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45 adultos úteis ao mundo do trabalho. As mudanças socioeconômicas interferiram diretamente no modo de ver e atender as crianças, o que implicou na criação e, até hoje na reconfiguração dos espaços de atendimento à criança pequena e no modo de conceber a infância. 6. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO HUMANO E APRENDIZAGEM MOTORA Fonte: shre.ink/mwUI O processo do aprender sempre causou grandes dúvidas e inquietações no ser humano. Há algum tempo tanto os profissionais da educação como da psicologia se desdobram na tentativa de explicá-lo. Atualmente, diversas teorias falam como acontece a aprendizagem e suas variadas formas. O que se sabe esse processo envolve inúmeros aspectos como o biológico, o social, o psíquico e o cognitivo. No entanto, antes de abordar o desenvolvimento cognitivo, considere que o processo de aprendizagem acontece desde o período uterino até o estágio final da vida, sendo contínuo, permanente e cumulativo. 6.1. Conceitos e características e desenvolvimento cognitivo Para o professor atingir seu objetivo ao ensinar, se faz necessário compreender tanto as características do seu aluno como do funcionamento desse processo de ensino-aprendizagem. Del Prette (2012) aponta que ela pode ser não reflexiva (que 46 exige pouca atividade intelectual de parte de quem aprende) e reflexiva (quando requer uma capacidade cognitiva maior). Segundo Linhares (2017), o desenvolvimento cognitivo ocorre por meio de processos relativos à aquisição de conhecimento, os quais são a percepção (reconhecer determinada situação), a atenção (estar centrado nela), a memória (lembrar-se dela) e o raciocínio (resolver ou pensar nela). A autora explica cada um desses processos da seguinte forma: ➢ Percepção: conjunto de processos psicológicos pelos quais as pessoas reconhecem, organizam, sintetizam e atribuem significado (no cérebro) às sensações recebidas dos estímulos ambientais (nos órgãos dos sentidos). ➢ Atenção: relação cognitiva entre a quantidade limitada de informação, que é realmente manipulada mentalmente, e a enorme quantidade de informação disponível por meio dos sentidos e das memórias armazenadas. ➢ Memória: meios pelos quais as pessoas recorrem ao conhecimento passado, a fim de utilizá-lo no presente. Servem para codificar, armazenar e recuperar uma informação. ➢ Raciocínio: processo cognitivo pelo qual uma pessoa pode inferir uma conclusão a partir de um grupo de evidências ou de declarações de princípios. Os autores que seguem esta corrente enfatizam uma linha chamada de teorias cognitivas. Cavalcanti e Ostermann (2011, p. 31) apontam que ela “preocupa-se com o processo de compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação envolvido na cognição e procura regularidades nesse processo mental”. Entre seus autores, se destacam Jerome Bruner, David Ausubel e, sobretudo, Jean Piaget. Piaget é o principal autor da linha construtivista, a qual não aceita uma visão imutável e tradicional de educação, em que o conhecimento está pronto e acabado. O construtivismo se baseia em mudanças de ordem qualitativa que ocorrem no decorrer do desenvolvimento (LINHARES, 2017), no qual o conhecimento parte da interação dos seres humanos com os outros, com o meio ambiente e os objetos, e a aprendizagem somente acontece com a desordem e ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito (PIAGET, 1973). Esse processo de conhecimento baseado na interação se chama de assimilação e acomodação. Segundo o Piaget (1973, p. 13), assimilação é: 47 [...] uma integração a estruturas prévias, que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos modificadas por esta própria integração, mas sem descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova situação. Linhares (2017) sublinha que ela é a incorporação de dados sobre os objetos, acontecimentos ou conceitos aos esquemas existentes. Por exemplo, ao ter um esquema de cachorro na mente, a criança pode chamar qualquer animal de quatro patas de cachorro. Já a acomodação é toda mudança de comportamento e alteração do sujeito, que acontece apenas quando este se transforma, amplia ou muda os seus esquemas (NEVES, 2018). Linhares (2017) afirma que ela se trata de qualquer modificação de um esquema ou uma estrutura pelos elementos assimilados e leva à construção de novos esquemas de assimilação, promovendo, dessa forma, o desenvolvimento cognitivo (CAVALCANTI; OSTERMANN, 2011). Para Piaget (1973), somente há aprendizagem quando o esquema de assimilação sofre acomodação. Por exemplo, ao acomodar o esquema do cachorro, a criança sabe que não se aplica a um gato, apesar de ambos terem quatro patas. Outro elemento importante na aprendizagem para Piaget é o processo de equilibração: A mente, sendo uma estrutura para Piaget, tende a funcionar em equilíbrio. No entanto, quando esse equilíbrio é rompido por experiências não assimiláveis, a mente sofre acomodação a fim de construir novos esquemas de assimilação e atingir novo equilíbrio. Esse processo de reequilíbrio é chamado de equilibração majorante e é o responsável pelo desenvolvimento mental do indivíduo. Portanto, na abordagem piagetiana, ensinar significa provocar o desequilíbrio na mente da criança para que ela, procurando o reequilíbrio, se reestruture cognitivamente e aprenda (CAVALCANTI; OSTERMANN, 2011, p. 33). Há também outro elemento essencial na aprendizagem, o erro. La Taille, Oliveira e Dantas (1997, p. 25) citam que a teoria piagetiana da inteligência humana reorganizou o enfoque sobre esse aspecto, porque, para Piaget, se uma pessoa segue errando, três situações podem ocorrer. Na primeira, a pessoa não tem estrutura suficiente para compreender o conhecimento desejado e, para isso, deve-se criar um ambiente melhor de clima, diálogo ou trabalho para atingir tais estruturas. Já na segunda situação, ela pode estar com estruturas em formação e, portanto, trabalha- se com a ideia de que o erro é constitutivo e o professor deve fazer a mediação colaborando, assim, para que o aluno supere suas dificuldades. 48 Na última, ela possui as estruturas formadas e não aprende, com isso, os procedimentos estão errados. Piaget aponta, ainda, que as respostas erradas são geralmente associadas à imprecisão ou à falta de conhecimento do aluno, porém, afirma que elas sublinham o estágio do pensamento da criança. Assim, o autor sugere que o professor, antes de tudo, observe a criança frente à tarefa dada para saber de qual ajuda ela necessita. Fases do desenvolvimento cognitivo Entre as análises dos modos de aprendizagem e conhecimento do ser humano, Jean Piaget caracterizou, em quatro períodos, o estágio de desenvolvimento cognitivo: sensório-motor, pré-operacional, operacional-concreto e operacional- formal. Sensório-motor Abrange, aproximadamente, dos 0 aos 2 anos e está dividida em seis subestágios. Piaget (1973) aponta as seis características principais dessa fase. 1. Reflexo: no qual ela não se diferencia do mundo exterior, servindo como um conector entre o bebê e seu ambiente. Os bebês têm a capacidade de diferenciar objetos (como quando aprendem que alguns podem ser sugados, e outros não); quanto à integração, característica que permite uma coordenação com as duas mãos, por exemplo, quando seguram um brinquedo com uma mão, e o braço da mãe com a outra (COLE; COLE, 2003). 2. Primeiras diferenciações: nelas, existe uma coordenação entre mão e boca, bem como uma diferenciação entre pegar e sugar, surgem os primeiros sentimentos como a alegria, a tristeza, o prazer e desprazer, que estão ligados à ação. Meneses (2012) aponta que, nessa etapa, os bebês também começam a se atentar aos sons, demonstrando capacidade de coordenar diferentes tipos de informações sensoriais, como visão e audição, e seu universo visual com o tátil. 3. Reproduçãode eventos interessantes: nela, surge os primeiros sons da fala, e os bebês começam a entender que os objetos são mais que extensões de suas próprias ações, no entanto, não possuem noção de espaço a sua volta (COLE; COLE, 2003). 49 4. Coordenação de esquemas: nela, começa-se a usar um esquema em outras coisas para ver se obtém o mesmo resultado, por exemplo, a criança balança um chocalho e vê que aquilo faz barulho, ao pegar outro objeto, ela vai balançar para ver se também fará barulho. 5. Experimentação: nela, há a invenção de novos meios, a criança passa a criar novos comportamentos, ações a partir da tentativa e do erro, bem como consegue a inteligência ao solucionar problemas. Meneses (2012) cita que ela realiza imagens mentais, a capacidade de representar de modo simbólico uma realidade mentalmente. 6. Representação: nela, começa-se a ter um sentimento de escolha, o que quer ou não fazer. A criança passa a escolher objetos, brinquedos de que mais gosta, preterindo os demais. Piaget aponta que, até os 8 meses, há uma total ausência de noção, em que, se um objeto é ocultado da frente da criança, ela age como se ele não existisse mais, como a brincadeira em que os pais cobrem o rosto, sendo que, para ela, eles não estão mais ali. A partir dessa idade, existe o desenvolvimento, a noção de que algo segue a existir mesmo que não esteja em sua frente (LINHARES, 2017). Depois dos 18 meses, a criança passa a ter um pensamento representativo, a representar o que não está ausente, usando, assim, as imagens mentais para realizar ações. Pré-operacional Abrange, aproximadamente, dos 2 aos 6 anos e chama-se de fase Pré-escolar, na qual surge a inteligência simbólica, como uso de imagens e da linguagem. Neves (2018) aponta algumas das principais características dessa fase: Primeira – a imitação diferida ou imitação de objetos distantes; Segunda – jogo simbólico é também imitativo, a criança não se preocupa se o outro irá entendê-la, ela se preocupa com o seu entendimento, é uma forma de se auto expressar; Terceira – desenho, é a sua forma de deixar uma marca, ela desenha o que quer, sendo ou não real; Quarta – imagem mental, as imagens são estáticas, são imagens que representa o interno, algo que já foi passado; Quinta – linguagem falada, a criança começa a falar uma palavra como se fosse uma frase, aos pouco ela vai aumentando o seu repertório vocábulo. 50 Nesta fase, o pensamento se caracteriza por ser egocêntrico, intuitivo e mágico. O egocentrismo ocorre por volta dos 4 aos 5 anos, no qual a criança imagina que todos pensam como ela. Linhares (2017) aponta que o pensamento pré-operacional é marcado por irreversibilidade e uma certa confusão entre a aparência e a realidade. Operacional-concreto Abrange, aproximadamente, dos 7 aos 11 anos e se caracteriza como a fase escolar, em que a criança desenvolve os pensamentos lógicos e começa a apresentar argumentos mais elaborados para suas questões, como aponta Neves (2018): A criança descentra suas percepções e acompanha as transformações, ela também começa a ser mais social saindo da sua fase egocêntrica ao fazer o uso da linguagem, a fala é usada com a intenção de se comunicar, ela percebe que as pessoas podem pensar e chegar a diferentes conclusões, sendo elas diferentes das suas, ela interage mais com as pessoas, quando aparece um conflito ela usa o raciocínio para resolver. Linhares (2017) diz que o pensamento nesse período é reversível com coordenações mentais e esquemas conceituais, em que se passa a compreender noções lógico-matemáticas de conservação de massa, volume e classificação. Já o egocentrismo diminui, surgindo a ideia de equipe e cooperação. Operacional-formal Esta fase, adolescente, ocorre após os 12 anos, aproximadamente, em que surge o pensamento hipotético-dedutivo e se começa a levantar hipóteses e deduzir conclusões. Piaget (1973) aponta que o adolescente usa esquemas aprendidos dos estágios anteriores para fortalecer as hipóteses deste estágio, assim ele vai aprimorando cada vez mais os estágios anteriores. Deste estágio em diante o que ocorre é o aperfeiçoamento dos estágios passados. Esse período é marcado por inteligência abstrata (operações formais), pensamento igualmente abstrato, reflexão de conceitos não concretos reais ou observáveis e experiência. O egocentrismo tende a desaparecer, tendo o aumento significativo do processo de socialização e a construção da autonomia. Neste tópico, foram apresentadas as fases do desenvolvimento cognitivo segundo a teoria piagetiana. 51 6.2. Conceitos e características do desenvolvimento social Fonte: shre.ink/mwUl Desde sua concepção, no período embrionário, o ser humano está se desenvolvendo. Desde o período pré-natal até o envelhecimento, cada pessoa passa por inúmeras fases, relacionadas ao desenvolvimento físico, motor, social ou cognitivo. O desenvolvimento social é oriundo da teoria sociointeracionista proposta por Lev Vygotsky, que propõe a interação social como meio de aprendizagem, incluindo conceitos como mediação, Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), linguagem e pensamento como elementos fundamentais desse processo. O estudo do desenvolvimento social surge a partir da linha de pensadores que vão formar a abordagem sociointeracionista. Esta linha teórica propõe que o desenvolvimento humano se dá nas relações, por meio da troca entre parceiros sociais via mediação e interação. O principal pensador dessa linha é Lev Semenovitch Vygotsky, que criou conceitos importantes como a ZDP e a abordagem das funções da linguagem e do pensamento. Vygotsky é, portanto, o pioneiro dessa linha, que conta com outros nomes importantes, entre eles o brasileiro Paulo Freire. Antes de explorarmos os conceitos e características do desenvolvimento social, vamos saber um pouco mais sobre a biografia de Vygotsky. Pode-se afirmar que as teorias, tanto de Piaget como de Vygotsky, têm um ponto em comum como destaque: a importância do ambiente para o desenvolvimento humano. No entanto, enquanto Piaget considera um ambiente um estímulo, a linha 52 adotada por Vygotsky enfatiza a questão da relação pessoal e da influência cultural. Rabelo e Passos (2014) apontam: Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar. Além disso, Vygotsky não considera o aparato biológico suficiente, mas sim a participação do indivíduo em ambientes para que a aprendizagem ocorra por meio das experiências. Essa relação passa a ser melhor entendida quando se remete ao conceito de ZPD. Segundo Vygotsky “a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário” (VYGOTSKY, 1989, p. 97). Para o autor a ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou seja, determinado pela capacidade de resolver problemas de forma independente, e o nível de desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São as aprendizagens que ocorrem na ZDP que fazem a criança se desenvolver ainda mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento, por isso dizemos que, para Vygotsky, esses processos são indissociáveis. A implicação pedagógica mais relevante desse conceito reside na forma como é vista a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Ao contrário de outras teorias pedagógicas, como a piagetiana, que sugerem a necessidadede o ensino ajustar-se a estruturas mentais já estabelecidas, para Vygotsky, o aprendizado orientado para níveis de desenvolvimento que já foram atingidos é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança. Ele não se dirige para um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas, ao invés disso, vai a reboque desse processo. Assim, a noção de zona de desenvolvimento proximal capacita-nos a propor uma nova fórmula, a de que o “bom aprendizado” é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 42). Dentro dessa zona em que ocorre a aprendizagem, o professor agiria favorecendo esse processo, servindo de mediador entre a criança e o mundo. Essa construção começaria a partir do nível de desenvolvimento da criança na zona real. Ela seria o ponto de partida para que o professor traçasse seus objetivos e procedimentos para a construção do conhecimento. Dentro dessa perspectiva, então, 53 a aprendizagem acontece pela maturação biológica associada à interação e à presença de mediadores, que são os professores. O conceito de mediação é fundamental na teoria vygotskyana, pois toda relação é mediada pela linguagem ou por instrumentos técnicos, que passam a intervir no processo. Os dois principais elementos mediadores são os instrumentos e os signos. Por instrumentos é possível compreender, por exemplo, o machado, que permite um corte mais afiado e preciso; ou uma vasilha, que facilita o armazenamento de água, entre outros. Alguns animais, sobretudo primatas, podem até utilizá-los eventualmente, mas é o homem que concebe um uso mais sofisticado, guardando instrumentos para o futuro, inventando novos e deixa instruções para que outros os fabriquem (MONROE, 2018). Já os signos, segundo Vygotsky (1989), são um meio para sua atividade interior, dirigida a dominar o próprio ser humano, ou seja, o signo está orientado para dentro. Eles agem como representações como a escrita, os desenhos, a linguagem e os mapas. Por fim, temos ainda a internalização por meio da experiência com o outro. Assim, Vygotsky aponta: [...] o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas (VYGOTSKY, 2003, p. 118 apud OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 43). Fases do desenvolvimento social Vygotsky aponta as fases do desenvolvimento social sob dois vieses: o do pensamento e o da linguagem. Por meio deles vão ocorrer as transformações sociais em cada criança e, para Vygotsky, a relação de ambos é estreita. Para o autor, linguagem e pensamento são fenômenos de desenvolvimento independentes nos primeiros meses de vida, manifestando-se com autonomia. Porém, por volta do segundo ano, as curvas de evolução do pensamento e da linguagem se encontram, passando a exercer uma relação de dependência mútua — interdependência. Assim, linguagem e pensamento “passam a interferir no complexo universo cognitivo da criança de modo a determinar, a certa altura, que a linguagem pode servir de impulso para o pensamento” (FERNANDES, 2003, PALANGANA, 2001). 54 Linguagem e pensamento Para Vygotsky, a linguagem é o nosso instrumento de relação com os outros e constituidora do sujeito, podendo ser verbal, gestual ou escrita. Além disso, é por meio dela que aprendemos a pensar (RIBEIRO, 2005). Sobre a linguagem, Rabelo e Passos (2014) afirmam que, antes de tudo, ela é social, “portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento”. Segundo o autor, a aquisição da linguagem passa por três fases ou estágios: ➢ Linguagem social: é a primeira forma de linguagem, pois surge ainda no nascimento e permanece até os 3 anos. Tem como principal função denominar, comunicar e acompanhar as ações gerais da criança, porém, de maneira dispersa e caótica. ➢ Linguagem egocêntrica: é a transição da fala social para a fala interna, ou seja, da função comunicativa para a função intelectual, ficando bem próxima ao pensamento. Segundo Rabelo e Passos (2014), trata-se da fala que a criança emite para si, em voz baixa, enquanto está concentrada em alguma atividade. Essa fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a criança está entretida (RIBEIRO, 2005). Sendo assim, a linguagem se caracteriza como sendo da pessoa para a própria pessoa, o conhecido “falar sozinho”. Rabelo e Passos (2014) apontam que esse “falar sozinho” é “essencial porque ajuda a organizar melhor as ideias e planejar melhor as ações. É como se a criança precisasse falar para resolver um problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano do pensamento/raciocínio.” Essa fase também marca a curiosidade e as inúmeras perguntas das crianças e, geralmente, permanece até os 6 anos. ➢ Linguagem interior: esta fase ocorre quando começa o declínio da linguagem egocêntrica e a criança passa a ter a capacidade de “pensar as palavras”, sem a necessidade de dizê-las. Sobre isso: 55 O pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que tem por função criar conexões e resolver problemas, o que não é, necessariamente, feito em palavras. É algo feito de ideias, que muitas vezes nem conseguimos verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as palavras certas para exprimir um pensamento. O pensamento não coincide de forma exata com os significados das palavras. O pensamento vai além, porque capta as relações entre as palavras de uma forma mais complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de uma reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se nela, a medida em que é a linguagem que permite a transmissão do seu pensamento para outra pessoa (VYGOTSKY, 1998 apud RABELO; PASSOS, 2014). Em relação ao desenvolvimento das operações mentais que começam a envolver o uso dos signos, Vygotsky (1998) sugere a existência de quatro estágios: 1º - estágio natural ou primitivo: que corresponde à fala pré-intelectual (manifestada na forma de balbucio, choro e riso) e ao pensamento pré-verbal (caracterizada por manifestações intelectuais rudimentares, ligadas à manipulação de instrumentos); 2º - estágios das experiências psicológicas ingênuas: a criança vai interagir com seu próprio corpo, com objetos e pessoas a sua volta – com isso busca aplicar as experiências ao uso de instrumentos; é o início da inteligência prática. 3º - estágio dos signos exteriores: neste estágio “o pensamento atua basicamente com operações externas, das quais a criança se apropria para resolver problemas internos. ” No desenvolvimento da fala, é o período da fala egocêntrica; 4º - estágio de crescimento interior: caracterizado pela interiorização das operações externas. Dispondo de memória lógica, a criança pode operar com relações intrínsecas e signos interiores. No desenvolvimento da linguagem, este estágio caracteriza-se pela fala interior ou silenciosa. Em relação ao pensamento, a teoria vygotskyana propões três fases ou estágios de desenvolvimento. La Taille, Oliveira e Pinto (1992) caracterizam esses estágios da seguinte maneira: ➢ Primeiro estágio - é denominado como a formação de conjuntos sincréticos, nele, os objetos são agrupados em conjuntos sincréticos pelas crianças, baseados em ligaçõesvagas e subjetivas, como a proximidade espacial quando não tem relação com os atributos relevantes para formarem categorias de objetos; ➢ Segundo estágio - denominado estágio de pensamento por complexos, no qual as ligações entre os componentes dos objetos não são abstratas e lógicas, mas apenas concretas e factuais, de modo que qualquer conexão factualmente presente possa incluir um elemento em um “complexo”, sem a lógica devida; ➢ Terceiro estágio - denominada formação dos conceitos propriamente ditos, porque a criança agrupa os objetos conforme um único atributo, sendo capaz de 56 abstrair características isoladas da totalidade da experiência concreta. É importante destacar, que o percurso genético para o desenvolvimento conceitual não é linear, pois o terceiro estágio, por exemplo, não aparece necessariamente após o segundo estágio. 7. EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO FUNDAMENTAL: CONTINUIDADE DO PROCESSO ALFABETIZADOR Fonte: shre.ink/mwrU As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI/ MEC), no art. 9º, orientam práticas pedagógicas focadas em uma proposta curricular da Educação Infantil com eixos norteadores nas interações e na brincadeira (BRASIL, 2010). A ideia é promover nos alunos o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas e corporais, que favorecem a movimentação ampla, a expressão da individualidade e o respeito pelos ritmos e desejos das crianças. Também deve ser priorizada a imersão delas nas diversas linguagens e variados gêneros e formas de expressão: verbal, gestual, musical, dramática e plástica. Não podem ser esquecidas a ampla experimentação de narrativas, de interação e apreciação com linguagem oral e escrita e a convivência com os mais distintos
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