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Belo Monte: ampliando a visão FURTADO, Ricardo. “Belo Monte: ampliando a visão”. Agência CanalEnergia. Rio de Janeiro, 25 de março de 2011. Há quase dez anos, visitei a Volta Grande do rio Xingu e Altamira. Vi, no caminho do rio à cidade, apenas devastação ambiental. Árvores cortadas dentro de lagoas e gado espalhado pelas terras. Não me senti viajando pela Floresta Amazônica. Em Altamira, visitei igarapés nas áreas que serão alagadas pelo reservatório da usina hidrelétrica de Belo Monte. Nessas áreas, cobertas de palafitas, os moradores viviam em condições precárias, quase desumanas. Havia também comércio formal e informal de peixes ornamentais, com evidente excesso de exploração dessas espécies. Essas condições permanecem até hoje. Não conheço nenhum protesto de universidades, igrejas, ministérios públicos, ONGs, de cineastas e artistas sobre esses relevantes impactos socioambientais e a péssima qualidade de vida de parcela substancial da população de Altamira. Por que a usina de Belo Monte continua a ser tão criticada? Há alguns anos, seus críticos afirmavam que, embora a usina fosse aceitável, ela abriria caminho para outras usinas no rio Xingu, ocupando as terras indígenas já demarcadas. Outra crítica era o tamanho do seu reservatório. Mais recentemente, afirmavam que a usina geraria uma quantidade pequena de energia e que, portanto, não seria viável do ponto de vista técnico-econômico. O que fez o setor elétrico em relação a essas críticas? A primeira delas foi analisada, de forma criteriosa, com a revisão do inventário da bacia do rio Xingu, que resultou, em razão das questões socioambientais envolvidas, na decisão do Ministério de Minas e Energia de construir apenas a usina hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu. A segunda foi resolvida há alguns atrás, com uma alteração de projeto, que, adotando duas barragens, reduziu o tamanho do reservatório de 1.225 km² para 516 km², resultando na segunda melhor relação de área alagada por capacidade instalada no Brasil (0,05). A terceira, sem fundamentação técnica, considera a energia média gerada por Belo Monte como se ela operasse isolada do Sistema Interligado Nacional (SIN), esquecendo uma das principais vantagens das hidrelétricas: o armazenando de água nos reservatórios. Com as interligações entre os subsistemas Norte, Nordeste, Centro- Oeste, Sudeste e Sul, é possível gerar em Belo Monte, no período de cheia, e armazenar água nos demais regiões. Dessa forma, a UHE Belo Monte tem uma energia firme de 4.796 MW, que não significa uma quantidade pequena de energia em nenhum país do mundo. Em termos socioeconômicos e ambientais, essa usina pode transformar a região diretamente afetada por seu reservatório em um grande pólo de desenvolvimento sustentável, com dinamismo econômico e qualidade de vida para seus habitantes. Uma das razões para essa transformação é que, apenas considerando os custos socioambientais de responsabilidade do consórcio vencedor do leilão, deverão ser investidos 3,34 bilhões de reais na região, o que corresponde a 19 vezes a rubrica de investimento do orçamento do estado do Pará para 2010. É importante ressaltar que o Plano de Inserção Regional previsto para a região aloca cerca de um bilhão de reais a serem investidos pelos governos Federal, do estado do Pará e municipais, além dos 500 milhões de reais de responsabilidade do consórcio vencedor do leilão, já considerados nos R$ 3,3 bilhões anteriormente citados. Além dos investimentos durante a construção, os municípios diretamente afetados serão beneficiados com a arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS) e, após o início da operação da usina, do ICMS e da compensação financeira, tendo, consequentemente, aumentos consideráveis de receita. Pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para a Chesf/Aneel, coordenada pela Profª Fátima Furtado, concluiu que as usinas hidrelétricas podem trazer benefícios socioeconômicos para os municípios diretamente afetados por seus reservatórios e que a implantação de um Plano de Inserção Regional leva ao aumento do nível de desenvolvimento local sustentável. A existência e a implantação do Plano de Inserção Regional da região do Xingu são, portanto, garantia de desenvolvimento local sustentável. Cabe aos atores citados no segundo parágrafo deste artigo voltarem sua atenção para o futuro, com olhos para os enormes benefícios da UHE Belo Monte, exigindo dos responsáveis a efetiva implementação dos programas socioambientais estabelecidos no seu Plano Básico Ambiental, das condicionantes da Licença Prévia (LP) e do Plano de Inserção Regional, proporcionando, dessa forma, a melhoria da qualidade de vida da população. Ricardo C. Furtado é consultor, PhD em Políticas Energéticas e Ambientais pelo Imperial College, Universidade de Londres e ex-Superintendente de Meio Ambiente da Empresa de Pesquisa Energética – EPE
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