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1 PRÁTICAS DE GESTÃO EM SERVIÇOS SOCIAIS 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 INTRODUÇÃO................................................................................................. 3 PRIMEIRAS PROPOSTAS PARA UMA CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA .................................................................................................................... 6 Abordagem gerencial na Administração pública .............................................. 9 ASSISTENTE SOCIAL NA GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS ............... 12 A intervenção profissional no campo da política social e seus desafios na atualidade ................................................................................................................. 16 GESTÃO E TRABALHO PROFISSIONAL: PLANEJAMENTO E AÇÃO PROFISSIONAL ....................................................................................................... 23 Considerações finais ..................................................................................... 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 31 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Os Assistentes Sociais, independente dos espaços ocupacionais em que estão inseridos, devem captar novas mediações e requalificar o fazer profissional, atribuindo-lhe particularidades e descobrindo alternativas de ação (IAMAMOTO, 1997). Um dos maiores desafios atualmente para o Serviço Social, segundo a autora, é o desenvolvimento da capacidade de decifrar a realidade para construir propostas de trabalho criativas, capazes de preservar e efetivar direitos a partir da demanda emergente do cotidiano, “ser um profissional propositivo e não só executivo.” (IAMAMOTO, 2007, p. 20). As práticas de gestão em Serviço Social se tornam uma ferramenta eficaz no cotidiano de trabalho, porém, compreender e assimilar tais práticas ainda são um desafio aos profissionais. O Serviço Social na contemporaneidade deve voltar seu fazer profissional para além de um trabalho na esfera da execução, rompendo com uma visão endógena constituída historicamente, mas atuar na formulação e gestão de políticas públicas, conforme demandas do mercado atual. No contexto, as práticas de gestão no âmbito da profissão, bem como, apontar a importância deste tema na formação acadêmica dos futuros Assistentes Sociais com enfoque nas relações humanas. Embora o Serviço Social tenha mantido um viés 4 conservador, de controle da classe trabalhadora até meados de 1970 no Brasil, o mesmo experimentou novas influências ao final deste período e início dos anos 1980, por meio da luta contra a ditadura e pelo acesso universal aos direitos sociais, civis e políticos do proletariado (IAMAMOTO e CARVALHO, 1995; NETTO, 1992; PEREIRA, 2008). Essa nova leitura da sociedade tem exigido dos Assistentes Sociais o comprometimento com a afirmação de um projeto profissional que prime pela equidade e justiça social. Entretanto, pensar nesse “novo” fazer profissional requer o engajamento contra o conservadorismo, arraigado em práticas meramente pontuais, imediatistas e paliativas, reduzidas a atividades administrativas. Desse modo, a academia tem um papel fundamental na formação profissional, pois através das características do docente, do discente, dos objetivos do ensino e dos conteúdos apreendidos, essa nova leitura da sociedade e da práxis profissional, influenciarão a construção de novos instrumentais de trabalho e intervenção, atribuindo um perfil mais crítico e propositivo aos Assistentes Sociais contemporâneos. “Foi realizada uma pesquisa qualitativa e como forma de analisar o tema em questão foi realizada revisão de literatura a partir do levantamento de produções científicas nacionais, consultadas através de livros, artigos e sites de pesquisa científica (BOM SUCESSO, 1997; IAMAMOTO, 1995, 1997, 2007; NETTO, 1992; OLIVEIRA, 1993; QUEIROZ, 1994; SILVA, 2006), dentre outros.” A perspectiva contemporânea sobre o estado da arte na Administração Pública revela não só uma recorrência de temas, dilemas e paradoxos mas também uma constante busca de relevância e de novos conhecimentos para a solução de problemas práticos. O olhar histórico facilita a compreensão da validade e a relevância do saber administrativo, pois, muitas vezes, só a sua aplicação delimita seus aspectos positivos ou negativos. Assim, percebe-se uma história de ensaios, acertos, erros e novas promessas de abordagens. Na perspectiva prática, há pressões para mais e melhores serviços e uma expectativa de solução imediata de problemas urgentes: o público espera da Administração Pública o melhor atendimento de suas demandas sociais, pelo uso Paulo Roberto de Mendonça Motta paulo.motta@fgv.br Professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de 5 Empresas, Fundação Getulio Vargas – Rio de Janeiro – RJ, Brasil eficiente de recursos e transparência dos atos. De outra parte, o meio acadêmico, no anseio por oferecer diferentes e melhores alternativas, desenvolve propostas teóricas distintas, que, por vezes, rompem completamente com o passado ou representam práticas antigas com diferentes roupagens. A introdução de uma nova dimensão teórica revela sua potencialidade para solucionar questões específicas e contribuir para sua validade perante a comunidade, sem possibilidade de gerar verdades absolutas, tampouco de resolver problemas de maneira generalizada. Por causa de um crescente dinamismo, novos problemas pressionam para novas soluções. Técnicas e processos de trabalho recém-introduzidos tornam-se rapidamente vulneráveis: sofrem os desgastes naturais de uma realidade mutante, mais complexa e demandante de maior eficiência. A recorrência dos temas, em face da experimentação, sedimenta o paradoxo da dúvida sobre relevância ou utilidade prática. Resultados negativos e inesperados, bem como dificuldades práticas, conduzem a ciência a caminhos não trilhados com uma renovada esperança de contribuir para a solução de problemas. 6 PRIMEIRAS PROPOSTAS PARA UMA CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA As ideias sobre uma Administração Pública eficiente avançaram com a Revolução Industrial e com o enfraquecimento dos poderes aristocratas e absolutistas. No século XVIII, por causa de uma incipiente burocracia pública, já havia, na Prússia, preocupações de gestão centradas no controle, nas finanças públicas e na comunicação das ordens públicas. Nesse mesmo período, a experiência prussiana levou não só à criação dos primeiros cursos de Administração Pública comotambém à proposta de uma nova ciência do cameralismo ou da Administração (AMATO, 1958). No século XIX, problemas sociais, políticos e econômicos dominavam a Europa e, assim, acentuavam-se as inquietações sobre as práticas democráticas e a eficiência no setor público. Diferentes demandas e necessidades provocavam constantes reformas administrativas. Por serem ainda rudimentares, os conhecimentos sistematizados 7 sobre a Administração pouco ajudavam na solução dos problemas. Nessa mesma época, nações novas, como os Estados Unidos, buscavam nos modelos europeus inspiração para práticas democráticas. Presumiam-se as constituições e as leis como fundamentos lógicos e necessários para garantir a nova democracia. No entanto, problemas administrativos e ineficiência na prestação dos serviços revelavam a insuficiência da ordem jurídica. Constatou-se ser a criação de instituições políticas sólidas e responsáveis incapaz por si só para apoiar a ação efetiva do Estado. Mesmo tendo sido a Europa pioneira em propor uma ciência da Administração pública, lá, de início, a ideia pouco progrediu, nem mesmo quanto da separação entre as atividades da política e da Administração. Os europeus, a prevalência da dimensão constitucional legal sobre as ações administrativas seria uma garantia de eficiência e de eficácia na gestão pública. O direito público e, sobretudo, o direito administrativo, aliados à disciplina e a obediência às normas, forneceriam os padrões necessários e suficientes para uma boa gestão. Ademais, o sistema parlamentarista criara uma separação legal entre política e Administração. A ênfase no legalismo inibia ou tornava o debate, pelo menos no seu início, algo inócuo. Nota-se que, na época da criação do Estado moderno, não se visualizava a Administração Pública como uma vasta prestadora de serviço, e sim como uma forma de ordenar o mundo democrático. Assumindo dimensões de prestação de serviços, a eficiência da Administração Pública passou a ser um estágio importante para assegurar a democracia. Surgiam propostas para uma Administração independente da política e fundamentada em um campo de estudos e de conhecimentos próprios, como uma ciência. Apareciam os primeiros sinais de incentivo para o desenvolvimento dessa área do conhecimento. Inspirado em Joseph Wharton, que proclamava a necessidade do ensino universitário em Administração para superar a gestão autocrática e baseada na família, em 1881, é criado o primeiro curso de graduação em Administração que sobreviveu às dificuldades e descrenças da época (SASS, 1983). Os movimentos para uma nova ciência e o ensino da Administração parecem ter incentivado Woodrow Wilson, jurista e estudioso da Administração Pública que chegou à presidência dos EUA. Em 1887, Wilson fez uma proclamação sólida para o estudo e novas práticas da Administração pública: lembrava ser mais fácil fazer uma 8 constituição e definir posturas democráticas do que aplicá-las. Admirador das práticas europeias e consciente da ineficiência crônica da Administração pública, Wilson preconizou a dicotomia – política e Administração – e a introdução do estilo privado na gestão pública. Pregava, ainda, a necessidade dos estudos sistematizados de Administração e a revisão geral da organização e dos métodos de trabalho no governo (WILSON, 1955). Quando Wilson e Wharton propuseram uma nova ciência e uma nova prática administrativa, estavam conscientes de que a gestão pelos donos do poder, ou por leis, seria insuficiente para a gestão mais eficaz. O esforço para o ensino independente da Administração facilitava uma ciência da Administração Pública separada da política. Porem separadas, as semelhanças com a gestão privada eram mais nítidas, e a gestão privada seria uma inspiração para a gestão pública. Ao contemplar a Administração Pública fora da política, incluindo a neutralidade do servidor, facilmente se justificava a gestão pública semelhante à de uma empresa privada. A separação de política e Administração favorecia a visão gerencialista na Administração pública. Posteriormente, no início do século XX, houve uma busca de princípios universais de Administração. No entanto, o avanço dos princípios administrativos foi concomitante às frustrações e decepções com a ineficiência da Administração pública. Tentativas de implantar neutralidade política e profissionalização da gestão pública enfrentavam imensos obstáculos políticos. Ademais, as práticas administrativas em vários países revelavam os limites da universalidade dos ainda incipientes princípios administrativos. Devagar, foi desenvolvendo a crença de que a ciência da Administração Pública não progride independentemente de fortes laços políticos, do meio cultural, nem divorciada dos ditames de uma época. O estudo da Administração Pública deveria considerar peculiaridades e contexto, logo uma visão mais abrangente e holística. O modelo até então predominante era caracterizado pelo foco excessivo em mecanismos de controle, tendo como resultado a redução da eficiência, de mecanismos de transparência e da objetividade da Administração; daí a morosidade e o privilégio de interesses de grupos específicos. Admitindo-se como impossíveis a neutralidade da gestão pública, seu distanciamento da política e a universalidade de princípios práticos, a melhor proposta seria comprometer os gestores públicos com valores essenciais. 9 Assim, os valores serviram de base quase como uma ética universal de gestão, em que equidade, eficiência e eficácia condicionariam comportamentos administrativos, e não propostas práticas de gestão (FREDERICKSON, 1980; DENHARDT, 2012). Surgiu, assim, nos anos 1970, o movimento da Nova Administração Pública – de duração efêmera pela: 1. dificuldade de operacionalizar os valores em termos práticos; 2. aproximação maior com a política; 3. desconsideração inadvertida dos instrumentos práticos de gestão. A separação entre política e Administração continuou a ser o principal objetivo. A busca contínua de novos padrões de eficiência resultou no avanço da perspectiva gerencialista, resultando em novo movimento de grande impacto contemporâneo. Abordagem gerencial na Administração pública Desde o século XIX, propõe-se assemelhar a Administração Pública à empresa privada. Anunciada muitas vezes durante décadas – poucas vezes efetivada – essa ideia espalhou-se com uma nova e promissora modalidade de gestão pública nas últimas décadas do século XX. O New Public Management (NPM) apresentou-se com o objetivo primordial de fazer a Administração Pública operar como uma empresa 10 privada e, assim, adquirir eficiência, reduzir custos e obter maior eficácia na prestação de serviços. Como ideologia, o NPM recuperou ideal do liberalismo clássico, sobretudo a redução do escopo e do tamanho do Estado e a inserção do espírito e dos mecanismos de mercado no governo. Nesse sentido, a Administração Pública deveria apenas direcionar os serviços, e não executá-los diretamente. Havia uma preferência por terceirizar e contratar fora. Por meio de vários provedores privados, poder-se-iam usar os benefícios da competição entre eles, evitando monopólios e permitindo maior flexibilidade na gestão (OSBORNE e GAEBLER, 1995). Ao pretender uma orientação mercadológica, propunha-se mais competição, descentralização e privatização, com maior poder para os gestores dos serviços. Ao governo, caberia executar funções que lhe seriam exclusivas e inapropriadas à execução ou ao controle por mecanismos de mercado (OSBORNE, 2010; DENHARDT, 2012; KETTL, 2000). Os servidores públicos desempenhariam as atividades-fim do Estado com maior eficiência, assumindo o papel de prestadores de serviço. Os cidadãos seriam vistos como clientes e usuários dos serviços públicos, em vez de meros recipientes da ação do Estado. O governoconcentraria seus esforços nas suas atividades essenciais e exclusivas, direcionando e garantindo o suprimento das necessidades básicas (e direitos) da sociedade por meio de transferências para o setor privado e o terceiro setor. Por princípio, a Administração Pública desempenha algumas atividades melhor que as empresas e vice-versa (OSBORNE e GAEBLER, 1995). O NPM viria a apresentar uma abordagem gerencial distinta, tendo focos no cliente, no gestor, no resultado e no desempenho. O foco no cliente viria a considerar o cidadão um cliente e incorporar singularidades das demandas individuais. O foco no gestor proporcionaria maior autonomia e flexibilidade para favorecer ajustes na linha de frente, fixar resultados, firmar contratos e controlar o desempenho organizacional; o intuito era de, possivelmente, criar uma cultura organizacional com valores empresariais. O foco no resultado traria, para a Administração pública, por meio do planejamento estratégico do tipo empresarial, as metas e os indicadores de desempenho. O foco no desempenho viria a substituir, em parte, as tradicionais avaliações por competições de mercado. Sugeriu-se que, pelo foco no produto, na eficiência e no resultado, as organizações públicas poderiam ter flexibilidade e autonomia para 11 introduzir bônus pelo desempenho. Para avaliar, passariam a ser introduzidos orçamentos indicativos centrados em resultados que, como na empresa privada, facilitariam a flexibilidade da gestão. No sentido social, o NPM chegou a ser visto como um fator de legitimação política do estado social, que neutraliza a tentativa neoliberal de reduzir os serviços sociais e científicos prestados pelo Estado. O estado do bem-estar implicaria dualmente, o grande aumento da organização estatal e da gestão mais eficiente e redução de custos, paralela à oferta de serviços de consumo coletivo (BRESSER PEREIRA, 2010). As propostas do NPM avançaram rapidamente em época de nova ascensão das ideologias liberais, pois gastos e deficits públicos já assustavam governos. Promessas de reinvenção da Administração Pública eram bem-vindas pela população, pois trouxeram um novo otimismo na gestão pública por sucessivas idealizações de maior qualidade e eficiência. A crença em um mundo contemporâneo de mudanças rápidas e exigentes de novas soluções favorecia a proposição de inserção de práticas flexíveis de gestão privada no setor público. As reformas associadas ao NPM encontraram entusiastas (HUGHES, 2003), críticos severos (FLYNN, 2012) e muitas análises sobre benefícios e consequências negativas (POLLITT e BOUCKAERT, 2004; PETERS, 2010; CHRISTENSEN e LAEGREID, 2007). Políticas públicas, estruturas, processos de trabalho e instrumentos gerenciais foram analisados, reacendendo os debates sobre os limites das teorias e práticas administrativas. Entre as críticas mais enfáticas ao NPM, vale mencionar. 12 ASSISTENTE SOCIAL NA GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS A gestão das politicas sociais significa a gerência e direção da coisa pública, este exercício de administrar e conduzir deve garantir o acesso da sociedade a benefícios e serviços de natureza pública. Para tanto analisar a gestão das politicas sociais sugere referenciar à gestão de ações públicas como resposta, as necessidades sociais que tem origem na sociedade e são incorporadas e processadas pelo Estado em diferentes esferas de poder. Portanto, se faz necessário analisar a gestão como fenômeno sócio histórico, ou seja, compreendê-la como expressão de uma totalidade social, observando suas possibilidades e limites. Em outros termos, a gestão das políticas, programas e projetos sociais não se autonomizam dos contextos históricos em que se realizam (BARBOSA, 2004 apud BORDIN 2013). Em termos gerais, a complexidade dos problemas sociais se torna necessária à integração dos diversos atores na gestão das politicas sociais com já afirmada. A sua execução se expressa na parceria entre o Estado, sociedade civil e demais organizações, possuindo na intersetorialidade um fator de inovação na gestão da politica, que possibilita a articulação com as diversas organizações que atuam com politicas sociais. De acordo com Junqueira (2004, p.9) a intersetorialidade constitui 13 uma concepção que deve informar uma nova maneira de planejar, executar e controlar a prestação de serviços como forma a garantir um acesso igual dos desiguais. Nesse contexto, apresentam-se, então novas tendências na gestão das políticas sociais, sendo uma delas a gestão compartilhada, na qual: “Há uma clara percepção de que os atores sociais e sujeitos coletivos presentes na arena política são corresponsáveis na implementação de decisões e respostas às necessidades sociais. Não é que o Estado perca a centralidade na gestão do social, ou deixe de ser o responsável na garantia de oferta de bens e serviços de direito dos cidadãos; o que se altera é o modo de processar esta responsabilidade”. (CARVALHO, 1999, p.25). Segue afirmando que nesse contexto a descentralização, a participação, o fortalecimento da sociedade civil pressionam por decisões negociadas, por políticas e programas controlados por fóruns públicos não estatais, em uma execução em parceria (CARVALHO, 1999). Aliado a isso, os gestores assistentes sociais deverão ser lideranças capazes de atuar na gestão pública como agentes potencializadores na adesão do projeto democrático de sociedade e de gestão que se pretende o gestor público devendo ter competência teórico-metodológica, ético-política e técnico- operacional tanto para analisar os movimentos da economia, da política, da sociedade e de seus grupos e indivíduos (FILHO, 2013 p.225). Para tanto Mioto (2001 apud Lima, 2004 p. 61) chama atenção para o projeto etico politico dos assistentes sociais que: [...] contém tanto uma dimensão operativa quanto uma dimensão ética, e expressa no momento em que se realiza o processo de apropriação que os profissionais fazem dos fundamentos teórico- metodológico e ético-políticos da profissão em determinado momento histórico. São as ações profissionais que colocam em movimento, no âmbito da realidade social, determinados projetos de profissão. Estes, por sua vez, implicam diferentes concepções de homem, de sociedade e de relações sociais (MIOTO, 2001 apud LIMA, 2004 p. 61) Dessa forma Torres e Lanza (2013, p.207 ) considera a gestão das politicas sociais como sendo um dos principais campos de trabalho do assistente social, os autores destacam ainda dois pontos considerados importantes: a Lei de 14 regulamentação da profissão a as discursões sobre a origem da profissão no Brasil. De acordo os incisos dispostos na lei, esse profissional deve realizar ações características do planejamento e da gestão de serviços vinculados as politicas públicas, ao estabelecer como competência: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 1993, p. 36-37). De acordo Iamamoto, (2011 p.425) historicamente a atuação dos profissionais assistentes sociais se consolida em espaços de instituições públicas, privadas, entidades socioassistenciais. Espaços esses reconhecidos por possibilitar a universalização de direitos sobre uma gestão democrática. A gestão social é como um processo social permeado por contradições e disputas oriundas das expressões das desigualdades sociais geradas por uma sociedade capitalista madura, que demandam e pressionam as instâncias que compõem a sociedade e os projetos societários que representam, a um processo de construção e implementaçãode ações e estratégias, firmados por pactos sociais formais e/ou informais, que visem o desenvolvimento social num determinado território. (SILVA 2014 APUD BORDIN 2013 P.45): Dessa forma Cardoso e Fagundes (2013) concluem que: os profissionais assistentes sociais gestores devem aliar seus princípios éticos profissionais aos princípios éticos norteadores dos trabalhadores. Portanto no processo de gestão o papel de politizar e dar visibilidade aos interesses da população usuária no país, sabendo que não basta tão somente a alta qualidade técnica de nosso trabalho, pois corremos o risco de sermos bons gestores despolitizados (YAZBEK 2008). PEntretanto, o exercício da profissão requer um profissional informado, crítico, culto e atento ao mundo contemporâneo, competente na gestão e elaboração de projetos, avaliação de programas e projetos sociais, capacitação de recursos, gestão de pessoas, socializando informações e conhecimentos, propondo novos serviços e ampliando o espaço do Serviço Social (PEREIRA E BENETTI, 2014, p.7). 15 No entanto para Trindade (2012) tais atribuições exigem do profissional a necessidade de elaborar procedimentos e lidar com instrumentos que possuem um perfil diferenciado daqueles utilizados no relacionamento direto com os usuários. Dessa maneira, os assistentes sociais na gestão de politica pública atuam como articuladores e negociadores dos interesses das classes subalternas por intermédio do Estado para atender e responder de maneira efetiva as condições essenciais ao exercício da cidadania (GIMENEZ E ALBANESE, 2015). Assim, o trabalho desenvolvido pelos profissionais nas esferas de formulação, gestão e execução da política social é, indiscutivelmente, peça importante para o processo de institucionalização das políticas públicas, tanto para a afirmação da lógica da garantia dos direitos sociais, como para a consolidação do projeto éticopolítico da profissão. Para tanto o enfrentamento dos desafios nesta área torna-se uma questão fundamental para a legitimidade ética, teórica e técnica da profissão (MIOTO E NOGUEIRA 2013 p.65). Neste aspecto Souza (2012, p.12) aponta que ao compreendermos que o Serviço Social é uma profissão historicamente constituída, percebemos também que ela é mutável e, portanto, suas determinações estão dadas na realidade. A autora segue, afirmando que compreender a realidade em toda a sua complexidade é um desafio apresentado ao assistente social, que tem sido convocado a dar novas respostas no âmbito do exercício profissional, não apenas na execução, mas também na formulação e gestão das políticas públicas (SILVA 2014 APUD BORDIN 2013 p.45), assim como na formulação de novas elaborações teóricas, compreendendo que: [...] o esforço está, portanto, em romper qualquer relação de exterioridade entre profissão e realidade, atribuindo-lhe a centralidade que deve ter no exercício profissional [...] e o reconhecimento das atividades de pesquisa e o espírito indagativo como condições essenciais ao exercício profissional. (IAMAMOTO, 2001, p.55-56). Note-se que “novas possibilidades de trabalho se apresentam e necessitam ser apropriadas, decifradas e desenvolvidas; se os assistentes sociais não o fizerem, outros o farão absorvendo progressivamente espaços ocupacionais até então a eles reservados” (IAMAMOTO, 2001, p. 48). A própria compreensão da função do assistente social nesses novos espaços já se configura como um desafio para a 16 profissão, de forma que os mesmos sejam conscientemente ocupados e sirvam de instrumentos de consolidação dos princípios da ética profissional e de superação da ordem social do capital. A intervenção profissional no campo da política social e seus desafios na atualidade O trabalho desenvolvido pelos profissionais nas esferas de formulação, gestão e execução da política social é, indiscutivelmente, peça importante para o processo de institucionalização das políticas públicas, tanto para a afirmação da lógica da garantia dos direitos sociais, como para a consolidação do projeto ético-político da profissão. Portanto, o enfrentamento dos desafios nesta área torna-se uma questão fundamental para a legitimidade ética, teórica e técnica da profissão. Sobre isso, a leitura de resultados de pesquisas, que versam sobre a prática profissional em diferentes políticas setoriais, e o contato sistemático com assistentes sociais, inseridos nessas políticas, tem indica necessidade de aprofundar o conhecimento 17 acerca da intervenção profissional, contextualizado-a no campo da política social. Porem, ao se introduzirem nos inúmeros espaços sócio-ocupacionais, é exigido dos assistentes sociais a apropriação do debate sobre intervenção profissional travado na sua área de conhecimento, e a necessidade de colocá-lo em movimento. Em movimento em um campo extremamente tensionado por projetos profissionais e societários em disputa, em uma dinâmica que expressa as contradições e os interesses sociais públicos e privados no contexto de processos coletivos de trabalho. Nessas circunstâncias, os assistentes sociais se deparam com duas questões cruciais: a autonomia e a especificidade profissional. Em tese, significa enfrentar os dilemas que ainda persistem no debate sobre a prática profissional no Serviço Social e que no novo cenário brasileiro se reatualizam. Sobre a autonomia profissional, o desenvolvimento do pensamento social crítico e a postulação de que a profissão se insere na divisão sociotécnica permitiram o avanço no debate relacionado à condição do assistente social como trabalhador assalariado. Considerada condição impõe limites à condução de seu trabalho e, consequentemente, à implementação do projeto profissional, confirmando sua relativa autonomia, que é condicionada pelas lutas travadas na sociedade entre os diferentes projetos societários. Ou seja, tal autonomia pode ser dilatada ou comprimida, dependendo das bases sociais que sustentam a direção social projetada pelo profissional nas suas ações (IAMAMOTO, 2003, 2007). Nesse debate, Iamamoto (2007) assinala que a tensão gerada entre o projeto profissional, que designa o assistente social como ser dotado de liberdade e teleologia, e a sua situação de trabalhador assalariado, ao serem apreendidas subjetivamente, expressam-se através de reclamações acerca do distanciamento entre o projeto profissional e a realidade, ou sobre a discrepância entre teoria e prática. Nessa análise da autora, merece destaque o chamamento que faz sobre as questões decorrentes dessas expressões, ou dessas “denúncias”, que são: (a) a existência de um campo de mediações que necessita ser considerado para realizar o trânsito da análise da profissão ao seu exercício efetivo na diversidade dos espaços ocupacionais em que ele se inscreve; (b) a exigência de ruptura de análises unilaterais, que enfatizam um dos polos daquela tensão transversal ao trabalho do assistente social, destituindo as relações 18 sociais de suas contradições (IAMAMOTO, 2007, p. 9). Seguindo o pensamento da autora, é possível afirmar que o processo de intervenção profissional particulariza-se no campo setorial da política social, com implicação imediata na reconstrução do objeto a partir de tal particularidade. Afirmam Wellen e Carli (2010, p. 127) ser “peculiar ao marxismo que cada circunstância concreta demande uma modalidade de análise particular”. Portanto, compreender como o objeto de intervenção particulariza-se nos diferentes contextos da política social e quais as matrizes teóricas que sustentam as diferentes práticas incidentes nesses contextos, constitui-se a primeira das mediações necessárias ao campo contraditório em que se formulam e implementam as políticas sociais. Condição indispensável para, por um lado, desvencilhar-se de “análises unilaterais” que bloqueiam a interlocuçãocom os gestores (federais, estaduais, municipais) das políticas e dos serviços sociais e com outros profissionais. Interlocução que se realiza no âmbito de “complexos processos de negociação e luta política que da lugar a gestão de Políticas Social, das quais nenhum campo professional, na arena da política, sem adjetivos” (GONZÁLES; AQUIN, 1992, p. 6). Por outro lado, considerar que, mesmo sob determinadas condições objetivas, o assistente social exercita sua relativa autonomia teórica, política, ética e técnica (MOTA; AMARAL, 1998). Tal particularização torna-se fundamental para que ele possa visualizar e se posicionar diante dos processos em curso e não se reduzir, nos termos de Aqui (2009, p. 156), a “mero braço instrumental” da política social. Esses processos buscam romper com a tendência, ainda persistente da relação mimética entre Serviço Social e política social. Um mimetismo que se traduz em ações rotineiras, prescritivas e burocratizadas, fomentado não só pela permanência de uma perspectiva tecnicista da profissão, mas também estimulado pelos redesenhos e pelas formas de gestão da política social, a partir dos anos 1990. Essas formas, embora gestadas no bojo da lógica republicana, com o compromisso do Estado de ampliação do direito de proteção social, através de políticas e programas abrangentes, com fontes de financiamento abrangentes e com a previsão de recursos humanos (RIZZOTTI, 2010), têm sido também redefinidas. Redefinidas na lógica da eficácia e da eficiência com redução de custos e, consequentemente, com intensificação do trabalho no âmbito dos serviços sociais (BRITOS, 2006). A utilização massiva da tecnologia, a padronização de procedimentos e controle da 19 produtividade nos serviços através de ações pré-determinadas, mesmo advogadas em nome da transparência e da qualidade da oferta de serviços (RIZZOTTI, 2010), parecem ter aumentado as dificuldades para o exercício da autonomia profissional. Cada vez mais se observa os assistentes sociais envoltos nas tarefas de alimentação dos sistemas de informações e no desenvolvimento de ações prescritas no nível da administração central e menos concentrados na realização de um processo interventivo que busque responder às necessidades postas pelos seus usuários no contexto das realidades locais. Dessa forma, as características centralizadoras das políticas sociais vêm condicionando a intervenção profissional, a seleção de alternativas de solução e as possibilidades de definir os próprios usuários. O fortalecimento da estratégia de focalização no campo da política social também imprime na intervenção profissional a dinâmica da emergência e da conjuntura, estabelecendo prioridades para as ações dos assistentes sociais (MONIEC; GONZÁLES, 2009). Ao tratar da realidade argentina, Malacalza (2009, p. 191) afirma que a despolitização das demandas sociais em direção à culpabilização dos indivíduos foi um dos principais triunfos do neoliberalismo. Para a autora, o Serviço Social não está alheio a essa lógica, pois parte importante da categoria profissional “la incorpora de una manera casi fatalista, configurando una tendência que redujo a las políticas sociales, y por lo tanto a su própria intervención, a un tecnicismo aggiornado que pretende autonomizar-se de la dimension política constitutiva de ambas.” Raichelis (2010), ao discutir a questão do assistente social – enquanto trabalhador – na organização do trabalho no Sistema Único de Assistência Social (SUAS), chama a atenção para a qualificação do exercício profissional. Afirma que não se pode desvincular tal exercício da dinâmica macrossocietária, e que a qualificação dos profissionais passa, por um lado, pela superação de uma cultura histórica do pragmatismo, da naturalização e da criminalização da pobreza, bem como das ações improvisadas. Por outro, pela crítica e resistência ao produtivismo quantitativo, medido pelo número de reuniões, visitas domiciliares, dentre outros, sem a clareza necessária da direção ético-política quanto à ação realizada. Para complicar ainda mais o exercício da autonomia profissional, não se pode esquecer outra injunção da atual política social brasileira que é o aumento significativo da 20 participação das entidades de cunho privado e filantrópico na prestação de serviços sociais, financiadas pelo Estado. Assim, expõe os profissionais a operarem em lógicas bastante contraditórias. Ao mesmo tempo em que se colocam diretrizes, guias e parâmetros, emanados a partir da “garantia de direitos sociais” pautada pelo Estado, as referidas entidades buscam também atender às respectivas lógicas que sustentam a sua existência, exigindo um processo de acomodação de interesses por parte dos profissionais. Ou, tendem a um forte apego a documentos e legislações emanados do Estado, consoantes ao projeto profissional. Isso tanto obscurece o caráter contraditório, imanente ao campo da política social, como dificulta o rompimento da relação mimética entre a profissão e a política social, tornando mais distante as possibilidades de exercício de uma possível autonomia. Entretanto, mais uma vez reitera-se que uma das mediações fundamentais para desenvolvimento do processo interventivo consiste na particularização do debate do marco teórico-metodológico da profissão e das matrizes teóricas da área disciplinar nos respectivos campos setoriais da política social. A partir dessa particularização, será possível debruçar-se sobre um velho problema da profissão: a recorrente indistinção entre objetivos institucionais e objetivos profissionais no âmbito dos serviços sociais. Os primeiros, mesmo quando caudatários dos objetivos expressos nas legislações que pautam a execução da política social, não deixam de expressar sua filiação a determinados valores e concepções que direcionam decisivamente a organização do processo de trabalho. Numa análise mais acurada pode não haver uma real sinergia entre os objetivos profissionais e os institucionais com as proposições constitucionais, marcadas pela lógica da cidadania, e nem com o projeto defendido pelo conjunto profissional, expresso no seu código de ética. São os antagonismos entre as demandas institucionais e as demandas dos usuários que levam os profissionais a estabelecerem tensão com o instituído através de seus processos de trabalho. Como consequência, a análise dos processos institucionais que caracterizam os diferentes espaços sócio-ocupacionais, constitui uma segunda ordem de mediações necessárias para a intervenção profissional. Apropriar-se dos processos institucionais em curso é condição fundamental para planejar e decidir sobre ações profissionais e movimentar-se no apertado campo da autonomia profissional. 21 Paradoxalmente, quanto mais se estreita o círculo da autonomia profissional, dado pelos diferentes fatores elencados, maior é a exigência de conhecimento dos limites impostos para o exercício dessa autonomia. A segunda questão, colocada na ordem do dia do cotidiano dos profissionais que trabalham no contexto da política social, é a especificidade profissional. No debate do campo disciplinar do Serviço Social, esta questão está, pode-se dizer, resolvida, se for entendida, de acordo com Argueta (2006, p. 220), dialéticamente como “la perspectiva desde la cual se abordan determinados campos de lo social y se interviene en ellos en forma fundamentada y sistemática desde una óptica específica”. Ainda, segundo o autor, traduz uma disposição de focalizar, dentro do social, aquilo que possa ser atendido pela profissão e também como condição de interdisciplinaridade. Porém, a inserção dos assistentes sociais nas diferentes políticas setoriais vem demonstrando dificuldades na definição de seu papel nas equipes multiprofissionais. A postulação da interdisciplinaridade como diretriz dos processos de trabalhonas políticas sociais, particularmente nos serviços sociais, tem exigido – em tempos de acirramento de corporativismos e de busca pela expansão dos campos disciplinares –, cada vez mais, uma definição objetiva acerca do que compete aos diferentes profissionais. Iamamoto (2002) é clara ao defender que a identidade das equipes profissionais em torno de coordenadas comuns não dilui as particularidades profissionais. Para ela o assistente social, mesmo partilhando o trabalho com os outros profissionais, dispõe de ângulos particulares na interpretação dos mesmos processos sociais e de uma competência distinta para a realização das ações profissionais. Esta decorre de vários fatores, dentre eles a formação profissional, a sua capacitação teórico-metodológica, bem como a sua competência na habilidade para desenvolver determinadas ações. Nesse sentido, um projeto profissional crítico vai além da postulação de um quadro de valores, implica na existência de um corpo de conhecimentos que sustente a definição e a execução das ações profissionais (AQUIN, 2009; CAZZANIGA, 2005). Em relação ao Projeto Ético-político do Serviço Social brasileiro é importante recordar que este contempla, tanto no âmbito da formação como no do exercício profissional, a indissociabilidade das dimensões teórico-metodológica, ético- política e técnico-operativa. Netto (2005, p. 291), ao referir-se ao projeto ético- 22 político, lembra que “não se desenvolveram suficientemente suas possibilidades, por exemplo, no domínio dos indicativos para a orientação de modalidades de práticas profissionais (nesse terreno se tem muito que fazer)”. Assim reafirma o que dizia em 1996: [...] no quadro das transformações societárias típicas do capitalismo tardio, das demandas do mercado de trabalho e da cultura profissional, coloca- se a necessidade de se elaborar respostas mais qualificadas (do ponto de vista operativo) e mais legitimadas (do ponto de vista sociopolítico) para as questões que caem no seu âmbito de intervenção institucional (NETTO, 1996, p. 124). Com isso, sinaliza que “as possibilidades objetivas de ampliação e enriquecimento do espaço profissional [...] só serão convertidas em ganhos profissionais [...] se o Serviço Social puder antecipá-las”. E que tais possibilidades tenderão a estar permeadas “por tensões e conflitos na definição de papéis e atribuições com outras categorias socioprofissionais.” Estas considerações podem ser indicativas que a especificidade da profissão – no campo das políticas sociais – afirma-se à medida que os profissionais disponham de um campo organizado de conhecimento em torno das ações. Ações que estruturam a sua especificidade ao longo de sua história e que se expressam através das atribuições e competências profissionais avalizadas socialmente. Uma especificidade dada pelo seu objeto de intervenção profissional são as expressões da questão social (IAMAMOTO, 2003), com ações incidindo na articulação de recursos necessários para viabilizar a proteção social de sujeitos singulares ou grupos de sujeitos, usuários das diferentes políticas setoriais. A conformação da proteção social acontece condicionada pelos processos sociais em curso num determinado momento histórico e também pela maneira como o profissional configura e viabiliza suas ações. , depende: da matriz teórico- metodológica, particularizada no campo específico da ação, a qual lhe dá direcionalidade; da forma como interprete. Portanto, as demandas postas pelos seus usuários, e do conhecimento estruturado da natureza e do conteúdo das ações profissionais necessárias para a consecução dos objetivos profissionais. São aspectos sempre vinculados, no campo da política social, às possibilidades de conformação da proteção social, que requerem 23 outros desdobramentos, relacionados tanto ao conteúdo das ações como ao conhecimento acerca do conjunto de instrumentos e técnicas necessários para a abordagem dos sujeitos de intervenção que colocam o projeto profissional em movimento. GESTÃO E TRABALHO PROFISSIONAL: PLANEJAMENTO E AÇÃO PROFISSIONAL Na trajetória histórica da profissão, os assistentes sociais dedicaram-se à implementação das políticas pública sociais, mantendo assim, uma intrínseca relação com o Estado e suas demandas. Considerando que desde o surgimento da profissão, o Serviço Social esteve presente nas diversas áreas de intervenção estatal, como mediador e executor das políticas sociais, desenvolvidas e implementadas como estratégia de enfrentamento e principalmente de controle as desigualdades sociais. No âmbito governamental, o profissional sempre foi chamado a intervir junto às manifestações da questão social, nas áreas da saúde, educação, assistência, habitação entre outras políticas sociais. No enfrentamento as desigualdades sociais, o Estado atribui legitimidade á instituições, políticas sociais e profissionais, entre os quais o assistente social, que é requisitado e reconhecido, enquanto 24 profissional que intervém diretamente nas relações sociais e atua na gestão das políticas sociais, tanto no âmbito municipal, estadual e federal. Dessa forma, o Estado se qualificou como maior empregador de assistentes social, isto é, se constituiu como campo privilegiado de contratação do trabalho do assistente. Para Iamamoto, o: “O setor público tem sido o maior empregador de assistentes sociais, sendo a administração direta a que mais emprega, especialmente na esfera estadual, seguida da municipal. Constata-se uma clara tendência à municipalização da demanda o que coloca a necessidade de maior atenção à questão regional e ao poder local (IAMAMOTO, p. 119, 1999)”. Entretanto a interiorização das demandas se deve ao fato dos municípios absorverem á carga maior na implementação das políticas púbicas, especialmente as políticas sociais, e consequentemente a esfera municipal termina por contratar mais profissionais para o planejamento, implementação e operacionalização dos serviços públicos. A descentralização político-administrativa das políticas públicas para os municípios, prevista pela Constituição Federal de 1988, atribuiu uma nova dimensão ao trabalho do assistente social. Visto que, os espaços sócio-cupacionais vêm aumentando consideravelmente em virtude da responsabilização dos municípios no provimento dos serviços prestados a população usuário, e nessa orbita os assistentes sociais passam a desempenhar papel fundamental no desenvolvimento e operacionalização das politicas sociais. O trabalho do assistente social no âmbito da gestão pública tem se mostrado importante para implantação das politicas sociais. Contudo, a complexidade da demanda estatal requisita um profissional em que a atuação vá além da execução terminal dos serviços públicos, mas que atue também, na formulação, planejamento, avaliação e gestão das políticas, programas e serviços sociais. Conforme Lewgoy, a atual conjuntura exige um profissional que: [...] saiba planejar, avaliar, implantar e executar os serviços incutidos nas políticas sociais. Que também se evidencie na esfera dos planos, programas e projetos sociais e na prestação de serviços no âmbito de benefícios e serviços sociais, nas habilidades de elaborar, implementar, organizar, administrar, pesquisar, encaminhar, coordenar e assessorar (LEWGOY, 2010, p. 198) 25 O desenvolvimento de competências técnicas e habilidades gerenciais voltadas à realização do trabalho profissional na esfera da gestão pública das políticas sociais contribuem para substituição do agente subalterno e executivo por um profissional competente e qualificado para as novas funções requisitadas ao assistente social. Verifica-se, que a mudança nas funções profissionais decorre de um conjunto de novas configurações que exige dos assistentes sociais novas formas de realizar o trabalhoprofissional. Considerando que, a relação estabelecida entre as mudanças contextuais verificadas no modo de organização dos mecanismos de produção e reprodução da vida social e material, nos meios de inserção do profissional no mercado de trabalho e as novas situações que emergem desse conjunto de relações, exige um profissional propositivo e articulado com as novas formas de organização e gestão do trabalho profissional. Neste contexto, observa-se que, apesar do crescimento dos espaços sócio- cupacionais dentro do Estado, o trabalho do assistente social na gestão pública das políticas sociais, se depara com os desafios apresentados pelo movimento que propõe a reforma do Estado. Pois, enxugamento da máquina pública, tanto no que se refere à contratação de mão-de-obra, como no enxugamento das politicas sociais através da redução dos serviços sociais públicos prestados a população, vem apresentando novos de desafios à profissão. Nesse sentido, para a realização do trabalho do assistente social no âmbito da gestão pública, torna-se indispensável, que a ação profissional fundamente-se e um planejamento organizado, baseado nas diretrizes das políticas públicas sociais e em conhecimento teórico-prático amplo e crítico sobre a gestão do trabalho profissional nas políticas sociais. Que oportunamente contribuirá para direcionar a ação profissional, para além das ações antes voltadas e limitadas à execução terminal de políticas sociais. Para tanto, a atuação dos profissionais que operam as políticas sociais, deve perpassar à apreensão das novas dinâmicas de trabalho e das possibilidades instrumentais da gestão, que devidamente apropriadas viabilize ao profissional a superação de práticas conservadoras e minimalistas. Para Sarmento, as novas formas de gestão verificadas na esfera das políticas sociais: Vem exigindo um nível de conhecimento técnico bem mais amplo, tanto para a compreensão crítica das condições políticas em que estas exigências são colocadas, principalmente no que se refere 26 ao desmonte das políticas sociais por parte do Estado – como da fragilização dos direitos sociais (SARMENTO, 1999, p. 100). Contudo, esse processo de apropriação implica em conhecimento sobre os contextos de gestão e capacidade técnica do profissional em desenvolver funções gerenciais propositivas no campo de atuação, considerando sempre a realidade conjuntural que permeia o desenvolvimento do trabalho profissional. A função gerencial dos profissionais inseridos no âmbito das políticas sociais, especialmente na Política de Assistência Social, destaca-se como tendência, que precisa ser percebidas com grande clareza pelos assistentes sociais, pois implica em novas formas de realizar o trabalho profissional sem se abstrair dos princípios e diretrizes que norteiam a profissão. De acordo com Paiva, o tema gestão e todo o seu aporte teóricometodológico é revestido de detalhadas e recomendações técnicas, em virtude de advir da área da administração, entretanto: A conceituação de noções como eficiência, eficácia e efetividade; o detalhamento das diferentes funções gerenciais, planejamento, organização, direção e controle; a caracterização dos diferentes níveis organizacionais – estratégicos, tático, operacional – encontram na bibliografia pertinente uma série de orientações, análise e exercícios que podem ser úteis e facilitadores da organização do projeto de intervenção do assistente social, que desempenha a função de gestor na área social, dependendo do uso que se faça deles (PAIVA, 1999, p.90). É preciso compreender que a administração se consolida como processo intrínseco a qualquer atividade que envolva recursos e que visa atingir algum objetivo. Portanto, compreende-se que administração ou a gestão consiste em uma atividade inseparável de qualquer situação que envolve pessoas, recursos e a intenção de desenvolver e realizar objetivos. Isto é, o processo de tomar decisões sobre os objetivos e a utilização de recursos é entendido por administração ou gestão. Desta forma, a administração ou a gestão constitui-se de todo processo que tem a finalidade de garantir a eficiência e a eficácia de ações realizadas pelas organizações. Na administração o processo administrativo compreende quatro funções básicas para 27 que uma organização consiga a concretização de objetivos: o planejamento, a organização, a direção, o controle e avaliação. A função do planejamento conceitua-se como processo que visa definir e estabelecer situações futuras desejadas, além de considerar os recursos e os meios necessários para alcançar essa situação. A organização constitui-se como processo de definir e detalhar o trabalho a ser realizado, as responsabilidades para a realização e distribuir os recursos disponíveis segundo critérios racionais. A função de direção compreende o processo de mobilizar e acionar os recursos, especialmente as pessoas, para concretização das atividades meio e fim. A função do controle volta-se a garantir a realização dos objetivos, bem como, identificar e apontar necessidades de mudanças. Geralmente o controle origina avaliações continuadas o que influencia diretamente no desenvolvimento dos profissionais, das pessoas garantindo a qualidade dos resultados das ações planejadas. A administração é uma ciência organizada por uma série de teorias, possui um corpo sistematizado de conhecimentos, baseados em princípios e conceitos que tratam diretamente dos seres humanos. As teorias que fundamentam a administração demonstram que as funções gerenciais podem ser desempenhadas por qualquer pessoa responsável por algum tipo de atividade organizada no âmbito organizacional. Sob esta diretriz e sendo o assistente social um agente que intervém diretamente nas relações e na realidade social, o profissional dispõe de relativa autonomia para formular e planejar propostas de trabalho. O assistente social demanda competência e habilidade para construir modalidades interventivas no cotidiano de trabalho. E para tal proposição, deve lançar mão de teorias que lhe possibilite o aperfeiçoamento do conhecimento adquirindo, voltando-se para o desenvolvimento de competências e habilidades no âmbito da gestão, enquanto instrumento de trabalho e de domínio do assistente social. 28 Considerações finais Assim, os instrumentos de gestão podem contribuir para o desenvolvimento de competências e habilidades profissionais no âmbito da Assistência Social, sendo os instrumentos que podem favorecer a construção de planos de trabalho nas diferentes etapas da Política de Assistência Social. No entanto, o profissional deve estar aberto às possibilidades de incorporar os princípios da gestão no cotidiano de trabalho, agregando-os enquanto recurso legal no desenvolvimento do trabalho. Mas, compreende-se que este processo de apropriação, perpassa pela necessária aquisição ou aperfeiçoamento de conhecimentos sobre os conceitos e princípios que fundamentam a gestão enquanto metodologia de realização do trabalho profissional. Entretanto, ressalta-se que preciso competência crítica para discernir exigências burocráticas puramente executivas de funções gerenciais que são requeridas do profissional. Pois, as particularidades que envolvem o trabalho do assistente social postula uma postura crítica e comprometida com a consolidação dos direitos dos direitos sociais e não com a execução burocrática e alienada dos serviços sociais na esfera pública. As funções gerenciais desempenhadas pelos assistentes sociais devem estar alinhadas com os princípios e valores fixados no Projeto Ético Político profissional e com as prerrogativas legais que regulamentam a profissão, objetivando assim, afastar o trabalho profissional de abordagens funcionalistas e meramente executivas. A importância e preocupação em desenvolver um trabalhona gestão de politicas sociais pautada no projeto ético politico da profissão, frente a um projeto societário, levanta um indicativo de sua materialização contida no cotidiano profissional. É preciso ainda entender esses novos espaços, sua representatividade, suas condições de trabalho, os interesses que permeiam a reprodução das relações sociais e até mesmo de que forma esses novos espaços propiciam um exercício profissional tendo em vista o código de ética da profissão. Este que recomenda a liberdade como valor ético central, o compromisso com autonomia e valores emancipatórios dos indivíduos. De fato, o tema precisa ser mais bem explorado no âmbito das políticas públicas sociais e do serviço social, de maneira a aprimorar a atuação profissional. O que foi abordado até então, teve como intuito apontar 29 características das práticas dos profissionais, analisando as implicações da sua ação profissional na garantia de direitos.. No entanto, ao longo do tempo as políticas moldaram-se às novas realidades, criaram e recriaram suas leis, a política de social acendeu e se fortaleceu. O desafio do assistente social na atualidade é desenvolver propostas, trabalhos criativos e inovadores, que sejam capazes de concretizar direitos sociais previstos em lei à população, as habilidades e competência não se adquirem somente nas cadeiras universitárias, são características que necessitam de aprimoramento constante, quer seja nas atividades de trabalho e/ou nas relações estabelecidas com as pessoas que nos cercam. As práticas de gestão em Serviço Social não devem ser consideradas como novas competências profissionais, pois estão interligadas à capacidade do profissional em saber planejar, organizar, dirigir e controlar as ações e as relações interpessoais em seu espaço de atuação. Tal conceito não é recente, porém em tempos de grande concorrência, o profissional que possui as características de gestão terá grandes oportunidades de se manter e se destacar no mercado cada vez mais exigente. O Assistente Social deve desempenhar seu trabalho para além de serviços meramente administrativos permeados de protocolos, mas, construir um perfil inovador e crítico capaz de atuar em diferentes abordagens. Portanto, ao profissional qualificado é requisitada uma intervenção investigativa, através da análise da realidade social, por meio de pesquisas, formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais. Para empreender uma ação, é necessário analisar as condições, as forças presentes, preparando-se para situações imprevisíveis, que requerem estratégias, meios e recursos para produzir os efeitos desejáveis. Somente a partir dessa percepção, é possível pensar e repensar práticas de gestão no seio da profissão, refletindo nos espaços em que os profissionais estão inseridos. Considerando, o profissional deve conhecer e aprimorar suas habilidades e competências, colocando-as em prática. Adaptar-se às novas exigências do mercado e não recusar os desafios de trabalho também são pré-requisitos para aqueles que almejam se destacar profissionalmente. A identidade profissional do Assistente Social é um constante processo em construção, que requer resgates históricos e o 30 desenvolvimento de habilidades e competências que correspondam às novas demandas do mercado e da sociedade. 31 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GIMENEZ, H. N.; ALBANESE, K. R.. Os dilemas ético-contemporâneos a partir da prática de estágio. Curso de Serviço Social, 6º período. PUCPR, Curitiba, 2015 HORA, MM. C. C. 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