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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO BEATRIZ DO NASCIMENTO CORRÊA DOS SANTOS DETERMINAÇÃO DE ATIVIDADES ANTIOXIDANTE E CITOTÓXICA DA BIOMASSA DE Arthrospira platensis PRODUZIDA EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE CULTIVO RIO DE JANEIRO 2015 1 Beatriz do Nascimento Corrêa dos Santos DETERMINAÇÃO DE ATIVIDADES ANTIOXIDANTE E CITOTÓXICA DA BIOMASSA DE Arthrospira platensis PRODUZIDA EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE CULTIVO Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciência de Alimentos, Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciência de Alimentos. Orientadores: Profª. Drª. Selma Gomes Ferreira Leite (Escola de Química – UFRJ) Profª. Drª. Kátia Gomes de Lima Araújo (Faculdade de Farmácia – UFF) RIO DE JANEIRO 2015 2 3 AGRADECIMENTOS É com grande reconhecimento que expresso os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, contribuíram decisivamente para a realização deste trabalho. Em especial: A Deus, meu Senhor, pai e amigo, por me permitir chegar até aqui e proporcionar a conclusão de mais uma etapa em minha vida. Aos meus pais maravilhosos, Regina Lucia do Nascimento Corrêa dos Santos e Gilberto Corrêa dos Santos, pelo amor, carinho, confiança e apoio em todos os momentos, incentivo e encorajamento em meus estudos e trabalhos. Ao meu namorado e amigo, Fabio Macedo da Costa, por estar sempre ao meu lado nos momentos bons e ruins, pelo amor, força, apoio e incentivo. Obrigada por me fazer companhia no laboratório aos fins de semana e feriados, por virar comigo as madrugadas de estudo e escrita, por estar sempre disposto a me ajudar em tudo. Obrigada por sempre me incentivar sempre e, por ser um companheiro excepcional. A meus familiares pela torcida, em especial, a minha irmã Bianca do Nascimento Corrêa dos Santos e meus avós, Iracema Corrêa, Ione Coelho e Geraldo Costa, por estarem sempre por perto, prontos a me apoiar com carinho. À Professora Selma Gomes Ferreira Leite, pela oportunidade de ser sua orientada e pela confiança depositada. Obrigada pelo apoio, incentivo e disponibilidade demonstrada em todas as fases que levaram à concretização deste trabalho. À minha querida co-orientadora, mãe e amiga, Kátia Gomes de Lima Araújo, por me instruir desde a graduação. Obrigada pelo carinho, apoio, por todos os ensinamentos passados, por me dar força e ajudar a superar os momentos difícieis, por não me deixar desaminar, pelo incentivo, confiança e amizade em todos os momentos, por ser exemplo de profissional, que sempre fará parte da minha vida. À Universidade Federal do Rio de Janeiro e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência de Alimentos do IQ/UFRJ, pela oportunidade de realização do curso. À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela bolsa de doutorado. Ao Laboratório de Ecofisiologia e Toxicologia de Cianobactérias pelo suporte na execução de etapas preliminares do projeto referente a toxicologia de Cianobactérias. 4 Ao Laboratório de Fisiologia e Cultivo de Algas do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) pela cessão da cianobactéria utilizada para desenvolvimento deste trabalho. A todos do Laboratório de Cultura de Células do Núcleo de Bioquímica Nutricional da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) pela cessão da linhagem celular, pelo suporte para execução de todas as análises biólogicas e pela paciência em passar os ensinamentos sobre cultura de células, fundamentais para a realização deste trabalho. Em especial ao professor Anderson Junger e aos alunos: Clara Machado, Camila Berniz, Crsitiane Silva, Debora Bauer, Joel Pimentel, Lana Rosa, Natália Soares, Mariana Gonçalves e Danielle Bonfim. Às dedicadas bolsistas de iniciação científica, Mariana Borges, Garla Guidone, Dayane Meireles, Natália Ferme, Daiana Dias e Hevelyn Dantas, pela grande contribuição para que a parte experimental deste trabalho se concretizasse. À Professora Josiane Roberto Domingues pela grande amizade, carinho, apoio e ensinamentos passados. Obrigada por ser minha companheira de todas as horas. À Doutora Thaís Souza Passos, amiga e sócia, pelo carinho, ensinamentos e dedicação a nossa amizade. À Família Labiotec - Laboratório de Biotecnologia de Alimentos da Faculdade de Fármácia da UFF (Roberta Rizzo, Gabriela Pepe, Carla Guidone, Dayane Meireles, Daiana Dias, Hevelyn Dantas, Fabiana Santos, Francine Albernaz, Nicolly Petito, Manuela Nascimento, Jorge Pinho, Lidiane Mendes, Vanessa Naciuk, Daniele Bastos, Juliana Furtado, Alice Gonzalez e Luciana Esper) pela amizade, carinho, apoio e pelos momentos de descontração. Aos companheiros do Curso de Ciência de Alimentos pela amizade, troca de conhecimentos e experiências adquiridas, em especial à Andresa Ramos, Carlos Eduardo Conceição, Valéria Saldanha, Manoela Pessanha e Talita Nascimento. Aos professores, funcionários e técnicos da Faculdade de Farmácia da UFF, por serem sempre tão prestativos, especialmente aqueles que fazem parte dos Laboratórios de Bromatologia e Tecnologia de Cosméticos e da Central Analítica. A todos os meus queridos amigos pelo grande incentivo e compreensão em minhas ausências. À banca examinadora por aceitar o convite e se disponibilizar a avaliar e contribuir com este trabalho. 5 "Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível." São Francisco de Assis 6 RESUMO SANTOS, Beatriz do Nascimento Corrêa dos. Determinação de atividades antioxidante e citotóxica da biomassa de Arthrospira platensis produzida em diferentes condições de cultivo. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos) - Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. Este trabalho objetivou estudar a influência de condições de cultivo sobre a produção de biomassa de Arthrospira platensis e avaliar as atividades antioxidante e citotóxica de seus extratos, visando à produção de biomassa rica em compostos bioativos com potencial aplicação no desenvolvimento de alimentos funcionais. O cultivo foi conduzido em diferentes concentrações de NaHCO3 (9 a 18 g.L -1) e NaNO3 (1,25 a 2,5 g.L -1) sob diferentes irradiâncias (50 a 150 µMol fótons.m-2.s-1), de acordo com planejamento experimental. A partir da biomassa obtida nas distintas condições de cultivo, produziram-se extratos aquosos e metanólicos. A avaliação de crescimento e produção de biomassa foi realizada por medidas de densidade óptica e a capacidade antioxidante dos extratos foi determinada pelos ensaios TEAC e TRAP. Utilizou-se delineamento do tipo composto central rotacional para avaliar a influência das condições de cultivo sobre produção de biomassa e capacidade antioxidante dos extratos. Com extratos referentes à condição de maior produção de biomassa e capacidade antioxidante e à condição padrão de cultivo (P) (NaHCO3:18 g.L -1; NaNO3: 2,50 g.L -1; 50 µMol fótons.m-2.s-1), avaliou-se a atividade citotóxica em células de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) por meio de ensaios de viabilidade celular com MTT, de ciclo e apoptose celular por citometria de fluxo. Os resultados mostraram que luz foi a variável que mais influenciou os parâmetros de crescimento e produção de biomassa. A concentração de NaHCO3 foi o segundo fator mais importante e apresentou, assim como a luz, correlação positiva com estas variáveis de resposta.Consequentemente, o aumento na concentração de NaHCO3 e na irradiância levou ao aumento destas respostas. A concentração de NaNO3 tem efeito oposto sobre os parâmetros estudados, indicando que estes diminuem com o aumento da concentração de NaNO3. As variáveis independentes não apresentaram efeito significativo sobre a capacidade antioxidante dos extratos metanólicos, enquanto que, para os extratos aquosos a luz também foi fator de maior influência de forma direta. A corrida experimental de cultivo 6 (NaHCO3: 16,18 g.L -1; NaNO3: 1,50 g.L-1; 129,8 µMol fótons.m-2.s-1) apresentou melhores resultados associados de produção de biomassa e capacidade antioxidante. Os extratos 6 e P apresentaram efeito semelhante sobre células HT-29. Comparativamente ao controle, os extratos aquosos mostraram capacidade de redução na viabilidade celular assim como os extratos 7 metanólicos, que apresentaram efeito inibitório mais acentuado. Houve aumento no percentual de células HT-29 na fase Sub G1 para extratos metanólicos e na fase G0/G1 para extratos aquosos, seguido por diminuição no percentual de células nas fases S e G2/M do ciclo celular. O extrato metanólico P conduziu ao aumento significativo no processo de apoptose celular. Os resultados sugerem que a biomassa de Arthrospira platensis cultivada com concentrações intermediárias de NaHCO3 e reduzidas de NaNO3 e em alta irradiância pode desempenhar importante papel na eliminação de radicais livres, na redução da viabilidade celular, na modulação e progressão do ciclo celular de adenocarcinoma de cólon humano. Esta biomassa é rica em compostos bioativos tais como ficobiliproteínas e compostos fenólicos, apresentando potencial aplicação como suplemento e no desenvolvimento de alimentos funcionais. Palavras-chave: Arthrospira platensis, bicarbonato de sódio, nitrato de sódio, luz, biomassa, capacidade antioxidante, atividade citotóxica. 8 ABSTRACT SANTOS, Beatriz do Nascimento Corrêa dos. Determinação de atividades antioxidante e citotóxica da biomassa de Arthrospira platensis produzida em diferentes condições de cultivo. Rio de Janeiro, 2015. Tese (Doutorado em Ciência de Alimentos) - Instituto de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. This study investigated the influence of culture conditions on the biomass production of Arthrospira platensis and evaluated cytotoxic and antioxidant activities of its extracts, aimed to produce rich biomass in bioactive compounds for potential application in functional foods. The cultivation was performed with different concentrations of NaHCO3 (9 to 18 g.L -1) and NaNO3 (1.25 to 2.5 gL -1) under different light irradiances (50 to 150 µMol photons.m-2.s-1), according to experimental design. From the obtained biomass under different conditions, aqueous and methanol extracts were produced. Evaluation of growth and biomass production was performed by optical density measurements and the antioxidant capacity of the extracts was determined by TEAC and TRAP assays. A central composite rotatable design was employed to evaluate the influence of culture conditions on biomass production and antioxidant capacity of the extracts. Extracts obtained from the optimal condition of biomass production and antioxidant capacity and from standard cultivation condition (P) (NaHCO3: 18 g.L -1; NaNO3: 2.50 g.L -1; 50 µMol photons.m-2.s-1) were used to evaluate the cytotoxic activity in human colon adenocarcinoma cells (HT-29) through assays of cell viability with MTT, cell cycle and apoptosis by flow cytometry. The results showed that light was the variable that most influenced the growth parameters and biomass production. The NaHCO3 concentration was the second most important factor, as well as light, presented positive correlation with these response variables, consequently, increase in the NaHCO3 concentration and irradiance led to increase in these responses. The NaNO3 concentration has inverse effect on the studied parameters, indicating that these responses decreased in higher NaNO3 levels. The independent variables had no significant effect on the antioxidant capacity of the methanol extracts, while for the aqueous extracts the light was also the most influential factor directly. The better results related to biomass production and antioxidant capacity were observed in experimental run cultivation 6 (NaHCO3: 16.18 g.L -1; NaNO3: 1.50 g.L-1; 129.8 µMol photons.m-2.s-1). Extracts 6 and P had similar effect on HT-29 cells. Compared to the control, the aqueous extracts showed capacity of reduction on cell viability as well as the methanol extracts, which showed stronger inhibitory effect. An increase in the percentage of HT-29 cells in sub G1 phase for methanol extracts and in G0/G1 phase for aqueous extracts were observed, followed by a decrease in the percentage of cells in S and G2/M phases of cell cycle. The methanol extract P resulted in a significant increase in cell 9 apoptosis. The results suggest that Arthrospira platensis biomass cultivated with intermediate NaHCO3 concentration, reduced NaNO3 concentration and high irradiance can play an important role in scavenging free radicals, reducing cell viability, in modulation and progression of cell cycle of human colon adenocarcinoma. This biomass is rich in bioactive compounds such as phycobiliproteins and phenolic compounds, with potential application as a supplement and in the development of functional foods. Keywords: Arthrospira platensis, sodium bicarbonate, sodium nitrate, light, biomass, antioxidant capacity, cytotoxic activity. 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Principais complexos fotossintéticos da membrana tilacóide de cianobactérias. 25 Figura 2. Filamentos helicoidais ou espirais da Arthrospira platensis. 28 Figura 3. Redução do oxigênio. 41 Figura 4. Estrutura química de alguns antioxidantes endógenos e exógenos. 49 Figura 5. Esquemas dos principais mecanismos de reação dos ensaios de capacidade antioxidante total. 57 Figura 6. Organograma experimental. 59 Figura 7. Fotomicrografia da cepa de Arthrospira platensis utilizada no presente trabalho. 61 Figura 8. Frascos de cultivo de Arthrospira platensis. 62 Figura 9. Curva-padrão para avaliação do crescimento de Arthrospira platensis, relacionando DO (absorbância) versus concentração de biomassa seca. 64 Figura 10. Recuperação da biomassa de Arthrospira platensis. 65 Figura 11. Curva-padrão de Trolox para teste de regeneração do ânion ABTS-2 pelos extratos de Arthrospira platensis, relacionando absorbância versus concentração (μmoles.L-1). 67 Figura 12. Comportamento do Trolox, em diferentes concentrações (μM), durante teste de Total radical-trapping antioxidant parameter (TRAP), correlação de absorbância versus tempo (em minutos). 68 Figura 13. Curva-padrão de trolox para Total radical-trapping antioxidant parameter (TRAP) dos extratos de Arthrospira platensis, relacionando tempo de fase lag (em minutos) versus concentração (μmoles.L-1). 69 Figura 14. Imagem microscópica de células de adenocarcinoma de cólon humano da linhagem HT-29 em alta densidade. 71 Figura 15. Incubadora para cultivo de células de adenocarcinoma de cólon humano da linhagem HT-29 com atmosfera controlada. 72 11 Figura 16. Células de adenocarcinoma de cólon humano da linhagem HT-29 tratadas com extrato de Arthrospira platensis para realização de ensaios biológicos. 74 Figura 17. Curva-padrão de ácido gálico para determinação de compostos fenólicos totais dos extratos de Arthrospira platensis, relacionando absorbância versus concentração (μg.mL-1). 77 Figura 18. Produção de biomassa por Arthrospira platensis durante 21 dias de cultivo. 79 Figura 19. Histograma de Pareto para resposta de produção de biomassa de (mg.L-1).82 Figura 20. Superfície de resposta (A) e curvas de nível (B) para NaNO3 e NaHCO3 referente a produção de biomassa de Arthrospira platensis. 84 Figura 21. Superfície de resposta (A) e curvas de nível (B) para Luz e NaHCO3 referente à produção de biomassa de Arthrospira platensis. 84 Figura 22. Superfície de resposta (A) e curvas de nível (B) para Luz e NaNO3 referente a produção de biomassa de Arthrospira platensis. 85 Figura 23. Histograma de Pareto para resposta de produtividade de Arthrospira platensis – P18 (mg.L -1.dia-1). 86 Figura 24. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato aquoso de Arthrospira platensis pelo teste TEAC - ABTS. 95 Figura 25. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato aquoso de Arthrospira platensis segundo o percentual de extinção do radical ABTS•-. 96 Figura 26. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato aquoso de Arthrospira platensis pelo teste TRAP. 98 Figura 27. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato metanólico de Arthrospira platensis pelo teste TEAC - ABTS. 100 Figura 28. Histograma de Pareto para capacidade antioxidante de extrato metanólico de Arthrospira platensis segundo o percentual de extinção do radical ABTS•-. 101 Figura 29. Histograma de Pareto para resposta de capacidade antioxidante de extrato metanólico de Arthrospira platensis pelo teste TRAP. 102 12 Figura 30. Efeito dos extratos aquoso (A) e metanólico (B), referentes à biomassa de Arthrospira platensis obtida na condição de cultivo da corrida experimental 6 sobre a viabilidade de células HT-29, 24 e 48 horas após a incubação. 110 Figura 31. Efeito dos extratos aquoso (A) e metanólico (B), referentes à biomassa de Arthrospira platensis obtida na condição de cultivo da corrida experimental P sobre a viabilidade de células HT-29, 24 e 48 horas após a incubação. 111 Figura 32. Efeito do Extrato 6 sobre a progressão do ciclo celular em células HT-29, 48 horas após a incubação. 116 Figura 33. Efeito do Extrato P sobre a progressão do ciclo celular em células HT-29, 48 horas após a incubação. 117 Figura 34. Efeito do Extrato 6 sobre o processo de morte programada (apoptose) em células HT-29 48 horas após a incubação. 120 Figura 35. Efeito do Extrato P sobre o processo de morte programada (apoptose) em células HT-29 48 horas após a incubação. 121 Figura 36. Compostos fenólicos totais determinados em extrato aquoso (H2O) e metanólico (MeOH) obitdos a partir da biomassa de Arthrospira platensis referentes as corridas experimentais de cultivo 6 e P. 124 Figura 37. Espectros de varredura no UV-visível dos extratos aquosos (6 - em azul e P - em verde) ricos em ficobiliproteínas obtido da Arthrospira platensis, em destaque o pico característico da ficocianina (PC) e o ombro da aloficocianina (APC). 127 13 LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1. Papel de radicais livres em várias doenças. 44 Tabela 1. Composição do meio Zarrouk utilizado para o cultivo de Arthrospira platensis. 61 Tabela 2. Valores utilizados no delineamento experimental para produção de biomassa e atividade antioxidante de Arthrospira platensis. 63 Tabela 3. Matriz de delineamento das corridas experimentais de cultivo de Arthrospira platensis. 63 Tabela 4. Matriz de planejamento experimental com duas variáveis de resposta, produção de biomassa seca e produtividade de Arthrospira platensis aos 18 dias de cultivo. 81 Tabela 5. Matriz de planejamento experimental com três variáveis de resposta referentes a capacidade antioxidante do extrato aquoso de Arthrospira platensis pelos testes TEAC - ABTS, percentual de extinção do radical ABTS•- e TRAP. 94 Tabela 6. Matriz de planejamento experimental com três variáveis de resposta referentes a capacidade antioxidante do extrato metanólico de Arthrospira platensis pelos testes TEAC - ABTS, percentual de extinção do radical ABTS•- e TRAP. 99 Tabela 7. Faixa de capacidade antioxidante de extratos aquoso e metanólico, obtidos de biomassa de Arthrospira platensis produzida nas diferentes condições experimentais de cultivo, avaliada pelos testes TEAC - ABTS, extinção do radical ABTS•- e TRAP. 103 Tabela 8. Concentração de ficobiliproteínas determinada em extrato aquoso obitdo a partir da biomassa de Arthrospira platensis referentes às corridas experimentais de cultivo 6 e P e, expressa em mg% em biomassa seca. 126 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AAPH 2,2’- azinobis-2-amidinopropano ABTS 2,2’-azinobis-3-etilbenzotiazolina-6-sulfónico ADP Adenosine diphosphate AIDS Acquired immune deficiency syndrome ANOVA Análise de variância Anvisa Agência Nacional de Vigilância Sanitária Atm Atmosfera ATP Adenosine triphosphate BHT Butil hidroxitolueno °C Grau(s) Celsius CAT Catalase CCRD Central composite rotatable design CPIR Cell proliferation inhibition rate DBN dibutil nitrosamina d.C. Depois de Cristo DMEM Dulbecco’s Modified Eagle Medium DMSO Dimetilsulfóxido DNA Deoxyribonucleic acid DO Densidade óptica DPPH 2,2-di(4-tert-octylphenyl)-1-picrylhydrazyl assay ERN Espécie(s) reativa(s) de nitrogênio ERO Espécie(s) reativa(s) de oxigênio ET Electron transfer based assays FAO Food and Agriculture Organization FDA Food and Drug Administration FITC Fluorescein isothiocyanate G Grama(s) G0 Estado de quiescência das células durante o ciclo celular G1 Primeira fase do ciclo celular G2 Segunda fase do ciclo celular GR Glutationa redutase GRAS Generally Recognized as Safe GSH-Px Glutationa peroxidase HAT Hydrogen atom transfer based assays 15 HepG2 Linhagem de carcinoma hepatocelular humano HT-29 Linhagem celular de adenocarcinoma de cólon humano IARC International Agency for Research on Cancer Kg Quilograma L Litro(s) LDL Low-density lipoprotein m Metro(s) M Mitose min Minuto(s) mg Miligrama(s) mL Mililitro(s) mM Milimol(es) MTT brometo de 3-(4,5-dimetil-tiazol-2-il)-2,5-difenil-tetrazólio g Micrograma(s) m Micrometros(s) Mol Micromol(es) NADP(H) Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (reduzido) NASA National Aeronautics and Space Administration NK Natural killer nm Nanômetro(s) OMS Organização Mundial da Saúde pH Potencial de hidrogênio PBS Phycobilisome PSI (II) Photosystem I (II) RNA Ribonucleic acid s Segundo(s) Se-PC Ficocianina purificada contendo selênio SFB Soro fetal bovino SOD Superóxido dismutase Sub-G1 Sub-fase G1 (células hipodiploides) TEAC Trolox equivalent antioxidant capacity TRAP Total radical-trapping antioxidant paramenter UV Ultravioleta vvm volume de ar por volume de meio 16 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 19 2 OBJETIVOS 21 2.1 OBJETIVO GERAL 21 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 21 3 REVISÃO DA LITERATURA 22 3.1 CIANOBACTÉRIAS 22 3.1.1 Aspectos gerais de cianobactérias e microalgas 22 3.1.2 Principais características de cianobactérias 24 3.1.3 Produção de substâncias/compostos de interesse por cianobactérias 26 3.1.4 Gênero Athrospira 27 3.1.5 Utilização e consumo de cianobactérias 30 3.1.6 Sustâncias/compostos produzidos por cianobactérias com atividade biológica 32 3.1.7 Modulação das condições de cultivos 36 3.2 ESTRESSE OXIDATIVO EM ORGANISMOS VIVOS 39 3.2.1 Radicais livres 39 3.2.2 Doenças associadas ao estresse oxidativo 42 3.2.3 Prevenção e tratamento do estresse oxidativo 46 3.3 ANTIOXIDANTES 48 3.3.1 Busca por novas substâncias antioxidantes 52 3.3.2 Antioxidantes de organismos fotossintetizantes 53 3.3.3 Determinação da capacidade antioxidante 54 17 4 MATERIAL E MÉTODOS 59 4.1 ORGANOGRAMA EXPERIMENTAL 59 4.2 REAGENTES 59 4.3 MICRO-ORGANISMO 60 4.4 CONDIÇÕES E MODALIDADES DE CULTIVO 61 4.5 AVALIAÇÃO DE CRESCIMENTO E PRODUÇÃODE BIOMASSA 64 4.6 OBTENÇÃO DE EXTRATOS DAS BIOMASSAS 66 4.7 DETERMINAÇÃO DE CAPACIDADE ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS 66 4.8 ENSAIOS DE CITOTOXIDADE 69 4.8.1 Cultura de células de adenocarcinoma de cólon humano 70 4.8.2 Ensaio de viabilidade celular 73 4.8.3 Ensaio de ciclo celular 74 4.8.4 Ensaio de apoptose celular 75 4.9 DETERMINAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS E FICOBILIPROTEÍNAS 76 4.10 ANÁLISE ESTATÍSTICA 78 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 79 5.1 CRESCIMENTO E PRODUÇÃO DE BIOMASSA DE ARTHROSPITA PLATENSIS 79 5.1.1 Produção de biomassa 80 5.1.2 Produtividade 86 5.2 CAPACIDADE ANTIOXIDANTE DOS EXTRATOS DE ARTHROSPIRA PLATENSIS EM FUNÇÃO DAS CONIÇÕES DE CULTIVO 93 5.2.1 Extrato Aquoso 93 5.2.1.1 Capacidade antioxidante de extrato aquoso pelo teste TEAC – ABTS 93 5.2.1.2 Capacidade antioxidante de extrato aquoso segundo percentual de extinção do radical ABTS•- 95 5.2.1.3 Capacidade antioxidante de extrato aquoso pelo teste TRAP 97 18 5.2.2 Extrato Metanólico 98 5.2.2.1 Capacidade antioxidante de extrato metanólico pelo teste TEAC - ABTS 99 5.2.2.2 Capacidade antioxidante de extrato metanólico segundo percentual de extinção do radical ABTS•- 100 5.2.2.3 Capacidade antioxidante de extrato metanólico pelo teste TRAP 101 5.3 ENSAIOS BIOLÓGICOS 109 5.3.1 Efeito dos extratos de Arthrospira platensis sobre a viabilidade celular de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) 109 5.3.2 Efeito dos extratos de Arthrospira platensis sobre a progressão do ciclo celular de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) 115 5.3.3 Efeito dos extratos de Arthrospira platensis sobre a taxa de apoptose em células de adenocarcinoma de cólon humano (HT-29) 119 5.4 DETERMINAÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS TOTAIS E FICOBILIPROTEÍNAS 123 5.4.1 Compostos fenólicos totais 124 5.4.2 Ficobiliproteínas totais 126 6 CONCLUSÃO 130 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS 132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 133 19 1 INTRODUÇÃO A transferência de elétrons é um dos processos químicos mais fundamentais para a sobrevivência das células. Entretanto, um efeito associado a este evento é a produção de radicais livres e outras espécies reativas de oxigênio que podem causar dano oxidativo (BAE et al, 1999). Quando a produção de radicais livres supera a capacidade antioxidante em um sistema vivo, espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio podem reagir com lipídios, proteínas e com o ácido desoxirribonucleico (DNA, do inglês deoxyribonucleic acid) conduzindo a dano estrutural e/ou funcional nas células, enzimas e material genético (BARREIROS; DAVID; DAVID, 2006). Danos aos componentes celulares podem resultar em disfunção de crescimento, diferenciação e morte celular, conduzindo ao desenvolvimento de inflamação e câncer. Os radicais livres são conhecidos por desempenhar um papel significativo na promoção da carcinogênese. O câncer está prestes a se tornar a principal causa de morbidade e mortalidade nas próximas décadas em todas as regiões do mundo (KANG et al, 2011). Em virtude de várias publicações terem mostrado a alta associação entre a geração de radicais livres e as doenças crônicas não transmissíveis, tem havido grande interesse por alimentos funcionais antioxidantes (GUARIENTI; BERTOLIN; COSTA, 2010). Estudos realizados com substâncias antioxidantes presentes na dieta demonstraram que é possível diminuir o risco de diversas doenças crônicas não transmissíveis (BRESSAN et al, 2009; SILVA et al, 2010). Organismos fotossintetizantes como plantas, macroalgas, microalgas e cianobactérias, são expostos a uma combinação de luz e altas concentrações de oxigênio durante a atividade fotossintética, o que leva à formação de radicais livres e outras espécies oxidativas. A ausência de danos oxidativos nesses organismos, apesar da proximidade entre o oxigênio formado na fotossíntese e os componentes do aparelho fotossintetizante, sugere que estes organismos possuam substâncias com atividade antioxidante, além de mecanismos próprios de proteção contra a oxidação (WANG et al, 2008). Dentre os organismos fotossintetizantes, as cianobactérias têm sido identificadas como um dos mais promissores grupos de organismos para descoberta e identificação de produtos naturais biologicamente ativos, incluindo substâncias com atividade antioxidante (SUHAIL et al, 2011; SHANAB et al, 2012). Algumas espécies de cianobactérias são cultivadas tanto para consumo direto como para inclusão em suplementos dietéticos. São utilizadas na alimentação humana devido às suas propriedades nutricionais como alto conteúdo proteico, presença de ácidos graxos essenciais e de vitaminas, e o seu consumo pode acarretar efeitos benéficos à saúde pela produção de metabólitos bioativos. A produção de suplementos alimentares contendo 20 cianobactérias e uso de seus compostos extraídos vêm crescendo na indústria em todo o mundo (RELLÁN et al, 2009; JOHNSON et al, 2008). As condições ambientais que influenciam a síntese de substâncias em cultivos de microalgas e cianobactérias têm sido estudadas. Fatores como luz incidente, composição do meio de cultivo, temperatura, bem como os tipos de cultivo têm sido caracterizados (YU; JIA; DAÍ, 2009), a fim de melhorar a produção dos compostos de interesse por meio da manipulação das condições de cultivo. Considerando o que foi exposto anteriormente e, em vista do aproveitamento do potencial biotecnológico de cianobactérias como fonte de moléculas de interesse para uso em alimentos e/ou como medicamento, este trabalho teve por objetivo estudar a influência de condições de cultivo sobre a produção de biomassa da cianobactéria Arthrospira platensis e avaliar as atividades antioxidante e citotóxica, visando à produção de uma biomassa rica em compostos bioativos com potencial aplicação no desenvolvimento de alimentos funcionais. 21 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a influência de condições de cultivo sobre a produção de biomassa da cianobactéria Arthrospira platensis e as atividades antioxidante e citotóxica, visando à produção de uma biomassa rica em compostos bioativos com potencial para aplicação em alimentos. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Cultivar Arthrospira platensis em condições fotoautotróficas com diferentes concentrações de bicarbonato de sódio e nitrato de sódio sob diferentes irradiâncias e avaliar o crescimento e a produção de biomassa nas diferentes condições experimentais de cultivo. Produzir extratos em metanol e água a partir da biomassa de Arthrospira platensis cultivada nas diferentes condições experimentais e avaliar a capacidade antioxidante dos extratos produzidos. Avaliar a atividade citotóxica dos extratos metanólico e aquoso produzidos a partir da biomassa produzida na condição que apresentar maior produção de biomassa e melhor capacidade antioxidante, por meio da determinação da atividade dos extratos sobre a viabilidade, o ciclo e a progressão de morte celular de adenocarcinoma de cólon humano. 22 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 CIANOBACTÉRIAS 3.1.1 Aspectos gerais de cianobactérias e microalgas As cianobactérias foram inicialmente classificadas como algas, em função da similaridade entre o seu metabolismo fotossintético e o das plantas vasculares (FAY, 1983). O termo alga não corresponde a uma única categoria taxonômica, mas a uma gama muito ampla de organismos, abrangendo grande variabilidade morfológica, estrutural e metabólica, incluindo grupos procarióticos e eucarióticos (OLIVEIRA, 2003). Portanto, historicamente, as classificações precoces de cianobactérias foram construídas com critérios botânicos ao invés da utilização de critérios microbiológicos. Por consequência de tal fato, esses sistemas de classificação não refletiam as verdadeiras relações de evolução dentro de uma determinada linhagem (HENSON; WATSON;BARNUM, 2002). Na década de 60, começou a ser estabelecida uma distinção clara entre procariontes e eucariontes, com base nas diferenças observadas em relação à organização celular. A partir disso, o termo procariontes foi utilizado para designação dos organismos que não possuem compartimentos celulares, e o termo eucariontes para designar aqueles que possuem organelas definidas como núcleo, mitocôndria, lisossoma, assim como plastídios, no caso de eucariontes fotossintetizantes. Com isso, as algas verde-azuladas, que são desprovidas de compartimentos celulares, foram consideradas como integrantes do Reino Protista, e foi proposta a designação destes organismos como cianobactérias. Em 1974, esta nova designação foi aceita e considerada no Bergey’s Manual of Determinative Bacteriology (BUCHANAN; GIBBONS, 1974). Neste sentido, os representantes eucarióticos foram definidos como microalgas (BENEMANN, 1990). As cianobactérias apresentam morfologia bem parecida com a das bactérias e são mais próximas evolutivamente a estas que as microalgas eucariontes, contendo parede celular, membrana celular lipoprotéica, material genético e ribossomos. Além desses componentes básicos, possuem ainda membrana tilacóide, clorofila a, ficobiliproteínas e carotenóides. São micro-organismos cosmopolitas, sendo que a maioria se desenvolve em água doce. São também muito comuns junto aos recifes ou solo úmido, formando uma crosta escura (LEE, 1980). O número exato de espécies de cianobactérias e microalgas é desconhecido, entretanto, são encontradas citações relatando que podem existir entre 200.000 até alguns milhões de representantes destes grupos. Tal diversidade também se reflete na composição bioquímica e, desta forma, as cianobactérias e as microalgas são fonte de uma quantidade 23 ilimitada de produtos (NORTON; ANDERSEN; MELKONIAN, 1996; PULZ; GROSS, 2004). Cabe ressaltar que algumas espécies sintetizam substâncias que podem ser altamente tóxicas para outras espécies de organismos, inclusive para o homem e demais animais. Os produtos oriundos de cianobactérias têm sido explorados comercialmente e são objetos de inúmeras pesquisas (TEIXEIRA, 2002), as quais estão relacionadas à produção de biomassa como fonte de compostos químicos de interesse, como clorofila, carotenóides, ficobiliproteínas, polissacarídeos e outros metabólitos biologicamente ativos, com uma diversidade de aplicações (BECHER et al, 2005; GARCÍA-GONZALEZ et al, 2005; LIMA- ARAUJO et al, 2006; DAYANANDA et al, 2007). Aspectos de crescimento desses organismos no ambiente natural, assim como nos cultivos, é resultado da interação entre fatores biológicos, físicos e químicos. Os fatores biológicos estão relacionados às próprias taxas metabólicas da espécie cultivada, bem como com a possível influência de outros organismos sobre o desenvolvimento. Quanto aos fatores físico-químicos, são principalmente reportados estudos sobre iluminação, temperatura, salinidade e disponibilidade de nutrientes (YONGMANITCHAI; WARD, 1991; COSTA; COLLA; DUARTE FILHO, 2004; KEHOE; GUTU, 2006; MISHRA et al, 2012). Esses organismos podem ser cultivados em diversos sistemas de produção, os comumente empregados são pouco sofisticados, uma vez que muitas empresas desenvolvem cultivos a céu aberto, sob condições naturais de iluminação e temperatura, e com baixo ou nenhum controle destes parâmetros ambientais. (BOROWITZKA, 1999). Os cultivos também têm sido desenvolvidos em equipamento específico, denominado fotobiorreator, visando alcançar elevada produtividade, além de minimizar o risco de contaminação (LUO; AL-DAHHAN, 2004; ZIJFFERS et al, 2008). Muitas das substâncias sintetizadas e acumuladas pelas cianobactérias e microalgas são também encontradas nas plantas, as quais evoluíram das algas verdes ou clorófitas (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007). Entretanto, a produção desses micro-organismos pode ser justificada por apresentar diversas vantagens, dentre as quais podem ser destacadas: o cultivo microbiano é um sistema biológico eficiente na utilização da energia solar para a produção de matéria orgânica, sendo que muitas espécies crescem mais rapidamente do que as plantas terrestres, fato que possibilita maiores rendimentos anuais de biomassa, logo, maior produtividade; sua natureza unicelular assegura uma biomassa com mesma composição bioquímica, o que não ocorre com as plantas terrestres que apresentam substâncias localizadas em partes específicas: nos frutos, folhas, sementes ou raízes; por manipulação das condições ambientais de cultivo, como luz, temperatura e nutrientes, muitas espécies podem ser induzidas a sintetizar e acumular altas concentrações de proteínas, carboidratos e lipídios, que apresentam elevado valor comercial, e são 24 organismos que podem crescer bem em regiões com extremas condições climáticas (RICHMOND, 1988; DANESI et al, 2011). 3.1.2 Principais características de cianobactérias As cianobactérias possuem elevada diversidade morfológica, estrutural e fisiológica, necessária para adaptação a uma ampla gama de parâmetros ambientais (MUNDT et al, 2001). Esses organismos apresentam membrana celular lipoprotéica, ribossomos, material genético, parede celular, membrana tilacóide, ficobiliproteínas, clorofila a e carotenoides, dentre outros componentes. Podem viver em condições inóspitas desde águas de fontes termais até lagos gelados, e apenas não sobrevivem em águas ácidas (LEE, 1980; RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007). As cianobactérias constituem um grupo diverso de micro-organismos procarióticos fotossintetizantes que realizam a fotossíntese com utilização de oxigênio, mediante um mecanismo bastante similar ao utilizado por plantas superiores. A fotossíntese requer a ação coordenada dos fotossistemas I e II (PSI e PSII, do inglês photosystem I e photosystem II) para gerar o potencial eletroquímico necessário à extração de elétrons da água, produzindo o oxigênio (FLORES; HERRERO, 2010), sendo que as cianobactérias são o único grupo procarionte fotossintético que apresenta ambos os fotossistemas (NISBET; SLEEP, 2001). A estrutura básica do PSI e PSII é semelhante e combinados promovem a transferência de elétrons coordenada da água para ferredoxina para gerar equivalentes redutores e trifosfato de adenosina (ATP, do inglês adenosine triphosphate) para a fixação de CO2. Na fotossíntese oxigênica, o PSII oxida a água no lado do lúmen e reduz plastoquinona no lado citoplasmático da membrana tilacóide. Já o PSI oxida plastocianina ou citocromo c6 no lado do lúmen e reduz ferredoxina no lado citoplasmático (WATANABE et al, 2011). Em cianobactérias há dois tipos de sistemas-antena, responsáveis pela captação da luz, um constituído pelas ficobiliproteínas e o outro constituído por moléculas de clorofila a associadas a complexos protéicos de membrana. As ficobiliproteínas estão organizadas em uma estrutura chamada de ficobilissoma (PBS, do inglês phycobilisome), complexos protéicos que se encontram ligados à membrana tilacóide e possuem a função de captação de luz. Essa estrutura em contato com o PSII forma o complexo PBS-PSII, para onde transfere a maior parte da sua energia de excitação (BALD; KRUIP; RÖGNER, 1996). Nos tilacóides, os pigmentos fotossintéticos do PSI e do PSII absorvem energia luminosa, impulsionando um fluxo acíclico de elétrons no qual a água é o doador primário de 25 elétrons e o NADP+ é o aceptor final, adicionalmente ao fluxo cíclico de elétrons. Alguns componentes da cadeia transportadora de elétrons fotossintética são compartilhados com a cadeia transportadora de elétrons respiratória. Desta forma, elétrons provenientes de coenzimas reduzidas (NADPH), gás hidrogênio (H2) ou succinato, fluem conjuntamente com os elétrons provenientes do PSII através das plastoquinonas, do citocromo b6f e daplastocianina, sendo finalmente doados para o PSI ou para a oxidase terminal, sendo que esses eventos resultam na redução de NADP+ ou O2, respectivamente (PAUMANN et al, 2004) (Figura 1). Figura 1. Principais complexos fotossintéticos da membrana tilacóide de cianobactérias. PSI: Fotossistema I; PSII: Fotossistema II; Pe: Ficoeritrina; Pc: Ficocianina; Ap: aloficocianina. Fonte: Adaptado de Sözer (2011). A energia para os processos metabólicos é fornecida pela fosforilação de difosfato de adenosina (ADP, do inglês adenosine diphosphate) via enzima ATP sintase, bem como a redução de NADP+ devido ao transporte de elétrons fotossintético e respiratório (KRANZ; EICHNER; ROST, 2011). Cianobactérias geralmente utilizam CO2 como principal fonte de carbono (QIU; GAO, 2001). O mecanismo de fixação de CO2 é baseado em experimentos com cianobactérias de espécies Synechoccoccus PCC7942 e PCC6803, Synechocystis e Synechococcus PCC7002. Central ao funcionamento deste mecanismo está o carboxissoma, um micro-compartimento de proteína no interior da célula que contém a enzima 1,5-bifosfato carboxilase/oxigenase (Rubisco) e a anidrase carbônica. A função da anidrase carbônica é converter o HCO3 - acumulado no citosol em CO2, dentro do carboxissoma, sendo necessários transportadores específicos localizados nas membranas 26 plasmática e tilacóide. A Rubisco, então, realiza a fixação do CO2. (ESPIE; KIMBER, 2011; PRICE, 2011). A clorofila a que está presente nas cianobactérias até 2005 era considerada como o único tipo de clorofila nestes micro-organismos, quando então Larkum e Kühl (2005) descreveram a ocorrência de clorofila d na cianobactéria marinha Acaryochloris marina. A clorofila a está presente no centro de reação fotossintética, integrando a antena de captação de energia luminosa e participando do processo fotoquímico (LONDE; NOVO; CALIJURI, 2005; SEKAR; CHANDRAMOHAN, 2008). As ficobiliproteínas são compostos formados por uma fração protéica associada a um cromóforo denominado bilina (BOLD; WYNNE, 1985). As bilinas são cadeias de tetrapirróis que estão covalentemente ligadas a uma apoproteína por ligações tioéter a resíduos de cisteína. Nas cianobactérias foram identificados quatro tipos diferentes de bilinas: ficocianobilina, ficoeritrobilina, ficourobilina e ficoviolobilina. As biliproteínas absorvem radiação em regiões do espectro visível onde a clorofila a tem baixa absorção. Quando a energia absorvida pelas biliproteínas dos ficobilissomas alcança o centro de reação do PSII, ocorre a conversão da energia de excitação para energia química. É importante que as biliproteínas absorvam fótons em uma vasta faixa de energias (MACCOLL, 1998). Nas cianobactérias, a aloficocianina (azul) e a ficocianina (azul) estão sempre presentes e a ficoeritrina (vermelha) é encontrada em apenas algumas. A energia luminosa absorvida pela ficoeritrina migra em seguida para a ficocianina, e depois para a aloficocianina e finalmente para a clorofila a. As estruturas das ficobiliproteínas são similares na maioria das cianobactérias. A ficocianina é o principal constituinte dos ficobilissomas enquanto que a aloficocianina funciona como pigmento ponte entre os ficobilissomas e lamelas fotossintéticas (PRASANNA et al, 2010). 3.1.3 Produção de substâncias/compostos de interesse por cianobactérias Programas visando à descoberta de compostos bioativos de algas e cianobactérias tem demonstrado que as mesmas representam recursos naturais pouco explorados, com produção de uma variedade de metabólitos secundários, que mostram semelhanças com produtos oriundos de animais e plantas. Nestes programas, o foco tem sido identificar metabólitos antifúngicos, antivirais, antibacterianos, antimitóticos, antihelmínticos, anticoagulantes, hemaglutinantes e tóxicos. Os metabólitos das cianobactérias também têm sido avaliados como compostos bioativos, empregados em farmacologia ou em diagnósticos (PRASANNA et al, 2010), como é o caso das ficobiliproteínas, pigmentos fluorescentes, que são estudados atualmente por suas atuações como corantes naturais, como agentes fluorescentes em sistemas de detecção (por exemplo, citrometria de fluxo) e quanto às suas 27 ações farmacológicas. As ficobiliproteínas comercializadas possuem preços que podem variar de 5.000 a 33.000 dólares por grama (SEKAR; CHANDRAMOHAN, 2008). As cianobactérias têm sido identificadas como um dos mais promissores grupos de organismos para descoberta e identificação de produtos naturais biologicamente ativos (SINGH; KATE; BANERJEE, 2005), pois produzem metabólitos secundários com distintas atividades biológicas, como as que já foram citadas anteriormente. A presença de substâncias com atividade antioxidante em cianobactérias foi confirmada nos trabalhos de Lima Araújo et al (2006), Wang et al (2007) e Pandey e Pandey (2008). Portanto, esta constitui uma área relativamente inexplorada, uma vez que o número de espécies de cianobactérias e microalgas ainda é desconhecido, entretanto, são encontradas citações relatando que podem existir alguns milhões de representantes destes grupos e esta diversidade também se reflete na composição bioquímica e em uma quantidade ilimitada de produtos metabólicos (NORTON; ANDERSEN; MELKONIAN, 1996; PULZ; GROSS, 2004). 3.1.4 Gênero Athrospira O gênero Arthrospira (ordem Oscillatoriales) constitui o grupo de cianobactérias filamentosas caracterizadas por uma cadeia de células na forma de espiral ou helicoidal (Figura 2) e envolvidas por uma bainha fina, cujas paredes transversas podem ser vistas sob microscopia ótica (GUGLIELMI; RIPPKA; TANDEAU DE MARSAC, 1993; MORAES et al, 2013). Embora o gênero Arthrospira tenha sido oficialmente incluído no Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology em 1989 (CASTENHOLZ, 1989), as espécies Arthrospira maxima e Arthrospira platensis, as duas espécies mais importantes, que são cultivadas em nível industrial em diversas regiões do mundo, são frequentemente referidas como Spirulina maxima e Spirulina platensis, e a biomassa destas cianobactérias é comercializada com a denominação de ‘spirulina’ (LIMA ARAÚJO; FACCHINETTI; SANTOS, 2003). Esta designação é adotada, de fato, sem consideração do sentido taxonômico, e tem significado prático e tradicional. Portanto, deve-se sempre ter em mente que o produto comercial, e que é utilizado como suplemento alimentar, trata-se na verdade da biomassa cultivada de cianobactérias do gênero Arthrospira, que difere do gênero Spirulina. O posicionamento de separação em dois gêneros distintos é adotado por vários autores (ANAGNOSTIDIS; KOMAREK, 1988; GUGLIELMI; RIPPKA; TANDEAU DE MARSAC, 1993; RIPPKA; WATERBURY; STANIER, 1981; SCHELDEMAN et al, 1999). 28 Figura 2. Filamentos helicoidais ou espirais da Arthrospira platensis. Fonte: Henrikson (1989). O gênero Arthrospira apresenta as seguintes características morfológicas: arranjo dos seus tricomas cilíndricos multicelulares, com seções perpendiculares bastante visíveis e com formato helicoidal característico por toda a extensão dos filamentos. Os filamentos ou tricomas, envoltos numa espécie de capa, demonstram algumas constrições, comprimento próprio que varia de 2 a 10 μm e 5 a 6 μm de diâmetro, formando uma hélice que pode variar de 30 a 70 μm de raio num comprimento do filamento de aproximadamente 200 – 300 μm. A propósito, o formato helicoidal é bastante influenciado pelos fatores ambientais, tomando um aspecto espiralado principalmente em meio sólido (VONSHAK, 1997; SPILLER et al, 2001). A fissão binária de suas células vegetativas ou fragmentação caracterizam sua reprodução, possuindo flutuação livre e uma estrutura celular típica de organismos procariontes, ou seja,com seu núcleo desprovido de membrana, sendo preenchida por citoplasma que contém grânulos de poliglicanos e vacúolos gasosos. Ainda podem ser encontradas fibrilas e pequenas porções lipídicas. As membranas tilacóides estão na região periférica e central do citoplasma, arranjadas paralelamente entre si e o sentido longitudinal do filamento. As áreas sem tilacóides, além da baixa densidade eletrônica, possuem ribossomos e fibrilas de DNA (VONSHAK, 1997). As espécies de gênero Arthrospira podem ser cultivadas autotrofica, bem como heterotroficamente. As temperaturas ideais para o cultivo são 32 a 45°C. Elas também podem sobreviver a temperaturas de 60 a 70°C, mas o crescimento não foi observado a temperaturas menores que 18°C e, devido a isso, o cultivo dessas cianobactérias só é possível em regiões tropicais e subtropicais, ou em tanques com sistema de controle/regulação de temperatura (MIKLASZEWSKA, WALERON; WALERON, 2008). As cianobactérias do gênero Arthrospira são alcalófilas, o pH ótimo para o seu crescimento fica em torno de 8,5 a 10,5. A alta alcalinidade do meio ambiente é favorável para manter a pureza microbiológica durante o seu cultivo comercial. Outro fator importante 29 é uma composição química apropriada de meio de crescimento, é reconhecida a necessidade de que são essenciais elevadas concentrações de íons sódio e carbonato (VONSHAK; TOMASELLI, 2000). Além disso, a intensidade luminosa também é essencial, sendo considerada ótimo para crescimento uma intensidade de 120 a 200 μMol fótons.m2.s-1, o que corresponde de 10 a 15% do total de intensidade da radiação solar em comprimentos de onda de 400 a 700 nm (MIKLASZEWSKA, WALERON; WALERON, 2008). Durante séculos, os povos tribais colheram A. platensis do Lago Chade na África e Texcoco Lake no México para uso como fonte de alimento (VONSHAK, 1997), assim como em várias partes do mundo, como China, Índia, América do Norte, Peru, Japão e outros (MORAES et al, 2013), fato que significa que Spirulina merece uma atenção especial, como uma fonte de proteína unicelular e por causa de suas propriedades nutracêuticas. Esta cianobactéria também foi utilizada em programas espaciais, sendo recomendada pela National Aeronautics and Space Administration (NASA) como suplemento alimentar primário durante as missões (KARKOS et al, 2008). O gênero Arthrospira é considerado pela FDA (Food and Drug Administration) como seguro (GRAS, do inglês Generally Recognized as Safe), o que permite seu uso em alimentos sem risco para a saúde (FDA, 2003; MORAES; BURKERT; KALIL, 2010). No Brasil, pesquisas estão sendo conduzidas para sua utilização como aditivo alimentar em diferentes produtos (MORAIS; MIRANDA; COSTA, 2009; PEREZ et al, 2007) e ainda na merenda escolar, devido a um projeto de pesquisadores do Sul, com parcerias entre os setores público e privado (MORAIS; MIRANDA; COSTA, 2009). A biomassa de cianobactérias do gênero Arthrospira (spirulina), contém aproximadamente 60 a 70% de proteína, caracterizada como proteína de alta qualidade contendo aminoácidos essenciais para nutrição humana: histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, triptofano, treonina e valina (BELAY, 2008). Estudos nutricionais mostram que estes micro-organismos têm um dos mais altos teores de proteína já encontrado, de alto valor nutricional, boa digestibilidade, e todos os aminoácidos essenciais nas proporções recomendadas pela Food and Agriculture Organization (FAO), com exceção de metionina (LEON et al, 2010). Apesar do elevado valor biológico, existe uma preocupação em relação à ingestão de biomassa microbiana – o alto teor de ácidos nucleicos, que no caso de Arthrospira é de no máximo 6% como citado no trabalho de Lima Araújo, Facchinetti e Santos (2003). De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a ingestão máxima diária de purinas de fontes não convencionais deve ser de 2 g (BRASIL, 2008); considerando que Spirulina teria 6 % de ácidos nucleicos, a quantidade máxima dessa cianobactérias que poderia ser ingerida por dia seria 30 g, o que equivale a 3 colheres de sopa. 30 Os carboidratos e lipídios compõem, respectivamente, 8 a 16% e 4 a 9% da matéria seca (BECKER, 2007). Cianobactérias pertencente ao gênero Arthrospira também são uma rica fonte de numerosos microelementos, tais como cálcio, ferro, fósforo, iodo, magnésio, zinco, selênio, cobre, manganês, cromo, potássio, e sódio. Também foi demonstrado que Arthrospira platensis é uma fonte rica em vitaminas hidrossolúveis do complexo B, em particular B12 e vitaminas lipossolúveis D, A, E (ESTRADA; BESCÓS; FRESNO, 2001). Além disso, essas cianobactérias contem quantidades significativas de ácidos graxos insaturados, incluindo os ácidos linolênico (ω-3) e linoleico (ω-6), particularmente benéficos para a saúde humana (BELAY, 2008). Outros compostos importantes da biomassa dessas cianobactérias são pigmentos (ficocianinas, clorofilas, carotenoides, principalmente β- caroteno) (DESMORIEUX; DECAEN, 2005), compostos fenólicos, tocoferol, todos estes reconhecidos por fortes propriedades antioxidantes (ANDRADE; CAMERINI; COSTA, 2008; COLLA; FURLONG; COSTA, 2007). Alguns aspectos técnicos da produção de Arthrospira (spirulina) têm vantagens em relação a outros micro-organismos fotoautótrofos, tais como a sua fácil colheita do meio de cultura, devido à sua forma em espiral e ao maior tamanho (diâmetro de 10 μm e comprimento de dezenas a centenas de μm). A produção de biomassa pode variar de acordo com o meio de cultura utilizado e as condições do meio ambiente externo (REINEHR, 2001). A extração dos compostos nutricionalmente ativos na forma pura é cara, mas o consumo direto da biomassa como um alimento nutracêutico é uma alternativa viável. Condições de cultivo otimizadas para produção de biomassa e produtividade são normalmente utilizadas na produção comercial de Arthrospira (spirulina) sem considerar a composição química da biomassa, mas as concentrações mais elevadas de compostos potencialmente úteis também podem ser obtidas por manipulação das condições de cultivo (COLLA et al, 2007). 3.1.5 Utilização e consumo de cianobactérias Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, suplementos dietéticos e/ou alimentos naturais estão se tornando cada vez mais populares, na crença de que eles podem complementar a dieta normal ou compensar a ingestão alimentar deficiente. Dentre a grande variedade de suplementos alimentares disponíveis, aqueles que contêm as cianobactérias são bem conhecidos devido a benefícios à saúde relatados por fabricantes e vendedores (RELLÁN et al, 2009). Além disso, as características nutricionais de cianobactérias têm sido reconhecidas por algumas populações há bastante tempo, quer para consumo humano ou animal (SPOLAORE et al, 2006), sendo utilizadas como alimento 31 ou medicamento pelo homem em países da Ásia, África e América do Sul durante séculos (QIU; LIST; KOPCHICK, 2005; JOHNSON et al, 2008). Cianobactérias têm sido amplamente estudadas por vários motivos, dentre as quais a produção de biomassa como fonte de compostos químicos de interesse, como clorofila, carotenoides, ficobiliproteínas, polissacarídeos e outros metabólitos biologicamente ativos, com aplicação em estudos de descoberta de novos fármacos (BECHER et al, 2005; DAYANANDA et al, 2007; GARCÍA-GONZALEZ et al, 2005). No que se refere à produção de substâncias com aplicação como aditivos em tecnologia de alimentos, atenção especial deve ser dada às ficobiliproteínas e aos compostos com ação antioxidante, presentes na biomassa de diversas cianobactérias (LIMA-ARAUJO et al, 2006). Para a nutrição humana, cianobactérias podem ser comercializadas na forma de tabletes, cápsulas ou líquidos. Elas podem ser incorporadas em massas, biscoitos, balas ou gomas e embebidas. Cianobactérias do gênero Arthrospira são as mais comumente utilizadas na alimentação humana. Os principais países que produzem alimentos contendo Arthrospira são China e Índia e os produtos são vendidos para, aproximadamente, 20 países do mundo (SPOLAORE et al, 2006). Na África e na América do Sul, as cianobactérias do gênero Arthrospira tem sido usadas por milhares de anos e ainda são consumidas. No Chade, país do centro-norte da África, estas cianobactérias são colhidas diretamente de lagos locais (por exemplo, Lago Kossorom), secas ao sol e depois vendidas nos mercados como bolos secos ou como Dihé, um molho à base de Spirulina, salsa e pimenta, utilizado para acompanhar preparações à base de milho, carnes e peixes (ABDULQADER; BARSANTI; TREDICI, 2000; BERTOLDI; SANT’ANNA; BARCELOS OLIVEIRA, 2008; HABIB et al, 2008). A. platensis (S. platensis) é a espécie de cianobactéria mais comumente usada para consumo humano e, alegadamente tem propriedades antioxidantes, antiinflamatório e hipolipemiante (TINIAKOS; VOS; BRUNT, 2010). A cianobactéria do gênero Nostoc sp. também tem sido usada como produto alimentar não processado por mais de mil anos na China, onde é comercializado em sua forma seca. Além de ter qualidades nutricionais, Nostoc tem valor ''medicinal", bem como ''espiritual" reconhecido por seus consumidores (RELLÁN et al, 2009). A espécie Nostoc commune var. sphaeroides Kützing, também tem uma longa história de consumo humano para fins medicinais, citando-se propriedades como hipocolesterolêmico e anti-inflamatório, contra cegueira noturna, facilitadora da digestão, e como auxilio na melhora da fadiga crônica (QIU et al, 2002). Nostoc commune é rica em fibras e proteínas, podendo desenvolver um papel importante, fisiológico e nutricional, na dieta humana (ABED; DOBRETSOV; SUDESH, 2009). Nas montanhas do Peru, colônias de Nostoc commune são coletadas nos lagos pelos povos indígenas, sendo chamadas llullucha. São consumidas localmente, negociadas 32 por milho, ou vendidas, eventualmente, nos mercados populares de Cusco e de outras cidades vizinhas. Ao longo do planalto peruano, Nostoc commune é altamente importante como um item sazonal da dieta, sendo consumido sozinho, ou em picante - um ensopado local - e diz-se ser altamente nutritivo, tradicionalmente é servido com arroz como uma refeição matinal. Quando adicionado a pratos cozidos, Nostoc é adicionado nos 5 minutos finais do cozimento, e quando cru é consumido com sal ou em saladas com sementes de tarwi cozido e ervas (JOHNSON et al; 2008). Também na China, Nostoc commune, é consumido desde o século III d.C., sendo chamado pelos chineses de Ge-Xian-Mi, é vendido de 70 a 120 dólares por quilo de peso seco como um aditivo para sopas ou um prato principal para ser frito com carne, especialmente pato (QIU et al, 2002). 3.1.6 Sustâncias/compostos produzidos por cianobactérias com atividade biológica Muitas pesquisas têm sido realizadas nesta área, nas quais novas substâncias foram identificadas, distintas atividades encontradas a partir do estudo de diferentes espécies de cianobactérias, inclusive espécies do gênero Arthrospira. Alguns desses trabalhos são sucintamente apresentados neste tópico. Estudos realizados com a cianobactéria Nostoc flagelliforme mostraram que essa espécie produz nostoflan, um polissacarídeo que apresenta eficiente atividade antiviral contra 6 espécies de vírus, entre eles os vírus de Influenza e Herpes (KANEKIYO et al, 2005; 2007). Uma outra pesquisa apontou uma nova lectina, extraída da cianobactéria Microcystis aeruginosa PCC 7806, denominada microvirin, que apresenta estrutura molecular similar a cianovirina-N com propriedade antiviral contra o vírus da AIDS, e seu uso combinado a outros antivirais sintéticos poderá ser uma opção de proteção e tratamento em um futuro próximo (HUSKENS et al, 2010). Descoberta em 1997, a cianovirina-N é uma proteína produzida pela cianobactéria Nostoc ellipsosporum que apresentou atividade antiviral contra o vírus da SIDA (BOYD et al, 1997), eficiente atividade contra diferentes tipos de vírus da Influenza (O’KEEFE et al, 2003; SMEE et al, 2008), além de atividade antiviral contra o vírus da hepatite C (HELLE et al, 2006) e contra o vírus Herpes simplex -tipo 1 (TIWARI; SHUKLA; SHUKLA, 2009). Substâncias produzidas por diferentes cianobactérias têm demonstrado atividade anticâncer por mecanismos distintos. Criptoficina, substância produzida por Nostoc sp. apresentou para diferentes tipos de câncer atividade antineoplásica, citotóxica, antimitótica, sendo esta última comparada a outras drogas antineoplásicas sintéticas e, em alguns casos, criptoficina apresentou melhor eficiência (KESSEL; LUO, 2000). Um pigmento isolado de cianobactérias marinhas Stigonema sp. denominado scitonemina foi descrito pela primeira 33 vez como molécula inibidora da pólo-quinase 1, uma enzima regulatória do ciclo celular, sendo caracterizado como um agente antiproliferativo não tóxico, e com estrutura química suscetível a modificações para desenvolver novos produtos terapêuticos no tratamento de desordens hiperproliferativas (STEVENSON et al, 2002). Pesquisas realizadas com as espécies Nostoc PCC 7120 e Nostoc punctiforme PCC 73102 identificaram a produção de três diferentes sesquiterpenos: β-elemeno, germacremo D, (E, E)-germacradiene-11-ol que também apresentam atividade antiparasitária, incluindo atividade antimalarial (AGGER et al, 2008). Um lipopolissacarídeo (CyP) produzido pela cianobactéria Oscillatoria planktothrix FP1 apresentou atividade antiinflamatória, caracterizada por sua ação antagonista seletiva a lipolissacarídeos bacterianos gram-negativos que provocam sepse, sendo considerado pelos resultados do estudo, um agente terapêutico capaz de modular resposta imune inata e adaptativa, ressaltando o seu potencial terapêutico (MACAGNO et al, 2006). Um extrato lipídico de Nostoc commune revelou capacidade inibitória da biossíntese de colesterol e ácidos graxos, efeito que pode ser benéfico quando este micro-organismo é consumido, pois reduz o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas (RASMUSSEN et al, 2008). A atividade antioxidante do extrato metanólico de Spirulina maxima foi determinada in vitro em células de cérebro homogeneizadas e in vivo em plasma e fígado de ratos. A partir dos resultados pôde-se concluir que o extrato é capaz de proteger contra a oxidação, tanto in vitro quanto in vivo (MIRANDA et al, 1998). Estrada, Bescós e Fresno (2001) em num estudo sobre purificação e caracterização do extrato protéico de Spirulina platensis demonstraram a propriedade antioxidante frente ao radical hidroxil deste extrato e, com seus resultados ratificaram a capacidade antioxidante apresentada pelas ficobiliproteínas, principalmente a ficocianina extraída de S. platensis. O extrato proteico de Spirulina maxima, contendo principalmente ficocianina, foi estudado e analisou-se sua capacidade de proteção contra teratogenia induzida por hidroxiuréia em embriões de camundongos. De acordo com os resultados, o extrato protéico pôde prevenir a incidência das alterações provocadas por hidroxiuréia, que interfere no desenvolvimento cranofacial e formação do tubo neural, provocando um desenvolvimento anormal do embrião. Essa proteção está relacionada à propriedade antioxidante do extrato protéico, que possui como principal componente a ficocianina (VÁZQUEZ-SÁNCHEZ et al, 2009). Recentemente, o potencial clínico de Spirulina, como fonte de ficocianobilina foi investigado e verificou-se que a ficocianorubina, cuja forma reduzida é a depicocianobilina, é um antioxidante importante e pode ser um potencial agente terapêutico no tratamento de doenças oxidativas induzidas pelo estresse. Ficocianorubina pode inibir a formação de radicais O2 •- por NADPH oxidase e desempenhar outras funçõesde proteção através da redução da produção de ERO no corpo (RICHA et al, 2011). 34 Ravi et al (2010) ressaltaram, entre outros efeitos da Spirulina, a estimulação da produção de citocinas e anticorpos, a promoção da atividade de macrófagos, linfócitos T e B, incluindo principalmente as células Natural killer (NK). Dados expostos pelo mesmo trabalho relataram que o pigmento ficocianina exerceu atividade modulatória do sistema imune por meio de um efeito inibitório sobre a liberação de histamina pelos mastócitos durante a resposta alérgica. Além disso, esse pigmento também suprimiu o crescimento de células tumorais, promovendo a atividade das células NK e induzindo linfócitos do baço a produzirem o fator de necrose tumoral TNF-α. Um estudo de investigação sobre Spirulina fusiformis (S. platensis) quanto suas propriedades biológicas, especialmente atividade antiinflamatória, avaliou o efeito da administração oral em camundongos com artrite induzida (estabelecida como modelo de artrite reumatóide). A administração oral de S. fusiformis alterou as condições físicas (volume da pata e peso corporal) e bioquímicas (marcadores bioquímicos específicos) observadas nos camundongos com artrite, apresentando valores próximos às condições normais do grupo controle. S. fusiformis foi capaz de suprimir as mudanças causadas pela artrite induzida e a atividade antiinflamatória, segundo os autores, foi atribuída as propriedades antioxidantes de β-caroteno, vitaminas C e E e outros micronutrientes presentes na biomassa de que S. fusiformis (RASSOL; SABINA; LAVANYA, 2006). Um estudo investigou a capacidade de Spirulina sp. proteger a atividade proliferativa de células tronco neurais do hipocampo de uma resposta inflamatória aguda induzida por LPS (lipopolissacarídeo bacteriano) por ativação de vias pró-inflamatórias. Ratos jovens foram alimentados com uma dieta controle e com uma dieta experimental suplementada com 0,1% de Spirulina sp. por 30 dias. Os resultados mostraram que Spirulina sp. foi capaz de anular os efeitos negativos da inflamação induzida por LPS na função de células progenitoras neurais mantendo a capacidade proliferativa dessas células na resposta inflamatória aguda. Segundo os pesquisadores, uma dieta enriquecida com Spirulina sp. auxilia a regulação dessa resposta inflamatória, importante para diferentes tipos de doenças (BACHSTETTER et al, 2010). Oropeza et al (2009), revisando o efeito dietético da spirulina na reatividade vascular, em anéis de aortas extirpadas de ratos Wistar magros e obesos, relataram que a cianobactéria modula a síntese e a liberação de compostos bioativos pelo endotélio, promovendo vasodilatação pela síntese e liberação de óxido nítrico e do eicosanóide vasodilatador prostaciclina, sobrepondo-se à síntese de eicosanóides vasoconstritores, como prostaglandina H2 e tromboxano. No estudo de Mridha et al (2010), foi evidenciado que ratos alimentados com 150 mg.kg-1 de spirulina apresentaram diminuição estatisticamente significante dos níveis de glicose sanguínea após 28 dias de tratamento; o resultado foi mais acentuado para Spirulina do que para o medicamento hipoglicemiante 35 glibenclamida. Esse resultado foi observado para dois tipos de dietas fornecidas, sendo uma com alta quantidade de açúcar e outra uma dieta normal de laboratório. Um estudo demonstrou que ratos alimentados com spirulina absorveram 60% mais ferro do que os que utilizaram o suplemento sulfato ferroso (HABIB et al, 2008). Já para humanos, o trabalho recente de Selmi et al (2011), conduzido com quarenta voluntários de ambos os sexos, de cinquenta anos ou mais, que não possuíam histórico de doenças crônicas, evidenciou um aumento constante dos valores médios de hemoglobina corpuscular média em indivíduos de ambos os sexos. Além disso, o volume corpuscular médio e a concentração de hemoglobina corpuscular média também aumentaram em participantes do sexo masculino. As mulheres com mais idade pareceram se beneficiar mais rapidamente da suplementação de spirulina. Os pacientes não faziam utilização de suplemento férrico medicamentoso e foram avaliados no início e após seis e doze meses de tratamento. O trabalho também avaliou a influência da suplementação de spirulina na função imunológica, e teve como conclusão que a spirulina pode melhorar a anemia e imunossenescência em indivíduos com mais idade (HABIB et al, 2008). Pesquisadores investigaram o efeito quimiopreventivo de S. platensis contra toxicidade no fígado de rato e carcinogênese induzida por precursores de dibutil nitrosamina (DBN) e o seu mecanismo de ação em células de hepatocarcinoma (HepG2). O tratamento com S. platensis reduziu a incidência de hepatocarcinoma para 20% no grupo de ratos expostos a DBN. Os resultados demonstraram que S. platensis pode prevenir o início de desenvolvimento de tumor induzido por DBN. Os autores afirmam que apesar dos resultados promissores mais estudos precisam ser realizados para comprovar a eficácia do tratamento e, para que possa ser utilizado em pacientes humanos que não tiveram bons prognósticos de hepatocarcinoma com tratamentos convencionais (ISMAIL et al, 2009). Um estudo de revisão realizado sobre potencial nutricional e terapêutico de Spirulina reforça que esta cianobactéria possui diversas atividades biológicas e importância nutricional devido à alta concentração de nutrientes naturais, afirma que extratos preparados de Spirulina são capazes de inibir a carcinogênese devido às propriedades antioxidantes que protegem os tecidos e reduzem a toxicidade do fígado, rins e testículos. Este estudo ainda destaca os principais compostos de importância terapêutica oriundos de Spirulina e seus efeitos relacionados: ficocianina (antioxidade, anticâncer, antiviral, antitóxico, imunoestimulante, hematopoético); sulfolipídio (antiviral); cianovirina-N (antiviral); polissacarídeo sulfatado calcium-spirulan (anticâncer, antiviral, imunoestimulante, hematopoético); -linolênico (precusor de prostaglandinas, efeito em artrite doença cardíaca, obesidade e depressão); -caroteno (precusor de vitamina A, antioxidade, anticâncer) e vitamina E (antioxidade, anticâncer). Aponta que várias descobertas científicas sugerem que Spirulina provou ser um candidato em potencial e ideal para a terapia conjunta devido ao 36 possível efeito sinérgico de muitos fitoquímicos em células íntegras. Relata que cientistas na Índia, China, Japão, Estados Unidos e em outros países estão estudando a Spirulina como um alimento notável, o qual já é claramente seguro e fornecendo suporte nutricional concentrado para uma ótima saúde e bem-estar. O papel multifuncional de espécies de Spirulina torna uma droga natural ideal com imensas propriedades profiláticas e terapêuticas (KHAN; BHADOURIA; BISEN, 2005). Em um trabalho de revisão sobre cianobactérias, potencial nutricional e aspectos biotecnológicos, os autores afirmam que as cianobactérias, devido aos avanços das pesquisas, vêm ganhando muita atenção devido a seu potencial aplicação na biotecnologia e os trabalhos disponíveis na literatura versam principalmente sobre Spirulina e seus componentes, que possuem uma diversidade de atividades, fazendo dela, além de um excelente suplemento alimentar, uma fonte potencial para emprego na prevenção e no tratamento de várias enfermidades (OLIVEIRA, W et al, 2013). Apesar dos benefícios de saúde atribuídos às cianobactérias, uma característica marcante desses micro-organismos é a capacidade de produzir certos metabólitos secundários tóxicos denominados genericamente de cianotoxinas que afetam a saúde animal e humana. Além disso, os produtos naturais extraídos de cianobactérias podem estar contaminados com cianotoxinas, que são produzidas por cerca de 40 espécies de aproximadamente150 gêneros conhecidos (CARMICHAEL, 1994; COX et al, 2005; MOLICA; AZEVEDO, 2009). Po outro lado, algumas cianobactérias já são reconhecidas como livres de toxinas e consideradas como alimento seguro e sem efeitos colaterais/adversos pelo programa da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (ONUDI) (SAMUELS et al, 2002). Como mencionado anteriormente o gênero Arthrospira é internacionalmente reconhecido como seguro (FDA, 2003; MORAES; BURKERT; KALIL, 2010). 3.1.7 Modulação das condições de cultivos Para a produção de biomassa de culturas de cianobactérias, o uso de meios de cultura de confiança que possam sustentar um bom crescimento da linhagem selecionada é pré-requisito necessário. A literatura descreve a existência de muitos meios adequados para o cultivo de espécies puras de cianobactérias. Em alguns casos, um pequeno número de meios de cultivo é eficaz na manutenção de uma grande e diversa coleção de cianobactérias. No entanto, eles normalmente devem ser otimizados para a produção de culturas de massa, em especial quando uma nova estirpe é isolada (RIPPKA et al, 1979; SILVA; CORTIFIAS; ERTOLA, 1989). Segundo Singh, Parmar e Madamar (2009), existe 37 uma necessidade de selecionar uma linhagem de alto rendimento e melhorar a produção dos compostos de interesse através da manipulação das condições de cultivo. As condições ambientais que influenciam a síntese de pigmentos e outras substâncias de interesse em cultivos de microalgas e cianobactérias têm sido estudadas, e fatores como luz incidente, composição do meio, temperatura, bem como os tipos de cultivo têm sido caracterizados (ANDRADE; COSTA, 2008). Como destaque para fatores estudados no presente trabalho são feitas algumas considerações sobre luz, carbono e nitrogênio. Em crescimento fotoautotrófico, cianobactérias usam a luz como única fonte de energia para dirigir a fotólise da água. A energia produzida nesta reação é utilizada para a redução de CO2 (CHOJNACKA; NOWORYTA, 2004). A velocidade específica de crescimento desses micro-organismos pode ser muito influenciada pela fonte e intensidade de luz (WANG; FUB; LIU, 2007). Como a ampla faixa luminosa é a principal característica de qualquer sistema fotossintético, deve-se considerar a correta distribuição da luz sobre o fotobioreator, bem como considerar sua intensidade, uma vez que se aplicada em demasia sobre sua superfície, provocará fotoinibição (crescimento limitado) e consequentemente, baixa conversão de energia luminosa em biomassa, isto é, baixa eficiência fotossintética. A eficiência fotossintética aumenta até o momento em que a iluminação em excesso torna-se um fator limitante ao crescimento, e por outro lado, a produtividade é negativamente afetada pela área central (zona de sombra) ou outras com iluminação deficiente (ERIKSEN, 2008). Por outro lado, presume-se que a obtenção de determinados produtos desses micro- oragnismos pode ser influenciada pela intensidade ou o comprimento de onda disponível no meio. A faixa de intensidade luminosa mais utilizada em cultivos situa-se entre 100 e 200 Mol fótons.m-2.s-1 (8 a 16 klux) (FLETCHER, 1979; WANG; FUB; LIU, 2007). O carbono constitui todos os compostos orgânicos, e é a principal elemento da biomassa microalgal (incluindo cianobactérias), no valor de até 65% do peso seco. O teor de carbono, no entanto, varia significativamente entre as espécies e as condições de cultura e pode variar entre 17,5 e 65%, em peso seco. No entanto, a maioria das espécies contém cerca de 50% de carbono (GROBBELAAR, 2004). O carbono é o elemento necessário em maiores concentrações para as cianobactérias por ser constituinte de todas as substâncias orgânicas sintetizadas pelas células (proteínas, carboidratos, ácidos nucleicos, vitaminas, lipídeos, entre outros) (LOURENÇO, 2006). O íon bicarbonato é a fonte de carbono mais frequentemente empregada em meios de cultura para cianobactérias. É incorporado ativamente, gerando um gasto energético neste processo, sendo convertido em CO2 que é empregado na fotossíntese, e em carbonato, que é liberado para o meio extracelular aumentando o pH do cultivo (MATSUDO, 38 2006). O gênero Arthrospira necessita de grandes quantidades de bicarbonato, que além de fonte de carbono, auxilia na manutenção da condição alcalina do meio de cultura, vital para o cultivo deste gênero, e constitui uma barreira para o desenvolvimento de outros micro- organismos (RAOOF; KAUSHIK; REINHER, 2006). O nitrogênio é o segundo elemento mais abundante na biomassa de microalgas e cianobactérias, seu teor varia de 1% até 14% (normalmente, cerca de 5 a 10%) de peso seco (GROBBELAAR, 2004). O nitrogênio é componente fundamental de três classes de substâncias estruturais e do metabolismo primário das células: proteínas, ácidos nucleicos e pigmentos fotossintetizantes (clorofilas e ficobilinas) (LOURENÇO, 2006). Nitrato (NO3 -) é a forma mais comumente utilizada de nitrogênio mineral para cultivo de microalgas e cianobactérias em meios sintéticos. Os sais nitrato mais frequentemente utilizados são NaNO3 e, menos freqüentemente, nitrato de potássio (KNO3) (GROBBELAAR, 2004). Apesar da ampla utilização dos sais de nitrato, estudos mostram uma variedade de fontes alternativas de nitrogênio. Microalgas e cianobactérias podem utilizar nitrogênio a partir de formas orgânicas, tais como ureia, amônia e alguns aminoácidos. Ureia e aminoácidos são transportados ativamente para dentro das células e são metabolizados no meio intracelular. Amônia é a fonte de nitrogênio preferido para esses micro-organismos porque sua absorção e assimilação consome menos energia em comparação com as outras fontes de nitrogênio (PEREZ-GARCIA et al, 2011). Se o suprimento de nitrogênio é abundante em cultivos, verifica-se tendência de aumento nas concentrações de proteína e clorofila nas células. Já baixas concentrações diminuem o teor destes componentes celulares, diminuindo drasticamente a taxa de divisão celular. A concentração de ácido linolênico aumenta e o conteúdo de ácidos graxos permanece constante. As ficocianinas são degradadas e utilizadas como fonte de nitrogênio. Mais carotenoides e menos clorofilas são produzidas, gerando mudanças de cor que tendem ao amarelado (COLLA; BERTOLIN; COSTA, 2004; LOURENÇO, 2006; FERREIRA, 2008). Os meios de cultivo utilizados para a produção industrial de Arthrospira geralmente usam como base o meio Zarrouk (BELAY, 2008). Contudo, o meio Zarrouk é bastante caro e apresenta uma composição complexa pelo uso de muitos reagentes, o que influencia significativamente no preço das preparações obtidas a partir da biomassa de cianobactérias cultivadas nele. Por tal motivo, meios mais econômicos são constantemente procurados, objetivando uma redução dos custos de produção. Algumas tentativas foram feitas para substituir meio Zarrouk por meios reduzidos em elementos traços (por exemplo, RM6) ou feitos a base de fertilizantes (por exemplo, superfosfato) ou fazendo uso de resíduos de matérias-primas (por exemplo, melaço) (ANDRADE; COSTA, 2007; RAOOF; KAUSHIK; REINHER, 2006; TARKO; DUDA-CHODAK; KOBUS, 2012). 39 Segundo Colla et al (2007) relatam em sua pesquisa com a cianobactéria S. platensis, a extração de compostos nutricionalmente ativos em forma pura, é cara, mas o consumo direto da biomassa de cianobactéria como um alimento nutracêutico é uma alternativa viável. Condições de cultivo otimizadas para produção da biomassa e produtividade são normalmente utilizados na produção comercial de cianobactérias, neste caso de S. platensis, sem considerar a composição química, mas concentrações mais elevadas de compostos potencialmente úteis, tais como ácidos graxos poli-insaturados, proteínas e compostos fenólicos que podem ser obtidos