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ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 147 FATORES DE VIRULÊNCIA DE Rhodococcus equi. IMPLICAÇÕES NA EPIDEMIOLOGIA E CONTROLE DA RODOCOCOSE NOS ANIMAIS E NO HOMEM Márcio Garcia Ribeiro 1 Tatiana Salerno 2 Gustavo Henrique Batista Lara 3 Amanda Keller Siqueira 2 Marta Catarina Fernandes 3 RESUMO Rhodococcus equi é considerado microrganismo oportunista, ubíquo, presente no ambiente de criação de animais. As vias oral e respiratória são as principais formas de transmissão do agente para os animais, enquanto a via respiratória é a mais importante para o homem. Nos animais caracteriza–se clinicamente por pneumonia piogranulomatosa, enterite e linfadenite. No homem, manifesta–se principalmente em pessoas imunossuprimidas sob a forma de infecções pulmonares, notadamente em indivíduos acometidos pelo vírus da aids. Recentemente foram identificados plasmídios e antígenos (proteínas) associados à virulência (Vap), utilizados como marcadores de patogenicidade, principalmente em estudos epidemiológicos. As linhagens consideradas virulentas (possuem antígenos de 15 a 17 kDa que codificam proteínas VapA) são encontradas em estirpes isoladas de pneumonia em potros e em indivíduos com aids. As estirpes de virulência intermediária (20 kDa – VapB) são identificadas na linfadenite em suínos e predominantemente em pacientes com aids, enquanto as avirulentas ocorrem no ambiente de criação de herbívoros domésticos. O presente estudo revisou os principais aspectos da virulência de R. equi, e suas implicações na inter–relação homem–animal e ambiente na epidemiologia e controle da rodococose. Palavras–chave: Rhodococcus equi, virulência, epidemiologia, animais, aids. VIRULENCE FACTORS OF Rhodococcus equi. IMPLICATIONS IN EPIDEMIOLOGY AND CONTROL OF RODOCOCCOSIS IN ANIMALS AND HUMAN ABSTRACT Rhodococcus equi is considered microorganism opportunistic, ubiquitous, and present in environment of animals. In animals, oral and pulmonary via are considered the principal form of infection, while in human the pulmonary via is more–important in transmission. Clinically, R. equi infections in animals are characterized by pyogranulomatous pneumonia, enteritis and lymphadenitis. In human, pulmonary infections are most-common clinical manifestation, frequently in immunossupressed patients, especially infected by acquired immunodeficiency virus (aids). Recently were identified antigens (proteins) associated to virulence of R. equi strains, so–called Vap. These antigens were used as mark of virulence, mainly in studies evolving epidemiology. Virulent strains (contain antigens of 15- to 17 kDa – encoding 1 Professor da Disciplina de Enfermidades Infecciosas dos Animais. Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública – FMVZ – UNESP/Botucatu, SP. CP. 560, Cep 18618–000. Email: mgribeiro@fmvz.unesp.br 2 Pós–graduandos em Saúde Animal, Saúde Pública Veterinária e Segurança Alimentar – FMVZ– UNESP/Botucatu, SP. 3 Residentes em Enfermidades Infecciosas dos Animais – FMVZ–UNESP/Botucatu, SP. ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 148 proteins VapA) are isolated in pneumonia in foals and patients with aids. Intermediately virulence strains (20 kDa – VapB) are identified in lymphadenitis in pigs and strongly associated with human patients infected by aids, while avirulent strains are encountered in environment of animals. The present study reviewed the more–important aspects of virulence of the agent, and implications in human–animal and ambient relationship in epidemiology and control of the disease. Key words: Rhodococcus equi, virulence, epidemiology, animals, aids. FACTORES DE LA VIRULENCIA DE Rhodococcus equi. IMPLICACIONES EN LA EPIDEMIOLOGIA Y CONTROLE DE LA RODOCOCOSIS EN ANIMALES Y EN EL HOMBRE RESUMEN Rhodococcus equi es un microorganismo oportunista, saprófito del suelo, presente en ambiente de creación de animales. En los animales, la vía oral y aerógena son es la principales formas de infección. Sin embargo, en el hombre la vía aerógena es mucho más importante. Las infecciones por R. equi son reconocidas en todo el mundo como causa de graves neumonías piogranulomatosas, enteritis y linfadenitis en animales. En el hombre, la enfermedad se presenta frecuentemente como infección pulmonar, principalmente en personas con defectos del sistema inmunitario, como afectados por el virus de la sida. En los últimos años, se identificó una proteína (antígeno) asociada en la virulencia (Vap) de R. equi, usada como marcador para estudios de epidemiología. Las cepas virulentas (antígeno de 15 a 17 kDa – VapA) del microorganismo son encontradas en potrillos con neumonías e en el hombre con sida. Las cepas de virulencia intermediaria (antígeno de 20 kDa – VapB) son encontradas en la linfadenitis en cerdos y principalmente en el hombre con aids. Las cepas no virulentas son encontradas en el ambiente de los animales. El presente estudio revisou los principales aspectos de la virulencia de R. equi, y las implicaciones en la relación hombre–animales y ambiente en la epidemiología y control en el desarrollo de la enfermedad. Palabras–clave: Rhodococcus equi, virulencia, epidemiología, animales, control. INTRODUÇÃO A rodococose é reconhecida como doença infecto–contagiosa causada pela bactéria Rhodococcus equi (R. equi), que acomete animais domésticos, selvagens e o homem. R. equi é considerado microrganismo ubíquo, encontrado no ambiente de propriedades rurais. Caracteriza-se por comportamento oportunista, relacionado às diversas manifestações clínicas no homem e em animais, desenvolvendo graves reações do tipo piogranulomatosa, de difícil resolução terapêutica (LINDER, 1997). Entre os animais, o eqüino é a principal espécie acometida pelo R. equi. Em diferentes países (PRESCOTT, 1991; GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997; TAKAI, 1997), incluindo o Brasil (RIBEIRO et al., 2005), a rodococose tem sido apontada como a doença infecciosa mais preocupante e debilitante em potros. Clinicamente a doença manifesta–se por infecções pulmonares e, em menor freqüência, por distúrbios entéricos e/ou articulares. Nos suínos o comportamento não é progressivo, apresentando–se como linfadenite com lesões semelhantes às observadas na tuberculose (TAKAI, 1997). Em outras espécies de animais de produção, de companhia e selvagens a doença é rara, ocorrendo sob a forma de enterite, linfadenite, abortamento, mastite, dermatite e piometra (PRESCOTT, 1991). ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 149 Após a primeira notificação de R. equi na Suíça, em 1923, causando pneumonia abscedante em potro (MAGNUSSOM apud PRESCOTT, 1991), seguramente o maior avanço no estudo da doença ocorreu nos últimos anos, com o emprego das técnicas de biologia molecular aplicadas à investigação dos fatores de virulência das linhagens de R. equi, que permitiram contribuições significativas para a epidemiologia, patogenia, diagnóstico e controle da doença. Assume-se, atualmente, que as linhagens de R. equi de alta virulência possuem grande plasmídio (85 a 90 kb), que contêm genes responsáveis pela expressão de proteínas (Vap – virulence associated protein) entre 15 a 17 kDa (VapA), identificadas principalmente em casos de pneumonia em potros e em seres humanos acometidos pela síndrome da imunodeficiência adquirida - aids (HINES et al., 1997). As linhagens de virulência intermediária apresentam plasmídios de 79 a 100 kb(VapB), encontradas predominantemente em linfonodos submandibulares de suínos, com e sem sinais de linfadenite, e em pacientes com aids. Secundariamente, linhagens denominadas avirulentas são encontradas principalmente no ambiente (solo, fezes) de animais domésticos, especialmente em criatórios de eqüinos (TAKAI, 1997). Na última década a rodococose humana é assinalada como doença emergente (LINDER, 1997). As infecções por R. equi no homem são descritas em indivíduos severamente comprometidos ou imunossuprimidos, em especial, pacientes acometidos pela aids (LINDER, 1997; TAKAI et al., 2002). À semelhança com os animais, a rodococose no homem manifesta–se, preferencialmente, por quadros severos de pneumonia abscedante, cavitária, de difícil resolução terapêutica. Sugere–se que a transmissão de R. equi dos animais para o homem estaria relacionada à exposição ao agente no ambiente, secundária à inalação, lesões transcutâneas, (PRESCOTT, 1991; ADAL et al., 1995), ou somente pelo contato estreito com animais domésticos, principalmente eqüinos. No Brasil, Araújo et al. (2000) descreveram o primeiro caso de rodococose em paciente humano acometido por aids, apresentando sintomas pulmonares, do qual foi isolada estirpe de R. equi de virulência intermediária (VapB). Severo et al. (2001) relataram dois casos adicionais no Rio Grande do Sul, um dos quais em paciente HIV-positivo. São escassos os estudos no Brasil investigando os mecanismos de virulência de estirpes de R. equi isoladas dos animais e do homem. O reconhecimento dos antígenos de virulência do microrganismo e a sua utilização como marcadores de patogenicidade permitiram avanços na identificação do perfil de virulência e de novas variantes da bactéria, bem como sua relação com epidemiologia, patogenia, controle e reflexos em saúde pública da doença. O presente estudo revisou os principais aspectos da rodococose nos animais e no homem, com ênfase aos fatores de virulência e a inter–relação homem-animal e ambiente. REVISÃO DA LITERATURA Etiologia e Propriedades Gerais Rhodococcus equi - anteriormente denominado Corynebacterium equi - é reconhecido como bactéria intracelular facultativa, oportunista. Do ponto de vista microbiológico, apresenta-se sob a forma de cocos ou pequenos bacilos, de 1 a 5 m, Gram-positivos, catalase-positivos, oxidase-negativos, fracamente ácido-resistentes, isolados a partir de 48-72 horas de cultivo, sob condições de aerobiose, a 37oC, em meios como o ágar-sangue ovino (5%) desfibrinado. Apresentam colônias tipicamente mucóides, não hemolíticas (isoladamente), inicialmente de cor branco-acinzentada que, posteriormente, assumem tonalidade salmão (QUINN et al., 1994, 2005). O microrganismo possui considerável resistência a determinados produtos químicos, mantendo–se viável na presença do ácido ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 150 oxálico a 2,5% e ácido sulfúrico a 5%, respectivamente, por 60 e 45 minutos (HIRSH & ZEE, 2003). Diferentes fatores de virulência conferem mecanismos que possibilitam a multiplicação de R. equi no interior dos fagócitos (neutrófilos e macrófagos), incluindo a presença de cápsula polissacarídica (PRESCOTT, 1991), do ácido micólico e das enzimas colesterol oxidase e fosfolipase C (ZINK et al., 1986; QUINN et al., 1994). A cápsula e o ácido micólico dificultam a fagocitose, impedindo a formação do fagolisossomo. Os microrganismos detentores de ácido micólico na parede celular tendem a desenvolver reações do tipo piogranulomatosa, de difícil resolução tecidual (HIRSH & ZEE, 2003). A capacidade de produção das enzimas difusíveis fosfolipase C e colesterol oxidase é considerado como fator de virulência de linhagens de R. equi (“fator equi”), responsável pela lise de eritrócitos (PRESCOTT, 1991). A produção destas enzimas pode ser visualizada no teste clássico de “Camp”, em meio de ágar-sangue ovino (5%) desfibrinado, utilizando linhagem hemolítica de Staphylococcus aureus. A semeadura perpendicular dos agentes mostra a produção de hemólise sinérgica nas estirpes de R. equi, que apresentam a forma de “ponta de seta” na junção das semeaduras. A liberação dessas citotoxinas promove a destruição das fosfolipases das membranas dos eritrócitos, que leva a hemólise e liberação do íon ferro, importante co-fator na multiplicação bacteriana (TRABULSI et al., 1999). Entretanto, o impacto destes fatores de virulência na patogenicidade do agente não está completamente elucidado (BERTONE, 2000). A produção de hemólise sinérgica é utilizada como método adicional de investigação de virulência e na confirmação diagnóstica de linhagens de R. equi isoladas dos animais e do homem (PRESCOTT, 1991; QUINN et al., 1994). Nas últimas décadas, assumia–se que a ação conjunta das propriedades anti-fagocíticas capsulares, a presença do ácido micólico e a produção de citolisinas (fosfolipase C e colesterol oxidase), seriam suficientes para determinar a virulência e a severidade das infecções por R. equi (HINES et al., 1997). No entanto, a identificação recente dos plasmídios associados à virulência (VAP) de R. equi, direcionaram os estudos para marcadores de virulência em linhagens isoladas no homem e os animais. Foram reconhecidos plasmídios (85 ou 90 kb) nas estirpes altamente virulentas, contendo genes responsáveis pela expressão de proteínas (antígenos) de 15 a 17 kDa (VapA), diretamente relacionados à patogenicidade do agente em infecções em potros e pacientes humanos, dos quais os últimos, acometidos ou não pelo vírus da aids (HINES et al., 1997; TAKAI, 1997). Atualmente são reconhecidos 11 tipos clássicos de plasmídios virulentos: 85 kb tipos I, II, III e IV; 87 kb tipo I e II; 90 kb tipos I, II, III, IV e V. Nos últimos anos, diferentes estudos têm sugerido a inclusão de novas variantes ou tipos de linhagens virulentas do microrganismo (TAKAI et al., 1997), inclusive no Brasil (RIBEIRO et al., 2005). Os 11 tipos clássicos de plasmídios virulentos que codificam VapA apresentam distribuição geográfica distinta nos diferentes continentes. A maioria das estirpes encontradas nas Américas, Austrália e Europa correspondem aos tipos 85 kb tipo I ou 87 kb tipo I. Na França é encontrado o plasmídio 85 kb tipo II, e nos EUA (Texas) o 85 kb tipo III e IV. Os plasmídios 87 kb tipo II e 90 kb tipos I a IV foram detectados somente no Japão (TKACHUK-SAAD & PRESCOTT, 1991; RAHAL et al., 1999; TAKAI et al., 1999; BECU et al., 2000; TAKAI et al., 2001a,b; YUYAMA et al., 2002). Posteriormente, foram identificados plasmídios de 79 a 100 kb, contendo genes responsáveis pela expressão de antígenos (proteínas) de 20 kDa (VapB) considerados de virulência intermediária. As linhagens de virulência intermediária predominam em linfonodos submandibulares de suínos e em pacientes acometidos pela aids. Investigações subseqüentes avaliaram a virulência de linhagens de R. equi isoladas do ambiente de criatórios dos animais. Essas linhagens são reconhecidas como avirulentas, visto que não possuem plasmídios com genes de 15 a 17 kDa ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 151 (VapA) ou de 20 kDa (VapB). Entretanto, estirpes virulentas também têm sido isoladas do ambiente, suportando a evidência de que as linhagens ambientais também podem infectar animais e o homem, tendo como vias de transmissão os alimentos, a água e o ar (TAKAI, 1997). O conjunto desses estudos culminou com a classificação atual de R. equi em estirpes virulentas, de virulência intermediária e avirulentas (TAKAI, 1997). Entretanto, ainda não foi completamente esclarecida a função das proteínas associadasà virulência (Vap´s) na patogenicidade do agente (HIRSH & ZEE, 2003). Há evidências de que as estirpes dotadas de antígenos de virulência codificados por plasmídios – especialmente 15–17 kDa –, possuem maior habilidade de persistirem viáveis no interior de macrófagos, resistindo à fagocitose (LAZZARI et al., 1997). Na infecção de animais e de seres humanos, o microrganismo é ativamente fagocitado por neutrófilos e macrófagos (PRESCOTT, 1991), geralmente após opsonização e ativação dos componentes do sistema complemento (HIRSH & ZEE, 2003). A persistência intracelular de R. equi é reconhecida como um dos principais mecanismos de patogenicidade do organismo (TIZARD, 1998). Em virtude da supressão da formação do fagolisossomo e da elevada quimiotaxia para neutrófilos e macrófagos, as infecções por R. equi caracterizam-se pela formação de processos piogranulomatosos, com múltiplos abscessos nas regiões acometidas, de difícil resolução tecidual, tendendo a cronicidade. À microscopia predominam nesses locais grandes contingentes de macrófagos, neutrófilos, células gigantes (HIRSH & ZEE, 2003), células epitelióides, com centro contendo áreas caseosas e o agente, circundado por cápsula fibrosa, similar ao granuloma provocado pelos gêneros Mycobacterium e Nocardia (BERTONE, 2000). Doença nos Animais O primeiro registro de rodococose foi efetuado na Suíça, em 1923, em casos de pneumonia granulomatosa crônica de potros (MAGNUSSON apud PRESCOTT, 1991). Posteriormente, o agente tem sido descrito sob a forma de manifestações clínicas variadas em animais de produção, de companhia e silvestres, especialmente em quadros de enterite, linfadenite, mastite, abortamento, artrite, piometra e dermatite (BARTON & HUGHES, 1980; PRESCOTT, 1991). Dentre os animais, a rodococose ocorre com maior freqüência na espécie eqüina. Classicamente, a rodococose em potros ocorre até o sexto mês de idade, principalmente entre 45 e 60 dias de vida. A alta ocorrência nesta faixa etária tem sido atribuída, dentre outros fatores, ao período de transição da imunidade passiva - adquirida pelo colostro - e o início da imunidade ativa contra o agente (PRONOST et al., 1998). A doença nos eqüinos adultos é rara, cursando com sintomas similares aos potros, embora brandos, provavelmente relacionada à co–infecção com microorganismos imunossupressivos, como Herpesvirus equi (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997; RADOSTITS et al., 2000). Os potros infectados eliminam R. equi em grande quantidade principalmente pelas fezes e via respiratória. Esses animais são apontados como a principal fonte de infecção para outros animais susceptíveis, e a mais importante forma de contaminação e manutenção ambiental do microrganismo (TAKAI, 1997). R. equi pode permanecer viável no trato intestinal de animais jovens e adultos, fato que favorece a sua disseminação ambiental em criatórios (BARTON & HUGHES, 1980; RADOSTITS et al., 2000). R. equi tem o solo como habitat (PRESCOTT, 1991). Magnusson (1938) estabeleceu a primeira associação entre a presença de R. equi no solo e a ocorrência da doença em potros. R. equi multiplica-se ativamente no ambiente de animais de produção (solo, fezes), tendo como exigência condições mínimas de temperatura, pH e umidade obtidas, principalmente, no material fecal de herbívoros. Multiplica–se em extremos de temperatura (15oC a 37ºC), ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 152 preferencialmente em ambientes quentes, o que explicaria a elevada ocorrência do microrganismo em países de clima tropical. Em contraste, o microrganismo não se multiplica abaixo de 10ºC. Diferenças entre as condições ambientais a cada ano, principalmente de temperatura, poderiam justificar variações anuais e sazonais nas infecções pela bactéria em animais domésticos, principalmente em potros (PRESCOTT, 1991). R. equi não é considerado como pertencente à microbiota intestinal de animais e do homem, embora seja isolado das fezes e intestino de herbívoros ou onívoros, incluindo eqüinos, bovinos, suínos, ovinos, caprinos e cervos. Raramente é isolado das fezes do homem e de cães, e não tem sido isolado das fezes de gatos (PRESCOTT, 1991). Estudo da presença de R. equi em 96 amostras de solo de criatórios de eqüinos identificou o microrganismo em 58 amostras (BARTON & HUGHES, 1980). O microrganismo multiplica–se ativamente no intestino de potros até as primeiras oito semanas de vida, cessando ao redor da 12a semana, provavelmente devido a colonização da microbiota normal do intestino dos animais (TAKAI et al., 1986). Barton e Hughes (1980) compararam a freqüência de isolamento de R. equi do epitélio intestinal e das fezes de eqüinos, bovinos, suínos, ovinos e caprinos, e constataram maior percentual de recuperação da bactéria nas amostras obtidas diretamente do epitélio intestinal. R. equi apresenta elevada resistência no ambiente, podendo persistir viável por até 12 meses nas instalações, ou sob condições desfavoráveis de dessecação e quando expostos à luz solar. Os ambientes secos, com excesso de matéria orgânica, incluindo baias e piquetes de animais domésticos, favorecem a formação de aerossóis contendo o microrganismo. A aerossolização permite a veiculação de R. equi para outros potros, contamina água e alimentos, e predispõe o estabelecimento da infecção pelas vias oral ou respiratória. O hábito da coprofagia evidenciado nos potros propicia o contágio pela ingestão de linhagens virulentas de R. equi provenientes das fezes (BERTONE, 2000). Em criatórios de animais domésticos - especialmente de eqüídeos -, nos quais a doença cursa de forma endêmica, determinadas condições ambientais e/ou práticas de manejo são consideradas de risco, incluindo a deficiente ingestão de colostro, o excesso de poeira (principalmente em piquetes), deficiências na remoção do esterco das instalações, a proximidade de instalações (baias, piquetes) criação de animais de diferentes faixas etárias e categorias, a superpopulação, o clima seco, a intensidade de ventilação (formação de aerossóis) e extremos de temperatura (WARNER, 1993; BERTONE, 2000). No Brasil, a doença ocorre geralmente no período de dezembro a março, em virtude da estação de monta concentrar o nascimento dos potros nos meses de clima quente do ano. Os eqüinos são a principal espécie–alvo de R. equi. Nos potros a doença tem curso insidioso. Manifesta-se por sinais de depressão, letargia, febre (41oC), inapetência, tosse (produtiva ou não), perda de peso, secreção nasal uni ou bi-lateral (serosa a muco-purulenta), taquicardia e taquipnéia. A auscultação pulmonar revela sibilos e murmúrios aumentados (BERTONE, 2000). Zink et al. (1986) assinalaram a pneumonia como o principal sintoma clínico, diagnosticada em 70 (61%) dentre 131 casos em potros. Com a progressão do quadro, os animais tendem a apresentar anorexia, decúbito, respiração abdominal e cianose, evoluindo para morte ao redor de 50% dos casos (RADOSTITS et al., 2000). Os sinais entéricos são menos freqüentes, ocorrendo isoladamente ou em conjunto com os respiratórios, representados por diarréia, desidratação, cólica, perda de peso e retardo no crescimento, decorrentes de grave colite e linfadenite mesentérica (ZINK et al., 1986; RIBEIRO et al., 2002). As artropatias por R. equi também são importantes entidades nosológicas em potros (BERTONE, 2000), subdivididas em processos sépticos e assépticos. Ocorrem principalmente nas articulações tíbio–társicas, comumente associadas aos processos respiratórios e, secundariamente, aos distúrbios entéricos (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997). As artropatias ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec.v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 153 assépticas são desencadeadas pela deposição de imuno–complexos (fatores reumatóides) na cápsula articular e sinóvia (TIZARD, 1998). No Brasil, Ribeiro et al. (2002) relataram caso não usual de polisinovite auto-imune em potro por R. equi, secundária a severa enterocolite e linfadenite mesentérica. A caracterização dos diferentes perfis de patogenicidade de R. equi em linhagens virulentas, de virulência intermediária e avirulentas (TAKAI et al., 1991; TAKAI, 1997), impulsionaram estudos recentes que utilizam tais fatores como marcadores de virulência. Takai (1997) afirmou que as linhagens de R. equi isoladas de potros com pneumonia e/ou lesões entéricas são predominantemente virulentas. Na Hungria, Makrai et al. (2002) investigaram a virulência de 146 isolados de R. equi em criatórios de eqüinos, encontrando 129 linhagens produtoras de VapA, das quais 123 continham plasmídio virulento de 85kb (tipo I) e as seis remanescentes plasmídio 87 kb (tipo I). A infecção experimental de dois potros com linhagem de R. equi virulenta (VapA) e de dois potros com linhagem de virulência intemediária (VapB), revelaram maior severidade dos sintomas clínicos e de lesões histopatológicas na linhagem VapA comparativamente a VapB (TAKAI et al., 2000). No Brasil, Langoni (1994) assinalou a importância da rodococose em potros revisando os principais aspectos da doença. No entanto, pequena atenção tem sido despendida ao estudo da virulência de R. equi, a despeito da relevância da doença como causa de morbi-mortalidade em potros no país. Ribeiro et al. (2005) investigaram a virulência de 41 estirpes de R. equi isoladas em criatórios de diferentes regiões do Estado de São Paulo, encontrando seis linhagens com plasmídio virulento 85 kb (tipo I), 33 com plasmídio virulento 87 kb (tipo I) e duas linhagens sugeridas como novas variantes. Os suínos são a segunda espécie animal mais acometida por R. equi. O principal sintoma evidenciado é a linfadenite. Não está completamente esclarecida a baixa progressividade da doença em suínos, ficando, nesta espécie, geralmente restrita ao sistema linfático (MAKRAI et al., 2002). Geralmente o enfartamento ocorre nos linfonodos submandibulares e, secundariamente, mediastínicos e mesentéricos, embora outros linfonodos possam estar acometidos. O aspecto das lesões à necropsia é indistinguível da tuberculose e micobacterioses. No entanto, o organismo também tem sido isolado de linfonodos sem lesões macroscópicas aparentes (PRESCOTT, 1991). Makrai et al. (2002) inocularam, experimentalmente, estirpes de R. equi virulentas, de virulência intermediária e avirulentas em suínos. Nenhum dos animais apresentou sintomas clínicos e somente as linhagens virulentas e de virulência intermediária foram recuperadas de órgãos e linfonodos. O estudo do perfil de virulência de 56 estirpes de R. equi isoladas de 1832 linfonodos de suínos de abatedouros, aparentemente saudáveis, revelou 54 estirpes positivas para VapB (virulência intermediária) e duas para VapA (TAKAI et al., 1996a). Madarame et al. (1998) investigaram a virulência de R. equi em 1615 linfonodos de suínos, constatando a presença de estirpes virulentas e de virulência intermediária em 5,5% da amostragem. Na Hungria, Makrai et al. (2005) investigaram a virulência de 164 R. equi isolados de linfonodos de suínos, encontrando 44 (26,8%) linhagens produtoras de VapB, enquanto nenhum dos isolados foi caracterizado com VapA. À semelhança do padrão de virulência de estirpes isoladas de humanos com aids, as estirpes de R. equi isoladas de linfonodos de suínos têm apresentado predominantemente plasmídios de virulência intermediária (TAKAI, 1997). No entanto, não foi esclarecido epidemiologicamente o impacto dos suínos como fontes de infecção para o homem e para outros animais. De maneira similar, ainda não foi estabelecida à caracterização da rodococose como doença ocupacional para pessoas que mantém contato com suínos (TAKAI et al., 1996a). ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 154 No Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul, Oliveira et al. (1995) investigaram a etiologia bacteriana em 25 linfonodos de suínos que apresentavam lesões macroscópicas de linfadenite, e identificaram quatro linhagens de Mycobacterium bovis, quinze do grupo MAIS (Mycobacterium avium, Mycobacterium intracellulare e Mycobacterium scrofulaceum) e seis de R. equi. No entanto, não foi investigada a virulência das estirpes de R. equi. O sautores salientaram a semelhança macroscópica das lesões entre os gêneros Mycobacterium e Rhodococcus, e a necessidade de diagnóstico diferencial das lesões “tuberculóides” em linfonodos de suínos. Nos bovinos, búfalos, ovinos e caprinos, a rodococose é reconhecida como afecção clínica de ocorrência rara. Além de sintomas respiratórios e entéricos também tem sido registrado piometra, mastite, pneumonia, abortamento, linfadenite, linfangite e abscessos em órgãos (PRESCOTT, 1991). No Brasil, Langoni et al. (1998) destacaram o isolamento de R. equi em 1,01% e 0,82% de amostras de leite de vacas com mastite clínica e subclínica, respectivamente, destacando como a primeira notificação do agente em casos de mastite bovina no país. Em animais de companhia a rodococose clínica é rara. As infecções por R. equi são mais freqüentes em gatos do que em cães. A via transcutânea parece representar a principal forma de infecção para cães e gatos. O comportamento agressivo dos gatos em disputas territoriais ou por fêmeas no cio favorece a veiculação transcutânea da bactéria presente na região ungueal ou na pele dos animais (FARIAS et al., 2007; GREENE, 2006). Os principais sintomas observados nestas espécies são: linfadenite, abscessos de pele, pneumonia abscedante, piotórax, hepatomegalia e lesões abscedantes em órgãos diversos. Em gatos, a rodococose está associada à co-infecção com doenças de base imunossupressivas, com destaque para o vírus da imunossupressão e da leucemia felina (GREENE, 2006). Takai et al. (2003) investigaram a virulência de nove cães e nove gatos com diferentes afecções por R. equi, cujas linhagens estudadas eram provenientes de diferentes países, dos quais um dos gatos procedente do Brasil. Foram identificadas estirpes virulentas de R. equi (VapA) em cinco gatos e em um cão, alertando para a maior prevalência de linhagens virulentas em gatos domésticos, assim como a preocupação do convívio destas espécies animais com pacientes acometidos pela aids. No Brasil, Farias et al. (1998) descreveram o primeiro relato de piogranulomatose cutânea em gato, secundária à infecção por R. equi. Em estudo posterior, esta linhagem foi caracterizada quanto à virulência, o qual revelou a presença de plasmídio de 87 kb (tipo I), semelhante ao padrão encontrado em potros (FARIAS et al., 2007). Em animais silvestres/selvagens, a rodococose também é rara, descrita geralmente sob a forma de relatos de caso. A doença já foi diagnosticada em koala, crocodilo, jacaré, cervo, foca, sagüi e cobaia, provocando quadros de pneumonia, linfadenite, septicemia e abscessos em diversos órgãos (PRESCOTT, 1991; BERTONE, 2000). O perfil de virulência de estirpes de R. equi isoladas do ambiente também tem sido motivo de estudo. Os achados apontam que as linhagens isoladas do ambiente são predominantemente avirulentas. No entanto, outros ensaios têm encontrado estirpes virulentas semelhantes às isoladas de animais com rodococose clínica e em pacientes com aids (TAKAI, 1997). Takai et al. (1994) referiram a presença de linhagens virulentas de R. equi (85 kb e 90 kb) proveninetes do ambiente de criatórios de potros no Japão, dos quais houve isolamento concomitante de estirpes virulentas do pulmão dos animais. Takai et al. (1996b) investigarama virulência de 173 estirpes isoladas de amostras de solo e areia proveninentes de 115 parques e 49 jardins no Japão. Nenhuma estirpe foi caracterizada como virulenta, sugerindo que, provavelmente, a infecção humana por R. equi apresente maior relação com estirpes oriundas de criações de animais domésticos. ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 155 Na Tailândia, Takai et al. (2002) não obtiveram êxito na detecção de características de virulência em 537 estirpes de R. equi isoladas do ambiente de propriedades rurais. Na Hungria, a investigação da virulência de 48 estirpes isoladas do solo de dois criatórios de eqüinos revelou 26 (54,2%) positivas para VapA (85 kb tipo I) (MAKRAI et al., 2002). Takai et al. (2004) não detectaram propriedades de virulência em 533 estirpes de R. equi isoladas do solo e das fezes de animais silvestres em dois parques nacionais na Zâmbia, África. No Brasil, ainda não foram realizadas investigações visando a caracterização de virulência de estirpes de R. equi isoladas do ambiente, especialmente do habitat de criação de animais domésticos. Na prática clínica, o diagnóstico da rodococose nos animais fundamenta–se na associação de dados clínico-epidemiológicos, com os resultados de exames subsidiários clínico-laboratoriais, microbiológicos, citológicos e/ou histopatológicos (WARNER, 1993; GREENE, 1998; BERTONE, 2000; RADOSTITS et al., 2000). Na anamnese dos potros destaca–se a maior ocorrência da doença entre 1 e 6 meses de idade – principalmente entre 45 e 60 dias –, usualmente nos meses quentes do ano (ZINK et al., 1986). Nas propriedades onde a doença grassa de forma endêmica, são freqüentes os problemas de manejo e de saneamento ambiental que favorecem a infecção, com destaque para deficiente ingestão de colostro pelos potros, excesso de fezes e poeira, bem como a aglomeração dos animais. Os exames clínico-laboratoriais revelam leucocitose por neutrofilia e aumento do fibrinogênio. Radiografias torácicas em animais de companhia e em potros podem auxiliar na avaliação da extensão das lesões pulmonares (BERTONE, 2000; RADOSTITS et al., 2000; GREENE, 2006). O isolamento microbiano é o método mais fidedigno para o diagnóstico de rotina da rodococose, tanto em animais como no homem (QUINN et al., 1994, 2005). Em potros, o isolamento de R. equi é efetuado preferencialmente a partir do lavado trans-traqueal. Os exames citológicos diretos de órgãos, de material centrifugado de lavados traqueais e de líquido sinovial são alternativas para o diagnóstico da rodococose em animais (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997; RIBEIRO et al., 2002). O isolamento de R. equi do ambiente é obtido com o emprego de meios especiais que contenham drogas impedientes para outros microrganismos ambientais e fecais, como o meio de Nanat (TAKAI et al., 1996b). O sorodiagnóstico da rodococose tem sido aventado no plano diagnóstico, apoiado nas técnicas de imunodifusão em gel de ágar, inibição de hemólise sinérgica, imunodifusão radial e enzyme-linked immunosorbent assay-ELISA. Essas técnicas permitem diagnóstico mais fidedigno nos estágios avançados da infecção, mas tem como inconvenientes as reações falso- positivas (anticorpos de origem materna) e falso-negativas (potros com infecção precoce). Takai (1997) descreveu o emprego de anticorpos monoclonais direcionados ao diagnóstico dos antígenos Vap A e Vap B, com resultados promissores. A padronização das técnicas de immunobloting e reação em cadeia pela polimerase (PCR) permitiram o avanço significativo no diagnóstico da rodococose (TAKAI et al., 1991; TAKAI, 1997). Estas técnicas visam a detecção e quantificação do tamanho dos plasmídios associados à virulência – VapA (produto esperado de amplificação na PCR de 564 pares de base) e Vap B (produto esperado de amplificação na PCR de 827 pares de base). Alternativamente, os genes contidos nos plasmídios ligados à virulência de R. equi (Vap A e Vap B) têm sido seqüenciados e clonados com intuito de diagnóstico (TAKAI, 1997). A microscopia eletrônica de transmissão também foi utilizada para investigar a manutenção intracelular do microrganismo (ZINK et al., 1987). À necropsia as principais lesões observadas nos animais domésticos são: pneumonia abscedante (com formação de abscessos coalescentes, cavitários e/ou múltiplos), linfadenite mediastínica e mesentérica, enterite, colite ulcerativa, artrite e sinovite, além de abscessos em ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 156 múltiplos órgãos, semelhante às lesões desenvolvidas pelos gêneros Mycobacterium, Nocardia e outros actinomicetos (RADOSTITS et al., 2000; GREENE, 2006). A histopatologia revela a presença de processos piogranulomatosos, contendo grande contingente de macrófagos, linfócitos e neutrófilos degenerados, células gigantes, “caseum” e grande quantidade do microrganismo no citoplasma dos fagócitos, circundado por cápsula fibrosa (BERTONE, 2000; HIRSH & ZEE, 2003). O tratamento da doença fundamenta-se na utilização de antimicrobianos aliado à terapia de suporte. Os antimicrobianos lipofílicos são recomendados por apresentarem altas concentrações no interior celular e por atuarem mesmo na presença de material purulento, que usualmente limita a ação terapêutica de antimicrobianos convencionais (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997; RADOSTITS et al., 2000; BERTONE et al., 2000). Nos potros a terapia é baseada na associação de rifampicina (5 mg/Kg a cada 12h, ou 10 mg/Kg a cada 24h) e eritromicina (25 mg/kg a cada 8 ou 12h), via oral, por no mínimo 30 dias (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997). Recentemente foi empregada a azitromicina (10 mg/kg, a cada 24 h, via oral, por cinco dias, seguido de mais três doses em dias alternados), associada à rifampicina, em substituição à eritromicina (BECU, 1999), em virtude da ocorrência de reações adversas em potros decorrentes do uso prolongado da eritromicina (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997). Na terapia dos animais de companhia são indicados antimicrobianos a base de amoxicilina/ácido clavulânico (12,5 mg/kg, a cada 12 h, via oral), gentamicina (2mg/kg, a cada 12 h, via subcutânea), rifampicina (5 mg/kg, a cada 12 h, via oral), eritromicina (15 mg/kg, a cada 12 h, via oral), ou associações entre estas drogas, por no mínimo 14 dias de terapia, com resultados satisfatórios em casos não–septicêmicos (GREENE, 2006). As limitações no sucesso da terapia da rodococose incluem o registro crescente de linhagens resistentes a rifampicina e/ou a eritromicina (PRONOST et al., 1998), o desenvolvimento de resistência adquirida ao longo do tratamento, a descontinuidade da terapia, ou a dificuldade de penetração intracelular das drogas e/ou no foco piogranulomatoso (PRESCOTT, 1991; GREENE, 1998). O controle da rodococose eqüina fundamenta–se na adequação das condições do ambiente das criações e em medidas gerais de manejo. Deve–se atentar para a ingestão adequada de colostro pelos recém-nascidos, a segregação dos animais em categorias, evitar a criação de número excessivo de potros em mesmo ambiente e o acúmulo de material fecal em baias e piquetes (BARTON & HUGHES, 1980; PRESCOTT, 1991). Profilaticamente, também é preconizada a administração de plasma hiperimune nas primeiras semanas de vida do potro, entre 7 e 14 dias de idade, com reforço entre 25 e 30 dias de idade dos animais, visando a redução da ocorrência de casos clínicos severos (GIGUÈRE & PRESCOTT, 1997). Em propriedades endêmicas, a vacinação (bacterina) das éguas tem sido indicada no final da gestação, visando induzir imunidade passiva ao feto, via colostral (BECU, 1999; BECU et al., 2000). Para outras espéciesdomésticas não existem protocolos específicos de controle e profilaxia, permanecendo as recomendações gerais de retirada periódica de material orgânico e dejetos do ambiente de criações. Doença no Homem Em 1967 foi registrada a primeira descrição da rodococose humana em paciente com abscesso pulmonar (GOLUB et al., 1967). Nas décadas subseqüentes, as infecções por R. equi no homem foram caracterizadas como de ocorrência rara (SEVERO & LONDERO, 1996). Entretanto, na atualidade, a rodococose humana é reconhecida como doença emergente (LINDER, 1997; MAKRAI et al., 2000). ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 157 As infecções por R. equi no homem estão associadas à grupos de risco, que incluem indivíduos imunossuprimidos por diversas doenças de base, incluindo hepatopatas, transplantados, alcoólatras, portadores de neoplasias (leucemia, linfoma), usuários de drogas injetáveis e, nos anos recentes, pacientes acometidos por aids (DOIG et al., 1991; SEVERO & LONDERO, 1996; YOO et al., 2003). A descrição da infecção em pacientes imunocompetentes é rara (MACGOWAN & MANGANO, 1991). A pneumonia cavitária crônica com derrame pleural é a principal manifestação clínica da rodococose no homem, acompanhada de febre, tosse e dores no peito. Secundariamente são observados quadros extra-pulmonares como: abscessos renais, diarréia com sangue, caquexia, pleurisia, hepatopatias, peritonite, artrite séptica, osteomielite, linfadenite e meningite (BROWN, 1995; SEVERO & LONDERO, 1996). O crescente aumento da casuística da rodococose no homem deve-se ao estado de imunossupressão induzido pelo vírus da aids. Estima-se que, em média, 39,4 milhões de pessoas convivam atualmente com a enfermidade em todo o mundo. Em 2004, a doença gerou 3,1 milhões de óbitos, com expectativa de 4,9 milhões de novos casos em 2004. Na América Latina, estima-se 1,7 milhões de soropositivos - dos quais 95.000 vieram a óbito - com expectativa de 240.000 novos casos no ano (WHO, 2005). Conforme a Organização Panamericana da Saúde-OPS (2001), 88% da casuística atual de rodococose é atribuída a co– infecção pelo vírus da aids. No Brasil, o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica assinalou que entre 1980 e 2004 ocorreram 362.364 casos de aids oficialmente notificados, dos quais 8.763 na região norte, 34.424 na região nordeste, 63.519 na região sul, 20.248 na região centro-oeste e 235.410 na região sudeste, que acarretaram 28.609 óbitos, dos quais 23.561 na região sudeste, representando esta última, a região mais prevalente do país. Desta maneira, nota-se de forma preocupante a tendência de progressão da aids no Brasil, apesar dos esforços do Ministério da Saúde em conter a doença (BRASIL, 2005 a,b). O avanço no número de pessoas infectadas reflete diretamente no aumento de doenças consideradas emergentes e re-emergentes - freqüentemente causadas por agentes oportunistas -, dentre as quais se enquadram à tuberculose e a rodococose. Aventa-se que a inalação de aerossóis produzidos em ambientes de criação de animais represente a principal forma de transmissão da rodococose para o homem (BROWN, 1995) e, secundariamente, mediante a deglutição de esputo de pacientes com afecções pulmonares pela bactéria (OPS, 2001). Entretanto, ainda é obscuro o real impacto do histórico de contato do homem com animais na transmissão de R. equi (SEVERO & LONDERO, 1996). Em levantamento detalhado do perfil de 18 casos de rodococose no homem, Doig et al. (1991) constataram que oito (44,4%) pacientes tinham histórico de contato recente com animais – especialmente eqüinos – ou com ambiente rural, incluindo práticas de limpeza de estábulos, baias, piquetes, ou eram fazendeiros. Prescott (1991) referiu que 12 dentre 32 pacientes acometidos de rodococose tinham histórico de contato estreito com animais e/ou ambientes de criação de espécies domésticas. Verville et al. (1994) investigaram a epidemiologia de 12 casos de rodococose humana, dos quais seis acometidos por aids, e constataram que dois tinham histórico de contato estreito com eqüinos, um com cão doméstico e outro com ambiente rural. O histórico do contato de pacientes com rodococose – com e sem aids – e animais domésticos e/ou ambiente rural, reforçam a preocupação do potencial zoonótico de R. equi e da rodococose como doença ocupacional. Estudos recentes têm procurado avaliar a patogenicidade das estirpes de R. equi isoladas de pacientes humanos, em especial os acometidos por aids, utilizando plasmídios como marcadores de virulência. Tem–se notado reiteradamente que as estirpes isoladas dos casos humanos possuem predominantemente plasmídios de virulência intermediária (VapB), ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 158 semelhante ao perfil de virulência de linhagens isoladas de linfonodos de suínos. Menos frequentemente as estirpes isoladas de humanos contém plasmídios virulentos, similares aos identificados em potros com pneumonia (TAKAI et al., 1997). A patogenicidade de seis isolados de R. equi oriundos de pacientes aidéticos da Tailândia demonstrou a presença de virulência intermediária-VapB (TAKAI et al., 2002). Estudo similar na Hungria revelou que cinco dentre sete estirpes isoladas de pacientes aidéticos possuíam virulência intermediária (Vap B) (MAKRAI et al., 2002). Recomenda-se que o tratamento antimicrobiano no homem seja indicado com base no teste de sensibilidade microbiana (SEVERO & LONDERO, 1996). Na instituição da terapia são recomendados antimicrobianos lipofílicos, em virtude da localização intracelular da bactéria (TAVARES, 2002). Dentre as drogas mais utilizadas na terapia da rodococose humana destacam-se: rifampicina, eritromicina, vancomicina, imipeném, sulfametoxazol/trimetoprim, aminoglicosídeos (gentamicina e amicacina) e fluorquinolonas (ciprofloxacina, enrofloxacina) (VERVILLE et al., 1994; BROWN, 1995; OPS, 2001; TAVARES, 2002). Comumente, os pacientes são tratados por várias semanas até a remissão completa dos sintomas, e após culturas microbiológicas negativas (BROWN, 1995). Entretanto, recidivas e complicações clínicas são comuns (SEVERO & LONDERO, 1996). Verville et al. (1994) investigaram 12 casos de rodococose no homem, em que a doença foi fatal em quatro pacientes e tendeu a evolução crônica em dois. Esses seis casos complicados correspondiam à pacientes com aids. Em pacientes tratados exclusivamente com antimicrobianos a cura foi observada somente em 61% dos casos, melhorando a efetividade quando foi associada à rescisão cirúrgica dos tecidos afetados (OPS, 2001). Takai et al. (1997) avaliaram comparativamente a concentração inibitória mínima de linhagens de R. equi isoladas de 64 potros, 98 amostras de solo e de 39 casos humanos de rodococose, e encontraram resistência das linhagens para rifampicina em uma estirpe isolada de potro e em duas de pacientes com aids. Nos últimos anos, a levofloxacina – fluorquinolona de terceira geração – utilizada isoladamente ou em associação com outros antimicrobianos tem apresentado bons resultados na terapia da rodococose humana, incluindo em pacientes com aids (MORETTI et al., 2002). À semelhança da doença nos animais, o diagnóstico fidedigno da rodococose no homem é firmado com base no isolamento do agente de diferentes humores orgânicos e órgãos (OPS, 2001). Nos casos de manifestações pulmonares, o microrganismo pode ser isolado de material proveniente do esputo dos pacientes ou, preferencialmente, de lavados traqueo–brônquicos, de biópsias, de aspiração torácica, ou de lobectomia pulmonar. Alternativamente, a hemocultura possibilita o isolamentode R. equi ao redor de um terço dos pacientes com afecções pulmonares (PRESCOTT, 1991). Outros exames como o diagnóstico por imagem (raios X, tomografia e ressonância magnética) podem oferecer subsídios quanto à extensão do comprometimento de órgãos, no estabelecimento de prognóstico ou mesmo na tomada de decisão para remoção cirúrgica de áreas lesionadas. No Brasil, a rodococose humana é considerada doença rara. Santos-Fortuna et al. (1999) compararam o perfil de virulência de quatro linhagens de R. equi isoladas no Brasil com nove casos de rodococose na Itália. Em um dos isolados do Brasil e em dois da Itália foram detectados antígenos de 15 a 17 kDa (virulentos), enquanto que em três estirpes do Brasil e em uma da Itália foram caracterizados antígenos de 20 kDa (virulência intermediária). Esses achados reforçam os estudos da infecção por R. equi no homem em outros países, nos quais foram constatados maior ocorrência de antígenos de virulência intermediária, semelhante ao perfil de virulência de linhagens isoladas de linfonodos de suínos. ISSN 0102-5716 Veterinária e Zootecnia Ribeiro, M.G. et al. Fatores de virulência de Rhodococcus equi. Implicações na epidemiologia e controle da rodococose nos animais e no homem. Vet. e Zootec. v.14, n.2, dez., p. 147-163, 2007. 159 Araújo et al. (2000) notificaram o primeiro caso de rodococose no Brasil em paciente humano com sintomatologia pulmonar, co–infectado pelo vírus da aids, no qual foi caracterizada linhagem de virulência intermediária (VapB). No Rio Grande do Sul, Severo et al. (2001) relataram dois casos de rodococose humana, dos quais um dos pacientes HIV-positivo apresentava anemia, emagrecimento progressivo, episódios recorrentes de tosse, expectoração purulenta fétida, com estrias de sangue. A radiografia torácica revelou área necrótica no pulmão esquerdo. O diagnóstico do microrganismo foi obtido mediante baciloscopia e isolamento do agente do esputo. Mesmo com a instituição de terapia antimicrobiana (rifampicina, isoniazida e pirazinamida) o paciente apresentou falência do estado geral, evoluindo para morte. O outro paciente era HIV- negativo, portador de doença renal crônica há quatro anos, com sinais de febre, tosse, escarro hemóptico, mialgias e fadiga. A radiografia torácica acusou lesão nodular no lobo pulmonar superior direito. A punção aspirativa pulmonar, seguida de baciloscopia e cultura microbiana, permitiram confirmação do diagnóstico. A terapia por 30 dias com sulfametoxazol/trimetoprim resultou em cura do paciente. Apesar de rara no Brasil, a rodococose humana é motivo de preocupação crescente em pacientes imunossuprimidos. A doença é assinalada como emergente em pacientes HIV– positivos (LINDER, 1997; OPS, 2001). As semelhanças da evolução clínica da rodococose com a tuberculose indicam a necessidade do estabelecimento do diagnóstico diferencial entre as duas doenças. Releva-se notar também, que a propriedade de ácido resistência de R. equi pode resultar em diagnósticos preliminares equivocados com os gêneros Mycobacterium e Nocardia, ou mesmo o sub–diagnóstico da doença (SEVERO & LONDERO, 1996; OPS, 2001). Não existem métodos práticos para o controle da rodococose no tocante a inter– relação homem–animal, em virtude da presença de R. equi nas fezes de animais domésticos, bem como pela ampla difusão ambiental do microrganismo. Desta forma, torna–se mais racional evitar o contato de pacientes imunossuprimidos - especialmente acometidos por aids - com animais domésticos e/ou ambientes rurais (SEVERO & LONDERO, 1996; OPS, 2001). Considerações finais São escassos os estudos no Brasil conduzidos na avaliação dos diferentes marcadores de virulência de linhagens de R. equi isoladas do homem e dos animais. Com o reconhecimento na última década dos antígenos de virulência e a sua utilização como marcadores de patogenicidade, tornam–se imprescindíveis os estudos de caracterização dos fatores de virulência de estirpes de R. equi isoladas do homem, dos animais e/ou do ambiente. Tais investigações certamente contribuirão para a identificação do perfil de virulência do microrganismo, de novas variantes patogênicas e dos mecanismos de transmissão, fornecendo subsídios às ações de controle e profilaxia da doença. REFERÊNCIAS ADAL, K.A.; SHINER, P.T.; FRANCIS, J.B. Primary subcutaneous abscess caused by Rhodococcus equi. Ann. Intern. Med., v.122, p.317, 1995. BARTON, M.D.; HUGHES, K.L. Corynebacterium equi: a review. Vet. Bull., v.50, p.65-80, 1980. BECU, T. Rhodococcus. Saúde Equina, v.2, p.16-17, 1999. BECU, T. et al. 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