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Comentários Vídeo - Francis Schaeffer: Vida & Pensamento-6/8-Guilherme de Carvalho O dualismo é, certamente, um veneno mortal. Tudo começou no Éden, quando o homem deliberadamente escolheu afastar-se de Deus e a cada novo século esse abismo aumenta. O Homem tem cada vez mais perdido a noção da presença de Deus no Mundo. E quanto mais afastado mais dualista ele se torna. Claro que esse fato iria refletir em todos os atos do Ser. O artista é, como cita Guilherme, uma “esponja”, absorve o pensamento de sua época. Ele é, muitas vezes, uma espécie de profeta de seu tempo: muito do que ainda não chegou à cultura de massa já é por ele pensado e produzido. O exemplo disso é o famoso quadro de Pablo Picasso, Les Demoiselles d'Avignon, de 1907. Essa obra resumia todas as ideias que fervilhavam na época de Picasso. Ela é o símbolo da arte moderna, segundo Rookmaaker. O movimento cubista, no qual Picasso fazia parte, buscava preservar a “verdadeira” beleza da arte primitiva, mas impessoal. Para o homem moderno, a natureza é a única realidade verdadeira, existindo apenas o Ser biológico/psicológico. Havia se perdido o pessoal, pois não há mais um Deus pessoal. Os elementos pertencentes a natureza (animais, plantas, homens) são as mesmas coisas e, portanto, não havia sentido em representá-los de forma diferente. Havia uma semelhança importante das ideias platônicas de uma ideia básica por trás da realidade (mundo das ideias). Outra marcante semelhança ao platonismo das obras dessa época são as formas geométricas, onde, para Platão, as formas geométricas eram as ideias mais profundas por trás da realidade. Mas mesmo com uma aparência racionalista, a arte cubista tem um salto irracional, um tipo de emoção sem expressão direta, rompendo com a aparência tradicional do homem. Isso chocou até mesmo os amigos de Picasso. A falta de expressão nas faces “coisificava” as figuras. Todavia, poucos anos mais tarde, Picasso chegou à conclusão de que sua busca por representar os “universais”, as ideias primordiais que estruturam a realidade, na verdade era absurda e sem sentido. Ele percebeu que sua arte estava perdendo um contato com a humanidade, com o pessoal. Não existiam universais. Assim, para conhecer o amor verdadeiro era necessário ter uma experiência específica de amor, por exemplo. Caso não, só era possível ter uma ideia abstrata do que é amor. Aqui nesse momento há a tensão personalidade/ciência natural que Guilherme cita no vídeo (https://youtu.be/IoaGgnGenzc? t=3889). Então, se os universais não existem, o Mundo não tem sentido. O conceito do absurdo desenvolvido posteriormente por Sartre, Camus e o teatro do absurdo já estava semeado nessa época. A peça Ubu Roi (1896) de Alfred Jarry é um reflexo dessa nova realidade que se mostrava: uma demonstração que não era naturalista, mas que tentava demonstrar que não havia verdade, que tudo pode acontecer. Mesmo antes dessa época, a ideia do absurdo já era contemplada, mas de um modo diferente, com certo humor (Alice no País das Maravilhas, 1865). Agora, entretanto, esse era o centro do pensamento que movia essa época. https://youtu.be/IoaGgnGenzc?t=3889 Essas são as bases para a arte que temos hoje. Como escreve Rookmaaker, ao romper com a realidade, Picasso abriu a caixa de pandora: Marcel Duchamp. E a representação foi ficando cada vez mais abstrata, fragmentada e particular. Por isso acredito que entender a História da Arte e seus desdobramentos é muito importante para compreender como chegamos a hipermodernidade, a Era ênfase do progresso técnico científico, na valorização da razão humana e do individualismo, da fluidez das relações, ou seja, da exacerbação do que já acontecia na modernidade. Portanto, há algo de extrema importância a refletir aqui: se não há verdade absoluta, tudo são particulares, a arte tornou-se parte do salto irracional na busca por experiência individual. Agora vamos pensar na música cristã que ouvimos e cantamos na igreja hoje. Há uma imensa conexão com esses conceitos: uma busca por uma experiência espiritual que arrebata, mas que vai embora na mesma rapidez que chegou! Letras vãs, com repetições infinitas e melodias que fazem o cristão entrar numa espécie de transe (ex.: Livres para Adorar) ou músicas com mais se assemelham a autoajuda gospel, que declaram a vitória e que Deus tem obrigação de abençoar e que o Homem é o centro (Ex.: Anderson Freire). Dou ênfase na música, pois é a forma de arte que os cristãos mais consomem. Infelizmente, boa parte dela está imersa nos conceitos da hipermodernidade. Elas reforçam esse dualismo, uma desconexão com a realidade de Deus. Muitas vezes é no momento que louvamos na igreja que damos o salto irracional, pois na vida prática aquela música não tem significado, foi apenas uma experiência mística. Por ficar preso nessa “teia”, o artista cristão se torna pouco criativo, pois Há um apenas certos tipos de música que são aceitáveis na igreja, mas acredito que isso pode ser tema para futura discussão. Um outro ponto que me chamou bastante atenção no vídeo foi que para o homem hipermoderno não é necessário ter base racional para ter fé, ela pode ser apenas um símbolo. Assistindo o 23º episódio da 6º temporada de Star Trek: nova geração, intitulado Rightful Heir (Herdeiro legítimo), observei exatamente o que Guilherme fala. Isso me causou uma admiração que não pude deixar de compartilhar. Em resumo, o tenente Worf (um personagem da raça Klingon) sofre uma crise de fé. Para encontrar respostas, ele viaja ao Templo de Boreth, onde há vários sábios e rituais Klingon. Lá ele tem um encontro com o messias aparentemente ressuscitado das antigas crenças religiosas e históricas Klingon, Kahless. Descrente no começo, várias evidências (inclusive científicas) levam Worf a acreditar que aquele Kahless é realmente o messias esperado. Entretanto, no desenrolar dos fatos, ele descobre que o esse homem não passa de um clone desenvolvido pelos próprios sábios do templo. Decepcionado, Worf se vê em meio a uma crise diplomática, pois o povo Klingon está dividido e precisa de alguém para reuni-los novamente. Então ele propõe ao governo que, mesmo sendo uma fraude, Kahless deve ser empossado como imperador, mas sem poder real, apenas um símbolo para a nação Klingon. Ele diz: “Eu disse que não é Kahless mas na mente do nosso povo ele pode ser tão poderoso quanto Kahless [...] muitos em nosso povo precisam de algo em que acreditar como eu precisava, algo maior do que eles mesmos algo que dê significado às suas vidas [...] Apesar dos fatos eles ainda vão crer nisso eles vão dar um salto de fé. [...] Nosso povo está se tornando decadente e corrupto ele precisa ter uma liderança moral, ele pode ser esse líder como imperador, o poder político continuará com o alto conselho. Kahless será a figura simbólica, mas terá habilidade de agrupar as pessoas, liderar pelo exemplo e guiá-las em assuntos espirituais. Saiba que o verdadeiro poder vem do coração. Você teria o poder de mudar o coração klingon, fazê-lo retornar aos modos honrados de acordo com os ensinamentos originais de Kahless.” Worf nada mais é que uma representação da linha do desespero. Mesmo que a ciência diga que aquele não era o Kahless real, ainda representava o símbolo que Worf teria que passar para seus descendentes através do salto de fé.
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