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1 ANEMIA FERROPRIVA E ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA Gizelle Felinto ANEMIA FERROPRIVA INTRODUÇÃO ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É o tipo mais comum, correspondendo a cerca de 75% das anemias • Prevalência: ▪ 45% dos casos → ocorrem na primeira infância (crianças até os 5 anos de idade) ▪ 50% dos casos → mulheres em idade fértil ▪ Também é comum em: ✓ Idosos ✓ Gestantes → a anemia ferropriva durante a gestação aumenta os riscos no parto e a morbidade materna ➢ SOBRE O FERRO: • Reserva → tem-se cerca de 3 a 4g de reserva de Ferro no adulto ▪ Na circulação (70% do total) → presente nas Hemácias/Eritrócitos ✓ Responsável por formar a hemoglobina, para o transporte de Oxigênio ▪ Acumulado (30%) → presente nos hepatócitos e nos macrófagos • Adquire-se o Ferro pela Dieta: ▪ Fero Heme: ✓ Está presente na Hemoglobina e na Mioglobina → dessa forma, pode ser adquirido por meio da ingesta de Carne Vermelha (em vísceras, como o fígado) ✓ Tem boa disponibilidade ▪ Ferro não Heme: ✓ É de origem vegetal, sendo adquirido por meio da ingesta de espinafre e couve, por exemplo ✓ Apresenta baixa disponibilidade ➢ CARACTERÍSTICAS GERAIS: • A anemia por falta de ferro ocorre quando todo o estoque/reserva de ferro acaba • A ingesta e a perda diária de ferro é muito pequena • Deficiência de Ferro → ocorre nas seguintes situações: ▪ Desequilíbrio entre ingestão e/ou absorção do ferro ▪ Quando há demanda aumentada (Ex: gestação) ▪ Quando há perda crônica METABOLISMO E CICLO DO FERRO ➢ ABSORÇÃO DO FERRO: • Ocorre no intestino (duodeno e jejuno proximal) • Todo o processo de absorção do ferro é regulado pelo hormônio Hepcidina • Ferro não Heme: ▪ É necessário reduzir de Fe3+ para Fe2+, para que seja internalizado através de um transportador de membrana ▪ Pode ser utilizado dentro da célula com as seguintes finalidades: ✓ Metabolismo intracelular ✓ Armazenamento → a proteína Ferritina tem uma grande capacidade de armazenamento do ferro, sendo a principal responsável pelo seu armazenamento no organismo o A concentração sérica de ferritina é diretamente proporcional às reservas de ferro no organismo, isto é, quanto maior o acúmulo de ferro, maior será o valor da ferritina sérica ▪ Ao sair da célula, o Fe2+ volta a ser Fe3+, para ir para a corrente sanguínea através da ferroportina, sendo transportado para algum órgão necessitado ou para fazer parte das hemácias • Ferro Heme: ▪ É mais fácil de ser absorvido pelas células, pois possui receptores específicos, porém a parte intracelular é igual a do ferro não heme • Fígado: ▪ Produz muitas das enzimas que participam do processo do metabolismo do ferro. Dessa forma, uma lesão celular ou hepatocelular danifica o metabolismo do ferro. Portanto, um paciente com ferritina aumentada nem sempre tem como causa o acúmulo de ferro, mas também pode indicar uma lesão hepática ➢ DISTRIBUIÇÃO DE FERRO PELO CORPO: • A maior reserva de ferro é na medula óssea • Um adulto tem cerca de 3 a 4g de ferro armazenado (pela ferritina e pela hemossiderina) • 70% do ferro → faz parte da hemoglobina e está circulando com as hemácias • 30% do ferro → está no parênquima hepático, reciclado nos macrófagos do Sistema Reticuloendotelial (SER), na composição da musculatura na mioglobina ou na medula óssea para fabricar as hemácias ➢ TRANSPORTE DO FERRO NO ORGANISMO: • Ferritina e Hemossiderina: ▪ São proteínas responsáveis por estocar o ferro • Transferrina: ▪ Transporta o ferro ▪ Conduz e entrega o ferro aos tecidos que tem receptores para transferrina • Hepcidina: ▪ Hormônio regulador da homeostasia do ferro • Ferroportina: ▪ Transportador de ferro para a membrana basolateral do enterócito 2 ANEMIA FERROPRIVA E ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA Gizelle Felinto ▪ Trata-se de uma proteína que exporta o ferro para a corrente sanguínea ETIOLOGIA ➢ PRINCIPAIS CAUSAS DE FERROPENIA: • Sangramento do Trato Gastrointestinal • Redução da Absorção de Ferro • Fluxo Menstrual Aumentado (Ex: Metrorragia, hipermenorréia) • Dieta inadequada → principalmente na primeira infância e nos idosos • Gestação ➢ IMPORTANTE! → FERROPENIA POR SANGRAMENTO • Nesses casos, deve-se tratar a causa do sangramento, pois apenas repor o ferro melhora a anemia por certo tempo, mas se não tratar a causa de que está levando a essa perda de ferro a anemia pode voltar MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ➢ SINAIS E SINTOMAS GERAIS: • Palidez cutaneomucosa • Fadiga • Baixa tolerância ao exercício (astenia) • Redução do desempenho muscular • Rarefação do peso • Unhas e cabelos quebradiços ➢ Perversão Alimentar → Ex: vontade de comer tinta, barro, chupar gelo... ➢ Baqueteamento Digital ➢ Coiloníquia → unha côncava (em formato de colher), pois ocorre depressão da parte central da unha e elevação dos bordos ➢ Atrofia das Papilas Linguais → causa dificuldade de sentir o gosto dos alimentos ➢ Estomatite ➢ Queilite Angular → são fissuras nos cantos da boca ➢ Membranas Esofágicas → dificultam a deglutição • Síndrome de Plummer-Vinson (Síndrome de Paterson-Kelly ou Disfagia Sideropênica) → caracteriza-se pela tríade disfagia cervical, deficiência de ferro e presença de membrana esofágica ➢ ATENÇÃO! → ANEMIA FERROPRIVA EM GESTANTES: • Aumenta-se o risco de: ▪ Prematuridade ▪ Baixo peso ao nascer ▪ Morte intrauterina • É por isso que se faz a reposição profilática de ferro (Sulfato Ferroso) no acompanhamento da gestante no Pré- Natal, pois a gestação é uma situação de demanda aumentada DIAGNÓSTICO ➢ PODE-SE SEGUIR O SEGUINTE PASSO A PASSO AO SE ANALISAR O HEMOGRAMA: 1. Hemoglobina → para analisar se há anemia (índices de hemoglobina baixos) 2. VCM → para observar o tamanho da hemácia ▪ Microcitose (tamanho reduzido) → fala mais a favor de anemia ferropriva ▪ Macrocitose (tamanho aumentado) → fala mais a favor de uma anemia megaloblástica, por exemplo 3. RDW (Índice de Anisocitose) → avalia se há diferença no tamanho das hemácias ▪ RDW aumentado → indica que existem hemácias de tamanhos diferentes entre si. Na anemia ferropriva ocorre aumento do RDW ▪ RDW normal → todas as hemácias apresentam o mesmo tamanho, podendo ser com VCM aumentado, normal ou diminuído ➢ QUADRO CLÁSSICO DA ANEMIA FERROPRIVA: • Hemoglobina baixa (anemia) • RDW aumentado ▪ O RDW aumentado é uma das principais características, principalmente nas fases iniciais • VCM e HCM baixos ➢ EM RELAÇÃO ÀS FASES DA ANEMIA: • Fase Inicial → o RDW aumentado é uma das principais características • Fase Intermediária → o paciente pode ou não ter um desses índices alterados (RDW, VCM e HCM) • Fase Final → as hemácias estarão mais parecidas e o RDW não estará alterado ➢ HEMOGRAMA: • Caracteriza-se por Hipocromia e Microcitose • Hemograma Típico: ▪ Hemoglobina baixa ▪ RDW alto ▪ VCM baixo (microcitose) ▪ HCM baixo (hipocromia) ▪ Plaquetose → aumento no número de plaquetas (pode chegar a mais de 1.000.000) ✓ Atenção → a plaquetose ocorre principalmente em crianças o Dessa forma, quando um hemograma de uma criança indica plaquetos, pede-se a dosagem de Ferritina, pois pode se tratar apenas de uma falta de ferro • Reticulócito → Tem-se uma Reticulocitopenia ▪ Pode ocorrer nas anemias carenciais (Ex: por ferro ou Vitamina B12) ▪ Pode indicar que a medula está prejudicada desde o início e que já não consegue produzir esses precursores ➢ ESFREGAÇO SANGUÍNEO: • Tem-se hemácias em alvo e Eliptócitos (hemácias ovaladas) • Poiquilocitose → hemácias de tamanho diminuído, coloração mais fraca e formas diferentes de hemácias 3 ANEMIA FERROPRIVA E ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA Gizelle Felinto • Aspecto Dimórfico (duas formas diferentes de hemácias) → pode indicar um dos seguintes: ▪ Tratamentorecente com ferro ▪ Associação de anemia ferropriva com anemia megaloblástica ▪ Transfusão sanguínea • RDW aumentado (índice de anisocitose) → as populações de células têm tamanhos diferentes entre si EXAMES CONFIRMATÓRIOS ➢ Tem-se exames confirmatórios invasivos e não invasivos ➢ MIELOGRAMA (Avaliação de Medula Óssea por Aspirado): • É o exame padrão-ouro, pois avalia o ferro medular • Utiliza-se um corante específico para ver a quantidade de ferro na medula óssea • É usado em casos especiais, como: ▪ Idosos ▪ Neoplasias ▪ Dúvida diagnóstica • Quando se tem ausência de estoque de ferro significa um quadro de ferropenia (sem estoque de ferro = ferropenia) • Desvantagens: ▪ É um exame invasivo ▪ É caro e doloroso, por isso é pouco usado na prática ➢ FERRO SÉRICO (Perfil/Cinética do Ferro): • Mede a quantidade de ferro presente na circulação sanguínea • Valor normal = 45 a 50µg/dL • Diminuição do valor = Ferropenia ➢ DOSAGEM DE FERRITINA: • É um ótimo exame para ser associado ao Hemograma • Valores < 30ng/mL → Estoques de ferro prejudicados ➢ TRANSFERRINA: • Pode ser avaliada por meio de dosagem direta ou por avaliação da capacidade total de ligação do ferro • Dosagem Direta (Índice de Saturação da Transferrina-IST): ▪ É realizada para que se saiba exatamente quanto de ferro está preenchendo os ligantes de ferro ▪ Valores Normais = 20 a 45% ▪ Saturação: ✓ < 16 = baixa saturação ✓ > 20 = intermediária a normal ✓ > 45 = saturação aumentada ▪ Aumento da Saturação = muito ferro se ligando ▪ Calcula-se da seguinte forma 𝑋 = 𝐹𝑒𝑟𝑟𝑜 𝑆é𝑟𝑖𝑐𝑜 𝑇𝐼𝐵𝐶 𝑜𝑢 𝑋 = 𝐹𝑒𝑟𝑟𝑜 𝑆é𝑟𝑖𝑐𝑜 𝑇𝑟𝑎𝑛𝑠𝑓𝑒𝑟𝑟𝑖𝑛𝑎 𝑥 0,7 • Avaliação da Capacidade Total de Ligação do Ferro (TIBC): ▪ A transferrina tem 2 sítios de ligação para o ferro. Se todos os sítios estão ocupados, pode-se afirmar que a capacidade de ligação do ferro está diminuída ▪ Falta de ferro = aumento da capacidade da transferrina se ligar ➢ ATENÇÃO! → ÍNDICE DE ANISOCITOSE (RDW) • O RDW está aumentado quando se tem populações de hemácias de tamanhos diferentes. Ou seja, quando algumas estão normais e outras estão alteradas, que é o que ocorre na anemia ferropriva e na anemia megaloblástica, por exemplo • O RDW é visto por meio do esfregaço sanguíneo, onde, na anemia ferropriva, tem-se diferentes formas de hemácias, com algumas de tamanho normal e outras de tamanho reduzido, que são as alteradas, como se vê na imagem ao lado • RDW aumentado → o RDW encontra-se aumentado nas seguintes situações: ▪ Início da anemia ferropriva → onde se tem hemácias normais e doentes juntas ▪ No início do tratamento da anemia ferropriva → onde algumas hemácias estão se recuperando e outras ainda se encontram doentes DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 4 ANEMIA FERROPRIVA E ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA Gizelle Felinto ➢ Anemia Ferropriva → VCM diminuído, HCM diminuído e RDW aumentado ➢ Anemia da Doença Crônica: • Esse tipo de anemia decorre da utilização inadequada de ferro → ou seja, embora, muitas vezes, a quantidade de ferro esteja normal, ele não circula de maneira adequada • A diferença para a anemia ferropriva é que na Anemia da Doença Crônica a Ferritina está aumentada ➢ Doença Talassêmica ou Traço Talassêmico: • Na Talassemia tem-se, geralmente: ▪ Discreta anemia ▪ VCM diminuído ▪ HCM diminuído ▪ RDW normal → pois praticamente todas as hemácias tem um tamanho igual, mesmo que doentes ➢ Anemia Sideroblástica: • Na anemia sideroblástica não há aproveitamento do ferro • Tem-se um anel ao redor das células precursoras das hemácias • Trata-se de uma desordem (hereditária ou adquirida) caracterizada por um defeito na síntese do heme. Dessa forma, sobra ferro no interior do eritroblasto. Assim, o ferro livre deposita-se na mitocôndria, promovendo um estresse oxidativo e um dano a mitocrôndria. O depósito do ferro mitocondrial dá o aspecto microscópico dos sideroblastos em anel, ou seja, eritroblastos com depósito de ferro em volta do núcleo TRATAMENTO ➢ PRINCÍPIOS GERAIS → para tratar a anemia por falta de ferro deve-se seguir: 1. Identificar a forma de ferro 2. Ver a causa da falta de ferro → Sempre se deve tratar também a causa da falta de ferro! 3. Tratar a anemia por tempo adequado ➢ O tratamento consiste em: • Tratar a causa base da anemia ferropriva • Realizar a reposição de ferro por via oral ou parenteral → essa reposição deve ser suficiente para tirar o paciente do quadro de anemia e para repor os estoques de ferro ➢ ORIENTAÇÕES ALIMENTARES → deve-se orientar o paciente a ingerir: • Carne vermelha → pelo menos 2 a 4 vezes por semana • Vegetais verde-escuros ➢ REPOSIÇÃO ORAL DE FERRO: • Atenção! → Recomenda-se manter doses terapêuticas por até cerca de 4 meses após a resolução da anemia SULFATO FERROSO: ▪ Recomendações sobre a ingestão do Sulfato Ferroso: ✓ Deve ser ingerido 1 a 2 horas antes de se alimentar ✓ Preferencialmente ingerido com líquidos ácidos (Ex: suco de laranja) → pois permitem a melhor redução do ferro ✓ Não tomar junto ao leite! → pois o leite não é um líquido ácido e, dessa forma, não garante uma boa absorção do ferro ▪ Dose ideal de Ferro elementar por dia: ✓ Adulto → 180 a 200 mg/dia de Fe elementar o O sulfato ferroso deve ser tomado 1 a 2 horas antes do almoço e 1 a 2 horas antes do jantar (2 comprimidos por tomada), preferencialmente ingerido com líquidos ácidos ✓ Criança → 1,5 a 2 mg/kg/dia de Fe elementar o O sulfato ferroso deve ser dividido em doses e 3 vezes/dia e separado do horário das mamadas, pois o leite prejudica a absorção do ferro ▪ Efeitos Colaterais: ✓ Efeitos do TGI (em 30% dos casos): o Pirose o Dor epigástrica o Náuseas e vômitos o Empachamento o Dor abdominal em cólica o Diarreia o Obstipação • Outros Sais disponíveis: ▪ Hidróxido de Ferro III polimaltosado ▪ Ferro quelato glicinato ▪ Ferrocarbonila • Causas da má resposta ao tratamento com ferro oral: ▪ Má adesão ao tratamento ▪ Hemorragia Persistente: ✓ Paciente com um quadro que leva a hemorragias e tem como consequência uma anemia (Ex: Ancilostomíase, Giardíase, Diabético com ferimento crônico, úlcera no estômago...) ▪ Diagnóstico Errado (Ex: Traço Talassêmico, Anemia Sideroblástica) ▪ Doença Mista (associação com outro tipo de anemia) → Ex: + deficiência de folato ou de vitamina B12 ▪ Outra causa principal que levou à anemia → Ex: processo maligno (tumorações), inflamação... ▪ Doença do TGI que leva à má absorção: ✓ Doença Celíaca ✓ Gastrite Atrófica ✓ Infecção por Helicobacter pylori: o Com o tempo, o H. pylori acaba destruindo as células parietais do estômago (produtoras 5 ANEMIA FERROPRIVA E ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA Gizelle Felinto de ácido), diminuindo a quantidade de ácido no estômago, levando o paciente a um quadro de hipo ou acloridria, tornando, basicamente, o meio mais básico, o que dificulta a absorção de ferro o Dessa forma, como o meio está menos ácido ocorre uma falha na absorção do ferro, mesmo com o paciente fazendo a reposição o Diante disso, deve-se ter cuidado com pacientes com gastrites de repetição, pois mesmo com a reposição de ferro a anemia não será curada o Assim, deve-se tratar primeiro a infecção pelo H. pylori e depois fazer a reposição de ferro ➢ REPOSIÇÃO PARENTERAL DE FERRO: • É feita em situações especiais • Vias de Administração → em ambiente intra-hospitalar ▪ Intramuscula → é praticamente proscrita ✓ Não é tão segura quanto a absorção do ferro ✓ Pode causar o aparecimento de hematomas e linfonodomegalias no local da aplicação ▪ Endovenosa → é a mais usada SACARATO DE HIDRÓXIDO FÉRRICO III (Noripurum® endovenoso) ✓ A aplicação deve ser lenta! o Adulto→ 1h e 30min a 3h o Criança → 2h e 30min a 3h e 30min ✓ Se a aplicação for rápida, aumenta-se o risco de: o Anafilaxia o Alterações cardíacas o Gosto metálico na boca o Hipotensão o Dor e queimação no local da punção o Aumento da pressão arterial o Mal-estar súbito • Indicações do tratamento parenteral: ▪ Intolerância, má adesão ou ausência de resposta ao ferro oral, apesar da modificação do sal, da posologia ou da ingestão com alimentos ▪ Anemia por deficiência de ferro a partir do 2º trimestre de gestação ▪ Má absorção intestinal (Ex: Doença Inflamatória Intestinal) ▪ Sangramento que excede a capacidade de absorção ▪ Necessidade de elevação muito rápida dos estoques de ferro: ✓ Ex: paciente inicialmente já sintomática com diminuição da hemoglobina → necessita de rápida elevação dos estoques de ferro ▪ Pacientes com Doença Renal Crônica (DRC) recebendo eritropoietina → pois depleta mais rapidamente as hemácias ▪ Pacientes com Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) e deficiência de ferro ▪ Paciente que apresentou muito efeito colateral com a reposição oral • Reposição de ferro → deve-se calcular de acordo com o peso do paciente e o nível da hemoglobina ➢ RESPOSTA AO TRATAMENTO: • Sinais mais precoces: ▪ Pico reticulocitário entre o 5º e o 10º dia de terapia ▪ Hemoglobina aumenta em média 1g/dL/semana • Em 1 a 2 semanas de tratamento: ▪ Melhora da perversão alimentar (PICA) ▪ A descamação da pele começa a melhorar • Em 3 meses: ▪ Melhora do despapilamento (alteração da língua) • Em 3 a 6 meses: ▪ A coloníquia (alteração do leito ungueal) começa a melhorar ou não melhora nunca • Gastrite não responde à terapia! ➢ USO PROFILÁTICO DE FERRO: • Em alguns países, tem-se a suplementação universal de ferro na farinha de trigo • Indicações: ▪ Gestação e lactação → 100mg de Ferro elementar por dia ✓ Gestação: o Uma das causas de anemia ferropriva na mulher são gestações repetidas, em que não foi feita a profilaxia. Além de a gestação ser uma situação de alta demanda, no parto também ocorre perda de sangue (parto normal = 0,5 L e cesárea = 1 L de sangue, geralmente) ▪ Crianças até 5 anos de idade: ✓ Pois, geralmente, essas crianças têm uma alimentação pobre em ferro ✓ Pré-escolares → 30mg de Fe elementar/dia ✓ Escolares → 30 a 60mg de Fe elementar/dia • Deve-se ter atenção redobrada nos seguintes casos, podendo ser necessária a profilaxia: ▪ Mulheres → deve-se ter cuidado com a menstruação (em casos de fluxo excessivo) e em gestações repetidas ▪ Homem (> 50 anos) ou mulher menopausada: ✓ Deve-se pensar nas perdas do trato gastrointestinal, pois sangramentos intestinais são muito frequentes (realizar endoscopia e colonoscopia em busca de possíveis alterações) 6 ANEMIA FERROPRIVA E ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA Gizelle Felinto ANEMIA DA DOENÇA CRÔNICA INTRODUÇÃO ➢ DEFINIÇÃO: • Trata-se de uma anemia leve a moderada que acompanha doenças infecciosas, inflamatórias, traumáticas ou neoplásicas na ausência de sangramento, hemólise ou infiltração medular por células tumorais • O organismo possui ferro, mas não consegue utilizá-lo • Há uma aparente falta de ferro, mas quando se faz a contagem vê-se que há um excesso de ferro • Atenção → não engloba doenças Renais, Hepáticas e Endócrinas ➢ EPIDEMIOLOGIA: • É o tipo de anemia mais comum em pacientes hospitalizados • Pode mimetizar ou coexistir com outros tipos de anemias ➢ ETIOLOGIA → doenças associadas: • Infecções Pulmonares (Ex: Pneumonias, Abscesso pulmonar...) • Leucemias • Linfomas FISIOPATOLOGIA ➢ Acredita-se que a Anemia da Doença Crônica seja Imunoinduzida, ocorrendo em situações inflamatórias ➢ Sistema Reticuloendotelial (SRE) → as células do SRE aumentam a captura e a retenção de ferro, causando uma dificuldade em liberar o ferro desses estoques. Dessa forma, tem-se um distúrbio no metabolismo do ferro ➢ Citocinas → as citocinas tem uma ação inibitória, causando o bloqueio da proliferação dos precursores eritróides • Situações inflamatórias, traumáticas e imunomediadas aumentam as citocinas • A medula óssea passa a ter uma resposta prejudicada e diminui a produção das células vermelhas • Além disso, tem-se uma secreção inapropriadamente baixa de eritropoetina ➢ Resumindo → tem-se um excesso de Ferro sendo estocado, mas que não é liberado para ser transportado para os locais em que há necessidade ➢ Dessa forma, o sangue precisa de ferro, mas não tem disponível, o que aparenta ser uma Ferropenia. Porém, tem-se a Ferritina aumentada ➢ Há uma grande relação com a Hepcidina (hormônio regulador da hemostasia do ferro) → em uma situação inflamatória ocorre um aumento da hepcidina, fazendo com que a ferroportina (que leva o ferro para a corrente sanguínea) não exerça sua função, levando ao acúmulo de ferro QUADRO CLÍNICO E LABORATORIAL ➢ QUADRO CLÍNICO: • Decorre da doença de base que está causando a anemia ➢ ALTERAÇÕES LABORATORIAIS: • Anemia leve (Hematócrito = 30 a 40%) • Hemácias Normocíticas ou Microcíticas e Normocrômicas • VCM geralmente > 72 fL • Ferro Sérico e Transferrina (IST e TIBC) diminuídos • Ferritina aumentada DOENÇAS MAIS ASSOCIADAS DIAGNÓSTICO ➢ Normalmente, a única manifestação é a anemia ➢ Deve-se realizar a análise do metabolismo do ferro, onde vê-se, principalmente, que a Ferritina está aumentada TRATAMENTO ➢ Não há um tratamento específico, devendo-se tratar principalmente a doença de base ➢ TIPOS DE TRATAMENTO: • Transfusão Sanguínea → é pouco indicada e, normalmente, a anemia é oligossintomática • Ferroterapia → a reposição de ferro é feita apenas nos casos em que se tem deficiência de ferro associada • Eritropoetina Recombinante Humana → tem benefício nas doenças autoimunes e no câncer
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