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Análise das Demonstrações Contábeis Unidade 4 Análise de Investimentos e M&A Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria MICHEL TEIXEIRA PEREIRA AUTORIA Michel Teixeira Pereira Sou formado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor do Departamento de Administração do Centro de Ensino Grau Técnico Curitiba, com experiência em ministrar as disciplinas de Contabilidade Societária, Análise das Demonstrações Contábeis, Economia e Mercado, Gestão da Qualidade e Contabilidade Introdutória. Possuo experiência profissional em empresa de gestão financeira, onde trabalhei com avaliação de empresas e gestão de recursos por meio de indicadores econômicos e financeiros. Também fui assistente contábil e financeiro em empresas da área de comunicação (TV, rádio e jornal) com ênfase em gestão contábil e financeira. Atuei no setor bancário com atendimento a empresas de pequeno e médio portes realizando visitas técnicas e negociações. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Retorno sobre o investimento (ROI) .................................................... 10 Entendendo o retorno sobre o investimento (ROI) ................................................. 10 Alavancagem financeira ........................................................................... 14 Introdução à alavancagem financeira .............................................................................. 14 Grau de alavancagem financeira ......................................................................................... 17 Estratégias para aumentar o grau de alavancagem financeira ..................... 19 Calculando o GAF – Exemplo ............................................................................................... 20 Alavancagem Operacional e Alavancagem Total ..........................26 Grau de Alavancagem Operacional ...................................................................................26 Determinando o GAO – Exemplo ........................................................................................27 Alavancagem Total ........................................................................................................................ 30 Ponto de equilíbrio (break even point) ............................................................................32 Considerações sobre alavancagem ..................................................................................33 Análise de ações e valor criado ao acionista (tópicos especiais) ........................................................................................................ 35 Valor patrimonial ..............................................................................................................................35 Valor de mercado ............................................................................................................................37 Lucro por ação (LPA).................................................................................................................... 38 Preço/Lucro (P/L).......................................................................................................................... 39 Dividendos por Ação (DPA) ..................................................................................................... 40 Dividend Yield (DY) ........................................................................................................................ 40 Margem EBITDA ............................................................................................................................... 41 7 UNIDADE 04 Análise das Demonstrações Contábeis 8 INTRODUÇÃO Esta unidade visa introduzir o leitor na Análise da Alavancagem. O que são as alavancagens financeira, operacional e total? O que é o índice de retorno sobre o investimento e como é feito sua análise? Quais os principais índices de análise sob a ótica do acionista? Como se cria valor (riqueza) ao acionista? A presente obra foi preparada de forma bastante objetiva e direta e busca integrar teoria e prática. Espero que este livro possa ser uma efetiva contribuição não somente para a sua formação acadêmica, leitor, mas também para o seu aprimoramento e evolução profissional. Tenha em mente que este conteúdo requer estudo constante e contínuo. Sua trajetória como analista das demonstrações contábeis está apenas no começo! Mergulhe de cabeça neste universo e faça uma boa leitura! Análise das Demonstrações Contábeis 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Interpretar o Retorno sobre o Investimento (ROI). 2. Prever a Alavancagem Financeira. 3. Interpretar a Alavancagem Operacional e Alavancagem Total. 4. Selecionar alguns tópicos especiais sobre a criação de valor ao acionista. Então? Preparado(a) para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Análise das Demonstrações Contábeis 10 Retorno sobre o investimento (ROI) OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o que é o índice ROI e como analisá-lo. Quais são suas finalidades? O que elas indicam? Além de verificar exemplos práticos. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Entendendo o retorno sobre o investimento (ROI) O ROI, do inglês Return on Investment, é uma medida de desempenho usada para avaliar a eficiência de um investimento ou comparar a eficiência de investimentos diferentes. O ROI tenta medir diretamente a quantidade de retorno de um investimento específico em relação a seu custo. Para calcular o ROI, o benefício (ou retorno) de um investimento é dividido pelo custo do investimento (INVESTOPEDIA, 2019). O resultado é expresso em porcentagem ou proporção. A fórmula do ROI é: ROI = valor atual do investimento - custo do investimento / custo do investimento Em outras palavras: ROI = valor de mercado - patrimônio líquido / patrimônio líquido Na fórmula acima, valor atual do investimento refere-se aos recursos obtidos com a venda do investimento de interesse. Como o ROI é medido como uma porcentagem, pode ser facilmente comparado aos retornos de outros investimentos, permitindo medir uma variedade de investimentos uns contra os outros. Análise das DemonstraçõesContábeis 11 Figura 1 – Comparando investimentos Fonte: Pixabay O ROI é uma medida muito utilizada, visto que é simples e versátil. Basicamente, é um indicador da lucratividade de uma empresa, mas também é utilizado para expansão fabril, transações imobiliárias e investimento em ações. Normalmente, um ROI positivo significa que é um bom investimento. Contudo, o analista deve levar em consideração outras oportunidades com o ROI maior, logo a opção com maior ROI é a melhor, mesmo que todos os comparados sejam positivos. Por outro lado, investimentos com ROI negativo devem ser evitados. Analise o exemplo: Arthur investiu R$ 1.000,00 na Cia. ABC em 2017 e vendeu suas ações por um total de R$ 1.200,00 um ano depois. Para calcular o ROI, deve-se realizar a divisão dos lucros (R$ 1.200,00 - R$ 1.000,00 = R$ 200,00) pelo custo do investimento (R$ 1.000,00), para obter-se um ROI de 20% (R$ 200,00/R$ 1.000). Com o ROI de 20% obtido na Cia. ABC, é possível compará-lo com outros investimentos. Suponha-se que Arthur também tenha investido Análise das Demonstrações Contábeis 12 R$ 2.000,00 na Cia. Abraço em 2014 e tendo vendido a totalidade de suas ações por R$ 2.800,00 em 2017. O ROI do Arthur obtido na Cia. Abraço seria de 40% (R$ 800,00/R$ 2.000,00). Limitações do ROI Algumas limitações podem ocorrer nesse tipo de análise, principalmente ao se comparar investimentos. O ROI do segundo investimento de Arthur foi duas vezes maior que o primeiro. No entanto, no primeiro investimento, o tempo entre a compra e a venda foi de um ano e, no segundo, de três anos. Nesse caso, para comparar os dois investimentos de forma igualitária, deve-se obter o ROI anual médio. Como o ROI do segundo investimento era de 40% e levou três anos, é plausível dividir os 40% por 3 para obter-se 13,33%. Sendo assim, com base nesse ajuste, apesar de o segundo investimento ter rendido maior lucro, o primeiro foi na verdade o mais eficiente, pois, no mesmo período de tempo, teve um rendimento superior. Novas métricas do ROI Nos últimos tempos, investidores buscaram uma nova forma de mensurar o ROI, que ficou conhecida como SROI (Retorno Social do Investimento). O SROI foi desenvolvido inicialmente no início dos anos 2000, levando em consideração os impactos mais amplos de projetos que utilizam valor extra financeiro (ou seja, métricas sociais e ambientais que atualmente não são refletidas nas contas financeiras convencionais) (INVESTOPEDIA, 2019). Suponha que uma companhia tenha se comprometido a substituir toda a iluminação por lâmpadas mais econômicas e reciclar a água em suas fábricas. Esse investimento tem um custo imediato e pode impactar negativamente o ROI tradicional. Contudo, o benefício líquido a longo prazo, para a sociedade e o meio ambiente, pode considerar um SROI positivo. Análise das Demonstrações Contábeis 13 Existem também outros exemplos de ROI para fins específicos. Como é o exemplo do ROI das estatísticas de mídia social, que verifica se as campanhas de mídia social foram bem sucedidas, quantas curtidas ou cliques são gerados para cada real gasto, ou mesmo ROI de campanhas de publicidade, para identificar o retorno das estatísticas de marketing por real consumido. Existe, também, o ROI de aprendizado, referente ao retorno de aprendizado por real gasto. Logo, inúmeras formas de ROI são possíveis e cada companhia pode desenvolver a sua de acordo com seu nicho de atuação. RESUMINDO: Neste capítulo analisamos o que é o retorno sobre o investimento (ROI), analisamos um exemplo e suas características. Análise das Demonstrações Contábeis 14 Alavancagem financeira OBJETIVO: Neste capítulo, é apresentada a Alavancagem Financeira. Quais são suas finalidades? O que ela indica? Sua fórmula, seu significado e sua interpretação. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Introdução à alavancagem financeira Vamos começar com uma situação hipotética. Considere duas companhias. A empresa A utiliza-se apenas de capital próprio para financiar seu ativo. Ela obtém um retorno de 20% sobre esse ativo. O retorno sobre o Patrimônio Líquido (PL) será também de 20%, dado que todo o seu ativo é formado pelo PL. A empresa B obtém o mesmo retorno de 20% sobre o ativo, mas recorrendo a recursos de terceiros, consegue dobrar seu investimento em ativo. Vejamos o que ocorreria em três situações distintas. Exemplo 1 Quadro 1 – Custo do empréstimo: igual à taxa de retorno sobre o ativo Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Verifica-se que o retorno sobre o PL é idêntico, igual a 20%. Nenhum benefício ou prejuízo adicional se transferiu aos acionistas como consequência do empréstimo. Análise das Demonstrações Contábeis 15 Quadro 2 – Custo do empréstimo: inferior à taxa de retorno sobre o ativo. Considere o custo do empréstimo de 10% Fonte: Elaborado pelo autor (2021). No segundo caso, a empresa A obteve um retorno de 20% sobre o PL, e a empresa B, recorrendo ao endividamento, teve um retorno de 30%. Note-se que os valores colocados para o ativo nas duas empresas são apenas os iniciais. Na verdade, a receita seria adicionada ao ativo inicial, subtraindo-se os juros (se estes forem pagos) ou adicionando-os ao passivo. O PL final ficaria alterado pela diferença entre receita e despesa. No segundo caso, consegue-se aumentar o rendimento dos acionistas de 20 para 30% pelo uso do endividamento. Quadro 3 – Custo do empréstimo: superior à taxa de retorno sobre o ativo. Considere de 30% Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Verifica-se que nesse caso foi desvantajosa a obtenção de financiamento, pois o lucro final foi menor. A empresa A obteve um retorno de 20%, e a empresa B, de apenas 10% sobre o PL. Exemplo 2 A alavancagem financeira será tanto maior quanto for a participação do Capital de Terceiros na Estrutura Financeira. Análise das Demonstrações Contábeis 16 Quadro 4 – Análise das três alternativas de endividamento, do ponto de vista da empresa e do acionista Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Quadro 5 – Análise caso os resultados operacionais sofram alguma redução. Condidere 50% Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Nesse caso, o uso de mais capital de terceiros é prejudicial (alavancagem desfavorável), pois o retorno sobre o investimento (Ativo Total) é de apenas 15%, inferior, portanto, ao custo do capital de terceiros. Análise das Demonstrações Contábeis 17 Grau de alavancagem financeira A Alavancagem Financeira é a capacidade da companhia de utilizar recursos de terceiros para maximizar os resultados da variação do lucro. A força da Alavancagem Financeira pode aumentar o retorno dos investimentos dos acionistas e, com frequência, há vantagens fiscais relacionadas com a obtenção de empréstimos, pelo fato da possibilidade de dedução no Imposto de Renda das despesas com os juros (SILVA, 2000). Uma alta Alavancagem Financeira pode determinar altos impactos nos resultados, tanto positivos quanto negativos, decorrentes da utilização de capitais de terceiros. Companhias com altas alavancagem financeiras estão sujeitas ao risco de falência no caso de não gerarem recursos capazes de honrar com suas dívidas, ou mesmo, de realizarem novos financiamentos quando não conseguirem renegociar os seus. O retorno do capital próprio de uma empresa está ligado à rentabilidade do negócio e à sua boa administração financeira. A Alavancagem Financeira traz a possibilidade dos investidores obterem maior rentabilidade pelo uso intensivo do capital de terceiros (financiamentos e empréstimos). Os juros do financiamento são tratados como custos fixos, permitindo o fenômeno da alavancagem. Nos episódios em que o Retorno sobre o Capital Próprio (ROE) for superior ao custo de captação de recursos em terceiros, será admissível o interesse no endividamento, já que essa diferença proporcionará uma elevação na mesmamedida nos resultados dos acionistas, em virtude da alavancagem da rentabilidade (SILVA, 2000). A expressão Alavancagem Financeira significa o que a empresa consegue alavancar, ou seja, aumentar o lucro líquido por meio da estrutura de financiamento. Já a Alavancagem Operacional significa o quanto a empresa consegue aumentar o lucro por meio da atividade operacional, basicamente, em função do aumento da margem de Análise das Demonstrações Contábeis 18 contribuição (diferença entre receitas e custos variáveis) e manutenção de custos fixos. O cálculo do Grau de Alavancagem Financeira (GAF) é realizado da seguinte forma: Nas situações em que o GAF for maior que 1, os recursos captados de terceiros resultarão em um impacto positivo sobre o ROE. Nos episódios em que o GAF for igual a 1, não haverá Alavancagem Financeira, dado que não houve aumento da rentabilidade com a captação de recursos de terceiros. Por fim, quando o GAF for menor que 1, a situação será desfavorável, uma vez que a captação de recursos de terceiros não foi capaz de impactar de forma positiva o ROE. O Quadro 6 apresenta um resumo destas considerações. Quadro 6 – Avaliação do grau de alavancagem financeira Fonte: Adaptado de Silva (2000). Análise das Demonstrações Contábeis 19 Estratégias para aumentar o grau de alavancagem financeira Observe no Quadro 7 algumas estratégias que podem ser adotadas com o objetivo de aumentar o GAF, cuja adoção poderá ser isolada ou conjunta. Quadro 7 – Estratégias para maximizar o grau de alavancagem financeira Fonte: Adaptado de Silva (2000). Figura 2 – Alavancagem financeira Fonte: Freepik Análise das Demonstrações Contábeis 20 Calculando o GAF – Exemplo Visto que os recursos obtidos de terceiros proporcionam redução na carga tributária, deve-se considerar o quanto a companhia deixou de pagar de impostos devido aos custos assumidos com a dívida. Indiretamente essa técnica representa lucro para os acionistas, em razão das despesas com juros ou despesas financeiras serem dedutíveis do cálculo do Imposto de Renda (empresas optantes pelo Lucro Real). Para melhor entendimento do conceito de Alavancagem Financeira, considere os cálculos do ROI, ROE e GAF, por meio da realização das seguintes etapas, segundo (SILVA, 2000): 1. Identificação do valor de Investimentos e do Passivo Oneroso e não Oneroso. 2. Cálculo da carga tributária do Imposto de Renda + Contribuição sobre o lucro. 3. Cálculo do ROI, ROE e GAF. 1. Identificação do valor de investimentos e do passivo oneroso e não oneroso Os Passivos não Onerosos não apresentam despesas financeiras embutidas e são essenciais para a atividade da companhia. Exemplos: salários, fornecedores e impostos. O valor dos seus investimentos é definido como seu Ativo Total menos os Passivos não Onerosos. Os Passivos Onerosos apresentam algum tipo de encargo financeiro. Exemplos: juros e taxas, que geram mais despesas para a companhia. Vejamos um exemplo. Análise das Demonstrações Contábeis 21 Quadro 8 – Determinação do valor dos investimentos da Cia. ABC Fonte: Adaptado de Silva (2000). Como é possível verificar, os Passivos não Onerosos são aquelas contas que não possuem nenhum tipo de encargo financeiro. Agora vejamos um exemplo de Passivos Onerosos. Quadro 9 – Determinação dos passivos onerosos da Cia. ABC Fonte: Adaptado de Silva (2000). O Passivo Oneroso tem envolvimento direto com instituições financeiras e inclui debêntures, visto que a debênture é o título de dívida com juros que a empresa emite para seus investimentos. 2. Cálculo da carga tributária do Imposto de Renda + Contribuição sobre o lucro O primeiro passo é identificar a carga tributária líquida incidente sobre o resultado da companhia. Para essa finalidade, dividimos a Provisão para o Imposto de Renda (IR) pelo Lucro antes do IR, ambos constantes da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Análise das Demonstrações Contábeis 22 Suponha que: Provisão para o IR = 80.211 Lucro antes do IR = 242.060 O segundo passo é avaliar o impacto dos juros sobre financiamentos na DRE. Isso tornará possível definir o Lucro Operacional após o IR. As Despesas Financeiras são dedutíveis para o cálculo do IR. Sendo assim, podem ser percebidas como economia na carga tributária final. Essa etapa nos permitirá determinar o Lucro Operacional após o IR. As Despesas Financeiras Líquidas devem ser percebidas como elemento de economia no cálculo da carga tributária final, tendo em vista que as Despesas Financeiras são dedutíveis para o cálculo do IR devido. Deve-se considerar o cálculo do Lucro Operacional sem considerar a estrutura de financiamento da companhia, ou seja, aquele lucro gerado pelos ativos da empresa. Efetuadas as reclassificações descritas, teremos a seguinte DRE. Quadro 10 – Determinação do resultado do exercício ajustado da Cia. ABC Fonte: Adaptado de Silva (2000). Análise das Demonstrações Contábeis 23 Observe que a obtenção de recursos com terceiros gerou uma economia de IR de R$ 251.578,00. 3. cálculo do ROI, ROE e GAF Para não onerar a rentabilidade do capital próprio (ROE), a melhor opção é financiar-se com taxas menores ao ROA e ao ROI da companhia e assim obter um GAF positivo. Casos em que o ROE é maior que o ROI são um indicativo de que a companhia consegue recursos no mercado a taxas atrativas ou inferiores ao retorno do dinheiro aplicado no empreendimento. Se a companhia não possuísse nenhum Passivo ou capital de terceiros, o ROE seria o mesmo que o ROI e o Lucro Líquido seria igual ao Lucro Operacional após o IR. Por fim, verifica-se o ROI e o ROA sobre o ROE, levando em consideração o impacto da economia de IR com a dedutibilidade das Despesas Financeiras resultantes dos financiamentos obtidos. Vejamos, agora, o GAF, considerando o efeito do IR e a apuração do valor dos Investimentos Líquidos e Passivo Oneroso no Quadro 11. Quadro 11 – Valores a serem considerados para a apuração da GAF após ajustes nas contas da DRE e Balanço Patrimonial da Cia. ABC em 31/12/X3 Fonte: Adaptado de Silva (2000). ROI/ROA = Rentabilidade do Ativo sobre o lucro operacional Análise das Demonstrações Contábeis 24 Pelo resultado apurado, a Cia. ABC obteve um ROI/ROA de 14,88% dos investimentos mantidos em 20X3. A fim de se verificar se o mesmo é atrativo, deve-se compará-lo com o ROE e com o custo do endividamento. ROE = Rentabilidade do Patrimônio Líquido No caso apresentado, a Cia. ABC trabalhou com recursos de terceiros e apurou um ROE superior ao ROI no exercício, uma indicação de que o custo da dívida não impactou negativamente o retorno sobre o capital próprio. Custo da Dívida Finalizando, observe-se que os recursos levantados no mercado financeiro pela Cia. ABC, a um custo líquido de 12,80%, foram aplicados em ativos que renderam 14,88% de retorno. GAF = Grau de Alavancagem Financeira Esse GAF indica que o ROE é maior que o ROI, evidenciando que o custo da dívida da Cia. ABC é inferior ao Retorno dos Investimentos (ROI). Nesse caso específico, os recursos captados alavancaram a empresa financeiramente. No Quadro 12, é possível ver o comportamento do Grau de Alavancagem Financeira em variados cenários. Análise das Demonstrações Contábeis 25 Quadro 12 – Comportamento do grau de alavancagem financeira Fonte: Adaptado de Silva (2000). Os cálculos foram feitos partindo de uma situação em que não há capital de terceiros onerosos (Empresa A) e, por consequência, inexistindo despesas financeiras, até chegar em um cenário em que quase a totalidade do capital investido é de terceiros (Empresa C). Lembre-se que, para haver alavancagem financeira, é necessário que a riqueza gerada pelo uso de recursos de terceiros seja maior que o custo (juros) deste recurso. RESUMINDO: Neste capítulo, estudamos a introdução à alavancagem financeira e compreendemos o grau de alavancagem financeira.Vimos estratégias para aumentar o grau de alavancagem financeira e um exemplo de cálculo do GAF. Análise das Demonstrações Contábeis 26 Alavancagem Operacional e Alavancagem Total OBJETIVO: Neste capítulo, são apresentadas a Alavancagem Operacional e a Alavancagem Total. Quais são suas finalidades? O que elas indicam? Sua fórmula, seu significado e sua interpretação. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Grau de Alavancagem Operacional A Alavancagem Operacional diz respeito ao uso de ativos operacionais (custos e despesas fixas), com a finalidade de maximizar o lucro antes dos juros e impostos. A partir da análise da Alavancagem Operacional de uma companhia, é possível verificar a viabilidade econômica, identificando as causas das variações nos resultados e sua natureza cíclica. Sendo assim, existe a possibilidade de verificar o impacto no resultado, com base na variação do volume de vendas, tornando- se, dessa forma, um bom instrumento para construção de cenários econômicos. Quando se analisa uma Demonstração de Resultado, existem dois tipos de custos: os fixos e os variáveis. Quadro 13 – Custos fixos e variáveis Fonte: Silva (2000, p. 163). Análise das Demonstrações Contábeis 27 Imagine que uma empresa tenha uma elevada estrutura de custos fixos em relação aos seus custos totais. Se ela aumentar o volume de produção, logo seu lucro operacional será maior. Em contrapartida, se sua estrutura de custos variáveis for maior em relação aos seus custos totais, sua rentabilidade tenderá a cair, podendo levar ao prejuízo e, consequentemente, a um estado de insolvência. Dessa forma, o conceito de Alavancagem Operacional pode ser associado ao de risco de negócio da empresa. Um bom Grau de Alavancagem Operacional (GAO) é determinado pela estrutura de custos da empresa, quando esta apresenta maior capacidade de alavancar os lucros com a manutenção de maiores custos fixos em relação aos custos totais (SILVA, 2000). Entretanto, com custos fixos maiores, também há o risco de a empresa diminuir o volume de produção e apresentar prejuízos. Para calcular o GAO, utilizamos a seguinte divisão: Como a DRE não apresenta de forma detalhada quais são os custos fixos e variáveis da empresa, a apuração do GAO por analistas externos se torna difícil, a menos que a empresa forneça de forma excepcional esses dados. Determinando o GAO – Exemplo Observe no Quadro 14 a síntese de um exemplo para ilustrar a determinação do GAO, considerando duas empresas (A e B), com volume de atividade e Lucros Operacionais idênticos, mas com suas estruturas de custos (despesas) diferentes. Análise das Demonstrações Contábeis 28 Quadro 14 – Estrutura de custos das empresas A e B Fonte: Adaptado de Silva (2000). Seguindo a lógica dos conceitos apresentados, a empresa A possui maiores custos fixos em sua estrutura de custos, tendo, assim, maior capacidade de Alavancagem Operacional. Ou seja, um maior volume de vendas irá alavancar seus resultados, assim como uma diminuição do volume de vendas irá incorrer em maior risco de insolvência. Observe no Quadro 15 o que aconteceria com o GAO dessas empresas (A e B), caso ocorresse um aumento de 20% no seu volume de vendas. Quadro 15 – Impacto do aumento de 20% no volume de operações na apuração do GAO das Empresas A e B Fonte: Adaptado de Silva (2000). Caso as vendas aumentassem 1%, a empresa A elevaria 7% de seus resultados operacionais. Por outro lado, na Empresa B, um aumento de 1% nas vendas causaria variação positiva de 3%. Esse fenômeno acontece pelo Análise das Demonstrações Contábeis 29 fato da elevação das vendas não afetar a variação dos custos e despesas fixos. Logo, a empresa A tem maior volatilidade na sua Alavancagem Operacional, além de assumir um risco operacional mais elevado. No exemplo do Quadro 16, ocorre uma redução de 20% no volume de vendas. A empresa A se mostra sem capacidade de cobrir seus custos e despesas fixas, realizando prejuízo operacional. A Empresa B consegue manter-se lucrativa, pois possui uma estrutura de custos e despesas fixas mais enxuta. Quadro 16 – Impacto da diminuição de 20% no volume de operações na apuração do GAO das Empresas A e B Fonte: Adaptado de Silva (2000). A partir das análises feitas, é possível verificar que o GAO proporciona maior alavancagem dos lucros operacionais, mas, também, eleva o risco operacional da companhia. Altos valores de GAO determinam maior participação de custos e despesas fixas na estrutura de resultados. Segundo Silva (2000), é possível apurar o GAO nos casos em que não se conhecem as variações no volume de atividade e nos resultados a partir da seguinte fórmula: Onde: RV = Receitas de Vendas (no período) CDV = Custos e Despesas Variáveis (no período) CDF = Custos e Despesas Fixos Análise das Demonstrações Contábeis 30 Caso fosse aplicada essa fórmula nas Empresas A e B, veríamos o seguinte: Uma forma de avaliar o GAO seria comparando-o com o GAO médio do setor de atuação da companhia. Contudo, não há como afirmar que exista um GAO ideal. Na visão de Silva (2000), o GAO só teria duas validades: Comparar duas estruturas de custos, evidenciando que a empresa que tem maior GAO é mais alavancada. Calcular qual será a variação do Lucro Operacional, dada uma variação percentual esperada no volume de vendas. Alavancagem Total A Alavancagem Operacional está relacionada diretamente com os custos e despesas fixas das companhias, representando risco operacional. Entretanto, as companhias continuam expostas pela Alavancagem Financeira, que é decorrente da utilização de capital de terceiros na estrutura de financiamento. Sendo assim, a alavancagem financeira está diretamente ligada ao passivo e, se não há capital de terceiros, não há alavancagem financeira. Quadro 17 – Alavancagem x Riscos Fonte: Silva (2000, p. 167). O Grau de Alavancagem Total (GAT) é determinado pela junção entre Alavancagem Operacional e Alavancagem Financeira, podendo determinar, assim, o risco da empresa. Análise das Demonstrações Contábeis 31 A fórmula do GAT, segundo Silva (2000), é: GAT = GAO x GAF ou GAT = ΔLL / ΔVA Sendo: ∆LL = Variação do Lucro Líquido ∆VA = Variação no Volume de Atividade Caso uma companhia esteja com as alavancagens financeira e operacional altas, algumas poucas alterações no volume de atividade resultam em grandes impactos nos resultados líquidos. Sendo assim, tendo o efeito combinado, alterações no volume de vendas promovem fortes mudanças no resultado operacional e líquido. A Quadro 18 mostra o cálculo do GAT. Quadro 18 – Apuração do GAT Fonte: Adaptado de Assaf Neto (2015). Verifica-se que o GAO foi 2,07 e o GAF 1,16. Multiplicando-se esses números, o resultado é um GAT de 2,4, ou seja, para cada variação positiva de 1% no volume de vendas haverá um aumento de 2,4% no lucro líquido da companhia. Dessa maneira, o GAT permite a análise em conjunto dos reflexos das decisões de financiamento e investimento. Análise das Demonstrações Contábeis 32 Ponto de equilíbrio (break even point) O Ponto de Equilíbrio é o nível mínimo de vendas que uma determinada empresa precisa atingir para não incorrer em prejuízo ou lucro. O volume de vendas cobre exatamente os custos e despesas fixas e variáveis. A fórmula do Ponto de Equilíbrio é: P x Q = F + (V x Q) Onde: P = Preço de Venda Q = Quantidade Vendida P × Q = Receita Total F = Custos Fixos V = Custo Variável Unitário V × Q = Custo Variável Total Logo: Portanto, Q é a quantidade de equilíbrio, ou seja, o ponto de equilíbrio (P – V) é a margem de contribuição unitária. Ponto de Equilíbrio = Custo Fixo / Margem de Contribuição A determinação do ponto de equilíbrio é importante no estudo da rentabilidade, pois a empresa só pode pensar em lucro sobre as vendas e, consequentemente, em rentabilidade do investimento, se suas vendas superaremo ponto de equilíbrio. Dessa forma, quanto mais próximo o nível de vendas (usado como referência) estiver do ponto de equilíbrio, maior será a Alavancagem Operacional. Análise das Demonstrações Contábeis 33 Considerações sobre alavancagem A técnica da alavancagem é recomendada no planejamento de lucros da empresa. Os graus de alavancagem são indicadores de análise e projeção que relacionam os aumentos esperados de lucros com os acréscimos estimados de receitas. Esse indicador expressa o número de vezes que ocorrerá o aumento dos lucros em relação ao aumento de receitas. A alavancagem considera o uso de custos fixos para aumentar o retorno sobre o capital próprio. A direção deve maximizar a estrutura de capital da empresa para aumentar o retorno, considerando o risco do empreendimento. Esses conceitos devem ser bem estudados e aplicados para minimizar os custos de capital da organização e criar riqueza aos acionistas. A partir da combinação das estruturas do Ativo e do Passivo, originou-se o grau de alavancagem geral da empresa, que se denomina Alavancagem Combinada. O Grau de Alavancagem Combinada é resultante da multiplicação do Grau de Alavancagem Operacional pelo Grau de Alavancagem Financeira. Logo, a Alavancagem Combinada determina o grau de risco do projeto de investimento de implantação, modernização ou expansão da empresa. Em síntese, a correta utilização do grau de alavancagem permite projetar com eficiência e eficácia os resultados da organização. Por sua vez, a direção deve ser competente para compatibilizar os recursos disponíveis, em termos de minimização de custos, aumento da produtividade e análise de benefícios/custos da empresa, bem como o uso de capitais de terceiros para alavancar o retorno dos capitais próprios. Portanto, é preciso considerar sempre que a empresa deve adotar uma visão proativa de suas atividades, mas desapaixonada e focada em criar valor ao produto e ao acionista. A direção deve ver os negócios como eles são e ter em mente os pontos fortes e fracos, investindo na capacitação de pessoas para qualificar a gestão dos novos negócios em pesquisa e inovação de produtos e serviços que deverão gerar um retorno superior ao custo de oportunidade do mercado financeiro. Análise das Demonstrações Contábeis 34 RESUMINDO: Neste capítulo, vimos o grau de alavancagem operacional. Analisamos um exemplo de determinação do GAO e estudamos a alavancagem total. Vimos ainda o ponto de equilíbrio (break even point) e algumas considerações sobre alavancagem. Análise das Demonstrações Contábeis 35 Análise de ações e valor criado ao acionista (tópicos especiais) OBJETIVO: Neste capítulo, são apresentados alguns indicadores que todo bom investidor fundamentalista analisa. O que é a criação de valor para o acionista? Qual a diferença entre o valor contábil e o valor de mercado? O que isso indica? Visto que esse assunto é extremamente amplo, vamos tratar apenas de alguns tópicos, devendo o estudante interessado buscar mais informações por livre e espontânea vontade. Motivado(a) para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! SAIBA MAIS: Para iniciar, recomendo a leitura do seguinte texto: “TOP 8 indicadores financeiros essenciais para investidores”. Clique aqui. Valor patrimonial Os indicadores de análise de ações, assim como todas as outras medidas financeiras, são mais úteis quando avaliados em conjunto com os demais índices e analisada também sua evolução. É importante, ainda, que esses indicadores sejam analisados em relação a outras empresas e ao mercado como um todo. O valor patrimonial de uma ação representa a parcela do capital próprio ou o Patrimônio Líquido (PL) da empresa que compete a cada ação emitida. O cálculo é realizado da seguinte maneira: Valor Patrimonial = Patrimônio Líquido / Número de ações emitidas Admita que uma sociedade apresente, em determinada data, um PL de R$ 160 milhões, e 64 milhões de ações emitidas. Nessas condições, o valor patrimonial de suas ações atinge R$ 2,50/ação, ou seja: Análise das Demonstrações Contábeis https://www.fastmarkets.com.br/investidor-moderado/top-8-indicadores-financeiros-essenciais-para-investidores 36 O valor de R$ 2,50 mostra o quanto cada ação emitida participa do PL da sociedade. Parte do PL pode ser distribuída aos acionistas regularmente, sob forma de dividendos, ocorrendo, assim, um crescimento do grupo pela parte retida dos lucros ou integralização de novas ações (ASSAF NETO, 2015). O PL nunca pode ser distribuído em sua totalidade, somente em caso de encerramento das atividades da companhia. O valor patrimonial de uma ação revela a identidade de uma empresa na possibilidade de todos os ativos da companhia serem realizados exatamente pelos valores registrados pela Contabilidade, o que raramente acontece. Como a identidade contábil do PL é formulada pela diferença entre o total do ativo e os passivos, e alguns ativos são avaliados pelo seu preço de aquisição (custo) e outros a valores de mercado, desajustes entre o valor justo e o da Contabilidade são bastante frequentes (ASSAF NETO, 2015). Além disso, a sinergia dos ativos, quando dispostos em conjunto, aumenta bastante a sua representatividade em relação ao seu valor patrimonial, principalmente para efeitos de avaliação de empresas e análises. O valor patrimonial de uma ação é uma informação estática e retrospectiva. Ele mensura os recursos próprios da companhia que compete a cada ação em determinado momento no passado. Por outro lado, o preço de mercado da ação está relacionado com a expectativa do desempenho futuro esperado da companhia. Sendo assim, ocorre uma desconexão entre o valor patrimonial de uma ação e o seu preço de mercado. Contudo, é bem usual utilizar-se de informações passadas para fazer projeções futuras. Logo o valor patrimonial de uma ação tem importância em uma análise. Mesmo que os ativos possam estar, isoladamente, expressos a valor de mercado, é importante comentar que a soma de todos esses valores não representa o valor justo da empresa. O valor do todo (empresa) não equivale à soma dos valores de cada parte (ativos) que o compõem. Para o cálculo do valor do todo, deve ser considerada, principalmente, a sinergia entre os ativos. Análise das Demonstrações Contábeis 37 Por fim, pode-se interpretar o valor patrimonial de uma ação com um índice que mostra o potencial contábil do futuro de uma companhia. Quanto maior se apresentar o seu valor patrimonial, mais elevada a probabilidade da empresa distribuir suas reservas de lucros. Figura 3 – Valor patrimonial Fonte: Pixabay Valor de mercado Valor de mercado é um indicador bastante utilizado para medir o tamanho de uma empresa listada na bolsa de valores. Na realidade, esse indicador mede o valor de mercado de todas as ações públicas de uma empresa, fornecendo uma ideia de seu tamanho. Ele é calculado multiplicando-se o preço de uma ação da empresa em questão pelo número de ações emitidas por ela. Define-se por: Valor de Mercado = Nº de Ações x Preço da Ação Portanto, verifica-se que o valor de mercado de uma empresa é um indicador dinâmico, que sofre modificações com bastante frequência. Observa-se que esse indicador sofre alterações em seu valor quando qualquer um de seus parâmetros é modificado e isso pode ocorrer de duas formas: Análise das Demonstrações Contábeis 38 • Alteração no número de ações públicas – o número de ações de uma companhia é modificado sempre que há a emissão de novas ações (aumenta o número) ou ocorre a recompra de algumas das ações pela própria companhia (reduz o número). • Alteração no preço das ações – esse parâmetro é extremamente dinâmico e sofre alteração sempre que as ações de uma empresa são negociadas a um valor diferente daquele realizado na negociação anterior. A observação do mercado sugere que, quanto mais líquidas forem asações de uma empresa, maior será a frequência de modificações em seu preço. Nota-se, por exemplo, que as ações de empresas bastante líquidas sofrem diversas alterações em seu preço todos os dias, enquanto ações pouco líquidas podem passar grandes períodos sem sofrer alterações. Lucro por ação (LPA) O Lucro por Ação representa a parcela do resultado líquido da empresa, conforme apurado em determinado exercício social, que compete a cada ação. É calculado pela divisão entre o Lucro Líquido (LL) e o número de ações emitidas, ou seja. LPA = Resultado Líquido / Número de ações emitidas Por exemplo, admita que uma empresa possua 66.380.400 ações emitidas em mercado, e tenha divulgado um LL de R$ 101.500.000 no exercício. O LPA da companhia é calculado pela divisão do LL pela quantidade de ações disponíveis, ou seja: Um crescimento do LPA geralmente revela um incremento nos lucros da empresa. O índice costuma manter-se relativamente estável ao longo do tempo, não revelando grandes variações em seus valores. Análise das Demonstrações Contábeis 39 Preço/Lucro (P/L) É apurado de acordo com a seguinte expressão: P/L = Valor de mercado da ação / Lucro por ação (LPA) Esse indicador, também denominado de múltiplo de lucros, representa o tempo teórico de retorno do investimento acionário. Por exemplo, admitindo-se que o preço de mercado de uma ação em determinado momento seja de R$ 4,80 e o LPA do exercício publicado de R$ 0,60, conclui-se que, mantidos esses valores inalterados, serão necessários oito anos para a recuperação do capital investido na ação, ou seja: De outra forma, pode-se concluir que o preço da ação é oito vezes o lucro da empresa gerado no exercício. No entanto, é importante observar que o P/L não é necessariamente uma realização de caixa, uma vez que a distribuição do LL da companhia é determinada por sua política de pagamento de dividendos. Além disso, o valor de mercado das ações experimenta constantes variações, sendo necessário apurar esse indicador em curtos intervalos de tempo. Ao se avaliar o índice P/L, quanto maior o P/L de uma ação, espera- se que menores sejam o seu risco e sua lucratividade. Em contrapartida, quanto menor o P/L, maiores são o risco e a lucratividade esperados da ação. O inverso do P/L é, muitas vezes, definido como a lucratividade da ação. No exemplo anterior, de uma ação com P/L igual a 8, a lucratividade da operação atinge 12,5% ao ano (1/8), ou seja, sendo o LPA de R$ 0,60 e o investimento de R$ 4,80, o retorno de investimento totaliza 12,5% por período: R$ 0,60/R$ 4,80 = 12,5%. Análise das Demonstrações Contábeis 40 Dividendos por Ação (DPA) Mede o valor dos dividendos pagos aos acionistas para cada ação emitida pela empresa. É calculado pela relação entre os dividendos e outras formas de remuneração, como Juros Sobre Capital Próprio (JSCP) e bonificação em dinheiro, e a quantidade de ações emitida pela empresa, ou seja: DPA = Dividendos / Quantidade de ações O DPA pode ser calculado para o total de ações e também para as ações ordinárias e preferenciais. Dividend Yield (DY) O Dividend Yield (DY), ou rendimento de dividendos, revela os rendimentos de dividendos (e outras formas de proventos) oferecidos pela ação ao investidor. É calculado pela relação entre o DPA (Dividendos por Ação) e o seu preço mercado, ou seja: DY = Dividendos por ação / Preço de mercado da ação Esse indicador expressa, em outras palavras, a taxa de retorno da ação calculada unicamente com base nos dividendos pagos. Variações no DY podem ser causadas não somente por uma maior distribuição de proventos, mas por uma valorização (ou desvalorização) no preço de mercado da ação. Admita que uma empresa tenha pagado R$ 3,10 de proventos aos seus acionistas em determinado exercício e que o preço de mercado de suas ações seja de R$ 25,50. O rendimento de dividendos calculado é: Suponha a seguir que a ação sofra uma desvalorização e que seu preço de mercado caia para R$ 14,80. Nessa situação, o retorno de dividendos sobe para: R$ 3,10/R$ 14,80 = 20,9%. É importante entender na análise que o aumento do retorno não foi determinado por um volume maior de dividendos pagos, mas, sim, por uma desvalorização no preço de mercado da ação. Análise das Demonstrações Contábeis 41 Margem EBITDA A margem EBITDA (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, em português Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) é uma métrica de rentabilidade operacional apresentada como uma porcentagem da receita líquida de suas vendas. Margem EBITDA = EBITDA / Receita Líquida O EBITDA é o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização, que, dividido pela receita líquida, resulta na margem EBITDA. Como o EBITDA retira todas as variáveis anteriormente citadas (juros, impostos, depreciação e amortização), é possível dizer que o resultado de margem desse indicador pode fornecer, para um investidor ou empresário, uma visão clara da lucratividade operacional do seu negócio (REIS, 2018). Exemplo prático: A Cia. ABC apresenta uma receita de R$ 300.000 e um EBITDA de R$ 80.000. Calcula-se a margem dividindo o EBITDA pela receita líquida. Sempre é necessário multiplicar esse valor por 100, para que o resultado seja expresso em porcentagem. Sendo assim, o valor final da margem EBITDA é de 26%. Muitos analistas gostam de observar essa margem, pois ela mostra a lucratividade de uma empresa antes das deduções que pouco têm a ver com o processo de tomada de decisão comercial de um negócio (REIS, 2018). Embora as deduções de juros, impostos, depreciação e amortização sejam importantes, não compõem o resultado operacional da companhia. A margem EBITDA permite a comparação de empresas do mesmo segmento, mas de diferentes tamanhos, pois o lucro operacional (EBITDA) é confrontado com uma porcentagem da receita. Análise das Demonstrações Contábeis 42 Assim, é possível saber quanto de lucro operacional é gerado por cada real arrecadado com as vendas. Portanto, há a possibilidade de usar a margem EBITDA como referência para comparação de empresas do mesmo segmento. Por exemplo, suponha que a Cia. ABC tenha gerado uma margem EBITDA de 26%. Dessa forma, é possível comparar o negócio com outra companhia do mesmo segmento que obteve uma receita de R$ 1.000.000 e EBITDA de R$ 150.000, resultando em uma margem de 15%. Ao realizar essa comparação, pode-se inferir que a Cia. ABC opera o seu negócio de forma muito mais lucrativa e eficiente do que o seu concorrente maior. Contudo, é preciso de atenção em alguns pontos: muitas vezes, a exclusão dos gastos com a dívida pode aumentar a percepção de um ótimo desempenho de resultados (REIS, 2018). Suponha que empresas com grandes dívidas não devam ser mensuradas pelo desempenho da sua margem EBITDA, visto que o pagamento de juros é excluído desse cálculo quando observamos o resultado puramente operacional de uma companhia. Sendo assim, a margem EBITDA normalmente é maior do que a margem líquida. E se as companhias têm baixa lucratividade, dependerão da margem operacional para o seu sucesso no mercado financeiro. SAIBA MAIS: Para analisar os principais indicadores fundamentalistas de qualquer ação listada na B3 – Brasil, Bolsa, Balcão, acesse o site Fundamentus, Clique aqui. Para ampliar seu conhecimento e trabalhar com as ferramentas do site, considere acessar os vídeos explicativos, Clique aqui. Assim, a margem EBITDA se mostra uma métrica útil para comparação de empresas do mesmo segmento de atuação. Além disso, o resultado operacional é importante para as companhias com baixa lucratividade, podendo os detalhes fazerem a diferença. Análise das Demonstrações Contábeis https://www.fundamentus.com.br/index.php https://youtu.be/mvCV0lYLICo?list=PLqjGh_6v1ET9ASBdekaRTI73xwXUlajve 43 RESUMINDO: Neste capítulo, vimos alguns dos indicadores quetodo bom investidor fundamentalista analisa. Discutimos aqui os principais, mas este e-book não esgota a enorme variedade de índices e análises que podem ser aplicadas. Agora que você interessado aprendeu o básico, pode continuar suas pesquisas na internet (inclusivo no YouTube). Bons estudos! Análise das Demonstrações Contábeis 44 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômico-financeiro. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. INVESTOPEDIA. Debt Ratio Definition. Disponível em: http://bit.ly/2S307xj. Acesso em: 03 jul. 2021. MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. REIS, T. Margem EBITDA: o indicador de lucratividade operacional de uma empresa, São Paulo, Fev. 2018. Disponível em: https://bit.ly/2Vylrie. Acesso em: 03 jul. 2021. SILVA, A. A. da. Estrutura, análise e interpretação das demonstrações contábeis. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000. Disponível em: http://bit.ly/2M3x5dc. Acesso em: 03 jul. 2021. Análise das Demonstrações Contábeis Retorno sobre o investimento (ROI) Entendendo o retorno sobre o investimento (ROI) Alavancagem financeira Introdução à alavancagem financeira Grau de alavancagem financeira Estratégias para aumentar o grau de alavancagem financeira Calculando o GAF – Exemplo Alavancagem Operacional e Alavancagem Total Grau de Alavancagem Operacional Determinando o GAO – Exemplo Alavancagem Total Ponto de equilíbrio (break even point) Considerações sobre alavancagem Análise de ações e valor criado ao acionista (tópicos especiais) Valor patrimonial Valor de mercado Lucro por ação (LPA) Preço/Lucro (P/L) Dividendos por Ação (DPA) Dividend Yield (DY) Margem EBITDA
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