcelos e Luiz Carlos Silva. Muito obrigado; - Aos meus sócios: Cleberson Dors, Etienne Desgagné, Louis-Martin Losier, Marcel Tardin Portela e Paulo Garchet. Obrigado pela força nos momentos em que estive ausente; Demais amigos, colegas de mestrado e de trabalho, muito obrigado por acreditarem em mim e sempre me incentivarem. - Ao CNPq pela bolsa concedida; vi Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE UM ATERRO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS INSTRUMENTADO Alexandre Roberto Schuler Setembro/2010 Orientador: Claúdio Fernando Mahler Programa: Engenharia Civil O presente trabalho tem como objetivo estudar o comportamento geomecânico de um aterro de resíduos sólidos localizado no estado do Rio de Janeiro. Durante o período de dez meses, um aterro municipal de resíduos sólidos foi monitorado durante três fases diferentes: operação em condições normais de funcionamento, instabilização após chuvas torrenciais e interdição e encerramento do aterro por parte do Governo do Estado. O monitoramento geomecânico do aterro foi realizado através do uso de instrumentação geotécnica, incluindo 5 piezômetros do tipo sifão, 4 inclinômetros, 5 marcos superficiais e 2 pluviômetros. Ainda foram realizadas diversas análises de estabilidade durante as etapas de alteamento, sendo 3 casos de retroanálise de rupturas locais chegando a parâmetros bastante coerentes com os apresentados pela bibliografia sobre o assunto e compatíveis com as leituras de instrumentação. Inúmeras vistorias em campo constataram diversos fatores instabilizadores, dentre eles a surgência de chorume nos taludes, pressões de gases, deslocamentos, recalques, rupturas locais, problemas na drenagem, entre outros. Por fim, é realizada a simulação dos deslocamentos verticais (recalques) e horizontais utilizando Método dos Elementos Finitos (MEF) com o software Plaxis 9.0®. O estudo permitiu observar que os valores encontrados nas retro- análises são muito semelhantes aos encontrados na literatura, além de que os valores de E e ν nas análises por MEF são muito próximos aos encontrados para solos turfosos. vii Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) ANALYSIS OF THE BEHAVIOR OF A LANDFILL OF MUNICIPAL SOLID WASTE INSTRUMENTED Alexandre Roberto Schuler September/2010 Advisor: Cláudio Fernando Mahler Department: Civil Engineering The objective of this work was to study the geomechanical behavior of a municipal solid waste landfill located in the Rio de Janeiro State. During ten months, a municipal solid waste landfill was monitored at three different phases: operation in normal conditions, instability after torrential rains and closure of the landfill by the State Government. Geomechanical monitoring of the landfill was accomplished through the use of geotechnical instrumentation, including five piezometers type siphon, four inclinometers, five benchmarks and two pluviometers. Still, several analyses of stability were accomplished during the raising stages, 3 cases of back-analysis of local ruptures arriving to quite coherent parameters like shown in the bibliography on the subject and compatible with the instrumentation readings. Numerous field inspections found several destabilizing factors, among them the presenceof leacheate on the slopes, gas pressures, displacements, settlements, local drainage problems, among others. Finally, the simulation is performed for vertical displacements (settlements) and horizontal using the finite element method in software Plaxis 9.0®. This study showed that the values encountered in the back-analysis are very similar to those found in the literature, and that the values of E and ν in the analysis by FEM are very close to those found for peaty soils. viii ÍNDICE AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ v ÍNDICE ..................................................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... xii LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... xx CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................... 1 1.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1 1.2. OBJETIVO .................................................................................................... 2 1.3. METODOLOGIA ADOTADA E ORGANIZAÇÃO ................................... 2 1.3.1. METODOLOGIA .................................................................................. 3 1.3.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ............................................... 4 CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................... 5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 5 2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................. 5 2.2. CARACTERÍSTICAS DOS RSU E DE ATERROS DE RSU ..................... 5 2.2.1. GRAVIMETRIA DOS RSU ............................................................... 12 2.2.2. GRANULOMETRIA DOS RSU ......................................................... 14 2.2.3. PESO ESPECÍFICO ............................................................................ 16 2.2.4. UMIDADE .......................................................................................... 18 2.2.5. TEMPERATURA ................................................................................ 19 2.2.6. PERMEABILIDADE .......................................................................... 21 2.2.7. RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO ............................................ 23 2.2.8. COMPRESSIBILIDADE .................................................................... 33 2.3. TIPOS DE RUPTURAS EM ATERROS DE RSU E AS MAIORES CATÁSTROFES REGISTRADAS .................................................................................... 42 CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................. 47 ix 3. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 47 3.1. INSTRUMENTAÇÃO INSTALADA NO ATERRO DE RSU ................. 47 3.2. PIEZÔMETROS SIFÃO ............................................................................. 54 3.2.1. DESCRIÇÃO ...................................................................................... 55 3.2.2. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO ...... 57 3.2.3. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS ................................................. 61 3.3. INCLINÔMETROS .................................................................................... 62 3.3.1. ACOMPANHAMENTO DE PERFURAÇÃO E INSTALAÇÃO ...... 64 3.3.1.1. PERFURAÇÃO ........................................................................... 64 3.3.1.2. INSTALAÇÃO DOS TUBOS ..................................................... 64 3.3.2. PROCEDIMENTOS DE LEITURAS ................................................. 66 3.3.2.1. TORPEDO DE LEITURAS ........................................................ 66 3.3.2.2. UNIDADES DE LEITURA ......................................................... 68 3.3.2.3. CÁLCULO DOS DESLOCAMENTOS ...................................... 69 3.3.2.4. PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS ............................... 71 3.4. MARCOS SUPERFICIAIS ........................................................................ 73 3.5. PLUVIÔMETROS ...................................................................................... 75 3.6. ESTABILIDADE EM ATERROS DE RSU ............................................... 78 3.6.1. ESTABILIDADE - TEORIA DO EQUILÍBRIO LIMITE ................. 79 3.7. METODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF) ...................................... 81 CAPÍTULO 4 ............................................................................................................................. 85 4. RESULTADOS .............................................................................................. 85 4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO ..................................................... 85 4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – PIEZÔMETROS SIFÃO ............ 85 4.1.1.1. COTAS PIEZOMÉTRICAS ........................................................ 85 4.1.1.2. PRESSÕES DE GÁS ................................................................... 86 x 4.1.1. RESULTADO DAS LEITURAS – INCLINÔMETROS .................... 88 4.1.2. RESULTADO DAS LEITURAS – PLUVIÔMETROS ..................... 92 4.2. ANÁLISES DE ESTABILIDADE ............................................................. 93 4.3. RETRO-ANÁLISES DE ESTABILIDADE – MÊS DE DEZEMBRO...... 99 4.3.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO ........................................... 100 4.3.1.1. PIEZÔMETROS SIFÃO - COTAS PIEZOMÉTRICAS ........... 100 4.3.1.2. PIEZÔMETROS SIFÃO - PRESSÕES DE GÁS ...................... 100 4.3.1.3. INCLINÔMETROS ................................................................... 101 4.3.1.4. PLUVIÔMETROS ..................................................................... 104 4.3.2. VISITAS DE CAMPO ...................................................................... 104 4.3.2.1. OBSERVAÇÕES ....................................................................... 105 4.3.3. RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE – DEZEMBRO 2009 ..... 111 4.4. ANÁLISES DE ESTABILIDADE - MÊS DE ABRIL DE 2010 ............. 119 4.4.1. LEITURAS DA INSTRUMENTAÇÃO ........................................... 120 4.4.1.1. PIEZÔMETROS SIFÃO – COTAS PIEZOMÉTRICAS .......... 120 4.4.1.2. PIEZÔMETROS SIFÃO – PRESSÕES DE GÁS ..................... 121 4.4.1.3. INCLINÔMETROS ................................................................... 121 4.4.1.4. PLUVIÔMETRO ....................................................................... 125 4.4.2. VISITAS DE CAMPO ...................................................................... 126 4.4.2.1. OBSERVAÇÕES ....................................................................... 126 4.4.3. RETRO-ANÁLISES E ANÁLISE DE ESTABILIDADE – ABRIL 2010…………………………………………………………………………………...130 4.4.3.1. RUPTURA LOCAL ................................................................... 132 4.4.3.2. RETRO-ANÁLISE DE ESTABILIDADE ................................ 132 4.5. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS E VERTICAIS- POR MEF 134 4.5.1. RETRO-ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS ...... 134 xi 4.5.2. ANÁLISE DE DESLOCAMENTOS - PARÂMETROS DA LITERATURA………………………………………………………………………..142 CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................... 146 5.1. CONCLUSÕES.........................................................................................146 5.2. RECOMENDAÇÕES PARA ESTUDOS FUTUROS.............................. 147 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 148 xii LISTA DE FIGURAS Figura 2. 1 - As quadri-fases dos RSU (adaptado de BEAVEN et al., 2009). ..... 7 Figura 2. 2 - Fases ilustrando o efeito da perda de massa dos RSU (adaptado de MACHADO et al., 2009). ................................................................................................ 8 Figura 2. 3 - Comparação entre renda per capita e matéria orgânica dos RSU no município do Rio de Janeiro/RJ. .................................................................................... 13 Figura 2. 4 - Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, 1994 apud DE LAMARE NETO, 2004). ........................................... 15 Figura 2. 5 - Distribuição granulométrica de RSU brasileiros por CARVALHO (1999) e faixa granulométrica sugerida por JESSBERGER (1994). .............................. 16 Figura 2. 6 - Variação do Teor de Umidade dos RSU com a profundidade (adaptado de JUCÁ et al, 1997). .................................................................................... 18 Figura 2. 7 - Variação da coesão aparente com a umidade (adaptado de GABR & VALERO, 1995). ............................................................................................................ 19 Figura 2. 8 - Variação da temperatura do RSU com a profundidade, Aterro de Ano Liossia, Atenas (Grécia), (adaptado de COUMOULOS et al., 1995 apud CARVALHO, 1999). ...................................................................................................... 20 Figura 2. 9 Variações da temperatura com a profundidade comparando com as concentrações de metano (HANSON et al., 2006). ........................................................ 20 Figura 2. 10 - Ensaios de infiltração realizados no Aterro Bandeirantes (MACHADO et al., 2010) .............................................................................................. 22 Figura 2. 11 - Relação entre coesão aparente e ângulo de atrito de resíduos sólidos urbanos (adaptado de WOJNAROWICZ et al., 1998)....................................... 24 Figura 2. 12 - Curva tensão x deformação (adaptado de KÖLSCH, 1993). ....... 25 Figura 2. 13 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de CARVALHO, 1999). .................................. 27 Figura 2. 14 - Trajetória de tensões encontrada em ensaios de CD e CU de grandes dimensões em RSU (adaptado de NASCIMENTO, 2007). .............................. 28 Figura 2. 15 - Ensaio triaxial de grandes dimensões para uso em RSU.(a) antes da execução do ensaio. (b) após a execução do ensaio. SHARIATMADARI et al. (2009). ............................................................................................................................ 29 xiii Figura 2. 16 - Relação entre a deformação axial e radial em condições de compressão isotrópica. SHARIATMADARI et al. (2009). ........................................... 30 Figura 2. 17 - Efeito da deformação isotrópica ou anisotrópica sobre o incremente de tensão corrigida, SHARIATMADARI et al. (2009). .............................. 30 Figura 2. 18 - Resultados típicos de trajetória de tensões para solos turfosos (a) OIKAWA & MIYAKAWA (1980) e (b) MESRI AND AJLOUNI (2007) apud SHARIATMADARI et al., (2009). ................................................................................ 32 Figura 2. 19 - Curva teórica de compressibilidade do RSU (adaptado de GRISOLIA & NAPOLEONI, 1996). ............................................................................. 36 Figura 2. 20 - Recalques total e anual em RSU (adaptado de GANDOLLA et al. 1994). .............................................................................................................................. 37 Figura 2. 21 - Recalques registrados por um marco superficial instalado em aterro Vila Albertina/SP (DE JORGE et al., 2004). ....................................................... 38 Figura 2. 22 Resultados de módulos cisalhantes e de deformação obtidos para o resíduo estudado a partir de ensaios cross-hole (apud CARVALHO, 1999) ................. 41 Figura 2. 23 - Tragédia do Morro do Bumba (Foto: ESTADO DE SÃO PAULO, 2010). .............................................................................................................................. 43 Figura 2. 24 - Tipos de rupturas possíveis em aterros de RSU (DIXON & JONES, 2004). ................................................................................................................ 44 Figura 2. 25 - Rumpke (USA), 1996 (KÖLSCH, 2010). .................................... 45 Figura 2. 26 - Payatas (Filipinas), 2000 (KÖLSCH, 2010). ............................... 46 Figura 2. 27 - Bandung Indonésia, 2005 (KÖLSCH, 2010). .............................. 46 Figura 2. 27 - Seção de ruptura circular dividida em fatias (ORTIGÃO & SAYÃO, 2004). .............................................................................................................. 81 Figura 3. 1 - Seções de instrumentação principal e secundária. ......................... 48 Figura 3. 2 - Vista esquemática com as seções de instrumentação principal e secundária. ...................................................................................................................... 49 Figura 3. 3 - Vista do talude consolidado a jusante do aterro. ............................ 51 Figura 3. 4 - Seção principal de instrumentação contendo dois inclinômetros e três piezômetros do tipo sifão. ........................................................................................ 53 Figura 3. 5 - Seção secundária de instrumentação. ............................................. 53 xiv Figura 3. 6 - Vista superior do piezômetro sifão. ............................................... 55 Figura 3. 7 - Piezômetro sifão (dimensões em cm). ........................................... 56 Figura 3. 8 - Perfuração sendo executada para instalação de piezômetro sifão.. 57 Figura 3.9 - Tubo externo envolto por uma pasta impermeável de bentonita. ... 58 Figura 3. 10 – (a) Ranhuras ao longo da “câmara de pressão de gás” (tubo externo 50mm); (b)Proteção da parte ranhurada da “câmara de pressão de gás” (tubo externo de 50mm). .......................................................................................................... 58 Figura 3. 11 - Furos na base da “câmara piezométrica” (tubo interno de 25mm). ........................................................................................................................................ 59 Figura 3. 12 - Conexões do piezômetro sifão. .................................................... 60 Figura 3. 13 - Manômetro para leitura de pressão de gás. .................................. 60 Figura 3. 14 - Leituras do nível piezométrico. .................................................... 61 Figura 3. 15 - Leituras de gás. ............................................................................ 62 Figura 3. 16 - Inclinômetro: torpedo, unidade de leitura automática, tubos de acesso PVC (GEO-RIO, 2000). ...................................................................................... 62 Figura 3. 17 - Esquema de leituras do inclinômetro (adaptado de GEO-RIO, 2000). .............................................................................................................................. 63 Figura 3. 18 - Rebites nas emendas do tubo. ...................................................... 64 Figura 3. 19 - Vedação das emendas do tubo. .................................................... 65 Figura 3. 20 - Fases de instalação do tubo de acesso (adaptado de GEO-RIO, 2000). ..............................................................................................................................66 Figura 3. 21 – Foto e medidas do torpedo do inclinômetro (dimensões em cm).67 Figura 3. 22 - (a) Unidade leitora Geokon GK603 e (b) unidade leitora Encardio Rite EDI-53. ................................................................................................................... 68 Figura 3. 23 - Vista interna dos deslocamentos dentro do tubo com o torpedo de inclinômetro (UFBA, acesso em janeiro de 2011). ........................................................ 70 Figura 3. 24 - Cálculo dos deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). ........................................................................................................................................ 70 xv Figura 3. 25 - Resultados típicos de leituras e deslocamentos com o inclinômetro (GEO-RIO, 2000). .......................................................................................................... 71 Figura 3. 26 - Exemplo de gráfico típico de apresentação de resultados e informações para o eixo A de deslocamento, apresentando a variação de leituras e o deslocamento acumulado (ORTIGÃO, 1999). ............................................................... 72 Figura 3. 27 - Leituras dos deslocamentos sendo realizadas pelo autor desta dissertação. ..................................................................................................................... 73 Figura 3. 28 – Detalhes do marco superficial usado. .......................................... 74 Figura 3. 29 - Marco superficial 1 – MS-01 ....................................................... 75 Figura 3. 30 - Foto do pluviômetro utilizado nas leituras pluviométricas. ......... 76 Figura 3. 31 - Foto do pluviômetro ville de Paris instalado próximo ao aterro. 77 Figura 4. 1 - Variações das cotas piezométricas para o período de acompanhamento do aterro. ............................................................................................ 86 Figura 4. 2 - Leituras da pressão de gás para o período analisado. .................... 87 Figura 4. 3 - Direção das ranhuras A e B dos tubos de inclinômetro do aterro de RSU estudado. ................................................................................................................ 88 Figura 4. 4 - Gráfico de leituras do IN01 na direção A e B. ............................... 89 Figura 4. 5 - Gráfico de leituras do IN02 na direção A e B. ............................... 90 Figura 4. 6 - Gráfico de leituras do IN03 na direção A e B. ............................... 91 Figura 4. 7 - Gráfico de leituras do IN04 na direção A e B. ............................... 92 Figura 4. 8 - Precipitação registrada durante o monitorado no aterro. ............... 93 Figura 4. 9- Representação do cálculo do ru. ...................................................... 94 Figura 4. 10 - Seção principal de instrumentação analisada, segundo estudos anteriores, utilizando um ru de 0,4 com Método de Bishop Simplificado no software GEOSLOPE 2004. .......................................................................................................... 95 Figura 4. 11 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. .................................................................................................................. 97 xvi Figura 4. 12 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando com ru medido em campo, indicado pelo PZ03 de 0,42. ........................................................................................... 97 Figura 4. 13 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia do mês de dezembro de 2009, utilizando ru medido em campo indicado pelo PZ05 de 0,55. .......................................................................................................... 98 Figura 4. 14 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia final prevista para o encerramento, utilizando ru medido em campo, indicado pelo PZ05 de 0,55. ........................................................................................... 98 Figura 4. 15 - Gráfico das variações das cotas piezométricas para o mês de dezembro de 2009. ........................................................................................................ 100 Figura 4. 16 - Leituras da pressão de gás para o mês de dezembro de 2009. ... 101 Figura 4. 17 - Gráfico de leituras do IN01 ........................................................ 102 Figura 4. 18 - Gráfico de leituras do IN02. ....................................................... 102 Figura 4. 19 - Gráfico de leituras do IN03. ....................................................... 103 Figura 4. 20 - Gráfico de leituras do IN04. ...................................................... 103 Figura 4. 21 - Índices de precipitação registrados no mês de dezembro de 2009. ...................................................................................................................................... 104 Figura 4. 22 - Localização da ruptura interna e localização aproximada da trinca. ...................................................................................................................................... 105 Figura 4. 23 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção principal do aterro. ....................................................................................................................... 105 Figura 4. 24 - Seção topográfica de dezembro de 2009 (em vermelho), seção topográfica prevista para o encerramento e instrumentação instalada na seção secundária de instrumentação do aterro. ......................................................................................... 106 Figura 4. 25 - Ruptura ocorrida no final do ano de 2009 (em vermelho). ........ 107 Figura 4. 26 - Ruptura ocorrida e “lixo” obstruindo a pista de acesso (em vermelho). ..................................................................................................................... 107 Figura 4. 27 - Foto da trinca no platô do aterro. ............................................... 110 Figura 4. 28 - Foto da mesma trinca. ................................................................ 110 xvii Figura 4. 29 - Retro-análise da ruptura localizada próximo a seção secundária de instrumentação, considerando ru=0,7 em todo o RSU. ................................................ 112 Figura 4. 30 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de dezembro de 2009. ................................................................................. 113 Figura 4. 31 - Análise de estabilidade da seção principal de instrumentação para topografia de topografia prevista para o encerramento. ............................................... 113 Figura 4. 32 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de dezembro de 2009........................................................................... 114 Figura 4. 33 - Análise de estabilidade da seção secundária de instrumentação para topografia de prevista para o encerramento. ......................................................... 114 Figura 4. 34 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembro de 2009. ...................................... 116 Figura 4. 35 - ru crítico para seção principal de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. ....... 117 Figura 4. 36 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com a topografia do mês de dezembrode 2009. ...................................... 118 Figura 4. 37 - ru crítico para seção secundária de instrumentação - análise de estabilidade com o “as built” com as cotas previstas no encerramento do aterro. ....... 119 Figura 4. 38 - Variações das cotas piezométricas para o mês de abril de 2010. 120 Figura 4. 39 - Leituras das pressões de gás para o mês de abril de 2010. ........ 121 Figura 4. 40 – Deslocamentos acumulados do IN01 na direção A e B. ........... 122 Figura 4. 41 - Deslocamentos acumulados do IN02 na direção A e B. ............ 123 Figura 4. 42 - Deslocamentos acumulados do IN03 na direção A e B. ............ 124 Figura 4. 43 - Deslocamentos acumulados do IN04 na direção A e B. ............ 125 Figura 4. 44 - Precipitação registrados no mês de abril de 2010 no aterro estudado. ....................................................................................................................... 126 Figura 4. 45 - Ruptura próxima ao PZ01. ......................................................... 127 Figura 4. 46 - Detalhe da quebra do tubo de piezômetro PZ01. ....................... 127 Figura 4. 47 - Execução de uma cava na tentativa de recuperação do PZ02. ... 128 xviii Figura 4. 48 - Seção principal de instrumentação, com sérios problemas de drenagem (Foto tirada no dia 10 de abril de 2010). ..................................................... 129 Figura 4. 49 - Seção principal de instrumentação do aterro com sérios problemas de drenagem, com acúmulo de chorume nas bermas (Foto tirada no dia 26 de abril de 2010). ............................................................................................................................ 129 Figura 4. 50 - Seção principal de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). .......................................................................................................... 130 Figura 4. 51 - Seção secundária de instrumentação do aterro (cotas de dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010 em verde, vermelho, magenta e azul, respectivamente). .......................................................................................................... 130 Figura 4. 52 - Provável superfície de ruptura local do talude da seção principal de instrumentação do aterro. ......................................................................................... 132 Figura 4. 53 - Análise de estabilidade da seção principal, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ03 de 0,56 para o mês de abril de 2010, FS resultante de 1,37 global e 1,04 estabilidade local no talude de 15m. ............................................... 133 Figura 4. 54 - Análise de estabilidade da seção secundária, com a topografia de março e ru indicado pelo PZ05 de 0,64 para o mês de fevereiro de 2010, FS resultante de 1,44 para ruptura global e 1,09 para talude inferior junto a estrada de acesso. ....... 133 Figura 4. 55 - Geração da malha de elementos finitos. .................................... 136 Figura 4. 56 - Configuração inicial do aterro (sem lixo “fresco”). ................... 137 Figura 4. 57 - Tela da configuração do problema e distribuição do tempo de construção de cada célula. ............................................................................................ 138 Figura 4. 58 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 2,75m. ...................................................................................................................................... 139 Figura 4. 59 - Pontos mais críticos em vermelho, próximo ao platô do aterro e aos piezômetros PZ01 e PZ02 rompidos no mês de abril de 2010. .............................. 140 Figura 4. 60 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo até 1,40m de deslocamento horizontal. ...................... 141 Figura 4. 61 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,66m de deslocamento horizontal................................................................ 142 Figura 4. 62 - Malha deformada, apresentando um deslocamento total de 0,30m ...................................................................................................................................... 143 xix Figura 4. 63 - Deslocamentos horizontais críticos estimados, próximos aos antigos PZ01 e PZ02 atingindo 0,086m de deslocamento horizontal. ......................... 144 Figura 4. 64 - Seção transversal próximo ao inclinômetro IN01 alcançando a marca de 0,086m de deslocamento horizontal.............................................................. 144 xx LISTA DE TABELAS Tabela 2. 1 - Comparação entre renda per capita e percentual dos diversos componentes dos RSU do município do Rio de Janeiro (adaptado de COMLURB, 2005). .............................................................................................................................. 10 Tabela 2. 2 - Fatores que exercem forte influência sobre a composição dos resíduos (adaptado de XAVIER de BRITO, 1999). ....................................................... 11 Tabela 2. 3 - Gravimetria dos componentes de Resíduos Sólidos Urbanos. (adaptado de CALLE (2007). ......................................................................................... 14 Tabela 2. 4 - Massas específicas de alguns aterros de RSU não pré-tratados (adaptado de CALLE, 2007). ......................................................................................... 17 Tabela 2. 5 - Permeabilidade de Aterros Sanitários (adaptado de CALLE, 2007). ........................................................................................................................................ 23 Tabela 2. 6 - Parâmetros de resistência ao cisalhamento de RSU – coesão aparente e ângulo de atrito (CALLE, 2007). .................................................................. 33 Tabela 2. 7 - Relação de catástrofes segundo KOERNER & SOONG (1999). .. 45 Tabela 3. 1 - Dados das instalações dos piezômetros sifão. ............................... 54 Tabela 3. 2 - Dados das instalações dos tubos de inclinômetros. ....................... 54 Tabela 3. 3 - Dados das instalações dos marcos superficiais. ............................ 54 Tabela 3. 4 - Características do torpedo Geokon Model 6000. .......................... 67 Tabela 3. 5 - Características do torpedo Torpedo EAN-25/2M. ......................... 68 Tabela 3. 6 - Características da unidade leitora GK603. .................................. 69 Tabela 3. 7 - Características da unidade leitora EDI-53 INS............................. 69 Tabela 3. 8 - Especificação técnica do pluviômetro digital instalado no aterro de RSU estudado. ................................................................................................................ 76 Tabela 3. 9 - Especificações técnicas do pluviômetro ville de Paris instalado no aterro. .............................................................................................................................. 77 Tabela 4. 1 - Valores de ru de campo para o mês de dezembro de 2009 ............ 95 Tabela 4. 2 - Parâmetros de resistência utilizados em estudos anteriores .......... 96 xxi Tabela 4. 3 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados segundo estudos anteriores ............................................................................................. 99 Tabela 4. 4 - Parâmetros de resistência utilizados nas análises de estabilidade deste estudo. ................................................................................................................. 111 Tabela 4. 5 - Resumo das análises de estabilidade segundo parâmetros adotados. ......................................................................................................................................115 Tabela 4. 6 - Fatores de segurança mínimos admitidos (ABNT NBR 11682, 2006). ............................................................................................................................ 115 Tabela 4. 7 - Valores de ru de campo ................................................................ 131 Tabela 4. 8 - Resumo das análises de estabilidade. .......................................... 134 Tabela 4. 9 - Parâmetros adotados na analise de recalques por elementos finitos. ...................................................................................................................................... 135 Tabela 4. 10 Parâmetros adotados na analise de deslocamentos por elementos finitos segundo valores típicos encontrados por CARVALHO (1999) ........................ 142 1 CAPÍTULO 1 1.1. INTRODUÇÃO Segundo o IBGE (2010), a porcentagem de resíduos sólidos coletados nos domicílios aumentou mais de 20% nos últimos 17 anos. Porém, no ano de 2000 ainda estimava-se que em 64% dos municípios brasileiros, todo o lixo produzido era disposto em terrenos que não passam por nenhum tipo de controle, ou seja, em lixões. Em contrapartida, após 19 anos da criação do projeto-lei, a câmara dos deputados aprovou em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que obriga aos municípios planejar e executar a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos gerados. A falta de planejamento e investimentos em saneamento nos últimos 30 anos no Brasil fez com que grande maioria dos resíduos sólidos acabasse indo diretamente para lixões. Na última década, muitos municípios vieram a adequar os antigos lixões, a condição de aterros controlados, como é o caso do aterro estudado. A solução de adequar antigos lixões a condição de aterros controlados não resolve o problema da disposição final dos resíduos, porém adéqua a melhores condições o local de despejo dos rejeitos. Os resíduos sólidos urbanos (RSU) dispostos a céu aberto (lixões) representam um passivo ambiental que pode custar muito caro para as futuras gerações. Os aterros urbanos dispostos segundo critérios geotécnicos, em países em desenvolvimento como o Brasil, ainda são as formas mais utilizadas para disposição de rejeitos. Tal condição é extremamente agressiva e criticada do ponto de vista ambiental, trazendo conseqüências muitas vezes irreversíveis ao meio ambiente e comunidades próximas aos locais dos aterros de resíduos. A concentração da população em torno dos centros urbanos faz com que a disposição final dos resíduos sólidos urbanos se torne um problema de difícil solução. A crescente demanda de bens de consumo tem refletido exponencialmente na geração de resíduos sólidos mundialmente. A evolução tecnológica dos materiais e insumos com o desenvolvimento de embalagens sofisticadas, tem se refletido diretamente no aumento da geração de resíduos sólidos no mundo inteiro. As grandes metrópoles são as que mais sofrem para adequar áreas para disposição dos resíduos, o que exige a otimização da capacidade dos atuais aterros sanitários ou aterros controlados, exigindo alturas cada vez maiores. Com o aumento da geração de resíduos pelo consumo humano, aumentam-se as cargas e volumes diários que chegam até os aterros. Como 2 conseqüência, muitos locais tem exigido o monitoramento constante, por sempre estarem no limite de suas capacidades de operação. A partir deste ponto, o problema dos aterros de RSU deixou de ser um problema sanitário para se tornar um problema geotécnico. As sobrecargas excessivas podem ocasionar processos de instabilização, oferecendo riscos aos operários, catadores, construções irregulares no seu entorno, causando prejuízos sócio-econômicos e ambientais, além de oferecer riscos de vida à população local. 1.2. OBJETIVO Esta dissertação tem por objetivo principal obter parâmetros de resistência (c – coesão aparente1 e φ’ – ângulo de atrito efetivo) de um aterro de RSU, através de retro-análises de rupturas ocorridas em um aterro de resíduos sólidos monitorado, ajustando os parâmetros adotados nas análises de estabilidade de acordo com as leituras da instrumentação instalada no aterro. Têm-se por objetivos específicos: 1. Descrever as observações feitas nas diversas vistorias de campo, verificando algumas condições que antecederam as rupturas ocorridas no aterro durante períodos chuvosos, como a presença de trincas, problemas de drenagem pluvial, aumento das pressões de gases, entre outros fatores que antecederam as instabilidades. 2. Descrever a instalação e as leituras da instrumentação geotécnica localizada diretamente no maciço de RSU, como: piezômetros do tipo sifão (também conhecidos como piezômetros vector), inclinômetros, marcos superficiais e pluviômetros. 3. Análise paramétrica dos RSU, utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF), estudando e comparando os deslocamentos verticais (recalques) e horizontais, tendo como base os parâmetros encontrados na literatura sobre o assunto. 1.3. METODOLOGIA ADOTADA E ORGANIZAÇÃO Este estudo compreende um monitoramento geotécnico de 10 meses de um aterro de resíduos sólidos. 1 No caso de resíduos sólidos há uma elevada resistência a tração que pode ser considerada como coesão aparente no modelo Mohr-Coulomb. 3 1.3.1.METODOLOGIA A primeira etapa metodológica deste trabalho tratou da busca de artigos e teses para contemplação da revisão bibliográfica sobre o assunto, principalmente no que diz respeito a comportamento mecânico de aterros de RSU. A segunda etapa da metodologia foi a que tratou do acesso aos dados para esta pesquisa. Tal liberação de dados só foi possível com a assinatura de um termo de compromisso de sigilosidade, onde ficou exposto que, em nenhum momento se deixaria claro o local da pesquisa nem as empresas envolvidas no monitoramento e nem os projetistas que realizaram o estudo de adequação ambiental do antigo lixão, onde apenas cita-se o termo “estudos anteriores” quando se refere ao projeto de encerramento do aterro. Devido a este fato, alguns detalhes do monitoramento não puderam ser divulgados. Em paralelo com as duas primeiras etapas da metodologia, optou-se em descrever o procedimento básico da instalação da instrumentação geotécnica em RSU, onde o autor desta dissertação acompanhou de perto os detalhes técnicos envolvidos para a instalação de 5 piezômetros sifão, 4 tubos de inclinômetro, 5 marcos superficiais e dois pluviômetros. Ficou clara a dificuldade na perfuração dos RSU, sendo a duração desta etapa de 5 meses. Após o acompanhamento da instalação da instrumentação, várias leituras foram realizadas, sendo no mínimo realizada uma vistoria mensal no aterro com finalidade de observar sinais de instabilidade, como trincas e problemas de erosão. As demais leituras eram realizadas por técnico em instrumentação geotécnica que acompanhou diariamente as leituras da instrumentação instalada do aterro. Em seguida, a partir das leituras de instrumentação, fazia-se sua interpretação. Inicialmente, houve maior dificuldade na interpretação das leituras de inclinômetro, que eram realizadas com o auxílio de planilhas Excel® e após utilizando o software Gtilt®. Para auxiliar nas interpretações de pequenos deslocamentos horizontais, utilizou-se o artifício do uso de um “cone de acurácia”, onde este representaria duas linhas cônicas acompanhando os dados das leituras sendo que o cone representa a acurácia associada ao sistema torpedo em conjunto com a unidade leitora. Tal “cone de acurácia” foi útil na identificação de pequenas tendências de movimentação horizontal no maciço. O acompanhamento de algumas rupturas nos taludes do aterro de resíduos permitiu a retro-análise de três casos de rupturas utilizando o software SLIDE 5.0®, ocorridos em diferentes épocas. Buscou-seestudar os deslocamentos no aterro após verificar que algumas leituras de instrumentação pareciam tendenciosas em certas profundidades. Por fim, utilizou- se o Método dos Elementos Finitos (software Plaxis 9.0®), comparando parâmetros e 4 deslocamentos verticais (recalques) e deslocamentos horizontais com os deslocamentos horizontais medidos com o auxílio dos inclinômetros instalados no maciço. A instalação tardia dos marcos superficiais no aterro fez com que se tivesse um período muito curto de leituras para identificar um modelo de comportamento de recalques de RSU, sendo que nas recomendações finais deste trabalho sugere-se que o modelo adotado seja verificado e adequado conforme se tenha maior volume de leituras destes deslocamentos verticais. 1.3.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO Esta dissertação é dividida em 5 capítulos, sendo este primeiro capítulo de introdução com os principais objetivos da dissertação, além de uma breve descrição da metodologia adotada. O Capítulo 2 apresenta aspectos gerais de resíduos sólidos, apresentando características físicas, químicas e biológicas, com enfoque em resistência ao cisalhamento e compressibilidade dos RSU. São descritos os principais parâmetros encontrados na literatura e dificuldades na obtenção destes, através de ensaios in situ e de laboratório, retro-análises de estabilidade. Também são descritas as teorias de análise de estabilidade utilizando a Teoria do Equilíbrio Limite e recalques utilizando Método dos Elementos Finitos. Ainda, o capítulo relata diversas catástrofes e os diferentes tipos de rupturas em aterros de RSU. O Capítulo 3 apresenta a instrumentação instalada no aterro de RSU estudado e as respectivas seções de instrumentação, nomeadas de seção principal e seção secundária de instrumentação. O Capítulo ainda detalha os tipos de instrumentos instalados no aterro e funcionamento, como o piezômetro do tipo sifão específico para aterros de RSU. Detalhes e observações durante a instalação da instrumentação são descritos. No Capítulo 4 são apresentadas as leituras observadas no período de 10 meses de monitoramento, incluindo duas fases críticas de estabilidade, dezembro de 2009 e abril de 2010 onde se registrou mais de 270 mm de chuva em menos de 12h no local. Retro-análises de estabilidade foram realizadas através da adoção de parâmetros da literatura, ajustadas ao modelo de ruptura comparando as análises com dados da instrumentação. Ainda neste mesmo capítulo, apresenta-se uma análise paramétrica utilizando o Método dos Elementos Finitos, visando estimar os deslocamentos verticais e horizontais esperados para o aterro e comparar a influência de cada parâmetro nas análises. Finalmente, o Capítulo 5 aborda as conclusões finais deste trabalho e recomendações para futuros trabalhos envolvendo este aterro ou outros aterros de RSU. 5 CAPÍTULO 2 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este capítulo é destinado ao estudo e revisão das propriedades mecânicas dos resíduos sólidos. Uma breve revisão sobre resíduos sólidos, suas propriedades físicas, químicas e biológicas, envolvendo temperatura, umidade, resistência ao cisalhamento, compressibilidade, monitoramento de aterros de RSU, casos de ruptura, entre outros. Ainda são apresentados o Método do Equilíbrio Limite e Método dos Elementos Finitos utilizados para as análises de estabilidade e previsão de deslocamentos, respectivamente. 2.1. RESÍDUOS SÓLIDOS A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT NBR 10.004 (2004) – define o lixo como os "restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que não seja passível de tratamento convencional". Porém, aquilo que já não apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para outro pode se tornar matéria-prima para um novo produto ou processo (IBAM, 2001). Neste caso, segundo a própria norma NBR 10.004 (2004), o conceito de lixo acaba não englobando materiais que possam ser reciclados ou usados ou manufaturados por terceiros. Ou seja, o termo resíduo sólido designa com maior abrangência o significado da palavra “lixo”. Os resíduos sólidos urbanos são aqueles gerados pela comunidade, com exceção de resíduos industriais, de mineração e agrícolas. Incluem os resíduos de origem doméstica e resíduos procedentes de: comércio, escritórios, serviços, limpeza de vias públicas, mercados, feiras e festejos bem como móveis, materiais e eletrodomésticos inutilizados. Esses resíduos se constituem numa mistura heterogênea de materiais sólidos que podem ser parcialmente reciclados e reutilizados, vêm se constituindo em um dos maiores problemas da sociedade moderna. 2.2. CARACTERÍSTICAS DOS RSU E DE ATERROS DE RSU Segundo o IBAM (2001), a geração de resíduos sólidos domiciliares no Brasil é de cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resíduos de varrição, limpeza de logradouros e entulhos. Algumas cidades, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, alcançam índices de produção mais elevados, podendo chegar a 6 1,3kg/hab./dia, considerando todos os resíduos manipulados pelos serviços de limpeza urbana (domiciliares, comerciais, de limpeza de logradouros, de serviços de saúde e entulhos). O problema da disposição final dos RSU assume hoje uma magnitude alarmante. Considerando apenas os resíduos urbanos e públicos, o que se percebe é uma ação generalizada das administrações públicas locais ao longo dos anos em apenas afastar das zonas urbanas o lixo coletado, depositando-o por vezes em locais absolutamente inadequados, como encostas florestadas, manguezais, rios, baías e vales. (IBAM, 2001). Decorre daí a necessidade de um melhor entendimento do comportamento a médio e longo prazo destes maciços, assim como a resposta dos mesmos a distintas técnicas construtivas e operacionais, as quais isoladamente ou em conjunto possam gerar um aumento na vida útil e um melhor aproveitamento do espaço físico a eles destinados. Acrescente-se a estes aspectos, a importância nos dias atuais para a recuperação e reaproveitamento de antigas áreas de disposição, as quais demandam igualmente o conhecimento das condições geomecânicas do maciço, assim como a previsão do seu comportamento futuro. Os aterros podem se classificar de acordo com o tipo de disposição final utilizada, como segue: • Lixões - Forma irresponsável de jogar o lixo sobre um local qualquer sem nenhum tipo de controle contra poluição ou contaminação; • Aterros controlados – Conforme descrito anteriormente produz poluição localizada, não possui impermeabilização da base e sem sistema de tratamento de chorume e de dispersão dos gases; • Aterros sanitários - Forma de disposição de RSU que obedece a critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permitindo o confinamento teoricamente seguro em termos de controle de poluição ambiental e proteção à saúde publica. Nos lixões ou aterros controlados estão ausentes os critérios de engenharia de disposição do resíduo e, por isso, são criticados pelo ponto de vista sanitário e ambiental. Porém, as adequações a antigos lixões a condição de aterros controlados é realidade na grande maioria dos municípios brasileiros. Para projetar um aterro sanitário ou adequar um lixão a condição de aterro controlado, a informação geotécnica é essencial. Para isso são necessários dados geológicos, meteorológicas, hidrogeológicos e geotécnicos. Dados dos resíduos a serem dispostos são 7 também relevantes. Conhecimento de dados geotécnicos e dados sobre os resíduos são necessários nas análises de estabilidade, de deformação e vida útil do aterro de RSU. Se tratando de RSU, as propriedades mecânicas ainda são avaliadas empregando, para esses materiais, os métodos convencionais de ensaiosde campo e laboratório desenvolvidos para solos. Cuidados devem ser tomados ao se estender para o RSU os conceitos e as teorias clássicas da Mecânica dos Solos, pois existem significantes diferenças entre estes dois materiais. O RSU de natureza altamente complexa e heterogênea apresenta elevados índices de vazios e, portanto, uma grande compressibilidade. Apresenta partículas de natureza muito diferente sendo que algumas delas são muito deformáveis e podem degradar, provocando o fenômeno o adensamento do aterro. A caracterização contínua dos resíduos sólidos é um dos passos mais importantes em qualquer administração pública que queira buscar uma solução ambiental adequada (MAHLER, 2010). A caracterização visa estudar muito além das suas características físicas, mas sim entender todo o comportamento de uma sociedade no sentido de prever nos novos projetos de aterro a evolução na produção de resíduos sólidos. Basicamente, o RSU se trata de um material extremamente heterogêneo, que pode ser distinguido por quatro fases compostas conforme apresentado na Figura 2. 1, são elas: ar, lixiviado (composto por água drenável), água retida (matéria orgânica, contendo umidade do RSU) e a matéria sólida contendo os resíduos inorgânicos. Va Vw-d Vw-r Vs Vw VOLUMES Ma Mw-d Mw-r Ms Mw MASSAS Va Vv Vs V T MATERIA SÓLIDA (SECA) ÁGUA RETIDA ÁGUA DRENÁVEL AR Figura 2. 1 - As quadri-fases dos RSU (adaptado de BEAVEN et al., 2009). 8 Onde: VT=Volume total; VS=Volume de sólidos; VV=Volume de vazios; Va=Volume de ar; Vw=Volume de água total; Vw-d=Volume de água drenável; Vw-r=Volume de água retida; Ma=Massa de ar; Mw-d=Massa de água drenável; Mw-r=Massa de água retida; MS=Massa de sólidos. Já na Figura 2. 2, de MACHADO et al. (2009), é apresentada a relação da perda de volume em função da biodegradação da parcela orgânica dos RSU. ANTES DA BIODEGRADAÇÃO APÓS BIODEGRADAÇÃO VOLUME AR ÁGUA PASTA SÓLIDA (MATRIZ) FIBRAS ÁGUA PASTA SÓLIDA (MATRIZ) FIBRAS AR (1+α)∆Vs ∆Vs Vsp+∆Vsp Vsf Vv+α∆Vs Vs+∆Vs Vp(1+α)∆Vs V+(1+α)∆Vsa Figura 2. 2 - Fases ilustrando o efeito da perda de massa dos RSU (adaptado de MACHADO et al., 2009). Onde: 9 ∆Vs=parcela de volume do RSU que varia (matriz); Vsp=Volume da pasta sólida (matriz) do RSU; Vsf=Volume de fibras do RSU; VV=Volume de vazios; α=Taxa de compressão dos RSU a longo prazo Va=Volume de ar; Vw=Volume de água total; Vp=relação entre o volume da pasta e volume total dos RSU. Atualmente é de conhecimento que as características dos resíduos sólidos variam para cada cidade, para cada bairro até, em função de diversos fatores, como o porte, a atividade dominante (industrial, comercial e turística), os hábitos da população (principalmente quanto à alimentação e forma de se vestir), ao clima e ao nível educacional (XAVIER DE BRITO, 1999). KAIMOTO (2005) cita que até duas décadas atrás, o princípio de projetos de aterros considerava somente os critérios sanitários. No Brasil era comum adotar os conceitos e os parâmetros da Europa e dos EUA. No entanto, a adoção destes conduziu a situações críticas de instabilidade nos aterros. Atualmente sabe-se que diversos fatores influenciam nas características dos RSU, e devem ser estudados caso a caso, como em problemas de geotecnia em geral. As características dos resíduos, do clima e da operação em aterros são completamente diferentes de aterro para aterro, variando desde a renda da população local supracitado e a sazonalidade de quando é realizada a amostragem para caracterização do RSU. A Tabela 2. 1 apresenta um exemplo de dados comparativos de renda per capita e tipo de resíduo gerado para diferentes áreas de estudo do município do Rio de Janeiro, em pesquisa realizada pela COMLURB (2005). Nota-se que, quando maior a renda per capita da área, menor a quantidade de matéria orgânica que estes cidadãos geram. Cabe observar que a implantação da coleta seletiva tende a aumentar a porcentagem de matéria orgânica. 10 Tabela 2. 1 - Comparação entre renda per capita e percentual dos diversos componentes dos RSU do município do Rio de Janeiro (adaptado de COMLURB, 2005). REGIÃO CENTRO¹ ZONA SUL² TIJUCA³ DEL CASTILHO PENHA/ GALEÃO PAVUNA ZONA OESTE4 CAMPO GRANDE BANGÚ SANTA CRUZ RENDA PER CAPTA MÉDIA (R$) 465,61 1.394,60 1.095,21 353,76 399,41 349,12 809,80 313,38 269,30 212,21 PAPEL (%) 11,93 18,58 14,04 12,72 14,18 12,30 14,22 12,63 9,87 10,35 PLÁSTICO (%) 15,76 16,10 15,50 15,40 14,01 15,20 16,56 14,91 14,97 14,07 VIDRO (%) 3,88 3,98 3,87 3,83 2,69 2,26 4,36 2,84 2,09 1,93 MATÉRIA ORGÂNICA PUTRECÍVEIS (%) 62,77 52,18 59,66 61,13 61,74 63,82 57,09 62,47 66,14 67,21 METAL (%) 1,88 1,79 1,59 1,76 1,60 1,62 1,71 1,63 1,37 1,31 INERTE (%) 0,47 1,33 0,49 0,45 0,96 0,94 1,46 0,64 0,79 0,09 OUTROS (%) 3,30 6,04 4,85 4,73 4,82 3,85 4,59 4,88 4,77 5,03 TOTAL GERAL (%) 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 TEOR DE UMIDADE (%) 50,11 47,73 51,93 56,47 46,49 57,05 49,20 45,74 50,28 44,63 PESO ESPECÍFICO (kg/m³) 146,55 137,44 148,17 149,63 146,63 162,92 130,52 149,18 157,47 159,02 PESO DA AMOSTRA (kg) 1.476,12 2.247,87 1.421,65 1.665,95 2.035,00 3.316,72 2.031,80 1.819,65 1.175,50 950,85 1 Início da implantação da Coleta seletiva em Novembro de 2003 2 Início da implantação da Coleta seletiva em Fevereiro de 2002 3 Início da implantação da Coleta seletiva em Maio de 2003 4 Início da implantação da Coleta seletiva em Maio de 2003 A composição gravimétrica do RSU espelha o nível de renda da população, e é de se esperar que regiões mais ricas gerem um menor percentual em massa de material orgânico, haja visto que é grande o consumo de alimentos semi-prontos e processados. Por sua vez, é maior a geração de resíduos de papel, próprios de uma população intelectualmente diferenciada. Sobre as variações sazonais da produção de RSU, sabe-se que em épocas de chuvas fortes o teor de umidade no lixo tende a crescer, que em épocas festivas há um aumento do percentual de latinhas, ou ainda que no outono cresce o número de folhas a serem recolhidas. Ou seja, há diversos fatores que influenciam no tipo e produção dos RSU. XAVIER DE BRITO (1999) resumiu os principais fatores que exercem forte influência sobre as características dos resíduos, que estão listados na Tabela 2. 2 a seguir. 11 Tabela 2. 2 - Fatores que exercem forte influência sobre a composição dos resíduos (adaptado de XAVIER de BRITO, 1999). FATORES INFLUÊNCIA 1 - Climáticos • Chuvas Aumento do teor de umidade • Outono Aumento do teor de folhas • Verão Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e plásticos rígidos) 2 - Épocas Especiais • Carnaval Aumento do teor de embalagens de bebidas (latas, vidros e plásticos rígidos) • Natal / Ano Novo / Páscoa Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis e metais) Aumento de matéria orgânica • Dia das Mães Aumento de embalagens (papel/papelão e plásticos maleáveis e metais) • Férias Escolares Migração temporária da população em regiões não turísticas Aumento populacional em locais turísticos 3 - Demográficos • População urbana Quanto maior a população urbana, maior a geração per capita 4 - Sócio-Econômicos • Nível Cultural Quanto maior o nível cultural, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica • Nível Educacional Quanto maior o nível educacional, menor a incidência de matéria orgânica • Poder Aquisitivo Quanto maior o poder aquisitivo, maior a incidência de materiais recicláveis e menor a incidência de matéria orgânica • Poder Aquisitivo (no mês) Maior consumo de supérfluos perto do recebimento do salário (fim e início do mês) • Poder Aquisitivo(na semana) Maior consumo de supérfluos no fim de semana • Lançamento de Novos Produtos Aumento de embalagens • Promoções de Lojas Comerciais Aumento de embalagens • Campanhas Ambientais Redução de materiais não biodegradáveis e aumento de materiais biodegradáveis As características dos resíduos podem ser reunidas em três grupos, a saber: características físicas, químicas e biológicas. Destes três grupos, aquele que mais interfere no dimensionamento do Sistema de Coleta e da disposição, considerando eventualmente a existência de um programa de coleta seletiva e reciclagem, é o das características físicas, por influenciar visceralmente todos os aspectos da gestão dos resíduos sólidos (XAVIER DE BRITO, 1999). CARVALHO (1999) diz que as principais propriedades mecânicas dos RSU (resistência ao cisalhamento e compressibilidade) são fortemente influenciadas pela composição e estado de alteração do resíduo bem como pelo comportamento mecânico de 12 cada material que o compõe. As informações sobre essas propriedades do RSU são escassas e, em alguns casos, os dados publicados são contraditórios. O aterro de RSU é um ecossistema complexo, no qual processos físicos, químicos e biológicos promovem a degradação da matéria orgânica com geração de efluentes líquidos e gasosos, modificando a pressão no interior da massa de resíduos. (ALCANTARA, 2007). Logo, a quantificação das propriedades mecânicas desses materiais é uma tarefa difícil dada a influência da composição heterogênea do RSU, a presença de componentes com diferentes formas e dimensões o que dificulta, sobremaneira, a obtenção de amostras de boa qualidade, a definição do tamanho das amostras e os tipos de ensaios mais adequados para serem utilizados. Nos itens a seguir serão relacionadas as principais propriedades e características dos RSU, porém, fica clara a grande disparidade entre os dados, o que só confirma que ao tratar de resíduos sólidos, tratamos de material de extrema heterogeneidade e complexidade. 2.2.1.GRAVIMETRIA DOS RSU Os resíduos domiciliares brasileiros têm se apresentado com taxas de matéria orgânica da ordem de 50 a 60%, típicas de países em desenvolvimento, e maiores que os encontrados em países desenvolvidos. A Figura 2.3 apresenta um gráfico comparativo entre renda per capita e porcentagem de matéria orgânica gerada segundo os dados da Tabela 2.1 para o município do Rio de Janeiro/RJ. Figura 2. 3 - Comparação entre r Este teor orgânico elevado propicia, entre outros fatores, um elevado teor de umidade. O conteúdo orgânico controla o processo bioquímico, lixiviados. O conteúdo orgânico também afeta os deformabilidade dos resíduos. A Tabela 2. 3 (CALLE, 2007), apresenta aterros sanitários do mundo ( Atenas, Cochabamba e Wollongong, Bandeirantes, Muribeca, Olinda e Salvador, Califórnia e Spruitville 13 Comparação entre renda per capita e matéria orgânica dos RSU Rio de Janeiro/RJ. Este teor orgânico elevado propicia, entre outros fatores, um elevado teor de umidade. conteúdo orgânico controla o processo bioquímico, especialmente a geração de gases e O conteúdo orgânico também afeta os parâmetros de resistência e a deformabilidade dos resíduos. (CALLE, 2007), apresenta as gravimetrias dos componentes (Bangkok, Pequin, Nairobi, Hong-Kong, New York, Istambul, tenas, Cochabamba e Wollongong, Kuwait, Belo Horizonte, Doña Juana, Bandeirantes, Muribeca, Olinda e Salvador, Califórnia e Spruitville). dos RSU no município do Este teor orgânico elevado propicia, entre outros fatores, um elevado teor de umidade. especialmente a geração de gases e parâmetros de resistência e a as gravimetrias dos componentes de diversos Kong, New York, Istambul, Belo Horizonte, Doña Juana, Brasilia, 14 Tabela 2. 3 - Gravimetria dos componentes de Resíduos Sólidos Urbanos. (adaptado de CALLE (2007). RSU 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 MATÉRIA ORGÂNICA 67 55 60 51 60 50 49 71 50 26 32 44 45 74 15 20 58 59 61 PAPEL 10 2 15 24 10.5 13.6 26 2 20.6 43 37 25 5 12 3 22 16 19 10 VIDRO 3 2 2 3 2 4.2 - 1 3.3 6.1 4 1 1 4 10 6 2 2 1 METAL 3 5 2 2 2.4 3.35 3 1 2.6 7.6 6 1 1 3 3 5 3 4 2 PLÁSTICO 11 17 8 12 15 - 15 3 12.6 12 17 - 1 5 - - 20 7 3 OUTROS 6 - 13 8 10.1 - 7 21 6.1 3.3 6 19 46 2 22 46 1 5 14 PEDRA+SOLO - 10 - - - 1.99 - - - - - - - - - - - - - MADEIRA+BORRACHA+COURO - 6 - - - 23.7 - 1 - - - 7 1 - 7 3 - 4 6 TÊXTIL - 3 - - - 3.56 - - 4.8 1.9 - 3 - - 10 - - - 3 1. Brasil - Aterro de Belo Horizonte/MG 7. Brasil - Aterro de Brasília/DF 13. China - Aterro de Pekin 2. Brasil - Aterro bandeirantes/SP 8. Bolívia - Aterro de Cochabamba 14. Kenia - Aterro de Nairobi 3. Brasil - Aterro de Muribéca/PE 9. Kuwait - Aterro da Cidade do Kuwait 15. Hong Kong - Aterro de Hong Kong 4. Brasil - Aterro de Olinda/PE 10. USA - Aterro na Califórnia 16. USA - Aterro de New York 5. Brasil - Aterro de Salvador/BA 11. África do Sul - Aterro de Spruntville 17. Austrália - Aterro de Wollogong 6. Colombia - Aterro de Doña Juana 12. Tailândia - Aterro de Bangkok 18. Grécia - Aterro de Atenas 19 . Turquia - Aterro de Istambul REGIÃO Como já foi descrito anteriormente, observa-se que o percentual de matéria orgânica para países em desenvolvimento é mais elevado do que para países desenvolvidos. Assim, essa característica deve ser levada em consideração no momento da escolha do método de tratamento e disposição dos RSU (BORGATTO, 2006). A partir do início da disposição dos RSU no aterro, há predomínio de componentes sólidos, e o processo de degradação biológica transforma a matéria orgânica sólida inicial numa considerável quantidade de gases e líquidos. Estas alterações são dependentes do teor de umidade, conteúdo orgânico e das condições climáticas locais, mais especialmente da temperatura. 2.2.2.GRANULOMETRIA DOS RSU A análise da distribuição do tamanho das partículas dos RSU é realizada utilizando-se as mesmas análises granulométricas utilizadas na Mecânica dos Solos. A Figura 2. 4 apresenta curvas granulométricas de RSU com idade variando entre 8 meses a 15 anos. Figura 2. 4 - Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, 1994 Nota-se que o percentual de materiais com granulação mais fina tende a aumentar com idade do RSU, o que era esperado devido à fato comprovado por (CARVALHO, 1999) conforme a granulométricas estudado pelo autor 15 anos, onde observa-se que o apresentadas pela faixa sugerida por JESSBERGER (1994) (2004), para resíduos sólidos da Alemanha. 15 Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, 1994 apud DE LAMARE NETO, 2004). que o percentual de materiais com granulação mais fina tende a aumentar com o que era esperado devido à biodegradação da parcela orgânic fato comprovado por (CARVALHO, 1999) conforme a Figura 2.5, que apresenta as estudado pelo autor do RSU do Aterro Bandeirantes com aproximadamente que o resíduo é composto por partículas mais finas que as apresentadas pela faixa sugerida por JESSBERGER (1994) apud DE LAMARE NETO da Alemanha. Distribuição Granulométrica do lixo para diferentes idades (JESSBERGER, que o percentual de materiais com granulação mais fina tende a aumentar com a orgânica dos rejeitos. Este Figura 2.5, que apresenta as curvas do Aterro Bandeirantes com aproximadamente partículas mais finas que as DE LAMARE NETO 16 Figura 2. 5 - Distribuição granulométrica de RSU brasileiros por CARVALHO (1999) e faixa granulométrica sugerida por JESSBERGER (1994). 2.2.3. PESO ESPECÍFICO Uma das características determinantes no comportamento geotécnico de qualquer aterro é o estado de tensões induzido pelo peso próprio dos materiais que o constituem. Desta forma, torna-se incoerente o estudo do comportamento mecânico de qualquer material aterrado sem que seja conhecido seu peso específico. Quanto maiora percentagem de matéria orgânica na massa de lixo, maior o seu peso específico, fato comprovado por de DE LAMARE NETO (2004), que ao analisar a composição gravimétrica do resíduo sólido proveniente de várias regiões da cidade do Rio de Janeiro, constatou que para regiões mais pobres os resíduos apresentavam maior peso específico que o gerado nas porções mais nobres da cidade. Como já visto anteriormente, o desenvolvimento econômico implica em maior consumo de alimentos processados e semi- prontos, descartáveis, embalagens, etc., o que diminui o percentual de material de origem orgânica no lixo gerado. SILVEIRA (2004) determinou pelo método da cava as massas específicas de Paracambi/RJ, Santo André/SP, Gramacho/RJ e Nova Iguaçu/RJ. Descreveu os procedimentos usados nos ensaios in situ e as dificuldades encontradas na realização de tais CARVALHO (1999) 17 ensaios. Com o uso do percâmetro2 CARVALHO (2002) fez alguns ensaios em paralelo a SILVEIRA (2004) e observou-se uma boa concordância entre os resultados. CARVALHO (2002 & 2006) descreve o procedimento (Percâmetro) para retirada de amostras indeformadas de aterros, possibilitando a determinação de outras grandezas, como massa específica, capacidade de campo, umidade e porosidade. Na Tabela 2. 4 são apresentados alguns valores de pesos específicos de RSU. Há uma grande variação dos resultados encontrados, provinda das diferenças de procedimento na compactação, diferenças na composição dos resíduos, fruto das diferentes épocas dos estudos e regiões. Tabela 2. 4 - Massas específicas de alguns aterros de RSU não pré-tratados (adaptado de CALLE, 2007). Autor Peso Específico (kN/m³) Observações Merz & Stone (1962) 2,2 a 2,7 Não compactado Sowers (1968) 4,7 a 9,4 Compactado Schomaker (1972) 2,9 a 8,8 Não compactado à bem compactado Bromwell (1978) 3,1 a 9,3 Não compactado à bem compactado Ham et al. (1986) 6,6 Compactado Sargunan et al. (1986) 5,5 a 6,9 Pouco compactado Landva & Clark (1986) 6,8 a 16,2 Compactado Watts & Charles (1990) 5,9 Londres, resíduo in situ compacto Oweis & Khera (1990) 6,3 a 9,4 Compactado Sharma et al. (1990) 7,2 Sem relatos sobre compacidade Galante et al. (1991) 9,9 a 10,9 Compactado Richardson & Reynolds (1991) 15 Sem relatos sobre compacidade 3,0 a 9,0 Não compactado 5,0 a 8,0 Medianamente compacto 9,0 a 10,5 Compactado Vam Impe (apud Manassero et al 1996) 5,0 a 10,0 Bélgica Jessberger (1997) 3,0 a 17,0 - Hendron et al. (1999) 9,1 Bogotá - Aterro de Doña Juana Zomberg et al. (1999) 10,0 a 15,0 Sem relatos sobre compacidade Kavazanjian (2001) 10,0 a 20,0 USA - Azusa (aumenta com a profundidade) Gotteland et al. (2001) 10 França - Montech, Tarn jasem (2002) 5,8 Kuwait, in situ Carvalho (2002) 11,7 Brasil - Santo André/SP. Ensaio de campo - percâmetro Silveira (2004) 14,8 a 12,2 Brasil - Paracambí/RJ. Ensaio de campo - cava e percâmetro Silveira (2004) 18,2 Brasil - Gramacho/RJ. Ensaio de campo - cava Silveira (2004) 9,15 Brasil - Nova Iguaçu/RJ. Ensaio de campo - cava Fassett et al. (1994) Conforme citado anteriormente, o grau de compactação do aterro exerce influência relevante sobre a condição de peso específico do RSU. Tal afirmativa encontra grande aceitação uma vez que o RSU é constituído de material com elevado índice de vazios e de alta compressibilidade. Ao estudar os efeitos da compactação na compressibilidade do RSU do 2 Percâmetro: equipamento que mede peso específico, permeabilidade, a variação da vazão do percolado com o tempo e a capacidade de campo de uma amostra indeformada de resíduos sólidos. 18 aterro Bandeirantes, MARQUES (2001) verificou que o teor de umidade da massa de lixo, assim como nos solos, é um fator relevante no processo de compactação dos aterros de RSU. 2.2.4.UMIDADE O teor de umidade do RSU depende de vários fatores como sua composição granulométrica inicial, composição gravimétrica, condições climáticas, procedimentos operacionais, a taxa de decomposição biológica e a eficiência do sistema de drenagem de chorume e gases. A Figura 2. 6 apresenta resultados de JUCÁ et al. (1997) e compara dados encontrados por GABR & VALERO (1995). JUCÁ et al. (1997) apresenta resultados de umidade obtidos através de ensaios de SPT no aterro da Muribeca (PE) apresentando teores de umidades em profundidade variando entre 20 a 50%. Figura 2. 6 - Variação do Teor de Umidade dos RSU com a profundidade (adaptado de JUCÁ et al, 1997). Um aspecto importante a considerar sobre a influência do teor de umidade no comportamento mecânico do maciço é a diminuição da coesão aparente do RSU conforme o aumento do teor de umidade. Segundo GABR & VALERO (1995), conforme apresentado na 19 Figura 2. 7, para teores de umidade variando entre 55 e 70%, os valores da coesão aparente podem sofrer reduções consideráveis passando de cerca de 100 kPa para 40 kPa. Figura 2. 7 - Variação da coesão aparente com a umidade (adaptado de GABR & VALERO, 1995). 2.2.5.TEMPERATURA A temperatura no interior de aterros de RSU constitui importante fator para a deflagração e evolução dos processos de degradação dos resíduos sólidos urbanos. COUMOULOS et al. (1995) apud CARVALHO (1999) realizaram uma série de medidas de temperatura, em diferentes períodos do ano, no aterro Ano Liossia, na Grécia, tendo obtido valores entre 40 e 60°C a pequenas profundidades e entre 5 a 15°C a grandes profundidades, conforme apresenta a Figura 2. 8. Registre-se que estes valores não apresentaram variações significativas, por conta de alterações na temperatura ambiente, nas diferentes épocas dos levantamentos. A variação da temperatura de acordo com a profundidade se dá principalmente devido a concentração de oxigênio próximo a superfície, que acelera o processo de degradação liberando maior quantidade de energia na forma de calor. 0 20 40 60 80 100 120 50 55 60 65 70 75 In te rc e p to C o e sã o ( kP a) Teor de umidade (%) Ensaios Triaxiais γseco=7,4 - 8,2kN/m³ 20 Figura 2. 8 - Variação da temperatura do RSU com a profundidade, Aterro de Ano Liossia, Atenas (Grécia), (adaptado de COUMOULOS et al., 1995 apud CARVALHO, 1999). A Figura 2. 9 trata de um estudo realizado por HANSON et al. (2006) que apresenta os limites inferiores e superiores para medições de temperatura e de metano em profundidades em um aterro de RSU nos EUA. Segundo o estudo, a variabilidade de temperaturas e concentrações de metano são maiores na superfície do que em grandes profundidades. Figura 2. 9 Variações da temperatura com a profundidade comparando com as concentrações de metano (HANSON et al., 2006). 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 P ro fu n d id ad e ( m ) Temperatura (°C) 05.07.1990/30°C 05.09.1990/35°C 12.11.1990/11°C 27.03.1991/22°C FURO 7 0 5 10 15 20 25 30 35 25 30 35 40 45 50 55 60 65 P ro fu n d id ad e ( m ) Temperatura (°C) 05.07.1990/30°C 05.09.1990/35°C 12.11.1990/11°C 27.03.1991/22°C FURO 9 Temperatura (°C) Composição de metano (%) Pr of un di da de ( m ) Limite Inferior de Temperatura Limite Superior de Temperatura Limite Inferior de Gás Limite Superior de Gás 21 2.2.6.PERMEABILIDADE O fluxo através de resíduo urbano saturado pode ser razoavelmente caracterizado pela Lei de Darcy, expressa pela Equação (1): q = A.k.i (1) Onde q é o fluxo volumétrico do lixiviado, A a seção transversal ao fluxo, k a condutividade hidráulica e i o gradiente hidráulico. A permeabilidade de RSU deve ser estimados para a concepção do sistemas de drenagem do aterro. De acordo com a regulamentação recente para a criação de aterros sanitários, o chorume produzido no interior da aterro deve ser recolhido e, portanto, a instalação de coleta de chorume e de
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