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Novo caminho da Usiminas para ganhar competitividade

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O novo caminho traçado pela Usiminas 
 
 
BRUMER, Wilson: “O novo caminho traçado pela Usiminas”. Entrevista concedida ao 
jornal Valor Econômico. São Paulo, 06 de dezembro de 2010. 
 
 
Em julho de 2008, a Usiminas, de presidente recém-empossado, anunciou um plano 
de crescimento ambicioso. Alguns meses depois, o projeto, que incluia uma nova 
fábrica, de US$ 6 bilhões, foi atropelado pela crise financeira mundial. Desde então, 
essa estratégia entrou em revisão e, há poucas semanas, os acionistas da Usiminas 
decidiram cancelar o investimento. Justificativa: a demanda mundial, principalmente na 
Europa e EUA, ainda mostra sinais fracos de recuperação, há um excesso enorme de 
aço no mundo sem perspectivas de redução, o câmbio valorizado tornou o Brasil caro 
para investir em aço, com isso, o retorno do projeto ficou negativo. Essa é a avaliação 
de Wilson Brumer, no comando executivo da companhia há sete meses, depois de ser 
conselheiro e presidir o conselho da Usiminas. Na entrevista concedida ao Valor no 
escritório de São Paulo, ele informou que o novo caminho da siderúrgica é ganhar 
competitividade na cadeia produtiva, com investimentos em mineração de ferro, 
logística, energia e na agregação de valor de seus produtos para ganhar força de 
competição. O executivo alertou também para o que considera um grave problema: a 
desindustrialização. "Não acredito que o país suporte esse cenário de moeda forte por 
muito tempo". Até 2015, a Usiminas tem plano de investimentos em suas quatro áreas 
de negócios de cerca de R$ 11 bilhões. Abaixo, os principais trechos da entrevista. 
 
 
Valor: Por que a Usiminas decidiu cancelar um projeto para uma nova usina, de US$ 6 
bilhões, que representava um importante salta de crescimento para a empresa? 
 
Wilson Brumer: Em 2008, esse projeto foi desenhado dentro de uma lógica que não é 
a mesma apresentada hoje pelo mercado siderúrgico mundial. Está estimado em 1,8 
bilhão de toneladas de capacidade, com um terço disso na China, um terço em 
operação e um terço espalhado em vários países do mundo com capacidade ou ociosa 
ou paralisada. Há excesso de aço no mundo hoje. Esse é um ponto. O outro é que 
quando avaliamos a situação, não só no presente, mas no médio e longo prazo, não 
vemos uma reversão de cenário que garanta investir US$ 6 bilhões e obter retorno. É 
um somatório de fatores, que vai de excesso de aço no mundo à nossa moeda 
fortalecida, que aumenta os custos de investimentos, além de problema da localização 
[em Santana do Paraíso-MG], que dificulta suprir as necessidades futuras da usina de 
Cubatão (SP). Por tudo isso, apresentava, inclusive, valor presente negativo. 
 
 
Valor: Então, não se fala mais em aumento de capacidade no curto e médio prazo na 
Usiminas... 
 
Brumer: Neste momento, antes de falar em expansão, devemos pensar no que 
podemos fazer para elevar a competitividade, a produtividade e a eficiência dos ativos 
que já temos. São duas usinas, com capacidade de 9,5 milhões de toneladas por ano. 
Há muita otimização a ser feita e ao se comparar, a otimização traz mais agregação de 
valor que um "greenfield" (fábrica nova). E com isso há também possibilidades de 
elevar a capacidade. 
 
 
Valor: A invasão de produtos importados, direta e indiretamente, foi fator fundamental 
nessa decisão? 
 
Brumer: Primeiro, é importante dizer que não sou contra importação, pois não seria 
coerente, já que o Brasil é grande exportador de aço. A Usiminas não é tanto: entre 
20% e 25% da produção. O que defendemos é ter isonomia, regras parecidas... E o 
que vemos no Brasil é a consequência do excesso de aço no mundo, real valorizado e, 
por incoerente que possa parecer, um país em crescimento. Ou seja, com moeda forte 
e oferta excedente, torna-se um porto natural para entrada de produtos. Há algum 
tempo, estamos alertando que o Brasil poderia fechar o ano com volume 
correspondente à capacidade de uma Usiminas, com importação direta e indireta. 
Outro ponto ao qual devemos estar muito atentos é a importação de produtos 
acabados. Se não tivermos clientes, não teremos a quem vender. Temos de discutir 
uma política industrial para toda a cadeia produtiva. 
 
 
Valor: Quais são as medidas fundamentais, na sua opinião, para equilibrar a 
competição nesse jogo? 
 
Brumer: Muita gente fala que o preço do aço no Brasil é o mais caro do mundo. 
Atenção: quase tudo hoje, em dólar, no Brasil é mais caro que o resto do mundo. Até o 
Big Mac (sanduíche da rede McDonald's). Eis, por isso, nossa decisão de investir mais 
em aumento da competitividade do que em aumento de capacidade. O mundo 
siderúrgico, ao meu ver, está sendo repensado. Até pouco tempo atrás, principalmente 
numa economia como a brasileira, era muito mais fácil dizer "meu custo aumentou" e 
aí repassava ao cliente que acabava aceitando, mas, por sua vez, transferia ao cliente 
dele. Cada vez mais a palavra repasse, transferência de problemas, de custos e até de 
eficiência, vai deixar de existir. Diante disso, as siderúrgicas vêm repensando suas 
cadeia produtiva e boa parte delas está investindo em mineração, em geração de 
energia, em logística, tornando-se mais integrada e reduzindo custos. Se ante se 
discutia muito escala de produção, hoje fala-se mais em aumento de competitividade. 
 
 
Valor: Significa, então, que o modelo da siderurgia agora passa pela integração da 
minha ao porto e por especialização em produtos finais com maior valor agregado? 
 
Brumer: A indústria siderúrgica tem de ser cada vez mais uma prestadora de serviços. 
Chegar mais próximo dos clientes. Não basta mais vender uma bobina de aço. 
 
 
Valor: Anos atrás, a entrada de usinas na mineração de ferro era visto como heresia 
no setor, criando um mal estar no setor. E vice-versa. 
 
Brumer: Havia uma linha tênue. Nem mineração ia para a siderurgia e nem fabricantes 
de aço iam para a atividade mineral. Esse paradigma foi quebrado. A partir do 
momento que houve uma grande demanda - de carvão e de minério de ferro -, com 
fortes aumentos de preços, as empresas entenderam que era preciso pensar em 
integração. Hoje, pensar em fazer aço sem integração é um risco muito alto. No caso 
da Usiminas, nossa intenção é mais fazer um hedge (proteção) do custo. 
 
 
Valor: Diante desse cenário, conclui-se que o Brasil não é mais competitivo para 
instalação de novas usinas siderúrgicas? 
 
Brumer: Dá para contar nos dedos o número de segmentos no Brasil com vantagem 
competitiva. São poucos. Um deles ainda pode ser o siderúrgico. Muitos anos atrás, 
era natural considerar que o Brasil, numa mudança de geografia da produção de aço 
no mundo, teria uma base produtiva de placas, laminados a quente... e o acabamento 
disso mais próximo do mercado consumidor. Hoje, em função de valorização da 
moeda, questão tributária, logística, mão de obra [não é mais diferencial], preço similar 
do minério de ferro, importação do carvão, custo de energia, essas vantagens não 
existem mais. Por isso, vemos que projetos anunciados no país estão em banho-
maria. 
 
 
Valor: Você vê um processo de desindustrialização no Brasil? 
 
Brumer: Não sei se podemos dizer que já existe uma desindustrialização no país, mas 
acho que já é um fator de muita preocupação. A participação da indústria, 
nacionalmente, vem reduzindo de maneira muito rápida. Percebemos que vários elos 
da cadeia produtiva ficam mais fracos e, numa visão de longo prazo do país, não se 
pode permitir isso. 
 
 
Valor: Então, o que se deve fazer? 
 
Brumer: Não é um processo fácil. Tem de ver tudo de maneira integrada. A nós não 
interessa que o carro seja importado da China, pois tira espaço para fabricação de 
carro aqui e reduz a venda de aço. Ninguém defende fechamento da economia, 
porém, condições isonômicas. Acho que o Brasil se abriu a uma velocidade alta sem 
estar preparado para aplicar as mesmas regras que existem no mundo, criando 
ferramentas e sistemas de proteção à indústria. Guerra fiscal é um problema no aço e 
vale para todos os setores. Como se pode financiarimpostos por 20 anos? O problema 
não é só câmbio e precisa envolver governo e setor privado. 
 
 
Valor: Num ano em que o Brasil terá o melhor consumo interno, as siderúrgicas não 
tiram proveito dessa bonança. Como você isso? 
 
Brumer: Nossa percepção é que já há uma diminuição da velocidade de entrada de 
aço, caindo a partir dos primeiros meses de 2011. O Brasil, no entanto, vai ter 
enfrentar uma nova realidade: conviver com aço importado. Uma participação de 10% 
não é nada assustador, mas não esses índices acima de 20% que vemos. Porém, 
observo, uma fatia do importado entre 10% e 15% significa um novo 'player' 
competindo no nosso mercado, pois vai continuar sobrando aço no mundo. 
 
 
Valor: Você defende medidas mais drásticas para conter essa avalanche de 
importação, como aumento da alíquota de importação? 
 
Brumer: Acho que seria uma forma de protecionismo para um elo da cadeia produtiva, 
o que não é sustentável. Assim, como se cogitou em algum momento a reduzir as 
alíquotas de 14% para zero, o que teria sido um desastre. 
 
 
Valor: Você não acha que as siderúrgicas foram com muita sede ao pote no começo 
deste ano, praticando prêmios de 40% a 50% sobre o preço do aço importado? 
 
Brumer: No Brasil, historicamente, se pratica prêmios sobre o produto estrangeiro. Vai 
continuar existindo, de 10% a 15%, mas desde que tenha uma assistência técnica, 
entregas jus-in-time e prestação de serviços aos clientes. Já os níveis de cinco, dez 
anos atrás podemos esquecer. No início do ano, como houve uma redução drástica de 
preços internacionais e, ao mesmo tempo, uma valorização rápida do real, de certa 
maneira criou ambiente para acelerar importações. 
 
 
Valor: Que cenário você traça para 2011 em termos de demanda? 
 
Brumer: Este ano, em que vamos crescer 7,5%, houve predominância da força do 
consumo. Minha expectativa é que em 2011 sejam acelerados os investimentos da 
infraestrutura brasileira, pois não podemos contar só com Copa do Mundo, 
Olimpíada... Esperamos que sejam deslanchados a partir do segundo trimestre 
projetos de estradas, portos, ferrovias, energia, óleo e gás, além da indústria naval. 
 
 
Valor: Diante do excesso de aço no mundo e a competição das importações, qual a 
sua opinião sobre a entrada da Vale na siderurgia? 
 
Brumer: Eu sempre defendo que a discussão da siderurgia do país deve ficar na mão 
da siderurgia. A Vale sempre terá um papel e, como produtora de minério, a ela 
interessa, certamente, que empresas estejam investindo aqui, pois será um cliente 
cativo. A Vale tomou esse papel talvez porque o próprio setor não o fez. Até acho que 
ela não queira esse papel, mas há alguns projetos que são de natureza mais política. 
O Estado do Pará, por exemplo, é natural que, sendo pouco industrializado e boa parte 
do minério da Vale sai de lá, queira agregar valor à sua riqueza. Não vejo mal em um 
projeto, ou dois. 
 
 
Valor: Na Usiminas, o foco estratégico será mineração e logística e aumento de valor 
agregado na cadeia de produção do aço. 
 
Brumer: Cada vez mais, na siderurgia, estamos falando de gestão. Não basta ser um 
produtor de tantas milhões de toneladas. Temos de falar de agregação de valor, 
porque as margens já não são altas como no passado. Na Usiminas buscamos, antes 
de aumento de capacidade produtiva, otimização do que já temos: aceleração dos 
investimentos no ativo mineral e projetos de agregação de valor, que começaram em 
2007 e envolvem redução de custos em vários pontos da empresa. E essa nova fase 
que o conselho aprovou, que é verificar dentro de nossas fábricas o que pode ser feito 
para cortar custos, aumentar a eficiência energética... O foco da empresa nos 
próximos anos é elevar a competitividade. 
 
 
Valor: E internacionalização? 
 
Brumer: Esse é um ponto que sempre se discutiu. Mas não acredito mais nele, porque 
simplesmente comprar um ativo lá fora para produzir aço, certamente estaríamos 
perdendo dinheiro e destruindo valor da companhia. Um dia, se a Usiminas vier a se 
internacionalizar, deve começar primeiro produzindo aço aqui (material semiacabado) 
e fazendo o acabamento do produto próximo ao cliente, usando, talvez, a Soluções 
Usiminas. 
 
 
Valor: E a venda da participação de 14% na siderúrgica Ternium, que é controlada 
pelo grupo Techint? 
 
Brumer: A Ternium é um belo ativo, que para nós, hoje, é mais financeiro que 
estratégico, como visto lá atrás. Em algum momento, em harmonia com o controlador, 
vamos nos desfazer desse ativo. Sem pressa, pois esse ativo vale hoje mais de US$ 1 
bilhão. 
 
Valor: Está previsto abrir o capital da empresa de mineração? 
 
Brumer: Primeiramente, vimos como mais atrativo chamar um parceiro, sem ir direto 
para um IPO. No seu desenho, está considerada a possibilidade dos atuais sócios 
reduzirem suas participações, mas a Usiminas sempre será controladora (no mínimo 
50% mais uma ação). Hoje, é 70%. A ideia é ter pelo menos 25% na Bolsa para criar 
liquidez e atrair investidores. 
 
 
Valor: Como vê o desempenho da economia no próximo ano, já sob um novo governo 
do país? 
 
Brumer: Acho que o Brasil tem todas as condições para continuar crescendo no ritmo 
de 4% a 4,5% ao ano. É com essa expectativa que trabalhamos. 
 
 
Valor: No câmbio, você vê necessidade de medidas mais efetivas? 
 
Brumer: Há um problema estrutural a ser vencido. Um país como o nosso dificilmente 
aguentará uma moeda forte por muito tempo. Vemos que "n" cadeias produtivas estão 
sofrendo muito. Enquanto os preços das commodities estão altos, de certa maneira 
compensam essa situação. O Brasil está atraindo muitos investimentos, mas não 
acredito que isso se sustente por muito tempo. Algo tem de ser feito rápido, mas não 
defendo desvalorização da moeda. 
 
 
Valor: Qual seria uma taxa de câmbio adequada? 
 
Brumer: Cada um tem o seu, mas não é R$ 1,70 de hoje. Também não acho que seja 
R$ 2,50. Defendo que seja flutuante. E acho que está mais para R$ 2 do que para R$ 
1,70. Não é só ele o vilão da história. Temos problemas estruturais na nossa 
economia.

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