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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FISICA Estudo das propriedades mecânicas e viscoelásticas de eritrócitos Fran Stewart Gómez Cárdenas Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em F́ısica do Instituto de F́ısica da Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do t́ıtulo de Mestre em Ciências (F́ısica). Orientador: Nathan Bessa Viana Coorientador: Bruno de Almeida Carlos de Carvalho Pontes Rio de Janeiro Abril de 2016 ii P555 Cárdenas, Fran Stewart Gómez Estudo das propriedades mecânicas e viscoelásticas dos eritrócitos / Fran Stewart Gómez Cárdenas - Rio de Janeiro: UFRJ/IF, 2016. xxx, 123f. Orientador: Nathan Bessa Viana Coorientador: Bruno de Almeida Carlos de Carvalho Pon- tes Dissertação (Mestrado) - UFRJ / Instituto de F́ısica / Programa de Pós-graduação em F́ısica, 2016. Referências Bibliográficas: f. 87-93 1. Eritrócitos 2. Tensão superficial 3. Constante de flexão 4. Pinças Óticas 5. Reologia 6. Formação de amarras. I. Viana, Nathan Bessa II. Pontes, Bruno de Almeida Carlos de Carvalho III. Universidade Federal de Rio de Janeiro, Instituto de F́ısica, Programa de Pós-graduação em F́ısica IV. Estudo das propriedades mecânicas dos eritrócitos. iv Resumo Estudo das propriedades mecânicas e viscoelásticas de eritrócitos Fran Stewart Gómez Cárdenas Orientador: Nathan Bessa Viana Coorientador: Bruno de Almeida Carlos de Carvalho Pontes Resumo da dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em F́ısica do Instituto de F́ısica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do t́ıtulo de Mestre em Ciências (F́ısica). O sangue contém uma variedade de células sangúıneas, entre elas, os glóbulos verme- lhos, também chamados eritrócitos ou hemácias, os quais têm forma de disco bicôncavo que possuem um diâmetro ao redor de 8 µm. Elas transportam oxigênio às células do corpo humano por meio das veias, artérias e capilares. Os capilares possuem diâmetros internos de 3 µm a 10 µm, por isso, algumas vezes as hemácias são forçadas a mudar de forma para passar dentro destes estreitos tubos, recuperando a forma de disco quando saem. Eritrócitos são estudados buscando-se entender as causas desta grande flexibilidade não presente em outro tipo celular do corpo humano. Nesta dissertação, pinças óticas são usadas no estudo de propriedades elásticas de eritrócitos através de duas técnicas. A primeira delas é a extração de amarras, empregada para conhecer a tensão superficial e a rigidez de flexão da membrana celular. A segunda técnica é a técnica de reologia, utilizada para caracterizar o módulo viscoelástico da célula a partir da aplicação de uma perturbação oscilatória sobre a amostra. v Avaliamos as propriedades mecânicas das amostras de eritrócitos saudáveis em três situações diferentes. Na primeira delas mudamos a concentração salina da amostra para avaliar como a forma dos eritrócitos influencia as propriedades f́ısicas da membrana celu- lar. Na segunda mudamos as velocidades de deslocamento da amostra no experimento de extração de amarras para as hemácias imersas em meio isotônico. E na terceira empre- gamos hemácias infectadas com um tipo de parasita da malária, chamado Plasmodium falciparum, na fase trofozóıta. A técnica de reologia consiste em perturbar a amostra com um movimento oscilatório a uma frequência e a uma amplitude definidas, assim podemos encontrar o módulo viscoso e o módulo elástico, que determinam como é a resposta da célula ao est́ımulo externo. De acordo as caracteŕısticas estruturais das células, pode-se considerar que o complexo membrana-citoesqueleto tem um comportamento similar ao de materiais moles, como espumas, emulsões e pastas. Com os resultados de extração de amarras para todas as condições durante o tempo da medida observamos que a força antes da formação da amarra, é uma força crescente à medida que a hemácia afasta-se da microesfera que está grudada a ela e aprisionada pela pinça ótica, chegando à força máxima Fm exatamente quando começa a formação da amarra. Rapidamente a força cai um valor Fa, que é a força transitória de amarra, a qual mantém-se praticamente constante até que o estágio do microscópio, onde está a amostra fica em repouso. A força nesse ponto, Fv, é levemente maior do que Fa mas sem diferença estat́ıstica significativa. Após a interrupção de movimento do estágio a força começa a decair exponencialmente e para tempos muito maiores que o tempo caracteŕıstico do decaimento encontramos a força de equiĺıbrio de amarra, F0. No caso da variação das concentrações salinas, por meio da análise de significância estat́ıstica e usando como condição controle para todos os casos de extração de amarras a hemácia saudável em um meio isotônico com uma velocidade de extração de amarra de vi 1 µm/s, encontramos a mesma relação entre a força aplicada da hemácia e o tempo de medida. Além disso a força do “plateau” mantém-se constante, indicando que a força de extração de amarra é constante. Também encontramos que a rigidez de flexão e a tensão superficial não tem diferenças significativas, mas para a rigidez elástica de membrana celular, km, encontramos diferença significativa apreciável. Quando muda-se a velocidade de extração da amarra, encontramos a mesma relação entre a força aplicada da hemácia e o tempo de medida, mas a força do “plateau” é aumentada, mantendo-se Fa ≈ Fv. Usando a condição controle obtemos que a força de equiĺıbrio da amarra, a rigidez de flexão e a tensão superficial não tem diferença significativa no caso da velocidade de 0,5 µm/s, mais tem no caso de 0,2 µm/s, enquanto para km não tem diferença significativa em ambas velocidades. A dependência de força de extração da amarra com a velocidade de extração está relacionada com o deslizamento da membrana sobre o citoesqueleto e de uma folha de membrana sobre a outra com uma viscosidade efetiva superficial de 38 ± 4 pNs/µm, em acordo com resultados da literatura. No estudo das hemácias infectadas com Plasmodium falciparum encontramos que o parasita influi na força para formar e manter a amarra, também em km, porque a diferença é significativa com a condição controle. Usando o raio da amarra em meio isotônico obtemos os valores de rigidez de flexão e de tensão superficial e encontramos que para este caso não tem diferenças significativas. Com os resultados de reologia encontramos que o citoesqueleto de um eritrócito saudável imerso em um meio isotônico tem um comportamento mais próximo do estado ĺıquido, porque de acordo com o modelo de materiais v́ıtreos moles o exponente de lei de potência que define os módulos elásticos é αc = 0.64± 0.02. Conhecendo αc, encontra-se um valor de temperatura efetiva ζc ∼ 1,7, indicando um citoesqueleto se encontra mais próximo do estado ĺıquido, o que pode estar relacionado com a facilidade de escoamento das mesmas vii no sangue, por capilares de diâmetros menores que o seu próprio. Palavras-chave: 1. Eritrócitos 2. Tensão superficial 3. Rigidez de flexão 4. Pinças Óticas 5. Reologia 6. Extração de amarras 7. Membrana celular 8. Citoesqueleto. 9. Plasmodium Falciparum viii Abstract Study of the mechanical and viscoelastic properties of erythrocytes Fran Stewart Gómez Cárdenas Advisor: Nathan Bessa Viana Coadvisor: Bruno de Almeida Carlos de Carvalho Pontes Abstract da Tese de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em F́ısica do Instituto de F́ısica da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do t́ıtulo de Mestrado em Ciências (F́ısica). Blood contains several blood cells,including the red blood cells (RBCs), also called haematids or erythrocytes. Red blood cells have the form of biconcave disc with a diameter around 8 µm, they carry oxygen to human cells through veins, arteries and capillaries. Capillaries have internal diameters between 3 µm and 10 µm, so sometimes RBCs are forced to change the shape to move within these narrow tubes, recovering disk shape when they leave them. Erythrocytes are studied to understand the causes of this great flexibility, for this reason, RBCs are the most deformable cell in the human body. In this dissertation, optical tweezers are used to study elastic properties of red blood cells using two techniques. The first is the extraction of tethers, used to know the surface tension, bending stiffness of the cell membrane. The second technique, that is the rhe- ology technique is used to characterize the viscoelastic modulus of the cell obtained by application of an oscillatory movement on the sample. ix We evaluated the mechanical properties of samples of healthy erythrocytes in three different situations. In the first we changed the salt concentration of the sample, to evaluate how the erythrocyte form influences the physical properties of the cell membrane. In the second we changed the sample displacement speed the tether extraction experiment for the red blood cells immersed in an isotonic medium. And in the third we employed erythrocytes infected with Plasmodium falciparum in the trophozoite phase. With the rheology technique we can find the viscous and elastic moduli, which deter- mines the cell response to external stimuli. According to the structural characteristics of the cell, it can be considered that the membrane-cytoskeleton complex has a behavior similar to that of soft materials such as foams and emulsions. With the tether extraction experiments we observed that the force prior to forming the tether increases as the red blood cells moves away from the microsphere which is glued to it and trapped by the optical tweezers, reaching the maximum force Fm exactly when begins the tether formation. Quickly the force drops to a value Fa, the transient tether force, which remains practically constant until the microscope stage stops. The force value when the microscope stops, Fv, is slightly higher than Fa, without statistical significant difference. After the stage motion leaves the force decay exponentially and for much longer times than the characteristic time decay found the ultimate tether force F0 is reached. In case of variation in salt concentration, using statistical significance analysis and using as a control condition for all cases of tethers healthy red blood cell extraction in a medium isotonic with a tether extraction rate of 1 µm/s, we find the same relationship between the force applied to the red cell and the time of measurement. Furthermore the force of the ”plateau”remains constant, indicating that the tether extraction force is constant. We also found that κ and σ do not have significant differences, but the elastic stiffness cell membrane km, we found significant difference. x When changes to the tether extraction speed, we find the same relationship between the force applied to the red cell and the measurement time, but the force of the value of the “plateau” force is also increased, keeping Fa ≈ Fv. Using the control condition we obtain that F0, κ and σ no significant difference when the rate of 0,5 µm/s, is more in case of 0,2 µm/s, while for km is no significant difference in both speeds. The dependence of the tether extraction force with the extraction speed is related to the sliding of the membrane over the cytoskeleton and of a membrane sheet over the other with a effective viscosity surface value of 34 ± 4 pNs/mum, in agreement with reported results. In the study of red blood cells infected with Plasmodiumfalciparum we found that the parasite affects the force to form and maintain tether, also in km, because the difference is significant with the control condition. Using tether radius in isotonic medium get the bending stiffness values and surface tension and found that in this case do not have significant differences. The results of rheology found show that the cytoskeleton of healthy erythrocytes im- mersed in a isotonic medium has a behavior closer to the liquid state, according to the model of soft glassy materials the power law exponent which defines the elastic modulus is αc = 0,64 ± 0,02. Effective temperature value in this case is ζc ∼ 1,7 indicating a cytoskeleton closer to the liquid state, which can be related to the ease of flow of red blood cells in the bloodstream by capillaries smaller than their diameters. Keywords: 1. Erythrocytes 2. Surface Tension 3. Bending Stiffness 4. Optical Twe- ezers 5. Rheology 6. Extraction tether 7. Cell Membrane 8. Cytoskeleton 9.Plasmodium Falciparum. xi Agradecimentos Aproveito para agradecer em primeiro lugar a minha famı́lia, a meus tios, primos, mas especialmente a minha mãe Maŕıa Olga e minha avó Elóısa, que contribúıram em minha formação pessoal e que de maneira constante estão me dando motivação para continuar estudando. Muito obrigado, Diana por sua compreensão, por seus conselhos e por seu tempo para que eu pudesse compartilhar este trabalho. Eu quero agradecer ao meo orientador, Nathan Bessa Viana por me ter dado a opor- tunidade de trabalhar no Laboratório de Pincas Óticas da UFRJ, também por me ter ensinado os detalhes da calibração da pinça ótica, assim como das técnicas da extração de amarras e de reologia, pela paciência na condução desta dissertação, pelos tempos de discussão dos modelos empregados nesta tese e na análise dos resultados das medições. Agradeço também meu coorientador, Bruno Pontes por me ter ensinado os detalhes da pre- paração das amostras para usar a pinça ótica e a trabalhar com o microscópio eletrônico de varredura (MEV), pelas recomendações necessárias para realizar as medições assim como o tempo para discutir os dados obtidos. Agradeço também aos integrantes do laboratório de pinças óticas, especialmente ao professor Moyses Nussenzveig, ao Lúıs Pires e ao Diney Soares, porque tanto seus con- selhos como suas contribuções foram importantes para dar forma a esta dissertação. Também às pessoas pertencentes ao Laboratório de Morfogênese Celular, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ por disponibilizar a sua estrutura para a preparação das hemácias saudáveis. xii Muito obrigado ao Laboratório de Bioqúımica e Sinalização Celular pela preparação das hemácias infectadas com Plasmodium Falciparum. A todos os professores da UFRJ que contriburam na minha formação profissional durante estes dois anos. Por fim, agradeço as agências CAPES pelo primeiro ano da bolsa de mestrado e FAPERJ pelo financiera- mente de meu estudo no tempo restante de mestrado. xiii Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescind́ıveis. Bertolt Brecht. xiv Sumário Sumário xiv Lista de figuras xvi Lista de tabelas xxv Lista de Śımbolos e Abreviaturas xxviii 1 Introdução 1 2 Eritrócitos 6 2.1 O sangue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.1.1 Hematopoiese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.2 Os eritrócitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.3 Estrutura da membrana celular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.3.1 Membrana celular de eritrócitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.3.2 Eritrócitos e Malária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.4 Propriedades mecânicas de eritrócitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.5 Extração de amarras . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.6 Reologia de eritrócitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3 Materiais e Métodos 42 3.1 Preparação das amostras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 xv 3.2 Pinças Óticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 3.2.1 Montagem experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.2.2 Calibração da pinça ótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.3 Extração de amarras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 3.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 3.5 Significância Estat́ıstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 3.6 Reologia de eritrócitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 4 Resultados e Discussão 63 4.1 Calibração da pinça ótica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 4.2 Extração de amarras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 4.2.1 Extração de amarras em eritrócitos saudáveis . . . . . . . . . . . . 65 4.2.2 Extração de amarras em eritrócitos infectados com Plasmodium Fal- ciparum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 4.3 Módulo viscoelástico de eritrócitos saudáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 5 Conclusões e perspectivas 85 Referências Bibliográficas 87 xvi Lista de Figuras 2.1 Eritropoiese (Hematopoiese de eritrócitos). A partir das células-tronco BFU-E e CFU-E se origina o proeritroblasto (1) que tem um grande núcleo que representa quase todo o volume da célula. Por mitose o proeritroblasto muda em eritroblasto basófilo (2), logo a eritroblasto policromatófilo (3) e depois a normoblasto (4), como se observam estas fases no quadro branco. Nestas fases o proeritroblasto apresenta diminuição de volume do núcleo e da célula, mudando ao mesmo tempo sua cor a rosa devido ao ińıcio da sintese da hemoglobina. Depois do quarto dia, o normoblasto já não tem núcleo (5) e adquire a cor avermelhada e logo o reticulócito (6) fica na médula óssea 48 horas para depois sair à corrente sangúınea e acabar o processo de maturação para finalmente criar um novo eritrócito (7). Mo- dificado de [42]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.2 Dimensões dos eritrócitos. a) Seção superior b) Seção transversal. Modifi- cado de [35]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 xvii 2.3 Tipos de hemácias devido à mudança de concentração da amostra. As se- tas indicam a direção do fluido para cada caso. a) A hemácia conserva sua forma de disco quando é posta em PBS 1,0x/BSA 1mg/1mL, devido a que forma-se um meio isotônico a quantidade de fluido que entra é a mesma que sai da hemácia. b) A hemácia diminui seu volume quando é colocada em PBS 1,5x/BSA 1mg/1mL, devido a que forma-se um meio hipertônico e a concentração salina é maior fora da hemácia, os fluidos da hemácia delocam-se fora da célula. c) A hemácia aumenta seu volume quando é colocada em PBS 0,5x/BSA 1mg/1mL, devido a que a concen- tração salina dentro da hemácia é maior do que o meio, formando assim um meio hipotônico, o fluido deloca-se de dentro para fora da célula podendo provocar o estouro da mesma. Modificado de [13]. . . . . . . . . . . . . . . 13 2.4 Membrana celular de uma célula eucariótica animal. Segundo o modelo do mosaico fluido, a membrana celular como bicamada liṕıdica, possui carboi- dratos na camada superior e protéınas distribúıdas assimetricamente. No interior da membrana contém as caudas dos fosfoliṕıdios e protéınas inte- grais. As cabeças dos fosfoliṕıdios estão no exterior da membrana (cinza) e no interior as caudas (amarelo). Retirado de [13]. . . . . . . . . . . . . . 15 2.5 Molécula de um fosfoliṕıdio. O fosfoliṕıdio é unidade fundamental da mem- brana plasmática, tem uma cabeca hidrof́ılica (polar) e duas caudas hi- drofóbicas (não polar), uma delas tem uma ligação dupla cis, por isso possui uma cauda dobrada. Figura modificada de [1]. . . . . . . . . . . . . 17 2.6 a) Esquema da membrana celular e citoesqueleto de eritrócitos com a dis- tribução das protéınas. b) A esfera vermelha, A, representa o filamento curto de actina que tem contato com os extremos da cadeia de espectrina, representada com esferas verdes. As esferas cinzas, B, são unidades da cadeia de espectrina. Figura modificada de [39]. . . . . . . . . . . . . . . . 19 xviii 2.7 Ciclo biológico da malária. Retirada de [20]. . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 2.8 Para descrever a flexão da membrana considera-se um ponto da membrana que define um vetor normal desta superf́ıcie que por sua vez define um plano. Desenha-se uma circunferência sobre o plano, que tem a mesma curvatura que a membrana nesse ponto. O raio da circunferência é um raio principal de curvatura R1. Para encontrar o raio principal de curvatura R2, usa-se o mesmo ponto da membrana e procura-se o plano ortogonal ao plano usado para encontrar R1, assim pode-se desenhar a circunferência correspondente. Depois encontra-se o valor das curvaturas principais sa- bendo que os raios principais cumprem as relações C1 = 1/R1 e C2 = 1/R2. Modificado de [8]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.9 Alongamento de uma haste ciĺındrica. Modificado de [61]. . . . . . . . . . . 32 2.10 Fluxo laminar de cisalhamento de um ĺıquido. Modificado de [61]. . . . . . 33 2.11 Representação de a) uma mola e de b) um amortecedor sob a ação da tensão de cisalhamento que têm comportamento de sólido e ĺıquido respectivamente. 36 2.12 Modelos viscoelásticos de a) Maxwell e de b) Kelvin-Voigt. . . . . . . . . . 37 2.13 Modelo empregado pelas hemácias. Retirado de [37]. . . . . . . . . . . . . 38 2.14 Modelo empregado para hemácias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 xix 3.1 A armadilha ótica depende da relação entre o ı́ndice de refração da micro- esfera (ne) e o ı́ndice de refração do meio (nmeio) e também da contribução dos raios refletidos e refratados pela microesfera, aqui só são mostrados os efeitos da força de gradiente. a) Quando o centro da esfera coincide com a região horizontal de intensidade máxima do feixe, a força de gradiente vai na direção contrária à direção de propagação do feixe. Neste caso temos equiĺıbrio entre a força de gradiente e a força de espalhamento, gerando assim estabilidade de forças na esfera. b) Quando o centro da esfera não coincide com a região horizontal de intensidade máxima do feixe, a força de gradiente levará a esfera para a região de maior intensidade. Modificado de [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 3.2 Diagrama de forças resultantes da interação entre os raios iniciais 1 e 2 com a mesma intensidade e uma microesfera que obedece o tratamento da ótica geométrica. A força de reflexão, FR, é devida à pressão de radiação, que empurra à microesfera na direção de propagação do laser. A força de refração Fr se deve à diferença de momento linear total dos raios, que em- purra a microesfera na direção oposta à de propagação do laser. Modificado de [52]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 xx 3.3 O laser segue por um cabo de fibra ótica (1) que é colocado em um suporte (2) fixo à mesa ótica. Em seguida o laser sai da fibra ótica, passa por uma placa de meia onda (3) e depois por um divisor de feixe polarizado (5) que separa o laser em duas partes. Uma delas é absorvida por um atenuador (4) enquanto a outra parte segue para o microscópio, passando por espelhos (6) até incidir em um espelho dicróico (8), entrar na objetiva (9) e ser focalizadona amostra (10). A amostra é movimentada com o estágio piezoelétrico (10) conectado a um computador (CPU). Para saber o que ocorre na amostra usa-se uma fonte luminosa (12) cuja iluminação, ao atravessar a amostra, é focalizada por uma lente (7) e uma imagem da amostra é coletada com a câmera Hammamatsu C11440-10C (Hammamatsu, Japão). Imagens são obtidas e digitalizadas utilizando o software HCImage (Hammamatsu, USA). 50 3.4 Esquema da amostra empregada no processo de calibração. Uma micro- esfera é mantida fixa usando uma pinça ótica, quando o laser (vermelho) entra pela lamı́nula inferior (cinza), enquanto a água destilada passa pela microesfera devido ao movimento controlado do estágio que está em con- tato com a lamı́nula inferior fazendo com que a força de arrasto (F ) seja equilibrada com a força da pinça (Fp) e que a microesfera varie sua posição em ∆ρ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 3.5 Onda triangular de frequência 2 Hz e amplitudes crescentes de 30 µm, 40 µm, 50 µm, 60 µm e 70 µm, usada para mover a amostra. . . . . . . . . . 53 xxi 3.6 Foto de uma régua micrométrica obtida pela câmera Hammamatsu C11440- 10C, com uma objetiva Nikon Plan Fluor (aumento de 100X e NA = 1,4), que possui espaçamento entre duas linhas de 10 µm. Medindo a distância em pixel nessa régua é posśıvel determinar a constante de calibração do sistema de detecção, ou seja, a relação entre pixel e outra unidade de distância. Nessa foto a constante obtida foi (13,68 ± 0,01) pxl/µm. A incerteza é obtida pelo erro padrão da média de uma série de dez medidas. 54 3.7 Experimento de Reologia. Um movimento oscilatório com amplitude ξ0 é produzido no estágio do microscópio invertido, x indica a deformação da célula é ρ é a variação de posição da microesfera presa a pinça ótica. . . . . 59 3.8 Medida da altura da hemácia h ′ . a) Vista lateral. Com a câmera Hamma- matsu C11440-10C, grava-se o deslocamento do estágio (preto) com velo- cidade constante no eixo z, Vz, para identificar duas imagens nas quais se encontrem em um mesmo plano objeto o centro da microesfera que está na lamı́nula (1) e a microesfera que está na hemácia (2). Conhecendo o raio das microesferas a e a distância entre o centro da esfera e a parte superior do estágio para os dois casos, a e h, determina-se h ′ . b) Vista das esferas e da hemácis de cima. Analisa-se o ńıvel de cinza das imagens, identificando quando uma imagem que mostra a microesfera grudada na lamı́nula (1) tem o mesmo ńıvel de cinza no centro da esfera do que uma microesfera aderida à hemácia (2). Sabendo qual é a taxa de captura da câmera e usando Vz, encontra-se h ′ e h. Barra de escala 5 µm. . . . . . . . . . . . . 62 xxii 4.1 a) Onda triangular que desloca a amostra de amplitudes A = 30 µm, 40 µm, 50 µm, 60 µm e 70 µm com frequência f = 2 Hz. b) Posição do centro de massa de uma microesfera aprisionada na pinça ótica quando o estágio é deslocado com 4 repetições do movimento indicado em a). c) Ajuste linear da relação entre a variação de posição da microesfera e as velocidades do estágio, realizado a partir da equação 3.3 com coeficiente angular de τp. . . 64 4.2 Extração de amarras para as hemácias. a) 1. A pinça ótica tem presa uma microesfera, logo se move o estágio do microscópio manualmente procu- rando uma hemácia grudada na lamı́nula para deixar a microesfera sobre ela. 2-5. É deslocado o estágio de forma controlada a uma velocidade constante, quando sai a microesfera do eritrócito se forma uma amarra que se vai estendendo enquanto o estágio se move. b) A amarra é muito fina em comparação com a célula e a microesfera. Barra de escala 5 µm. c) Relação de força aplicada à microesfera pela célula no tempo, alcança a máxima força Fm quando a microesfera está proxima a sair, logo decai de repente à força transitória de amarra Fa até chegar a uma força Fv que indica que o estágio ficou parado. No repouso a força decai até F0. . . . . . 66 4.3 Determinação do raio da amarra usando MEV. a) Uma amostra de hemácia com uma amarra formada com uma microesfera de poliestireno é previa- mente preparada para obter a imagem no MEV, para analisar os ńıveis de cinza da imagem. Barra de escala 2 µm. b) Ampliação de a). Barra de escala 1 µm. c) Ajuste da função g(y). A partir do ajuste de g(y) pela equação 3.5, obtem-se o raio da amarra. Barras de escala 5 µm. . . . . . . 67 xxiii 4.4 Medindo Xinf para encontrar km. a) A hemácia sem esticar contém uma microesfera presa na pinça ótica, b) logo a célula se estica formando uma amarra e a microesfera fica no repouso. A diferença entre os comprimen- tos da hemácia esticada é não esticada é Xinf , este dado é utilizado para encontrar o valor de km, usando a equação 4.2. Barra de escala 5 µm. . . . 68 4.5 Tipos de hemácias devido à mudança de concentração da amostra. A hemácia é crenada quando se usa PBS 1,5x/BSA 1mg/mL , é normal quando se usa PBS 1,0x/BSA 1mg/mL e é turgida quando se usa PBS 0,5x/BSA 1mg/mL. Barra de escala 5 µm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 4.6 Ajuste linear para encontrar a viscosidade efetiva superficial ηeff , onde ηeff = 38 ± 4 pNs/µm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74 4.7 a) Relação de deslocamento da microesfera antes da formação de amarra quando o estágio desloca-se com uma velocidade de 1 µm/s. b) Relação de força feita pela hemácia antes da formação de amarra quando o estágio desloca-se com uma velocidade de 1 µm/s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 4.8 Modelo mecânico a partir da análise da deformação da hemácia sem formação de amarra. As propriedades mecânicas e viscosas são conformadas por km é a rigidez elástica da membrana que está em paralelo com a viscosidade de célula βc em série com rigidez elástica da célula kc e κp é a rigidez elástica da pinça ótica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 4.9 Extração de amarra de uma hemácia infectada com Plasmodium falciparum na fase trofozóıta usando uma microesfera de poliestireno. Barra de escala 5 µm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 xxiv 4.10 Medida do módulo viscoelástico da hemácia. a) Uma microesfera de poli- estireno, previamente aderida à lamı́nula em uma região fora da célula mas próxima a ela, é usada como referência para o movimento real da amos- tra. Uma outra microesfera presa na pinca ótica é aderida á célula. b) Exemplo das oscilações induzidas na célula para caracterizar suas propri- edades viscoelásticas. Um movimento senoidal formado por um conjunto de oscilações de amplitude constante para cada uma das frequências é apli- cado na hemácia. c) Relação de deslocamentos das microesferas grudadas na hemácia e na lamı́nula para um ciclo de 1 Hz, 14 Hz e 35 Hz, assim podemos identificar a diferença de fase existente entre os deslocamentos. . 81 4.11 Ajuste linear da relação das componentes real K ′ e imaginária K ′′ da cons- tante elástica complexa, com km = 7,3 ± 0,7 pN/µm e β = 1,84 ± 0,08. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 4.12 Ajuste dos valores das componentes da constante elástica complexa como função da frequência linear f , em a) um gráfico linear e b) um gráfico log-log. 83 xxv Lista de Tabelas 4.1 Valores das forças e o tempo de decaimento na relação força e tempo vari- ando a concentração da amostra, movendo a amostra a velocidade constante de 1 µm/s, sendo n o número de medidas feitas para cada concentração. . 70 4.2 Significância estat́ıstica para as forças e o tempo de decaimento na relação força e tempo, variando as condições da amostra, usando como amostra de controle a hemáciano meio isotônico com uma velocidade de extração de amarra de 1 µm/s, sendo n o número de medidas feitas para cada concentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 4.3 Ausência de significância estat́ıstica das forças de “plateau” Fa e Fv para a extração de amarras mudando a concentração salina do meio. . . . . . . 71 4.4 Valores da tensão superficial σ, rigidez de flexão κ e a constante elástica da membrana km variando a concentração da amostra, sendo n o número de medições feitas para cada concentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 4.5 Significância estat́ıstica para a tensão superficial σ, a rigidez de flexão κ e a constante elástica da membrana km variando a concentração de sal na amostra, sendo n o número de medições feitas para cada concentração de sal. 72 4.6 Valores das forças e do tempo de decaimento na relação força e tempo variando a velocidade de extração de amarra para hemácias normais, sendo n o número de medidas feitas para cada velocidade. . . . . . . . . . . . . . 72 xxvi 4.7 Significância estat́ıstica para o tempo de decaimento na relação força e tempo variando a velocidade de extração de amarra para hemácias normais, sendo n o número de medidas feitas para cada velocidade. Os resultados com Vt = 1 µm/s, foram considerados o grupo controle no teste estat́ıstico. 72 4.8 Significância estat́ıstica das forças de “plateau” Fa e Fv para a extração de amarras mudando a velocidade de extração. . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 4.9 Valores da tensão superficial σ, rigidez de flexão κ e constante elástica da membrana km variando a velocidade de extração da amarra, sendo n o número de medições feitas para cada velocidade. . . . . . . . . . . . . . . . 73 4.10 Valores da tensão superficial σ, rigidez de flexão κ e constante elástica da membrana km variando a velocidade de extração da amarra, sendo n o número de medições feitas para cada velocidade. . . . . . . . . . . . . . . . 74 4.11 Valores das forças e do tempo de decaimento na relação força e tempo para hemácias infectadas com Plasmodium falciparum, sendo n o número de medidas feitas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 4.12 Significância estat́ıstica das forças e do tempo de decaimento na relação força e tempo, variando as condições da amostra, usando como amostra de controle a hemácia no meio isotônico com uma velocidade de extração de amarra de 1 µm/s, sendo n o número de medidas realizadas. . . . . . . . . 78 4.13 Significância estat́ıstica de Fv e Fa, não tem uma diferença significativa, a extração de amarra se realiza aproximadamente a força constante . . . . . 79 4.14 Valores da tensão superficial σ, rigidez de flexão κ e constante elástica da membrana km com uma velocidade de extração de 1 µm/s, para hemácias infectadas com Plasmodium falciparum, sendo n o número de medidas feitas. 79 xxvii 4.15 Significância estat́ıstica da tensão superficial σ, rigidez de flexão κ e a constante elástica da membrana km variando a concentração da amostra, movendo a amostra a velocidade constante de 1 µm/s sendo n o número de medições feitas para cada concentração. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 xxviii Lista de Śımbolos e Abreviaturas a: Raio da microesfera de poliestireno Aa: Área superficial da amarra BSA: Albumina do soro bovino BFU-E: Unidade formadora de colônia de eritrócitos grandes CFU-E: Unidade formadora de colônia de eritrócitos pequenos CW : Modo cont́ınuo do laser C0: Curvatura espontânea da membrana C1, C2: Curvaturas principais da membrana NIH3T3: Linhagem de células de fibroblastos LPO: Laboratório de Pinças Óticas d: Espessura da membrana celular DNA: Ácido desoxirribonucleico E: Módulo de Young Em: Energia livre de Helfrich-Canham FeCNK: Ferricianeto de potássio f0: Frequência de escala na equação de amortecimento estrutural F : Força de arrasto F0: Força de equiĺıbrio da amarra Fa: Força de extração de amarra Fd: Força de decaimento FD: Força de tração Ff : Fator de forma Fm: Força máxima de extração de amarra Fp: Força da pinça ótica Fr: Força da refração xxix FR: Força de reflexão g(y): Função que ajusta com o ńıvel de cinza do comprimento da amarra G: Módulo de cisalhamento Gc: Curvatura gaussiana da membrana Gm: Módulo de cisalhamento da membrana celular G∗(ω): Módulo de cisalhamento complexo no domı́nio de frequências G ′ : Módulo de cisalhamento elástico G ′′ : Módulo de cisalhamento viscoso G0: Rigidez da célula como parâmetro de escala da equação de amortecimento estrutural h: Altura da célula sob a microesfera H: Módulo de compressibilidade Ha: Energia livre de amarra Hc: Curvatura média da membrana K: Rigidez de flexão de membrana kB: Constante de Boltzmann Kc: Rigidez elástica da hemácia K∗c : Rigidez elástica complexa da célula km: Rigidez elástica de membrana celular La: Comprimento da amarra MEV : Microscopia eletrônica de varredura ne: Índice de refração da microesfera nmeio: Índice de refração do meio em que está imersa a microesfera NA: Abertura Numérica da objetiva PBS: Tampão fosfato salino pH: Potencial hidrogeniônico PE: Potência de entrada na objetiva R: Raio da amarra RNA: Ácido ribonucleico R0: Raio da amarra SGR: Soft Glassy Rheology - Reologia de materiais moles Va: Volume da amarra Vt: Velocidade de extração de amarra α: Nı́vel de significância βs: Coeficiente de fricção de Stokes xxx γ: Deformação de tração ∆ρ: Deslocamento da microesfera de sua posição de equiĺıbrio ∆A: Variação de áreas entre as monocamadas ∆A ′ : Diferença de área entre as monocamadas ∆p: Diferença de pressão entre o interior e exterior da veśıcula �̇: Taxa de quantidade de cisalhamento ζ: Temperatura efetiva η: Viscosidade do meio ηeff : Viscosidade efetiva superficial κ: Rigidez de flexão da membrana κp: Constante elastica transversal da pinça ótica κ: Módulo de curvatura não local λ: Comprimento de onda µ: Razão de Poisson ξ0: Amplitude do movimento senoidal do estágio ρ(t): Amplitude da microesfera grudada na hemácia ρ0(v = 0): Posição de equiĺıbrio da microesfera presa na pinca ótica ρ(v): Mudança da posição de equiĺıbrio da microesfera presa na pinca ótica σ: Tensão superf́ıcial da membrana τ : Tempo caracteŕıstico definido segundo a relação do módulo de Young τp: Tempo de decaimento de extração de amarra φ: Ângulo de fase ω: Frequência angular 1 Caṕıtulo 1 Introdução O intercâmbio de substâncias de forma seletiva entre a célula com o ambiente cir- cundante mantendo sua estrutura é a chave para seu desenvolvimento e sobrevivência. A membrana celular estabelece limites entre o ambiente e as organelas que compõem a célula. Sua estrutura é formada por uma bicamada liṕıdica de 5 nm de espessura [1], a qual é responsável por impedir que o conteúdo da célula seja disperso. Além disso, a membrana também permite que processos como a endocitose e a exoci- tose nos macrófagos e a sinapse nos neurônios sejam possivéis, tendo como caracteŕıstica especial a mudança de sua área superficial, o que permite regular a formação de veśıculas que vão desde a membrana até o núcleo como resposta de um est́ımulo externo e também em sentido contrário podendo descartar substâncias que a célula não precisa[3]. Quando a tensão da membrana celular aumenta se produz exocitose. Caso contrário a endocitose é estimulada [3]. Estes fenômenos biológicos são de grande interesse porque permitem observar a relação entre os est́ımulos mecânicos com os est́ımulos biológicos e qúımicos, sendo objeto de estudo entender como a membrana celular transforma est́ımulos mecânicos em respostas biológicas e como os processos da célula que usam qualquertipo de sinalização podem produzir forças mecânicas na membrana celular. 2 Um método para conhecer a resposta mecânica da membrana celular a est́ımulos ex- ternos é estudar o grau de deformabilidade dos glóbulos vermelhos, chamados também eritrócitos ou hemácias. Os eritrócitos possuem caracteŕısticas importantes que fazem dos mesmos um excelente modelo para o estudo de propriedades mecânicas. Diferentemente de outras células, os eritrócitos não possuem núcleo, possuem um citoesqueleto simplificado, membrana celular e citosol composto de hemoglobina. Em consequência sua estrutura é muito simples, e suas propriedades mecânicas e viscoelásticas são devidas principalmente às propriedades f́ısicas da membrana celular e do citoesqueleto. A hemácia tem forma de disco bicôncavo, o que facilita a determinação de sua área superficial e de seu volume, além disso, sua forma bem determinada ajuda na criação de modelos teóricos e também no desenvolvimento de simulações que permitem estudar a sua deformabilidade e influência da mesma na microcirculação do sangue [16]. A hemácia tem a função exclusiva de entregar oxigênio às células e receber dióxido de carbono, diferentemente das células com núcleo, que realizam mais funções como divisão celular, endocitose, exocitose, podendo estes processos celulares afetar o comportamento mecânico das mesmas. A deformabilidade das hemácias é a capacidade que elas têm para mudar de forma de- vido a forças externas sem que possam ficar estoradas quando passam através dos capilares que têm um diâmetro menor do que as hemácias ou simplesmente pelas forças mecânicas no fluxo do sangue. Além disso, estes corpos elásticos voltam a sua forma de disco depois de soportar as forças externas. Sabendo que os eritrócitos em seu citosol contêm prin- cipalmente solução de hemoglobina, suas propriedades elásticas são determinadas pela estrutura formada pela membrana celular. A deformabilidade da membrana celular das hemácias é estudada a partir de três de- formações fundamentais [35]. A expansão ou contração de área da membrana indica qual é a quantidade de energia necessária para esticar ou contrair a superf́ıcie da membrana. 3 A deformação por cisalhamento que indica a quantidade de energia necessária para mover a membrana a partir da tensão cisalhante. A flexão da membrana celular mostra quanta energia precisa-se para mudar a curvatura. Também a deformação das hemácias pode ser estudada a partir da caracterização de sua viscosidade, definida como a viscosidade da membrana celular e a viscosidade do citosol [35]. Usando modelos fenomenológicos que relacionam o material que constituiem as hemácias com os materiais v́ıtreos moles [9], é posśıvel criar um modelo reológico, que é empregado para analisar os dados experimentais obtidos pela técnica de reologia e encontrar o módulo viscoelástico das hemácias. Sabendo isto, utilizamos instrumentos que permitam a aplicação de forças controladas para caracterizar as propriedades elásticas e viscosas das hemácias. Assim podemos gerar uma condição de referência ou de controle, que posteriormente será usada como ferramenta de comparação para outras condições de estudo, com a finalidade de identificar os efeitos da nova condição na hemácia. Segundo Nash [49], utilizando micropipetas de aspiração e com a condição de controle de hemácias saudáveis, ele observou nas hemácias infectadas com Plasmodium falciparum uma diminução em sua deformabilidade devido a um ligeiro endurecimento na membrana celular e uma diminução na relação da área/volume celular, devido a que as hemácias se tornam mais esféricas, conservando o mesmo valor de área superficial [57]. Além das micropipetas de aspiração, outro instrumento já foi utilizado para carac- terizar células como fibroblastos NIH3T3 [8], cones de crescimento de neurônios [30], células microgliais, macrófagos [52], células ciliadas externas [40], eritrócitos [16], [29] são as armadilhas óticas, chamadas também pinças óticas. As pinças óticas permitem manipular part́ıculas dielétricas em um intervalo de tamanho que varia de nanômetros a micrômetros, como por exemplo, microesferas de poliestireno, usando um feixe de luz 4 altamente focalizado. O objetivo principal desta dissertação é estabelecer uma metodologia de estudo para conhecer as propriedades mecânicas e viscoelásticas de eritrócitos utilizando a pinça ótica e as técnicas de extração de amarras e reologia variando as condições de estudo da amostra. No caṕıtulo 2 desta dissertação é apresentado o modelo celular uitilizado, os eritrócitos, conhecendo primeiro a composição do sangue humano, depois como se originam e como é o processo de maturação das células sangúıneas. Despois são apresentados os fundamentos teóricos das técnicas de extração das amarras e de reologia. A partir dos conceitos de reologia é proposto um modelo mecânico para o comportamento das hemácias. Ao final do caṕıtulo, é discutido como o Plasmodium falciparum invade os eritrócitos, discutindo também as fases da malária e os efeitos da malária nas células. No caṕıtulo 3 são apresentados os materiais e métodos utilizados. Entre eles os prinćıpios f́ısicos que envolvem as pinças óticas, mostrando a montagem experimental, assim como o processo de calibração feito antes das medições. Também são apresentados os detalhes da preparação das amostras incluindo as condições das células usadas nas técnicas de extração de amarras e de reologia com a finalidade de conhecer os procedi- mentos feitos para obtenção dos resultados experimentais. Além disso, é mostrado como o valor do raio da amarra é medido por microscopia eletrônica de varredura, MEV. No caṕıtulo 4 são mostrados os dados, os resultados e a discussão, tanto da calibração como das técnicas antes descritas, como os valores da tensão superficial, a rigidez de flexão, a constante elástica da membrana celular e cada uma das variáveis envolvidas na relação da força com o tempo na extração de amarras, para todas as condições de estudo que são a mudança da concentração salina, a mudança da velocidade de extração e a hemácia infectada pelo Plasmodium falciparum na etapa trofozóıta. Para a análise feita com reologia mostramos a constante viscoelástica complexa e as variáveis que ajudaram 5 a obtê-la, somente para as condições de hemácias saudáveis. Finalmente, no caṕıtulo 5 apresentamos as conclusões e perspectivas desta dissertação. 6 Caṕıtulo 2 Eritrócitos 2.1 O sangue O desenvolvimento e sobrevivência da célula estão baseados no intercâmbio de substâncias com o ambiente ao seu redor. No ambiente em que vive, a célula não se encontra isolada. Ela pode fazer parte de um grupo de células ou de tecidos e órgãos, a fim de executar funções espećıficas que em geral não podem ser obtidas por uma única célula. As células, os tecidos e órgãos trabalham em plena coordenação, gerando novos nu- trientes prontos para serem usados em outras áreas do corpo. Por esta razão, é essencial usar um meio de transporte efetivo de nutrientes para garantir o bom funcionamento de todo o corpo e ao mesmo tempo eliminar as substâncias que não são necessárias. Precisamente o sistema circulatório, além de manter a temperatura do corpo, pro- move este intercâmbio eficiente porque o sangue é bombeado pelo coração a uma média de 80 latidos por minuto e vai pelos diferentes vasos sangúıneos (veias, artérias e ca- pilares) transportando oxigênio, reśıduos celulares, hormônios, entregando ou recebendo substâncias dependendo das necessidades das células. Em geral o sangue interage com as células de quatro formas, a primeira quando o sangue é enviado a partir do lado direito docoração através das artérias pulmonares para 7 os pulmões, troca o dióxido de carbono por oxigênio, para logo viajar dentro das veias pulmonares para o lado esquerdo do coração. A partir desta zona, o sangue oxigenado vai pelas artérias principais tais como a aorta, passando por todo o corpo (exceto os pulmões) liberando oxigênio e recebendo o dióxido de carbono, conduzindo o sangue de volta para o lado direito do coração, através das veias cava superior e inferior. A segunda ocorre quando os alimentos são digeridos e seus nutrientes entram no san- gue, que é responsável pela entrega dos mesmos ao organismo para a restauração e criação de células. Outra forma é quando as células estão sendo atacadas por ant́ıgenos, então o sistema imunológico entra em ação para identificá-los e eliminá-los do corpo. Finalmente, quando o sangue se extravasa devido a danos nos vasos sangúıneos, ele também contribui para a reparação dos vasos danificados. Estes processos são posśıveis, devido à composição do sangue, que é um tecido ĺıquido que tem duas fases, um ĺıquido formado pelo plasma (55 % do sangue), tem um aspecto amarelado constitúıdo principalmente por sais minerais e água, também tem protéınas como as globulinas, albumina e o fibrinogênio, este último é responsável pela coagulação do sangue, e de hormônios que controlam processos tais como o uso de alimentos e cres- cimento. Os reśıduos produzidos pelas células chegam ao plasma, reśıduos que são lançados nos rins para ser descartados. Os rins também regulam o ńıvel de sal e água no organismo e o f́ıgado remove produtos qúımicos que são prejudiciais para o corpo. A fase sólida (composta por 45 % do sangue) contém as células sangúıneas compostas por plaquetas, leucócitos e eritrócitos. As plaquetas tem forma irregular, e possuem diâmetros entre 2 µm e 3 µm, a concentração no sangue varia entre 1,5 x 104 e 5 x 104 por µL [55]. Sua vida média é de 10 dias aproximadamente. As plaquetas tem a função de evitar a perda de sangue devido a algum dano nas artérias, veias ou capilares. Elas viajam livres pela corrente sangúınea e aderem-se às 8 paredes do vaso sangúıneo afetado formando parte dele. Com um grande número de plaquetas forma-se um tampão, produzindo assim um inchaço na área afetada, evitando perda do sangue. O inchaço desaparece quando o tecido está completamente recuperado. As células brancas do sangue ou leucócitos, são células nucleadas que são produzidos pela medula óssea e no sistema linfático. A concentração de leucócitos no sangue situa-se entre 4 x 103 e 12 x 103 por µL [55], estes têm uma forma esférica de diâmetro entre 10 µm e 15 µm. Sua vida média é do menos de 1 dia. Eles são também as mais variadas células sangúıneas (são compostos de basófilos, neutrófilos, eosinófilos, linfócitos e monócitos), são responsáveis pela detecção e eliminação de organismos invasores, tais como fungos, infecções parasitárias e bacterianas localizados em qualquer parte do corpo. Eles são capazes de penetrar as paredes dos vasos sangúıneos para levar a cabo suas funções. Um mecanismo de eliminação de ant́ıgenos utilizado é a fagocitose pelos neutrófilos e monócitos, também é o mecanismo utilizado para destruir os glóbulos vermelhos que perdem sua flexibilidade, a fagocitose acontece no baço, na médula óssea e no f́ıgado. Esse mecanismo é conhecido como hemólise, eritrócitos são fagocitados quando tem ao redor de 120 dias de vida. A corrente sangúınea tem principalmente células vermelhas do sangue (eritrócitos ou hemácias). Elas são as células mais numerosas, seu número está entre 4,1 e 5,7 milhões por µL para as mulheres e entre 5 e 6,3 milhões por µL para os homens [55], isto significa que, para cada glóbulo branco temos ao redor de 700 células vermelhas. 2.1.1 Hematopoiese Devido a vida das células sangúıneas ser curta, o corpo humano deve garantir a produção cont́ınua de células novas para substituir as que estão velhas ou danificadas controlando 9 ao mesmo tempo sua população. O processo de formação, desenvolvimento e maturação das células sangúıneas é conhecido como hematopoiese. A localização dos órgaõs ou tecidos hematopoiéticos formadores de células-tronco he- matopoiéticas permitem classificar a hematopoiese em três fases. A primeira é a fase mesoblástica, nesta fase as células hematopoiéticas estão em grupos pequenos estabeleci- dos no saco vitelino a partir da segunda semana de vida fetal, estes formam eritroblastos primitivos que maturam em eritrócitos com núcleo. As células hematopoiéticas alteram gradualmente sua localização para o f́ıgado, assim começa a fase seguinte, a fase hepática, ao redor do terceiro mês da vida do feto. Nesta fase, o f́ıgado começa a produção de eritroblastos dando origem a hemácias que não têm núcleo e ao final desta fase o baço produz eritrócitos. Para o sétimo mês do feto, a atividade de produção do f́ıgado e baço decai, mas aumenta na médula óssea, esta é a última fase, a fase medular, que desde esse momento fica encarregada de fornecer células sangúıneas ao corpo até a morte do indiv́ıduo. A médula óssea contém o tecido hematopoiético que é formado pelas células sangúıneas em maturação e os diferentes tipos de células-tronco hematopoiéticas. Entre elas estão as células-tronco pluripotentes, recebem este nome porque destas células geram-se todos os tipos de células hematopoiéticas e sangúıneas. O ciclo celular das células-tronco pluripotentes tem quatro fases [54], a primeira é uma fase de crescimento, G1, (G por gap em inglês), onde a célula aumenta de tamanho, é preparada para produzir as protéınas necessárias para a śıntese de DNA, também sintetiza- se protéınas e RNA. A seguinte fase é de śıntese, S, onde é duplicado o DNA que está contido no núcleo da célula assim quando a célula se divide, cada uma das células possui uma cópia exata do DNA. Em seguida vem a segunda fase de crescimento G2, onde continua a sintese de protéınas e RNA. A célula aumenta de tamanho devido ao incremento de organelas e protéınas do 10 citoplasma, esta fase é uma preparação para a fase de divisão celular, fase de mitose, M . Nesta fase ocorre separação de cromosomos, divisão do núcleo e divisão do citoplasma [34]. Existem dois tipos de mitose, simétrica onde as duas células filhas conservam o mesmo potencial biológico da célula original e assimétrica quando só uma filha conserva as pro- priedades da célula original, a outra filha é uma célula-tronco diferenciada ou multipo- tente que não pode-se auto renovar, mais da origem aos diferentes linhagems sangúıneos. Então quando na divisão celular obtem-se cópias idênticas à original se pode falar de auto-renovação nas células-tronco pluricelulares [55]. Após mitose, dependendo da necessidade do corpo humano, a célula-tronco pluricelular pode seguir com a fase G1 ou pode sair do ciclo celular ficando em uma fase G0, neste caso as células não crescem nem dividem-se, ficam inativas por um peŕıodo indefinido de tempo, até que sejam estimuladas a sair de G0 para continuar com a fase G1 iniciando um novo ciclo de divisão. Outra caracteŕıstica das células-tronco é que não podem ser identificadas através de sua forma, só observando sua capacidade de formar colônias. As células-tronco multipo- tentes são de duas classes, a classe linfóide e a classe mielóide, elas geram células-tronco unipotentes para cada tipo de célula sangúınea. A classe linfóide forma os linfócitos T e B e a classe mielóide forma plaquetas, eritrócitos e alguns tipos de leucocitos, como neutrófilos, basófilos, eosinófilos e monócitos [55]. A formação espećıfica de eritrócitos, ou seja, a eritropoiese, veja Figura 2.1, começacom a formação da célula-tronco unipotente que é chamada a unidade formadora de colônias, BFU-E, que logo produz a célula-tronco unipotente CFU-E, sendo a última célula-tronco do processo que origina o primeiro eritroblasto chamado proeritroblasto com diâmetros entre 16-20 µm [21], e possui um grande núcleo que ocupa quase todo o interior desta. Por mitose a célula passa a ser um eritroblasto basófilo, que é menor do 11 Figura 2.1: Eritropoiese (Hematopoiese de eritrócitos). A partir das células-tronco BFU-E e CFU-E se origina o proeritroblasto (1) que tem um grande núcleo que representa quase todo o volume da célula. Por mitose o proeritroblasto muda em eritroblasto basófilo (2), logo a eritroblasto policromatófilo (3) e depois a normoblasto (4), como se observam estas fases no quadro branco. Nestas fases o proeritroblasto apresenta diminuição de volume do núcleo e da célula, mudando ao mesmo tempo sua cor a rosa devido ao ińıcio da sintese da hemoglobina. Depois do quarto dia, o normoblasto já não tem núcleo (5) e adquire a cor avermelhada e logo o reticulócito (6) fica na médula óssea 48 horas para depois sair à corrente sangúınea e acabar o processo de maturação para finalmente criar um novo eritrócito (7). Modificado de [42]. que o proeritroblasto, e seu núcleo nesta fase continua diminuindo de tamanho. Novamente por mitose as células maturam à fase de eritroblasto policromatófilo. Nesta fase começa a acumulação de ferro para a formação da hemoglobina. Logo esta célula por mitose muda a normoblasto, que tem uma cor rosa devido à hemoglobina que contém. O normoblasto possui um pequeno núcleo localizado no centro da célula, ainda menor do que na fase anterior, logo o núcleo é expulso, formando-se assim o reticulócito [21]. O reticulócito possui algumas mitocôndrias e ribossomos para terminar de sintetizar a hemoglobina, fazendo isto, os reticulócitos tardam dois dias na médula óssea e logo vão à corrente sangúınea. Os reticulócitos são 1% das hemácias do corpo humano. Depois de um dia indo por todo o corpo, perdem por completo os ribossomos e mitocôndrias, passando à última fase, eritrócitos maduros, completando assim todo o processo de maturação em 7 dias. 12 2.2 Os eritrócitos Os eritrócitos também chamados hemácias são células em forma de disco bicôncavo com diâmetro que pode variar entre 6 µm e 8 µm e uma espessura de 2 µm a 3 µm, como está representado na Figura 2.2. Essas células não têm organelas, sua cor vermelha é devido à presença da hemoglobina, que fica mais intensa quando têm oxigênio. A hemácia tem um volume de 90 fL (1 fL = 10−15L) e uma área superficial de 136 µm2 [35], [36]. Figura 2.2: Dimensões dos eritrócitos. a) Seção superior b) Seção transversal. Modificado de [35]. A principal função dos eritrócitos é transportar oxigênio dos pulmões aos tecidos e dióxido de carbono dos tecidos para os pulmões circulando por veias, artérias e capilares, que em alguns casos têm um diâmetro interno de 3 µm. Além de realizarem esse intercâmbio de gases, também têm que manter um meio interno para proteger a hemoglobina de sua oxidação, em um potencial hidrogeniônico (pH) próximo a 7,4 e equilibrar sua concentração para manter um meio isotônico. Os eritrócitos mudam de forma por meio de grandes deformações para passar através de capilares muito finos e o mais interessante é que depois de atravessar os pequenos capilares voltam a sua forma original. Para suportar as tensões, o eritrócito conta com uma estrutura composta pela mem- 13 brana celular, o citosol que contém água, ı́ons, enzimas e hemoglobina que representa 33% do seu peso total. Além disso, um eritrócito resiste à turbulência das válvulas card́ıacas e quando entram em contato com outras células vermelhas não se aderem entre si. Figura 2.3: Tipos de hemácias devido à mudança de concentração da amostra. As setas indicam a direção do fluido para cada caso. a) A hemácia conserva sua forma de disco quando é posta em PBS 1,0x/BSA 1mg/1mL, devido a que forma-se um meio isotônico a quantidade de fluido que entra é a mesma que sai da hemácia. b) A hemácia diminui seu volume quando é colocada em PBS 1,5x/BSA 1mg/1mL, devido a que forma-se um meio hipertônico e a concentração salina é maior fora da hemácia, os fluidos da hemácia delocam-se fora da célula. c) A hemácia aumenta seu volume quando é colocada em PBS 0,5x/BSA 1mg/1mL, devido a que a concentração salina dentro da hemácia é maior do que o meio, formando assim um meio hipotônico, o fluido deloca-se de dentro para fora da célula podendo provocar o estouro da mesma. Modificado de [13]. A forma de disco bicôncavo, ou seja, de discocito, é mantida se o eritrócito está em um meio isotônico, isto é, meio que possui a mesma concentração salina que o interior da célula. Se as condições do ambiente são alteradas, duas outras formas são obtidas para a hemácia, as quais são equinócito ou hemácia crenada que é caracterizada por uma ou mais protuberâncias exteriores ou esṕıculas. As hemácias crenadas são formadas usando um meio com substâncias catiônicas anfipáticas, um meio com baixo pH, um meio de baixa concentração salina ou por depleção de colesterol da membrana [23]. A segunda é o estomatócito ou hemácia turgida. Nesta situação as hemácias podem 14 exibir invaginações em forma de taça. As hemácias turguidas são formadas usando um meio com substâncias aniônicas anfipáticas, um meio com alto pH, um meio de alta concentração salina ou por adição de colesterol na membrana [23]. Para esta dissertação estudamos as hemácias mudando a concentração salina com tampão fosfato salino (PBS) e albumina do soro bovino (BSA) para preservar a composiçaõ qúımica das células e criar as três formas de hemácias, apresentadas na Figura 2.3. Este processo é posśıvel pelo fenômeno f́ısico da osmose, devido ao fato da água difunde-se pela membrana celular, passando do meio com menor concentração salina a outro com maior concentração salina, com a finalidade de igualar a concentração salina e a pressão osmótica em ambos meios. A hemácia é dita normal, é aquele que conserva sua forma de disco bicôncavo quando se usa PBS 1,0x/BSA 1mg/mL, é crenada quando se usa PBS 1,5x/BSA 1mg/mL e é turgida quando se usa PBS 0,5x/BSA 1mg/mL. 2.3 Estrutura da membrana celular A membrana celular ou membrana plasmática é uma estrutura que separa o interior da célula do ambiente externo, permitindo de forma selectiva a passagem de compostos moleculares para dentro e fora da mesma. A membrana plasmática é constitúıda por uma bicamada liṕıdica de 5 nm de es- pessura, que representa aproximadamente 50% de sua massa, o peso restante é quase todo em protéınas [1]. Segundo o modelo do mosaico fluido, proposto por Nicholson e Singer, mostrado na Figura 2.4, as protéınas e os liṕıdios estão dispersos na mem- brana plasmática e encaixam seus domı́nios hidrofóbicos com as regiões hidrofóbicas dos fosfoliṕıdios. As moléculas proteicas ajudam a membrana no transporte de moléculas espećıficas através dela. Também ligam o citoesqueleto com a membrana plasmática e recebem sinais qúımicos, que são transformados em respostas fisiológicas. A bicamada liṕıdica possui um grande número de uma unidade estrutural chamada 15 Figura 2.4: Membrana celular de uma célula eucariótica animal. Segundo o modelo do mosaico fluido, a membrana celular como bicamada liṕıdica, possui carboidratos na camada superior e protéınas distribúıdas assimetricamente. No interior da membrana contém as caudas dos fosfoliṕıdios e protéınas integrais. As cabeças dos fosfoliṕıdios estão no exterior da membrana (cinza) e no interior as caudas (amarelo). Retirado de [13]. fosfoliṕıdio, representada na Figura 2.5, por uma pequena esferae uma cauda dupla. Os fosfoliṕıdios são moléculas anfipáticas, isto é, eles têm uma cabeça hidróf́ılica ou polar, isto indica que têm atração pela água e duas caudas hidrocarbonadas hidrofóbicas ou apolares, ou seja, que têm repulsão pela água. As duas caudas são ácidos graxos, uma é insaturada porque tem uma ou mais ligações duplas cis e a outra insaturada porque não possui essa ligação. Seu comprimento varia dependendo da quantidade de átomos de carbonos que possua, geralmente tem de 14 a 24 átomos [1]. Dessa forma quando estas moléculas são dissolvidas em água, suas partes hidrofóbicas tendem a estar associadas para evitar o contato com o solvente, o que resulta na estrutura em forma de bicamadas. As cabeças dos fosfoliṕıdios ficam na parte exterior da membrana plasmática e as caudas formam a parte interna da bicamada. 16 O modelo do mosaico fluido também considera que a bicamada liṕıdica tem o com- portamento de um fluido no qual os fosfoliṕıdios podem-se deslocar por difusão lateral, mudando de lugar com seu vizinho mais próximo na mesma camada. Também podem girar tendo como eixo de rotação a cauda mais longa e podem mudar de camada por um fenômeno chamado flip-flop. A fluidez da membrana é determinada pela difusão lateral, propriedade que muda pelas diferenças de comprimento das cadeias de ácidos graxos, porque quanto mais curtas tem menor superf́ıcie para formar ligações de Van Der Waals entre elas, em comparação com as caudas longas. Outro fator muito importante na fluidez da membrana é a saturação dos ácidos graxos, porque as caudas insaturadas tem ligações menos estáveis do que as caudas saturadas, por isto, os ácidos graxos insaturados ocupam mais espaço, fazendo que os fosfoĺıpidios não estejam tão empacotados comparados com caudas saturadas. As membranas celulares eucarióticas possuem quantidades altas de colesterol reforçando a permeabilidade da bicamada liṕıdica. Ele encontra-se inserido na bicamada colocando sua cabeça polar formada de grupos de hidroxilas com as cabeças dos fosfoliṕıdios e os anéis de esteróides que formam o colesterol interagem e imobilizam parte das caudas próximas às cabeças polares dos fosfoliṕıdios, deixando as caudas restantes mais livres. O colesterol tem diferentes efeitos sobre a fluidez da membrana, quando a hemácia está a uma temperatura de 37 oC, limita o movimento dos fosfoliṕıdios, assim a membrana é mais ŕıgida. A baixas temperaturas mantem a fluidez evitando o empacotamento das caudas de ácidos graxos. Por fim, o colesterol participa ativamente da sinalização celular, modulando as propriedades f́ısicas da membrana [1]. O aumento da temperatura provoca um aumento na fluidez da membrana, assim os fosfoliṕıdios ficam com mais liberdade de movimento, devido ao rompimento de ligações de Van Der Waals existentes entre ácidos graxos saturados, mas na maioria dos casos o 17 Figura 2.5: Molécula de um fosfoliṕıdio. O fosfoliṕıdio é unidade fundamental da mem- brana plasmática, tem uma cabeca hidrof́ılica (polar) e duas caudas hidrofóbicas (não polar), uma delas tem uma ligação dupla cis, por isso possui uma cauda dobrada. Figura modificada de [1]. colesterol evita o aumento de fluidez por esta causa. As protéınas da membrana celular estão distribúıdas assimetricamente entre as duas camadas e de acordo com sua localização são classificados três tipos de protéınas. O primeiro tipo são as protéınas integrais [21], recebem este nome porque só é possivel extrair a protéına usando métodos que causem dano à membrana. Elas são moléculas anfipáticas, penetrando a membrana completamente e mantém contato com os meios extracelular e intracelular ao mesmo tempo. Suas partes hidrófobicas estendem-se na bicamada liṕıdica sem carga e fora da bicamada estão as partes hidrof́ılicas com carga. As protéınas integrais estão ancoradas na membrana celular com os aminoácidos da parte hidrofóbica que interagem com os ácidos graxos dos fosfoliṕıdios. Estes aminoácidos 18 se sobressaem em um ou em ambos os lados da bicamada, formando um canal aquoso. Estes domı́nios hidrof́ılicos são as partes de uma protéına integral que podem interagir com sustâncias hidrosolúveis na superf́ıcie da membrana ou dentro do canal. Por isto, as protéınas integrais representam a base estrutural dos mecanismos de transporte es- pećıficos e receptores que têm relação com a membrana. O segundo tipo são as protéınas periféricas, são moléculas hidrof́ılicas localizadas fora da bicamada. São protéınas unidas às cabeças dos fosfoliṕıdios ou a outras protéınas de membrana mediante ligações fracas não covalentes [21]. Por fim, as protéınas unidas por liṕıdios estão localizadas fora da membrana biliṕıdica, só que neste caso tem ligações covalentes com liṕıdios da bicamada, por exemplo, um oligossacaŕıdeo. Este, por sua vez, está unido a uma molécula de glicofosfatidilinositol integrada á camada externa, esta molécula funciona como uma âncora. Outras protéınas da membrana estão ligadas mediante cadeias de hidrocarbonetos integradas á camada interna da bicamada liṕıdica [21]. 2.3.1 Membrana celular de eritrócitos Devido ás hemácias não possuirem organelas nem núcleo, mas terem forma de disco bicôncavo, elas são o tipo de célula mais deformável do corpo humano. Considera-se a hemácia como modelo primário para estudar a membrana celular tendo como objetivo comprender o comportamento de células mais complexas. A membrana celular de uma hemácia é formada por uma bicamada liṕıdica, o citoesqueleto e protéınas integrais só que tem uma composição e distribução de protéınas diferente de qualquer outra célula animal. A bicamada liṕıdica possui em seu interior fosfoliṕıdios, protéınas integrais e colesterol. Segundo o modelo do mosaico fluido a bicamada comporta-se como um fluido, por esta razão a bicamada liṕıdica confere ás hemácias as propriedades viscosas. 19 O citoesqueleto das hemácias é baseado na espectrina, que lhe fornece estabilidade e a capacidade de deformação, que lhe permite resistir a tensões e grandes deformações quando passa através dos capilares estreitos. Por esta razão o citoesqueleto confere às hemácias suas propriedades mecânicas. Além disso, o citoesqueleto restringe a mobili- dade lateral das protéınas integrais, para obter uma distribução homogênea das mesmas, evitando regiões sem protéınas, que dessa forma poderiam ser aderidas a outras células com as quais a hemácia tem contato. Figura 2.6: a) Esquema da membrana celular e citoesqueleto de eritrócitos com a dis- tribução das protéınas. b) A esfera vermelha, A, representa o filamento curto de actina que tem contato com os extremos da cadeia de espectrina, representada com esferas ver- des. As esferas cinzas, B, são unidades da cadeia de espectrina. Figura modificada de [39]. Uma das principais protéınas dos eritrócitos é a espectrina, que é a protéına periférica mais abundante do citoesqueleto, ela é responsável pela forma de disco bicôncavo da hemácia e sua integridade estrutural, assim como de regular a mobilidade lateral das protéınas integrais na membrana celular [48]. A espectrina está presente com 2,5 x 105 cópias por célula e constitui 25% da massa total das protéınas associadas à membrana [1]. 20 É um heterod́ımero longo, flex́ıvel e fibrilar constitúıdo por duas cadeias polipept́ıdicas α e β com peso molecular de 240 e 220 kDa, respectivamente (1 kDa = 1,66 x 10−24 kg). Os heterod́ımeros estão auto-associados em suas cabeças, formando tetrâmeros de 200 nm de comprimento. As caudas dos tetrâmeros são ligadas a filamentos curtos de 12 moléculas de actina, cada molécula desta protéına tem um peso molecular de 33kDa. A cadeia de actina está associada a outras proteinas do citoesqueleto, como aproteina 4.1, aducina e tropomio- sina formando assim um complexo juncional, mostrado na Figura 2.6a). Este complexo fortalece a ligação da actina com a espectrina [48]. Quando unem-se todos os comple- xos juncionais, a rede de espectrina possui forma triangular caracteŕıstica nas hemácias, veja a Figura 2.6b). O resultado deste conjunto de protéınas é uma rede deformável que estende-se pela superf́ıcie interior da membrana celular, como se observa na Figura 2.6a). A protéına que é a responsável por manter unido o citoesqueleto com a membrana da célula é a protéına integral conhecida como anquirina, esta protéına tem peso molecular de 434 kDa e está representada em um número de 105 cópias por célula. Estas estão ligadas à subunidade β da espectrina e ao domı́nio citoplasmático da protéına transmembranar banda 3. A anquirina liga algumas moléculas banda 3 com a espectrina, ligando a rede de espectrina à membrana, também reduz significativamente a taxa de difusão das moléculas banda 3 na bicamada liṕıdica. O citoesqueleto de espectrina também junta-se com a bicamada liṕıdica através de outra protéına dependente da protéına 4.1. A protéına 4.1 possui peso molecular de 97 kDa e está presente em número de 2 x 105 cópias por célula. Essa protéına que se liga à espectrina e à actina, também se liga ao domı́nio citoplasmático da banda 3 e à glicoforina, uma protéına transmembranar que é numerosa nos eritrócitos. As glicoforinas possuem receptores de membrana e ant́ıgenos que participam do reconhecimento entre células na 21 extremidade externa e ajudam na estabilização do citoesqueleto através de ligações com a protéına 4.1 [48]. A glicoforina é uma glicoprotéına transmembranar de passo único, ou seja, que atra- vessa a membrana só uma vez. Ela possui a maior parte da sua massa na superf́ıcie externa da membrana, onde está localizada sua cauda amino terminal hidrófilica. Nesta região da protéına estão ligados a grande maioria dos hidratos de carbono, representando 60% da massa total da molécula. A banda 3 é considerada a principal protéına integral da membrana e seu peso mole- cular é de 102 kDa. Representa de 25% a 30% de todas as protéınas da membrana e tem em torno de 106 cópias por hemácia. A protéına banda 3, é uma protéına transmembra- nar mas atravessa a membrana celular várias vezes, aparentemente a protéına atravessa a membrana 14 vezes [1]. Uma hemácia tem um milhão de cadeias polipept́ıdicas banda 3, que formam d́ımeros na membrana. A banda 3 é fundamental para ajudar os eritrócitos a transportar dióxido de carbono CO2 desde os tecidos até os pulmões, regulando assim também o transporte de ânions de bicarbonato HCO−3 ou cloreto Cl − entre o interior e o exterior da célula. Além disso, regula o metabolismo da glicose, mantém a morfologia eritrocitária e remove células que começam a envelhecer. Quando a membrana celular da hemácia é deformada, o citoesqueleto sofre um reor- denamento em seus componentes devido a que as moléculas de espectrina são capazes de dobrar-se e desdobrar-se. O grau da deformação da célula é determinado pelas associações moleculares existentes entre o citoesqueleto e a membrana celular [45]. Se a membrana e o citoesqueleto possuem um grande número de ligações entre si, então, a hemácia terá um sistema membrana-citoesqueleto mais compacto, em consequência as moléculas de es- pectrina perdem a capacidade de ordenamento estrutural, indicando que a hemácia perde sua flexibilidade. Em conclusão, a vida de uma hemácia e sua deformabilidade dependem das carac- 22 teŕısticas estruturais da bicamada liṕıdica, que estão relacionadas com a geometria do citoesqueleto e as ligações existentes no sistema membrana-citoesqueleto. 2.3.2 Eritrócitos e Malária A malária é uma doença de áreas tropicais que é produzida por um parasita protozoário da famı́lia dos Plasmodium. Diversas espécies causam a malária em seres humanos como Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium malariae, Plasmodium ovale, as três primeiras têm ampla incidência no continente americano, a quarta está presente em regiões restritas do continente africano. Os principais sintomas são dor de cabeça, dor nas articulações, calafrios, sudorese, vômitos, ciclos de febre intensa que duram de 48 horas a 72 horas, febres que podem chegar a 41 oC. Se a doença não for tratada, ela pode se desenvolver causando anemia, convulsões e a morte. No caso da malária causada pelo Plasmodium falciparum ela apresenta a particularidade de afetar o corpo humano produzindo insuficiência renal aguda, edema pulmonar agudo e hipoglicemia. Na natureza a malária propaga-se em dois tipos de hospedeiros, mosquitos que são hospedeiros definitivos e o homem que é intermediário. O ciclo biológico da malária se divide no ciclo exo-eritrocitário, ciclo eritrocitário e ciclo esporongônico, como observa-se na Figura 2.7. O ciclo exo-eritrocitário começa quando a fêmea do mosquito anofeles infectado de malária suga o sangue de um ser humano. Enquanto ela se alimenta, esporozóıtos saem das suas glândulas salivares, entram na corrente sangúınea e invadem as células do f́ıgado. A invasão é tão rápida que ao redor de 30 minutos depois da picada do mosquito, a corrente sangúınea não tem esporozóıtos [20]. Um esporozóıto é a primeira fase do parasita, nesta fase ele infecta novos hospedeiros. Os esporozóıtos são formados pela divisão múltipla de um zigoto e cada fragmento deste gera um esporozóıto. Nas duas semanas seguintes, os esporozóıtos iniciam o ciclo exo-eritrocitário no f́ıgado, 23 Figura 2.7: Ciclo biológico da malária. Retirada de [20]. eles invadem as células hepáticas, dentro delas sofrem multiplicação assexuada conhecida como esquizogonia. Durante esta multiplicação, o núcleo divide-se várias vezes e cada parte quando a célula estoura, obtém um fragmento do citoplasma. As células-mães denominam-se esquizontes e as células-filhas, merozóıtos. Esta fase diferencia o Plasmodium falciparum e Plasmodium malariae do Plasmodium vivax e Plasmodium ovale. Para as quatro espécies é observada a multiplicação assexuada, mas no caso do Plasmodium vivax e do Plasmodium ovale os esporozóıtos podêm passar por uma fase de espera antes de iniciar a multiplicação assexuada. Esta fase é conhecida como hipnozóıto e pode permanecer meses antes de começar a divisão assexuada. Após o estouro das células hepáticas quando os esquizontes atingem sua maturidade, 24 os merozóıtos entram na corrente sangúınea, invadindo os eritrócitos, iniciando assim o ciclo eritrocitário. Considera-se que a protéına banda 3 é a receptora para o Plasmodium falciparum [32]. Estando na hemácia, os merozóıtos passam por mais uma etapa de multiplicação produzindo de 12 a 16 merozóıtos por esquizonte. Nestas etapas o merozóıto se torna trofozóıto em forma de anel, depois o anel divide-se formando células esquizontes que compartilham um mesmo saco. Um trofozóıto é a fase vegetativa do parasita que se alimenta das protéınas contidas no eritrócito e o processo de alimentação danifica os eritrócitos. Por fim, os esquizontes separam-se, rompendo os eritrócitos, para sair e infectar novas células [48]. A duração deste estágio eritrocitário depende da espécie do parasita, sendo de 48 horas para Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, e Plasmodium ovale e de 72 horas para Plasmodium malariae [20]. As febres e os calafrios, estão relacionados com a ruptura sin- cronizada dos eritrócitos infectados. No caso de Plasmodium falciparum ocorre sequestro de eritrócitos, isto é, a partir da maturação do trofozóıto, o eritrócito gera substâncias na membrana celular, moléculas de adesão que não são produzidos em condições saudáveis, fazem com que as hemácias fiquem
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