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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Ensino de Sociologia no C. E. Lauro Corrêa: 
uma abordagem acerca das desigualdades sociais 
 
Marlon da Costa Guimarães1 
Karmahero2000@yahoo.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Professor de Sociologia da SEEDUC-RJ, Licenciado em Ciências Sociais pela UFF e Especialista em Ensino 
de Sociologia pela UFRJ – CESPEB. 
2 
Introdução 
 
Desde o início da minha carreira no magistério em 2007, enfrentei muitas dificuldades 
para avaliar os resultados da minha prática doente, por isso, a monografia final2 do CESPEB – 
Ensino de Sociologia foi desenvolvida tendo como principal objetivo observar a minha prática 
docente e os seus desdobramentos. 
Naquele trabalho, que terá alguma de suas partes apresentadas aqui, eu utilizei como 
base para a pesquisa redações aplicadas aos estudantes do Colégio Estadual Lauro Corrêa3. 
121 estudantes de 5 turmas do Ensino Médio diurno elaboraram os textos durante a primeira 
aula do ano. Nas turmas de 1º ano eu fiz rapidamente uma introdução tema desigualdades 
sociais e logo a seguir pedi a elaboração dos textos. Nas turmas de 2º e 3º anos eu revisei o 
tema desigualdades sociais – conteúdo trabalhado no ano anterior – e depois pedi que 
elaborassem os textos. 
Após essa fase, entre os meses de fevereiro e setembro de 2011, foi feita uma análise 
de conteúdo dessas redações, fundamentada na metodologia proposta por Romeu Gomes4, a 
fim de identificar que tipo de influência o Ensino de Sociologia exerce sobre o aprendizado 
daqueles estudantes. A isso se deve a escolha por analisar textos, tanto de estudantes que 
haviam estudado Sociologia (2º e 3º anos), quanto de estudantes que ainda não a haviam 
estudado (1º ano). 
O processo de análise dos textos ocorreu por meio de categorizações formuladas para 
mediar a leitura do material selecionado com os objetivos da pesquisa. Foram definidas duas 
categorias: série (1º, 2º e 3º anos) e conteúdo (naturalização e desnaturalização). Ambas, 
possibilitaram a decomposição do material coletado em partes analisáveis, auxiliando a 
identificação da influência do ensino de Sociologia para a elaboração dos argumentos 
expressados pelos estudantes. 
Assim, as 121 redações foram categorizadas e analisadas de acordo com a sua 
proximidade ou o seu afastamento das contribuições sociológicas. De maneira que, os textos 
que expressaram influências oriundas do senso comum foram associados à categoria 
naturalização e os textos influenciados pelos conteúdos trabalhados nas aulas de Sociologia 
foram categorizados em desnaturalização. 
 
2 A monografia O Ensino de Sociologia no C. E. Lauro Corrêa: uma abordagem acerca das desigualdades 
sociais foi elaborada sob orientação da professora Ms. Julia Polessa Maçaira (FE/UFRJ). 
3 Trabalho há 5 anos nessa escola, que fica localizada no bairro Trindade, em São Gonçalo – RJ. 
4 GOMES, Romeu. A análise e interpretação de dados de pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de 
Souza (org). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2010. 
3 
De acordo com Romeu Gomes, 
 
“na análise [de conteúdo] o propósito é ir além do descrito, fazendo uma 
decomposição dos dados e buscando as relações entre as partes que foram 
decompostas e, por último, na interpretação – que pode ser feita após a análise ou 
após a descrição – buscam-se sentidos das falas e das ações para se chegar a uma 
compreensão ou explicação que vão além do descrito e analisado.” (GOMES, 2010, 
p.80) 
 
No caso desta pesquisa, a decomposição e a análise dos textos escritos pelos 
estudantes, precederam a interpretação dos dados, que foram interpretados, a fim de 
“caminhar na descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das 
aparências do que está sendo comunicado” (GOMES, 2010, p. 84). Ou seja, para inferir os 
argumentos contidos nas redações, busquei criar condições que ampliassem as possibilidades 
de compreensão daquilo que foi (d)escrito pelos estudantes. 
Para interpretar o material empírico, utilizei também a técnica de análise temática. A 
qual, de acordo com Bardin, considera que: 
 
“ ‘O tema é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto 
analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à leitura’. Trabalhar 
com a análise temática ‘Consiste em descobrir os núcleos que compõem a 
comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição pode significar alguma 
coisa para o objetivo analítico escolhido’ ”. (BARDIN apud GOMES, 2010, p. 87) 
 
Dessa maneira, o conteúdo dos textos foi analisado de maneira transversal, 
delimitando suas unidades de registro – tema, palavras, frases e orações – e relacionando-as 
com suas unidades de contexto – condições que balizaram a construção da mensagem do 
material de pesquisa. A leitura das redações correspondeu ao primeiro passo no processo de 
decomposição do material empírico. A seguir, os textos foram organizados em partes 
analisáveis e categorizados. Dessa forma, as unidades de registro das diversas redações foram 
agrupadas de acordo com os objetivos da metodologia proposta por Bardin, na qual a autora 
apresenta a análise de conteúdo como: 
 
“‘um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por 
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, 
indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos 
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas 
mensagens.’ ” (BARDIN apud GOMES, 2010, p. 83) grifos do autor 
 
Assim, a pesquisa teve as seguintes etapas: a) aplicação e recolhimento das redações; 
b) leitura de todas as redações; c) separação das redações por turmas; d) leitura dos textos 
4 
teóricos; e) elaboração das categorias; f) releitura das redações e dos textos teóricos; g) 
elaboração do relatório final. 
Tendo em vista que o objetivo dessa pesquisa é descobrir se o ensino de Sociologia 
contribuiu para a instrumentalização do entendimento dos estudantes do Ensino Médio do 
Lauro Corrêa a respeito das desigualdades sociais – suas origens, suas formas e sua 
construção histórico-social –, foram formuladas as seguintes hipóteses: a) devido ao fato de 
ainda não terem estudado a disciplina Sociologia, os estudantes do primeiro ano expressam 
suas impressões influenciados pelo senso comum? b) devido à aproximação com os temas, os 
conceitos e as teorias sociológicas durante as aulas da série anterior, os estudantes do segundo 
ano expressam suas impressões transitando entre o senso comum e a teoria sociológica? c) 
devido ao fato de terem tido uma quantidade maior de aulas de Sociologia e de terem 
utilizado o livro didático, os estudantes do terceiro ano expressam suas impressões de forma 
mais sociológica, ou seja, por meio da desnaturalização? 
 
Categorização 
 
Antes da primeira leitura, as 121 redações passaram pela primeira e mais simples 
categorização temática, na qual o material coletado foi dividido de acordo com as séries 
correspondentes: 
 
Série do Ensino Médio Número de redações analisadas 
1º ano 73 
2º ano 21 
3º ano 27 
Total 121 
 
Na segunda categorização temática, o objetivo foi relacionar todos os textos de cada 
série aos critérios das categorias naturalização e desnaturalização, para que se pudesse 
identificar a influência dos conteúdos da Sociologia nas argumentações dos estudantes acerca 
do tema proposto. 
As categorias naturalização e desnaturalização foram atribuídas aos textos que 
expressaram em seus conteúdos o conjunto de critérios listados na tabela a seguir: 
 
5 
Naturalização Desnaturalização 
 
a) ausência de perspectiva histórica e social; 
b) não-identificação das diferentes formas 
de desigualdade; 
c) ausência de perspectivas quanto às 
transformações sociais.a) perspectiva histórica e social; 
b) identificação de diferentes formas de 
desigualdade; 
c) perspectivas quanto às transformações 
sociais. 
 
Se, a desnaturalização corresponde a um processo de superação do senso comum, as 
redações incluídas nesta categoria tem que apresentar todos os três critérios presentes na 
tabela. Enquanto que, para serem incluídas na categoria a naturalização, as redações tem que 
expressar todos os critérios de sua categoria (listados na tabela) ou não apresentar algum dos 
critérios da categoria desnaturalização. Dessa forma, será possível definir se os textos 
aproximam-se mais da teoria sociológica ou do senso comum e, consequentemente, se os 
temas, conceitos e teorias trabalhados nas aulas de Sociologia influenciaram os discursos 
desses estudantes. 
 
Análise das redações 
 
Dos 73 textos recolhidos nas turmas do primeiro ano, 69 foram categorizados em 
naturalização e apenas quatro foram categorizados em desnaturalização. O resultado por si 
só não surpreende se considerarmos que do total de estudantes das três turmas apenas 13 eram 
repetentes e já haviam tido aulas de Sociologia. Porém, os textos destes estudantes repetentes 
surpreenderam pelo fato de nenhum deles ter sido categorizado em desnaturalização. 
As 69 redações categorizadas em naturalização apresentam interpretações que 
generalizam as condições de vida, ignorando os processos históricos e sociais que dão origem 
às desigualdades sociais. Mas, apesar disso, muitos estudantes reconheceram em seus 
argumentos que essas desigualdades se expressam de diversas formas. Os trechos a seguir 
explicitam esta situação: 
 
“[...] as mulheres são tratadas na sociedade [...] como se não conseguissem fazer 
nada sozinhas, como se tudo que elas fizessem deveria ser com a ajuda de um 
homem, eu acho isso errado, tudo bem que existem algumas mulheres que são mais 
sensíveis, mas também existem mulheres que não [são] [...].” (J. T., 1º ano, 
repetente) 
6 
 
“Desigualdade social é algo que não vai acabar, pois temos diferentes tipos de 
religiões, crenças e raças.” (P. F., 1º ano, não-repetente) 
 
“No mundo sempre ‘existiu’ desigualdades, de homem, de mulher, de rico, de pobre 
e essa desigualdade se cria na própria sociedade.” (D. S., idem) 
 
Ao tratar a desigualdade social como um problema social atemporal, negando a 
possibilidade de mudanças sociais, esses estudantes assumem uma concepção idealista da 
história, partindo do pressuposto de que o mundo sempre foi e sempre vai ser assim. Ou seja, 
constroem seus dizeres apropriando-se de ideais oriundos do senso comum, demonstrando 
não perceber a dinâmica das relações sociais. 
A influência do senso comum encontra-se mais explícita nos três trechos a seguir: 
 
“A desigualdade social, dependendo da situação, não vejo como ponto negativo, 
pois quem está em cima hoje em dia, se esforçou para chegar onde está ou nasceu 
em uma família com condições para dar um bom ensino particular, pois os públicos 
não são bons como os particulares.” (L. C., 1º ano, não-repetente) 
 
“E se o mundo fosse rico ‘seria tudo mil maravilhas’, imagina, todas as pessoas 
andando nas ruas com o mesmo estilo de vida? Quem não ia gostar ‘né’?! Mas não 
seria bom, é melhor ter a desigualdade social, o mundo está fluindo desse jeito.” (C. 
V. R., 1º ano, repetente) 
 
“[...] vivemos num país onde a desigualdade social é muito grande, resta a nós nos 
acostumar!” (I. M., 1º ano, não-repetente) 
 
Nesses três trechos, nota-se que a condução dos argumentos perpassa principalmente 
pelo conformismo e pela defesa da necessidade da existência e da continuidade das 
iniquidades, tomando-as como essenciais à manutenção da ordem. Ao justificar e aceitar as 
desigualdades sociais como condição sine qua non à sustentação da vida social, esses 
estudantes revelam não compreender que a construção da ordem social é originada pelo 
processo histórico e social. Isto é, ao rejeitar a possibilidade de mudança do status quo, eles 
formulam concepções fundamentando-se na ideia de que as relações sociais vigentes estão 
consolidadas e seriam imutáveis, o que os leva a entender que as transformações sociais são 
inviáveis e, até mesmo, indesejadas. Desse modo, estes jovens expressam as limitações das 
análises a respeito da vida social baseadas no ideário do senso comum. 
A esse respeito é importante observar que entre os textos categorizados em 
naturalização, existe uma grande quantidade de trechos que apontam o capitalismo e a 
corrupção como origens das desigualdades sociais. Porém, nessas interpretações também se 
7 
percebe o uso de generalizações e de formulações que ignoram o contexto histórico e social. 
E, sendo assim, essas redações não puderam ser inseridas na categoria desnaturalização. 
Diferente da maioria, quatro estudantes contextualizaram as formas de desigualdade 
em suas redações demonstrando em seus discursos a compreensão a respeito da influência dos 
fatores históricos e sociais que originam as desigualdades. Desse modo, seus textos foram 
categorizados em desnaturalização. 
 
“A desigualdade social infelizmente é um dos problemas que o capitalismo nos 
trouxe. [...] o número de pessoas pobres têm aumentado devido a ambição de 
pessoas ricas querendo ficar mais ricas, o que vemos na televisão a respeito disso? 
Nada! Eles deixam o foco e uma vez ou outra, quando a situação está insustentável, 
aí sim eles passam um pouco a respeito disso[...]. Falam de democracia, mas o que 
‘está parecendo imperialismo’.”(W. A., 1º ano, não-repetente) 
 
“Aqueles que não possuem dinheiro são excluídos da sociedade por conta disso. [...] 
Isso acontece por conta do capitalismo. Acho que pode chegar ao comunismo ou ao 
socialismo, mas num futuro bem distante.” (D. C., 1º ano, não-repetente) 
 
“A desigualdade social tornou-se um problema mundial após o capitalismo. Pessoas 
que um dia tiveram ações, posses e poder, hoje em dia passaram a ter mais, e 
pessoas que por sua condição não possuem os mesmos poderes que outras pessoas 
acabam sendo deixadas de lado a cada dia que passa.” (R. L., 1º ano, não-repetente) 
 
“Coisas como essa me ‘revolta’, e sei que revolta muita gente, pena que a nossa 
força por enquanto não é bastante para vencer o capitalismo e conquistar nossos 
direitos. Mas vivemos com esperança de conquistar uma sociedade melhor.” (S. B., 
1º ano, não-repetente) 
 
Percebe-se nesses trechos que, embora esses estudantes ainda não tivessem tido aula 
de Sociologia até o 9º ano do Ensino Fundamental, eles orientam seus argumentos a partir de 
alguns conceitos tratados pela Sociologia escolar – capitalismo, imperialismo, democracia, 
socialismo, comunismo, demonstrando reconhecer a influência do processo histórico e social 
na origem e no aprofundamento das iniquidades (primeiro e segundo trechos), além de 
vislumbrar a chance de transformação do modo de produção (segundo e quarto trechos). A 
mensagem do primeiro texto, por exemplo, explicita indignação diante das condições de vida, 
além de apontar a dominação de classe. No segundo trecho, a mensagem é orientada pela 
possibilidade de uma futura transformação da ordem social. E, no terceiro trecho, o processo 
de expropriação é diretamente relacionado ao aumento dos privilégios de determinados 
grupos sociais. 
8 
No segundo ano, foram analisados 21 textos. No entanto, é importante destacar que a 
origem heterogênea dos estudantes5 comprometeu em parte a pesquisa, no que diz respeito a 
entender o processo de formação promovido pelo ensino de Sociologia, mas não impediu a 
obtenção de dados relevantes para a análise de conteúdo. 
Todos os 21 textos foram categorizados em naturalização. Porém, embora nenhum 
texto tenha sido categorizado em desnaturalização, dez estudantes que tiveram aulas de 
Sociologia no ano anterior apresentaram em suas redações conceitos característicos da teoria 
sociológica. O problema, é que em todos estes textos não se observauma articulação coerente 
destes conceitos com seus sentidos concretos, fazendo com que essas contextualizações sejam 
confusas e equivocadas, destituídas de perspectiva histórica e de perspectiva quanto à 
mudança social. Dessa forma, apesar de algumas mensagens identificarem diferentes formas 
de desigualdades sociais, nenhuma delas apresentou o conjunto de critérios da categoria 
desnaturalização. Como se pode observar nos três trechos selecionados: 
 
“Minha opinião sobre a desigualdade social é que a sociedade está dividida e muito 
mal dividida em classes [...]. Pouco abaixo das classes estão os miseráveis, seja lá 
qual é o nome dado a eles.” (O. B., 2º ano, teve um tempo de aula semanal comigo) 
 
“A verdade é que no mundo em que vivemos, os que têm mais condições são mais 
privilegiados que os que têm menos condições. Até a distribuição de poder é 
distribuída diferenciadamente. É muito poder e dinheiro nas mãos de poucos e 
pouco poder (quase nada) e dinheiro escasso na mão da maioria. Levando essa 
maioria com menos condição a se submeter aos poderosos.” (W. R., idem) 
 
“A desigualdade social no mundo em que vivemos está um pouco avançada. Pois 
cada dia cresce o preconceito, o racismo e até mesmo a pobreza. [...] ninguém é 
melhor que ninguém, apenas diferente! (M. M., idem) 
 
As limitações apresentadas nessas argumentações não possibilitam anunciar que seus 
produtores desnaturalizaram suficientemente as relações sociais. 
Os estudantes do terceiro ano6 começaram a ter aulas de Sociologia a partir do ano 
anterior, em dois tempos de aula semanal e utilizaram o livro didático7 durante o 3º e 4º 
bimestres. Dos 27 textos analisados, seis foram categorizados em desnaturalização. 
 
5 Dos 21 estudantes, apenas 15 pertenciam haviam estudado comigo no ano anterior, destes, 12 vieram do 
primeiro ano (tendo assistido a uma aula semanal de 50 minutos) e três são repetentes (tendo assistido a duas 
aulas semanais de 50 minutos). A formação dos demais estudantes é a seguinte: uma aluna veio de outra escola 
pública teve um tempo semanal de Sociologia; uma aluna veio do curso normal teve dois tempos semanais de 
Sociologia; uma aluna veio do turno da noite e não teve Sociologia; duas alunas vieram de escolas particulares e 
não tiveram Sociologia; um aluno veio de escola particular com um tempo semanal de Sociologia. 
6 24 estudantes estudaram comigo em 2010 nas turmas 2001 (manhã) e 2002 (tarde); dois são repetentes e 
também estudaram comigo; uma aluna veio da rede privada, onde teve um tempo de aula semanal. 
7	
  OLIVEIRA, Luiz & COSTA, Ricardo. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Editora Imperial 
Novo Milênio, 2007. 
9 
Dentre as redações categorizadas em naturalização, três expressaram apenas 
influências características do senso comum e, as demais foram assim classificadas por não 
alcançarem todos os critérios da desnaturalização. Observe os trechos de algumas dessas 
redações: 
 
“[...] a sociedade é assim desde a pré-história.” (F. S., 3º ano, não-repetente) 
 
“Desigualdades sociais ‘é’ um fato que sempre ocorrerá em nosso dia a dia, [...]. 
Conclusão: classes sociais contribuem para as desigualdades sociais.” (U. C., idem) 
 
“O mundo ‘ao’ decorrer de um longo tempo vem sofrendo com diversas 
desigualdades sociais as quais estamos atrelados [...].” (E. L., 3º ano, repetente) 
 
“A desigualdade social é uma divisão de classes, as mais ricas e as mais pobres.” (L. 
F., 3º ano, não-repetente) 
 
Da mesma forma que as redações do segundo ano percorreram caminhos de 
interpretação estéreis, indo do fatalismo à confusão teórica, essas redações do terceiro ano 
padeceram do mesmo problema8. Alguns estudantes distanciaram-se do conteúdo trabalhado 
em sala de aula – demonstrando limitações na articulação dos conceitos com suas respectivas 
definições –, aproximando suas argumentações do senso comum. 
Contudo, seis alunos conseguiram desenvolver o tema proposto, mediando os 
conteúdos trabalhados durante as aulas de Sociologia com suas interpretações, alcançaram os 
critérios da desnaturalização, demonstrando não apenas estranhar as relações sociais, mas 
também certa capacidade de abstração. Pode-se compreender isso ao ler os trechos 
selecionados: 
 
“Não é de hoje que a sociedade presencia um dos pontos mais discutidos pela 
humanidade, a desigualdade social. [...] Todo dia há uma notícia decorrente dessa 
situação. [...] Isso sempre foi uma muralha que separa a sociedade socialista da 
capitalista. E até quando será assim?” (L. S., 3º ano, não-repetente) 
 
“Falar sobre desigualdades sociais é um assunto muito amplo e demorado, pois 
mesmo estando no séc. XXI há muitas desigualdades. [...] A desigualdade também 
toca no assunto do preconceito [...] Espero que no futuro, seja aniquilada essa tal 
desigualdade social.” (W. C., idem) 
 
“A desigualdade social é um dos, se não o maior problema que existe no mundo. [...] 
Cada vez maior, a desigualdade é como uma linha imaginária que separa ricos e 
pobres, brancos e negros. É um problema que parece ser sem solução por sua 
proporção, mas [...] essa solução só terá efeito a longo prazo [...].” (J. S., idem) 
 
8 Fatalismo: primeiro trecho. Confusão teórica: segundo, terceiro e quarto trechos. 
10 
 
“Tudo o que eu achava ser verdade, se foi; toda esperança que existia está 
desaparecendo. Quanto mais o tempo passa vejo que faço parte de um sistema cruel 
[...]. Enquanto houver prole eu acredito em mudança, mesmo que não esteja aqui 
para ver!” (T. M., idem) 
 
Ao discorrer sobre o tema por meio de indagações e análises dentro da perspectiva 
histórica e social, avalio que esses estudantes conseguiram minimamente instrumentalizar os 
conteúdos trabalhados nas aulas de Sociologia em seus dizeres. Além disso, eles conduziram 
suas argumentações apontando alguma complexidade do tema e as dificuldades em 
transformar as condições de vida, sem abandonar a possibilidade de mudança da ordem social, 
mesmo que isto aconteça no futuro e que não se possa estar “aqui para ver”. Nota-se, portanto, 
que esses estudantes desnaturalizam o mundo que os cerca, construindo uma análise 
distanciada dos ideais oriundos do senso comum. 
 
Considerações finais 
 
Após o processo de categorização de todo o material de pesquisa, os resultados obtidos 
foram os seguintes: 
 
 
 
 
 
 
Embora os resultados quantitativos desta pesquisa não constituam a única e nem a 
mais importante referência para interpretar o material coletado, eles indicam que há 
problemas quanto ao alcance de um dos principais objetivos do meu planejamento didático: a 
desnaturalização. 
Desse modo, mesmo que a análise das redações tenha polarizado os textos em apenas 
duas categorias – naturalização e desnaturalização – e as condições de coleta das redações 
possam ter influenciado no resultado quantitativo, esta análise de conteúdo deixou em 
evidência a dificuldade que a maioria dos estudantes dessa escola enfrentou para reconhecer e 
utilizar os conteúdos aprendidos (habilidade) e para articular o conjunto destes conteúdos ao 
elaborar uma análise sobre o tema proposto (competência). 
 1º ano 2º ano 3º ano Total 
Naturalização 69 21 21 111 
Desnaturalização 04 00 06 10 
11 
Além disso, devo destacar que os resultados desta pesquisa significam 
necessariamente que os atuais estudantes do C. E. Lauro Corrêa vivenciem um contexto 
destituído de possibilidades quanto à desnaturalização. Afinal, a dinâmica da vida social 
transforma continuamente a atuação dos atores inseridos no ambiente escolar. Sendo assim, é 
importante ressaltar que os problemas identificados possibilitam ajustes no planejamento das 
aulas de Sociologia. Uma situação muito bem observada por Carvalho, quando a autora 
argumenta que: 
 
“a sociologia não está sendo convocada para ilustrar enciclopedicamente os jovens 
do mundo,mas para imprimir hábitos e uma cultura intelectual ligados àquela 
disciplina - principalmente a crítica à naturalização do que é histórico, às formas 
explícitas e disfarçadas de etnocentrismo, ao preconceito. Por essa razão, afirma 
Lahire, as ciências sociais são de importância primordial na Cidade democrática 
contemporânea. São, enfim, uma forma racional e laica, em oposição às formas 
religiosas e doutrinárias, de socialização de valores. (CARVALHO, 2010, p. 03)” 
 
Ou seja, o professor de Sociologia da Educação Básica não cumpre um sacerdócio, 
mas sim o dever de auxiliar seus estudantes na compreensão do contexto histórico e social que 
produzem as relações sociais, de maneira que eles possam conquistar mais autonomia diante 
das suas condições de vida. E, mesmo que a Escola pública brasileira esteja enfrentando uma 
série de problemas, ela ainda representa o mais importante espaço de formação dos 
trabalhadores brasileiros e da sociedade como um todo. E, diante da complexidade que 
envolve as condições de aprendizagem dos estudantes e as dificuldades impostas ao trabalho 
do professor, a pesquisa sobre o Ensino de Sociologia é essencial para possamos construir 
uma prática balizada na autonomia docente e discente. Principalmente, porque a dinâmica das 
relações sociais que interferem no cotidiano escolar exige do educador uma contínua 
compreensão tanto da realidade na qual está inserido quanto das necessidades subjetivas dos 
estudantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
Referências bibliográficas: 
 
BOMENY, Helena et alli. O que os jovens podem querer com a Sociologia? Campinas: 
Boletim CEDES, 2010. 
BRASIL. Orientações curriculares para o ensino médio. Volume 3 – Ciências humanas e suas 
tecnologias. Brasília: MEC, Secretaria de Educação Básica, pp 101-133, 2006b. 
_______. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997c. 
BURGOS, Marcelo Baumann. Sociologia no Ensino Médio: Oportunidade de inovação na 
escola e na universidade. Campinas: Boletim CEDES, 2010. 
CARVALHO, Maria Alice Rezende de. Sociologuês: Linguagem para uma vida raciocinada. 
Campinas: Boletim CEDES, 2010. 
DAYRELL, Juarez. A Escola "Faz" as Juventudes? Reflexões em Torno da Socialização. 
Campinas, vol. 28, n. 100: CEDES, 2007. 
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). A análise e interpretação de dados de pesquisa 
qualitativa. In Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 29 ed. Petrópolis: Editora 
Vozes, 2010. 
SAES, Décio Azevedo Marques de & Alves, Maria Leila. A Complexidade do Real: A 
Diversidade dos Conflitos Sociais Na Escola Pública. São Bernardo do Campo/SP: UMESP. 
SAES, Décio Azevedo Marques de. Problemas vividos pela escola pública: do conflito social 
aos conflitos funcionais (uma abordagem sociológica). Revista Linhas Críticas da Faculdade 
de Educação da Universidade de Brasília – UNB, volume 10, no. 19, - p. 165-182, jul./dez., 
2004.

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