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1 Clara Rêgo – 6° Semestre 2021.1 (aula + Cecil) Anemia Ferropriva A anemia ferropriva é classificada como uma anemia microcítica hipocrômica. Essa é causada quando há algum distúrbio nos componentes fundamentais da hemoglobina, produção da globina, do anel da heme e na disponibilidade do ferro. ➔ Ferro: componente essencial na síntese de hemoglobina, mioglobina e participa de muitas reações como na cadeia respiratória. No citocromo é componente essencial. • VR ferro no adulto: 4g (mulheres menos). • 2/3 do ferro total está presente na hemoglobina. • O outro 1/3 se divide nos músculos, fígado e perdas, como menstruação. • Funções: produção de energia oxidativa, transporte de oxigênio, respiração mitocondrial... • Aquisição do ferro: dieta e reciclagem de hemácias senescentes – principais formas. o Na dieta habitual: ingerimos +/- 14mg/dia, porém apenas 1-2 mg são absorvidos no duodeno e jejuno – mas sempre de acordo à necessidade corporal. • Sua deficiência traz consequências, sendo anemia a principal; o seu acúmulo também é nocivo, uma vez que ferro livre promove síntese de espécies reativas de oxigênio. EPIDEMIOLOGIA • A deficiência do ferro é a causa mais comum de anemia no mundo. • Ela é responsável por mais de 50% dos casos de anemia. • A anemia ferropriva tem taxas de prevalência elevadas nos países em desenvolvimento onde a carência alimentar e parasitoses intestinais são prevalentes. FISIOPATOLOGIA A maior parte do ferro no organismo humano está ligado à hemoglobina (2,1g), a qual tem função de oxigenar os tecidos. O restante está na mioglobina nos músculos (300mg), nos macrófagos do sistema mononuclear fagocitário da medula óssea e do baço (600mg), também ligado à ferritina (600 mg a 1,6g). Há uma pequena quantidade de ferro que circula no plasma ligado à transferrina. Graças ao poderoso mecanismo de conservação de reciclagem do ferro por meio do sistema mononuclear fagocitário, apenas em média 1 a 2 mg de ferro são perdidos por dia – através da descamação da pele e menstruação. O ferro livre é extremamente tóxico ao corpo, pois tem capacidade de catalisar formação de radicais livres, que causam dano celular. Por isso ele anda pela circulação ligado à transferrina, e é armazenado no interior das células ligado à ferritina. O controle da absorção de ferro pelas células das criptas duodenal é crucial, uma vez que não há um mecanismo fisiológico regulável para a excreção de ferro. Como consequência, a grande absorção de ferro pode ser deletéria com concomitante lesão de órgãos. Após sofrer redução ao ferro ferroso (Fe²+), este atravessa a membrana apical do enterócito com ajuda do DMT-1 (proteína que capta Fe²+ para dentro do enterócito). Há alguns níveis de regulação dessa absorção pelo intestino. 2 Clara Rêgo – 6° Semestre 2021.1 (aula + Cecil) • Um deles é modulado pela ingestão alimentar, portanto, após grande ingesta de ferro alimentar, a capacidade absortiva do duodeno é diminuída. • Outra forma de regular é através com base no aporte de ferro depositado no organismo. • Por fim, o chamado regulador eritropoiético modula a capacidade de absorção dos enterócitos com base na quantidade de ferro que a eritropoiese está precisando. Uma vez dentro da célula, o ferro é ligado à ferritina e assim é armazenado. Esse ferro é exportado para o sangue através da ferroportina, localizada na membrana basolateral das células. Esta proteína está aumentada quando há deficiência de ferro. A hepcidina é um hormônio que se liga na ferroportina no intuito de controlar a exportação plasmática do ferro. Como? A hepcidina induz a internalização e degradação da ferroportina, assim bloqueando a liberação de ferro no plasma. Então esse hormônio é estimulado em casos de excesso de ferro, e em casos de inflamação (principal exemplo é na anemia da doença crônica, quando a hepcidina está aumentada). Já em casos que precisamos de muito ferro plasmático, como na anemia e na hipóxia, a expressão da hepcidina é inibida. Principais fatores relacionados à deficiência de ferro: ➔ PERDA DE SANGUE: A anemia ferropriva resulta do desequilíbrio entre a quantidade de ferro corporal disponível para a produção de hemoglobina e as quantidades mínimas necessárias para manter a produção normal de hemoglobina durante a eritropoiese. Esse desequilíbrio é na maioria das vezes por perda de sangue através do TGI, local mais comum nos homens e mulheres sem menstruação. Essa perda é geralmente decorrente de lesões benignas ou neoplásicas ou por ingestão crônica de medicamentos que causam danos na mucosa do TGI. Os agentes agressores mais comuns são o álcool e os AINEs. Nos países em desenvolvimento as causas comuns são as infecções, como ancilostomíase e esquistossomose. ➔ REPRODUÇÃO E CRESCIMENTO: Gravidez e o crescimento rápido na infância e adolescência → falha no equilíbrio do ferro, por seu grande consumo nesse momento. ➔ INGESTÃO INADEQUADA DE FERRO: também causa anemia ferropriva. Ex: vegetarianos, desnutrição, dieta não balanceada. ➔ PROCEDIMENTOS: cirurgias, flebotomia, hemodiálise, doações de sangue muito frequentes... MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Anemia ferropriva leve não é comum ter sintomas, por conta dos mecanismos compensatórios, mas já anemias moderadas a graves, o paciente pode referir fraqueza, cefaleia, irritabilidade, PICA, síndromes das pernas inquietas. 3 Clara Rêgo – 6° Semestre 2021.1 (aula + Cecil) A clínica entre as anemias é muito semelhante. Sintomas achados nelas: Obs: situação muto comum - mulher que tem hipermenorreia vai até o dermato ou gineco com queixa associada de queda de cabelo. DIAGNÓSTICO Existe estádios da deficiência de ferro: ➔ Peço hemograma completo + ferritina. ➔ A presença de eritrócitos hipocrômicos e microcíticos → condição sine qua non de anemia ferropriva. ➔ A variabilidade do tamanho de eritrócitos distingue a anemia ferropriva de outras condições que causam microcitose. ➔ O diagnóstico definitivo da anemia ferropriva é feito por meio de exames que quantificam as reservas de ferro total do organismo: a ausência de reserva de ferro é característica exclusiva da anemia microcítica hipocrômica. ➔ Ferritina BAIXA (é a primeira a cair). ➔ Ferro sérico BAIXO (cai após ferritina e antes da hemoglobina), porém achado de ferro baixo SOZINHO não significa anemia ferropriva. ➔ TIBC: capacidade total de ligação ao ferro → ALTA. ➔ Saturação de transferrina → BAIXA. ➔ Hemoglobina: homens < 13; mulheres < 12. OBSERVAÇÕES: I. Na primeira fase da anemia, não adianta pedir valor de ferro, pois ele não altera. Vamos pedir ferritina! Ela que está caindo aos poucos. II. Na segunda fase já temos o ferro diminuindo. A hemoglobina começa a diminuir também. Há aumento da capacidade total de ligação do ferro à transferrina. A síntese do receptor da transferrina são estimulados quando há diminuição do ferro funcional. I. VCM; II. HCM; III. RDW. IV. Ferritina. V. TIBC 4 Clara Rêgo – 6° Semestre 2021.1 (aula + Cecil) III. Na terceira fase há redução na disponibilidade do ferro, então há excesso de protoporfirina livre dentro da célula. O zinco substitui o ferro no anel de protoporfirina IX, formando o ZZP. Uma boa parte dos pacientes que recebemos já estão na fase 3. O RDW lá em cima. Aqui podemos fazer um diagnóstico diferencial de outra anermia microcística pelo RDW! Na anemia ferropriva RDW está alto. Diagnóstico diferencial: ➔ Talassemia; ➔ Anemia da doença crônica. CAUSAS Já falamos, mas vamos resumir: I. Perda de sangue: hipermenorreia, sangramento TGI, parasitoses (como ancilostomíase). II. Problema na absorção: gastrectomia, doenças do intestino delgado (como doença de Chron). III. Aumento da necessidade: prematuridade, infância, adolescência, estirão, gestações. E como investigar? ➔ Mulheres em idade reprodutiva:ciclos menstruais (precisamos quantificar ao máximo aqui, para não passar despercebido). Perguntar: ▪ Número de absorventes por ciclo (> 20 absorventes, atenção!). ▪ Perda de coágulos? ▪ Perda de sangue noturna? ➔ Sangramentos intestinais: ▪ Se alterações de hábito intestinal + sangramento → suspeita de neoplasia de cólon. ▪ Diarreia, distensão ou desconforto abdominal – doença celíaca. ➔ Qual a origem do sangramento? Perguntar e no exame físico: ▪ Outros sangramentos? ▪ Gestações múltiplas? ▪ Gastrectomia? ▪ Procurar massas abdominais (miomas, tumores gástricos e intestinais, hemorroidas); ▪ Hipertensão portal (varizes de esôfago); ▪ Uso crônico de aspirina e ACO. ➔ Investigar origem do sangramento (exame): ▪ Endoscopia e colonoscopia → tumores TGI, úlcera duodenal e gástricas, angiodisplasia, colite, divertículos. ▪ Cápsula endoscópica. TRATAMENTO 1. IDENTIFICAR A CAUSA! 2. ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL: ▪ Mudança na dieta: carnes em geral (principal fonte de ferro). ▪ Utilização de sais ferrosos (preparar o TGI para abdorção de ferro – pH ideal é ácido): suco de frutas com vitamina C. não misturar leite ou chá na mesma refeição. Evitar chocolate como sobremesa e evitar cereais intergrais. 3. REPOSIÇÃO DE FERRO: ▪ Via preferencial: oral. ▪ Dose diária: 2 a 5 mg/Kg/dia (pensando no SUS: 3 a 4 comprimidos por dia). ▪ Por 4 a 6 meses APÓS NORMALIZAÇÃO DO HEMOGRAMA. o Aumento de reticulócitos em 7 a 10 dias, depois se normaliza. o Normalização do hemograma em 2 a 3 meses. ▪ Se paciente muito anêmico ou não tolerância do ferro oral: via parenteral → IV, não recomendado fazer IM. 5 Clara Rêgo – 6° Semestre 2021.1 (aula + Cecil) ➔ Fases e duração do tratamento de paciente com anemia ferropriva: necessário esclarecer ao paciente que é um tratamento longo. ▪ 1ª fase: correção da anemia (1 a 3 meses). ▪ 2ª fase: reposição dos estoques de ferro (2 a 8 meses). Só entramos nessa fase se a fonte de perda for resolvida. ➔ Causas frequentes de falha de tratamento: ▪ Continuidade da perda de sangue. ▪ Medicamento usado inadequadamente. ▪ Doenças coexistentes (doença inflamatória/infecciosa = hepcidina lá pra cima). Ex: H. pylori, gastrite atrófica, doença celíaca... ▪ Diagnóstico incorreto (anemia de doença crônica, IRC...). ▪ Deficiência nutricional combinadas.
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