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1 Polícia Militar do Pará Aluno Soldado 1 Usinas de Belo Monte e Tucuruí ....................................................................................... 1 2 A Amazônia como manancial de água. 3 Questão agrária na Amazônia. 4 Exploração das riquezas minerais.5 A nova fronteira agrícola na Amazônia.6 Desenvolvimento do oeste paraense e as reservas indígenas.7 Movimentos sociais na Amazônia.8 A pecuária no Pará 11 9 Lei Kandir e seus impactos na economia paraense ........................................................ 35 10 Aspectos econômicos e sociais dos principais municípios do Pará: Belém, Ananindeua, Castanhal, Tucuruí, Marabá, Altamira, Santarém e Breves .................................................... 39 11 Ecologia: Impactos ambientais, reservas e parques ecológicos .................................... 81 12 Transportes do Estado do Pará: Rodoviário, aeroviário, fluviais ................................. 117 Olá Concurseiro, tudo bem? Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação. Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou questionamentos sobre o conteúdo da apostila. Todos e-mails que chegam até nós, passam por uma triagem e são direcionados aos tutores da matéria em questão. Para o maior aproveitamento do Sistema de Atendimento ao Concurseiro (SAC) liste os seguintes itens: 01. Apostila (concurso e cargo); 02. Disciplina (matéria); 03. Número da página onde se encontra a dúvida; e 04. Qual a dúvida. 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A busca de autonomia tecnológica e a instrumentalização do espaço geográfico foram elementos fundamentais do projeto. Os Planos Nacionais de Desenvolvimento – PND I e II – estabeleceram as diretrizes da “modernização conservadora”, promovendo: a) a tecnificação da agricultura; b) a mudança do eixo dinâmico da economia dos bens de consumo duráveis para os bens intermediários de produção e bens de capital, mudança baseada no endividamento externo e no incremento das exportações, sobretudo no II PND (1975/1979), após o “primeiro choque do petróleo” 1973; e c) a rápida integração nacional, implicando a incorporação definitiva da Amazônia ao território e as políticas de desenvolvimento nacional. Em face da crise econômica iniciada com o “primeiro choque do petróleo” e sua crescente intensificação nos anos 80, devido ao “segundo choque do petróleo” (1979) e à súbita elevação das taxas de juros no mercado internacional, manteve‐se o crescimento econômico através das exportações, mediante a atração de investimentos externos e a expansão e transnacionalização de empresas estatais. A política regional foi substituída pela implantação de grandes projetos de exploração mineral com investimentos sob a forma de “joint ventures” entre empresas estatais e multinacionais. É nesse contexto que se situa a construção da UHE Tucuruí, no período compreendido entre os estudos de inventário e viabilidade (1972) e sua inauguração, em 1984. Um grande projeto de suprimento de energia visando: à produção de alumínio, ao estímulo à industrialização regional, à articulação de ligações regionais e, ainda, ao abastecimento do país em escala nacional. A partir do “primeiro choque do petróleo” (1973), a estratégia governamental torna‐se mais seletiva, mais diversificada e de cunho econômico crescente, configurando a Amazônia como grande fronteira de recursos (Becker, 1982). São dados estímulos à empresa agropecuária em vez dos projetos de colonização. Em 1974, o Programa POLAMAZONIA – Polos Agropecuários e Minero‐Metalúrgicos – prioriza espaços, valoriza‐se a região, particularmente o estado do Pará. Na medida em que a crise do petróleo afetou também a produção de alumínio do Japão e dos Estados Unidos, devido ao alto custo de energia, houve grande interesse em explorar os recursos minerais e energéticos amazônicos. Paralelamente, buscava‐se garantir o suprimento de energia a Belém, São Luís e Marabá, bem como efetuar a interligação elétrica com o Nordeste. Foi, portanto, sobretudo para atender às novas demandas dos projetos mínero‐metalúrgicos, que se definiu a construção da UHE Tucuruí, iniciada em novembro de 1975. As diretrizes iniciais da nova orientação governamental estavam contidas no II PND (1975‐79), mas se ampliaram com a crescente crise econômica. Se, inicialmente, pensava‐se em suprir os projetos do polo minero‐metalúrgico do sudeste do Pará, após o “segundo choque do petróleo” e a elevação da taxa de juros no mercado internacional, a intensificação da exportação de minérios foi vista como solução para “rolar a dívida externa”. A Companhia Valedo Rio Doce (CVRD) elaborou uma proposta para a exportação global dos recursos naturais da Amazônia Oriental, centrada na exploração mineral. Esta proposta deu origem ao Programa Grande Carajás, anunciado oficialmente em fins de 1980. Acentuou‐se, assim, a estratégia seletiva do governo que concentrou investimentos no território do Programa Carajás, que corresponde a 10,6 % do território brasileiro. A inauguração da UHE Tucuruí, em 1984, insere‐se, portanto, também no contexto da fronteira de recursos e dos grandes projetos que, à 1 Instituto Dialog. Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável (PDRS) e a Implantação de Usinas Hidrelétricas Estruturantes. Ministério de Minas e Energia. http://www.mme.gov.br/documents/36144/471801/Produto+2.pdf/ae7cae03-c9c3-5183-7e8e-c29eccf8889a 1 Usinas de Belo Monte e Tucuruí 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 2 exceção da Mineração Rio do Norte (1979), foram todos inaugurados na primeira metade da década de 1980. Caracterização do empreendimento e localização A UHE Tucuruí está localizada na Bacia do Tocantins, no curso principal do rio Tocantins, no estado do Pará, cerca de 7,5 km a montante da cidade de Tucuruí e a 300 km em linha reta da cidade de Belém. O rio Tocantins com seu principal afluente, o Araguaia, constitui uma bacia própria, ora denominada Bacia do Tocantins, ora Bacia do Tocantins‐Araguaia. Nascido no planalto central brasileiro, percorre grandes extensões recobertas por cerrados, antes de penetrar em áreas da floresta amazônica densa, já no estado do Pará, onde está situada a UHE Tucuruí. A energia gerada pela UHE Tucuruí é de 8.125 MW, em regime de operação por acumulação, com um reservatório de 2.875Km². A construção do empreendimento se deu duas etapas, sendo a primeira com início em 1976 e potência instalada de 4.000MW, operando em 1984;e a segunda com início em 1998, com a construção de uma segunda casa de força, cuja entrada em operação ocorreu em junho de 2006, o que permitiu uma ampliação da potência instalada em mais 4.125MW, levando a UHE a ser reconhecida como a quarta maior hidrelétrica do mundo naquela época. Devido ao porte do empreendimento, à sua localização em área de expansão de fronteira econômica e à existência de instituições pouco preparadas para o tratamento das questões socioambientais, a construção da primeira etapa da usina ocorreu em meio a inúmeros conflitos envolvendo a Eletronorte e a população local. Com base em diferentes documentos e relatórios consultados, pode‐se afirmar que três eventos relativos à construção da usina provocaram significativos impactos socioambientais, quais sejam: (i) construção da primeira casa de força, com a implantação do reservatório; (ii) construção da segunda casa de força; e (iii) elevação da cota de operação da usina, em 2002. Contexto econômico, social e geográfico do território do empreendimento Para a caracterização do território da UHE Tucuruí, optou‐se por recorrer aos dados e às informações apresentados nos dois documentos referentes aos Planos de Desenvolvimento Regional das regiões a montante e a jusante, elaborados em 2001 e 2003, respectivamente, por ocasião da segunda fase de Tucuruí, a fim de retratar a situação do território naquele período e sua evolução desde o início das obras referentes à construção da primeira fase da usina. Com a implantação da UHE Tucuruí, o território se configurou na microrregião de Tucuruí e na subregião do Baixo Tocantins – aqui também denominada microrregião –, compreendendo sete municípios a montante e cinco a jusante da UHE Tucuruí. A microrregião de Tucuruí, ou a Região de Integração do Lago de Tucuruí, está localizada no sudeste do Pará e é formada por sete municípios – Breu Branco, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá, Nova Ipixuna, Novo Repartimento e Tucuruí – com fronteira com o reservatório da usina a montante da barragem. A subregião de Tocantins é formada pelos municípios de Baião, Mocajuba, Igarapé Miri, Limoeiro do Ajuru e Cametá – com fronteira a jusante da barragem da UHE Tucuruí. A implantação da primeira fase da UHE Tucuruí, durante o período de 1976 a 1984, trouxe rápido crescimento demográfico e inerentes consequências sociais graves, com forte pressão sobre os serviços sociais básicos como saúde, energia elétrica, educação, saneamento, além de provocar a expansão das áreas urbanas municipais de forma não planejada. A situação se intensificou a partir das obras da segunda etapa da Usina, no período de 1998 a 2006, e também dos projetos de assentamento agrícola, implantados pelo INCRA, fatores que contribuíram significativamente para a ativação de um novo fluxo migratório para a região. No fundamental, as microrregiões eram áreas com características de população recente, economia predominantemente primária, altos índices de pobreza e deficiências na infraestrutura econômica e social. Porém, no caso dos municípios a montante, com um grau promissor de articulação política e surgimento de atores sociais, sobretudo na área dos movimentos religioso e sindical. Embora sendo fortemente influenciada pela implantação da UHE, a subregião a jusante sofreu um impacto diferente do registrado a montante, com efeito menor e tardio de alterações socioeconômicas e ambientais. Em primeiro lugar, a área não atraiu grande volume de população durante o período das obras da primeira fase da usina, como ocorreu com os municípios a montante, na medida em que o canteiro de obras se situou mais próximo do município de Tucuruí; em segundo lugar, não teve parte do território alagado pela barragem, recebendo, portanto, pouco impacto ambiental decorrente da formação 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 3 do lago; por outro lado, os municípios passaram a contar com uma vazão do rio administrada pela hidrelétrica, com liberação de água da barragem, ora em excesso, ora abaixo do normal, mas de acordo com o planejamento da geração de energia elétrica. Desta forma, os impactos foram menos intensos, e só começaram a ocorrer a partir da década de oitenta, quando a usina entrou em operação. Expropriados de Tucuruí2 Tucuruí virou sinônimo de usina. Às margens do rio Tocantins, a cidade de mais de 100 mil habitantes não passava de um povoado com cinco mil pessoas quando as obras começaram, nos anos 1970. Só que o crescimento econômico trazido pela hidrelétrica não é uma história com final feliz para todos que viviam na região quando uma das maiores obras do país se instalou. No meio do caminho, ou melhor, no meio do rio existe um lago. Um lago que se espalha por quase três mil quilômetros quadrados e só existe para abastecer as 23 turbinas da hidrelétrica, que nasceu para dar energia ao Projeto Grande Carajás. Quem conta um pouco dessa história é dona Ercília Soares Noleto, de 79 anos. A audição e a locomoção já não são mais as mesmas de quando ela chegou com a família do Maranhão, na década de 1960. Mas os braços que cortam a lenha no quintal da casa ainda chamam a atenção pelo vigor. Vivendo agora no município de Breu Branco, a cerca de 15 quilômetros de Tucuruí, passou grande parte da vida no trabalho duro na roça, até deixar tudo pra trás quando sua terra foi inundada com a construção do lago da usina. “Não gosto nem de lembrar. Tinha minhas ‘vaquinha’, meus ‘porco’, minhas castanhas. Sinto falta da fartura”, lamenta. Ela lembra do processo de desocupação. “Foram lá com um cadernão, assim, e botaram meu nome. Disseram que era pra sair daqui, porque iriam morrer tudo afogado. No outro dia, nos ‘arrumemos’. Ficou tudo, só levei meus filhos." A rotina mudou radicalmente desde então. “Pra comer uma banana, tem que comprar, pra comer uma macaxeira, tem que comprar, pra comer uma batata, tem que comprar.” Dona Ercília diz nunca ter recebido nada pela desapropriação. Quem recebeu alguma coisa não ganhou o que esperava. “O dinheiro dava pra comprar só cinco metros de corda pra se enforcar”, afirma Esmael Siqueira, que preside uma das associações de expropriados. A Usina Hidrelétrica de Tucuruí faz parte de um projeto ambicioso, que pretendia tornar uma das maiores jazidas minerais do mundo viável economicamente. Nos anos 1960, técnicos da empresa americana United Steel procuravam manganês no solo amazônico, mas se depararam com algo diferente, na Serra de Carajás: uma jazida de minério de ferro com um tamanho impressionante. Logo ficou claro que estavam diante da maior província mineralógica do planeta, com presença ainda de cobre, manganês, bauxita, ouro e níquel. O problema era explorar e retirar todo esse minério de uma região inóspita no meio da selva amazônica. A United Steel fez uma parceria com a Vale do Rio Doce, na época sob controle estatal. No fim dos anos 1970, a Vale ficou sozinha no negócio, após pagar uma indenização para a empresa norte- americana. Para tornar real o sonho de explorar essa riqueza mineral quase sem fim, o governo da época lançou o Projeto Grande Carajás. A Usina Hidrelétrica de Tucuruí era parte central nessa iniciativa, já que forneceria energia suficiente para os novos centros habitacionais e para a exploração mineral na região. Para que esta imensa hidrelétrica fosse viável, seria preciso alagar uma imensa área. E no ritmo que o progresso exige, isso aconteceu. 2 André Tal. Expropriados de Tucuruí. R7. https://noticias.r7.com/transamazonica/expropriados-de-tucurui-17112020. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 4 O presidente da associação dos expropriados diz que muitos dos lavradores eram analfabetos e assinaram os acordos de desapropriação apenas com a digital. “A maioria nunca tinha visto nem um policial na vida. Chegava um capitão do Exército, com uma onça na farda, eles assinavamqualquer coisa”, diz. Desde a inauguração da usina, em 1984, passaram-se oito governos federais sem uma solução para as quase seis mil famílias que tiveram suas propriedades alagadas pelo lago de três mil quilômetros quadrados – quase duas vezes a área do município de São Paulo. Siqueira afirma que, nestes anos todos, muitas tentativas de acordo terminaram sem solução, audiências públicas foram realizadas e a maioria dos expropriados continua sem receber um valor justo por suas terras. Na última audiência pública, em janeiro deste ano, a Eletronorte, estatal que administra a usina apresentou números que mostrariam os benefícios econômicos para a região. Segundo os dados divulgados, houve aumento dos índices de desenvolvimento nas localidades atingidas pela barragem acima da média nacional. Só em 2019, foram 174 milhões em royalties divididos entre o governo estadual e os municípios. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 5 Uma das tentativas de solução do problema veio em 2016. A estatal assinou um acordo com 2.343 famílias. Elas devem receber R$ 5.088 por conta de um projeto social implantado em 2004, que previa compensações sociais para os expropriados, mas que ainda não havia sido pago. Segundo associações que representam os expropriados, no entanto, este dinheiro não tem relação com as indenizações de propriedades e seriam apenas contrapartidas sociais não pagas pela empresa. Questionada, a Eletronorte não retornou até a publicação desta reportagem. Eletrobrás quer manter Usina de Tucuruí, mas ainda não negocia com governo, diz CEO3 A Eletrobrás quer manter a operação da hidrelétrica de Tucuruí, cuja concessão vai expirar a partir de 2024, mas ainda não iniciou negociações com o governo sobre o futuro do ativo, disse nesta quarta-feira o presidente da estatal, Wilson Ferreire Jr. O executivo afirmou, no entanto, que uma possível renovação do contrato pode ser debatida com o Congresso em meio à tramitação de um projeto de lei do governo que prevê a privatização de companhia por melo de uma capitalização que envolveria a emissão de novas ações. "Talvez aumentaria até a própria capitalização", disse Ferreira, e o ser questionado sobre o teme durante evento do Credit Suisse em São Paulo. "Não tivemos (conversas) formalmente com o governo, mas não tenho dúvida de que ele será objeto de discussão, Inclusive com o Congresso, e nós temos interesse em ficar com ele em nossa plataforma, sem dúvida", afirmou. Tucuruí, uma das maiores hidrelétricas do país, na região Norte, é importante fonte de receite de Eletrobrás. Ministério Público Federal discute impactos da Usina de Tucuruí4 A audiência teve a finalidade de ouvir a população a respeito das demandas que não foram cumpridas pela Eletronorte, bem como buscar soluções aos questionamentos apresentados Mais de duas mil pessoas participaram de uma Audiência Pública convocada elo Ministério Público Federal em Tucuruí, para debater os impactos socioambientais da Usina Hidrelétrica (UHE) e de suas eclusas. O evento aconteceu no Ginásio Poliesportivo da cidade, na terça-feira (14/01) e reuniu Ministério Público Estadual, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Eletronorte, prefeitos e lideranças comunitárias e indígenas. Representantes da sociedade civil organizada expuseram seus problemas decorrentes dos impactos da Usina de Tucuruí. Eles cobraram providências, como pagamento de indenizações às famílias e investimentos nas comunidades, por parte da UHE. “A Eletronorte prometeu dias melhores para nossas famílias, mas isso não aconteceu. Ela não cumpriu. Esperamos que seja diferente daqui pra frente”, disse o líder comunitário e expropriado Abraão Coutinho. Oliveira Assurini, representante da comunidade indígena Assurini, em Tucuruí, também questionou as promessas não cumpridas da estatal. “Esperamos êxito com essa audiência pública e que tenhamos resultados positivos, pois a nossa comunidade foi prejudicada com a essa hidrelétrica, onde a caça e a pesca diminuíram bastante”. “Viemos ouvir a população a respeito das demandas que não foram cumpridas pela Eletronorte, bem como buscar soluções a esses questionamentos. Todos os pleitos serão analisados e distribuídos conforme a competência de cada envolvido”, destacou Eliabe Soares, do MPF. “Acredito que esse evento vai fazer com que tanto a Eletronorte quanto o Dnit passem a cumprir as condicionantes. A região precisa desse investimento. Os nossos munícipes precisam desse investimento”, avalia o prefeito Artur Brito, ao ressaltar que, desde 2013, a Eletronorte não faz um investimento na região. “Tenho certeza de que, a partir dessa reunião, muita coisa boa vai vir”, finaliza. Royalties d’água disparam 60% e irrigam contas das prefeituras do Pará5 Caudaloso Rio Xingu fez receita da CFURH de Altamira e Vitória do Xingu aumentar ao menos 112% de 2018 para 2019. Municípios inundados pelo Rio Tocantins se encharcaram em 30%. 3 Reuters. Eletrobrás quer manter Usina de Tucuruí, mas ainda não negocia com governo, diz CEO. UOL. https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2020/01/29/eletrobras-quer-manter-usina-de-tucurui-mas-ainda-nao-negocia-com-governo-diz-ceo.htm. Acesso em 30 de junho de 2020. 4 Antonio Barroso. Ministério Público Federal discute impactos da Usina de Tucuruí. Ze Dudu. https://www.zedudu.com.br/ministerio-publico-federal-discute-impactos- da-usina-de-tucurui/. Acesso em 30 de junho de 2020. 5 Ze Dudu. Royalties d’água disparam 60% e irrigam contas das prefeituras do Pará. https://www.zedudu.com.br/royalties-dagua-disparam-60-e-irrigam-contas-das- prefeituras-do-para/. Acesso em 30 de junho de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 6 As prefeituras banhadas pelo dinheiro movimentado com as hidrelétricas já podem comemorar um ano glorioso de recebimento da Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH). Glorioso e recorde: o faturamento desse recurso, também chamado de royalty d’água, é o maior da história. A conclusão faz parte de um levantamento do Blog do Zé Dudu junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para rastrear os valores arrecadados pelas administrações que vivem às margens de hidrelétricas no estado. Ano passado, em 12 meses, o faturamento com royalties hídricos totalizou R$ 116,75 milhões. Este ano, foram R$ 187,61 milhões, crescimento de 60,69% de um ano para outro. O ano de 2019 foi, de longe, o período mais farto para as prefeituras de municípios que têm área territorial inundada pelos lagos dos reservatórios das hidrelétricas. No Pará, oito prefeituras das cercanias da usina de Tucuruí recebem royalties proporcionados pelo caudaloso Rio Tocantins. Além do governo de Tucuruí, município-mãe, recebem a compensação Novo Repartimento, Goianésia do Pará, Jacundá, Nova Ipixuna, Breu Branco, Itupiranga e Marabá. No Rio Xingu, Belo Monte paga às prefeituras de Altamira, Vitória do Xingu e Brasil Novo. A usina de Curuá-Una remunera os governos de Santarém e Mojuí dos Campos, enquanto a usina de Santo Antônio do Jari paga à Prefeitura de Almeirim. O município de Jacareacanga recebe royalties pelas hidrelétricas de São Manoel e Teles Pires. As cotas-partes são distintas porque variam conforme a extensão alagada. A glória do Xingu Os governos vizinhos do monumento de Belo Monte, no Rio Xingu, são os que mais prosperaram no ano passado, registrando mais de 112% de crescimento. Hoje, as prefeituras de Altamira e Vitória do Xingu são as que mais faturam no país com a CFURH. Elas bateram as cidades-irmãs Novo Repartimento e Tucuruí, cujas prefeituras reinavam plenas até 2018, beneficiadas pela Hidrelétrica de Tucuruí, da qual, aliás, as finanças desses municípios são extremamente dependentes — e não apenas pela compensação financeira, mas também pelos impostos e taxas associados que a usina rende. Hoje, 15 municípios paraenses recebemroyalties hídricos, com valores que variam de R$ 21 mil, no caso da Prefeitura de Brasil Novo que se vale da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, até R$ 45,1 milhões recebidos pela Prefeitura de Altamira, rainha dos royalties que vêm diretamente da água. Altamira e seu vizinho Vitória do Xingu, que arrematou até novembro R$ 43,6 milhões, desbancaram Novo Repartimento, que ajuntou este ano R$ 36,15 milhões. Usina Hidrelétrica Belo Monte O contexto histórico da UHE de Belo Monte, demonstra de certa forma, a complexidade do empreendimento, considerando todas as fases do projeto, as relações com grupos de interesse favoráveis e contrários à sua execução, os arranjos institucionais necessários e os estudos ambientais realizados, compreendendo as reconfigurações que o projeto sofreu até chegar à sua concepção final. Conforme pode ser observado nos principais marcos apresentados abaixo, o processo de definição desde o primeiro estudo para aproveitamento hidrelétrico do rio Xingu, em 1975, muitos outros estudos, discussões e definições foram necessárias para que o empreendimento pudesse de fato ter sua concepção final e início de instalação. Principais marcos: 1975 – Início dos estudos para o aproveitamento hidrelétrico do rio Xingu; 1980 – Conclusão dos estudos de inventário e início dos estudos de viabilidade da usina hidrelétrica Kararaô; 1989 – Conclusão dos primeiros estudos de viabilidade do AHE Belo Monte; 1994 – Revisão dos estudos de viabilidade com diminuição da área inundada e não inundação das terras indígenas; 1998 – Eletrobrás solicita à ANEEL autorização para realizar novos estudos de viabilidade do AHE Belo Monte; 2002 – Os estudos de viabilidade são aprovados pela ANEEL, mas o Ministério Público por meio de ação na justiça, paralisa os trabalhos e o EIA não pode ser concluído; 2005 – O Congresso Nacional autoriza a Eletrobrás a completar os estudos; a Eletrobrás e as construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Norberto Odebrecht assinam acordo de cooperação técnica para conclusão dos estudos de viabilidade técnica, econômica e socioambiental do AHE Belo Monte; 2008 – O Conselho Nacional de Política Energética define que o único potencial hidrelétrico a ser explorado no rio Xingu será o AHE Belo Monte; 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 7 2008 – A ANEEL aprova a atualização do estudo de Inventário com apenas o AHE Belo Monte na bacia do rio Xingu; 2009 – A Eletrobrás apresenta versão preliminar do EIA e RIMA, e solicita Licença Prévia ao IBAMA; 2010 – IBAMA emite a Licença Prévia – LP nº 342/2010; 2011 – IBAMA emite a Licença de Instalação – LI nº 795/2011; 2015 – IBAMA emite a Licença de Operação – LO nº 1317/2015, cuja validade é pelo período de seis anos (2015‐2021). Caracterização do empreendimento e localização A Usina Hidrelétrica (UHE) de Belo Monte localiza‐se nos municípios de Vitória do Xingu, Altamira e Brasil Novo, no estado do Pará. A usina tem capacidade instalada total de 11.233,1 MW, a serem gerados por meio de duas casas de força: (i) a casa de força principal, com 18 máquinas – unidades geradoras do tipo Francis, totalizando 11.000,0 MW; e (ii) casa de força complementar, com 6 (seis) unidades geradoras do tipo Bulbo, totalizando 233,1 MW. O eixo do barramento principal (Sítio Pimental) localiza‐se no rio Xingu, cerca de 40 km a jusante da cidade de Altamira‐PA, formando o reservatório do Xingu com área de 386 km². A partir do reservatório do Xingu, o fluxo é desviado por um Canal de Derivação até a Casa de Força Principal (Sítio Belo Monte), formando um reservatório intermediário com área de 130 km². Tal desvio forma um Trecho de Vazão Reduzida de cerca de 100 km de extensão. Os reservatórios possuem área de preservação permanente com largura variável, totalizando 26.342,92 hectares. No estudo de inventário foi considerada apenas a UHE Belo Monte, em seu arranjo atual, para bacia do rio Xingu. No RIMA do empreendimento, no item referente ao projeto de engenharia, o local das obras corresponde a diferentes trechos do rio Xingu e terras vizinhas. Ao todo, quatro locais sofreram interferência: os sítios Pimental, Bela Vista, Belo Monte e a região dos canais e diques. Os sítios Belo Monte e Bela Vista estão no município de Vitória do Xingu, o sítio Pimental localiza‐se nos municípios de Vitória do Xingu e Altamira e os canais e diques se localizam também no município de Vitória do Xingu. Assim, a divisão e localização das áreas por município é: 48% da área do reservatório localizada em Vitória do Xingu, 0,1% do reservatório em Brasil Novo e 51,9% da área do reservatório localiza‐se no município de Altamira. Contextualização econômica, social e geográfica do território do empreendimento Para a caracterização do território da UHE Belo Monte, foram utilizadas informações apresentadas no PDRS‐X elaborado em 2009 de forma a retratar a situação do território naquele período de forma a indicar um pouco qual era a situação naquele momento. Com o objetivo de organizar o planejamento da ação governamental e melhorar a articulação inter‐ regional, o governo do estado do Pará adotou uma subdivisão do seu território em 12 Regiões de Integração, entre as quais se inclui a Região de Integração do Xingu. Essa regionalização teve como objetivo organizar o planejamento da ação governamental e facilitar a articulação institucional e territorial, facilitando a descentralização administrativa do governo e a aproximação mais eficaz com a população local, de maneira a identificar ações e políticas públicas adequadas às necessidades sub‐regionais. Justiça reconhece etnocídio causado por Belo Monte a indígenas e ordena mudanças6 Conforme decisão, houve mudanças drásticas "nos traços culturais, modo de vida e uso das terras pelos povos indígenas" A Justiça Federal em Altamira, no Pará, reconheceu que a usina de Belo Monte provocou interferências significativas “nos traços culturais, modo de vida e uso das terras pelos povos indígenas, causando relevante instabilidade nas relações intra e interétnicas”. A ação, iniciada em 2015 pelo Ministério Público Federal, indica que a Norte Energia, empresa responsável pela hidrelétrica, gerou um etnocídio aos povos indígenas da Volta Grande do Xingu com as obras da hidrelétrica. A partir das constatações, a decisão, ainda provisória, ordena mudanças na execução do Plano Básico Ambiental Indígena de Belo Monte. Além disso, obriga que a União e a Fundação Nacional do Índio 6 Erick Gimenes. Justiça reconhece etnocídio causado por Belo Monte a indígenas e ordena mudanças. Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2020/11/18/justica-reconhece-etnocidio-causado-por-belo-monte-a-indigenas-e-ordena-mudancas. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 8 (Funai) apresentem no prazo de 90 dias um cronograma para conclusão dos processos de regularização fundiária das terras indígenas Paquiçamba, do povo Juruna Yudjá, e Cachoeira Seca, do povo Arara. A liminar também determina que a Norte Energia passe a ser responsável pela execução do Programa Médio Xingu e instale um Conselho Deliberativo, um Comitê Indígena e um Plano de Gestão, com presença de representantes dos nove povos indígenas afetados e da Funai. Pela ordem, ainda será criada uma Comissão Externa de Acompanhamento e Avaliação, a ser composta pelo MPF, representantes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e de organizações não indígenas da sociedade civil que atuem na região do médio Xingu. A decisão cita uma série de danos, com a fragmentação dos povos indígenas em muitas aldeias, a fim de se obter a verba de R$ 30 mil/mês a ser paga por aldeia, precariedade sanitária, alimentar e social, aumento no consumo de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas e aumento de produtos industrializados. Para o cacique Mobu Odo,do povo Arara da Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca do Iriri, os danos causados pela usina à cultura dos indígenas da região são irreparáveis. “Interferiu muito na nossa cultura. Muito jovem da aldeia não quer mais respeitar nossa cultura. A cultura do branco ficou muito forte na entrada dessas empresas”, diz. Segundo ele, desde a invasão branca, jovens Arara trocaram as diversões tradicionais, como pinturas corporais, danças e festas tradicionais, por forró e bebidas alcoólicas em exagero. “A cultura, o pessoal não está respeitando mais, não quer mais se divertir como índio, se pintar, a nossa cultura normal. Eles não querem mais isso para eles”. O cacique conta que as invasões, principalmente de madeireiros, aumentaram espantosamente desde a chegada das obras. “Acho que nunca mais vai voltar ao normal. A tendência aqui é só aumentar. Aumentar madeireiro, aumentar essas coisa ruim. A gente está muito preocupado com a presença de coisa ruim na nossa cultura, nos nossos costumes. É muito branco entrando”. Rafaela Xipaia, da comunidade Tukamá, diz que a usina alterou sem volta o modo de se alimentar dos indígenas que vivem próximos à cachoeira Jericoá. Ela relata que a seca do rio Xingu mudou a dieta tradicional dos locais, que era baseada em recursos naturais, como peixes e frutos. Com animais magros, mortos ou inexistentes, a alternativa é ir ao mercado, distante da comunidade. “Por enquanto, a gente tá comprando a mistura. Compra carne, frango. No fim do mês, se for botar no bico da caneta, dá lá seus 200 reais", conta. Para Rafaela, a usina também dividiu os indígenas, criando conflitos entre os povos na busca por terra e comida. “Belo Monte conseguiu dividir os povos, conseguiu dividir famílias. Antes era tudo junto. Hoje tem indígena ribeirinho, indígena pescador, tem indígena fora do território. Sendo que esse povo é só um povo, é indígena”. Moradora próxima de uma barragem da hidrelétrica, ela diz ter medo de que o dano possa ainda ser maior. “Nada do que ela der vai pagar pelo que ela destruiu. Não estou só falando de vida humana, mas também do meio ambiente. Ela acabou com o meio ambiente, acabou com o peixe, acabou com a nossa vida. Acabou com o nosso sossego. Eu não sei se eu vou dormir e vou acordar viva ou se eu vou conseguir botar minha cabeça no travesseiro e poder levantar. Estamos debaixo de uma barragem”. Em meio a seca histórica, Belo Monte desvia o rio Xingu de peixes e pescadores7 Represamento de grande volume de água pela usina tem causado morte de animais e miséria às comunidades beradeiras. A hidrelétrica de Belo Monte secou o rio Xingu para pescadores, ribeirinhos, indígenas e agricultores que sobrevivem na região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, nos municípios de Altamira, Senador José Porfírio, Brasil Novo, Anapu e Vitória do Xingu, no Pará. Desde o funcionamento da usina, as águas do rio foram desviadas e represadas para alimentar as turbinas de energia, o que, segundo as comunidades beradeiras, mudou drasticamente a vazão em ao menos 100 quilômetros de extensão. Cerca de mil famílias vivem por ali, espalhadas em 23 comunidades. A responsável pela operação é a Norte Energia S.A., que propôs um “hidrograma de consenso” que diminui em até 80% o volume normal do rio na região, ainda conforme os locais. Embora esteja em andamento, a proposta foi reprovada por ao menos oito universidades brasileiras, pelo Ministério Público Federal, pelo Ibama e pela Funai. 7 Erick Gimenes. Em meio a seca histórica, Belo Monte desvia o rio Xingu de peixes e pescadores. Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2020/11/12/em- meio-a-seca-historica-belo-monte-desvia-o-rio-xingu-de-peixes-e-pescadores. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 9 Conforme estudos, é necessário que a hidrelétrica libere ao menos 15.000 metros cúbicos por segundo (m3/s) de água para que os animais se mantenham vivos e reprodutivos no rio. Em outubro, no entanto, o volume liberado foi de 800 m3/s. Para piorar, a região passa por uma das mais severas secas dos últimos 50 anos. O resultado é óbvio: os igarapés viraram chão, as roças estão pálidas, os animais morrem aos montes, as famílias que se sustentam da vida gerada pelo rio se empobrecem. “Eu moro aqui há 64 anos e nunca tinha visto um sequeiro desses, com os peixes morrendo. Nessa área da vazão reduzida, não tem mais peixe. É uma situação de pobreza extrema, empobrecimento extremo causado por Belo Monte. As pessoas não têm mais segurança alimentar”, lamenta Antonia Melo, fundadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVPS), uma organização que atua para proteger as comunidades da região desde 2008. De acordo com os ribeirinhos, o baixo nível de água impediu a ocorrência da piracema (o período de reprodução dos peixes) nos últimos dois anos, o que tem provocado um “vertiginoso despovoamento” de espécies e uma consequente crise na segurança alimentar para a população do entorno. Assim, a vida vai se desfazendo dentro e à margem do rio Xingu. “Os pescadores que estiveram ali, que construíram a sua casa de alvenaria, que construíram uma vendinha ou que tinham o seu carrinho - porque neste período tem que levar os apetrechos para a beira do rio -, já se desfizeram de todos os seus bens. Tudo o que conquistaram com 30 anos pela pesca se desfez”, conta Ana Barbosa, educadora social do MXVPS. Segundo ela, a Norte Energia tem usado a pandemia de covid-19 como desculpa para não mexer no plano de vazão. “Eles [a empresa] estão se escondendo atrás da pandemia. ‘Ah, a gente não fazer isso, não pode fazer aquilo’. O povo vai morrer pela pandemia e vai morrer pela seca. Eles estão escolhendo qual é o tipo de morte. Então, se é para morrer ou pela pandemia ou pela seca, vai morrer gritando”. Um dos gritos é dado desde a segunda-feira (9/11), quando aproximadamente 150 moradores decidiram ocupar o quilômetro 57 da BR-230, a rodovia Transamazônica. Eles pedem que o Ibama suspenda a licença de operação de Belo Monte até que a Norte Energia garanta uma vazão mínima de 16.000 m3/s ao trecho do rio. Não há previsão para o fim do protesto. O Brasil de Fato pediu explicações à Norte Energia, mas, até a publicação desta reportagem, não recebeu retorno. Também entrou em contato com o Ibama, para saber se o pedido dos manifestantes para suspensão da licença será atendido. Nenhuma resposta ainda. Belo Monte, a maior hidrelétrica do Brasil, inaugura sua capacidade total de geração de energia8 Governo do Pará destaca o potencial gerador de energia elétrica e o alto custo da tarifa paga pelo paraense. O acionamento da 18ª Unidade Geradora da casa de força principal da Usina Hidrelétrica de Melo Monte, que assegura a geração de 11.233,1 megawatts de energia, atingindo a capacidade instalada, marcou nesta quarta-feira (27) a inauguração oficial da maior hidrelétrica 100% brasileira, localizada na volta grande do Rio Xingu, município de Vitória do Xingu, no oeste paraense. A solenidade oficial foi realizada na casa de força da Usina, com as presenças do presidente da República, Jair Bolsonaro; do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque; do governador do Pará, Helder Barbalho; do vice-governador, Lúcio Vale; além de outras autoridades do Estado e do presidente da Norte Energia, consórcio responsável pela construção do empreendimento, Paulo Roberto Ribeiro. O governador do Pará ressaltou a importância da hidrelétrica para o desenvolvimento econômico da região, e destacou pontos importantes na discussão sobre a energia elétrica produzida no Estado e o alto custo da energia para os paraenses. “O Brasil precisa discutir. Um estado que produz energia, que alimenta o Brasil, mas o mesmo Estado que tem Belo Monte e Tucuruí, as duas maiores (hidrelétricas) do País, que produz energia e exporta, hoje é a terceira conta de energia mais cara do Brasil, fazendo com que o povo paraense sofra”, ressaltouHelder Barbalho. Desafio - O ministro Bento Albuquerque disse que, a partir do funcionamento da última turbina de Belo Monte, inicia-se o maior desafio energético brasileiro. “Foram construídas as maiores linhas de transmissão do País, conectando o Pará ao Rio de Janeiro e a Minas Gerais. A produção de energia de Belo Monte representa 7% da capacidade total da produção brasileira”, frisou o ministro. Segundo a Norte Energia, os investimentos para a construção de Belo Monte somam R$ 42 bilhões, desde o início da obra, em 2011. Na área socioambiental, foram cerca de R$ 6,3 bilhões investidos em mais de 5 mil ações executadas nos municípios vizinhos ao empreendimento, incluindo 78 obras de educação (construção, reforma e ampliação de unidades educacionais, capacitações e doação de 8 Larissa Noguchi. Belo Monte, a maior hidrelétrica do Brasil, inaugura sua capacidade total de geração de energia. Agência Pará. https://agenciapara.com.br/noticia/16617/. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 10 mobiliários) e construção e aquisição de equipamentos para 31 unidades Básicas de Saúde (UBSs), além de três novos hospitais para ampliar o atendimento à população do entorno da Usina. Ainda segundo a Norte Energia, todas as ações estão relacionadas ao Projeto Básico Ambiental (PBA), atrelado à implantação do empreendimento. O documento é composto por 117 programas e projetos voltados ao desenvolvimento e à melhoria da qualidade de vida nas comunidades da região, bem como à conservação do meio ambiente e à ampliação do conhecimento científico sobre a Amazônia. Segurança - Recentemente, o Governo do Pará inaugurou o Complexo Penitenciário de Vitória do Xingu, que reforça o sistema prisional do Pará com mais 612 vagas, divididas em três unidades: uma voltada ao regime semiaberto (201 vagas); a segunda direcionada às presas (105 vagas), e a terceira aos homens (306 vagas). O complexo penitenciário faz parte de um convênio firmado pela Norte Energia com o Governo do Pará, no valor total de R$ 125 milhões, custeados pelo consórcio. ONS espera que a geração total de Belo Monte reduza o impacto na conta de luz9 O Operador Nacional do Sistema (ONS) estima que, em 24 de janeiro, operará com 50% da capacidade térmica instalada do país, entretanto, depende da intensidade das chuvas para reduzir esse efeito na conta de luz do Brasil e conta com a entrada total da usina de Belo Monte, no Pará. As informações são da IstoÉ. “A partir de janeiro deste ano o ONS poderá explorar plenamente, pela primeira vez, o potencial hidráulico das usinas da região Norte do país (Madeira, Belo Monte e Tucuruí). A conjunção entre a geração dessas usinas e o reforço da rede de transmissão permitirá a inserção de 18 mil megawatts (MW) no sistema”, disse o ONS em nota. A agência observou que, apesar do atraso da estação das chuvas entre 2019/2020, a agência meteorológica prevê que os reservatórios no sudeste, centro-oeste e nordeste mostrem maiores reservas nas próximas semanas. Usinas hidrelétricas, como Furnas e Serra da Mesa, que são vitais para as operações no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, representam cerca de 15% do armazenamento total de água, embora o nível da água esteja baixo, mas a recuperação começou nos últimos dias. No entanto, mesmo com alguns reservatórios em declínio, o ONS garante que existem condições para o pleno atendimento à demanda. Questões 01. (PC/SP – Escrivão de Polícia – PC/SP) Em que rio foi construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte? (A) Patachós. (B) São Francisco. (C) Madeira. (D) Belo. (E) Xingu. 02. (FBN – Assistente Administrativo – FGV) Com relação ao projeto da usina hidrelétrica de Belo Monte, leia o fragmento a seguir. "Belo Monte vai integrar o Sistema Interligado Nacional (SIN) e, com isso, sua energia vai contribuir para expansão da oferta em todo o País. Assim, na cheia do Rio Xingu, será possivel gerar muita energia, promovendo a acumulação de água nos reservatórios das usinas de outras regiões, (...) As obras deverão gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil postos indiretos". O fragmento representa, corretamente, a posição (A) de grupos ambientalistas brasileiros, preocupados com o custo ambiental da interrupção do rio Xingu. (B) de setores da Igreja Católica, engajados na defesa dos povos indígenas. (C) de representantes de povos indígenas e ribeirinhos, alarmados com a mudança no regime hídrico do Xingu. (D) do Governo Federal, comprometido com aumento da produção de energia elétrica no país. 03. (Prefeitura de Campos Novos/SC – Professor – FEPESE – 2019) É a maior bacia hidrográfica totalmente localizada no território brasileiro. Ela abriga a Usina de Tucuruí, no Estado do Pará. 9 Sabrina Oliveira. ONS espera que a geração total de Belo Monte reduza o impacto na conta de luz. Eu quero Investir. https://www.euqueroinvestir.com/ons-espera- que-a-geracao-total-de-belo-monte-reduza-o-impacto-na-conta-de-luz/. Acesso em 30 de junho de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 11 A bacia hidrográfica descrita é a: (A) Bacia do Tocantins-Araguaia. (B) Bacia Amazônica. (C) Bacia do Paraná. (D) Bacia do Uruguai. (E) Bacia do São Francisco. Gabarito 01.E / 02.D / 03.A Comentários 01. Resposta: E A Usina Hidrelétrica de Belo Monte é uma usina hidrelétrica brasileira da bacia do Rio Xingu, próximo ao município de Altamira, no norte do estado Pará. 02. Resposta: D A frase é uma justificativa do Governo Federal, uma vez que a UHE Belo Monte tem sido alvo de críticas e polêmicas desde seu projeto ao funcionamento por instituições ou representações ambientais e indígenas. 03. Resposta: A A Usina Hidrelétrica de Tucuruí é uma central hidroelétrica no Rio Tocantins, no município de Tucuruí, no estado do Pará. O Rio Tocantins está localizado na bacia hidrográfica Araguaia-Tocantins, uma bacia hidrográfica brasileira, quase inteiramente localizada entre os paralelos 2ºS e 18ºS e os meridianos 46ºW e 56ºW. O principal rio da bacia é o Tocantins, e seu principal afluente é o Araguaia. A Amazônia como manancial de água Amazônia: o que é importante saber10 Amazônia abriga o maior reservatório de água doce do mundo, é rica em biodiversidade e cultura A Amazônia é uma região de 8 milhões de km2 que se estende por nove países da América do Sul, incluindo Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname, França (Guiana Francesa) e Brasil. Este último detém 60% da Amazônia. Além de abrigar o maior reservatório de água doce do mundo, ela detém a maior biodiversidade do planeta, está localizada na maior bacia hidrográfica do mundo e possui o maior rio do mundo em volume de água: o rio Amazonas, com 6.937 km de extensão - sendo uma significativa fornecedora de serviços ecossistêmicos e território de povos originários. A Floresta Amazônica é chamada cientificamente de floresta latifoliada equatorial. Ela recebe esse nome por apresentar uma vegetação com folhas grandes e largas; e por estar próxima da região do Equador, sendo densa, perene (não perde as folhas do longo do ano em nenhuma estação) e hidrófila (adaptada à presença de água em abundância). Ela abrange 40% do território brasileiro, além de ocupar porções dos territórios da Venezuela, Colômbia, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. No Brasil, a floresta amazônica ocupa praticamente toda a região norte, principalmente os estados do Amazonas, Amapá, Pará, Acre, Roraima e Rondônia, além do norte do Mato Grosso e oeste do Maranhão. A floresta amazônica possui uma composição heterogênea, com fitofisionomias (a primeira impressão causada pela vegetação) que podem ser classificadas de acordo com a proximidade a cursos d'água: matas de igapó, matas de várzea e matas de terra firme. 10 Stella Legnaioli. Amazônia: o que é importante saber. eCycle. https://www.ecycle.com.br/8118-amazonia.html.Acesso em 19 de novembro de 2020. 2 A Amazônia como manancial de água. 3 Questão agrária na Amazônia. 4 Exploração das riquezas minerais. 5 A nova fronteira agrícola na Amazônia. 6 Desenvolvimento do oeste paraense e as reservas indígenas. 7 Movimentos sociais na Amazônia. 8 A pecuária no Pará. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 12 Bioma amazônico O bioma amazônico é constituído por vários tipos de vegetação, incluindo floresta de terra-firme, floresta de igapó, floresta pluvial tropical, caatingas do Rio Negro, savana arenosa e campos rupestres, possuindo 3,68 milhões de km2. Ele está localizado em uma região bastante chuvosa, com distribuição uniforme, exceto por uma faixa mais faixa mais pobre em chuvas no norte. As temperaturas máximas ficam em torno de 37-40 °C, podendo variar 10 °C. As águas do bioma da Amazônia variam conforme a geologia e a cobertura vegetal. No rio Tapajós, por exemplo, as águas são cristalinas, enquanto em outros, como o rio Negro, são pretas. Já rios como o Amazonas, ou o Madeira, apresentam uma água barrenta amarelada, turva. As águas escuras e bastante ácidas do rio Negro são uma consequência da grande quantidade de matéria orgânica derivada da floresta transformada em húmus. O solo do bioma amazônico é pouco fértil. Na região de Manaus, em área de terra firme, há solos argilosos, amarelos, ácidos, ricos em alumínio e pobres em nutrientes. Nas partes mais baixas, há solos arenosos, ainda mais pobres em nutrientes que os solos da floresta de terra firme. Os solos das várzeas dos rios de água branca são os mais ricos em nutrientes, pois os rios transportam minerais oriundos das rochas da região andina. Além disso, eles são fertilizados naturalmente pelas inundações, sendo mais agricultáveis. Existem ainda os solos conhecidos como “Terra Preta do Índio”, formados por antigos povoamentos indígenas, sendo ricos em matéria orgânica e em fósforo, cálcio, magnésio, zinco e manganês. Matas de terra firme: ficam em terras altas, longe dos rios, são árvores alongadas e finas, como a castanha-do-pará, o cacaueiro e as palmeiras. Possuem grande quantidade de espécies de madeira de alto valor econômico. Matas de várzea: ficam em áreas inundadas periodicamente pelas cheias dos rios de águas brancas. Exemplos são a seringueira e as palmáceas. Matas de igapós: são árvores altas, adaptadas às regiões alagadas. Ficam em áreas baixas, próximas aos rios de águas claras e pretas, permanecendo úmidas durante quase o ano todo. Estima-se que a floresta amazônica abriga 50 mil espécies de plantas, 3 mil espécies de peixes e 353 de mamíferos, dos quais 62 são primatas. Para se ter uma ideia, há mais espécies vegetais em um hectare de floresta amazônica do que em todo o território europeu. As abelhas também apresentam diversidade de destaque. Das mais de 80 espécies de meliponíneas (abelhas sem ferrão), cerca de 20 são criadas na região. Na Amazônia estima-se que cerca de 30% das plantas dependem das abelhas para polinização, chegando a alguns casos a 95% das espécies de árvores. Ainda há de se considerar a diversidade dos grupos de invertebrados como as minhocas, que possuem mais de 100 espécies na região, sendo fundamentais para a decomposição da matéria orgânica. Riscos para a biodiversidade nas florestas amazônicas incluem desmatamento, exploração madeireira, queimadas, fragmentação, mineração, extinção da fauna, invasão de espécies exóticas, tráfico de animais silvestres e mudanças climáticas. Com a descoberta de ouro na região (principalmente no estado do Pará), muitos rios estão sendo contaminados. Os garimpeiros usam no garimpo o mercúrio, substância que está contaminando os rios e peixes da região. Índios que habitam a floresta amazônica também sofrem com a extração de madeira ilegal e de ouro na região. No caso do mercúrio, este compromete a água dos rios e os peixes que são importantes para a sobrevivência das tribos. Outro problema é a biopirataria nas florestas amazônicas. Cientistas estrangeiros entram na floresta, sem autorização de autoridades brasileiras, para obter amostras de plantas ou espécies animais. Levam estas para seus países, pesquisam e desenvolvem substâncias, registrando patente e depois lucrando com isso. O grande problema é que o Brasil teria que pagar, futuramente, para utilizar substâncias cujas matérias-primas são originárias do nosso território. Serviços ambientais Os serviços ambientais representam um conceito que poderia mudar o modo com que nos relacionamos com o ambiente, especialmente um meio de influenciar decisões sobre o uso da terra na Amazônia. Historicamente, as estratégias para sustentar a população na Amazônia incluíram a produção de mercadorias e em geral a destruição da floresta. Todavia, os estudos demonstram que a estratégia mais promissora em longo prazo é baseada na manutenção da floresta em pé, como fonte de serviços ambientais, os quais de modo geral podem ser agrupados em três categorias: biodiversidade, ciclagem da água e mitigação do efeito estufa. O bioma amazônico possui grande importância para a estabilidade ambiental do Planeta. Em suas florestas estão fixadas mais de uma centena de trilhões de toneladas de carbono. Sua massa vegetal libera algo em torno de sete trilhões de toneladas de água anualmente para a atmosfera, através da 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 13 evapotranspiração, e seus rios descarregam cerca de 20% de toda a água doce que é despejada nos oceanos pelos rios existentes no globo terrestre. Além de prestarem relevantes serviços ambientais, esses mananciais detêm potencial hidrelétrico de fundamental importância para o país, além de vastos recursos pesqueiros e potencial para a aquicultura. Riqueza cultural Além de sua reconhecida riqueza natural, a Amazônia abriga expressivo conjunto de povos indígenas e populações tradicionais que incluem seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, babaçueiros, entre outros, que lhe conferem destaque em termos de diversidade cultural. Na Amazônia, ainda é possível a existência de pelo menos 50 grupos indígenas arredios e sem contato regular com o mundo exterior. Os povos indígenas possuem a melhor experiência em manter a floresta, e o trato com estes povos é essencial para assegurar a manutenção das grandes áreas de florestas por eles habitada. Os benefícios dos serviços ambientais proporcionados pelo bioma amazônico devem ser usufruídos pelas pessoas que vivem em suas florestas. Assim, o desenvolvimento de estratégias que captem os valores destes serviços será o desafio em longo prazo para todos que se relacionam e se importam com este bioma. Desmatamento na Amazônia O desmatamento da Amazônia é motivo de grande preocupação para o Brasil, pois ele leva a alterações significativas no funcionamento dos ecossistemas, gerando impactos sobre a estrutura e a fertilidade dos solos e sobre o ciclo hidrológico, constituindo importante fonte de gases do efeito estufa. Por outro lado, zerar o desmatamento na Amazônia é possível e traria benefícios ambientais e sociais para o Brasil e para o mundo. Diferente do que muitas pessoas possam imaginar, é viável zerar rapidamente o desmatamento com base nas experiências já desenvolvidas no país. Entretanto, o desmatamento na Amazônia tem aumentado desde 2012 – e tende a continuar. Entre as principais causas podem-se destacar a impunidade a crimes ambientais, retrocessos em políticas ambientais, atividade pecuária, estímulo à grilagem de terras públicas e a retomada de grandes obras. Foram 55 milhões de hectares derrubados entre 1990 e 2010, mais do que o dobro da Indonésia, o segundo colocado. O ritmo da destruição, entre 2008 e 2018, o desmatamento na Amazônia foi 170 vezes mais rápido do que aquele registrado na Mata Atlântica durante o Brasil Colônia. A perda foi acelerada entre 1990 e 2000, com média de 18,6 mil km² desmatados por ano, e entre2000 e 2010, com 19,1 mil km perdidos anualmente e 6 mil km² entre 2012 e 2017. Cerca de 20% da floresta original já foi colocada abaixo sem que benefícios significativos para os brasileiros e para o desenvolvimento da região fossem gerados. Pelo contrário, os prejuízos são vários. Saiba mais sobre esse tema na matéria: "Desmatamento da Amazônia: causas e como combatê-lo". Queimadas na Amazônia Existem três tipos principais de queimadas na Amazônia, sendo o primeiro decorrente do desmatamento. Nesse caso, a vegetação é derrubada e secada ao sol. Então o fogo é ateado para preparar a área para a agricultura ou pecuária. Outro tipo é a queimada realizada a partir de uma área já desmatada, com a finalidade de reduzir o que se chama de "erva-daninha". O terceiro tipo é chamado de incêndio florestal, e pode invadir florestas. Atear fogo também é uma prática cultural de pequenos agricultores, indígenas e povos tradicionais, mas há quem realize com interesses especulativos, podendo prejudicar significativamente o bioma. Questão agrária na Amazônia Pandemia expõe problemas da sociedade que reforma agrária deu soluções há décadas11 Precisamos, mais do que nunca, voltar a falar sobre Reforma Agrária É impossível olhar a pandemia do novo coronavírus apenas pela ótica da saúde. Especialistas afirmam que o vírus está escancarando diversas crises já existentes pelo mundo. O debate sobre problemas como a fome e a destruição do meio ambiente ganharam novos capítulos na nossa história. 11 Daniel Lamir. Pandemia expõe problemas da sociedade que reforma agrária deu soluções há décadas. Brasil de Fato. https://www.brasildefato.com.br/2020/06/04/pandemia-expoe-problemas-da-sociedade-que-reforma-agraria-deu-solucoes-ha-decadas. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 14 No caso do Brasil, a situação talvez seja o grande destaque negativo. A covid segue crescendo e causando muitas mortes enquanto as políticas públicas para combater a doença parecem cada vez mais distantes de solucionar o problema. Uma delas é a renda emergencial, que custa a chegar em toda população que precisa. Um dos motivos mais relatados pelas pessoas é a falta de acesso à tecnologia como celular e internet. Coisas que parecem básicas pros dias de hoje mas a covid-19 revelou que ainda são artigo de luxo no Brasil. E, enquanto a crise sanitária e econômica agoniza o país, a floresta amazônica segue batendo recordes de desmatamento. Os números do primeiro trimestre deste ano são 30% maiores que do mesmo período do ano passado, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais). Apesar dos problemas ficaram ainda mais evidentes no cenário atual, algumas respostas para essa situação de fome e preservação da natureza são bem mais antigas. Uma delas se chama Reforma Agrária Popular, defendida pelo MST desde a década de 1990. A proposta está baseada no direito à terra e na produção agroecológica. Porém, o desafio para a plena Reforma Agrária Popular adentra a história de um país que ainda sente bastante a distribuição injusta de terras desde a colonização. Os séculos se passaram, mas para se ter uma ideia, 1% dos proprietários de terras no país controlam quase metade das terras brasileiras, isso de acordo com o censo agropecuário, de 2017. Caetano de Carli é militante do MST e professor da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE). Caetano contextualiza a questão agrária na contemporaneidade. “Hoje estamos em um estágio da questão agrária de inserção muito forte do capital financeiro no setor agropecuário, que a gente chama também de agronegócio. Então temos multinacionais que representam esse capital transnacional que está se apoderando de todos os anos da produção agropecuária, do beneficiamento e da comercialização”, explica. Caetano lista que essas multinacionais estão controlando o mercado das sementes transgênicas, agrotóxicos, maquinário agrícola, beneficiamento de alimentos e redes de supermercados. Algumas consequências desse modelo de agronegócio apontadas pelo professor são justamente os aumentos no desmatamento, desempregos rurais e contaminação por agrotóxicos. Com a Reforma Agrária Popular, além da distribuição justa de terras no país, incluímos questões como produção mais diversificada de alimentos e soberania e segurança alimentar para a população brasileira. Com as crises causadas pela covid-19, vários assentamentos MST reforçaram os gestos de solidariedade na luta contra a fome entre quem mais precisa. A Campanha Mãos Solidárias, em Pernambuco, é um dos exemplos ao oferecer alimentos, água e condições para banho entre a população em situação de rua da cidade do Recife. Passado o momento de pandemia, Caetano de Carli lembra que precisamos voltar a discutir um modelo de país, com mais esse capítulo da covid-19. “Temos que entender que a nova sociedade que vamos construir pós-pandemia de Covid-19 deve ser, acima de tudo, uma sociedade mais justa e sustentável. Então precisamos, mais do que nunca, voltar a falar sobre Reforma Agrária, e desse modelo que o MST traz que é a Reforma Agrária Popular, que agrega a Reforma Agrária à Agroecologia”, ressalta. Uma das formas de colaborar com a Reforma Agrária Popular no Brasil é consumir os produtos comercializados nas unidades do Armazém do Campo, hoje presente nas cidades de Belo Horizonte, Caruaru, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e São Luís. Florestas vitais: 300 milhões dependem delas12 Amazônia tem projetos de conservação e Economia Sustentável. O Brasil conta com um projeto importante para proteger as florestas e também promover uma Economia Sustentável aos moradores próximos a elas. É o 'Cidades Florestais', iniciado em 2018. O engenheiro florestal André Vianna, gerente-técnico do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), explica que o projeto possui apoio financeiro do Fundo Amazônia/BNDES e é executado pelo Instituto, com sede em Manaus (AM). Desde 2006, a luta do Idesam é a busca pela redução do desmatamento, conservação florestal, erradicação da pobreza e o desenvolvimento sustentável. Atualmente, o 'Cidades Florestais' é desenvolvido nos municípios amazonenses de Apuí, Boa Vista do Ramos, Carauari, Silves, Itapiranga, Lábrea, São Sebastião do Uatumã e Silves. "Estas Cidades Florestais podem se conectar a Piracicaba por meio de suas Cadeias Produtivas Florestais. Os moradores 12 José Ricardo Ferreira. Florestas vitais: 300 milhões dependem delas. Gazeta de Piracicaba. http://www.gazetadepiracicaba.com.br/_conteudo/2020/06/canais/piracicaba_e_regiao/947602-florestas-vitais-300-milhoes-dependem-delas.html. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 15 de Piracicaba podem apoiar a conservação florestal e melhoria da qualidade de vida dos amazônidas ao comprar os produtos apoiados pelo projeto", disse Vianna. Ele explicou que comprar madeira extraída legalmente da Amazônia, isto é, certificada e com procedência, é uma atitude benéfica e de conservação florestal. "O projeto por meio do aplicativo 'Cidades Florestais', que além de ser uma ferramenta de gestão ao produtor, pode demonstrar ao consumidor o local e o plano de manejo que provém a madeira ofertada". Também existe a 'Rede de Óleos do Cidades Florestais' para empresas de quaisquer portes, inclusive com distribuição para a maior parte do País. O engenheiro reforçou que o foco do projeto é desenvolver os municípios do Interior do Amazonas por meio de atividades produtivas sustentáveis e florestais. "As ações do projeto fomentam a produção florestal familiar e comunitária, tanto madeireira quanto não madeireira", disse. O fomento à produção florestal de uso múltiplo, pelo projeto, é desenvolvido por meio de implantação de Plataforma Digital e aplicativo de apoio à gestão da produção comunitária, implementação de novosequipamentos e maquinários para a atividade florestal, elaboração de planos de manejo florestais, instalação da Rede de Óleos prevendo a construção de duas novas miniusinas de extração de óleos vegetais oriundos do extrativismo e apoio estrutural e gerencial a outras três já existentes. "Para os municípios que fazem parte do projeto, o fomento à produção florestal tem resultado em maior geração de renda às populações que residem em territórios com gestão especial, como Unidades de Conservação e Assentamentos da Reforma Agrária. A possibilidade de maior geração de renda permite a manutenção dessas populações em seus locais de origem e, consequentemente, evita-se grilagem e desmatamento ilegal", explicou Vianna. A pandemia Nesse Dia Mundial do Meio Ambiente, Vianna enfatizou que a pandemia do novo Coronavírus nos obriga a um novo olhar sobre o consumo e seu impacto ao Meio Ambiente. Ele também frisou que a redução das florestas tem gerado mudanças no clima e aumentado o contato com novos vírus. "O consumo de produtos que promovam a conservação da floresta, também, tem impacto positivo na saúde global. O consumo tem um papel político e financia o modo de vida que cada um almeja", explicou o engenheiro. O professor do Instituto Federal do Amazonas, engenheiro Philippe Waldhoff, destaca alguns pontos que evidenciam a importância das florestas: a questão climática (as florestas são 'sugadoras' dos gases do efeito estufa, além de preservar a Biodiversidade); a importância dos "produtos" das florestas (madeiras, plantas medicinais, frutos etc.); espiritualidade (a árvore é um símbolo da vida), lazer; Turismo; Educação; descanso; preservação. "São alguns dos pontos da importância das florestas para a Humanidade", disse ele, que participou da Semana do Meio Ambiente na cidade. São 300 milhões de pessoas que dependem das florestas no mundo todo, segundo o professor. Philippe lamentou, porém, que o Brasil nesse período está na contramão, pois aumentou o desmatamento na Amazônia. Ele entende que a forma de vida que levamos caracteriza-se pelo consumismo, o que leva a expansão do processo produtivo que resulta na destruição das florestas. Se derrubam as árvores da Amazônia, por exemplo, há menos chuvas no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste do País. São as nuvens, os rios voadores, exemplificou o professor, que se deslocam da Amazônia levando chuva para inúmeras Regiões. Cidade tem O 'Muda Pira' O foco é deixar a cidade cada vez mais arborizada. Esse é o objetivo do Projeto 'Muda Pira', criado no ano passado pelo engenheiro florestal Rogério de Oliveira, Janaína Naka e Danilo Aguilera. Já são mais de 200 mudas plantadas, no município, desde a criação do Projeto, em agosto do ano passado, mês de aniversário da cidade. “Piracicaba apresenta uma arborização que necessita de cuidados. Muitas espécies necessitam de manejo e muitas áreas necessitam de plantio por conta da ausência dos benefícios que a árvore pode levar para o bairro. Muitas ações e projetos já estão programados para mitigar estes aspectos”, disse Rogério, nesta quinta-feira (04/06). “Nosso Projeto procura ajudar a Administração Pública neste sentido, pois tentamos facilitar a vida de quem quer ter uma árvore na frente da sua casa, bairro ou área de lazer”, explicou o engenheiro. Os plantios são registrados em um mapa no blog: www.mudapira.blogspot.com. O ideal árvore/habitante, preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de três árvores, por morador. “Se cada morador tivesse sua árvore já ajudaria bastante”, entende Rogério. Atualmente, o 'Muda Pira' conta com os apoios da Secretaria de Defesa do Meio Ambiente (Sedema), Núcleo de Educação 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 16 Ambiental (NEA), Borella Utilidades Domésticas, Tiro de Guerra, Associação dos Pescadores do Rio Piracicaba, estudantes da Esalq-USP, Unimep e o Instituto Socioambiental representado por Eduardo Malta. Nesse Dia do Meio Ambiente, Rogério aproveitou para enfatizar a importância das árvores. “Elas enriquecem a cidade em muitos aspectos. Promovem diversidade, qualidade de vida, bem-estar, conservação do piso asfáltico, saúde, alimento para a avifauna e seres que interagem com as árvores, convívio social com pessoas de diversas culturas e faixas etárias, que a meu ver são grandes vantagens econômicas, sociais e de Meio Ambiente”, explicou. Exploração das riquezas minerais Terras Indígenas e UCs federais concentram 72% do desmatamento para garimpos na Amazônia em 202013 De janeiro a abril deste ano, 72% do desmatamento provocado por garimpos ilegais em atividade na Amazônia estavam concentrados em áreas protegidas, como Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas (TIs), segundo apontam alertas de desmatamento do Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O desmatamento provocado pelos garimpos ilegais nas UCs da Amazônia aumentou 80,6% nos quatro primeiros meses de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado. Ao todo, a atividade garimpeira desmatou 487 hectares de floresta de janeiro a abril de 2019 e, neste ano, a área desmatada foi de 879 hectares. Já a área de desmatamento para garimpos ilegais dentro de TIs da Amazônia aumentou 13,4% no período de janeiro a abril de 2020, em comparação com os mesmos quatro primeiros meses de 2019. Os dados do Deter são o pano de fundo de um relatório que o Greenpeace divulgaria nesta quinta- feira (25/06). O documento aponta que garimpos estão expandindo áreas de desmatamento ilegal dentro de UCs e TIs da Amazônia em plena pandemia de Covid-19 e reúne registros fotográficos da devastação ligada ao garimpo ilegal em pelo menos quatro áreas protegidas federais, feitos durante um sobrevoo na área realizado em maio. Se, no ano passado, o garimpo foi responsável por desmatar 383 hectares nas TIs amazônicas, nos quatro primeiros meses deste ano a área desmatada nesses territórios foi de 434 hectares. De forma geral, o desmatamento nas terras indígenas aumentou 64% nos primeiros quatro meses de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019. O cenário motivou o Ministério Público Federal (MPF) a entrar com ação exigindo medidas do governo federal contra a mineração ilegal em TIs na Amazônia, entre elas a TI Munduruku e a TI Sai Cinza, no Pará. As quatro áreas preservadas mais desmatadas pelo garimpo na Amazônia nos primeiros quatro meses de 2020 são de gestão federal, segundo o Greenpeace: Parque Nacional (Parna) do Jamanxim, Floresta Nacional (Flona) de Altamira e as TIs Munduruku e Sai Cinza. São imensas clareiras abertas no meio da floresta, com uma movimentação intensa de pessoas, maquinário pesado, veículos e uma ampla infraestrutura de estradas e até pistas de pouso improvisadas. Todas ficam no Pará, estado que lidera o desmatamento na Amazônia e que registrou aumento de 170% nas áreas de alerta de desmatamento do Deter de agosto de 2019 a abril de 2020, em comparação com o mesmo período dos anos anteriores. No Parna do Jamanxim, unidade de conservação de proteção integral onde a exploração mineral é proibida, foram detectados mais de 23 hectares de desmatamento provocados pela atividade garimpeira de janeiro a abril. A Flona de Altamira é outra UC que se destaca negativamente no desmatamento ligado aos garimpos ilegais na Amazônia, apontou o Greenpeace. Lá, segundo alertas do Deter, foram desmatados mais de 13 hectares de floresta só nos primeiros quatro meses deste ano. TIs Munduruku e Sai Cinza concentram 60% do desmatamento em 2020 Entre as terras indígenas mais desmatadas em decorrência da atividade garimpeira na Amazônia em 2020, a TI Munduruku e a TI Sai Cinza, ambas habitadas pelo povo mundurucu, são as que mais preocupam. Juntas, as duas concentram 60% dos alertas de desmatamento para garimpo em TIs da Amazônia identificados pelo Inpe entre janeiro e abril deste ano, aponta o Greenpeace. 13 FolhaPress. Terras Indígenas e UCs federaisconcentram 72% do desmatamento para garimpos na Amazônia em 2020. Folha de Pernambuco. Diário de Pernambuco. https://www.diariodepernambuco.com.br/noticia/brasil/2020/06/terras-indigenas-e-ucs-federais-concentram-72-do-desmatamento-para-ga.html. Acesso em 19 de novembro de 2020. 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 17 Na TI Sai Cinza o desmatamento para garimpo começou neste ano, com pouco mais de 21 hectares desmatados de janeiro a abril. As imagens do sobrevoo realizado pelo Greenpeace dias 12 e 13 de maio, que flagraram a presença de tratores, retroescavadeiras hidráulicas e estradas abertas há pouco tempo, sugerem que o garimpo ali é recente. Equipamentos e maquinário também foram fotografados na TI Munduruku, onde a situação é ainda mais alarmante: lá foram desmatados 241 hectares de floresta nos primeiros quatro meses de 2020, 58% mais que no mesmo período do ano passado, segundo dados do Deter. A disputa entre garimpeiros e índios mundurucus existe há mais de quatro décadas. A primeira incursão de garimpeiros em busca de ouro começou em 1980, mas os indígenas conseguiram expulsar os invasores. No entanto, em meados de 2010 os garimpeiros retornaram, invadindo terras ocupadas por dezenas de aldeias indígenas e cooptando índios para trabalharem nos garimpos ilegais. Na TI Munduruku os indígenas já perderam controle de parte do território. Agora, a preocupação tem mais um motivo: os aumentos dos casos de Covid-19. Liderança mundurucu, Alessandra Korap defende a demarcação de todos os territórios indígenas como medida fundamental para a defesa dos direitos dos índios, mas reconhece que esse demorado processo não é suficiente para garantir isso. "Por isso é que não somos a favor da legalização da mineração em terras indígenas. Nem conseguiram concluir o reconhecimento de um território e já querem explorar", disse Korap. Para ela, o momento não é de discutir a mineração em terras indígenas, mas sim de discutir a homologação das TIs ainda não homologadas e a proteção das homologadas, de forma a proteger a população indígena, também, do coronavírus, que chegou a muitos povos indígenas levado por uma invasão de garimpeiros. "Estamos fazendo uma campanha para montar um hospital de campanha dentro da aldeia, arrecadando material hospitalar, e vamos pedir ao Governo do Pará que contrate profissionais de saúde para atender na aldeia, porque os índios não querem vir para a cidade. Eles estão com medo", contou. Outra área protegida afetada que sofre com o aumento da pressão do garimpo ilegal é a TI Yanomami, nos estados de Roraima e Amazonas. Temendo que a expansão da atividade garimpeira em meio à pandemia colabore para a disseminação de casos de Covid-19 entre indígenas, lideranças ianomâmi e ye'kwana lançaram a campanha #ForaGarimpoForaCovid, que cobra a retirada dos mais de 20 mil garimpeiros que estão na terra indígena. A TI Yanomami está no ranking das TIs mais vulneráveis para a Covid-19, segundo levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que calculou que, no pior cenário, 5.600 dos 13.800 ianomâmis (40% do total) podem se infectar, e o número de mortes pode chegar a 896 indígenas. FLEXIBILIZAÇÃO ENFRAQUECE PROTEÇÃO AMBIENTAL Para a coordenadora da campanha Amazônia do Greenpeace, Carol Marçal, o cenário alarmante é reflexo de medidas adotadas pelo governo federal que flexibilizam a legislação ambiental e as normas infralegais, enfraquecendo a proteção ambiental e violando direitos indígenas em plena pandemia. Entre essas medidas estão os Projetos de Lei (PL) 191/2020, que pretende permitir a exploração mineral e hídrica em terras indígenas, e o PL 2633/2020, que, segundo o Greenpeace, vai permitir a legalização de grilagens feitas em terras públicas até dezembro de 2018. Há ainda a instrução normativa (IN) 09/2020, da Fundação Nacional do Índio (Funai), que está sendo contestada por lideranças indígenas de todo o país por, segundo elas, estimular a ocupação de territórios indígenas em processo de demarcação por pessoas não indígenas. "Todas essas medidas têm um reflexo imediato, que é a intensificação dessas atividades ilegais", afirmou Carol Marçal. Ela lembra ainda que os invasores são possíveis vetores de doenças para os indígenas, "o que, em um contexto de epidemia, é ainda mais alarmante". "Dada a velocidade da disseminação da Covid-19 e seu avanço nas terras indígenas da região, é urgente que o Estado brasileiro responda aos alertas emitidos pelas lideranças indígenas e pelo Inpe, sob pena de testemunharmos um novo genocídio indígena." 1651225 E-book gerado especialmente para JEAN BELICIO CUNHA 18 Exploração mineral dificulta entrada do agronegócio na Amazônia, diz SNA14 Presidente da Sociedade Nacional de Agricultura defende a exploração "consciente" da biodiversidade do bioma amazônico pelo setor agrícola A exploração mineral na Amazônia tem um efeito negativo para o setor agrícola, avalia o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Mello Alvarenga. Em evento no Rio, o representante do agronegócio mencionou problemas de imagem sofridos pela mineração com as recentes tragédias envolvendo barragens como as de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, que podem acabar dificultando a entrada do agronegócio na Amazônia. "A exploração mineral tem que ser muito mais pensada e bem equacionada, porque destrói. A agricultura, se feita com planejamento, constrói", disse ele. "É errado botar garimpo em terra indígena. Acho até que tem que parar com esse negócio de criar mais terras indígenas, mas fazer um liberou geral nas terras indígenas também não é bom", disse, mencionado a destruição da região de Alta Floresta (MT) pelo garimpo ilegal décadas atrás. Durante o Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), nesta quinta-feira, ele defendeu a exploração "consciente" da biodiversidade do bioma amazônico pelo setor agrícola. Para Alvarenga há críticas exageradas no exterior sobre qualquer tipo de atuação na região, o que, segundo ele, é prejudicial em um contexto em que consumidores do mundo inteiro querem comprar produtos sustentáveis e com responsabilidade social. "O Brasil pratica isso, mas tem uma imagem muito ruim", disse. Lei Kandir Questionado sobre as discussões em torno da extinção da Lei Kandir, Alvarenga afirmou que a bancada ruralista é "muito atuante" e vai brigar para "corrigir eventuais avanços que queiram fazer contra o agronegócio brasileiro". Mais cedo ele afirmara que isso teria um efeito devastador para o setor agrícola, reduzindo sua lucratividade e investimentos. A alteração significaria a taxação maior de exportações do agronegócio. Metade das terras indígenas da Amazônia é alvo de mineração15 Estudo revela que, das 379 áreas homologadas na Amazônia, 190 registram algum processo de interesse para garimpo. Um estudo encomendado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM) mostra que metade das terras indígenas homologadas da Amazônia Legal é foco de interesse minerário por empresas ou pessoas físicas. O levantamento mostra que, das 379 terras indígenas homologadas e localizadas na Amazônia Legal, 190 são alvo de algum tipo de processo minerário. Ao todo, 4.050 processos tramitam na Agência Nacional de Mineração (ANM) que incidem sobre terras indígenas já homologadas. O interesse em relação à mineração na Amazônia voltou à tona no início de fevereiro, quando o presidente Jair Bolsonaro enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta a exploração mineral em terras indígenas, alvo de críticas feitas por lideranças indígenas e ambientalistas. O levantamento feito pela ABPM cruzou dados da Funai, ANM e IBGE. O resultado é apontado pelo estudo como uma espécie de bússola que indica as áreas de mais interesse de empresas que visam a exploração mineral na região amazônica. Desde 1988,
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