Buscar

Beatriz-Nascimento-Correa

Prévia do material em texto

0 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
 
BEATRIZ DO NASCIMENTO CORRÊA DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DETERMINAÇÃO DE ATIVIDADES ANTIOXIDANTE E CITOTÓXICA DA BIOMASSA DE 
Arthrospira platensis PRODUZIDA EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE CULTIVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2015 
 
 1 
Beatriz do Nascimento Corrêa dos Santos 
 
 
 
 
DETERMINAÇÃO DE ATIVIDADES ANTIOXIDANTE E CITOTÓXICA DA BIOMASSA DE 
Arthrospira platensis PRODUZIDA EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE CULTIVO 
 
 
 
 
 
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de 
Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como 
requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em 
Ciência de Alimentos. 
 
 
 
 
Orientadores: Profª. Drª. Selma Gomes Ferreira Leite (Escola de Química – UFRJ) 
 Profª. Drª. Kátia Gomes de Lima Araújo (Faculdade de Farmácia – UFF) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
2015 
 
 2 
 3 
AGRADECIMENTOS 
 
É com grande reconhecimento que expresso os meus sinceros agradecimentos a todos 
aqueles que, de forma direta ou indireta, contribuíram decisivamente para a realização deste 
trabalho. Em especial: 
A Deus, meu Senhor, pai e amigo, por me permitir chegar até aqui e proporcionar a 
conclusão de mais uma etapa em minha vida. 
Aos meus pais maravilhosos, Regina Lucia do Nascimento Corrêa dos Santos e Gilberto 
Corrêa dos Santos, pelo amor, carinho, confiança e apoio em todos os momentos, incentivo 
e encorajamento em meus estudos e trabalhos. 
Ao meu namorado e amigo, Fabio Macedo da Costa, por estar sempre ao meu lado nos 
momentos bons e ruins, pelo amor, força, apoio e incentivo. Obrigada por me fazer 
companhia no laboratório aos fins de semana e feriados, por virar comigo as madrugadas de 
estudo e escrita, por estar sempre disposto a me ajudar em tudo. Obrigada por sempre me 
incentivar sempre e, por ser um companheiro excepcional. 
A meus familiares pela torcida, em especial, a minha irmã Bianca do Nascimento Corrêa dos 
Santos e meus avós, Iracema Corrêa, Ione Coelho e Geraldo Costa, por estarem sempre 
por perto, prontos a me apoiar com carinho. 
À Professora Selma Gomes Ferreira Leite, pela oportunidade de ser sua orientada e pela 
confiança depositada. Obrigada pelo apoio, incentivo e disponibilidade demonstrada em 
todas as fases que levaram à concretização deste trabalho. 
À minha querida co-orientadora, mãe e amiga, Kátia Gomes de Lima Araújo, por me instruir 
desde a graduação. Obrigada pelo carinho, apoio, por todos os ensinamentos passados, por 
me dar força e ajudar a superar os momentos difícieis, por não me deixar desaminar, pelo 
incentivo, confiança e amizade em todos os momentos, por ser exemplo de profissional, que 
sempre fará parte da minha vida. 
À Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência de 
Alimentos do IQ/UFRJ, pela oportunidade de realização do curso. 
À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela 
bolsa de doutorado. 
Ao Laboratório de Ecofisiologia e Toxicologia de Cianobactérias pelo suporte na execução 
de etapas preliminares do projeto referente a toxicologia de Cianobactérias. 
 
 4 
Ao Laboratório de Fisiologia e Cultivo de Algas do Instituto de Biologia da Universidade 
Federal Fluminense (UFF) pela cessão da cianobactéria utilizada para desenvolvimento 
deste trabalho. 
A todos do Laboratório de Cultura de Células do Núcleo de Bioquímica Nutricional da 
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) pela cessão da linhagem 
celular, pelo suporte para execução de todas as análises biólogicas e pela paciência em 
passar os ensinamentos sobre cultura de células, fundamentais para a realização deste 
trabalho. Em especial ao professor Anderson Junger e aos alunos: Clara Machado, Camila 
Berniz, Crsitiane Silva, Debora Bauer, Joel Pimentel, Lana Rosa, Natália Soares, Mariana 
Gonçalves e Danielle Bonfim. 
Às dedicadas bolsistas de iniciação científica, Mariana Borges, Garla Guidone, Dayane 
Meireles, Natália Ferme, Daiana Dias e Hevelyn Dantas, pela grande contribuição para que 
a parte experimental deste trabalho se concretizasse. 
À Professora Josiane Roberto Domingues pela grande amizade, carinho, apoio e 
ensinamentos passados. Obrigada por ser minha companheira de todas as horas. 
À Doutora Thaís Souza Passos, amiga e sócia, pelo carinho, ensinamentos e dedicação a 
nossa amizade. 
À Família Labiotec - Laboratório de Biotecnologia de Alimentos da Faculdade de Fármácia 
da UFF (Roberta Rizzo, Gabriela Pepe, Carla Guidone, Dayane Meireles, Daiana Dias, 
Hevelyn Dantas, Fabiana Santos, Francine Albernaz, Nicolly Petito, Manuela Nascimento, 
Jorge Pinho, Lidiane Mendes, Vanessa Naciuk, Daniele Bastos, Juliana Furtado, Alice 
Gonzalez e Luciana Esper) pela amizade, carinho, apoio e pelos momentos de 
descontração. 
Aos companheiros do Curso de Ciência de Alimentos pela amizade, troca de conhecimentos 
e experiências adquiridas, em especial à Andresa Ramos, Carlos Eduardo Conceição, 
Valéria Saldanha, Manoela Pessanha e Talita Nascimento. 
Aos professores, funcionários e técnicos da Faculdade de Farmácia da UFF, por serem 
sempre tão prestativos, especialmente aqueles que fazem parte dos Laboratórios de 
Bromatologia e Tecnologia de Cosméticos e da Central Analítica. 
A todos os meus queridos amigos pelo grande incentivo e compreensão em minhas 
ausências. 
À banca examinadora por aceitar o convite e se disponibilizar a avaliar e contribuir com este 
trabalho. 
 
 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Comece fazendo o que é necessário, 
depois o que é possível, e de repente 
 você estará fazendo o impossível." 
 
São Francisco de Assis 
 
 6 
 
RESUMO 
 
SANTOS, Beatriz do Nascimento Corrêa dos. Determinação de atividades antioxidante e 
citotóxica da biomassa de Arthrospira platensis produzida em diferentes condições de 
cultivo. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos) - Instituto de 
Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. 
 
Este trabalho objetivou estudar a influência de condições de cultivo sobre a produção de 
biomassa de Arthrospira platensis e avaliar as atividades antioxidante e citotóxica de seus 
extratos, visando à produção de biomassa rica em compostos bioativos com potencial 
aplicação no desenvolvimento de alimentos funcionais. O cultivo foi conduzido em diferentes 
concentrações de NaHCO3 (9 a 18 g.L
-1) e NaNO3 (1,25 a 2,5 g.L
-1) sob diferentes 
irradiâncias (50 a 150 µMol fótons.m-2.s-1), de acordo com planejamento experimental. A 
partir da biomassa obtida nas distintas condições de cultivo, produziram-se extratos aquosos 
e metanólicos. A avaliação de crescimento e produção de biomassa foi realizada por 
medidas de densidade óptica e a capacidade antioxidante dos extratos foi determinada 
pelos ensaios TEAC e TRAP. Utilizou-se delineamento do tipo composto central rotacional 
para avaliar a influência das condições de cultivo sobre produção de biomassa e capacidade 
antioxidante dos extratos. Com extratos referentes à condição de maior produção de 
biomassa e capacidade antioxidante e à condição padrão de cultivo (P) (NaHCO3:18 g.L
-1; 
NaNO3: 2,50 g.L
-1; 50 µMol fótons.m-2.s-1), avaliou-se a atividade citotóxica em células de 
adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) por meio de ensaios de viabilidade celular com 
MTT, de ciclo e apoptose celular por citometria de fluxo. Os resultados mostraram que luz foi 
a variável que mais influenciou os parâmetros de crescimento e produção de biomassa. A 
concentração de NaHCO3 foi o segundo fator mais importante e apresentou, assim como a 
luz, correlação positiva com estas variáveis de resposta.Consequentemente, o aumento na 
concentração de NaHCO3 e na irradiância levou ao aumento destas respostas. A 
concentração de NaNO3 tem efeito oposto sobre os parâmetros estudados, indicando que 
estes diminuem com o aumento da concentração de NaNO3. As variáveis independentes 
não apresentaram efeito significativo sobre a capacidade antioxidante dos extratos 
metanólicos, enquanto que, para os extratos aquosos a luz também foi fator de maior 
influência de forma direta. A corrida experimental de cultivo 6 (NaHCO3: 16,18 g.L
-1; NaNO3: 
1,50 g.L-1; 129,8 µMol fótons.m-2.s-1) apresentou melhores resultados associados de 
produção de biomassa e capacidade antioxidante. Os extratos 6 e P apresentaram efeito 
semelhante sobre células HT-29. Comparativamente ao controle, os extratos aquosos 
mostraram capacidade de redução na viabilidade celular assim como os extratos 
 
 7 
metanólicos, que apresentaram efeito inibitório mais acentuado. Houve aumento no 
percentual de células HT-29 na fase Sub G1 para extratos metanólicos e na fase G0/G1 
para extratos aquosos, seguido por diminuição no percentual de células nas fases S e G2/M 
do ciclo celular. O extrato metanólico P conduziu ao aumento significativo no processo de 
apoptose celular. Os resultados sugerem que a biomassa de Arthrospira platensis cultivada 
com concentrações intermediárias de NaHCO3 e reduzidas de NaNO3 e em alta irradiância 
pode desempenhar importante papel na eliminação de radicais livres, na redução da 
viabilidade celular, na modulação e progressão do ciclo celular de adenocarcinoma de cólon 
humano. Esta biomassa é rica em compostos bioativos tais como ficobiliproteínas e 
compostos fenólicos, apresentando potencial aplicação como suplemento e no 
desenvolvimento de alimentos funcionais. 
 
 
Palavras-chave: Arthrospira platensis, bicarbonato de sódio, nitrato de sódio, luz, biomassa, 
capacidade antioxidante, atividade citotóxica. 
 
 8 
ABSTRACT 
 
 
SANTOS, Beatriz do Nascimento Corrêa dos. Determinação de atividades antioxidante e 
citotóxica da biomassa de Arthrospira platensis produzida em diferentes condições de 
cultivo. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos) - Instituto de 
Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. 
 
This study investigated the influence of culture conditions on the biomass production of 
Arthrospira platensis and evaluated cytotoxic and antioxidant activities of its extracts, aimed 
to produce rich biomass in bioactive compounds for potential application in functional foods. 
The cultivation was performed with different concentrations of NaHCO3 (9 to 18 g.L
-1) and 
NaNO3 (1.25 to 2.5 gL
-1) under different light irradiances (50 to 150 µMol photons.m-2.s-1), 
according to experimental design. From the obtained biomass under different conditions, 
aqueous and methanol extracts were produced. Evaluation of growth and biomass 
production was performed by optical density measurements and the antioxidant capacity of 
the extracts was determined by TEAC and TRAP assays. A central composite rotatable 
design was employed to evaluate the influence of culture conditions on biomass production 
and antioxidant capacity of the extracts. Extracts obtained from the optimal condition of 
biomass production and antioxidant capacity and from standard cultivation condition (P) 
(NaHCO3: 18 g.L
-1; NaNO3: 2.50 g.L
-1; 50 µMol photons.m-2.s-1) were used to evaluate the 
cytotoxic activity in human colon adenocarcinoma cells (HT-29) through assays of cell 
viability with MTT, cell cycle and apoptosis by flow cytometry. The results showed that light 
was the variable that most influenced the growth parameters and biomass production. The 
NaHCO3 concentration was the second most important factor, as well as light, presented 
positive correlation with these response variables, consequently, increase in the NaHCO3 
concentration and irradiance led to increase in these responses. The NaNO3 concentration 
has inverse effect on the studied parameters, indicating that these responses decreased in 
higher NaNO3 levels. The independent variables had no significant effect on the antioxidant 
capacity of the methanol extracts, while for the aqueous extracts the light was also the most 
influential factor directly. The better results related to biomass production and antioxidant 
capacity were observed in experimental run cultivation 6 (NaHCO3: 16.18 g.L
-1; NaNO3: 1.50 
g.L-1; 129.8 µMol photons.m-2.s-1). Extracts 6 and P had similar effect on HT-29 cells. 
Compared to the control, the aqueous extracts showed capacity of reduction on cell viability 
as well as the methanol extracts, which showed stronger inhibitory effect. An increase in the 
percentage of HT-29 cells in sub G1 phase for methanol extracts and in G0/G1 phase for 
aqueous extracts were observed, followed by a decrease in the percentage of cells in S and 
G2/M phases of cell cycle. The methanol extract P resulted in a significant increase in cell 
 
 9 
apoptosis. The results suggest that Arthrospira platensis biomass cultivated with 
intermediate NaHCO3 concentration, reduced NaNO3 concentration and high irradiance can 
play an important role in scavenging free radicals, reducing cell viability, in modulation and 
progression of cell cycle of human colon adenocarcinoma. This biomass is rich in bioactive 
compounds such as phycobiliproteins and phenolic compounds, with potential application as 
a supplement and in the development of functional foods. 
 
Keywords: Arthrospira platensis, sodium bicarbonate, sodium nitrate, light, biomass, 
antioxidant capacity, cytotoxic activity. 
 
 10 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Principais complexos fotossintéticos da membrana tilacóide de 
cianobactérias. 
25 
Figura 2. Filamentos helicoidais ou espirais da Arthrospira platensis. 28 
Figura 3. Redução do oxigênio. 41 
Figura 4. Estrutura química de alguns antioxidantes endógenos e exógenos. 49 
Figura 5. Esquemas dos principais mecanismos de reação dos ensaios de 
capacidade antioxidante total. 
57 
Figura 6. Organograma experimental. 59 
Figura 7. Fotomicrografia da cepa de Arthrospira platensis utilizada no presente 
trabalho. 
61 
Figura 8. Frascos de cultivo de Arthrospira platensis. 62 
Figura 9. Curva-padrão para avaliação do crescimento de Arthrospira platensis, 
relacionando DO (absorbância) versus concentração de biomassa seca. 
64 
Figura 10. Recuperação da biomassa de Arthrospira platensis. 65 
Figura 11. Curva-padrão de Trolox para teste de regeneração do ânion ABTS-2 
pelos extratos de Arthrospira platensis, relacionando absorbância versus 
concentração (μmoles.L-1). 
67 
Figura 12. Comportamento do Trolox, em diferentes concentrações (μM), 
durante teste de Total radical-trapping antioxidant parameter (TRAP), 
correlação de absorbância versus tempo (em minutos). 
68 
Figura 13. Curva-padrão de trolox para Total radical-trapping antioxidant 
parameter (TRAP) dos extratos de Arthrospira platensis, relacionando tempo de 
fase lag (em minutos) versus concentração (μmoles.L-1). 
69 
Figura 14. Imagem microscópica de células de adenocarcinoma de cólon 
humano da linhagem HT-29 em alta densidade. 
71 
Figura 15. Incubadora para cultivo de células de adenocarcinoma de cólon 
humano da linhagem HT-29 com atmosfera controlada. 
72 
 
 11 
Figura 16. Células de adenocarcinoma de cólon humano da linhagem HT-29 
tratadas com extrato de Arthrospira platensis para realização de ensaios 
biológicos. 
74 
Figura 17. Curva-padrão de ácido gálico para determinação de compostos 
fenólicos totais dos extratos de Arthrospira platensis, relacionando absorbância 
versus concentração (μg.mL-1). 
77 
Figura 18. Produção de biomassa por Arthrospira platensis durante 21 dias de 
cultivo. 
79 
Figura 19. Histograma de Pareto para resposta de produção de biomassa de 
(mg.L-1).82 
Figura 20. Superfície de resposta (A) e curvas de nível (B) para NaNO3 e 
NaHCO3 referente a produção de biomassa de Arthrospira platensis. 
84 
Figura 21. Superfície de resposta (A) e curvas de nível (B) para Luz e NaHCO3 
referente à produção de biomassa de Arthrospira platensis. 
84 
Figura 22. Superfície de resposta (A) e curvas de nível (B) para Luz e NaNO3 
referente a produção de biomassa de Arthrospira platensis. 
85 
Figura 23. Histograma de Pareto para resposta de produtividade de Arthrospira 
platensis – P18 (mg.L
-1.dia-1). 
86 
Figura 24. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato 
aquoso de Arthrospira platensis pelo teste TEAC - ABTS. 
95 
Figura 25. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato 
aquoso de Arthrospira platensis segundo o percentual de extinção do radical 
ABTS•-. 
96 
Figura 26. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato 
aquoso de Arthrospira platensis pelo teste TRAP. 
98 
Figura 27. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato 
metanólico de Arthrospira platensis pelo teste TEAC - ABTS. 
100 
Figura 28. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato 
metanólico de Arthrospira platensis segundo o percentual de extinção do radical 
ABTS•-. 
101 
Figura 29. Histograma de Pareto para resposta de capacidade antioxidante de 
extrato metanólico de Arthrospira platensis pelo teste TRAP. 
102 
 
 
 12 
Figura 30. Efeito dos extratos aquoso (A) e metanólico (B), referentes à 
biomassa de Arthrospira platensis obtida na condição de cultivo da corrida 
experimental 6 sobre a viabilidade de células HT-29, 24 e 48 horas após a 
incubação. 
 110 
Figura 31. Efeito dos extratos aquoso (A) e metanólico (B), referentes à 
biomassa de Arthrospira platensis obtida na condição de cultivo da corrida 
experimental P sobre a viabilidade de células HT-29, 24 e 48 horas após a 
incubação. 
111 
Figura 32. Efeito do Extrato 6 sobre a progressão do ciclo celular em células 
HT-29, 48 horas após a incubação. 
116 
Figura 33. Efeito do Extrato P sobre a progressão do ciclo celular em células 
HT-29, 48 horas após a incubação. 
117 
Figura 34. Efeito do Extrato 6 sobre o processo de morte programada 
(apoptose) em células HT-29 48 horas após a incubação. 
120 
Figura 35. Efeito do Extrato P sobre o processo de morte programada 
(apoptose) em células HT-29 48 horas após a incubação. 
121 
Figura 36. Compostos fenólicos totais determinados em extrato aquoso (H2O) e 
metanólico (MeOH) obitdos a partir da biomassa de Arthrospira platensis 
referentes as corridas experimentais de cultivo 6 e P. 
124 
Figura 37. Espectros de varredura no UV-visível dos extratos aquosos (6 - em 
azul e P - em verde) ricos em ficobiliproteínas obtido da Arthrospira platensis, 
em destaque o pico característico da ficocianina (PC) e o ombro da 
aloficocianina (APC). 
127 
 
 13 
LISTA DE QUADROS E TABELAS 
 
Quadro 1. Papel de radicais livres em várias doenças. 44 
Tabela 1. Composição do meio Zarrouk utilizado para o cultivo de Arthrospira 
platensis. 
61 
Tabela 2. Valores utilizados no delineamento experimental para produção de 
biomassa e atividade antioxidante de Arthrospira platensis. 
63 
Tabela 3. Matriz de delineamento das corridas experimentais de cultivo de 
Arthrospira platensis. 
63 
Tabela 4. Matriz de planejamento experimental com duas variáveis de resposta, 
produção de biomassa seca e produtividade de Arthrospira platensis aos 18 
dias de cultivo. 
81 
Tabela 5. Matriz de planejamento experimental com três variáveis de resposta 
referentes a capacidade antioxidante do extrato aquoso de Arthrospira platensis 
pelos testes TEAC - ABTS, percentual de extinção do radical ABTS•- e TRAP. 
94 
Tabela 6. Matriz de planejamento experimental com três variáveis de resposta 
referentes a capacidade antioxidante do extrato metanólico de Arthrospira 
platensis pelos testes TEAC - ABTS, percentual de extinção do radical ABTS•- e 
TRAP. 
99 
Tabela 7. Faixa de capacidade antioxidante de extratos aquoso e metanólico, 
obtidos de biomassa de Arthrospira platensis produzida nas diferentes 
condições experimentais de cultivo, avaliada pelos testes TEAC - ABTS, 
extinção do radical ABTS•- e TRAP. 
103 
Tabela 8. Concentração de ficobiliproteínas determinada em extrato aquoso 
obitdo a partir da biomassa de Arthrospira platensis referentes às corridas 
experimentais de cultivo 6 e P e, expressa em mg% em biomassa seca. 
126 
 
 
 14 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AAPH 2,2’- azinobis-2-amidinopropano 
ABTS 2,2’-azinobis-3-etilbenzotiazolina-6-sulfónico 
ADP Adenosine diphosphate 
AIDS Acquired immune deficiency syndrome 
ANOVA Análise de variância 
Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
Atm Atmosfera 
ATP Adenosine triphosphate 
BHT Butil hidroxitolueno 
°C Grau(s) Celsius 
CAT Catalase 
CCRD Central composite rotatable design 
CPIR Cell proliferation inhibition rate 
DBN dibutil nitrosamina 
d.C. Depois de Cristo 
DMEM Dulbecco’s Modified Eagle Medium 
DMSO Dimetilsulfóxido 
DNA Deoxyribonucleic acid 
DO Densidade óptica 
DPPH 2,2-di(4-tert-octylphenyl)-1-picrylhydrazyl assay 
ERN Espécie(s) reativa(s) de nitrogênio 
ERO Espécie(s) reativa(s) de oxigênio 
ET Electron transfer based assays 
FAO Food and Agriculture Organization 
FDA Food and Drug Administration 
FITC Fluorescein isothiocyanate 
G Grama(s) 
G0 Estado de quiescência das células durante o ciclo celular 
G1 Primeira fase do ciclo celular 
G2 Segunda fase do ciclo celular 
GR Glutationa redutase 
GRAS Generally Recognized as Safe 
GSH-Px Glutationa peroxidase 
HAT Hydrogen atom transfer based assays 
 
 15 
HepG2 Linhagem de carcinoma hepatocelular humano 
HT-29 Linhagem celular de adenocarcinoma de cólon humano 
IARC International Agency for Research on Cancer 
Kg Quilograma 
L Litro(s) 
LDL Low-density lipoprotein 
m Metro(s) 
M Mitose 
min Minuto(s) 
mg Miligrama(s) 
mL Mililitro(s) 
mM Milimol(es) 
MTT brometo de 3-(4,5-dimetil-tiazol-2-il)-2,5-difenil-tetrazólio 
g Micrograma(s) 
m Micrometros(s) 
Mol Micromol(es) 
NADP(H) Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (reduzido) 
NASA National Aeronautics and Space Administration 
NK Natural killer 
nm Nanômetro(s) 
OMS Organização Mundial da Saúde 
pH Potencial de hidrogênio 
PBS Phycobilisome 
PSI (II) Photosystem I (II) 
RNA Ribonucleic acid 
s Segundo(s) 
Se-PC Ficocianina purificada contendo selênio 
SFB Soro fetal bovino 
SOD Superóxido dismutase 
Sub-G1 Sub-fase G1 (células hipodiploides) 
TEAC Trolox equivalent antioxidant capacity 
TRAP Total radical-trapping antioxidant paramenter 
UV Ultravioleta 
vvm volume de ar por volume de meio 
 
 
 16 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO 19 
2 OBJETIVOS 21 
2.1 OBJETIVO GERAL 21 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 21 
3 REVISÃO DA LITERATURA 22 
3.1 CIANOBACTÉRIAS 22 
3.1.1 Aspectos gerais de cianobactérias e microalgas 22 
3.1.2 Principais características de cianobactérias 24 
3.1.3 Produção de substâncias/compostos de interesse por cianobactérias 26 
3.1.4 Gênero Athrospira 27 
3.1.5 Utilização e consumo de cianobactérias 30 
3.1.6 Sustâncias/compostos produzidos por cianobactérias com atividade 
biológica 
32 
3.1.7 Modulação das condições de cultivos 36 
3.2 ESTRESSE OXIDATIVO EM ORGANISMOS VIVOS 39 
3.2.1 Radicais livres 39 
3.2.2 Doenças associadas ao estresse oxidativo 42 
3.2.3 Prevenção e tratamento do estresse oxidativo 46 
3.3 ANTIOXIDANTES 48 
3.3.1 Busca por novas substâncias antioxidantes 52 
3.3.2 Antioxidantes de organismos fotossintetizantes 53 
3.3.3 Determinação da capacidade antioxidante 54 
 
 
 
 17 
4 MATERIAL E MÉTODOS 59 
4.1 ORGANOGRAMA EXPERIMENTAL 59 
4.2 REAGENTES 59 
4.3 MICRO-ORGANISMO 60 
4.4 CONDIÇÕES E MODALIDADES DE CULTIVO 61 
4.5 AVALIAÇÃO DE CRESCIMENTO E PRODUÇÃODE BIOMASSA 64 
4.6 OBTENÇÃO DE EXTRATOS DAS BIOMASSAS 66 
4.7 DETERMINAÇÃO DE CAPACIDADE ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS 66 
4.8 ENSAIOS DE CITOTOXIDADE 69 
4.8.1 Cultura de células de adenocarcinoma de cólon humano 70 
4.8.2 Ensaio de viabilidade celular 73 
4.8.3 Ensaio de ciclo celular 74 
4.8.4 Ensaio de apoptose celular 75 
4.9 DETERMINAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS E 
FICOBILIPROTEÍNAS 
76 
4.10 ANÁLISE ESTATÍSTICA 78 
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 79 
5.1 CRESCIMENTO E PRODUÇÃO DE BIOMASSA DE ARTHROSPITA 
PLATENSIS 
79 
5.1.1 Produção de biomassa 80 
5.1.2 Produtividade 86 
5.2 CAPACIDADE ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS DE ARTHROSPIRA 
PLATENSIS EM FUNÇÃO DAS CONIÇÕES DE CULTIVO 
93 
5.2.1 Extrato Aquoso 93 
5.2.1.1 Capacidade antioxidante de extrato aquoso pelo teste TEAC – ABTS 93 
5.2.1.2 Capacidade antioxidante de extrato aquoso segundo percentual de 
extinção do radical ABTS•- 
95 
5.2.1.3 Capacidade antioxidante de extrato aquoso pelo teste TRAP 97 
 
 
 18 
5.2.2 Extrato Metanólico 98 
5.2.2.1 Capacidade antioxidante de extrato metanólico pelo teste TEAC - ABTS 99 
5.2.2.2 Capacidade antioxidante de extrato metanólico segundo percentual de 
extinção do radical ABTS•- 
100 
5.2.2.3 Capacidade antioxidante de extrato metanólico pelo teste TRAP 101 
5.3 ENSAIOS BIOLÓGICOS 109 
5.3.1 Efeito dos extratos de Arthrospira platensis sobre a viabilidade 
celular de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) 
109 
5.3.2 Efeito dos extratos de Arthrospira platensis sobre a progressão do 
ciclo celular de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) 
115 
5.3.3 Efeito dos extratos de Arthrospira platensis sobre a taxa de apoptose 
em células de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) 
119 
5.4 DETERMINAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS E 
FICOBILIPROTEÍNAS 
123 
5.4.1 Compostos fenólicos totais 124 
5.4.2 Ficobiliproteínas totais 126 
6 CONCLUSÃO 130 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS 132 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 133 
 
 19 
1 INTRODUÇÃO 
 
A transferência de elétrons é um dos processos químicos mais fundamentais para a 
sobrevivência das células. Entretanto, um efeito associado a este evento é a produção de 
radicais livres e outras espécies reativas de oxigênio que podem causar dano oxidativo 
(BAE et al, 1999). Quando a produção de radicais livres supera a capacidade antioxidante 
em um sistema vivo, espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio podem reagir com 
lipídios, proteínas e com o ácido desoxirribonucleico (DNA, do inglês deoxyribonucleic acid) 
conduzindo a dano estrutural e/ou funcional nas células, enzimas e material genético 
(BARREIROS; DAVID; DAVID, 2006). 
Danos aos componentes celulares podem resultar em disfunção de crescimento, 
diferenciação e morte celular, conduzindo ao desenvolvimento de inflamação e câncer. Os 
radicais livres são conhecidos por desempenhar um papel significativo na promoção da 
carcinogênese. O câncer está prestes a se tornar a principal causa de morbidade e 
mortalidade nas próximas décadas em todas as regiões do mundo (KANG et al, 2011). 
Em virtude de várias publicações terem mostrado a alta associação entre a geração 
de radicais livres e as doenças crônicas não transmissíveis, tem havido grande interesse por 
alimentos funcionais antioxidantes (GUARIENTI; BERTOLIN; COSTA, 2010). Estudos 
realizados com substâncias antioxidantes presentes na dieta demonstraram que é possível 
diminuir o risco de diversas doenças crônicas não transmissíveis (BRESSAN et al, 2009; 
SILVA et al, 2010). 
Organismos fotossintetizantes como plantas, macroalgas, microalgas e 
cianobactérias, são expostos a uma combinação de luz e altas concentrações de oxigênio 
durante a atividade fotossintética, o que leva à formação de radicais livres e outras espécies 
oxidativas. A ausência de danos oxidativos nesses organismos, apesar da proximidade 
entre o oxigênio formado na fotossíntese e os componentes do aparelho fotossintetizante, 
sugere que estes organismos possuam substâncias com atividade antioxidante, além de 
mecanismos próprios de proteção contra a oxidação (WANG et al, 2008). 
Dentre os organismos fotossintetizantes, as cianobactérias têm sido identificadas 
como um dos mais promissores grupos de organismos para descoberta e identificação de 
produtos naturais biologicamente ativos, incluindo substâncias com atividade antioxidante 
(SUHAIL et al, 2011; SHANAB et al, 2012). 
Algumas espécies de cianobactérias são cultivadas tanto para consumo direto como 
para inclusão em suplementos dietéticos. São utilizadas na alimentação humana devido às 
suas propriedades nutricionais como alto conteúdo proteico, presença de ácidos graxos 
essenciais e de vitaminas, e o seu consumo pode acarretar efeitos benéficos à saúde pela 
produção de metabólitos bioativos. A produção de suplementos alimentares contendo 
 20 
cianobactérias e uso de seus compostos extraídos vêm crescendo na indústria em todo o 
mundo (RELLÁN et al, 2009; JOHNSON et al, 2008). 
As condições ambientais que influenciam a síntese de substâncias em cultivos de 
microalgas e cianobactérias têm sido estudadas. Fatores como luz incidente, composição do 
meio de cultivo, temperatura, bem como os tipos de cultivo têm sido caracterizados (YU; JIA; 
DAÍ, 2009), a fim de melhorar a produção dos compostos de interesse por meio da 
manipulação das condições de cultivo. 
Considerando o que foi exposto anteriormente e, em vista do aproveitamento do 
potencial biotecnológico de cianobactérias como fonte de moléculas de interesse para uso 
em alimentos e/ou como medicamento, este trabalho teve por objetivo estudar a influência 
de condições de cultivo sobre a produção de biomassa da cianobactéria Arthrospira 
platensis e avaliar as atividades antioxidante e citotóxica, visando à produção de uma 
biomassa rica em compostos bioativos com potencial aplicação no desenvolvimento de 
alimentos funcionais. 
 21 
2 OBJETIVOS 
 
2.1 OBJETIVO GERAL 
 
Avaliar a influência de condições de cultivo sobre a produção de biomassa da 
cianobactéria Arthrospira platensis e as atividades antioxidante e citotóxica, visando à 
produção de uma biomassa rica em compostos bioativos com potencial para aplicação em 
alimentos. 
 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 
 Cultivar Arthrospira platensis em condições fotoautotróficas com diferentes 
concentrações de bicarbonato de sódio e nitrato de sódio sob diferentes irradiâncias e 
avaliar o crescimento e a produção de biomassa nas diferentes condições experimentais de 
cultivo. 
 
Produzir extratos em metanol e água a partir da biomassa de Arthrospira platensis 
cultivada nas diferentes condições experimentais e avaliar a capacidade antioxidante dos 
extratos produzidos. 
 
Avaliar a atividade citotóxica dos extratos metanólico e aquoso produzidos a partir da 
biomassa produzida na condição que apresentar maior produção de biomassa e melhor 
capacidade antioxidante, por meio da determinação da atividade dos extratos sobre a 
viabilidade, o ciclo e a progressão de morte celular de adenocarcinoma de cólon humano. 
 22 
3 REVISÃO DA LITERATURA 
 
3.1 CIANOBACTÉRIAS 
 
3.1.1 Aspectos gerais de cianobactérias e microalgas 
 
As cianobactérias foram inicialmente classificadas como algas, em função da 
similaridade entre o seu metabolismo fotossintético e o das plantas vasculares (FAY, 1983). 
O termo alga não corresponde a uma única categoria taxonômica, mas a uma gama muito 
ampla de organismos, abrangendo grande variabilidade morfológica, estrutural e metabólica, 
incluindo grupos procarióticos e eucarióticos (OLIVEIRA, 2003). Portanto, historicamente, as 
classificações precoces de cianobactérias foram construídas com critérios botânicos ao 
invés da utilização de critérios microbiológicos. Por consequência de tal fato, esses sistemas 
de classificação não refletiam as verdadeiras relações de evolução dentro de uma 
determinada linhagem (HENSON; WATSON;BARNUM, 2002). 
Na década de 60, começou a ser estabelecida uma distinção clara entre procariontes 
e eucariontes, com base nas diferenças observadas em relação à organização celular. A 
partir disso, o termo procariontes foi utilizado para designação dos organismos que não 
possuem compartimentos celulares, e o termo eucariontes para designar aqueles que 
possuem organelas definidas como núcleo, mitocôndria, lisossoma, assim como plastídios, 
no caso de eucariontes fotossintetizantes. Com isso, as algas verde-azuladas, que são 
desprovidas de compartimentos celulares, foram consideradas como integrantes do Reino 
Protista, e foi proposta a designação destes organismos como cianobactérias. Em 1974, 
esta nova designação foi aceita e considerada no Bergey’s Manual of Determinative 
Bacteriology (BUCHANAN; GIBBONS, 1974). Neste sentido, os representantes eucarióticos 
foram definidos como microalgas (BENEMANN, 1990). 
As cianobactérias apresentam morfologia bem parecida com a das bactérias e são 
mais próximas evolutivamente a estas que as microalgas eucariontes, contendo parede 
celular, membrana celular lipoprotéica, material genético e ribossomos. Além desses 
componentes básicos, possuem ainda membrana tilacóide, clorofila a, ficobiliproteínas e 
carotenóides. São micro-organismos cosmopolitas, sendo que a maioria se desenvolve em 
água doce. São também muito comuns junto aos recifes ou solo úmido, formando uma 
crosta escura (LEE, 1980). 
O número exato de espécies de cianobactérias e microalgas é desconhecido, 
entretanto, são encontradas citações relatando que podem existir entre 200.000 até alguns 
milhões de representantes destes grupos. Tal diversidade também se reflete na composição 
bioquímica e, desta forma, as cianobactérias e as microalgas são fonte de uma quantidade 
 23 
ilimitada de produtos (NORTON; ANDERSEN; MELKONIAN, 1996; PULZ; GROSS, 2004). 
Cabe ressaltar que algumas espécies sintetizam substâncias que podem ser altamente 
tóxicas para outras espécies de organismos, inclusive para o homem e demais animais. Os 
produtos oriundos de cianobactérias têm sido explorados comercialmente e são objetos de 
inúmeras pesquisas (TEIXEIRA, 2002), as quais estão relacionadas à produção de 
biomassa como fonte de compostos químicos de interesse, como clorofila, carotenóides, 
ficobiliproteínas, polissacarídeos e outros metabólitos biologicamente ativos, com uma 
diversidade de aplicações (BECHER et al, 2005; GARCÍA-GONZALEZ et al, 2005; LIMA-
ARAUJO et al, 2006; DAYANANDA et al, 2007). 
Aspectos de crescimento desses organismos no ambiente natural, assim como nos 
cultivos, é resultado da interação entre fatores biológicos, físicos e químicos. Os fatores 
biológicos estão relacionados às próprias taxas metabólicas da espécie cultivada, bem como 
com a possível influência de outros organismos sobre o desenvolvimento. Quanto aos 
fatores físico-químicos, são principalmente reportados estudos sobre iluminação, 
temperatura, salinidade e disponibilidade de nutrientes (YONGMANITCHAI; WARD, 1991; 
COSTA; COLLA; DUARTE FILHO, 2004; KEHOE; GUTU, 2006; MISHRA et al, 2012). 
Esses organismos podem ser cultivados em diversos sistemas de produção, os 
comumente empregados são pouco sofisticados, uma vez que muitas empresas 
desenvolvem cultivos a céu aberto, sob condições naturais de iluminação e temperatura, e 
com baixo ou nenhum controle destes parâmetros ambientais. (BOROWITZKA, 1999). Os 
cultivos também têm sido desenvolvidos em equipamento específico, denominado 
fotobiorreator, visando alcançar elevada produtividade, além de minimizar o risco de 
contaminação (LUO; AL-DAHHAN, 2004; ZIJFFERS et al, 2008). 
 Muitas das substâncias sintetizadas e acumuladas pelas cianobactérias e microalgas 
são também encontradas nas plantas, as quais evoluíram das algas verdes ou clorófitas 
(RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007). Entretanto, a produção desses micro-organismos 
pode ser justificada por apresentar diversas vantagens, dentre as quais podem ser 
destacadas: o cultivo microbiano é um sistema biológico eficiente na utilização da energia 
solar para a produção de matéria orgânica, sendo que muitas espécies crescem mais 
rapidamente do que as plantas terrestres, fato que possibilita maiores rendimentos anuais 
de biomassa, logo, maior produtividade; sua natureza unicelular assegura uma biomassa 
com mesma composição bioquímica, o que não ocorre com as plantas terrestres que 
apresentam substâncias localizadas em partes específicas: nos frutos, folhas, sementes ou 
raízes; por manipulação das condições ambientais de cultivo, como luz, temperatura e 
nutrientes, muitas espécies podem ser induzidas a sintetizar e acumular altas concentrações 
de proteínas, carboidratos e lipídios, que apresentam elevado valor comercial, e são 
 24 
organismos que podem crescer bem em regiões com extremas condições climáticas 
(RICHMOND, 1988; DANESI et al, 2011). 
 
3.1.2 Principais características de cianobactérias 
 
 As cianobactérias possuem elevada diversidade morfológica, estrutural e fisiológica, 
necessária para adaptação a uma ampla gama de parâmetros ambientais (MUNDT et al, 
2001). Esses organismos apresentam membrana celular lipoprotéica, ribossomos, material 
genético, parede celular, membrana tilacóide, ficobiliproteínas, clorofila a e carotenoides, 
dentre outros componentes. Podem viver em condições inóspitas desde águas de fontes 
termais até lagos gelados, e apenas não sobrevivem em águas ácidas (LEE, 1980; RAVEN; 
EVERT; EICHHORN, 2007). 
As cianobactérias constituem um grupo diverso de micro-organismos procarióticos 
fotossintetizantes que realizam a fotossíntese com utilização de oxigênio, mediante um 
mecanismo bastante similar ao utilizado por plantas superiores. A fotossíntese requer a 
ação coordenada dos fotossistemas I e II (PSI e PSII, do inglês photosystem I e 
photosystem II) para gerar o potencial eletroquímico necessário à extração de elétrons da 
água, produzindo o oxigênio (FLORES; HERRERO, 2010), sendo que as cianobactérias são 
o único grupo procarionte fotossintético que apresenta ambos os fotossistemas (NISBET; 
SLEEP, 2001). 
 A estrutura básica do PSI e PSII é semelhante e combinados promovem a 
transferência de elétrons coordenada da água para ferredoxina para gerar equivalentes 
redutores e trifosfato de adenosina (ATP, do inglês adenosine triphosphate) para a fixação 
de CO2. Na fotossíntese oxigênica, o PSII oxida a água no lado do lúmen e reduz 
plastoquinona no lado citoplasmático da membrana tilacóide. Já o PSI oxida plastocianina 
ou citocromo c6 no lado do lúmen e reduz ferredoxina no lado citoplasmático (WATANABE 
et al, 2011). 
 Em cianobactérias há dois tipos de sistemas-antena, responsáveis pela captação da 
luz, um constituído pelas ficobiliproteínas e o outro constituído por moléculas de clorofila a 
associadas a complexos protéicos de membrana. As ficobiliproteínas estão organizadas em 
uma estrutura chamada de ficobilissoma (PBS, do inglês phycobilisome), complexos 
protéicos que se encontram ligados à membrana tilacóide e possuem a função de captação 
de luz. Essa estrutura em contato com o PSII forma o complexo PBS-PSII, para onde 
transfere a maior parte da sua energia de excitação (BALD; KRUIP; RÖGNER, 1996). 
 Nos tilacóides, os pigmentos fotossintéticos do PSI e do PSII absorvem energia 
luminosa, impulsionando um fluxo acíclico de elétrons no qual a água é o doador primário de 
 25 
elétrons e o NADP+ é o aceptor final, adicionalmente ao fluxo cíclico de elétrons. Alguns 
componentes da cadeia transportadora de elétrons fotossintética são compartilhados com a 
cadeia transportadora de elétrons respiratória. Desta forma, elétrons provenientes de 
coenzimas reduzidas (NADPH), gás hidrogênio (H2) ou succinato, fluem conjuntamente com 
os elétrons provenientes do PSII através das plastoquinonas, do citocromo b6f e daplastocianina, sendo finalmente doados para o PSI ou para a oxidase terminal, sendo que 
esses eventos resultam na redução de NADP+ ou O2, respectivamente (PAUMANN et al, 
2004) (Figura 1). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Principais complexos fotossintéticos da membrana tilacóide de cianobactérias. 
PSI: Fotossistema I; PSII: Fotossistema II; Pe: Ficoeritrina; Pc: Ficocianina; Ap: aloficocianina. 
Fonte: Adaptado de Sözer (2011). 
 
 A energia para os processos metabólicos é fornecida pela fosforilação de difosfato 
de adenosina (ADP, do inglês adenosine diphosphate) via enzima ATP sintase, bem como a 
redução de NADP+ devido ao transporte de elétrons fotossintético e respiratório (KRANZ; 
EICHNER; ROST, 2011). Cianobactérias geralmente utilizam CO2 como principal fonte de 
carbono (QIU; GAO, 2001). O mecanismo de fixação de CO2 é baseado em experimentos 
com cianobactérias de espécies Synechoccoccus PCC7942 e PCC6803, Synechocystis e 
Synechococcus PCC7002. Central ao funcionamento deste mecanismo está o 
carboxissoma, um micro-compartimento de proteína no interior da célula que contém a 
enzima 1,5-bifosfato carboxilase/oxigenase (Rubisco) e a anidrase carbônica. A função da 
anidrase carbônica é converter o HCO3
- acumulado no citosol em CO2, dentro do 
carboxissoma, sendo necessários transportadores específicos localizados nas membranas 
 26 
plasmática e tilacóide. A Rubisco, então, realiza a fixação do CO2. (ESPIE; KIMBER, 2011; 
PRICE, 2011). 
A clorofila a que está presente nas cianobactérias até 2005 era considerada como o 
único tipo de clorofila nestes micro-organismos, quando então Larkum e Kühl (2005) 
descreveram a ocorrência de clorofila d na cianobactéria marinha Acaryochloris marina. A 
clorofila a está presente no centro de reação fotossintética, integrando a antena de captação 
de energia luminosa e participando do processo fotoquímico (LONDE; NOVO; CALIJURI, 
2005; SEKAR; CHANDRAMOHAN, 2008). 
As ficobiliproteínas são compostos formados por uma fração protéica associada a um 
cromóforo denominado bilina (BOLD; WYNNE, 1985). As bilinas são cadeias de tetrapirróis 
que estão covalentemente ligadas a uma apoproteína por ligações tioéter a resíduos de 
cisteína. Nas cianobactérias foram identificados quatro tipos diferentes de bilinas: 
ficocianobilina, ficoeritrobilina, ficourobilina e ficoviolobilina. As biliproteínas absorvem 
radiação em regiões do espectro visível onde a clorofila a tem baixa absorção. Quando a 
energia absorvida pelas biliproteínas dos ficobilissomas alcança o centro de reação do PSII, 
ocorre a conversão da energia de excitação para energia química. É importante que as 
biliproteínas absorvam fótons em uma vasta faixa de energias (MACCOLL, 1998). 
Nas cianobactérias, a aloficocianina (azul) e a ficocianina (azul) estão sempre 
presentes e a ficoeritrina (vermelha) é encontrada em apenas algumas. A energia luminosa 
absorvida pela ficoeritrina migra em seguida para a ficocianina, e depois para a 
aloficocianina e finalmente para a clorofila a. As estruturas das ficobiliproteínas são similares 
na maioria das cianobactérias. A ficocianina é o principal constituinte dos ficobilissomas 
enquanto que a aloficocianina funciona como pigmento ponte entre os ficobilissomas e 
lamelas fotossintéticas (PRASANNA et al, 2010). 
 
3.1.3 Produção de substâncias/compostos de interesse por cianobactérias 
 
Programas visando à descoberta de compostos bioativos de algas e cianobactérias 
tem demonstrado que as mesmas representam recursos naturais pouco explorados, com 
produção de uma variedade de metabólitos secundários, que mostram semelhanças com 
produtos oriundos de animais e plantas. Nestes programas, o foco tem sido identificar 
metabólitos antifúngicos, antivirais, antibacterianos, antimitóticos, antihelmínticos, 
anticoagulantes, hemaglutinantes e tóxicos. Os metabólitos das cianobactérias também têm 
sido avaliados como compostos bioativos, empregados em farmacologia ou em diagnósticos 
(PRASANNA et al, 2010), como é o caso das ficobiliproteínas, pigmentos fluorescentes, que 
são estudados atualmente por suas atuações como corantes naturais, como agentes 
fluorescentes em sistemas de detecção (por exemplo, citrometria de fluxo) e quanto às suas 
 27 
ações farmacológicas. As ficobiliproteínas comercializadas possuem preços que podem 
variar de 5.000 a 33.000 dólares por grama (SEKAR; CHANDRAMOHAN, 2008). 
 As cianobactérias têm sido identificadas como um dos mais promissores grupos de 
organismos para descoberta e identificação de produtos naturais biologicamente ativos 
(SINGH; KATE; BANERJEE, 2005), pois produzem metabólitos secundários com distintas 
atividades biológicas, como as que já foram citadas anteriormente. A presença de 
substâncias com atividade antioxidante em cianobactérias foi confirmada nos trabalhos de 
Lima Araújo et al (2006), Wang et al (2007) e Pandey e Pandey (2008). 
Portanto, esta constitui uma área relativamente inexplorada, uma vez que o número 
de espécies de cianobactérias e microalgas ainda é desconhecido, entretanto, são 
encontradas citações relatando que podem existir alguns milhões de representantes destes 
grupos e esta diversidade também se reflete na composição bioquímica e em uma 
quantidade ilimitada de produtos metabólicos (NORTON; ANDERSEN; MELKONIAN, 1996; 
PULZ; GROSS, 2004). 
 
3.1.4 Gênero Athrospira 
 
 O gênero Arthrospira (ordem Oscillatoriales) constitui o grupo de cianobactérias 
filamentosas caracterizadas por uma cadeia de células na forma de espiral ou helicoidal 
(Figura 2) e envolvidas por uma bainha fina, cujas paredes transversas podem ser vistas 
sob microscopia ótica (GUGLIELMI; RIPPKA; TANDEAU DE MARSAC, 1993; MORAES et 
al, 2013). Embora o gênero Arthrospira tenha sido oficialmente incluído no Bergey’s Manual 
of Systematic Bacteriology em 1989 (CASTENHOLZ, 1989), as espécies Arthrospira maxima 
e Arthrospira platensis, as duas espécies mais importantes, que são cultivadas em nível 
industrial em diversas regiões do mundo, são frequentemente referidas como Spirulina 
maxima e Spirulina platensis, e a biomassa destas cianobactérias é comercializada com a 
denominação de ‘spirulina’ (LIMA ARAÚJO; FACCHINETTI; SANTOS, 2003). Esta 
designação é adotada, de fato, sem consideração do sentido taxonômico, e tem significado 
prático e tradicional. Portanto, deve-se sempre ter em mente que o produto comercial, e que 
é utilizado como suplemento alimentar, trata-se na verdade da biomassa cultivada de 
cianobactérias do gênero Arthrospira, que difere do gênero Spirulina. O posicionamento de 
separação em dois gêneros distintos é adotado por vários autores (ANAGNOSTIDIS; 
KOMAREK, 1988; GUGLIELMI; RIPPKA; TANDEAU DE MARSAC, 1993; RIPPKA; 
WATERBURY; STANIER, 1981; SCHELDEMAN et al, 1999). 
 
 
 
 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2. Filamentos helicoidais ou espirais da Arthrospira platensis. 
Fonte: Henrikson (1989). 
 
 O gênero Arthrospira apresenta as seguintes características morfológicas: arranjo 
dos seus tricomas cilíndricos multicelulares, com seções perpendiculares bastante visíveis e 
com formato helicoidal característico por toda a extensão dos filamentos. Os filamentos ou 
tricomas, envoltos numa espécie de capa, demonstram algumas constrições, comprimento 
próprio que varia de 2 a 10 μm e 5 a 6 μm de diâmetro, formando uma hélice que pode 
variar de 30 a 70 μm de raio num comprimento do filamento de aproximadamente 200 – 300 
μm. A propósito, o formato helicoidal é bastante influenciado pelos fatores ambientais, 
tomando um aspecto espiralado principalmente em meio sólido (VONSHAK, 1997; SPILLER 
et al, 2001). 
 A fissão binária de suas células vegetativas ou fragmentação caracterizam sua 
reprodução, possuindo flutuação livre e uma estrutura celular típica de organismos 
procariontes, ou seja,com seu núcleo desprovido de membrana, sendo preenchida por 
citoplasma que contém grânulos de poliglicanos e vacúolos gasosos. Ainda podem ser 
encontradas fibrilas e pequenas porções lipídicas. As membranas tilacóides estão na região 
periférica e central do citoplasma, arranjadas paralelamente entre si e o sentido longitudinal 
do filamento. As áreas sem tilacóides, além da baixa densidade eletrônica, possuem 
ribossomos e fibrilas de DNA (VONSHAK, 1997). 
As espécies de gênero Arthrospira podem ser cultivadas autotrofica, bem como 
heterotroficamente. As temperaturas ideais para o cultivo são 32 a 45°C. Elas também 
podem sobreviver a temperaturas de 60 a 70°C, mas o crescimento não foi observado a 
temperaturas menores que 18°C e, devido a isso, o cultivo dessas cianobactérias só é 
possível em regiões tropicais e subtropicais, ou em tanques com sistema de 
controle/regulação de temperatura (MIKLASZEWSKA, WALERON; WALERON, 2008). 
As cianobactérias do gênero Arthrospira são alcalófilas, o pH ótimo para o seu 
crescimento fica em torno de 8,5 a 10,5. A alta alcalinidade do meio ambiente é favorável 
para manter a pureza microbiológica durante o seu cultivo comercial. Outro fator importante 
 29 
é uma composição química apropriada de meio de crescimento, é reconhecida a 
necessidade de que são essenciais elevadas concentrações de íons sódio e carbonato 
(VONSHAK; TOMASELLI, 2000). 
 Além disso, a intensidade luminosa também é essencial, sendo considerada ótimo 
para crescimento uma intensidade de 120 a 200 μMol fótons.m2.s-1, o que corresponde de 
10 a 15% do total de intensidade da radiação solar em comprimentos de onda de 400 a 700 
nm (MIKLASZEWSKA, WALERON; WALERON, 2008). 
 Durante séculos, os povos tribais colheram A. platensis do Lago Chade na África e 
Texcoco Lake no México para uso como fonte de alimento (VONSHAK, 1997), assim como 
em várias partes do mundo, como China, Índia, América do Norte, Peru, Japão e outros 
(MORAES et al, 2013), fato que significa que Spirulina merece uma atenção especial, como 
uma fonte de proteína unicelular e por causa de suas propriedades nutracêuticas. Esta 
cianobactéria também foi utilizada em programas espaciais, sendo recomendada pela 
National Aeronautics and Space Administration (NASA) como suplemento alimentar primário 
durante as missões (KARKOS et al, 2008). O gênero Arthrospira é considerado pela FDA 
(Food and Drug Administration) como seguro (GRAS, do inglês Generally Recognized as 
Safe), o que permite seu uso em alimentos sem risco para a saúde (FDA, 2003; MORAES; 
BURKERT; KALIL, 2010). No Brasil, pesquisas estão sendo conduzidas para sua utilização 
como aditivo alimentar em diferentes produtos (MORAIS; MIRANDA; COSTA, 2009; PEREZ 
et al, 2007) e ainda na merenda escolar, devido a um projeto de pesquisadores do Sul, com 
parcerias entre os setores público e privado (MORAIS; MIRANDA; COSTA, 2009). 
 A biomassa de cianobactérias do gênero Arthrospira (spirulina), contém 
aproximadamente 60 a 70% de proteína, caracterizada como proteína de alta qualidade 
contendo aminoácidos essenciais para nutrição humana: histidina, isoleucina, leucina, lisina, 
metionina, fenilalanina, triptofano, treonina e valina (BELAY, 2008). Estudos nutricionais 
mostram que estes micro-organismos têm um dos mais altos teores de proteína já 
encontrado, de alto valor nutricional, boa digestibilidade, e todos os aminoácidos essenciais 
nas proporções recomendadas pela Food and Agriculture Organization (FAO), com exceção 
de metionina (LEON et al, 2010). Apesar do elevado valor biológico, existe uma 
preocupação em relação à ingestão de biomassa microbiana – o alto teor de ácidos 
nucleicos, que no caso de Arthrospira é de no máximo 6% como citado no trabalho de Lima 
Araújo, Facchinetti e Santos (2003). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância 
Sanitária (Anvisa), a ingestão máxima diária de purinas de fontes não convencionais deve 
ser de 2 g (BRASIL, 2008); considerando que Spirulina teria 6 % de ácidos nucleicos, a 
quantidade máxima dessa cianobactérias que poderia ser ingerida por dia seria 30 g, o que 
equivale a 3 colheres de sopa. 
 30 
 Os carboidratos e lipídios compõem, respectivamente, 8 a 16% e 4 a 9% da matéria 
seca (BECKER, 2007). Cianobactérias pertencente ao gênero Arthrospira também são uma 
rica fonte de numerosos microelementos, tais como cálcio, ferro, fósforo, iodo, magnésio, 
zinco, selênio, cobre, manganês, cromo, potássio, e sódio. Também foi demonstrado que 
Arthrospira platensis é uma fonte rica em vitaminas hidrossolúveis do complexo B, em 
particular B12 e vitaminas lipossolúveis D, A, E (ESTRADA; BESCÓS; FRESNO, 2001). 
Além disso, essas cianobactérias contem quantidades significativas de ácidos graxos 
insaturados, incluindo os ácidos linolênico (ω-3) e linoleico (ω-6), particularmente benéficos 
para a saúde humana (BELAY, 2008). Outros compostos importantes da biomassa dessas 
cianobactérias são pigmentos (ficocianinas, clorofilas, carotenoides, principalmente β-
caroteno) (DESMORIEUX; DECAEN, 2005), compostos fenólicos, tocoferol, todos estes 
reconhecidos por fortes propriedades antioxidantes (ANDRADE; CAMERINI; COSTA, 2008; 
COLLA; FURLONG; COSTA, 2007). 
Alguns aspectos técnicos da produção de Arthrospira (spirulina) têm vantagens em 
relação a outros micro-organismos fotoautótrofos, tais como a sua fácil colheita do meio de 
cultura, devido à sua forma em espiral e ao maior tamanho (diâmetro de 10 μm e 
comprimento de dezenas a centenas de μm). A produção de biomassa pode variar de 
acordo com o meio de cultura utilizado e as condições do meio ambiente externo 
(REINEHR, 2001). A extração dos compostos nutricionalmente ativos na forma pura é cara, 
mas o consumo direto da biomassa como um alimento nutracêutico é uma alternativa viável. 
Condições de cultivo otimizadas para produção de biomassa e produtividade são 
normalmente utilizadas na produção comercial de Arthrospira (spirulina) sem considerar a 
composição química da biomassa, mas as concentrações mais elevadas de compostos 
potencialmente úteis também podem ser obtidas por manipulação das condições de cultivo 
(COLLA et al, 2007). 
 
3.1.5 Utilização e consumo de cianobactérias 
 
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, suplementos dietéticos e/ou 
alimentos naturais estão se tornando cada vez mais populares, na crença de que eles 
podem complementar a dieta normal ou compensar a ingestão alimentar deficiente. Dentre a 
grande variedade de suplementos alimentares disponíveis, aqueles que contêm as 
cianobactérias são bem conhecidos devido a benefícios à saúde relatados por fabricantes e 
vendedores (RELLÁN et al, 2009). Além disso, as características nutricionais de 
cianobactérias têm sido reconhecidas por algumas populações há bastante tempo, quer 
para consumo humano ou animal (SPOLAORE et al, 2006), sendo utilizadas como alimento 
 31 
ou medicamento pelo homem em países da Ásia, África e América do Sul durante séculos 
(QIU; LIST; KOPCHICK, 2005; JOHNSON et al, 2008). 
Cianobactérias têm sido amplamente estudadas por vários motivos, dentre as quais 
a produção de biomassa como fonte de compostos químicos de interesse, como clorofila, 
carotenoides, ficobiliproteínas, polissacarídeos e outros metabólitos biologicamente ativos, 
com aplicação em estudos de descoberta de novos fármacos (BECHER et al, 2005; 
DAYANANDA et al, 2007; GARCÍA-GONZALEZ et al, 2005). No que se refere à produção 
de substâncias com aplicação como aditivos em tecnologia de alimentos, atenção especial 
deve ser dada às ficobiliproteínas e aos compostos com ação antioxidante, presentes na 
biomassa de diversas cianobactérias (LIMA-ARAUJO et al, 2006). 
Para a nutrição humana, cianobactérias podem ser comercializadas na forma de 
tabletes, cápsulas ou líquidos. Elas podem ser incorporadas em massas, biscoitos, balas ou 
gomas e embebidas. Cianobactérias do gênero Arthrospira são as mais comumente 
utilizadas na alimentação humana. Os principais países que produzem alimentos contendo 
Arthrospira são China e Índia e os produtos são vendidos para, aproximadamente, 20 países 
do mundo (SPOLAORE et al, 2006). Na África e na América do Sul, as cianobactérias do 
gênero Arthrospira tem sido usadas por milhares de anos e ainda são consumidas. No 
Chade, país do centro-norte da África, estas cianobactérias são colhidas diretamente de 
lagos locais (por exemplo, Lago Kossorom), secas ao sol e depois vendidas nos mercados 
como bolos secos ou como Dihé, um molho à base de Spirulina, salsa e pimenta, utilizado 
para acompanhar preparações à base de milho, carnes e peixes (ABDULQADER; 
BARSANTI; TREDICI, 2000; BERTOLDI; SANT’ANNA; BARCELOS OLIVEIRA, 2008; 
HABIB et al, 2008). A. platensis (S. platensis) é a espécie de cianobactéria mais comumente 
usada para consumo humano e, alegadamente tem propriedades antioxidantes, 
antiinflamatório e hipolipemiante (TINIAKOS; VOS; BRUNT, 2010). 
A cianobactéria do gênero Nostoc sp. também tem sido usada como produto 
alimentar não processado por mais de mil anos na China, onde é comercializado em sua 
forma seca. Além de ter qualidades nutricionais, Nostoc tem valor ''medicinal", bem como 
''espiritual" reconhecido por seus consumidores (RELLÁN et al, 2009). A espécie Nostoc 
commune var. sphaeroides Kützing, também tem uma longa história de consumo humano 
para fins medicinais, citando-se propriedades como hipocolesterolêmico e anti-inflamatório, 
contra cegueira noturna, facilitadora da digestão, e como auxilio na melhora da fadiga 
crônica (QIU et al, 2002). Nostoc commune é rica em fibras e proteínas, podendo 
desenvolver um papel importante, fisiológico e nutricional, na dieta humana (ABED; 
DOBRETSOV; SUDESH, 2009). 
Nas montanhas do Peru, colônias de Nostoc commune são coletadas nos lagos 
pelos povos indígenas, sendo chamadas llullucha. São consumidas localmente, negociadas 
 32 
por milho, ou vendidas, eventualmente, nos mercados populares de Cusco e de outras 
cidades vizinhas. Ao longo do planalto peruano, Nostoc commune é altamente importante 
como um item sazonal da dieta, sendo consumido sozinho, ou em picante - um ensopado 
local - e diz-se ser altamente nutritivo, tradicionalmente é servido com arroz como uma 
refeição matinal. Quando adicionado a pratos cozidos, Nostoc é adicionado nos 5 minutos 
finais do cozimento, e quando cru é consumido com sal ou em saladas com sementes de 
tarwi cozido e ervas (JOHNSON et al; 2008). Também na China, Nostoc commune, é 
consumido desde o século III d.C., sendo chamado pelos chineses de Ge-Xian-Mi, é 
vendido de 70 a 120 dólares por quilo de peso seco como um aditivo para sopas ou um 
prato principal para ser frito com carne, especialmente pato (QIU et al, 2002). 
 
3.1.6 Sustâncias/compostos produzidos por cianobactérias com atividade biológica 
 
Muitas pesquisas têm sido realizadas nesta área, nas quais novas substâncias foram 
identificadas, distintas atividades encontradas a partir do estudo de diferentes espécies de 
cianobactérias, inclusive espécies do gênero Arthrospira. Alguns desses trabalhos são 
sucintamente apresentados neste tópico. 
Estudos realizados com a cianobactéria Nostoc flagelliforme mostraram que essa 
espécie produz nostoflan, um polissacarídeo que apresenta eficiente atividade antiviral 
contra 6 espécies de vírus, entre eles os vírus de Influenza e Herpes (KANEKIYO et al, 
2005; 2007). Uma outra pesquisa apontou uma nova lectina, extraída da cianobactéria 
Microcystis aeruginosa PCC 7806, denominada microvirin, que apresenta estrutura 
molecular similar a cianovirina-N com propriedade antiviral contra o vírus da AIDS, e seu uso 
combinado a outros antivirais sintéticos poderá ser uma opção de proteção e tratamento em 
um futuro próximo (HUSKENS et al, 2010). Descoberta em 1997, a cianovirina-N é uma 
proteína produzida pela cianobactéria Nostoc ellipsosporum que apresentou atividade 
antiviral contra o vírus da SIDA (BOYD et al, 1997), eficiente atividade contra diferentes tipos 
de vírus da Influenza (O’KEEFE et al, 2003; SMEE et al, 2008), além de atividade antiviral 
contra o vírus da hepatite C (HELLE et al, 2006) e contra o vírus Herpes simplex -tipo 1 
(TIWARI; SHUKLA; SHUKLA, 2009). 
Substâncias produzidas por diferentes cianobactérias têm demonstrado atividade 
anticâncer por mecanismos distintos. Criptoficina, substância produzida por Nostoc sp. 
apresentou para diferentes tipos de câncer atividade antineoplásica, citotóxica, antimitótica, 
sendo esta última comparada a outras drogas antineoplásicas sintéticas e, em alguns casos, 
criptoficina apresentou melhor eficiência (KESSEL; LUO, 2000). Um pigmento isolado de 
cianobactérias marinhas Stigonema sp. denominado scitonemina foi descrito pela primeira 
 33 
vez como molécula inibidora da pólo-quinase 1, uma enzima regulatória do ciclo celular, 
sendo caracterizado como um agente antiproliferativo não tóxico, e com estrutura química 
suscetível a modificações para desenvolver novos produtos terapêuticos no tratamento de 
desordens hiperproliferativas (STEVENSON et al, 2002). Pesquisas realizadas com as 
espécies Nostoc PCC 7120 e Nostoc punctiforme PCC 73102 identificaram a produção de 
três diferentes sesquiterpenos: β-elemeno, germacremo D, (E, E)-germacradiene-11-ol que 
também apresentam atividade antiparasitária, incluindo atividade antimalarial (AGGER et al, 
2008). 
Um lipopolissacarídeo (CyP) produzido pela cianobactéria Oscillatoria planktothrix 
FP1 apresentou atividade antiinflamatória, caracterizada por sua ação antagonista seletiva a 
lipolissacarídeos bacterianos gram-negativos que provocam sepse, sendo considerado 
pelos resultados do estudo, um agente terapêutico capaz de modular resposta imune inata e 
adaptativa, ressaltando o seu potencial terapêutico (MACAGNO et al, 2006). Um extrato 
lipídico de Nostoc commune revelou capacidade inibitória da biossíntese de colesterol e 
ácidos graxos, efeito que pode ser benéfico quando este micro-organismo é consumido, pois 
reduz o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas (RASMUSSEN et al, 2008). 
A atividade antioxidante do extrato metanólico de Spirulina maxima foi determinada 
in vitro em células de cérebro homogeneizadas e in vivo em plasma e fígado de ratos. A 
partir dos resultados pôde-se concluir que o extrato é capaz de proteger contra a oxidação, 
tanto in vitro quanto in vivo (MIRANDA et al, 1998). 
Estrada, Bescós e Fresno (2001) em num estudo sobre purificação e caracterização 
do extrato protéico de Spirulina platensis demonstraram a propriedade antioxidante frente ao 
radical hidroxil deste extrato e, com seus resultados ratificaram a capacidade antioxidante 
apresentada pelas ficobiliproteínas, principalmente a ficocianina extraída de S. platensis. O 
extrato proteico de Spirulina maxima, contendo principalmente ficocianina, foi estudado e 
analisou-se sua capacidade de proteção contra teratogenia induzida por hidroxiuréia em 
embriões de camundongos. De acordo com os resultados, o extrato protéico pôde prevenir a 
incidência das alterações provocadas por hidroxiuréia, que interfere no desenvolvimento 
cranofacial e formação do tubo neural, provocando um desenvolvimento anormal do 
embrião. Essa proteção está relacionada à propriedade antioxidante do extrato protéico, que 
possui como principal componente a ficocianina (VÁZQUEZ-SÁNCHEZ et al, 2009). 
 Recentemente, o potencial clínico de Spirulina, como fonte de ficocianobilina foi 
investigado e verificou-se que a ficocianorubina, cuja forma reduzida é a depicocianobilina, é 
um antioxidante importante e pode ser um potencial agente terapêutico no tratamento de 
doenças oxidativas induzidas pelo estresse. Ficocianorubina pode inibir a formação de 
radicais O2
•- por NADPH oxidase e desempenhar outras funçõesde proteção através da 
redução da produção de ERO no corpo (RICHA et al, 2011). 
 34 
Ravi et al (2010) ressaltaram, entre outros efeitos da Spirulina, a estimulação da 
produção de citocinas e anticorpos, a promoção da atividade de macrófagos, linfócitos T e 
B, incluindo principalmente as células Natural killer (NK). Dados expostos pelo mesmo 
trabalho relataram que o pigmento ficocianina exerceu atividade modulatória do sistema 
imune por meio de um efeito inibitório sobre a liberação de histamina pelos mastócitos 
durante a resposta alérgica. Além disso, esse pigmento também suprimiu o crescimento de 
células tumorais, promovendo a atividade das células NK e induzindo linfócitos do baço a 
produzirem o fator de necrose tumoral TNF-α. 
Um estudo de investigação sobre Spirulina fusiformis (S. platensis) quanto suas 
propriedades biológicas, especialmente atividade antiinflamatória, avaliou o efeito da 
administração oral em camundongos com artrite induzida (estabelecida como modelo de 
artrite reumatóide). A administração oral de S. fusiformis alterou as condições físicas 
(volume da pata e peso corporal) e bioquímicas (marcadores bioquímicos específicos) 
observadas nos camundongos com artrite, apresentando valores próximos às condições 
normais do grupo controle. S. fusiformis foi capaz de suprimir as mudanças causadas pela 
artrite induzida e a atividade antiinflamatória, segundo os autores, foi atribuída as 
propriedades antioxidantes de β-caroteno, vitaminas C e E e outros micronutrientes 
presentes na biomassa de que S. fusiformis (RASSOL; SABINA; LAVANYA, 2006). 
 Um estudo investigou a capacidade de Spirulina sp. proteger a atividade proliferativa 
de células tronco neurais do hipocampo de uma resposta inflamatória aguda induzida por 
LPS (lipopolissacarídeo bacteriano) por ativação de vias pró-inflamatórias. Ratos jovens 
foram alimentados com uma dieta controle e com uma dieta experimental suplementada 
com 0,1% de Spirulina sp. por 30 dias. Os resultados mostraram que Spirulina sp. foi capaz 
de anular os efeitos negativos da inflamação induzida por LPS na função de células 
progenitoras neurais mantendo a capacidade proliferativa dessas células na resposta 
inflamatória aguda. Segundo os pesquisadores, uma dieta enriquecida com Spirulina sp. 
auxilia a regulação dessa resposta inflamatória, importante para diferentes tipos de doenças 
(BACHSTETTER et al, 2010). 
Oropeza et al (2009), revisando o efeito dietético da spirulina na reatividade vascular, 
em anéis de aortas extirpadas de ratos Wistar magros e obesos, relataram que a 
cianobactéria modula a síntese e a liberação de compostos bioativos pelo endotélio, 
promovendo vasodilatação pela síntese e liberação de óxido nítrico e do eicosanóide 
vasodilatador prostaciclina, sobrepondo-se à síntese de eicosanóides vasoconstritores, 
como prostaglandina H2 e tromboxano. No estudo de Mridha et al (2010), foi evidenciado 
que ratos alimentados com 150 mg.kg-1 de spirulina apresentaram diminuição 
estatisticamente significante dos níveis de glicose sanguínea após 28 dias de tratamento; o 
resultado foi mais acentuado para Spirulina do que para o medicamento hipoglicemiante 
 35 
glibenclamida. Esse resultado foi observado para dois tipos de dietas fornecidas, sendo uma 
com alta quantidade de açúcar e outra uma dieta normal de laboratório. 
 Um estudo demonstrou que ratos alimentados com spirulina absorveram 60% mais 
ferro do que os que utilizaram o suplemento sulfato ferroso (HABIB et al, 2008). Já para 
humanos, o trabalho recente de Selmi et al (2011), conduzido com quarenta voluntários de 
ambos os sexos, de cinquenta anos ou mais, que não possuíam histórico de doenças 
crônicas, evidenciou um aumento constante dos valores médios de hemoglobina 
corpuscular média em indivíduos de ambos os sexos. Além disso, o volume corpuscular 
médio e a concentração de hemoglobina corpuscular média também aumentaram em 
participantes do sexo masculino. As mulheres com mais idade pareceram se beneficiar mais 
rapidamente da suplementação de spirulina. Os pacientes não faziam utilização de 
suplemento férrico medicamentoso e foram avaliados no início e após seis e doze meses de 
tratamento. O trabalho também avaliou a influência da suplementação de spirulina na função 
imunológica, e teve como conclusão que a spirulina pode melhorar a anemia e 
imunossenescência em indivíduos com mais idade (HABIB et al, 2008). Pesquisadores 
investigaram o efeito quimiopreventivo de S. platensis contra toxicidade no fígado de rato e 
carcinogênese induzida por precursores de dibutil nitrosamina (DBN) e o seu mecanismo de 
ação em células de hepatocarcinoma (HepG2). O tratamento com S. platensis reduziu a 
incidência de hepatocarcinoma para 20% no grupo de ratos expostos a DBN. Os resultados 
demonstraram que S. platensis pode prevenir o início de desenvolvimento de tumor induzido 
por DBN. Os autores afirmam que apesar dos resultados promissores mais estudos 
precisam ser realizados para comprovar a eficácia do tratamento e, para que possa ser 
utilizado em pacientes humanos que não tiveram bons prognósticos de hepatocarcinoma 
com tratamentos convencionais (ISMAIL et al, 2009). 
 Um estudo de revisão realizado sobre potencial nutricional e terapêutico de Spirulina 
reforça que esta cianobactéria possui diversas atividades biológicas e importância 
nutricional devido à alta concentração de nutrientes naturais, afirma que extratos preparados 
de Spirulina são capazes de inibir a carcinogênese devido às propriedades antioxidantes 
que protegem os tecidos e reduzem a toxicidade do fígado, rins e testículos. Este estudo 
ainda destaca os principais compostos de importância terapêutica oriundos de Spirulina e 
seus efeitos relacionados: ficocianina (antioxidade, anticâncer, antiviral, antitóxico, 
imunoestimulante, hematopoético); sulfolipídio (antiviral); cianovirina-N (antiviral); 
polissacarídeo sulfatado calcium-spirulan (anticâncer, antiviral, imunoestimulante, 
hematopoético); -linolênico (precusor de prostaglandinas, efeito em artrite doença cardíaca, 
obesidade e depressão); -caroteno (precusor de vitamina A, antioxidade, anticâncer) e 
vitamina E (antioxidade, anticâncer). Aponta que várias descobertas científicas sugerem que 
Spirulina provou ser um candidato em potencial e ideal para a terapia conjunta devido ao 
 36 
possível efeito sinérgico de muitos fitoquímicos em células íntegras. Relata que cientistas na 
Índia, China, Japão, Estados Unidos e em outros países estão estudando a Spirulina como 
um alimento notável, o qual já é claramente seguro e fornecendo suporte nutricional 
concentrado para uma ótima saúde e bem-estar. O papel multifuncional de espécies de 
Spirulina torna uma droga natural ideal com imensas propriedades profiláticas e terapêuticas 
(KHAN; BHADOURIA; BISEN, 2005). 
 Em um trabalho de revisão sobre cianobactérias, potencial nutricional e aspectos 
biotecnológicos, os autores afirmam que as cianobactérias, devido aos avanços das 
pesquisas, vêm ganhando muita atenção devido a seu potencial aplicação na biotecnologia 
e os trabalhos disponíveis na literatura versam principalmente sobre Spirulina e seus 
componentes, que possuem uma diversidade de atividades, fazendo dela, além de um 
excelente suplemento alimentar, uma fonte potencial para emprego na prevenção e no 
tratamento de várias enfermidades (OLIVEIRA, W et al, 2013). 
 Apesar dos benefícios de saúde atribuídos às cianobactérias, uma característica 
marcante desses micro-organismos é a capacidade de produzir certos metabólitos 
secundários tóxicos denominados genericamente de cianotoxinas que afetam a saúde 
animal e humana. Além disso, os produtos naturais extraídos de cianobactérias podem estar 
contaminados com cianotoxinas, que são produzidas por cerca de 40 espécies de 
aproximadamente150 gêneros conhecidos (CARMICHAEL, 1994; COX et al, 2005; 
MOLICA; AZEVEDO, 2009). 
Po outro lado, algumas cianobactérias já são reconhecidas como livres de toxinas e 
consideradas como alimento seguro e sem efeitos colaterais/adversos pelo programa da 
Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) (SAMUELS et 
al, 2002). Como mencionado anteriormente o gênero Arthrospira é internacionalmente 
reconhecido como seguro (FDA, 2003; MORAES; BURKERT; KALIL, 2010). 
 
3.1.7 Modulação das condições de cultivos 
 
Para a produção de biomassa de culturas de cianobactérias, o uso de meios de 
cultura de confiança que possam sustentar um bom crescimento da linhagem selecionada é 
pré-requisito necessário. A literatura descreve a existência de muitos meios adequados para 
o cultivo de espécies puras de cianobactérias. Em alguns casos, um pequeno número de 
meios de cultivo é eficaz na manutenção de uma grande e diversa coleção de 
cianobactérias. No entanto, eles normalmente devem ser otimizados para a produção de 
culturas de massa, em especial quando uma nova estirpe é isolada (RIPPKA et al, 1979; 
SILVA; CORTIFIAS; ERTOLA, 1989). Segundo Singh, Parmar e Madamar (2009), existe 
 37 
uma necessidade de selecionar uma linhagem de alto rendimento e melhorar a produção 
dos compostos de interesse através da manipulação das condições de cultivo. 
 As condições ambientais que influenciam a síntese de pigmentos e outras 
substâncias de interesse em cultivos de microalgas e cianobactérias têm sido estudadas, e 
fatores como luz incidente, composição do meio, temperatura, bem como os tipos de cultivo 
têm sido caracterizados (ANDRADE; COSTA, 2008). Como destaque para fatores 
estudados no presente trabalho são feitas algumas considerações sobre luz, carbono e 
nitrogênio. 
Em crescimento fotoautotrófico, cianobactérias usam a luz como única fonte de 
energia para dirigir a fotólise da água. A energia produzida nesta reação é utilizada para 
a redução de CO2 (CHOJNACKA; NOWORYTA, 2004). A velocidade específica de 
crescimento desses micro-organismos pode ser muito influenciada pela fonte e intensidade 
de luz (WANG; FUB; LIU, 2007). 
 Como a ampla faixa luminosa é a principal característica de qualquer sistema 
fotossintético, deve-se considerar a correta distribuição da luz sobre o fotobioreator, bem 
como considerar sua intensidade, uma vez que se aplicada em demasia sobre sua 
superfície, provocará fotoinibição (crescimento limitado) e consequentemente, baixa 
conversão de energia luminosa em biomassa, isto é, baixa eficiência fotossintética. A 
eficiência fotossintética aumenta até o momento em que a iluminação em excesso torna-se 
um fator limitante ao crescimento, e por outro lado, a produtividade é negativamente afetada 
pela área central (zona de sombra) ou outras com iluminação deficiente (ERIKSEN, 2008). 
 Por outro lado, presume-se que a obtenção de determinados produtos desses micro-
oragnismos pode ser influenciada pela intensidade ou o comprimento de onda disponível no 
meio. A faixa de intensidade luminosa mais utilizada em cultivos situa-se entre 100 e 200 
Mol fótons.m-2.s-1 (8 a 16 klux) (FLETCHER, 1979; WANG; FUB; LIU, 2007). 
 O carbono constitui todos os compostos orgânicos, e é a principal elemento da 
biomassa microalgal (incluindo cianobactérias), no valor de até 65% do peso seco. O teor de 
carbono, no entanto, varia significativamente entre as espécies e as condições de cultura e 
pode variar entre 17,5 e 65%, em peso seco. No entanto, a maioria das espécies contém 
cerca de 50% de carbono (GROBBELAAR, 2004). O carbono é o elemento necessário em 
maiores concentrações para as cianobactérias por ser constituinte de todas as substâncias 
orgânicas sintetizadas pelas células (proteínas, carboidratos, ácidos nucleicos, vitaminas, 
lipídeos, entre outros) (LOURENÇO, 2006). 
 O íon bicarbonato é a fonte de carbono mais frequentemente empregada em meios 
de cultura para cianobactérias. É incorporado ativamente, gerando um gasto energético 
neste processo, sendo convertido em CO2 que é empregado na fotossíntese, e em 
carbonato, que é liberado para o meio extracelular aumentando o pH do cultivo (MATSUDO, 
 38 
2006). O gênero Arthrospira necessita de grandes quantidades de bicarbonato, que além de 
fonte de carbono, auxilia na manutenção da condição alcalina do meio de cultura, vital para 
o cultivo deste gênero, e constitui uma barreira para o desenvolvimento de outros micro-
organismos (RAOOF; KAUSHIK; REINHER, 2006). 
 O nitrogênio é o segundo elemento mais abundante na biomassa de microalgas e 
cianobactérias, seu teor varia de 1% até 14% (normalmente, cerca de 5 a 10%) de peso 
seco (GROBBELAAR, 2004). O nitrogênio é componente fundamental de três classes de 
substâncias estruturais e do metabolismo primário das células: proteínas, ácidos nucleicos e 
pigmentos fotossintetizantes (clorofilas e ficobilinas) (LOURENÇO, 2006). Nitrato (NO3
-) é a 
forma mais comumente utilizada de nitrogênio mineral para cultivo de microalgas e 
cianobactérias em meios sintéticos. Os sais nitrato mais frequentemente utilizados são 
NaNO3 e, menos freqüentemente, nitrato de potássio (KNO3) (GROBBELAAR, 2004). 
Apesar da ampla utilização dos sais de nitrato, estudos mostram uma variedade de fontes 
alternativas de nitrogênio. Microalgas e cianobactérias podem utilizar nitrogênio a partir de 
formas orgânicas, tais como ureia, amônia e alguns aminoácidos. Ureia e aminoácidos são 
transportados ativamente para dentro das células e são metabolizados no meio intracelular. 
Amônia é a fonte de nitrogênio preferido para esses micro-organismos porque sua absorção 
e assimilação consome menos energia em comparação com as outras fontes de nitrogênio 
(PEREZ-GARCIA et al, 2011). 
 Se o suprimento de nitrogênio é abundante em cultivos, verifica-se tendência de 
aumento nas concentrações de proteína e clorofila nas células. Já baixas concentrações 
diminuem o teor destes componentes celulares, diminuindo drasticamente a taxa de divisão 
celular. A concentração de ácido linolênico aumenta e o conteúdo de ácidos graxos 
permanece constante. As ficocianinas são degradadas e utilizadas como fonte de nitrogênio. 
Mais carotenoides e menos clorofilas são produzidas, gerando mudanças de cor que 
tendem ao amarelado (COLLA; BERTOLIN; COSTA, 2004; LOURENÇO, 2006; FERREIRA, 
2008). 
Os meios de cultivo utilizados para a produção industrial de Arthrospira geralmente 
usam como base o meio Zarrouk (BELAY, 2008). Contudo, o meio Zarrouk é bastante caro e 
apresenta uma composição complexa pelo uso de muitos reagentes, o que influencia 
significativamente no preço das preparações obtidas a partir da biomassa de cianobactérias 
cultivadas nele. Por tal motivo, meios mais econômicos são constantemente procurados, 
objetivando uma redução dos custos de produção. Algumas tentativas foram feitas para 
substituir meio Zarrouk por meios reduzidos em elementos traços (por exemplo, RM6) ou 
feitos a base de fertilizantes (por exemplo, superfosfato) ou fazendo uso de resíduos de 
matérias-primas (por exemplo, melaço) (ANDRADE; COSTA, 2007; RAOOF; KAUSHIK; 
REINHER, 2006; TARKO; DUDA-CHODAK; KOBUS, 2012). 
 39 
Segundo Colla et al (2007) relatam em sua pesquisa com a cianobactéria S. 
platensis, a extração de compostos nutricionalmente ativos em forma pura, é cara, mas o 
consumo direto da biomassa de cianobactéria como um alimento nutracêutico é uma 
alternativa viável. Condições de cultivo otimizadas para produção da biomassa e 
produtividade são normalmente utilizados na produção comercial de cianobactérias, neste 
caso de S. platensis, sem considerar a composição química, mas concentrações mais 
elevadas de compostos potencialmente úteis, tais como ácidos graxos poli-insaturados, 
proteínas e compostos fenólicos que podem ser obtidos

Continue navegando