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. 1 SEDUC/RO História da Educação no Brasil e seus desdobramentos na atualidade. .............................................. 1 Filosofia da Educação. ......................................................................................................................... 8 Sociologia da Educação..................................................................................................................... 13 Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. .......................................................................... 19 Teorias da aprendizagem. ................................................................................................................. 25 Contribuições de Piaget e Vygotsky à Educação. .............................................................................. 30 Transversalidade, transdisciplinaridade e Interdisciplinaridade no Ensino Fundamental. ................... 35 Tendências do pensamento pedagógico. ........................................................................................... 39 Avaliação da aprendizagem escolar. ................................................................................................. 44 Metodologia de ensino. ...................................................................................................................... 50 Didática. ............................................................................................................................................. 54 Planejamento escolar. ....................................................................................................................... 61 Organização do currículo. .................................................................................................................. 67 Cotidiano da escola: conselho de classe, planejamento, avaliação e acompanhamento. .................. 74 Aprendizagem significativa. ............................................................................................................... 89 Educação e cultura afro-brasileira. ..................................................................................................... 90 O Projeto Político Pedagógico da Escola. .......................................................................................... 92 Rotina e gestão em sala de aula. ....................................................................................................... 97 Questões das relações do grupo. .................................................................................................... 103 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 2 Bullying. ........................................................................................................................................... 106 Brincar e aprender. .......................................................................................................................... 109 Educação Inclusiva: Fundamentos, Políticas e Práticas Escolares. ................................................. 111 Bases Legais da Educação Escolar Brasileira: Lei nº 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB e alterações posteriores. .............................................................................................. 123 Resolução nº 04, de 13/07/2010 - Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. ................................................................................................................................................. 145 Políticas Públicas da Educação Básica. ........................................................................................... 161 Estatuto da criança e do adolescente. ............................................................................................. 178 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). .................................................................................... 230 Candidatos ao Concurso Público, O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um bom desempenho na prova. As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao entrar em contato, informe: - Apostila (concurso e cargo); - Disciplina (matéria); - Número da página onde se encontra a dúvida; e - Qual a dúvida. Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados. O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la. Bons estudos! 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 1 Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br Conforme o texto de Bello1, a História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas. A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu. Num programa de entrevista na televisão o indigenista Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer." Podemos também obter algumas noções de como era feita a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta. Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo. Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânicoe, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo. Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da República tentou-se várias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo. Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que frequentam os bancos escolares. Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. E é isso que tentamos passar neste texto. Os períodos foram divididos a partir das concepções do autor em termos de importância histórica. Se considerarmos a História como um processo em eterna evolução não podemos considerar este trabalho como terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato momento em que esse texto está sendo lido. A educação brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas direções. 1 Texto adaptado de BELLO, J. L. P. História da Educação no Brasil e seus desdobramentos na atualidade. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 2 Período Jesuítico A educação indígena foi interrompida com a chegada dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa. No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional. Período Pombalino Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum. Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcopal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro. Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências europeias da época. Além disso, Lisboa passou por um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e precisava ser reerguida. A educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado. Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras. Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução vinda de Portugal. Os professores geralmente não tinham preparação para a função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias. O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educação. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 3 Período Joanino A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para atender as necessidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as ideias fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada, preparando terreno propício para as questões políticas que permearam o período seguinte da História do Brasil. A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Para o professor Lauro de Oliveira Lima (1921- ) "a 'abertura dos portos', além do significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros' (madeireiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura". Período ImperialD. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os cidadãos". Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor. Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas. Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados pífios. Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo. Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional. Período da Primeira República A República proclamada adotou o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição brasileira. Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária pela científica. Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico. O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em detrimento da científica. A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de frequência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 4 Num período complexo da História do Brasil surge a Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes. A década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de mudança das características políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927). Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas diversas reformas de abrangência estadual, como as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928. Período da Segunda República A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de capital, do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produção industrial. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como "Reforma Francisco Campos". Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época. Em 1934 a nova Constituição (a segunda da República) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931. Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação. Período do Estado Novo Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição em 1937. A orientação político- educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional. Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário Também dispõe como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias. No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as discussões sobre as questões da educação, profundamente ricas no período anterior, entrem "numa espécie de hibernação". As conquistas do movimento renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas. Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino profissionalizante. O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário,entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial. Período da Nova República 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 5 O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de 30. Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930. Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à Câmara Federal, dando início a uma luta ideológica em torno das propostas apresentadas. Num primeiro momento as discussões estavam voltadas às interpretações contraditórias das propostas constitucionais. Num momento posterior, após a apresentação de um substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do Estado quanto à educação, inspirados nos educadores da velha geração de 1930, e a participação das instituições privadas de ensino. Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros. Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e escola- parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura; em 1961 a tem início uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire. Período do Regime Militar Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram "comunizantes e subversivas". O Regime Militar espelhou na educação o caráter antidemocrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores. Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. Para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório. Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil. Não conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a Fundação Educar. É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 6 Período da Abertura Política No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e à dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o Regime Militar, profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico, passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome do saber pedagógico. No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio. Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente marcante na educação, foi o trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político. Mesmo que possamos não concordar com a forma como foram executados alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos na área da educação numa só administração. O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cursos e o seu "Provão", onde os alunos das universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso para receber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada em consideração como avaliação das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não diferencia as regiões do país. Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é mais o de manter o "status quo", para aqueles que frequentam os bancos escolares, e menos de oferecer conhecimentos básicos, para serem aproveitados pelos estudantes em suas vidas práticas. Concluindo podemos dizer que a História da Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. Ela é feita em rupturas marcantes, onde em cada período determinado teve características próprias. A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas inseridasno processo, a educação brasileira não evoluiu muito no que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar. Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve caráter nacional no período da Educação jesuítica. Após isso o que se presenciou foi o caos e muitas propostas desencontradas que pouco contribuíram para o desenvolvimento da qualidade da educação oferecida. É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura. E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do modelo europeu de educação, criando soluções novas em respeito às características brasileiras. Como fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiáticos, que buscaram soluções para seu desenvolvimento econômico investindo em educação. Ou como fez Cuba que, por decisão política de governo, erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe para a sala de aula todos os cidadãos cubanos. Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse único, que atenda às necessidades de nossa população e que seja eficaz. Questões 1. Muito se tem falado sobre a atuação dos profissionais da educação no século XXI. Morin (2000) indica que há necessidade de diferentes saberes para uma educação que contemple a humanização. Nessa perspectiva entre os que “fazem” e os que “pensam” as ações educacionais e pedagógicas, tem se perpetuado uma polarização de (A) Habilidades. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 7 (B) Práticas. (C) Teorias. (D) Competências. (E) Tempo. 2. A educação tem uma função social muito importante na sociedade, especialmente no que se refere ao mundo do trabalho e ao universo da tecnologia. Nesta perspectiva, conforme a concepção crítico- social, a educação deve ter como objetivo: (A) Preparar mão-de-obra especializada para suprir as necessidades de desenvolvimento do sistema capitalista, atendendo assim as exigências da produtividade e de crescente divisão social do trabalho. (B) Preparar pessoas para que correspondam docilmente às necessidades do capital, e ocupem seus lugares na sociedade, contribuindo para a manutenção da ordem social. (C) Formar pessoas capazes de pensar criticamente, potencializando o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, emocionais, culturais e relacionais para o pleno desenvolvimento da sociedade. (D) Formar cidadãos para ocuparem lugares fixos e funcionais na estrutura hierárquica da produção e da sociedade. (E) Capacitar prioritariamente pessoas para o domínio das técnicas e tecnologia do mundo do trabalho, dotando-o de capacidade intelectual de competir com os outros. 3. A formação docente abrange duas dimensões: a formação teórico-científica e a formação técnico- prática. A formação técnico-prática visa: (A) A transmissão dos conceitos espontâneos, historicamente construídos pelas civilizações, em prol do sucesso escolar de todos. (B) Uma prática social que visa a aplicação dos princípios e métodos utilizados nas empresas e assegura o ingresso dos alunos das classes populares no mercado de trabalho. (C) Uma prática constitutiva que possa atender as exigências do mercado de trabalho. (D) Uma prática social e histórica, desvinculada das teorias. (E) A preparação profissional específica para a docência. 4. Marque (C), se a alternativa for correta, ou (E), se a alternativa for errada. A análise das tendências pedagógicas no Brasil não deixa evidente a influência dos grandes movimentos educacionais internacionais, da mesma forma que expressam as especificidades de nossa história política, social e cultural, a cada período em que são consideradas. ( ) Correta. ( ) Errada. 5. Quanto às discussões sobre currículo e seus pressupostos sociológicos, assinale a alternativa correta: (A) Currículo, na atualidade, está envolvido com os critérios de seleção e poder, ou seja, com as questões identidade e subjetividade. (B) Para a discussão curricular, selecionar não é uma operação de poder. (C) É precisamente a questão de poder que vai articular as teorias curriculares tradicionais, críticas e pós-críticas. (D) As teorias críticas e pós-críticas de currículo não estão preocupadas com as conexões entre saber, identidade e poder. (E) As teorias tradicionais se concentram nas questões comportamentais. Respostas 1. Resposta: D O ato de aprender é talvez a mais remota habilidade humana, mas a conciliação da construção do conhecimento e da ética na sua aplicação é hoje um dos principais desafios. A cultura construída pela humanidade, seja na história, na filosofia ou ciência precisa ser transmitida aos alunos, que devem ser incentivados a dar passos adiante, o conhecimento devendo ser aprimorado. 2. Resposta: C Qualquer reflexão acerca da qualidade do ensino de uma dada disciplina pressupõe uma determinada concepção sobre a função da educação em geral. Ainda que não tenhamos consciência dela, esta 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 8 concepção é o nosso ponto de referência para a elaboração de juízos de valor acerca da boa ou má qualidade do ensino de uma disciplina. A escola e a educação parecem ter ambas as funções: reproduzem a sociedade numa dinâmica conservadora e, simultaneamente renovadora. Porque há elementos da nossa cultura, da nossa história e tradição que é importante preservar, a escola funciona como um instrumento privilegiado nessa ação de conservação, nesse ato de transmissão da memória de uma civilização. É esta função conservadora que permite viabilizar a inserção de cada indivíduo no meio social em que nasceu. 3. Resposta: E A formação do professor abrange duas dimensões: a formação teórico-científica, incluindo a formação acadêmica específica nas disciplinas em que o docente vai especializar-se e a formação pedagógica que envolve os conhecimentos da Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria pedagogia que contribuem para o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-social; a formação técnico-prática visando à preparação profissional específica para a docência, incluindo a didática, as metodologias específicas, à Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outras. 4. Resposta: E - Errada A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa evidente a influência dos grandes movimentos educacionais internacionais, da mesma forma que expressam as especificidades de nossa história política, social e cultural, a cada período em que são consideradas. Pode-se identificar, na tradição pedagógica brasileira, a presença de quatro grandes tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e aquelas marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas. Tais tendências serão sintetizadas em grandes traços que tentam recuperar os pontos mais significativos de cada uma das propostas. 5. Resposta: A As investigações sobre o currículo e sobre as disciplinas ocupam cada vez mais espaço nos estudos educacionais. Segundo Moreira, ― para os sociólogos das disciplinas escolares, a história do currículo tem por meta explicar por que certo conhecimento é ensinar nas escolas em determinado momento e local e por que ele é conservado, excluído ou alterado‖. Projetos Políticos Pedagógicos das escolas e particularmente docentes têm um papel fundamental ao traduzir para a prática concreta as diretrizes formuladas em âmbito nacional, estadual ou municipal. E cabe aos gestores o importante papel de mediar as discussões curriculares destinadas ao esclarecimento da função que os docentes desempenham na produção do currículo que as escolas colocam efetivamenteem ação. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações. Assim, podemos dizer que, a filosofia cria o ideário que norteia a vida humana em todos os seus momentos e em todos os seus processos. Neste sentido, a filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de agir. É uma arma na luta pela vida e pela emancipação humana. Em síntese, a filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria uma concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva. Esta forma de compreender o mundo tanto é condicionada pelo meio histórico, como também é seu condicionante. Ao mesmo tempo, pois, é uma interpretação do mundo e é uma força de ação. Filosofia da Educação. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 9 Aplicações da Filosofia da Educação2 A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A Filosofia fornece á educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Esses são alguns problemas que exigem a reflexão filosófica. A Filosofia propõe questionar, a interpretação do mundo que temos, e procura buscar novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana. O processo do filosofar Acreditamos já ter indicado que a filosofia é um corpo de entendimentos que compreende e dá significado ao mundo e à existência. Importa saber agora como é que se constitui a filosofia, como é que se constrói esse corpo de entendimentos, que poderemos assumir criticamente como aquele que queremos para o direcionamento de nossas experiências. Para abordar essa questão, em primeiro lugar, temos que colocar na nossa cabeça que o filosofar, além de não ser inútil, não é tão difícil e complicado, como se fosse tarefa só para gente ultraespecializada. Sobre isso Gramsci nos diz que "deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos". Só superando esses preconceitos de dificuldade e de especialidade é que podemos nos convencer de que, a contragosto de muitos governantes e muitos políticos, podemos e devemos nos dedicar ao filosofar. E para dedicar-se a esta atividade que vale a pena discutir o método do filosofar, a fim de que todos nós passemos a praticá-lo cotidianamente. Já vimos que quando não temos um corpo filosófico que dê sentido e oriente a nossa vida, assumimos o que é comum e hegemônico na sociedade; assumimos o "senso comum", que é o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na vivência cotidiana. Para iniciar o exercício do filosofar, a primeira coisa a fazer é admitir que vivemos e vivenciamos valores e que é preciso saber quais são eles. O primeiro passo do filosofar é inventariar os valores que explicam e orientam a nossa vida, e a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da prática humana. Assim, é preciso se perguntar quais são os valores que dão sentido e orientam a vida familiar, se se estiver analisando a família; quais valores compreendem e orientam a vida econômica, se se estiver questionando a economia; quais valores compreendem e orientam a educação, se esta for o objeto de estudo e assim por diante. E preciso, pois, tomar consciência das ações, do lugar onde se está e da direção que toma a vida. Direção que nasce tanto da consciência popular como da sedimentação do pensamento filosófico e político que se formulou e se divulgou na sociedade com o passar do tempo. Feito esse inventário, que certamente nunca será completo e é tão abrangente quanto todos os setores da vida, é preciso passar para um segundo momento – o momento da crítica. Tomar esses valores e submetê-los a uma crítica acerba, questioná-los por todos os ângulos possíveis para verificar se são significativos e se, de fato, compõem o sentido que queremos dar à existência. O padre Vaz, num artigo sobre a "Filosofia no Brasil", diz que esse momento do filosofar assemelha-se a um "tribunal de razão", que faz passar pelo crivo da crítica todos os valores vigentes que dão sentido à nossa cotidianidade. A crítica é um modo de penetrar dentro desses valores, descobrindo-lhes sua essência. E uma forma de colocá-los em xeque e desvendar-lhes os segredos. Contudo, ninguém pode viver exclusivamente da negação, do processo de "vasculhação" dos valores. Não se vive na negatividade. Então, importa um terceiro momento do filosofar: a construção crítica dos valores que sejam significativos para compreender e orientar nossas vidas individuais e dentro da sociedade. Valores que sejam suficientemente válidos para guiar a ação na direção que queremos ir. São, pois, em síntese, três passos: inventariar os valores vigentes; criticá-los; reconstruí-los. E um processo dialético que vai de uma determinada posição para a sua superação teórico-prática. 2 Texto adaptado de LUCKESI, C. Filosofia da Educação – São Paulo: Cortez, 2013 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 10 Diante do exposto, talvez, estejamos exclamando: "mas é tão fácil, assim, o filosofar"? É e não é, ao mesmo tempo! É simples, porém não é mecânico como aparece nesta exposição didática. Na mesma medida em que estamos inventariando os valores vigentes, estamos criticando-os e reconstruindo-os. Isso porque, a não ser para a exposição didática, esses momentos não são seccionados. Um nasce de dentro do outro. Isso se torna mais compreensível se deixarmos o caso de um filósofo individual e tomarmos as correntes teóricas e históricas. Certos entendimentos da modernidade têm vínculos com a Idade Média, e certos valores, que vivemos hoje, tiveram seus prenúncios na Idade Moderna. Algo semelhante ocorre na vida individual do filósofo. Ele entra num processo de crítica dos valores enquanto estes estão vigentes, mas também enquanto entre eles iniciam-se os prenúncios de certas aspirações e anseios dos seres humanos. Assim, por exemplo, Herbert Marcuse, um filósofo alemão contemporâneo, criticou os valores da sociedade industrial e propôs os valores de uma nova sociedade preocupada com uma vida menos unidirecionada para a produtividade econômica e mais voltada para a vida plena, com sentimentos, emoções, amor, vida etc. Como e por que Marcuse conseguiu se posicionar dessa forma? Porque nasceu e viveu após a Revolução Industrial, podendo inventariar e criticar os seus valores. E também por ter vivido num momento histórico em que os seres humanos estão exaustos desses valores e aspirando por outros que lhes garantam mais vida. Marcuse captou o "espírito" dessa época. O filósofo individual, pois, entra na corrente do contexto em que vive. Isso não quer dizer que ele seja um puro reprodutor dessa época, mas sim um captador de seu "espírito", como vimos anteriormente. É assim que nós vamos filosofar: inventariar conceitos e valores; estudar e criticar valores; estudar e reconstruir conceitos e valores.Para que isso ocorra, é preciso não só olhar o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros pensadores, os outros filósofos. Eles poderão nos auxiliar, tirando-nos do nosso nível de entendimento e dando-nos outras categorias de compreensão. Assim, o nosso exercício do filosofar será um esforço de inventário, crítica e reconstrução de conceitos, auxiliados pelos pensadores que nos antecederam. Eles têm uma contribuição a nos oferecer, para nos auxiliar em nosso trabalho de construir nosso entendimento filosófico do mundo e da ação. Filosofia e Educação A educação é um típico "que-fazer" humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada sociedade. As relações entre Educação e Filosofia parecem ser quase "naturais". Enquanto a educação trabalha com o desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. Anísio Teixeira chega a, refletir que "muito antes que as filosofias viessem expressamente a ser formuladas em sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da cultura, nada mais era do que o meio de se transmitir a visão do mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e cultivasse". Evidentemente, nessa afirmação o autor está tomando filosofia como forma de vida de um povo, e não como sistema filosófico elaborado e explicitado deliberadamente. Deve-se mesmo observar que os primeiros filósofos do Ocidente, na quase totalidade, tiveram um "preocupar" com o aspecto educacional. Os chamados filósofos pré-socráticos, os sofistas, Sócrates, Platão foram os intérpretes das aspirações de seus respectivos tempos e apresentaram-se sempre como educadores. Por exemplo, os pré-socráticos, pelo que podemos saber por seus fragmentos, dedicavam-se a entender a origem do cosmos e a criar uma compreensão para a educação moral e espiritual dos homens. Os sofistas foram educadores. Foram, inclusive, no Ocidente os primeiros a receberem pagamento para ensinar. Sócrates foi o homem que morreu em função do seu ideal de educar os jovens e estabelecer uma moralização do ambiente grego ateniense. Platão foi o que pretendeu dar ao filósofo o posto de rei, a fim de que este tivesse a possibilidade de imprimir na juventude as ideias do bem, da justiça, da honestidade. Da mesma maneira, se percorrermos a História da Filosofia e dos filósofos, vamos verificar que todos eles tiveram uma preocupação com a definição de uma cosmovisão que deveria ser divulgada através dos processos educacionais. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 11 Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano, a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação. A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. Nas relações entre Filosofia e educação só existem realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente na cultura vivida do dia-a-dia – e assim se realiza uma ação educativa com baixo nível de consciência. O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela. Assim sendo, não há como se processar uma ação pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Se a reflexão filosófica não for realizada conscientemente, ela o será sob a forma do "senso comum", assimilada ao longo da convivência dentro de um grupo. Se a ação pedagógica não se processar a partir de conceitos e valores explícitos e conscientes, ela se processará, queiramos ou não, baseada em conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua postura cultural. Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa dentro de uma cultura cristalizada e perenizada. Isso significa admitir que nada mais há para ser descoberto em termos de interpretação do mundo. E propriamente a reprodução dos meios de produção. "Por mais grandiosa que seja uma cultura — diz Arcângelo Buzzi — ela jamais é a interpretação acabada do ser. A ciência, a moral, a arte, a religião, a política, a economia são expressões visíveis, codificadas de uma determinada interpretação, que em seu conjunto perfaz aquilo que denominamos cultura ou, de modo mais amplo, `mundo'. Estamos tão habituados a encarar esse `mundo' interpretado como `natural' que não nos damos conta de que ele é apenas possível e realizada interpretação do ser". Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do mundo e ela permanecerá como a única para nós, se não nos pusermos a filosofar sobre ela, a questioná-la, a buscar-lhe novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser detectados no seio da vida humana. Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no espaço. Não há como fugir a essa "fatalidade" da nossa existência. Assim sendo, parecenos ser mais válido e mais rico, para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. E a liberdade no seio da necessidade. Pedagogia Uma pedagogia inclui mais elementos que os puros pressupostos filosóficos da educação, tais como os processos socioculturais, a concepção psicológica do educando, a forma de organização do processo educacional etc.; porém, esses elementos compõem uma Pedagogia à medida que estão aglutinados e articulados a partir de um pressuposto, de um direcionamento filosófico. A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, hoje, direcionam a prática educacional e dos valores que deverão orientá-la para o futuro. Assim, não há como se ter uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais depende desse direcionamento. Para lembrar exemplos corriqueiros, a "Pedagogia Montessori", a "Pedagogia Piagetiana", a "Pedagogia da Libertação" do professor Paulo Freire, e todas as outras sustentam-se em um pensamento filosófico sobre a educação. Se nem sempre esses pressupostos estão tão explícitos, é preciso explicitá-los, desde que eles sempre existem. Por vezes, eles estão subjacentes, mas nem por isso inexistentes. O estudo e a reflexão deverão "obrigá-los" a aparecer, desde que só a partir da tomada de consciência desses pressupostos é que se pode optar por escolher uma ou outra pedagogia para nortear nossa prática educacional. Educação como transformação da sociedade Não há uma pedagogia que esteja isenta de pressupostos filosóficos. É possível compreender a educação dentro da sociedade, com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização. Para tanto, importa interpretar a educação como uma instância dialética, que serve a um projeto, a um modelo,a um ideal de sociedade. Ela trabalha para realizar esse projeto na prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a conservação, contudo se o projeto for transformador, medeia a transformação; 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 12 se o projeto for autoritário, medeia a realização do autoritarismo; se o projeto for democrático, medeia a realização da democracia. Do ponto de vista prático trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino das camadas populares. Lutar contra a marginalidade, através da escola, significa engajar-se no esforço para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições históricas atuais. O papel de uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de luta, de modo a evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes. A educação como transformadora da sociedade recusa-se tanto ao otimismo ilusório, quanto ao pessimismo imobilizador. Por isso, propõe-se compreender a educação dentro de seus condicionantes e agir estrategicamente para a sua transformação. Propõe-se desvendar e utilizar das próprias contradições da sociedade, para trabalhar criticamente pela sua transformação. Quando não pensamos, somos pensados e dirigidos por outros. Os Sujeitos do Processo Educativo: O Ser Humano O ser humano emerge no seu modo de ser dentro de um conjunto de relações sociais. São as ações, reações, os modos de agir, as condutas normatizadas, as censuras, as convivências sadias ou neuróticas, as relações de trabalho, de consumo etc. que constituem prática, social e historicamente o ser humano. O ser humano é prático, pois é através da ação que modifica o ambiente, tornando-o satisfatório ás suas necessidades; e enquanto transforma a realidade, constrói a si mesmo no seio das relações sociais determinadas. O ser humano é social na medida em que vive e sobrevive socialmente. A sua prática é dimensionada por suas relações com os outros. O ser humano é histórico uma vez que suas características não são fixas nem eternas, mas determinadas pelo tempo, que passa a ser constitutivo de si mesmo. Em síntese, o ser humano é ativo, vive determinadas relações sociais de produção, num determinado momento do tempo. Como consequência disso, cada ser humano é propriamente o conjunto das relações sociais que vive, de forma prática, social e histórica. O ser humano se torna propriamente humano na medida em que, conjuntamente com outros seres humanos, pela ação, modifica o mundo externo conforme suas necessidades ao mesmo tempo, constrói- se a si mesmo. Assim, enquanto ele humaniza a natureza pelo seu trabalho, humaniza-se a si mesmo. Educador e educando, como seres individuais e sociais ao mesmo tempo, constituídos na trama contraditória de consciência crítica e alienação interagem no processo educativo. Eles são sujeitos da história na medida em que a constroem ao lado de outros seres humanos, num contexto socialmente definido. Questão 01. (ENADE Pedagogia) Qual a contribuição da disciplina Filosofia da Educação para a formação do educador? (A) Atender à necessidade de organização do pensamento com vistas a um melhor desempenho didáticopedagógico. (B) Dominar o conhecimento historicamente produzido pela humanidade visando a uma cultura erudita. (C) Reunir informações sobre a existência humana para orientar a forma de organizar sua vida privada. (D) Contribuir para as soluções práticas exigidas pelo cotidiano, auxiliando na elaboração do planejamento escolar. (E) Ajudar o professor a identificar e interrogar os valores que estão subjacentes à ação e às concepções do humano. Resposta 01. Resposta: E Pode-se considerar a questão baixo grau de dificuldade, pois é possível eliminar alternativas por não pertenceram ao campo do conhecimento em questão. As alternativas erradas (A, B e D) apontam aspectos gerais de conteúdo didático, o que não permitiria responder à pergunta do enunciado. A alternativa C contém elementos parciais e imprecisos a respeito de possíveis entendimentos de uma 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 13 assim chamada filosofia de vida, ou de certa capacidade em adotar posicionamento diante da vida. Todavia, é insuficiente para responder de modo correto a contribuição da Filosofia da Educação, tal como é solicitado no enunciado da questão. A alternativa E é a única que aponta para uma perspectiva mais plausível do papel da filosofia da educação na formação de professores. Identificar e interrogar valores constitui uma das abordagens mais persistentes da disciplina. Essa alternativa condensa parte da herança do pensamento ocidental que entende como relevante o constante questionamento e ponderação sobre nosso agir e sobre as orientações valorativas de tal agir. Nesse sentido, quando Platão pergunta se é possível ensinar a virtude (Menon), isso significa, em última instância, problematizar a possibilidade da educação, ou seja, como fazer uma transformação psíquica, que produza nos homens a própria formação de si e um novo ethos. A filosofia da educação pensa os problemas da educação, as relações éticas entre os homens, o sentido da formação humana. Em outras palavras, a aventura intelectual do mundo ocidental pensa a formação associada à ética. Sociologia3 Por que é relevante pensar acerca das finalidades do ensino de sociologia? Porque se entende, a partir da argumentação proposta pelos autores Silva, Mills e dos documentos oficiais, que se pode mapear como serão os desdobramentos pedagógicos da organização didática desta disciplina. Os modos de pensar, as visões predominantes sobre a necessidade indicam como a sociologia será trabalhada nos contextos escolares e disso decorre uma postura pedagógica e também metodológica, o que interfere diretamente sobre a visão de organização didática da aula e utilização de materiais pedagógicos. Levando em consideração a obrigatoriedade do ensino de sociologia a partir de 2008, é relevante considerar que, quanto à sociologia como disciplina escolar, [...] existe menos reflexão, estudos e experiências sobre o ensino de sociologia. Estamos numa fase em que temos que estruturar essa dimensão de nossa ciência, a dimensão didática, pedagógica e de reprodução de conhecimentos científicos nos níveis mais básicos da formação humana nas escolas. Conforme a autora percebe, é preciso, além do desenvolvimento específico do conhecimento sociológico, a pesquisa, a reflexão e o estudo acerca da dimensão pedagógica, do como ensinar a sociologia. Neste caso, não mais a sociologia apenas como ciência social, mas agora como componente formativa, presente na educação dos jovens nos currículos escolares. Essa dimensão didática, contudo, não pode ser pensada sem revisar as finalidades da presença da sociologia na educação básica. A autora ainda argumenta que uma das finalidades do ensino de sociologia seria a de desenvolver a imaginação sociológica. Conforme Mills, a imaginação sociológica capacita seu possuidor a compreender o cenário histórico mais amplo, em termos de seu significado para a vida intima e para a carreira exterior de numerosos indivíduos. Permite-lhe levar em conta como os indivíduos, na agitação de sua experiência diária, adquirem frequentemente uma consciência falsa de suas posições sociais. Dentro dessa agitação, busca-se a estrutura da sociedade moderna e dentro dessa estrutura são formuladas as psicologias de diferentes homens e mulheres. Através disso, a ansiedade pessoal dos indivíduos é focalizada sobre fatos explícitos e a indiferença do público se transforma em participação nas questões públicas. [...] A imaginação sociológica nos permite compreender a história e a biografia e as relações entre ambas, dentro da sociedade. Essa é sua tarefa e sua promessa. A marca doanalista social clássico é o reconhecimento delas [...]. É sobre a biografia dos estudantes e suas experiências sociais que o ensino de sociologia ganha seu significado, ao fazê-lo compreender de forma diferente sua história de vida, levando em consideração os condicionantes históricos e sociais que interferem diretamente em sua individualidade. Também, permite ao estudante, ao pensar em fatos de sua existência, a distinção entre o que seja individual e o que seja de origem social em sua vida. Com essa percepção diferenciada da realidade, é possível intervir também de modo diverso nesta mesma realidade, porque o conhecimento sociológico faz ver quais os mecanismos que fazem a vida social ser como é. Deste modo, o jovem, desenvolvendo sua imaginação sociológica, tem condições de 3 Texto adaptado GIORDANI, E. M. RODRIGUES, A. W. L. Sociologia da Educação. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 14 perceber diferentes possibilidades de futuro, porque somente vendo essas questões e mecanismos é que será possível desfazê-los, desconstruí-los. Meneghetti indica os alunos desde tenra idade, devem aprender que existe a sociedade. Esta sociedade que tem suas leis, sua organização, sua cultura, suas instituições, seu modo de ser, que é materializada e presente em toda e qualquer particular atividade humana, e que determina concretamente a existência da pessoa. O conhecer e considerar a sociedade não significa eliminar a possibilidade da existência singular e criativa do indivíduo no interior do sistema social. Contudo, elimina o solipsismo e a incapacidade de viver e se realizar no interior do sistema social. Para Meneghetti, o jovem a fim de crescer precisa apreender a se colocar de modo capaz frente a existência desta realidade, a sociedade. Precisa aprender que, além de si mesmo, existem os outros e estes outros já fizeram história e pertencem ao mesmo tempo em que ele a algo que é comum, é de todos, todos são sócios, são partes de um mesmo inteiro. Para o autor trata-se de desenvolver uma educação à responsabilidade integral da pessoa no sistema social. E, o desenrolar desta consciência não será possível, sem que o professor pense em que conteúdos que responsabilize-os sobre suas responsabilidades e deveres frente a sociedade que pertence. As finalidades do ensino de sociologia com estas discussões estavam postas, contudo, com a implantação da disciplina da sociologia não havia uma discussão a respeito de um programa mínimo da disciplina. Os professores, nas escolas, trabalhavam ao seu modo sem orientações sobre quais os conteúdos curriculares deveriam ser desenvolvidos. Se o problema que tange a um programa mínimo está resolvido, importa pensar na dimensão didática deste ensino. Quais metodologias seriam capazes e indicadas para atingir as finalidades destes temas? É importante ressaltar que um ensino calcado na exposição de conteúdos e técnicas, que não leve o aluno a pensar sobre sua existência e a “estranhar” e “desnaturalizar” sua própria realidade não é capaz de atender aos objetivos do ensino de sociologia. Segundo Silva, o ensino de sociologia brasileiro passou por 4 tendências pedagógicas. A primeira denominada clássica-científica se estendeu até 1971, levava em consideração uma formação humanística, a partir das pesquisas sociológicas existentes, e figurava como uma disciplina que buscava cientificizar o pensamento sobre a realidade brasileira, ao trazer aos alunos conhecimentos sobre pesquisas sociológicas. A segunda compreende o período da ditadura militar, a tendência tecnicista, marcada pela repressão às “identidades científicas e disciplinares dos diferentes campos do saber”. Nesta, o professor aprenderia técnicas e ferramentas a fim de transmitir aos alunos a reprodução de ideologias públicas oficiais. A terceira tendência é chamada de científica, em pleno movimento de democratização, buscava a superação de um ensino vazio de significados (tecnicista), por isso retomou as disciplinas tradicionais. A quarta tendência refere-se ao ensino por competências. Segundo a autora, as disciplinas são desvalorizadas e em especial a sociologia passa a figurar em projetos transversais. Neste contexto, essa noção de competências está ligada à uma reorganização do trabalho no capitalismo contemporâneo e o quanto os currículos se prendem às necessidades imediatas da reestruturação do trabalho, da sociedade de consumo e do cotidiano dos alunos. Isso significa empobrecimento dos conteúdos, simplificações, etc. Como visto, a educação, ao longo da história, vem sofrendo diversas transformações que atingem todos os indivíduos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Pode-se analisá-la pelas tendências pedagógicas, as quais possuem suas características próprias. Observa-se que nenhuma dessas correntes esgotou-se, uma vez que todas fazem parte do cotidiano escolar e que de algum modo estão incorporadas nas práticas pedagógicas. Libâneo diz que “evidentemente tais tendências se manifestam, concretamente, nas práticas escolares e no ideário pedagógico de muitos professores, ainda que estes não se deem conta dessa influência”. A partir do entendimento da autora, é preciso na atualidade do ensino de sociologia considerá-las e definir os princípios didáticopedagógicos da prática do ensino de sociologia, que implica fazer a análise e reflexão sobre os objetivos da escola e concomitantemente da educação básica. Sem isso, tende-se a cair no reprodutivismo de qualquer uma das tendências, sem que se crie algo novo e coerente com o hodierno. É preciso que a imaginação sociológica esteja presente para desnaturalizar a didática utilizada em sala de aula, para que se efetive um ensino de sociologia que una o cientificismo com as competências. Afinal, competências não se desenvolvem ao léu, mas a partir de conteúdos e reflexões. Talvez a própria imaginação sociológica possa ser entendida como uma competência a se desenvolver. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 15 Questões 01. Assinale a alternativa que descreve o objeto próprio da Sociologia, segundo Emile Durkheim. (A) A cultura, resultado das relações de produção e da divisão social do trabalho. (B) O fato social, exterior e coercitivo em relação à vontade dos indivíduos. (C) O conflito de classes, base da divisão social e transformação do modo de produção. (D) A sociedade, produto da vontade e da ação de indivíduos que agem independentes uns dos outros. (E) A ação social que define as interrelações compartilhadas de sentido entre os indivíduos. 02. (SEDUC-PI - Professor – Sociologia – NUCEPE/2015) Sobre socialização é CORRETO afirmar que é o processo (A) de divisão da riqueza social entre os indivíduos em uma determinada sociedade. (B) de formação de grupos sociais. (C) de constituição de grupos políticos. (D) por meio do qual o indivíduo aprende e interioriza o sistema de valores, de normas e comportamentos de uma determinada cultura, sendo sua condição de classe um aspecto decisivo para a garantia de que aconteça. (E) por meio do qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade 03. (SAEB-BA - Professor - Sociologia - CESPE /2013) O conceito de socialização relaciona-se (A) à divisão das riquezas acumuladas por meio de heranças. (B) ao processo em que os indivíduos são preparados para participar de sistemas sociais. (C) à criação e à fixação da individualidade do sujeito na sociedade. (D) à socialização do Estado, com o objetivo de torná-lo democrático. 04. No que se refere às instituições sociais, assinale o que for correto. (A) A linguagem é uma instituição fundamental da sociedade, expressando e estabelecendo símbolos compartilhados. (B) A grande maioria das sociedades não possui regras que regulamentam as relações sexuais e a procriação de filhos; no entanto, onde elasexistem, são praticamente as mesmas. (C) Para a maioria dos indivíduos, a família aparece como a primeira instituição social, já que, para eles, ela é considerada o fundamento básico das sociedades. (D) As instituições sociais podem ser consideradas formas sancionadas de papéis, padrões e relações, cujo objetivo é satisfazer necessidades sociais básicas. (E) O Estado supervisiona apenas os aspectos exteriores da vida social; portanto, não pode ser definido como uma instituição social. 05. Problemas sociais como desagregação familiar, desemprego, analfabetismo e conflitos religiosos, vividos pelos homens no atual contexto, levam À Sociologia não somente a estudá-los, mas, sobretudo, dar respostas aos mesmos. Esses problemas que levam ao estudo da família, economia, educação e religião inserem se no conceito de: (A) Papéis e status sociais (B) Instituições Sociais (C) Sociedade de massa (D) Processo de comunicação (E) Assimilação 06. (ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio – INEP/2014) Existe uma cultura política que domina o sistema e é fundamental para entender o conservadorismo brasileiro. Há um argumento, partilhado pela direita e pela esquerda, de que a sociedade brasileira é conservadora. Isso legitimou o conservadorismo do sistema político: existiriam limites para transformar o país, porque a sociedade é conservadora, não aceita mudanças bruscas. Isso justifica o caráter vagaroso da redemocratização e da redistribuição da renda. Mas não é assim. A sociedade é muito mais avançada que o sistema político. Ele se mantém porque consegue convencer a sociedade de que é a expressão dela, de seu conservadorismo. NOBRE, M. Dois ismos que não rimam. Disponível em: www.unicamp.br. Acesso em: 28 mar. 2014 (adaptado). A característica do sistema político brasileiro, ressaltada no texto, obtém sua legitimidade da (A) dispersão regional do poder econômico. (B) polarização acentuada da disputa partidária. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 16 (C) orientação radical dos movimentos populares. (D) condução eficiente das ações administrativas. (E) sustentação ideológica das desigualdades existentes. 07. A discussão levantada na charge, publicada logo após a promulgação da Constituição de 1988, faz referência ao seguinte conjunto de direitos: (A) Civis, como o direito à vida, à liberdade de expressão e à propriedade. (B) Sociais, como direito à educação, ao trabalho e à proteção à maternidade e à infância. (C) Difusos, como direito à paz, ao desenvolvimento sustentável e ao meio ambiente saudável. (D) Coletivos, como direito à organização sindical, à participação partidária e à expressão religiosa. (E) Políticos, como o direito de votar e ser votado, à soberania popular e à participação democrática. 08. (Piauí – Professor de Filosofia – FUNADEPI/2013) A expressão estratificação deriva de estrato, que quer dizer camada. Por estratificação social entendemos, exceto: (A) A distribuição de indivíduos em grupos e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. (B) O processo de aquisição é assimilação dos valores, das normas, regras, leis, costumes e as tradições do grupo humano do qual fazemos parte. (C) Que essa distribuição dos indivíduos se dá pela posição social, a partir das atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura social. (D) Que em determinadas sociedades podemos dizer que as pessoas estão distribuídas pelas camadas alta (classe A), média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestígio. (E) Por exemplo, que na sociedade capitalista contemporânea, as posições sociais são determinadas basicamente pela situação dos indivíduos no desempenho de suas atividades produtivas 09. De acordo com o texto, a desigualdade social se explica: (A) Pela distribuição da riqueza de acordo com o esforço de cada um no desempenho de seu trabalho. (B) Pela divisão da sociedade em classes sociais, decorrente da separação entre proprietários e não- proprietários dos meios de produção. (C) Pelas diferenças de inteligência e habilidade inatas dos indivíduos, determinadas biologicamente. (D) Pela apropriação das condições de trabalho pelos homens mais capazes em contextos históricos, marcados pela igualdade de oportunidades. 10. Na Sociologia da Educação, o currículo é considerado um mecanismo por meio do qual a escola define o plano educativo para a consecução do projeto global de educação de uma sociedade, realizando, assim, sua função social. Considerando o currículo na perspectiva crítica da Educação, avalie as afirmações a seguir. I. O currículo é um fenômeno escolar que se desdobra em uma prática pedagógica expressa por determinações do contexto da escola. 1250957 E-book gerado especialmente para ALEXANDRE BENICIO ALVES ALEXANDRE . 17 II. O currículo reflete uma proposta educacional que inclui o estabelecimento da relação entre o ensino e a pesquisa, na perspectiva do desenvolvimento profissional docente. III. O currículo é uma realidade objetiva que inviabiliza intervenções, uma vez que o conteúdo é condição lógica do ensino. IV. O currículo é a expressão da harmonia de valores dominantes inerentes ao processo educativo. É correto apenas o que se afirma em A. I. B. II. C. I e III. D. II e IV. E. III e IV. Respostas 01. Resposta: B A única alternativa possível é a B, pois no livro “As regras do método sociológico” Durkheim explicita que o objeto próprio da sociologia é o fato social e, na tentativa de fixar as bases desta nova ciência, propõe que se trate os fatos sociais como coisas, as quais devem ser pesquisadas empiricamente, denunciando assim a influência positivista do seu tempo. A busca pelos fatos sociais é, portanto, a busca por tudo aquilo que restringe o comportamento humano e que ao mesmo tempo proporciona coesão social, tudo aquilo que já é dado quando o indivíduo surge na sociedade e, provavelmente, continuará existindo quando ele desaparecer. 02. Resposta: E O processo por meio do qual o indivíduo aprende a ser um membro da sociedade é designado pelo nome de socialização. É a imposição de padrões sociais à conduta individual. Esses padrões chegam mesmo a interferir nos processos fisiológicos do organismo. Os padrões impostos durante o processo de socialização são altamente relativos. Dependem não apenas das características individuais dos adultos que cuidam da criança, mas também dos vários grupamentos e classes sociais a que pertencem esses adultos. 03. Resposta: B Socialização é o processo através do qual os indivíduos são preparados para participar dos sistemas sociais. Incluída neste conceito a alguma compreensão de símbolos e sistema de idéias, linguagem e as relações que constituem os sistemas sociais. 04. Resposta: D Embora satisfaça necessidades e ocorra através das relações sociais, a linguagem representa muito mais os códigos de uma instituição do que propriamente uma instituição autônoma. Isto porque não é possível aferir à linguagem valores e comportamentos da mesma forma que ocorrem em outras instituições, como por exemplo, a solidariedade na instituição familiar, a compaixão na instituição religiosa, o empreendedorismo nas instituições econômicas. Com essa interpretação eliminamos a alternativa A. A alternativa B além de ser generalizante é bastante imprecisa. Apesar de afirmar corretamente que a família é uma primeira instituição social, a alternativa C peca por basear-se apenas na opinião da maioria dos indivíduos. A alternativa D é a que melhor apresenta uma definição de instituição social A alternativa E é equivocada por, além retirar do Estado a definição de instituição social ainda o descaracteriza quanto as suas funções. 05. Resposta: B Além da família, Igreja, empresas e escola serem instituições relacionadas aos problemas citados na questão, A instituição
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