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CANCRO CÍTRICO 1. Descrição O Brasil lidera a produção de citros no mundo com mais de 1,44 milhões de estabelecimentos produzindo laranja, limão e tangerina (SANTOS, 2019), sendo responsável, por exemplo, por 79% do suco de laranja comercializado mundialmente (NEVES et al., 2017). Contudo, apesar de sua irrefragável contribuição à economia brasileira, a citricultura enfrenta problemas os quais podem colocar em risco o seu desenvolvimento, podendo-se citar a doença do cancro cítrico (ALLEONI,2022). Tal patologia é causada pela ação das bactérias Xanthomonas citri, as quais possuem preferência de desenvolvimento nas folhas e frutos mais novos e nos tecidos danificados por ação mecânica (queda, por exemplo) ou ação de insetos, visto que tais locais são mais acessíveis à entrada do patógeno no organismo. Quando instaladas no tecido, as bactérias - cuja sobrevivência depende da permanência de lesões velhas na planta - multiplicam-se somente no ponto de infecção, local esse onde liberam enzimas que destroem as células vegetais para a obtenção de nutrientes, processo este que manifesta-se, dentre outras formas, como pontos de necrose ao longo do órgão afetado (MANEIRA e DANELLA NETO,2019). Segundo Ryan et al(2011), citado por Oliveira (2019), as Xanthomonas citri, podem ser disseminadas na plantação por meio de práticas agrícolas (como a poda), água da chuva, uso de solo contaminado e de estruturas das plantas como estômatos e lenticelas, tendo uma ação destrutiva às plantações de citrus a nível mundial. 2. Surgimento Provavelmente, a origem do cancro cítrico se deu no sudeste da Ásia, que é o centro de origem dos citros. Pressupõe-se que a doença tenha se espalhado para outros continentes por meio de navios japoneses contendo plantas contaminadas de Trifoliata e Satsuma (FAWCETT,1933). Os primeiros relatos da doença foram constatados por FAWCETT e JENKINS (1933) no herbário “Royal Botanic Gardens de Kew” na Inglaterra. A bactéria se encontrava em folhas de C.medica L. coletadas na Índia no século XVII. No Brasil, o primeiro caso de cancro cítrico foi constatado em 1957, na região de Presidente Prudente em São Paulo (KIMATI e GALLI, 1980), que foi introduzido através de material difusivo de citros infectados, oriundo do Japão (Bitancourt, 1957). Mais adiante, a ocorrência do patógeno foi relatada em outros municípios paulistas e Estados do Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (NEMKTA et al., 1996). 3. Sintomatologia Os sintomas mais comuns aparecem nas folhas e é nessa que se encontram maiores quantidades dos efeitos visíveis, todavia, essa doença causa danos também em frutos e ramos prejudicando o desenvolvimento da espécie atingida. Folhas: Os sintomas tornam-se visíveis em folhas de duas a cinco semanas após a infecção. No início, formam-se pontos escurecidos, muitas vezes com amarelecimento ao redor, resultado da multiplicação da bactéria e encharcamento do tecido vegetal, os sintomas evoluem para pústulas de coloração marrom-clara. As lesões são observadas primeiro na face inferior. Com o progresso da doença, tornam-se maiores e podem atingir mais de um centímetro de diâmetro. Nesta fase são circulares, salientes e visíveis nos dois lados da folha. Na maioria das vezes, apresentam halo amarelado evidente, mas é possível encontrar lesões com diferentes níveis de amarelecimento ao seu redor ou mesmo sem halo. É possível ainda que ocorram sintomas com bordas mais escuras. Em ferimentos mecânicos ou provocados pelo minador dos citros, as lesões apresentam a mesma textura e coloração, mas o formato e o tamanho variam, resultado da penetração da bactéria em maior extensão do tecido das folhas. De modo geral, as brotações de plantas de laranja permanecem suscetíveis à infecção por quatro a seis semanas figura 1- Folha figura 2- Folha Fonte: Elevagro Fonte: Fundecitrus Frutos: Os sintomas nos frutos são bem aparentes e as lesões aparecem na parte voltada para o exterior da copa das plantas. Isso ocorre devido à maior exposição desse lado a chuvas e ventos, fatores que aumentam a predisposição às infecções, as manchas são salientes, mais superficiais, parecidas com verrugas, de cor marrom no centro. Em estágio avançado, as lesões provocam o rompimento da casca figura 3 - Fruto figura 4- Fruto Fonte: Revista Globo Rural Fonte: Oliveira,R.(2008) Ramos: lesões de cancro cítrico em ramos são menos frequentes que nos demais órgãos. Estas lesões são importantes para a sobrevivência da doença no pomar, pois permanecem na planta por vários anos. Além disso, podem resultar em rachaduras, que levam à seca do ramo e prejudicam o seu desenvolvimento, sobretudo nos primeiros anos da planta, essas lesões também são salientes, na forma de crostas de cor parda. figura 5 - Ramo Fonte: Fundecitrus 4. Epidemiologia A multiplicação da bactéria X. axonopodis pv. citri ocorre nas células do parênquima, logo após a penetração. Esse processo ocorre, predominantemente, quando as lesões estão se expandindo, sendo o número de bactérias produzidas por lesão diretamente proporcional à suscetibilidade do hospedeiro. Sob condições favoráveis à doença, o número de bactérias aumenta em média 1000 vezes a cada 20 dias (FUNDECITRUS, 2000). Das lesões, na presença de água livre sobre os tecidos, as bactérias podem se dispersar para infectar outros tecidos em crescimento da mesma ou de outras plantas. As condições ideais para o desenvolvimento da doença são umidade e temperatura entre 25ºC e 30ºC. Portanto, os pomares irrigados por aspersão ou microaspersão apresentam condições mais adequadas para o desenvolvimento da doença (OLIVEIRA, R.P et al., 2001). A bactéria também se multiplica em temperaturas que variam entre 20ºC e 35ºC (NAMEKATA, 1991). Sob temperaturas inferiores a 12ºC e superiores a 50ºC, a bactéria mantém-se viva, porém na forma inativa (FUNDECITRUS, sem data). A suscetibilidade das folhas, ramos e frutos ao cancro cítrico é inversamente proporcional à formação de camadas de cutículas, que ocorre durante o desenvolvimento desses tecidos. Em outras palavras, os tecidos aumentam o nível de resistência à medida que se tornam maduros. Nos frutos, o período mais crítico para a infecção ocorre durante os 90 primeiros dias após a queda das pétalas. A incidência de lesões após esse período resulta, apenas, na formação de pústulas pequenas. Sob condições ideais para o desenvolvimento da doença, os primeiros sintomas iniciam-se de cinco a sete dias após a inoculação. Porém, quando as condições são pouco favoráveis à doença, os primeiros sintomas somente aparecem 60 dias após a inoculação (GOTO, 1992). Qualquer condição que atrase a maturidade dos tecidos do hospedeiro ou que promova a emergência de novas brotações aumenta a probabilidade de ocorrência de novas infecções. Da mesma forma, árvores jovens apresentam maior disposição à infecção do que as mais velhas e plantas enxertadas sobre porta-enxertos menos vigorosos, como o Trifoliata, tendem a apresentar menor incidência de cancro cítrico, devido ao menor número de fluxos de crescimento por ano (TIMMER et al., 2000; REIS et al., 2008). Como a bactéria se desenvolve em uma faixa ampla de temperatura, acredita-se que o fator mais importante para o desenvolvimento da doença seja a distribuição das chuvas (DALLA PRIA et al., 2004; THEISEN, 2007). O desenvolvimento da doença pode ser bem sucedido em qualquer região citrícola que apresente um período chuvoso de alguns meses, com temperatura média entre 20ºC e 35ºC. A doença torna-se mais severa quando a temperatura média no período chuvoso for de 26ºC a 32ºC (NAMEKATA, 1991). As regiões de clima tropical e subtropical, caracterizadas pela ocorrência de altas temperaturas e precipitações simultâneas, como observado na primavera e no verão da região Sudeste do Brasil, quando ocorrem os maiores surtos de crescimento das plantas, são as mais favoráveis à bactéria do cancro cítrico, impossibilitando qualquertentativa de convivência com a doença no pomar. Por outro lado, nas regiões de clima temperado, que apresentam inverno rigoroso, como no Japão e no Rio Grande do Sul, onde os invernos são úmidos e os verões secos, diminui, consideravelmente, o potencial de multiplicação da bactéria (PRUVOST et al., 2002), tornando-se possível a convivência, embora o ideal seja a prevenção do cancro cítrico. 5. Etiologia O cancro cítrico é originado pela bactéria Xanthomonas citri subsp. citri. Tratam-se de bactérias Gram-negativas, com formato de bacilos, aeróbias obrigatórias que necessitam de oxigênio para se desenvolver e esse tipo de bactéria não realiza fermentação, apresentam formato de bastonete com presença de um único flagelo polar e não formam esporos. Cada patovar é desconforme por causa da idiossincrasia do hospedeiro, características morfológicas, fisiológicas, bioquímicas, patogênicas e sorológicas (ROSSETTI et al., 1993). A bactéria Xanthomonas citri subsp. citri ataca a árvore pelas folhas, o caule, os frutos e as ramagens, no seu crescimento vegetativo e frutificação, sendo capaz de sobreviver por alguns dias diretamente sobre o solo e alguns meses quando está em tecido vegetal no solo. Ademais, quando em tecidos vegetais separados e livres do solo conseguem permanecer com vida diversos anos. Outrossim, o transpasse da bactéria acontece apressuradamente quando exposta a luz solar direta. A principal fonte de inóculo são as pústulas foliares. Os climas tropicais e subtropicais são os mais propícios para o desenvolvimento da doença, por conta da alta temperatura e chuva ao mesmo tempo. 6. Controle e/ou manejo Atualmente, a doença do cancro cítrico pode ser controlada por meio da eliminação das plantas infectadas (ALLEONI,2022), ou a poda de partes doentes da planta, visto que essa patologia manifesta-se em focos. Concluída esta etapa, o talhão contaminado deve ser pulverizado com bactericida à base de cobre, para reduzir a população do patógeno e proteger as brotações e os frutos novos de infecção pela bactéria (R. JÚNIOR et al, 2001). As propriedades contaminadas com a doença devem ser interditadas, sendo proibidas de comercializar até não ser mais possível detectar foco de cancro cítrico em um período de dois anos (R. OLIVEIRA et al, 2008). Ainda, vale citar o uso de quebra-ventos arbóreos, prática esta que têm se mostrado eficiente em reduzir a incidência de cancro cítrico em pomares, visto que diminui a ação do vento nas plantas cítricas e na disseminação do patógeno (R. JÚNIOR et al, 2001). Apesar de os métodos de controle mostrarem-se efetivos para evitar a disseminação da doença na plantação, R. Oliveira et al (2008) cita ainda que os custos e prevenção ao cancro cítrico são notoriamente menores que os dispensados ao controle dos indivíduos já infectados no pomar. Dentre tais métodos de prevenção, pode-se ressaltar a escolha de cultivares mais resistentes; aquisição de mudas e sementes certificadas e livres do patógeno; utilização de instrumentos que diminuam a incidência do vento às árvores; Higiene de trabalhadores e instrumentos utilizados em campo (como máquinas, enxadas e terçados); controle do minador-do-citrus, lagarta essa que abre galerias na árvore e favorece a entrada das bactérias causadoras da doença. Referências ALLEONI, Natália. Perfil genético e fenotípico de linhagens Xanthomonas citri isoladas de pomares com diferentes incidências de cancro cítrico. 2022. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/216546/alleoni_n_tcc_rcla.pdf?sequence =8&isAllowed=y . Acesso em: 23 mar 2022. JÚNIOR, Rui; VERONA, Luiz; HUANG, Giovanina. Controle de cancro cítrico na Região Oeste Catarinense. Citros, Santa Catarina, v. 14, n. 2, p. 1-13, 2001. Disponível em: https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/article/download/1389/1239. Acesso em: 23 mar 2022. MANEIRA, R.; DANELLA NETO, P. Cancro cítrico: estratégias na prevenção e controle da doença.Informativo Técnico Nortox, [s.l], ed. 22, ano 2019, p. 1-4, Disponível em: https://portal-api.nortox.com.br/technical-information/file/e75a0ee6-3592-46ad-8351-5d4bbce 1c34f.pdf. Acesso em: 24 mar 2022. NEVES, M. F.; TROMBIN, V. G. Anuário da citricultura. CitrusBR. São Paulo, 2017. Disponível em: https://citrusbr.com//download/biblioteca/CitrusBR_Anuario_2017_alta.pdf .Acesso em: 23 mar 2022. OLIVEIRA, D.R. Caracterização funcional de sistemas de dois componentes em Xanthomonas citri. Orientador: Regina Lucia Baldini. 2019. Dissertação ( mestrado em bioquimica) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/46/46131/tde-25112019-161528/publico/D issertCorrigidaDuilioRodriguesOliveira.pdf. Acesso em: 24 mar 2022. 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