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ANÁLISE DE PERDA DE CARGA DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS CARREGADOS COM PARTÍCULAS Alex Gomes Sabino de Araújo Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Engenharia Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz Rio de Janeiro Março de 2019 ANÁLISE DE PERDA DE CARGA DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS CARREGADOS COM PARTÍCULAS Alex Gomes Sabino de Araújo DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISISTOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA MECÂNICA. Examinada por: _____________________________________________________ Prof. Daniel Onofre de Almeida Cruz, D.Sc. _____________________________________________________ Prof. Átila Pantaleão Silva Freire, Ph.D. _____________________________________________________ Prof. Paulo Couto, D. Sc RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2019 iii Araújo, Alex Gomes Sabino de Análise de perda de carga de escoamentos bifásicos carregados com partículas / Alex Gomes Sabino de Araújo. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2019. XII, 75 p.: il ; 29,7 cm. Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de Engenharia Mecânica, 2019. Referências Bibliográficas: p. 65-68. 1. Construção aparato experimental. 2. Análise perda de carga. 3. Escoamento turbulento líquido-sólido. I. Cruz, Daniel Onofre de Almeida. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Mecânica. III. Título iv Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pela força e sabedoria para escrever essa dissertação. Agradeço aos meus pais por todo suporte que me deram ao longo de todo o mestrado e de toda a vida. Agradeço a minha esposa Amanda Cecília por sua companhia e por sua força ao longo do mestrado. Agradeço ao Professor Daniel Onofre de Almeida Cruz pela orientação e paciência no desenvolvimento da presente pesquisa. Agradeço ao Professor Átila Pantaleão Silva Freire pelos conhecimentos compartilhados. Agradeço aos Professores integrantes do NIDF por compartilhar parte de seus conhecimentos. Agradeço a Cecília por compartilhar de seus conhecimentos na parte experimental e teórica. Agradeço ao Engenheiro Laert Ferreira por todo suporte na instalação e manipulação dos equipamentos eletrônicos e da interface de aquisição de dados. Agradeço aos técnicos Alexandre, Fabrício, Tiago e Vinicius que ajudaram na construção do aparato experimental. Agradeço aos alunos de iniciação científica Paulo, Gustavo, Bruno, Felipe, Gabriel, Ricardo, Victor e Vitória, que me ajudaram no desenvolvimento dos experimentos. Agradeço aos amigos Alessandro, Rodrigo, Adão, Anderson, Daniel, Marcio e William pela companhia ao longo de toda a pesquisa. v Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.) ANÁLISE DE PERDA DE CARGA DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS CARREGADOS COM PARTÍCULAS Alex Gomes Sabino de Araújo Março/2019 Orientador: Daniel Onofre de Almeida Cruz Programa: Engenharia Mecânica Escoamentos bifásicos carregados com partículas sobre superfícies lisas são de grande interesse para diversas indústrias. Com o avanço da tecnologia e principalmente das indústrias de óleo e gás o interesse pelo correto entendimento do comportamento desse tipo de escoamento no interior de tubulações tem gerado diversas pesquisas. Assim, no presente trabalho, foi realizada a construção de um aparato experimental formado por tubulações lisas de aço inox de 50,8 mm de diâmetro e com comprimento total de 88 metros, para posterior análise da perda de carga de um escoamento bifásico líquido-sólido, ao longo das mesmas, através de medições realizadas a partir de tomadas de pressão localizadas de 2 em 2 metros ao longo do aparato. Para essas medições foram utilizadas partículas de Carboneto de Silício de 150 µm de diâmetro, três concentrações diferentes variando de 0,45% a 1,4% em massa, além da variação da vazão de líquido. Além disso, realizou-se o desenvolvimento de uma correlação empírica para a análise da velocidade crítica, a qual é a velocidade abaixo da qual as partículas se depositam na parte inferior da tubulação. vi Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.) PRESSURE DROP ANALYSIS OF PARTICLE-LADEN FLOW Alex Gomes Sabino de Araújo March/2019 Advisor: Daniel Onofre de Almeida Cruz Department: Mechanical Enginnering Particle-laden flows over smooth surfaces are of great interest to many industries. With the technology advancement, especially in the oil and gas industries, the interest in understanding the behavior of this type of flow inside pipes has generated several researches. Thus, in the present work, the construction of an experimental apparatus formed by smooth stainless steel pipes with a diameter of 50.8 mm and a total length of 88 meters was needed. It was used for later analysis of the load loss of a liquid-solid biphasic flow long the same construction, measurements of the pressure were taken from sockets located every 2 meters along the apparatus. For these measurements were used Silicon Carbide particles of 150 μm in diameter, three different concentrations ranging from 0.45% to 1.4% by mass, in addition to the variation of liquid flow. An empirical correlation has been developed for critical velocity analysis, which is the speed at which the particles settle to the bottom of the pipeline vii Sumário Lista de Figuras ix Lista de Tabelas xi Lista de símbolos xii Capítulo 1 - Introdução ................................................................................................ 1 1.1 A importância dos escoamentos bifásicos ................................................... 1 1.2 Motivação e Relevância do trabalho ........................................................... 2 1.3 Objetivo ....................................................................................................... 3 1.4 Contribuição ................................................................................................ 3 1.5 Estrutura do trabalho ................................................................................... 4 Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica .............................................................................. 5 2.1 Equação do atrito ......................................................................................... 5 2.2 Classificação dos escoamentos .................................................................... 6 2.3 Trabalhos publicados ................................................................................... 7 2.4 Aplicações industriais ................................................................................ 12 2.5 Padrões de escoamento .............................................................................. 13 2.6 Velocidade Crítica ..................................................................................... 15 Capítulo 3 – Materiais e métodos .............................................................................. 17 3.1 Aparato para a avaliação do separador ciclônico ......................................17 3.2 Aparato para a realização dos ensaios de perda de carga .......................... 24 3.3 Ensaios com partículas .............................................................................. 29 3.3.1 Aparato para a realização da calibração eletrônica e de aquisição de dados experimentais ........................................................................................................... 31 3.3.2 Bombas .................................................................................................. 34 3.3.3 Termômetro ........................................................................................... 37 3.3.4 Medidor de pressão ................................................................................ 38 viii 3.3.5 Medidor de vazão ................................................................................... 38 3.4 Cálculo de incertezas de medição .............................................................. 39 Capítulo 4 – Resultados e Discussões ........................................................................ 41 4.1 Resultados do aparato de avaliação ........................................................... 41 4.2 Resultados do aparato de testes ................................................................. 42 4.2.1 Resultado experimental versus teórico para perda de carga .................. 43 4.2.2 Relação entre fator de atrito e número de Reynolds para diferentes concentrações........................................................................................................... 49 4.2.3 Relação entre fator de atrito e velocidade do escoamento ..................... 50 4.2.4 Relação entre velocidade do escoamento e perda de carga ................... 53 4.3 Velocidade Crítica ..................................................................................... 54 4.4 Padrão de escoamento ............................................................................... 61 Capítulo 5 – Conclusões e Trabalhos futuros ............................................................ 62 5.1 Conclusões ................................................................................................. 62 5.2 Trabalhos futuros ....................................................................................... 63 Referências ................................................................................................................. 65 Apêndice A ................................................................................................................ 69 ix Lista de Figuras Figura 3.1: Esquemático do aparato de avaliação .......................................................... 19 Figura 3.2: Separador ciclônico ...................................................................................... 19 Figura 3.3: Carbeto de silício malha 100 ........................................................................ 20 Figura 3.4: Bomba de injeção da mistura modelo NEMO NM045BY01L07V ............. 20 Figura 3.5: Aparato para suportar o misturador, com o motor e o hélice ....................... 21 Figura 3.6: Medidor de vazão Incontrol, modelo PRO 1000 ......................................... 22 Figura 3.7: Tanques de coleta de partículas, juntamente com o separador ciclônico ..... 23 Figura 3.8: Balança para pesagem das partículas ........................................................... 24 Figura 3.9: Esquemático do circuito de testes ................................................................ 26 Figura 3.10: Esquemático do circuito de testes .............................................................. 27 Figura 3.11: Aparatos para o posicionamento do injetor de areia e do tanque de mistura ........................................................................................................................................ 28 Figura 3.12: Tanques de suprimento de água ................................................................. 30 Figura 3.13: Aparato para a realização da calibração ..................................................... 32 Figura 3.14: Sistema de aquisição de dados ................................................................... 33 Figura 3.15: Equipamento de calibração eletrônica gerador de correntes ...................... 33 Figura 3.16: Bomba centrífuga de abastecimento do tanque de mistura ........................ 34 Figura 3.17: Bombas de suprimento de líquido e de retorno do tanque de captação ..... 36 Figura 3.18: Bomba da água de retorno ......................................................................... 37 Figura 3.19: Termômetro modelo KT3000 .................................................................... 37 Figura 3.20: Medidor de pressão DeltaBar S, range 0 a 500 mbar................................. 38 Figura 3.21: Medidor de vazão eletromagnético Incontrol Pro 1000 ............................. 39 Figura 4.1: Resultado obtido para ensaio com água ....................................................... 44 Figura 4.2: Comparativo entre curva teórica de Blasius (--) e ensaio com mistura água e partícula ( , )................................................................................................................. 45 Figura 4.3: Comparativo entre curva teórica de Blasius (--), ensaio com água pura (xx) e ensaio com mistura água e partícula ( , ) ..................................................................... 45 Figura 4.4: Comparativo entre curva teórica de Blasius (--) e ensaio com mistura água e partícula ( , )................................................................................................................. 46 Figura 4.5: Comparativo entre curva teórica de Blasius (--), ensaio com água pura (xx) e ensaio com mistura água e partícula ( , ) .................................................................... 47 x Figura 4.6: Comparativo entre curva teórica de Blasius (--) e ensaio com mistura água e partícula ( , )................................................................................................................ 48 Figura 4.7: Comparativo entre curva teórica de Blasius (--), ensaio com água pura (xx) e ensaio com mistura água e partícula ( , ) .................................................................... 48 Figura 4.8:Variação do fator de atrito com a velocidade do escoamento para concentração média de 0,45% em massa .............................................................................................. 50 Figura 4.9: Variação do fator de atrito com a velocidade do escoamento para concentração média de 1,0% em massa ................................................................................................ 51 Figura 4.10: Variação do fator de atrito com a velocidade do escoamento para concentração média de 1,4% em massa.......................................................................... 52 Figura 4.11: Relação entre perda de carga e velocidade para ensaio com concentração de 0,45% de partículas sólidas ............................................................................................ 53 Figura 4.12: Relação entre perda de carga e velocidade para ensaio com concentração de 1,0% de partículas sólidas .............................................................................................. 54 Figura 4.13: Equilíbrio de corpo livre da partícula ........................................................ 55 Figura 4.14:Comparação de resultados obtidos por Oroskar et al (1980) e através da Equação (4.12) ................................................................................................................ 58 Figura 4.15: Comparação de resultados obtidos por Davies (1987) e através da Equação (4.12) ..............................................................................................................................58 Figura 4.16: Comparação de resultados obtidos por Durand et al (1952) e através da Equação (4.12) ................................................................................................................ 59 Figura 4.17: Comparação de resultados obtidos por Parzonka et al (1981) e através da Equação (4.12) ................................................................................................................ 59 Figura 4.18: Comparação entre valores experimentais e aqueles obtidos por equações empíricas ......................................................................................................................... 60 xi Lista de tabelas Tabela 4.1: Eficiência do separador na condição 1 ........................................................ 41 Tabela 4.2: Eficiência do separador na condição 2 ........................................................ 42 Tabela 4.3: Relação entre fator de atrito e número de Reynolds para as concentrações utilizadas ......................................................................................................................... 42 Tabela 4.4: Tabela de valores de velocidade crítica ....................................................... 57 Tabela A.1: Tabela de dados experimentais resultante dos ensaios com tubo liso para concentração média de 0,45% ........................................................................................ 70 Tabela A.2: Tabela de dados experimentais resultante dos ensaios com tubo liso para concentração média de 1,0% .......................................................................................... 71 Tabela A.3: Tabela de dados experimentais resultante dos ensaios com tubo liso para concentração média de 1,4% .......................................................................................... 72 Tabela A.4: Tabela de dados experimentais com fatores de atrito para concentração de 0,45% .............................................................................................................................. 73 Tabela A.5: Tabela de dados experimentais com fatores de atrito para concentração de 1,0% ................................................................................................................................ 74 Tabela A.6: Tabela de dados experimentais com fatores de atrito para concentração de 1,4% ................................................................................................................................ 75 xii Lista de símbolos ϵ Rugosidade relativa da tubulação, p. 5 D Diâmetro da tubulação, p. 29 L Distância entre tomadas de pressão, p. 29 ΔP Gradiente de pressão, p. 29 𝑓 Fator de atrito de Darcy, p. 23 𝜌 Densidade do fluido, p. 30 Re Número de Reynolds, p. 30 ν Viscosidade cinemática, p. 30 Ū Velocidade média do escoamento, p. 30 𝜏 Tensão de cisalhamento na parede, p. 55 u’ Componente horizonta da velocidade turbulenta, p.58 v’ Componente vertical da velocidade turbulenta, p.58 𝐶 Coeficiente de arrasto, p. 58 𝐴 Área da partícula, p.59 1 Capítulo 1 - Introdução 1.1 A importância dos escoamentos bifásicos Os escoamentos bifásicos são importantes em diversas atividades indústrias e aparecem em inúmeros fenômenos da natureza. Pode-se citar o processo de exploração dos poços de petróleo no setor de óleo e gás, atividades relacionadas as industrias químicas, nos processos produtores de energia, indústrias alimentícias e etc... Na natureza a presença de escoamentos bifásicos também ocorrem em rios e mares, em fenômenos atmosféricos e etc. (Hashemi, 2013) O interesse acadêmico em relação a esse assunto tem aumentado de forma significativa devido a grande necessidade de resolver os problemas relacionados a esses escoamentos em diversas indústrias, além de muitas vezes serem utilizados como forma alternativa de transporte em industrias de alimentos. Nas indústrias de óleo e gás é de extrema importância o correto entendimento de escoamentos bifásico e multifásicos, pois os processos de perfuração, produção e transporte de petróleo são realizados através de dutos de grandes extensões, os quais chegam a quilômetros de comprimento. Durante o processo de perfuração e extração do petróleo, juntamente com o óleo, são extraidos gases, água e areia. Além disso, durante o processo de transporte há a presença de pelo menos duas fases distintas, o que caracteriza um escoamento bifásico. (Najmi et al, 2015) Existem diversos estudos relacionados a escoamentos bifásicos em tubulações horizontais porém, não há um consenso entre os pesquisadores sobre o comportamento de um escoamento sólido-líquido de forma que foram desenvolvidos diversos modelos matemáticos com intuito de prever esse comportamento. A grande dificuldade imposta aos escoamentos bifásicos líquido-sólido está na complexidade existente nos fenômenos físicos que ocorrem durante o escoamento. Dessa forma, muitos modelos matemáticos são desenvolvidos a partir de dados empíricos. Com isso, um grande número de universidades tem investido na construção de aparatos experimentais com o intuito de simular fisicamente escoamentos líquido-sólido sob diversas condições e assim desenvolver um modelo matemático que reflita o comportamento observado durante os ensaios. 2 1.2 Motivação e Relevância do trabalho A presença de escoamentos bifásicos líquido-sólido em diversos campos da indústria tem chamado a atenção de inúmeros pesquisadores, principalmente quando relacionado ao setor de óleo e gás. Na indústria de petróleo, a presença destes tipos de escoamentos muitas vezes são os principais responsáveis por diversos problemas, como a erosão em bombas, a redução na produção de petróleo devido à queda de pressão ao longo da linha e o subdimensionamento e/ou superdimensionamento dos equipamentos devido à falta de conhecimento acerca do comportamento hidráulico e etc. Um dos problemas que ocorre durante o processo de extração de petróleo é a queda de pressão devido a formação de um leito, composto por partículas sólidas, na parte inferior das tubulações horizontais. Esse fato causa uma redução na produção de petróleo e consequentemente um prejuízo de milhares a milhões de dólares por dia. (Najmi et al, 2015) Os estudos relacionados ao escoamento em tubulações de extração de petróleo tem sido um dos maiores desafios enfrentados pelas indústrias e pela área acadêmica. Os pesquisadores vêm tentando entender melhor como se comporta o escoamento dentro dessas tubulações, identificando os fenômenos físicos relacionados ao mesmo e desenvolvendo teorias e formulações matemáticas que possam refletir da forma mais fiel possível as particularidades existentes em cada escoamento. Dessa forma, muitas pesquisas vêm sendo realizadas acerca de um escoamento específico conhecido como escoamento bifásico líquido-sólido com o objetivo de entender o comportamento do mesmo no interior de tubulações horizontais, ou seja, entender como se comporta, principalmente, a queda de pressão ao longo das tubulações quando há a presença de sólidos dispersos no líquido. Entretanto, a maior parte dos estudos realizados demonstra que não há um consenso entre os pesquisadores acerca desse comportamento e assim existem na literatura diversos modelos matemáticos que tentam prevê-lo. Com isso, é necessário desenvolver estudos mais aprofundados sobre o assunto de forma a esclarecer as diversas lacunas existentes e responder aos questionamentos relacionados a este assunto. 3 1.3 Objetivo O desenvolvimento do presente trabalho tem como objetivo investigar através de estudos realizados em aparatos experimentais, o comportamento de um escoamento bifásico, o qual é formado por uma fase líquida e outra sólida, variando a vazão e a concentração.Esse comportamento será analisado através da medição da perda de carga no aparato experimental, a qual é obtida por meio de tomadas de pressão instaladas de 2 em 2 metros ao longo de toda a tubulação e lidas diretamente em um medidor de pressão. Além disso, para a realização do estudo proposto, foi construído um aparato experimental com 88 metros de comprimento e que possui diversos equipamentos ao longo do mesmo, o qual constitui um outro objetivo do trabalho em questão, de forma a simular as condições de escoamento existente nas linhas de extração de petróleo. 1.4 Contribuição Ao longo dos anos, diversos trabalhos foram propostos com o objetivo de se avaliar a perda de carga em escoamento bifásico do tipo líquido-sólido. Entretanto a maior parte deles foi realizado através de testes desenvolvidos em aparatos experimentais de pequeno comprimento, para altas concentrações de sólido e utilizando partículas como esferas de vidro, cinzas e outras. No presente trabalho foram realizados experimentos através de um aparato experimental de 88 metros de comprimento, com 17 pontos de tomada de pressão, com baixa concentração de partículas sólidas e com vazões que variaram de 7,0 a 12,0 m³/h. Dessa forma, pode-se avaliar ao longo da pesquisa o comportamento do escoamento e a perda de carga causada pela presença de baixas concentrações de partículas e diferentes vazões de líquido. Além disso, foi desenvolvido no trabalho em questão uma correlação empírica para a obtenção da velocidade crítica, cuja é considerada por diversos autores a velocidade abaixo da qual as partículas sólidas começam a se depositar na parte inferior da tubulação. Também foram realizadas comparações com dados experimentais e dados obtidos através de correlações empíricas desenvolvidas por outros autores. 4 1.5 Estrutura do trabalho O trabalho em questão está estruturado da seguinte maneira: 1- O primeiro capítulo é referente a uma breve introdução ao tema a ser abordado ao longo do trabalho, a problemática existente relacionada ao assunto que o motivou e que justifica a relevância do mesmo, além do objetivo a ser alcançado ao final da pesquisa. 2- O segundo capítulo é referente a revisão bibliográfica, onde são expostos todos os assuntos relevantes ao perfeito entendimento do trabalho. 3- O terceiro capítulo expõe os procedimentos experimentais utilizados para o desenvolvimento do trabalho em questão. 4- O quarto capítulo expõe os resultados obtidos ao longo da pesquisa, além das discussões pertinentes ao total esclarecimento relativo a questionamentos. 5- O quinto capítulo apresenta a conclusão e as propostas e sugestões para trabalhos futuros. 5 Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Neste capítulo é apresentada uma revisão da literatura acerca dos principais assuntos pertinentes ao trabalho em questão. 2.1 Equação do atrito Ao longo dos anos diversas equações para o fator de atrito foram desenvolvidas. Para fluidos newtonianos, von Kármán em 1931 e Prandtl em 1933 introduziram equações para o fator de atrito, ambas sendo resultado de suas respectivas teorias de comprimento de mistura, conforme B.Bird e Light-Foot (2002). Assim, foi proposta a seguinte equação generalizada: = A log 𝑅𝑒 𝑓 + C (2.1) Onde A e C foram obtidos a partir de dados experimentais de Nikuradse (1993), resultando assim, para o caso Newtoniano, na seguinte equação: = 4,0 log 𝑅𝑒 𝑓 – 0,4 (2.2) Além dessa equação, várias outras foram desenvolvidas, para escoamentos laminares e turbulentos, de acordo com Peiyi (1983). Para os tipos de regimes de escoamento temos: 1- Fator de atrito para Re<2200: para o regime laminar, a relação é dependente apenas do número de Reynolds. f = (2.3) 2- Fator de atrito para 4400 < Re < Re : nessa região a relação é dependente do número de Reynolds e da rugosidade relativa (ϵ / D). Essa relação é dada pela equação de Colebrook: = -2 log ( / , + , ) (2.4) 6 A equação acima, para tubos lisos, torna-se: = -2 log ( , ) (2.5) Essa equação é chamada de equação de Prandtl. Além dessa equação, existe uma relação simples para tubos lisos chamada equação de Blasius: f = , , (2.6) Essa equação é utilizada para Re < 10 . 3- Fator de atrito para Re > Re : para regime totalmente turbulento, a relação é dependente apenas da rugosidade relativa (ϵ / D). Essa relação é dada pela equação de Kármán: = -2 log ( , / ) (2.7) A presença de partículas sólidas no caso de um escoamento bifásico, deve modificar as relações acima descritas, de forma a introduzir os efeitos dos sólidos em parâmetros como a viscosidade. 2.2 Classificação dos escoamentos A hidrodinâmica é a parte da mecânica dos fluidos que analisa os tipos de escoamentos que podem ocorrer, a qual se baseia nas leis de conservação de massa, da quantidade de movimento e da energia, de acordo com Ruas (2016). Dessa forma, ainda segundo Ruas (2016), o escoamento pode ser classificado de acordo com a quantidade de fases presentes, podendo assim, ser especificado como monofásico ou multifásico. Dentro dos escoamentos multifásicos estão inclusos os escoamentos bifásico, trifásicos e etc. 7 O escoamento multifásico é, por exemplo, composto por uma fase contínua, que pode ser um meio líquido ou gasoso, e uma fase em partículas ou dispersa que pode ser partículas sólidas, bolhas de gás ou gotas de óleo, conforme Paiva (2011). Assim, para Paiva (2011), um escoamento multifásico é um escoamento onde dois ou mais fluidos concorrem simultaneamente no interior, por exemplo, de uma tubulação. Além disso, esses fluidos possuem propriedades diferentes e são imiscíveis, o que acarreta o aparecimento de interfaces. São essas interfaces que definem a presença de fases e não a questão do estado da matéria (sólido, líquido ou gasoso). Com isso, um escoamento bifásico, o qual está incluso na definição de escoamento multifásico, apresenta apenas uma interface e assim, duas fases. O comportamento físico das interfaces, o qual depende de propriedades físicas da tubulação e das propriedades de transporte das fases, determina o regime ou padrão de escoamento. 2.3 Trabalhos publicados Na presente seção serão apresentados alguns trabalhos publicados na área de pesquisa de escoamentos bifásicos com partículas. 2.3.1. Análises experimentais O estudo de escoamentos bifásicos do tipo líquido-sólido, devido a sua extrema importância, tem sido realizado por diversos pesquisadores ao longo dos anos. Todos esses estudos foram realizados com o objetivo de entender como se comporta esse tipo de escoamento, seus padrões, o perfil de velocidade e seus efeitos sobre a perda de carga. Dessa forma, vários trabalhos têm sido publicados enfatizando os efeitos de vários fatores como o tamanho de partícula, a distribuição das partículas e outras características intrínsecas a esse tipo de escoamento. Assim, a seguir, será realizada uma revisão dos trabalhos experimentais publicados por diversos pesquisadores ao longo dos anos. Ghanta et al (1999), conduziram experimentos em tubos de aço galvanizado de 0,019 m e 0,0254 m. Em cada tubo foram utilizadas partículas de carvão com diâmetro de 276 µm e partículas de minério de cobre de diâmetro de 279 µm. Segundo os autores, o aumento da concentração de partículas sólidas acarreta o aumento do gradiente de pressão, para uma mesma velocidade de suspensão. Ainda de acordo com os mesmos, o 8 aumento da concentração de partículas sólidas leva a um aumento da quantidade de partículas e assim ocorre um maior atritoentre as partículas e um maior atrito entre as partículas e a parede do tubo, o que resulta em um aumento da queda de pressão. Além disso, a irregularidade das partículas é responsável pela elevação do atrito entre as partículas e entre as partículas e a parede do tubo e consequentemente pela elevação da perda de carga do escoamento. Matousek (2001) apresentou em seu trabalho o gradiente de pressão e o tipo de padrão de escoamento encontrado em seus experimentos. A pesquisa foi realizada em um aparato experimental desenvolvido em laboratório, o qual era composto por tubulações de 150 mm de diâmetro e 65 metros de comprimento, além de possuir partes horizontais, verticais e inclinadas para baixo em 35º. De acordo com o trabalho em questão foram utilizadas partículas de diferentes diâmetros (0.12, 0.37 e 1.85 mm) separadamente, além de misturas dessas partículas. Segundo os dados do autor, pode-se concluir que quanto maior a velocidade maior seria o gradiente hidráulico e dependendo do padrão de escoamento pode-se chegar a valores diferentes do gradiente hidráulico. Skudarnov et al (2004), conduziram um experimento em tubos de diâmetro interno de 23 mm, utilizando escoamentos com água e partículas sólidas, onde em cada teste era realizada uma combinação entre duas espécies de esferas de vidro que se diferenciavam pelo tamanho da esfera e pela densidade da mesma. Em seu trabalho, o autor realizou o estudo do gradiente de pressão comparando esse gradiente entre as misturas quando se utilizava as partículas combinadas e quando utilizava a mistura com cada tipo de partícula individualmente. Além disso, foi estudado o efeito do tamanho das partículas no gradiente de pressão. De acordo com o autor, chegou-se à conclusão que em baixas velocidades o aumento no tamanho das partículas ocasionou um aumento no gradiente de pressão. Já para altas velocidades houve um menor gradiente de pressão. Ademais, pode-se observar que a curva do gradiente de pressão para as misturas contendo uma combinação das partículas sólidas encontrava-se entre as curvas de gradiente de pressão das misturas que continham apenas um tipo de partícula. Kaushal et al (2005), realizaram um experimento com escoamento bifásico sólido- líquido em uma tubulação horizontal de diâmetro de 54,9 mm utilizando esferas de vidro de dois tamanhos diferentes (440 µm e 125 µm), além de uma mistura de ambas esferas em igual proporção em massa. A velocidade utilizada foi de até 5 m/s e a concentração foi de até 50% em volume para cada velocidade. O aparato experimental possuía cerca de 22 m de comprimento e era constituído de dois tanques, um de 200 l que era utilizado 9 para a mistura e outro, que possuía capacidade de 150 l, que era usado para o suprimento de água, além de uma bomba para manter a homogeneidade da mistura. Nesse trabalho, os autores observaram que a perda de carga, ao utilizar uma determinada velocidade e para uma mistura com esferas de vidro de diâmetro de 125 µm, aumentou com o aumento da concentração. Para uma mistura com esferas de vidro de diâmetro de 400 µm, ao utilizar uma determinada velocidade, a perda de carga aumentou com o aumento da concentração, porém com uma taxa de aumento menor em altas velocidade de escoamento. Já a queda de pressão para a mistura contendo ambos tamanhos de esferas é menor para a maior parte das observações quando se utiliza altas concentrações. Verma et al (2006), realizaram experimentos em tubos de aço de 50 mm de diâmetro. O comprimento total do experimento era de 30 metros. Os ensaios foram realizados na horizontal e as partículas sólidas utilizadas foram de cinzas volantes retiradas de uma usina termelétrica. Para o ensaio em questão a concentração variou de 50 a 65% em peso e o tamanho das partículas variaram entre 3 e 300 µm. Nessa publicação o autor realizou a medição da queda de pressão primeiramente com água pura e posteriormente com a mistura água e partícula. Com isso, pode-se observar que a queda de pressão do escoamento bifásico com partículas sempre maior em relação ao escoamento monofásico, para as partículas utilizadas. Além disso, conclui-se que quanto mais alta a velocidade maior é a perda de carga e quanto maior a concentração maior, também, é a perda de carga. Segundo o autor, esse aumento da perda de carga devido ao aumento da concentração é proveniente do consequente aumento da densidade e viscosidade do fluido ocasionado pela adição das partículas sólidas. Chandel et al (2010), apresentaram em seus experimentos estudos relacionados ao transporte de cinzas produzidas por usinas termelétricas devido a queima do carvão para a produção de energia. Os testes foram conduzidos em tubos de diâmetro de 42 mm e de comprimento de 50 metros. De acordo com que foi exposto na publicação, o escoamento bifásico era formado por água e cinzas de carvão, as quais eram divididas em dois subtipos: cinzas flutuantes e cinzas de fundo. A proporção adotada pelo autor foi de 4:1, ou seja, 4 porções de cinzas flutuantes para 1 porção de cinzas de fundo, onde foi alcançado uma concentração máxima de 50% em peso de cinzas. No trabalho em questão foi analisado o efeito da velocidade para várias concentrações e conclui-se que com o aumento da velocidade do escoamento, para uma dada concentração, houve um aumento da queda de pressão. 10 2.3.2. Análises computacionais Além dos trabalhos publicados na área de análise experimental, diversos outros autores realizaram pesquisas, nas quais puderam analisar o comportamento dos escoamentos bifásicos a partir de simulações realizadas em softwares computacionais. Assim, a seguir, serão explanados alguns desses trabalhos. Chen et al. (2009), utilizou uma aproximação multifásica Eureliana a qual se baseia na teoria cinética do escoamento de partículas para simular, em uma tubulação horizontal, um escoamento bifásico composto por carvão e água. De acordo com a publicação, para a modelagem de um escoamento bifásico turbulento onde há forte interação entre as partículas, o modelo turbulento k-ε foi incorporado as equações governantes. Primeiramente, validou-se o modelo com dados de gradiente de pressão e concentração obtidos da literatura e posteriormente com dados obtidos pelo próprio autor. Além disso, no trabalho em questão foi analisado numericamente o efeito da velocidade de injeção, da composição das partículas e da injeção total. Assim, chegou-se a alguns importantes resultados acerca das características do escoamento bifásico, como a distribuição da concentração e o gradiente de pressão. Lahiri et al (2010) desenvolveu uma metodologia que utiliza uma robusta rede neural hibrida artificial, a qual pode oferecer, para problemas de engenharia, uma performance superior. Foi incorporado ao método uma rede neural hibrida artificial e uma técnica de algoritmo genético. Esse algoritmo é aplicado de forma a fazer uma previsão da velocidade crítica do escoamento do tipo sólido-líquido. Dessa forma, ao comparar os resultados obtidos por esse método com dados encontrados na literatura pode-se mostrar que a rede neural desenvolvida melhorou a previsão da velocidade crítica para diversas condições de operação, diferentes diâmetros de tubulação, além de diversas propriedades físicas. Kaushal et al (2012), realizou uma simulação numérica de um escoamento bifásico sólido-líquido de alta concentração de partículas finas, utilizando o modelo de duas fases Eureliano e de mistura. Nessa simulação foi utilizado um grid tridimensional não- uniforme e de formato hexagonal para discretizar todo o domínio computacional. O modelo computacional foi comparado com dados obtidos pela passagem de um escoamento bifásico água e esferas de vidro de 125 µm em tubulações horizontais de 54,9 mm de diâmetro. A velocidade de escoamento utilizada foi acima de 5 m/s e foram utilizadas quatroconcentrações diferentes. No trabalho em questão conclui-se que a 11 queda de pressão obtida pela análise numérica está de acordo com aquela obtida no trabalho experimental. Kumar et al (2017), simulou numericamente um escoamento com partículas sólidas em tubulação usando o modelo Eureliano. Nessa simulação foram utilizadas partículas de 440 µm de diâmetro, a concentração utilizada foi acima de 30% e o diâmetro da tubulação utilizada foi de 54,9 mm. Para discretizar o domínio computacional, foi utilizada um grid não uniforme e a técnica de diferenças finitas para um volume de controle é aplicada para resolver as equações governantes. Para obter a solução numérica precisa é utilizado o modelo turbulento RNG k-ε junto com o modelo ASM, para um escoamento turbulento completamente desenvolvido. Ao se comparar os resultados obtidos pelo modelo numérico e aqueles obtidos experimentalmente por alguns autores pode-se chegar a conclusão que houve uma congruência entre os resultados. Gopaliya et al (2016), analisou, usando CFD, o escoamento bifásico do tipo sólido- líquido em um aparato experimental composto de tubulação horizontal de 263 mm de diâmetro. Segundo a publicação, foram utilizadas velocidades de escoamento que variam de 3,5 a 4,7 m/s, concentração de partículas entre 9,95 a 34%, além de serem utilizadas partículas de 165, 290 e 550 µm e que possuíam densidade de 2650 kg/m³.Com isso, foi possível chegar à conclusão que o gradiente de pressão aumenta com o aumento da concentração, independentemente do tamanho da partícula. Além disso, pode-se mostrar o aumento do fator de atrito com o comprimento da tubulação para ensaios com os três tamanhos de partículas e para diferentes concentrações e diferentes velocidades de escoamento. Li et al (2018), conduziu uma análise numérica através de um modelo hidrodinâmico multifásico tridimensional, o qual é baseado na teoria cinética de escoamentos com partículas. Com esse modelo, pode-se modelar o escoamento de três tipos de misturas (água e partícula de diâmetro de 0,44 mm, água e partícula de diâmetro de 0,125 mm e água mais uma mistura de partículas de dois tamanhos diferentes e com a mesma fração em massa), através de uma tubulação horizontal de diâmetro de 54,9 mm. Na publicação em questão, foi analisado o efeito das interações das partículas, como a distribuição da concentração de partículas, a velocidade de distribuição, a distribuição de tensão na parede, entre outras, para o escoamento da mistura de partículas de tamanhos diferentes sob diversas condições de escoamento em comparação com o escoamento onde havia a presença de apenas um tipo de partícula sob as mesmas condições. Dessa forma, pode-se concluir que houve diferentes propriedades de transporte e tendência de mudança dessas 12 propriedades ao variar a concentração de partículas e a velocidade de escoamento nos diferentes tipos de escoamento utilizados. Além disso, uma camada de lubrificação formada por partículas finas próximas a região inferior da tubulação em escoamentos onde há a presença de partículas de tamanhos diferentes afeta a performance das partículas mais grossas, especialmente a baixas velocidades, além de mudar o padrão de escoamento dessas partículas do tipo salto para o tipo leito deslizante o que reduz o consumo de energia em colisões e a queda de pressão. Além desses trabalhos, diversos outros foram realizados com o intuito de entender o comportamento de um escoamento bifásico sólido-líquido. Autores como Ling (2003), Eesa et al (2009), Hossain (2011), Kaushal (2011), Capecelatro (2013), Nabil (2013), Jiang (2018), Qi (2018), entre outros, realizaram pesquisas relacionadas as características dos escoamentos bifásicos sólido-líquido. 2.4 Aplicações industriais Os escoamentos multifásicos, mais especificamente os bifásicos, são encontrados em diversas indústrias. A maior parte delas possui, em alguma etapa da produção, a presença de duas fases distintas, sejam elas, água e gás, água e sólido ou gás e sólido, sendo algumas vezes necessário transportar essa mistura, como no caso de rejeitos de mineradoras e em outras é realizada a mistura para realizar o transporte, como no caso do transporte de grãos na indústria alimentícia. Dessa forma, pode-se perceber que na indústria, em geral, esse tipo de escoamento é encontrado em algum momento e por isso serão exibidas a seguir algumas aplicações onde são encontrados alguns dos tipos de escoamento bifásico. Liu, H. (2003), diz que escoamentos do tipo sólido-líquido têm sido utilizados cada vez mais em diversas áreas que necessitam transportar sólidos. Segundo ele, esse tipo de escoamento tem sido empregado nas indústrias de minérios, de construção civil, de grãos, de lixos industriais e municipais, de materiais radioativos e em outras inúmeras aplicações. Lu, Bona et al (2007), menciona em seu trabalho a presença de escoamentos bifásicos, durante a obtenção de combustíveis limpos em reatores MIP. Nesse trabalho, o autor simula escoamentos gás-sólido em reatores MIP. 13 Zhang et al (2005), em seu trabalho, relata a presença de escoamentos trifásicos (liquido, sólido e gás) presente em lamas de um reator após o processo de conversão de carvão e na produção de combustíveis líquidos sintéticos. Pahk et al (2008), apresenta em seu artigo a vasta utilização dos escoamentos bifásicos, citando a presença deles na indústria alimentícia, de minérios e nas indústrias de polímeros. Segundo o autor, esse tipo de escoamento é utilizado na indústria de polímeros para o transporte dos pellets, que são as matérias-primas para a produção de polímeros. Barcelos (2015), trata da questão do transporte de resíduos minerais, os quais são de extrema importância para a preservação ambiental. Segundo ele, esses rejeitos são uma mistura de água e particulado, ou seja, são considerados escoamentos bifásicos liquido- sólido que devem ser tratados e se possível reaproveitados. Guner (2007), expõe a presença do transporte de sementes na indústria alimentícia. De acordo com o autor, diversos tipos de grãos são transportados por meio do transporte pneumático, sendo possível transportar grandes volumes, sendo esse tipo de transporte um escoamento bifásico do tipo gás-sólido. Ismail et al (2005), apresenta em seu artigo a presença de escoamentos multifásicos, dentro dos quais estão incluídos os escoamentos bifásicos, na indústria de óleo e gás. Segundo ele, durante a extração do petróleo, juntamente com o óleo são retirados dos poços gás, água e areia. Egolf et al (2005), descreve em seu trabalho o transporte de gelo de rios e lagos congelados de regiões afastadas para regiões povoadas para aplicações domésticas. De acordo com o autor, o transporte era feito através de uma mistura de água e gelo, uma mistura bifásica. Dessa forma, pode-se concluir que o correto entendimento do comportamento dos escoamentos bifásicos é de extrema importância, pois existem diversas áreas da indústria que utilizam esse tipo de escoamento para realizar seus processos. 2.5 Padrões de escoamento Os escoamentos bifásicos, onde a fase líquida é a água e a fase dispersa são partículas, podem ser classificados de forma semelhante aos padrões de escoamentos para escoamentos líquido-gás. Alguns autores apresentam os tipos de escoamentos que são encontrados em alguns setores da indústria e os classificam. Determinados escoamentos do tipo sólido- 14 líquido podem ter influência direta na queda de pressão ao longo do duto, de acordo com Paiva (2011). Escoamentos do tipo sólido-liquido, onde a fase dispersa são partículas, são propensos a apresentar acúmulo dessas partículas na parte inferior da tubulação ou o não deslocamento na direção do escoamento. Com isso, foram realizadas classificações de escoamentos quando há a presença de deposição ou não de partículasna parte inferior da tubulação, conforme mostrado por Paiva (2011). Segundo Doron e Barnea (1996), os padrões para escoamentos do tipo sólido-líquido podem ser classificados de três formas distintas, ou seja, há três tipos de padrão de escoamento: a) Escoamento totalmente suspenso: nesse padrão as altas taxas de fluxo de mistura fazem com que todas as partículas permaneçam em suspensão. Esse padrão pode ser subdividido em dois sub-padrões: a.1) Pseudohomogeneo: quando as partículas sólidas estão praticamente distribuídas uniformemente ao longo da seção transversal da tubulação. Nesse tipo de escoamento é necessário velocidades de mistura muito altas, o que não acontece na prática. a.2) Heterogêneo: quando há uma variação da concentração na direção perpendicular ao eixo do tubo, onde a maior concentração está na parte inferior da seção tranversal da tubulação. Nesse tipo de escoamento, há mais partículas sólidas sendo transportadas em uma região do que na outra, sendo assim mais comumente encontrado na prática. b) Escoamento com leito móvel: com baixas taxas de velocidade de mistura as partículas sólidas tendem a se acumular na parte inferior da tubulação, formando assim um leito de partículas aglomeradas. Essa aglomeração de partículas tendem a se mover ao longo da tubulação, em sua parte inferior. Já na parte superior da tubulação há a presença de uma mistura heterogênea. c) Escoamento com leito fixo: com a presença de taxas de mistura do escoamento muito baixas há uma inibição do movimento de todas as partículas imersas e consequentemente a formação de um depósito estacionário na parte inferior da tubulação. Logo acima desse depósito, as partículas se movimentam como uma camada móvel separada. Já no restante da tubulação há a presença de uma mistura heterogênea. 15 Mautosek (2002), em seu trabalho, classificou os escoamentos bifásicos do tipo sólido- líquido segundo quatro padrões, levando em consideração o tipo de atrito existente: a) Escoamento totalmente estratificado: segundo o autor nesse padrão de escoamento o atrito ocorre entre um depósito móvel e a parede do tubo. Ainda de acordo com o mesmo, esse tipo de padrão é impossível de se alcançar em escoamento horizontais, entretanto em escoamentos que ocorrem em tubos declinados em 35º esse tipo de escoamento ocorre, mesmo em altas velocidades. b) Escoamento totalmente suspenso: para esse padrão de escoamento, o trabalho em questão propõe que o atrito ocorre na parede da tubulação de escoamentos verticais. Nesses escoamentos, as partículas estão distribuídas de forma uniforme ao longo da seção transversal da tubulação. Dessa forma, parte das partículas se movem em regiões próximas a parede o que acarreta o surgimento do atrito entre as partículas sólidas e a parede da tubulação. c) Escoamento não estratificado: de acordo com a publicação, no escoamento não estratificado ocorre atrito entre as partículas sólidas e a parede da tubulação, além de ser um escoamento no qual há um pequeno gradiente de concentração ao se avaliar a seção transversal da tubulação. Esse tipo de padrão ocorre em escoamentos horizontais que apresentam velocidades elevadas. d) Escoamento parcialmente estratificado: para o autor, o escoamento parcialmente estratificado ocorre em escoamentos horizontais de baixa velocidade. Nesse padrão surge um depósito no parte inferior da tubulação chamado de leito. Com isso, há a presença do atrito entre a parede da tubulação e as partículas sólidas. 2.6 Velocidade Crítica Os escoamentos bifásicos sólido-líquido apresentam alguns obstáculos inerentes as próprias fases que os compõem. Um desses obstáculos está relacionado com a presença de leitos formados pelas partículas sólidas no interior da tubulação, os quais algumas vezes interrompem o escoamento. Salama (2000), definiu a velocidade crítica como uma velocidade abaixo da qual as partículas sólidas formam um leito na parte inferior da tubulação, ou seja, é a velocidade de transição a partir da qual uma partícula estacionária entra em movimento. Ainda segundo o autor, a presença desses leitos pode bloquear o escoamento de forma total ou parcial, causando assim perdas, por exemplo de produção. No trabalho em questão o 16 mesmo afirmou que se a quantidade de partículas depositadas for pequena a remoção é facilitada, caso contrário haveria uma grande dificuldade na remoção. Segundo Dabirian et al (2005), a velocidade crítica depende do tipo de padrão de escoamento e pode ser classificada de duas maneiras: 1. Velocidade crítica de deposição de partículas: é a velocidade abaixo da qual uma partícula que estava inicialmente em movimento se deposite no fundo da tubulação. 2. Velocidade crítica de suspensão de partículas: é a velocidade acima da qual uma partícula que estava depositada no fundo da tubulação é erguida e mantida em suspensão. Ainda segundo o autor, a diferença dessas velocidades está relacionada com a força coesiva que se forma entre as partículas quando as mesmas formam um leito no fundo da tubulação. 17 Capítulo 3 – Materiais e métodos O capítulo a seguir descreverá detalhadamente os procedimentos experimentais utilizados para o desenvolvimento do presente trabalho, como também os equipamentos com suas devidas características e os métodos para a realização dos cálculos. 3 Aparato experimental Foram desenvolvidos dois aparatos experimentais com intuito de entender o comportamento de um escoamento bifásico do tipo sólido-líquido em uma tubulação horizontal. Para o correto entendimento, inicialmente foi construído o aparato de avaliação do separador ciclônico e posteriormente foi construído o aparato para a realização dos ensaios de perda de carga. Esse é constituído por tomadas de pressão ao longo da tubulação, as quais servem para realizar medidas de pressão e consequentemente análise da queda de pressão. Esse aparato experimental foi construído no NIDF (Núcleo Interdisciplinar de Dinâmica dos Fluidos), o qual se encontra na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 3.1 Aparato para a avaliação do separador ciclônico Antes de realizar os primeiros testes foi necessária a montagem de um circuito de avaliação para a análise de um separador ciclônico, o qual foi adquirido com a intenção de realizar a separação das partículas sólidas da fase contínua, a qual é formada por água. Os principais objetivos a serem alcançados no circuito de avaliação foram: 1 – Avaliar a eficiência do separador ciclônico quanto a capacidade de separar as partículas sólidas da água; 2 – Determinar a fração volumétrica de água que sai pela parte superior do separador e a fração volumétrica que sai pela parte inferior; 3 – Verificar se há um aumento da eficiência com o aumento da vazão. A bancada experimental do circuito de avaliação do separador ciclônico é constituída de um sistema aberto e construída com mangueiras flexíveis de 1” de diâmetro interno e 18 de comprimento de 2 metros, como pode ser observado na representação esquemática da Figura 3.1. O sistema é constituído pelos seguintes equipamentos: Mangueiras flexíveis de 1” que foram utilizadas para conectar a caixa d’água a bomba de injeção de areia e a bomba aos tanques de separação; Uma bomba modelo NEMO NM045BY01L07V fabricante NETZSCH, a qual possui vazão máxima de trabalho de 10 m³/h e vazão mínima de 2,5 m³/h e que foi fabricada de forma a suportar no máximo 10% em volume de partículas, utilizada para a injeção de areia; Uma caixa d’agua de 310 litros onde foi realizada a mistura água e partículas sólidas; Um motor da marca EBERLE de 0,5 CV de potência, no qual foi acoplado um hélice, fabricado no próprio laboratório, que foi utilizado para a realização da homogeneização da mistura; Dois inversores defrequência da marca WEG modelos CFW500 e CFW08; Dois tanques de aço inox 304 de 150 litros cada, fabricados no próprio laboratório, que foram utilizados para recolher tanto as frações de água como as frações de partículas que saíam pelas extremidades do separador; Um separador de areia ciclônico modelo KRS 98 C de 45 mm de diâmetro interno do fabricante AKW, o qual não possuía nenhuma informação sobre sua eficiência; Um medidor de vazão do tipo deslocamento positivo da marca INCONTROL modelo PRO 1000 com faixa de medição de 0 a 4 m³/h e certificado de calibração da própria empresa de número V104317; Filtros de pano com malhas de 100 mesh para coletar as partículas sólidas que eram separadas. 19 Figura 3.1: Esquemático do aparato de avaliação O ensaio no aparato de avaliação se baseia na necessidade de se obter a eficiência de separação das partículas sólidas da água através de um separador ciclônico, apresentado na Figura 3.2. Esse tipo de separador possui uma entrada lateral por onde entra o fluxo de mistura água e partícula, uma saída superior por onde a maior parte do líquido é retirado e uma saída inferior por onde é retirada a maior parte das partículas. Figura 3.2: Separador ciclônico Para a realização da análise da eficiência do separador ciclônico foi utilizada uma mistura água e carbeto de silício, o qual está representado na Figura 3.3. Essa mistura é Separador ciclônico Caixa D’agua Bomba Medidor de vazão Tanque 𝑇 Misturador Tanque 𝑇 20 formada por 100 litros de água e 2 Kg de carboneto de silício, ou seja, foi utilizado cerca de 2% em volume de partículas sólidas. Figura 3.3: Carbeto de silício malha 100 No circuito em questão a mistura água e partículas sólidas é bombeada, através da bomba modelo NEMO NM045BY01L07V representada na Figura 3.4, do tanque de mistura, passa pelo medidor de vazão e por último as partículas são separadas no separador ciclônico sendo recolhidas nos tanques. Figura 3.4: Bomba de injeção da mistura modelo NEMO NM045BY01L07V 21 Para a realização dos testes no circuito de avaliação, foi necessário obter homogeneização da mistura no tanque de mistura. Para isso, foi construído um aparato para manter o misturador na posição correta e foram testadas diversas combinações de hélices acopladas ao motor do misturador, os quais foram fabricados no laboratório, conforme a Fig. 3.5. Além disso, foram utilizadas diversas frequências no inversor de frequência. Após diversas tentativas e a análise visual pode-se obter uma combinação ideal através da qual se obteve a homogeneização da mistura. Para isso foi utilizada uma frequência de 30 Hz e o hélice foi mantido cerca de 2 cm do fundo do tanque pois era necessário manter todas as partículas em suspensão no líquido. Figura 3.5: Aparato para suportar o misturador, com o motor e o hélice Após obter a homogeneização adequada, foi dado início aos testes. Com isso, pode- se entender a necessidade de se obter configurações adequadas para se chegar ao correto 22 funcionamento do sistema. Assim, observou-se a necessidade de fornecer configurações adequadas ao inversor de frequência da bomba, ou seja, foi imprescindível fornecer um chamado tempo de rampa, onde o inversor levava a bomba do seu estado de repouso ao valor de set de frequência. Para a realização dos ensaios foram utilizadas duas vazões, 2,5 m³/h e 4,0 m³/h, as quais foram medidas através do medidor da Incontrol modelo PRO 1000, o qual está representado na Figura 3.6, e foram realizadas 4 repetições para cada vazão, de forma a obter repetitividade. Figura 3.6: Medidor de vazão Incontrol, modelo PRO 1000 Além disso, para se obter a eficiência do separador foi necessária a coleta das partículas sólidas que eram transportadas pelo fluido tanto pela parte superior como pela parte inferior do separador. Para isso, foram utilizados filtros com malha inferior ao tamanho das partículas, os quais foram colocados na entrada dos tanques de separação, pois foi utilizado um tanque para coletar as partículas que eram arrastadas pela parte superior e outro para coletar aquelas que eram arrastadas pela parte inferior do separador, conforme mostrado na Figura 3.7. 23 Figura 3.7: Tanques de coleta de partículas, juntamente com o separador ciclônico Após a realização do ensaio, os filtros eram removidos dos tanques e as partículas eram coletadas e expostas ao sol para secar. Ao secar, as partículas sólidas que eram coletadas em ambas partes do separador eram pesadas na balança KNWAAGEN modelo KNCD30/01, conforme a Figura 3.8, a qual possui exatidão de 0,1 g e certificado de calibração, e posteriormente era realizado o cálculo de eficiência. 24 Figura 3.8: Balança para pesagem das partículas 3.2 Aparato para a realização dos ensaios de perda de carga Após todos os ensaios realizados no circuito de avaliação, pode-se iniciar os primeiros ensaios no circuito de testes, cujo esquemático é exposto pela Figura 3.9 e pela Figura 3.10. Os principais objetivos a serem alcançados no circuito de testes foram: 1 – Realizar a análise do comportamento da queda de pressão ao longo da tubulação; 2 – Analisar a relação entre fator de atrito e velocidade do escoamento; 3 – Analisa a relação entre perda de carga e velocidade do escoamento. Na Figura 3.9 há o esquemático do circuito de testes inicial, mas devido a necessidades operacionais o circuito teve que ser modificado sendo apresentado atualmente como pode-se observar na Figura 3.10. O circuito de testes é constituído pelos seguintes componentes: Uma bomba “NEMO” de 20 m³/h modelo NM076BY02S14V, a qual foi utilizada para bombear a água do tanque para o circuito; Uma bomba centrífuga, modelo BC-92S 1C 1T 60, trifásica, de vazão máxima de 9,63 m³/h; Uma bomba centrífuga, modelo PRATIKA CP – 4R M PTE, monofásica, potência de ¼ CV, de vazão máxima de 5,0 m³/h Três tanques de 1 m³ de aço inox 304, os quais foram utilizados para abrigar o fluido, no caso a água; 25 Um tanque de 4 m³, o qual foi utilizado para abrigar o fluido ao final do experimento; Um medidor de vazão do tipo eletromagnético do fabricante INCONTROL modelo VMF050C020142040130FK+PRO10412J o qual possui certificado de calibração emitido pelo próprio fabricante sob o número V016417; Um medidor de pressão diferencial da ENDRESS + HAUSER modelo DELTABAR S, que mede um diferencial de pressão entre 0 a 500 mbar; Um inversor de frequência do fabricante WEG, modelo CFW-11, utilizado para o controle da vazão da bomba; 88 metros de tubo rígido de 2” de aço inox 304, sendo 44 metros de ida e 44 metros de retorno; Válvula do tipo esfera de 2”, que foram utilizadas para a realização de manobras na linha; 19 tomadas de pressão ao longo da linha, as quais foram feitas com engates rápidos e mangueiras de 6 mm de diâmetro; Válvulas de fechamento 2/2 vias para mangueira de 6 mm, as quais foram utilizadas para a abertura e fechamento das tomadas de pressão. Os equipamentos que foram utilizados no circuito de análise foram reutilizados no circuito de testes, ou seja, além dos equipamentos listados acima, foram utilizados aqueles provenientes do circuito de análise. 26 Figura 3.9: Esquemático do circuito de testes 27 Figura 3.10: Esquemático do circuito de testes 28 Além dos equipamentos listados foi necessária a construção de dois aparatos para posicionar o injetor de areia e o tanque de mistura em uma posição acima da tubulação onde seria injetada a mistura e um aparato para controlar a vazão de partículas sólidas que foram injetadas no tanque, os quais estão apresentados de acordo com a Figura 3.11.Figura 3.11: Aparatos para o posicionamento do injetor de areia e do tanque de mistura Além de tudo, foram utilizados outros equipamentos: para aquisição de temperatura do fluido, para a aquisição de dados e para a calibração eletrônica da placa de aquisição. Um termômetro digital tipo espeto modelo KT300 que possui certificado de calibração expedido pelo INMETRO foi utilizado para a aquisição da temperatura do fluido; Uma placa da OMEGA modelo OM-USB-1408FS para a aquisição de dados; Uma placa de fabricação do próprio laboratório, a qual foi utilizada para obter dados tanto do medidor de vazão como do medidor de pressão; Um computador para o tratamento dos dados; 29 Um aparato desenvolvido no laboratório, o qual possui uma coluna de água de 1,5 metros de altura foi utilizado para a calibração eletrônica da placa de aquisição; O circuito de testes foi projetado e construído ao longo da pesquisa e antes de iniciar os ensaios foram feitos testes de estanqueidade para a verificação de vazamentos e os devidos consertos necessários, caso houvesse necessidade. Esses testes foram realizados sob diversas vazões, desde a mínima até a máxima e assim foram verificados e sanados os vazamentos existentes. Ademais, foram construídas ao longo da tubulação tomadas de pressão, as quais são conectadas a engates rápidos e assim conectadas a mangueiras flexíveis de 6 mm. Essas tomadas são conectadas através das chamadas árvores de pressão. Foram construídas duas árvores, uma de alta pressão com 9 tomadas e uma de baixa pressão com 10 tomadas. Dessas árvores parte uma ramificação, a qual é conectada no medidor de pressão, nas entradas de alta e de baixa pressão respectivamente. 3.3 Ensaios com partículas Antes de realizar os ensaios com partículas sólidas foi necessária a realização dos ensaios com uma única fase, que no caso é a água, proveniente da rede do Rio de Janeiro, para validar o aparato experimental e verificar a precisão dos cálculos obtidos de fator de atrito da água para tubulação lisa, comparando-se os resultados com aqueles disponíveis na literatura (Blasius, Colebrook). Em cada ensaio mede-se a pressão diferencial em cada tomada de pressão, a partir do escoamento totalmente desenvolvido, verificando assim a linearidade da perda de carga ao longo da tubulação. Após a verificação da linearidade calcula-se o fator de atrito do escoamento através da equação de Darcy-Weisbach (Eq. 3.1). 𝑓 = Ū ∆ (3.1) Onde ∆𝑃 é a diferença de pressão, D é o diâmetro interno do tubo, Ū a velocidade média do fluido, calculada a partir da vazão, 𝜌 a massa específica do fluido e L é a distância entre as tomadas de pressão. 30 O número de Reynolds é calculado, para um fluido newtoniano, pela seguinte equação: Re = Ū (3.2) Onde ν é a viscosidade cinemática do fluido. Após a verificação, pôde-se dar início aos testes com partículas sólidas, onde foram realizados experimentos com concentração média de 0,45%, 1,0% e 1,4% em massa de partículas sólidas. Para a realização dos ensaios com duas fases é necessário seguir alguns procedimentos que foram adotados ao longo da pesquisa de forma a otimizar os ensaios e evitar erros e falhas. Inicialmente são feitas anotações no Logbook acerca dos operadores, dia e horário, além da verificação cuidadosa de todas as válvulas que devem estar abertas para o correto funcionamento do sistema e do enchimento dos três tanques de suprimento de água, os quais estão representados na Figura 3.12. Figura 3.12: Tanques de suprimento de água 31 Posteriormente, quando necessário, é realizada a calibração eletrônica, a qual tem como objetivo calibrar o valor obtido pelo sistema de aquisição e o valor apresentado pelo medidor de pressão. Para a correta calibração é imprescindível a retirada de ar da coluna de água que é conectada na entrada de alta pressão do medidor de pressão. Com o sistema inicial, representado na Figura 3.9, após a realização desses procedimentos o sistema era ligado, sendo realizado primeiramente o acionamento da bomba de alimentação do tanque de mistura, em seguida a bomba injetora, posteriormente era acionada a bomba de alimentação do aparato experimental e por último era ligada a bomba de retorno da água livre de partículas sólidas. Em seguida era realizado o preenchimento do aparato de controle de vazão de partículas sólidas e assim que estivesse tudo pronto liberava-se a vazão do aparato. Com o sistema atual, representado na Figura 3.10, os procedimentos adotados para o acionamento das bombas permanece o mesmo, porém antes de realizar o preenchimento do aparato de controle de vazão deve-se realizar ajustes na válvula existente em uma das ramificações da saída da bomba de alimentação do tanque de mistura de forma a se obter uma vazão constante de alimentação do tanque de mistura e consequentemente uma vazão constante de injeção. Ao iniciar os ensaios são tomadas medidas da temperatura ambiente e da temperatura inicial da mistura. Depois de realizar as medições de temperatura, liga-se o sistema de aquisição de dados, realiza-se a manipulação das válvulas de tomada de pressão em cada ponto e a partir do software de aquisição de dados são obtidas as medições de perda de carga. 3.3.1 Aparato para a realização da calibração eletrônica e de aquisição de dados experimentais A primeira atividade realizada no experimento, após a sua consolidação, foi o desenvolvimento da placa de aquisição de dados e sua adequação ao experimento em si. Para o correto funcionamento do equipamento de aquisição de dados é necessária a realização da calibração eletrônica, a qual, inicialmente, era realizada utilizando um aparato experimental desenvolvido no laboratório, o qual está representado pela Figura 3.13. O aparato possui uma coluna de água de 1,5 metros, a qual era ligada na tomada de alta pressão do medidor, enquanto a tomada de baixa era mantida aberta para a atmosfera. 32 Figura 3.13: Aparato para a realização da calibração Para a realização da calibração era necessária a retirada total de ar existente na coluna de água e no medidor de pressão. Para isso, a ramificação proveniente da árvore de alta pressão era conectada na parte superior da coluna do aparato. O medidor de pressão possui duas saídas utilizadas como drenos, uma para a entrada de alta pressão e uma para a entrada de baixa pressão. Assim, para o preenchimento total da coluna de água e a retirada total de ar da mesma e do medidor, o dreno de alta era aberto e logo em seguida a bomba do sistema era ligada. Com isso, eram realizadas manobras na válvula de bloqueio do dreno para garantir que não havia nenhum ar nem na coluna e nem no medidor. Finalmente, para se obter a calibração, eram tomadas 45 medidas de diferencial de pressão, as quais eram obtidas abrindo a válvula do dreno, reduzindo assim a coluna de água e ligando o sistema de aquisição de dados, o qual é apresentado pela Figura 3.14. Como pode-se ver na Figura 3.14 o sistema de aquisição de dados é formado por uma placa de 16 bits da marca Omega, uma placa de aquisição de dados e duas baterias para a alimentação do sistema. A esse sistema são ligados os medidores de pressão e vazão que possuem sinal de saída que segue o protocolo HART, ou seja, possui uma saída em corrente de 4 a 20 mA, as quais representam a menor e a maior pressão que pode ser lida. 33 Figura 3.14: Sistema de aquisição de dados Atualmente, com a aquisição de um equipamento de geração de corrente modelo tal, apresentado na Figura 3.15, a calibração eletrônica é realizada conectando a saída do equipamento gerador de correntes na entrada da placa de aquisição e variando-se a corrente de 0,5 em 0,5 mA iniciando em 4 mA e terminando em 20 mA. Figura 3.15: Equipamentode calibração eletrônica gerador de correntes Além disso, é utilizado o Labview, da National Instruments, que é um software utilizado para a aquisição dos dados provenientes do sistema de aquisição. Neste, foi 34 realizado o desenvolvimento de uma programação, a qual possibilita o acompanhamento dos sinais e a leitura e o armazenamento dos dados, tanto brutos quanto médios, em um arquivo de texto. 3.3.2 Bombas No trabalho em questão são utilizadas 5 bombas para o correto funcionamento do sistema. Para o abastecimento do tanque de mistura com água é utilizada uma bomba centrífuga, monofásica, modelo Dancor PRATIKA CP-4R M, ¼ CV de potência e vazão máxima de operação de 5 m³/h, a qual está representada pela Figura 3.16. Figura 3.16: Bomba centrífuga de abastecimento do tanque de mistura Outra bomba, modelo NEMO NM045BY01L07V, é utilizada para a injeção da mistura água e partículas sólidas, a qual foi escolhida por ser volumétrica e com isso possuir um fluxo contínuo sem pulsação, alto rendimento mesmo em baixas velocidades, precisão no controle de fluxo, flexibilidade de montagem e por bombear uma solução de água com partículas sólidas. Essa bomba foi reutilizada do aparato de avaliação e possui as seguintes características, conforme a Figura 3.4: Carcaça: Ferro Fundido Partes giratórias: AISI 304 Rotor: AISI 304 cromado especial UM40 35 Instalação: Horizontal Bocal de sucção: flange 3” ANSI B16.1 – 125 – FF – Vertical Bocal de pressão: flange 3” ANSI B16.1 – 125 – FF – Horizontal E dadas as condições operacionais necessárias ao experimento, a bomba possui as seguintes características: Meio para bombear: água + partículas sólidas Vazão de projeto: 10,0 m³/h Vazão nominal: 10,6 m³/h Pressão de descarga: 2,0 bar Potência: 1,3 kW NPSH requerido: 1,8 mca Ademais, são utilizadas duas bombas volumétricas modelo NEMO NM076BY01L07V, as quais foram escolhidas devido possuírem a vantagem de ser bombas de fluxo contínuo sem pulsação e que podem trabalhar tanto com água como com óleo. Uma dessas bombas é utilizada para abastecer as tubulações, puxando fluído dos dois tanques de 1 m³ cada e a outra é utilizada puxando a água do tanque de captação da água ao final do experimento. Além disso, possuem as seguintes características, conforme a Figura 3.17: Carcaça: Ferro Fundido Partes giratórias: AISI 304 Rotor: AISI 304 cromado especial UM40 Instalação: Horizontal Bocal de sucção: flange 3” ANSI B16.1 – 125 – FF – Vertical Bocal de pressão: flange 3” ANSI B16.1 – 125 – FF – Horizontal 36 Figura 3.17: Bombas de suprimento de líquido e de retorno do tanque de captação E dadas as condições operacionais necessárias ao experimento, a bomba possui as seguintes características: Meio para bombear: água ou óleo Vazão de projeto: 20,0 m³/h Vazão nominal: 20,0 m³/h Pressão de descarga: 10,0 bar Potência: 8,7 kW Finalmente, é utilizada uma bomba para realizar o retorno da água que é captada ao final do ensaio, já livre de partículas sólidas. Essa bomba é centrífuga, modelo BC-92S 1C 1T 60, trifásica e possui vazão máxima de 9,63 m³/h, de acordo com a Figura 3.18. 37 Figura 3.18: Bomba da água de retorno 3.3.3 Termômetro Ao início e final de cada experimento são feitas medições de temperatura ambiente e de temperatura do fluido em questão, através de amostras retiradas em uma das tomadas de pressão, com um Termômetro modelo KT300, Figura 3.19, devidamente calibrado. Esse método de medição de temperatura foi devidamente verificado através de testes onde se utilizava banho térmico de temperatura controlada e que apresenta incerteza de 0,2°C. Figura 3.19: Termômetro modelo KT3000 38 3.3.4 Medidor de pressão As medidas de pressão tomadas ao longo da tubulação são realizadas utilizando um medidor de pressão diferencial modelo DeltaBar S, o qual possui uma faixa de medição de 0 a 500 mbar, vide Figura 3.20. Figura 3.20: Medidor de pressão DeltaBar S, range 0 a 500 mbar Esse medidor é ligado ao sistema de aquisição de dados apresentado na Figura 3.14, através do qual são obtidas as medições de pressão diferencial. 3.3.5 Medidor de vazão As medidas de vazão tomadas ao longo dos experimentos são realizadas através de dois medidores de vazão. Um desses medidores encontra-se na linha de injeção da mistura, o qual é da marca Incontrol modelo PRO 1000 com faixa de medição de 0 a 4 m³/h, conforme Figura 3.6, e o outro encontra-se na linha de alimentação de água da tubulação. Esse medidor é do tipo eletromagnético do fabricante INCONTROL, modelo VMF050C020142040130FK +PRO10412J, conforme Figura 3.21 e que possui uma faixa de medição de 4 a 45 m³/h. 39 Figura 3.21: Medidor de vazão eletromagnético Incontrol Pro 1000 3.4 Cálculo de incertezas de medição Os gráficos apresentados na subseção 4.2.2 a subseção 4.2.4 possuem uma barra de erros relativa as incertezas relacionadas a cada parâmetro que compõe as análises apresentadas, ou seja, para a obtenção do número de Reynolds há uma incerteza, assim como para o fator de atrito, para a velocidade e para a perda de carga. As incertezas inerentes a cada uma das variáveis foram obtidas a partir de métodos desenvolvidos para a metrologia. De acordo com Mendes (2005), estabeleceu-se, primeiramente, a expressão matemática representativa do processo de medição, depois foram identificadas as correções que deveriam ser aplicadas aos resultados de cada medição nas condições que foram realizadas, avaliou-se as incertezas tipo B, ou seja, as incertezas associadas ao padrão de referência e aquelas associadas ao equipamento de medida ou à calibração, combinou-se as incertezas, calculou-se o grau de liberdade efetivo como também a incerteza padrão combinada e por último a incerteza final. O número de grau de liberdade efetivo foi calculado através da equação (3.3), que é conhecida como equação de Welch-Satterthwaite. = + + + ... + (3.3) 40 Onde 𝑢 é a incerteza padrão combinada, 𝑢 é a incerteza padrão de cada uma das fontes de incertezas, 𝑣 é o número de grau de liberdade de cada fonte de incerteza e 𝑣 é o número de grau de liberdade efetivo. Para o cálculo da incerteza padrão combinada foi utilizada a equação (3.4). 𝑢 = (𝑢 + 𝑢 + . . . + 𝑢 ) (3.4) Onde 𝑢 é a incerteza combinada. Já para o cálculo da incerteza final, ou seja, da incerteza expandida, utilizou-se a equação (3.5). U = 𝑢 k (3.5) Onde U é a incerteza expandida e k é o divisor, sendo o fator k inerente ao tipo de distribuição a ser utilizado, sendo elas a normal, quando há um certificado de calibração, retangular para a resolução de leitura dos instrumentos de medição e triangular para a resolução de indicadores analógicos. Para cada uma dessas distribuições há um divisor inerente, o qual é considerado k do certificado, √3 e √6, respectivamente. Assim, através do quociente entre a expansão expandida e o valor calculado foi obtida a incerteza em porcentagem. 41 Capítulo 4 – Resultados e Discussões 4 Resultados alcançados e discussões Nesse capítulo serão descritos os resultados obtidos ao longo da pesquisa, os quais foram extraídos do aparato de avaliação e do aparato de testes, onde nesse obtiveram-se resultados para o ensaio com uma única fase e para o ensaio com duas fases (partículas sólidas e água). 4.1 Resultados do aparato de avaliação Conforme dito anteriormente, o aparato de avaliação foi construído com o objetivo de se obter a eficiência do separador ciclônico, o qual é um dos elementos utilizados no aparato de testes para a
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