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53 6 DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR A didática se caracteriza pela mediação e pelo estudo dos saberes necessários à prática docente, sendo um dos principais instrumentos para a formação do professor. A partir dela, é possível conceber os ensinamentos necessários e pertinentes à prática diária. Seguindo essa concepção, a partir da formação continuada, é possível desenvolver um conhecimento profissional que permita instigar o professor a buscar, refletir, questionar e investigar ações que estejam pautadas em práticas cotidianas. (CANDAU, 2015). Fonte de: www.genexatas.com.br Por meio desse aperfeiçoamento contínuo, abrem-se novas possibilidades de discussões, socializações e desenvolvimento de práticas permanentes de pesquisa colaborativa. Com isso, a escola que pensa a formação como uma prática coletiva em um processo permanente toma como referência as ações cotidianas e integradas, promovendo produções autônomas de saberes e experiências. 6.1 A importância da didática na formação de professores É importante iniciar, discutindo sobre o que é a didática novamente, qual a sua importância para a formação de professores e qual a real necessidade de se articular a teoria e a prática no processo de ensino-aprendizagem. Primeiramente, 54 vamos ao conceito de didática: o dicionário Aurélio refere-se à “[...] arte de ensinar, de transmitir conhecimento por meio do ensino” (DIDÁTICA, 2018, documento on- line). Libâneo (1994, p. 25) amplia esse conceito: A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos. Masetto (1997) acrescenta que a didática se refere ao estudo das teorias do ensino e da aprendizagem que se aplicam no processo educativo escolar, assim como os resultados alcançados. Além disso, Libâneo (1994, p. 26) complementa, afirmando que a didática “[...] generaliza processos e procedimentos obtidos na investigação das matérias específicas, das ciências que dão embasamento ao ensino e à aprendizagem e das situações concretas da prática docente”. Nesse entendimento, esse conceito “[...] é uma contínua interpenetração entre teoria e prática, a teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência prática e a ação prática orientada teoricamente” (LIBÂNEO, 1994, p. 28). Diante da importância da didática, vale destacar que o seu conceito não se refere à transmissão de conteúdos e conhecimentos do professor para o aluno, tampouco está restrito a uma forma única de realizar a aula e o planejamento. Em resumo, não significa acumular informações sobre as melhores técnicas e práticas de trabalho para alcançar o processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrário, a didática estuda a ação pedagógica e propõe ao professor que ele estenda e amplie o diálogo e a capacidade dos alunos de questionar e fazer reflexões sobre as informações e os conhecimentos adquiridos ao longo do processo de aprendizagem. Dessa forma, ela prepara o docente para criar estratégias de ensino pautadas na reflexão entre teoria e prática. A didática, nesse sentido, estuda os saberes necessários à prática docente e é um dos principais instrumentos para a formação do professor, visto que a partir dela é possível conceber os ensinamentos necessários e pertinentes à prática diária. Mizulami (2013 apud GATTI, 2017), destacando que a docência é uma profissão complexa e, assim como as demais, pode ser aprendida. 55 O autor complementa dizendo que, para a profissão do magistério, são necessários conhecimentos acerca dos fundamentos da educação e do campo da didática, que trata especificamente do ensino. Libâneo (1994, p. 27) destaca que a formação profissional é um processo pedagógico, intencional e organizado, que abrange duas dimensões: a formação teórico-científica e a formação técnico-prática. Para o autor: [...] formação teórico-científica inclui a formação acadêmica específica nas disciplinas que farão com que o docente se especialize; e a formação pedagógica, que envolve os conhecimentos acerca da Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria Pedagogia que contribuem para o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-social. Já a formação técnico-prática visa a “[...] preparação profissional específica para a docência, incluindo a Didática, as metodologias específicas das matérias, a Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outras” (LIBÂNEO, 1994, p. 27). Gatti (2017) aponta que esses conhecimentos, imbricados com outros específicos das demais áreas de conhecimento, constituem a base da formação para a docência e para o exercício do magistério, numa perspectiva interdisciplinar. Tardif (2012) complementa com algumas questões a respeito dos saberes docentes na formação profissional. O autor destaca que os saberes docentes são plurais, que perpassam elementos distintos, entre eles os saberes advindos da formação profissional, os saberes disciplinares, curriculares e experienciais. Os saberes oriundos da formação profissional são aqueles incorporados pelas instituições de formação, como escolas ou universidades, tanto no âmbito da formação inicial como da formação contínua. Eles podem ser relacionados com as ciências humanas e da educação, e também com os saberes pedagógicos da prática docente. Os saberes disciplinares integram-se à formação contínua dos professores, atendendo aos diversos campos do conhecimento e da sociedade. Esses são os saberes transmitidos em cursos de formação e agregados aos conhecimentos específicos de cada área ou disciplina. Os saberes curriculares correspondem a metodologias, propósitos, metas, conteúdos e assuntos que os educadores precisam aprender a empregar, cujos propósitos são definir, proporcionar e apresentar saberes sociais da cultura erudita aos seus alunos. 56 Por fim, os saberes experienciais são aqueles específicos de cada educador, de cada prática vivenciada no cotidiano do trabalho com os alunos, com a escola e com os demais parceiros. Esses saberes, como o próprio nome diz, advêm das experiências e das práticas, sejam individuais ou coletivas, que os professores possuem. [...] os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber docente, núcleo a partir do qual os professores tentam transformar suas relações de exterioridade com os saberes em relações de interioridade com sua própria prática. Neste sentido, os saberes experienciais não são saberes como os demais; são, ao contrário, formadores de todos os demais, mas retraduzidos, “polidos” e submetidos às certezas construídas na prática e na experiência (TARDIF, 2012, p. 48). Partindo desse pressuposto, os saberes experienciais facilitam a integração do educador com os demais envolvidos com a educação, pois permitem que o contexto de trabalho e o meio social sejam analisados sob diferentes enfoques, propiciando e estabelecendo novas relações com os atores da instituição, trabalhando coletivamente e refletindo sobre a sua prática. A formação, nesse sentido, aparece como importante ferramenta na implementação desses saberes, pois contribui para que o educador possa rever a sua prática, discutir temáticas inerentes à educação e refletir sobre as melhorias para as suas atividades diárias. Ser professor não é apenas exercer uma profissão: é um processo que contempla aspectos pessoais, formativos e particulares do sujeito, os quais não podem ser fragmentados ou subdivididos. Não se separa o professor enquanto profissional e o professor enquanto pessoa, porque os seus sentimentos e as suas percepções estão diretamenterelacionados à prática e a reflexão desse processo. Não se trata, portanto, de dois seres distintos, mas de uma pessoa que compreende a sua profissão, identifica-a e a exerce conforme a sua concepção de educação e sociedade. Nessa perspectiva, é fundamental que o educador possa revisitar as teorias da sua formação, como alicerce que fundamentará a prática pedagógica, de maneira individual ou coletiva, promovendo a interação entre os profissionais e a flexibilidade, ao partilhar as suas experiências. Com isso, é importante destacar que o trabalho coletivo e o estabelecimento de relações e interações com os seus pares contribuem para que a prática docente seja constantemente revista, tanto no campo teórico como no prático, pois permite 57 que o educador construa novos vínculos com os seus próprios alunos, por meio de um processo dinamizado, produtivo e relacionado ao trabalho cotidiano. É importante, nesse sentido, que o educador assuma uma postura de renovação frente ao ensino que oportuniza aos seus alunos, de maneira que sejam possibilitadas novas tendências, novos progressos e novos conhecimentos rumo a uma educação aberta às oportunidades e ao espírito participativo. Diante das questões levantadas e considerando a importância da didática na formação profissional, é possível relacionar que um dos principais responsáveis por movimentar a escola e os processos educacionais ainda é o professor. Além de promover a reflexão, por meio de questionamentos, dúvidas e debates, sobre as questões voltadas à escola, à comunidade e à sociedade como um todo, ele ainda possibilita que os alunos se desacomodem e busquem soluções para os problemas enfrentados. Nessa relação recíproca envolvendo professor e aluno, Arroyo (2000, p. 19) destaca: “Quanto mais nos aproximamos do cotidiano escolar, mais nos convencemos de que ainda a escola gira em torno dos professores, de seu ofício, de sua qualificação e profissionalismo. São eles e elas que fazem e reinventam”. Essa é a grande questão da educação: promover atitudes de conscientização entre alunos, pais e professores. Essas mudanças auxiliarão os educadores a assumirem novos papéis frente aos processos educacionais, contribuindo para que sejam produzidas questões pertinentes ao cotidiano dos alunos. Afinal, professores não são meros transmissores de saberes, mas profissionais responsáveis por promover o diálogo, a reflexão e a problematização, a partir de processos coletivos voltados à didática e à formação continuada. 58 6.2 A formação continuada na área da didática como uma necessidade docente A formação continuada, tão necessária para a prática docente, envolve todas as aprendizagens decorrentes da atualização e das experiências profissionais, que ampliam a formação inicial e servem como um processo contínuo e permanente. No entanto, antes de aprofundar tal temática, é necessário começar pelo seu conceito. Formação vem do latim formare e, como verbo transitivo, significa dar forma; como verbo intransitivo, significa colocar-se em formação. É possível afirmar que o conceito apresenta múltiplos significados e não está apenas relacionado à formação profissional, mas sim ao envolvimento com algum tipo de atividade, seja no campo pessoal, social ou profissional. Do mesmo modo, a formação não está ligada apenas à educação ou ao ensino. Nesse sentido, a formação enquanto algo inerente à pessoa pode envolver inúmeros fatores e possibilitar diferentes aprendizagens e experiências aos sujeitos, à medida que eles discutem e aprofundam os conhecimentos com seus pares. Trata-se de algo que está em constante movimento, por envolver não somente os sujeitos, mas as instituições como um todo, num processo de ir e vir, cujos fatores internos e externos assumem importantes influências. Nörnberg (2008, p. 56) destaca: [...] é preciso considerar que a formação pode assumir diferentes aspectos de acordo com o olhar que lhe é lançado, ou seja, se a considerarmos na perspectiva de objeto, a formação que se oferece é organizada exteriormente ao sujeito; se considerarmos a partir do sujeito, ela é ativa no e com o sujeito como iniciativa pessoal. Dentre as multifaces do conceito formação, tracejado até aqui, parece latente o caráter externo e interno; no caráter externo, a formação é para o sujeito; e no caráter interno, a formação com o sujeito. Nessa perspectiva, a formação envolve duas facetas: o sujeito enquanto pesquisador, que busca a sua própria formação e conhecimento, e o meio no qual esse sujeito está inserido, nesse caso, voltado especialmente para a instituição escolar. Do mesmo modo, para que a formação desenvolvida pela instituição seja efetiva, é necessário que os educadores tenham em si a busca pela própria formação e o desejo de se sentir parte integrante da escola. É esse movimento que 59 caracteriza a relação entre professores e escola: um envolvimento pautado no empenho, na participação e no comprometimento. Nóvoa (1995, p. 28) acrescenta: “[...] as escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores; e estes não podem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham”. Por isso, é fundamental que tanto a escola quanto os professores estejam trabalhando em prol do mesmo objetivo: a melhoria da qualidade do ensino. Assim, ambos devem propor mudanças, discussões, estudos e articulações por meio de práticas coletivas de formação docente. Nesse sentido, a escola, quando pensa a formação como uma prática coletiva e um processo permanente, toma como referência as ações cotidianas e integradas que os educadores promovem, propondo produções autônomas de saberes e experiências. Além disso, é importante pensar na formação enquanto desenvolvimento profissional. Segundo Garcia (1995, p. 55): “[...] a noção de desenvolvimento tem uma conotação de evolução de continuidade que nos parece superar a tradicional justaposição entre formação inicial e aperfeiçoamento dos professores”. As escolas como um todo devem, antes de tudo, reconhecer as suas dificuldades, deficiências e os seus projetos de mudanças, para que, a partir desse estudo possam desenvolver, em parceria com os educadores, práticas e ações transformadoras, que valorizem o desenvolvimento profissional desses sujeitos. Nóvoa (1995, p. 27) destaca: A formação pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no quadro de uma autonomia contextualizada da profissão docente. Importa valorizar paradigmas de formação que promovam a preparação de professores reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na implementação das políticas educativas. Assim, a escola pode contribuir para enraizar esse espírito de coletividade, reflexão, autonomia e autodesenvolvimento nos seus educadores, a fim de investir na formação do grupo de trabalho e prepará-lo para enfrentar as demandas existentes no cotidiano da sala de aula. Quando os saberes e as experiências são valorizados, a escola constrói uma relação aberta, dinâmica e processual, estabelecendo novos contextos pautados no diálogo, na escuta e nas possibilidades de transformações. 60 Os educadores, por sua vez, também devem ter incutida em si a ideia de que formação não consiste apenas em conhecer os conteúdos determinados para cada disciplina que lecionam, tampouco em utilizar os mesmos métodos, recursos e linguagens. É imprescindível que o professor se desacomode e assuma novas posturas, pesquisando, buscando e introduzindo diferentes assuntos e discussões em sala de aula, e preparando esses alunos como seres pensantes. Aqui, a discussão pode ser aberta para dois sentidos. Num primeiro momento, tem-se a formação voltada para o professor enquanto ser incompleto, que não detém todo o conhecimento e necessita de umconstante desenvolvimento profissional. Num segundo momento, tem-se a formação voltada para o aluno e a sua relação com os saberes desenvolvidos em sala de aula. O primeiro sentido refere-se à constante formação a que os sujeitos estão submetidos, pois, ainda que não se perceba, o conhecimento acontece por meio de diferentes contextos e relações, em um processo dinâmico e permanente, no qual o sujeito internaliza alguns conceitos, saberes e práticas. Freire (1996) complementa dizendo que o professor crítico está predisposto à mudança e à aceitação do diferente, na medida em que é um ser cultural, histórico e inacabado. Nessa compreensão de ser humano enquanto ser inconcluso, a formação permanente assume um papel fundamental, visto que ela está relacionada não somente ao aspecto escolar, mas a toda e qualquer etapa da existência do ser humano. Nessa perspectiva, Freire (1991) traz a questão da formação de professores como indispensável para a prática da escola e apresenta alguns princípios básicos que orientam o exercício docente, com vistas à educação para a qualidade social: 1. O educador é o sujeito de sua prática, cumprindo a ele criá-la e recriá-la. 2. A formação do educador deve instrumentalizá-lo para que ele crie e recrie a sua prática por meio da reflexão sobre o seu cotidiano. 3. A formação do educador deve ser constante e sistematizada, porque a prática se faz e refaz. 4. A prática pedagógica requer a compreensão da própria gênese do conhecimento, ou seja, de como se dá o processo de conhecer. 5. O programa de formação de educadores é condição para o processo de reorientação curricular da escola. 61 6. O programa de formação de educadores terá como eixos básicos a fisionomia da escola que se quer, enquanto horizonte da nova proposta pedagógica; a necessidade de suprir elementos de formação básica aos educadores nas diferentes áreas do conhecimento humano; a apropriação, pelos educadores, dos avanços científicos do conhecimento humano que possam contribuir para a qualidade da escola que se quer. Fonte de: www.site.geekie.com.br A formação permanente, nesse sentido, consiste em desenvolver um conhecimento profissional que permita instigar o professor a buscar, refletir, questionar e investigar ações que estejam pautadas em práticas cotidianas. Por meio desse aperfeiçoamento contínuo, abrem-se novas possibilidades de discussões, socializações e desenvolvimento de práticas permanentes de pesquisa colaborativa. Além disso, enfrentar desafios, rever ações e articulá-las à prática pedagógica é o modo mais concreto de promover a formação e instituir novas relações com os professores. Para Giovanni (2003, p. 214): Situações de formação continuada na escola são situações de natureza coletiva. O esforço reflexivo empreendido por cada um dos profissionais envolvidos nessas situações é, sem dúvida individual, mas demanda perseverança, necessita de apoios. E, sendo assim, tais situações são tanto mais efetivas, quanto mais coletivas e solidárias puderem ser. É evidente que o desejo pela busca do conhecimento é algo que acontece de maneira intrínseca, ou seja, é uma disposição natural e espontânea, que impulsiona o sujeito a buscar novidades, desafios e oportunidades, com persistência e determinação. No entanto, o meio, as situações e os fatores externos não podem ser 62 tratados de forma isolada e individual, como algo distante da realidade da escola. Todas as situações ocorridas no cotidiano da instituição contribuem para que o processo de ensino-aprendizagem seja repensado e reorganizado. Por isso, fazem-se importantes os espaços de formação. Diante das inúmeras mudanças sociais, econômicas e culturais, a escola precisa assumir novas posturas e discutir novas questões, a fim de definir rumos pedagógicos e políticos que delinearão a sua proposta, assim como envolver os profissionais no debate educacional. Para tanto, é necessário que as formações sejam repensadas, transformando-as em um espaço que articule os saberes e a prática diária. Deve-se contemplar a formação inicial, a profissão enquanto experiência de docência e as condições oferecidas para que esta se realize, em um exercício de transformações que acarretam a mudança de práticas e paradigmas. A partir do momento em que escolas e profissionais desenvolvem tais ações, o segundo ponto passa a ser discutido: a formação voltada para o trabalho com o aluno. Tal processo consiste em uma tomada de consciência por parte do professor, o qual, após uma internalização da importância da formação, sente-se preparado e instigado a disseminar essa ideia aos demais envolvidos, estabelecendo uma nova relação com o conhecimento e com a docência. A partir desse contexto, os alunos se tornam capazes de analisar os conteúdos sob diferentes perspectivas, realizando reflexões acerca do que é trabalhado e relacionando-as com práticas e experiências de sua realidade. Nóvoa (1995, p. 29) destaca ainda que “Para a formação de professores, o desafio consiste em conceber a escola como um ambiente educativo, onde trabalhar e formar não sejam atividades distintas”. Partindo desse pressuposto, o educador, ao articular a formação continuada e o trabalho direto com os alunos, estará se fortalecendo enquanto sujeito em um processo permanente de formação profissional. Além de estabelecer a comunicação entre o projeto pedagógico da escola e a sua prática cotidiana, ele estará contribuindo para que os alunos estejam presentes nas decisões, com autonomia, liderança e criticidade. Quando nos permitimos discutir e pensar sobre esse trabalho, estamos propiciando uma autoformação, uma reflexão sobre a prática e uma ligação entre escola e comunidade. Formação nada mais é do que um trabalho integrado ao dia a dia dos professores e das escolas, em que se propõem mudanças 63 e articulações entre os envolvidos, sejam eles alunos, pais, educadores ou equipe diretiva. A formação deve ser vista sob um novo enfoque e tratada com um olhar diferenciado, pois ela não ocorre de maneira isolada, restrita ou fragmentada. Ela se dá nas relações, nas experiências, nas intervenções e na construção de propostas que fundamentam essa prática. Na medida em que apresentam desafios ao pensamento e à ação dos profissionais envolvidos, as ações de formação continuada na escola reconhecem que as situações de trabalho favorecem o processo cognitivo desses profissionais. Ou seja, reconhecem que práticas e situações cotidianamente vivenciadas pelos professores e demais profissionais das equipes técnicas das escolas podem gerar pensamentos, problematizações, interrogações, questionamentos que, por sua vez, são capazes de desencadear ações, mecanismos, movimentos, individuais e coletivos, de busca de soluções e respostas, cujo desenvolvimento, por seu turno, pode promover mudanças e gerar novas situações (GIOVANNI, 2003, p. 214). Essas propostas consistem em ações que poderão auxiliar na transformação da prática. Por meio desse envolvimento, é possível estabelecer relações e pensar nos rumos, nas metas e nos objetivos que a escola e os professores desejam alcançar, com um trabalho pautado na busca de soluções e respostas para os problemas enfrentados pela instituição. Além disso, é necessário levantar mais um aspecto importante: a participação de diferentes parceiros no processo de formação. Durante toda a trajetória, os profissionais da educação se deparam com diferentes contextos e ambientes escolares, assim como inúmeros organismos dos sistemas de ensino que contribuem para que a formação esteja sempre em movimento. Essas possibilidades oferecidas complementam o discurso proposto pelas escolas e contribuem para compreender os educadores como sujeitos das transformações, que precisam ser revistas continuamente nas escolas e na sociedade, sob uma perspectiva colaborativa,em que sejam valorizados os seus conhecimentos e os de seus parceiros. Nesse sentido, para acompanhar tais transformações, o professor deve compreender as relações entre sociedade e os conhecimentos produzidos. Desse modo, desenvolve atitudes voltadas à pesquisa como forma de aprendizagem para si e para os que estejam envolvidos com ele, em um processo de tomada de consciência e reflexão. Esse é sem dúvida um processo contínuo e permanente de articulação entre todos os envolvidos na instituição. 64 Primeiramente, é necessário implementar o desenvolvimento de novas práticas e posturas, no sentido de se discutir com os professores ações e propostas de melhoria para a formação contínua de profissionais e de estudantes. Enfatiza-se assim que esses sujeitos deixem de ser meros consumidores de conhecimento para assumir a sua produção, uma vez que formação nada mais é do que um trabalho integrado de gerar e proporcionar diferentes conhecimentos e competências. Para finalizar, a fala de Giovanni (2003) resume a luta e dedicação dos profissionais enquanto educadores investigadores, que caminham e buscam a constante formação, sem, contudo, perder de vista o objetivo primordial da escola: as práticas, as aprendizagens e as demandas existentes no cotidiano da sala de aula para professores e alunos. A autora destaca que problematizar certezas sobre a escola e a profissão são exercícios fundamentais e urgentes. Esse é o nosso compromisso profissional como pesquisadores (GIOVANNI, 2003). 6.3 Os espaços coletivos escolares como espaços privilegiados para o debate sobre a didática Estar aberto às transformações e enfrentar obstáculos e novos desafios são características que devem estar presentes no dia a dia de educadores, gestores e demais envolvidos com a educação. O processo de ensino-aprendizagem requer profissionais competentes, habilitados e comprometidos em enfrentar as diversidades, com vistas à melhoria da qualidade de ensino. Fonte de: www.revistaeducacao.com.br 65 A teoria e a prática pedagógica somente serão concretizadas a partir do momento em que o diálogo, a troca de experiências e a socialização das diversas áreas e disciplinas dentro e fora das escolas se tornarem presentes nas instituições de ensino e nos indivíduos. Por isso, pensar a prática pedagógica e a profissão docente, promover debates didáticos, refletir sobre o que acontece na sala de aula e na escola e problematizar com o grupo questões pertinentes à melhoria do processo de ensino-aprendizagem são propósitos da formação continuada. Pensar a prática não é somente pensar a ação pedagógica na sala de aula, nem mesmo a colaboração didática com os colegas. É pensar a profissão, a carreira, as relações de trabalho, e de poder nas organizações escolares, a parte de autonomia e de responsabilidade conferida aos professores, individualmente ou coletivamente (PERRENOUD, 1993, p. 200). Nesse sentido, é importante que a escola valorize e respeite o trabalho coletivo, dando abertura à tomada de consciência e à reflexão sobre a prática, propondo discussões que possibilitem aos educadores expressar as suas opiniões e compartilhar experiências com os demais colegas. Além disso, quando os assuntos pertinentes à realidade da escola são conduzidos e implementados, o espaço se torna mais produtivo e as construções coletivas ocorrem com maior resultado. Mas como propiciar esses espaços diante de tantas diversidades apresentadas nas escolas? Como problematizar essas discussões frente às demandas do corpo docente? Com certeza, uma das melhores maneiras de possibilitar tais práticas é por meio dos espaços de construção coletiva ou das reuniões pedagógicas oferecidas pelas instituições e pelos profissionais responsáveis, como forma de proporcionar uma formação continuada a todos os educadores. Por meio desses espaços, os educadores poderão consolidar os seus conhecimentos e discutir temáticas inerentes à educação, aperfeiçoando a sua prática docente e favorecendo a qualificação do processo de ensino-aprendizagem. Fazendo uma breve reflexão sobre o significado de reuniões pedagógicas, é possível considerar que esse é um importante espaço para a construção coletiva de saberes e práticas entre as equipes docente e gestora. O seu objetivo é discutir, compartilhar novas possibilidades de trabalho e buscar alternativas que possam auxiliar todos os envolvidos. Entretanto, algumas vezes, as reuniões assumem um papel burocrático e administrativo, deixando de lado as questões pedagógicas, que realmente integram a prática do educador. 66 É importante lembrar que esse espaço deve ser propício à formação continuada dos educadores, visto que eles precisam repensar e aperfeiçoar constantemente a sua prática docente, de forma que possam enfrentar os desafios existentes e corresponder às expectativas da comunidade. Para isso, porém, a escola deve proporcionar espaços de conhecimentos coletivos que contemplem a tematização de saberes e práticas num contexto de desenvolvimento profissional permanente. As reuniões pedagógicas, quando bem elaboradas, podem ser um importante espaço de reflexão sobre o cotidiano da escola, pois são capazes de auxiliar os envolvidos a conhecer os impasses, problemas e encaminhamentos feitos diante das demandas e dificuldades apresentadas na prática diária desses profissionais. As reuniões com os docentes são um espaço privilegiado para avaliar a condução das ações planejadas. Elas têm o potencial de desvelar avanços, fracassos, dúvidas, inseguranças, entraves e dificuldades que afetam a equipe de docentes, dados que, se bem dimensionados, servem como orientação para a elaboração de um projeto de trabalho para as reuniões pedagógicas (FRANCO, 2010, p. 70). Trata-se de um importante momento para reflexões e construções conjuntas de conhecimentos, bem como para reorganização dos trabalhos diários e dos problemas pedagógicos. Abrem-se assim espaços para discussões e problematizações, por meio de ideias, valores e significados sobre aspectos relativos ao processo de ensino-aprendizagem, compartilhados e estabelecidos coletivamente. Fonte de: www.mundocarreira.com.br 67 No entanto, para que isso aconteça, é fundamental a presença de um profissional que possa problematizar esses espaços, possibilitando aos educadores a construção da autonomia, da liderança e da dialogicidade. O coordenador pedagógico ou supervisor escolar é o principal responsável por mediar as questões pedagógicas e burocráticas, dando ênfase à formação docente. Para fundamentar tal proposta, o coordenador deve conduzir e articular a ação pedagógica, de forma a garantir o desenvolvimento do currículo proposto. Além disso, deve viabilizar articulações no processo de ensino-aprendizagem, promovendo abertura no interior da escola para que os professores possam estudar, discutir e avaliar a qualidade dos conteúdos trabalhados, bem como o material didático, os procedimentos de ensino e avaliação, e os programas, ou seja, tudo o que faz parte do trabalho pedagógico na sua totalidade. No entanto, mais importante ainda é que o coordenador discuta com o grupo práticas docentes e experiências, e que este seja um espaço para descobertas e diálogos. A reunião é fundamental para despertar e/ou enraizar a nova postura educativa. Na medida em que possibilita a unidade entre o sujeito da ação e o da reflexão, este espaço é revolucionário. Devemos nos empenhar para consegui-lo, pois desta forma há condições para se criar na escola uma nova prática pedagógica e um novo relacionamento (VASCONCELLOS, 2009, p. 120). Desse modo, cabe aos gestores proporcionar espaços de autonomia em que, por meio da dinâmica, das competências e atribuições de seus colaboradores, seja desenvolvido e ampliado o trabalho coletivo, qualificando a eficiência de todo ofuncionamento da escola. No momento em que promovemos a participação e distribuímos as demandas existentes, estamos contribuindo para instigar o grupo a interagir, dialogar, tomar decisões, realizar e compartilhar ações conjuntas, que venham ao encontro das propostas da gestão democrática. Nesse sentido, as questões propostas nas reuniões devem servir de subsídio para a elaboração de uma prática fundamentada nos princípios da formação continuada, da construção de conhecimentos, do compartilhamento de experiências e da resolução de conflitos. Proporciona-se assim um espaço rico em diálogo, participação e construção da identidade. As reuniões contribuem para implementar a proposta da escola e discutir o projeto pedagógico que a fundamenta. É nesse momento que gestores poderão dar abertura às opiniões, à tomada de decisão, clareza dos objetivos e metas e 68 construção de um ambiente acolhedor, participativo, democrático e decisório. Esse processo deverá se refletir nos diferentes contextos da escola e contribuir para que haja o contato direto entre equipe e professores, a fim de abrir espaços para o trabalho com temáticas que permeiam o fazer diário em sala de aula. Vasconcellos (2009, p. 122) destaca que “[...] este espaço não é, pois, um ‘requinte’; é uma absoluta necessidade; sua inexistência dificulta muito qualquer mudança na escola. Sem ele, não se tem condições mínimas de criar algo coletivamente, de se assumir junto um projeto”. Dessa forma, é importante que todo o conjunto de decisões que esses processos supõem seja produtivo para as escolas e contribua para melhorar a qualidade da educação. Reconhecer ideias e sugestões, pesquisar, buscar, refletir e compartilhar experiências sobre os problemas é o modo mais fácil de encontrar soluções e torná-los significativos para a instituição e as pessoas que estão inseridas nela. A reunião pedagógica é um espaço coletivo, pois propõe aos sujeitos que o processo de ensino-aprendizagem necessita ser repensado constantemente. Isso se dá porque as atividades escolares fazem parte de um sistema aberto, dinâmico e repleto de transformações, propício a discussões e conhecimentos e voltado à participação dos integrantes da escola como um todo. Franco (2010, p. 9) destaca aspectos pertinentes a esses espaços: As reuniões no contexto escolar propiciam momentos relevantes de reflexão, encaminhamentos e tomadas de decisão, com o potencial de aprimorar o processo democrático no seio da escola e garantir a efetiva participação de toda a comunidade escolar. Fonte de: www.gestaoescolar.org.br 69 Nesse sentido, por meio do coletivo e da proposta de trabalho apresentada pela escola, é possível estimular a participação, promover o espírito de equipe e trabalhar de maneira efetiva o planejamento, a avaliação e as metodologias desenvolvidas pelos professores. Objetiva-se com isso a implementação de ações que estejam voltadas para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, propício à tomada de decisão entre os envolvidos. Vasconcellos (2001, p. 147) destaca: “[...] O espaço de reflexão crítica, coletiva e constante sobre a prática é essencial para um trabalho que se quer transformador, na medida em que possibilita a unidade entre o sujeito da ação e da reflexão”. Essa unidade baseia-se na interação entre teoria e prática, que possibilita que o sujeito reflita sobre as suas ações e saberes, transformando o seu trabalho em algo produtivo, inovador e socializador. Além disso, Nóvoa (1995) acrescenta a importância de se estabelecer um diálogo aberto e contínuo entre todos os envolvidos na escola, propondo um trabalho centrado no professor e na sua experiência cotidiana, na sua prática diária e na capacidade de intervir frente às inovações e mudanças. O diálogo entre os professores é fundamental para consolidar saberes emergentes da prática profissional. Mas a criação de redes coletivas de trabalho constitui, também, um fator decisivo de socialização profissional e de afirmação de valores próprios da profissão docente (NÓVOA, 1995, p. 26). Esse espaço, como afirma Vasconcellos (2001), deve ser bem ocupado e ir ao encontro das necessidades reais do grupo, baseando-se no projeto político- pedagógico que está sendo construído. Para isso, “[...] é preciso avançar, analisar criticamente a realidade, estabelecer objetivos e estratégias de intervenção” (VASCONCELLOS, 2001, p. 149) que envolvam os educadores e os integrem na proposta e na construção de uma escola democrática. Além disso, outra questão importante que deve ser considerada é que, independentemente da carga horária estipulada, as reuniões devem ser bem aproveitadas. Contudo, é necessário que haja um planejamento do que se deseja alcançar, o qual deve ser proposto ao grupo de professores. É de extrema importância que o trabalho seja feito “[...] a partir dos reais problemas da escola, o 70 que exige que seja feita uma problematização da realidade” (VASCONCELLOS, 2009, p. 121). Com isso, é fundamental que as reuniões assumam um caráter participativo, e que sejam propostas antecipadamente as temáticas que serão trabalhadas, para que esse momento se torne produtivo e o tempo, bem administrado. No entanto, é necessário, acima de tudo, que o educador também tome consciência desse espaço, tendo discernimento, direcionando as suas ideias e percebendo o valor do processo coletivo para a prática reflexiva, já que a formação pedagógica é uma construção social que contribui para repensar os rumos da educação e da escola como um todo. Para tanto, é preciso que sejam propostas mudanças que explicitem e fundamentem tais considerações, com vistas ao alcance dos objetivos e das metas desenvolvidas pela instituição. Em essência, esse espaço deve propor discussões acerca do processo de ensino-aprendizagem dos alunos, garantindo ações e estratégias que visem o seu cumprimento e a sua implementação. Não se trata de uma tarefa fácil, tampouco de resultados instantâneos. Todavia, é importante que se leve em conta que esse caminho só poderá ser trilhado se gestores e educadores perceberem a necessidade de olhar, compreender, considerar e respeitar as necessidades, considerando cada sujeito como parceiro na construção de um saber coletivo. Isso requer que os professores estabeleçam novos saberes, novas práticas e novas metodologias de trabalho docente, objetivando a qualificação do processo de ensino-aprendizagem. De acordo com Clementi (2010, p. 58): “O processo de mudança é contínuo, uma vez que, ao olhar para a própria prática, descobrem-se novas possibilidades não imaginadas anteriormente”.
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