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GESTÃO E PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL Klauze Silva A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer os instrumentais utilizados pelo Serviço Social e seus objetivos. Relacionar o processo de trabalho do Serviço Social ao projeto ético- -político profissional. Analisar as contradições inerentes ao planejamento como instrumento do Serviço Social, considerando o contexto sociopolítico e econômico contemporâneo. Introdução Como você sabe, o Serviço Social é uma profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho. Ele tem nas políticas sociais o espaço para o seu exercício. Além disso, o Serviço Social tem em sua natureza a ação interventiva que busca atender às necessidades das classes sociais. Essa ação se realiza nas expressões da Questão Social. Reconhecer o planejamento como instrumento de trabalho inserido na dimensão técnico-operativa do Serviço Social exige a compreensão dos contextos técnicos e políticos da profissão. Além disso, quando se leva em conta a dimensão política do planejamento, é preciso analisá-la no contexto do projeto ético-político do Serviço Social. Neste capítulo, você vai conhecer os instrumentos utilizados pelo Serviço Social e seus objetivos e vai estudar o projeto ético-político profissional. Por último, vai analisar as contradições inerentes ao plane- jamento como instrumento do Serviço Social, considerando o contexto sociopolítico e econômico contemporâneo. C7_Gestao_e_Planejamento.indd 1 10/01/2019 11:35:55 Instrumentais utilizados pelo Serviço Social Ao longo da sua trajetória, o Serviço Social vem ocupando espaços cada vez mais singulares e peculiares. Isso ocorre em virtude do movimento do capital e da posição assumida pelo Estado no enfrentamento da Questão Social. Ao ocupar esses espaços, o profi ssional precisa de novas habilidades teórico- -metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. Como afi rma Teixeira (2009, p. 554), “A profi ssão consolidou-se e vem avançando por meio da conquista de novas responsabilidades profi ssionais e de novos espaços ocu- pacionais, onde se impõem exigências de expansão qualitativa e quantitativa de conhecimentos no campo teórico e prático [...]”. Às habilidades requeridas ao assistente social somam-se também funções no âmbito da gestão, como a formulação, a implantação e o acompanhamento das políticas sociais. O amadurecimento intelectual da profissão e o projeto profissional construído coletivamente contribuíram para a ampliação do escopo de intervenção dos assistentes sociais. Contudo, essa ampliação encontra-se revestida de relativa autonomia, já que o Serviço Social atua no limite da reprodução social do capital e das contradições das relações societárias, se fixando na divisão sociotécnica do trabalho. Segundo Teixeira (2009, p. 554): [...] abrem-se as possibilidades ao seu ingresso no complexo campo da formu- lação, gestão e avaliação de políticas públicas, planos, programas e projetos sociais, impondo a apropriação de conceitos e procedimentos para a atuação nesse largo e diversificado espectro de relações de gestão em âmbito insti- tucional e não institucional. Assim, o assistente social deixa de ser um mero executor terminal das políticas sociais e passa a atuar na formulação e na proposição dessas políticas. O planejamento tem sido utilizado como instrumento importante para dar materialidade ao exercício profissional. Enquanto competência e atribuição privativa do assistente social, o planeja- mento deve ser compreendido historicamente. Se você considerar a capacidade humana de pensar, prever, organizar e sistematizar conteúdos e conhecimentos a partir da realidade social, pode inferir que planejar também compete ao ser humano, em especial porque tais características o definem enquanto sujeito social. Nesse sentido, “O planejamento é responsável e também decorrência do uso da razão pelo homem nos diferentes contextos e períodos históricos, isto é, no desenvolvimento da humanidade [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 335). Além disso, conforme ilustra Marconsin (2010, p. 73): A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social2 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 2 10/01/2019 11:35:56 A elaboração de planos, programas e projetos pressupõe o planejamento do trabalho e deve ser precedida pelo processo de conhecimento e análise da realidade, como a própria condução metodológica do Serviço Social aponta. Deve responder àquelas tradicionais questões: por que, para que, o que, para quem, como e quando. Deve conter, também, o orçamento do que se pretende operacionalizar. Se você considerar a história da humanidade, vai perceber que as iniciativas do homem pressupõem o planejamento. Pense, por exemplo, na construção das pirâmides do Egito e na construção do cavalo de Troia. Na sociedade capitalista, após a Segunda Guerra Mundial, emprega-se o planejamento econômico numa perspectiva de desenvolvimento. O New Deal (1933–1945) é considerado um marco dessa forma de planejar no mundo capitalista do Ocidente. Em 1946, a França elaborou um plano de recuperação econômica e de modernização e, em 1947, os EUA elaboraram também um plano de recuperação econômica da Europa e Japão (Plano Mar- shall) [...] (TEIXEIRA, 2009, p. 555). No século XIX, a teoria da administração se apropriou do planejamento, conceituando-o e elaborando diretrizes para a sua aplicabilidade numa perspec- tiva de previsão. A ideia era antever recursos a serem utilizados para determinado fim. Impulsionado pela Revolução Industrial, o planejamento foi aplicado no setor privado como instrumento capaz de prever os recursos e as despesas na execução de determinada atividade. Como afirma Guerra (2007, p. 10): Esse movimento ilustra a lógica da racionalidade burguesa, é a racionalidade predominante que está subjacente às formas de ser, pensar e agir na ordem social capitalista. Ela possui duas características fundamentais: o formalismo e a abstração. Ela é a lógica necessária à manutenção da ordem social e tem no positivismo sua mais alta expressão. Baptista (2000, p. 13) define o planejamento da seguinte forma: O termo “planejamento”, na perspectiva lógico-racional, refere-se ao processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de questões que se colocam no mundo social. Enquanto processo permanente, supõe ação contínua sobre um conjunto dinâmico de situações em um determinado mo- mento histórico. Como processo metódico de abordagem racional e científica, supõe uma sequência de atos decisórios, ordenados em momentos definidos e baseados em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos. 3A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 3 10/01/2019 11:35:56 Dessa forma, a racionalidade pode ser entendida como o modo de ser e pensar específico de determinada ordem societária. Ela se origina e se recria na história real. Nesse contexto, a vinculação ideológica é determinante para a forma de apreensão e compreensão do real. A função técnica e política do planejamento demanda do assistente social a leitura da realidade social ancorada nos fundamentos da profissão e, sobretudo, no significado social, tendo a Questão Social como objeto de intervenção. Para tanto, compatibilizar as condições subjetivas e objetivas no cotidiano do exercício profissional num contexto de disputas políticas e de correlação de forças torna-se um desafio ao profissional. Como afirma Bertollo (2016, p. 337): [...] o planejamento constitui-se em um ato técnico e político. Técnico porque pressupõe a racionalidade das ações ponderando uma série de condicionan- tes, dentre eles: prazos e recursos existentes. Político porque se inscreve no contexto de tomada de decisões onde a correlação de forças e de interesses distintos evidencia-se entre os sujeitos. Na emergência do Estado-nação, apresenta-sea dimensão dos direitos sociais num cenário de disputas de projetos societários distintos, de lutas sociais, de contradição. O poder público estatal admite o planejamento como mecanismo racionalizador da intervenção do Estado na aplicação das políticas sociais. Ou seja, “[...] a dimensão política do planejamento decorre do fato de que ele é um processo contínuo de tomadas de decisões, inscritas nas relações de poder, o que caracteriza ou envolve uma função política [...]” (BAPTISTA, 2000, p. 17). O Estado neoliberal caracteriza-se pela redução da intervenção estatal nas políticas sociais, num processo de transferência de responsabilidades das ações públicas à sociedade civil no âmbito da Questão Social. Assim, abre-se espaço para o chamado terceiro setor desenvolver ações focalizadas que atendam às necessidades sociais no que tange às políticas sociais. É nesse cenário que a gestão social se revela como uma estratégia de ordenamento gerencial catali- zador de ações coletivas e dialógicas. Ela revela o protagonismo de diferentes atores sociais que atuam em processos decisórios de interesse coletivo. Você também deve considerar que o planejamento adquire uma dimensão técnico-política quando, no cotidiano do exercício profissional, nos diferentes espaços sócio-ocupacionais, o assistente social consegue “[...] ler, interpretar e articular-se com a realidade, com os seres sociais organizados em classes que se encontram em permanente luta [...]” (MARCONSIN, 2010, p. 67). A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social4 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 4 10/01/2019 11:35:56 A ação profissional que envolve o planejamento se materializa de diferentes formas. Ela ocorre na elaboração do plano de trabalho, na organização de reuni- ões, na elaboração de planos/programas/projetos, na elaboração de diretrizes de atendimento aos usuários das políticas públicas, etc. Em síntese, a ação profis- sional é “[...] o desvendar da realidade social, apreendendo-a em suas múltiplas determinações, relações e nexos como uma totalidade, em sua processualidade, em seu movimento, em suas contradições [...]” (MARCONSIN, 2010, p. 67). Tomando o planejamento como elemento essencial às políticas públicas, é possível analisá-lo sob dois modelos, o do planejamento estratégico e o do planejamento participativo. Nessa perspectiva, o planejamento se inscreve no contexto de correlação de forças impressas no sistema capitalista, no qual o Estado neoliberal opera as políticas sociais. A seguir, você vai conhecer esses dois modelos de planejamento. No Quadro 1, veja os instrumentos de planejamento. Fonte: Adaptado de Teixeira (2009) e Bertollo (2016). Formulação de Teixeira (2009) Formulação de Bertollo (2016) Plano: é o documento mais abrangente e geral, que contém estudos, análises situacionais ou diagnósticos necessários à identificação dos pontos a serem atacados, dos programas e projetos necessários, dos objetivos, estratégias e metas de um governo, de um ministério, de uma secretaria ou de uma unidade. Plano: define e delineia as ações de forma mais ampla, isto é, considera e propõe ações relacionadas à estrutura organizacional como um todo, orientando os demais níveis de detalhamento das ações. Programa: é o documento que indica um conjunto de projetos cujos resultados permitem alcançar o objetivo maior de uma política pública. Programa: é o momento/ documento de setorização do plano e de referência para o projeto. Projeto: é a menor unidade do processo de planejamento. Trata-se de um instrumento técnico-administrativo de execução de empreendimentos específicos, direcionados para as mais variadas atividades interventivas e de pesquisa no espaço público e no espaço privado. Projeto: é o instrumento de maior nível de detalhamento das ações e de menor âmbito de abrangência. Quadro 1. Instrumentos de planejamento 5A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 5 10/01/2019 11:35:56 Planejamento estratégico e planejamento participativo O planejamento se confi gura como uma atividade técnica e política. Assim, inexiste neutralidade na elaboração do planejamento. A técnica refere-se aos procedimentos, à racionalidade; já a política diz respeito à correlação de forças e de projetos societários distintos. Na elaboração do planejamento, pode ocorrer “[...] o jogo de vontades po- líticas dos diferentes grupos envolvidos, a correlação de forças, a articulação de grupos, as alianças ou as incompatibilidades existentes entre os diversos segmentos [...]” (BAPTISTA, 2000, p. 17–18). Tais elementos podem ser iden- tificados a partir da leitura da realidade ancorada em determinado referencial teórico-metodológico crítico. O planejamento estratégico descende da teoria da administração científica, cuja racionalidade visava a reduzir os custos de produção capitalista com a introdução de tecnologias poupadoras de mão de obra. Inicialmente, essa teoria foi aplicada nas empresas privadas com o objetivo de lidar com situações complexas e mudanças sistemáticas no modo de produção. Nesse sentido, “[...] esta metodologia pressupõe um pensamento estratégico e a implementação de ações concretas [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 339). Esse modelo de planejamento, no momento seguinte, foi apropriado pelo setor público, que se valeu da conotação política relacionada ao adjetivo “estratégico”. Assim, O planejamento estratégico absorve a categoria estratégia e lhe dá visibi- lidade por agregar ao processo a noção de mobilização, de negociação, de movimento, de manejo de técnicas, recursos, enfim, todos os meios (táticos) necessários para enfrentar o(s) oponente(s) ou uma situação complexa [...] (TEIXEIRA, 2009, p. 559). Na elaboração do planejamento, é fundamental “[...] o reconhecimento do ambiente-alvo da ação, dos atores sociais envolvidos, o investimento pessoal no processo, as correlações de forças em disputa e o tempo necessário à realização de cada etapa do planejamento [...]” (TEIXEIRA, 2009, p. 559). Daí você pode inferir que “[...] o plano estratégico é o elo de articulação entre a gestão e a política de intervenção, uma vez que explicita os meios e o modo pelos quais serão colocadas em prática as ações [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 340). A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social6 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 6 10/01/2019 11:35:56 Leia o artigo de Guerra (2007) “A instrumentalidade no trabalho do assistente social”, disponível no link a seguir. https://goo.gl/zMo1xa O assistente social deve fazer uma leitura crítica da realidade social. Na elaboração do planejamento, deve atentar às correlações de forças existentes, distintas e contraditórias. Em resumo, “Trata-se de assegurar os princípios norteadores da profissão, assim como o projeto profissional, na direção do acesso aos direitos sociais, à justiça social e à transformação social [...]” (BARBOSA, 2004, p. 73). Sobretudo, o assistente social deve evitar tornar- -se um técnico executor de tarefas, respondendo pragmaticamente ao que o mercado requisita em termos de empregabilidade para a área. Veja a análise de Bertollo (2016, p. 341): Faz-se necessário, então, ao assistente social gestor de políticas sociais ou técnico-executor das mesmas, posicionar-se e agregar forças no sentido de não sucumbir o que duramente foi conquistado como direitos sociais e hu- manos — legal e normativamente reconhecidos — a ações manipulatórias e que coadunam com interesses contraditórios ao que o Serviço Social defende. O profissional deve ancorar o exercício profissional nas dimensões teórico- -metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. Tais elementos fornecerão os subsídios necessários à compreensão das transformações societárias. Assim, o assistente social pode posicionar-se pela defesa intransigente dos direitos humanos e sociais e pelo aprofundamento da democracia. Na esteira do planejamento estratégico estáo planejamento participativo, envolto em indefinição quanto ao adjetivo “participativo”. Isso porque, no Brasil, o uso do planejamento participativo ocorreu entre as décadas de 1950 e 1970, a partir do Programa de Desenvolvimento de Comunidade. Esse pro- grama foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) no período pós-Segunda Guerra Mundial como recurso das grandes potências mundiais para socorrer os países pobres, com o intuito de transformar as relações sociais existentes nos mercados capitalistas. 7A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 7 10/01/2019 11:35:56 A participação, nesse período, consistia numa ação unilateral de substituição das relações sociais existentes por relações econômicas e sociais capitalistas. Nesse período, o modo de produção fordista-taylorista encontrou potencial para a expansão de mercados consumidores com a mudança na organização do trabalho e com a introdução de novas tecnologias industriais. Tais elementos impulsionaram as grandes potências mundiais a expandir mercados e levaram à dominação dos países subdesenvolvidos, alijados das relações sociais não capitalistas. A partir da Constituição Federal de 1988, no Brasil, o conceito de par- ticipação incorpora a ideia de democracia. Como afirma Teixeira (2009, p. 564), “Daí decorre que a participação no planejamento tem como escopo de compartilhar decisões, quer sejam econômicas, quer sejam políticas, quer sejam sociais ou culturais. Tomar decisões como um exercício de liberdade, sim, mas tomá-las de forma compartilhada [...]”. Ainda que envolta sob o manto da democracia, [...] não raras vezes a ideia de participação é utilizada para manipular grupos sociais, para significar a mera presença física dos indivíduos em espaços deli- berativos, para legitimar interesses que não são oriundos e legítimos de grupos demandatários das ações, mas de outros que estão em via oposta no jogo de interesses presente naquele determinado contexto (BERTOLLO, 2016, p. 342). No recente processo democrático brasileiro, foi possível observar essas ações nos espaços de controle social próprios da inexperiência no exercício da cidadania. Além disso, segundo Teixeira (2009, p. 565): O ideal democrático supõe cidadãos atentos para as escolhas que estão sendo procedidas entre as diversas alternativas apresentadas pelas forças políticas e sociais, quer nas instâncias locais, quer no universo globalizado, principal- mente vendo a relação de um com o outro (do local com o global). Você ainda deve notar que o planejamento, enquanto ferramenta de in- tervenção profissional do assistente social, merece ser apropriado a partir da realidade social posta. Além disso, é preciso subsidiar esse processo por uma leitura crítico-reflexivo-propositiva que ultrapasse os limites do tecnicismo e do pragmatismo, com vistas à transformação social. A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social8 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 8 10/01/2019 11:35:56 Você sabe o que é participação orgânica? De acordo com Teixeira (2009, p. 565), é a “Participação assegurada por meio de uma organização ou órgão. Trata-se de uma estrutura organizada, legal, que ocupa um espaço institucional na organização da sociedade [...]”. Nesse sentido, é importante que o assistente social contribua na organização de conselhos, colegiados e comissões, viabilizando o intercâmbio de informações e decifrando códigos para permitir a efetiva participação de todos os atores envolvidos nesse processo. O trabalho do assistente social e o projeto ético-político Como você viu, o planejamento é uma atividade técnica e política que demanda um conjunto de instrumentais a serem operacionalizados. É no arcabouço teórico-metodológico da sua profi ssão que o assistente social encontra as bases elementares para fazer a leitura da realidade social. Como você vai verifi car a seguir, a dimensão política do planejamento compreende o espaço de lutas de projetos societários distintos e contraditórios. É no cotidiano que se efetiva o processo de trabalho do assistente social no marco do projeto ético-político. Nesse sentido, [...] todo processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que potenciam a ação do sujeito sobre o objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado a um fim, que resulta em um produto [...] (IAMAMOTO, 2005, p. 61). Os projetos societários e os projetos profissionais constituem uma dimensão política, conforme ilustra Teixeira (2009, p. 188): Todo projeto e, logo, toda prática, numa sociedade classista, têm uma dimensão política [...]. Ou seja, se desenvolvem em meio às contradições econômicas e políticas engendradas na dinâmica das classes sociais antagônicas. Na sociedade em que vivemos (a do modo de produção capitalista), elas são a burguesia e o proletariado. Logo, o projeto profissional (e a prática profissional) é, também, um projeto político: ou projeto político-profissional. 9A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 9 10/01/2019 11:35:56 Assim, é necessário pensar o trabalho na atualidade, conectá-lo às dimensões constitutivas da sociedade a partir do modo de produção capitalista. O trabalho, nessa perspectiva, é condição essencial ao processo de produção e reprodução da vida em sociedade. É a partir dele que são atendidas as necessidades sociais. Inserido nessa dinâmica, o processo de trabalho do assistente social se gesta a partir do movimento contraditório da sociedade, posto que o Serviço Social se encontra inserido no contexto da divisão sociotécnica do trabalho. É no bojo das contradições do sistema capitalista que o Serviço Social surge para buscar respostas à Questão Social. Os processos históricos mostram, no caso brasileiro, que o Serviço Social vem acompanhando os movimentos da sociedade a fim de compreender as demandas concretas da classe trabalhadora. A história do Serviço Social brasileiro começou marcada pela vinculação com a Igreja Católica, cuja metodologia de intervenção pautava-se pelo assistencialismo e pela caridade. Em seguida, houve um momento de reflexão das bases teóricas e práticas, desvinculadas da Igreja Católica. Assim, passam a ser questionados a inserção e os objetivos dessa profissão no sistema capitalista. O amadurecimento se dá ao mesmo tempo em que a sociedade se organiza e luta pelos direitos sociais. É nesse momento que o Serviço Social refuta e questiona o conservadorismo na profissão, conforme aponta Netto (1999, p. 1): [...] a própria construção deste projeto no marco do Serviço Social no Brasil tem uma história que não é tão recente, iniciada na transição da década de 1970 à de 1980. Este período marca um momento importante no desenvolvimento do Serviço Social no Brasil, vincado especialmente pelo enfrentamento e pela denúncia do conservadorismo profissional. É neste processo de recusa e crítica do conservadorismo que se encontram as raízes de um projeto profissional novo, precisamente as bases do que se está denominando projeto ético-político. Nos anos 1990, houve o amadurecimento da profissão, do ponto de vista da produção científica, do exercício profissional e da base legal, com a apro- vação do Código de Ética, da lei de regulamentação da profissão e do seu projeto ético-político, uma construção coletiva. Dessa forma, a década de 1990 pode ser considerada o marco da mudança profissional, na medida em nela foi assegurada: [...] a dimensão jurídico-política da profissão, na qual se constitui o arcabouço legal e institucional da profissão, que envolve um conjunto de leis e resoluções, documentos e textos políticos consagrados no seio da profissão. Há nessa di- mensão duas esferas distintas, ainda que articuladas, quais sejam: um aparato jurídico-político estritamente profissional e um aparato jurídico-político de caráter mais abrangente(TEIXEIRA; BRAZ, 2009, p. 9). A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social10 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 10 10/01/2019 11:35:57 No Brasil, ao longo das décadas, ocorreu o movimento da sociedade ca- pitalista na direção da organização baseada num Estado neoliberal. O Estado neoliberal traz consigo uma forma de gestão que valoriza as privatizações dos serviços públicos e a abertura para o capital estrangeiro, marcando a entrada do País no cenário internacional. Essas transformações na organização do Estado também ocorrem no mundo produtivo, o que afeta a forma como os trabalhadores se inserem no mercado de trabalho e os novos requisitos para a sua manutenção. Tais transformações afetam muito o exercício profissional, conforme indica Iamamoto (2009, p. 26): A mundialiazação do capital tem profundas repercussões na órbita das políti- cas públicas, em suas conhecidas diretrizes de focalização, descentralização, desfinanciamento e regressão do legado dos direitos do trabalho. Ela também redimensiona as requisições dirigidas aos assistentes sociais, as bases materiais e organizacionais de suas atividades, e as condições e relações de trabalho por meio das quais se realiza o consumo dessa força de trabalho especializada. Sobre o trabalhador recaem novas exigências profissionais baseadas nos quesitos de competência e de qualificação profissional. Para atender às novas exigências do mundo do trabalho, o Estado delibera uma série de leis, decretos e pareceres que visam à flexibilização das relações trabalhistas. Com isso, modifica- -se a estrutura produtiva. Assim, “O novo padrão societário impõe outra maneira de trabalhar, viver e pensar, exigindo atuação na subjetividade do trabalhador para consolidar a sociabilidade do capitalismo reatualizado [...]” (KOIKE, 2009, p. 204). O significado do trabalho relaciona-se com o contexto histórico em que se apresenta e os rumos vislumbrados pelo sistema capitalista. Nesse contexto, encontra-se o berço dos determinantes estruturais da desigualdade social no capitalismo e as refrações da Questão Social. Desde os anos 1990, tem crescido a demanda para a inserção do Serviço Social no mercado produtivo, em especial após a implantação da política de assistência social. Além dessa demanda crescente, também são postos ao as- sistente social novos desafios: a ideia é encaminhar os usuários à conquista dos seus direitos sociais. Também há uma pressão relacionada ao aprimoramento teórico-metodológico do Serviço Social, de modo que o profissional seja capaz de atuar mais como consultor, elaborando projetos e propostas para uma inter- venção que, segundo os padrões mercadológicos, deve ter eficiência e eficácia. As configurações assumidas pelo mercado produtivo afetam o exercício profissional ao alterarem o padrão de produção e reprodução social e material para que sejam atendidas as necessidades sociais. Iamamoto (2009, p. 39) exemplifica isso ao dizer que: 11A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 11 10/01/2019 11:35:57 Transitar da análise da instituição Serviço Social para o seu exercício agre- ga, portanto, um complexo de novas determinações e mediações essenciais para elucidar o significado social do trabalho do assistente social. Sintetiza tensões entre o direcionamento socialmente condicionado que o assistente social pretende imprimir ao seu trabalho concreto, condizente com o projeto profissional coletivo, e as exigências que os empregadores impõem aos seus trabalhadores assalariados especializados. É imprescindível dotar o assistente social de recursos teórico-metodológi- cos, ético-políticos e técnico-operativos a fim de que possa nortear sua ação objetivando a transformação social dos usuários das políticas públicas. Além disso, é fundamental incentivar, estimular e promover a participação dos usuários nos espaços de discussão coletiva, para exercerem o controle social no âmbito das políticas sociais. Como você já sabe, o planejamento é um ato técnico e político. Portanto, a ação qualificada do assistente social consiste na construção de respostas afinadas ao propósito de transformação social pela via da emancipação e da justiça social. Dessa forma, a organização da equipe profissional para o plane- jamento de atividades que visem à inserção social de crianças e adolescentes na aquisição dos direitos civis (como registro de identidade e cadastro de pessoa física) propõe a viabilização, a ampliação e a consolidação da cidadania. Há, ainda, a possibilidade de se utilizar o planejamento na dimensão dos direitos humanos. Isso pode ocorrer, por exemplo, se o planejamento se destina a uma atividade de acolhida e acompanhamento dos usuários e familiares insti- tucionalizados em espaços de longa permanência, objetivando o fortalecimento dos vínculos familiares e laços emocionais. Em síntese, é preciso exercitar o projeto ético-político promovendo a emancipação humana e reconhecendo os atores envolvidos na ação profissional como sujeitos políticos. É importante que o assistente social ocupe os espaços de articulação po- lítica, que reconheça a realidade considerando seus aspectos determinantes (econômicos, sociais e políticos, etc.) e que reconheça os usuários de suas ações como sujeitos de direito e sujeitos políticos. Esse “[...] é o movimento primeiro para superar a burocratização e a tecnificação do planejamento, ações estas que são funcionais para a manutenção da ordem desigual e contraditória da sociabilidade capitalista [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 355). Além disso, é necessário alargar a esfera política: [...] na medida em que, no Brasil, tornam-se visíveis e sensíveis os resultados do projeto societário inspirado no neoliberalismo — privatização do Estado, desnacionalização da economia, desemprego, desproteção social, concentração A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social12 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 12 10/01/2019 11:35:57 exponenciada da riqueza etc. —, nesta mesma medida fica claro que o pro- jeto ético-político do Serviço Social tem futuro. E tem futuro porque aponta precisamente ao combate (ético, teórico, ideológico, político e prático social) ao neoliberalismo, de modo a preservar e atualizar os valores que, enquanto projeto profissional, o informam e o tornam solidário ao projeto de sociedade que interessa à massa da população (NETTO, 1999, p. 19). Para a organização de seminários, palestras, cursos ou eventos de natureza educacional, é importante elaborar um bom planejamento. Ele deve estar em consonância com os objetivos estimados pela organização social. O organizador, em conjunto com a equipe, precisa pensar numa temática a ser discutida, que norteará todo o evento. Será necessário elaborar a temática, os objetivos, determinar o público-alvo, definir o tipo de refeição (coffee break, almoço ou jantar) e dimensionar o espaço para abrigar o público esperado. Definidos esses aspectos, é importante entrar em contato com o palestrante, fazer o convite, negociar as possíveis datas. Para facilitar a negociação com o palestrante, é importante o organizador já ter estruturado: os recursos para o deslocamento, a hospedagem e os honorários; as possíveis datas para a realização do evento; a possibilidade de divulgação das publicações do palestrante. Outro aspecto a ser destacado no planejamento é a dotação orçamentária, ou seja, a elaboração da planilha de custos, definindo os recursos (materiais, físicos, financeiros e humanos) a serem empreendidos e a fonte de custeio. As parcerias são fundamentais se você pretende oferecer serviços ao público-alvo. Os parceiros podem contribuir de diferentes maneiras para a realização de eventos, até mesmo com recursos financeiros. Como o planejamento envolve diferentes atores, é necessário elaborar um cronograma, identificando detalhadamente todas as etapas do planejamento, as datas para a realização de cada etapa e o custorelativo a cada fase. Além disso, é importante fazer uma checklist a fim de evitar atropelos e esquecimentos. Contradições do planejamento enquanto instrumento do Serviço Social O planejamento, enquanto ferramenta de trabalho do assistente social, tem sido apropriado há pouco tempo. Isso ocorre porque ele se relaciona às áreas de gestão, coordenação, elaboração de planos e projetos sociais. Portanto, ele se vincula a novas requisições profi ssionais ofertadas no espaço público para a elaboração, a implantação e a execução de políticas sociais. No espaço privado, ele se associa à elaboração de projetos sociais que atendem às demandas de responsabilidade empresarial e de organizações do terceiro setor. 13A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 13 10/01/2019 11:35:57 Essa mudança no espaço sócio-ocupacional do assistente social deve-se às configurações do Estado neoliberal, em especial a partir da década de 1990. O Estado tem transferido para o setor privado e para a sociedade civil a gestão das políticas sociais que atendem à Questão Social. Tais mudanças se processam em momentos de lutas sociais por projetos de sociedade distintos e contraditórios. Como você sabe, é no universo das contradições do sistema capitalista que o assistente social intervém. Nesse contexto, é necessário apreender as estruturas fundantes da desi- gualdade social, que perpassam a sujeição do homem às normas do sistema capitalista. O homem participa do processo de produção capitalista a partir do trabalho. Este se traduz na possibilidade de elaborar formas de sociabilidade que implicam a modificação da natureza. Ao relacionar-se com a natureza, o homem constrói objetos, ferramentas e relações sociais necessárias à vida em sociedade. Veja o que afirma Granemann (2009, p. 6): A capacidade de produzir coisas pelo trabalho nas diferentes sociedades sempre esteve subordinada às relações sociais construídas pelos seres sociais, ainda que as justificativas para a permanência dos diferentes arranjos societários mui- tas vezes tenham invocado relações baseadas no sangue e na hereditariedade ou em divindades para explicar o poder e a realização da vontade das classes dominantes, em nome de relações que somente na aparência mistificadora por elas assumidas legitimavam a ordem social como natural e, portanto, não passível de transformações e de questionamentos. Para fazer a leitura da realidade social posta, é necessário apreender a dinâmica do processo de reestruturação produtiva capitaneado pelas transfor- mações societárias. A partir da década de 1990, o processo de globalização das economias aconteceu de maneiras diferentes entre os países. No Brasil, esse processo aconteceu numa condição temporal bem diferenciada daquela dos países europeus, o que redundou no capitalismo tardio. No final do século XX, o capitalismo tornou-se globalizado devido aos avanços tecnológicos que ocorreram nos setores da informática e da comunicação. A partir daí, surgiu a oportunidade certa para o capital internacionalizar suas transações e se expandir a nível mundial (IANNI, 2005). Nesse sentido, o processo se aliou ao neoliberalismo, que propõe, conforme Anderson (1995), um ideário contrário ao Estado intervencionista, acentuando as consequências da reestruturação produtiva em toda a sociedade, interferindo no desenvolvimento e na execução das políticas sociais e culminando no agravamento da Questão Social (FREITAS, 2016). O capitalismo selvagem, marcado pela financeirização do mercado, preza pelas relações mercantis e transforma as relações sociais em mercadoria. Ele retira do A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social14 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 14 10/01/2019 11:35:57 ser humano o seu caráter de humanidade e o transforma em objeto a ser negociado no mercado produtivo. Os processos produtivos ancorados na trajetória do avanço tecnológico despersonificam o homem, na medida em que o seu “trabalho” só se faz importante quando ele domina a máquina para melhor operacionalizá-la. O cenário de atuação do assistente social se modificou, em especial a partir da década 1990, por meio das novas formas de contratação, da redução dos direitos sociais trabalhistas e, em contrapartida, das novas requisições para a atuação profissional. Tais requisições estão associadas à qualificação profissional, ao aprimoramento na área da informática e da comunicação e, sobretudo, às estratégias de intervenção pautadas no projeto ético-político. Veja: Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que deman- dam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os instrumentos existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às suas ações. Na medida em que os profissionais utilizam, criam, se adequam às con- dições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste modo, a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho (GUERRA, 2007, p. 2). Os desafios apresentados à classe trabalhadora se apresentam também aos assistentes sociais, visto que eles se encontram na condição de trabalhadores assalariados — especializados, mas assalariados. Há uma dupla posição para esses profissionais, porque eles também atendem aos trabalhadores expropriados do mercado produtivo. Hoje, os assistentes sociais devem estar atentos às mudanças tanto locais quanto globais, ou seja, mundiais. Exige-se cada vez mais do profissional uma qualifi- cação teórico-metodológica que dê conta de apreender a dinâmica da sociedade e as manifestações sociais, numa conjuntura de contradições, conflitos e num repensar dos valores e, sobretudo, da ética. Iamamoto (2009, p. 12) destaca que: O exercício da profissão exige um sujeito profissional que tenha competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. Requer ir além das rotinas institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, as tendências e possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho. Fazer uma intervenção com base nessas noções torna-se um desafio para o Serviço Social, que deseja que os brasileiros construam paulatinamente 15A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 15 10/01/2019 11:35:57 o exercício da sua cidadania. Antes de tudo, é preciso discutir mais sobre a consciência política que todo cidadão deve ter. A ideia é fazer reflexões, análises críticas e construir uma forma de sociabilidade baseada na transformação e na emancipação social. Dessa forma, é possível viabilizar as lutas sociais. Como você viu, a competência profissional está pautada nas leis que regu- lamentam o Serviço Social e, sobretudo, no seu projeto ético-político. Essas ferramentas orientam um exercício profissional reflexivo, criativo e crítico, capaz de perceber a realidade social na complexidade e na totalidade históricas. Assim, é possível fazer uma intervenção com vistas à transformação social. A seguir, veja os elementos que podem dificultar a percepção da realidade social nas organizações (BARBOSA, 2004): visão fragmentada da realidade social, que interdita uma visão de totalidade; organização do trabalho baseada em atividades programáticas, fragmentárias e desarticuladas, de modo que as diferentes equipes não conhecem globalmente a situação e por isso realizam diferentes encaminhamentos parciais face às demandas (respostas fragmentadas); apreensão parcial e fragmentária do processo de trabalho, que conduzao estra- nhamento do trabalho, à alienação. ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E.; GENTILI, P. (Ed.). Pós-neolibera- lismo: as políticas sociais e o estado democrático. São Paulo: Paz e Terra, 1995. BAPTISTA, M. V. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo: Veras, 2000. (Série Livro-Texto, n. 1). BARBOSA, R. N. C. Gestão: planejamento e administração. Temporalis, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, jul./dez. 2004. BERTOLLO, K. Planejamento em serviço social: tensões e desafios no exercício profissio- nal. Revista Temporalis, Rio de Janeiro, v. 16, n. 31, p. 333-356, jan/jun. 2016. Disponível em: <http://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/11943/10111>. Acesso em: 07 jan. 2019. FREITAS, T. F. Os rebatimentos da reestruturação produtiva sobre a classe trabalhadora e a questão social. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS, 4., 2016, Belo Ho- rizonte. Anais... Belo Horizonte: CRESS/MG, 2016. A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social16 C7_Gestao_e_Planejamento.indd 16 10/01/2019 11:35:57 GRANEMANN, S. O processo de produção e reprodução social: trabalho e sociabilidade. 2009. Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/s709726Gx6l8W29E12Si. pdf>. Acesso em: 08 jan. 2019. GUERRA, Y. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. Belo Horizonte: CFESS/ CRESS, maio 2007. Palestra ministrada no Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais. 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Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres. 2. ed. São Paulo: Veras, 2006. RICO, E. M. Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009. 17A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social C7_Gestao_e_Planejamento.indd 17 10/01/2019 11:35:57 Conteúdo: GESTÃO E PLANEJAMENTO EM SERVIÇO SOCIAL Silvia Santiago Martins O assistente social na função de gestor Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir projeto, programa, serviço, coordenação, direção, assessoria, consultoria, supervisão e avaliação. Identificar a importância do planejamento no processo de trabalho do assistente social. Reconhecer a função de gestor do assistente social nas instituições. Introdução Neste capítulo, você vai descobrir a importância da atuação do assistente social junto à gestão. Além disso, você vai conhecer as diferentes áreas em que esse profissional é chamado a atuar, como a assessoria e a consultoria. Você também vai ver que o planejamento se faz presente no processo de pensar e construir diferentes intervenções para o Serviço Social. Por fim, você vai verificar como a gestão se insere nos preceitos que regulamentam a profissão, ou seja, enquanto um processo ético-político e técnico-político. Afinal, na gestão também é necessário pensar, refletir, propor e avaliar tendo em mente a realidade contemporânea e a socie- dade que se deseja e defende. Conceitos básicos A elaboração e a efetivação de projetos integram o fazer cotidiano dos sujeitos. Essas atividades se relacionam à coordenação, à direção, à assessoria, à con- sultoria, à supervisão e à avaliação. Em vários momentos, as pessoas realizam essas tarefas sem conceitos teóricos preestabelecidos, pois a realidade vasta e complexa da contemporaneidade as incita a essas atividades. Contudo, você precisa conhecer alguns conceitos fundamentais para que possa elaborar e efetivar projetos com competência e responsabilidade. Entre tais conceitos, está o de projeto, “[...] a menor unidade do processo de planejamento. Trata-se de um instrumento técnico-administrativo de exe- cução de empreendimentos específicos, direcionados para as mais variadas atividades interventivas e de pesquisa no espaço público e no espaço privado” (TEIXEIRA, 2009, p. 643). É no projeto que são detalhados os objetivos, as ações a serem tomadas, o momento em que serão realizadas e o seu custo. Ou seja, no projeto são detalhadas as ações que contemplarão objetivos deli- neados no plano e no programa a serem executados. O programa, então, “É o documento que indica um conjunto de projetos cujos resultados permitem alcançar o objetivo maior de uma política pública” (TEIXEIRA, 2009, p. 643). No campo do Serviço Social, se destaca o Programa Bolsa Família, que tem como principal objetivo a distribuição de renda, com critérios de seleção definidos. As famílias devem ser cadastradas por meio do Cadastro Único. Esse programa faz parte de um plano de governo. Desse modo, pode ser mo- dificado, alterado ou extinto se, no seu processo de implantação, execução e avaliação, for considerado inoperante. Os planos de governo propõem uma intencionalidade maior, mais abrangente. Eles são compostos de vários pro- gramas, projetos e até mesmo serviços, garantidos por meio de leis e portarias que os regulamentam de acordo com cada política. Já os serviços podem ter várias definições, considerando as distintas áreas do conhecimento. Contudo, aqui você deve considerar o serviço junto à área social. Assim, o serviço pode ser definido como um bem não material. Isso o distingue dos produtos, mas não impede que o serviço tenha valor. Segundo Marx (1985, p. 159), o serviço pode ser compreendido da seguinte forma: “[...] um serviço nada mais é que o efeito útil de um valor de uso, seja da mercadoria, seja do trabalho”. Há vários serviços indispensáveis. Por exemplo: transporte, habitação, serviços garan- tidos na seguridade social (saúde, previdência e assistência social), entre outros. Assim, você pode considerar que as pessoas não produzem um serviço, mas o prestam. O assistente social na função de gestor2 Outro ponto a ser discutido é referente à coordenação e à direção. Ambas podem ter definições distintas para as diferentes áreas do saber, mas tais definições se entrelaçam. Desse modo, coordenar implica ordenar as partes, respeitando o grau de importância de cada uma. A coordenação tem a pre- tensão de manter a estabilidade das partes envolvidas. A direção pode ser compreendida como “para onde ir”, “para onde seguir”,na interpretação dos programas e projetos. Dessa forma, a direção serve para planejar, organizar, dirigir e controlar o que deve ser executado para se atingir determinada meta ou objetivo. Já a assessoria e a consultoria têm a função de auxiliar, nos diferentes espaços, a reflexão e a execução dos mais diferentes projetos, programas, bem como a coordenação e a direção dos serviços prestados. Assim, ao es- tudar o processo de execução da assessoria, você tem de considerar que o profissional que exerce essa atividade, ou melhor, que executa esse serviço, deve ser plenamente capacitado na área de atuação. Afinal, “Se observarmos a origem da palavra [...], podemos entender que assessoria é aquela ação que visa a auxiliar, ajudar, apontar caminhos. Não sendo o assessor um sujeito que opera a ação e sim o propositor desta, junto a quem lhe demanda esta assessoria” (TEIXEIRA, 2009, p. 599). A assessoria e a consultoria estão intrinsecamente ligadas, mas se distinguem pois a assessoria tem a ver com assistir, e a consultoria com pedir opinião, consultar a respeito de algo. Para compreender isso melhor, considere o seguinte: Frequentemente para que uma equipe ou assistente social solicite um processo de consultoria, é necessário que já tenha passado, ainda que precariamente, pela elaboração de um projeto de prática, objetivando, com a consultoria, respostas para algumas questões pontuais que dificultam o encaminhamento do mesmo. As assessorias são solicitadas ou indicadas, na maioria das vezes, com o obje- tivo de possibilitar a articulação e preparação de uma equipe para a construção do seu projeto de prática por meio de um expert que venha assisti-la teórica e tecnicamente (VASCONCELOS, 1998, p. 128–129). A supervisão, que não deve ser confundida com a assessoria/consultoria, significa a ação de ver, ou seja, olhar de cima. No Serviço Social, se destaca a supervisão de estágio, fator primordial para a formação de futuros profis- sionais, assim como a supervisão nos diferentes espaços ocupacionais da profissão. Veja: 3O assistente social na função de gestor A supervisão é a expressão da indissociabilidade entre trabalho e formação profissional. Nela as duas dimensões da profissão se articulam, de modo a realizar uma síntese de múltiplas determinações que envolvem o exercício profissional na sua totalidade: as condições objetivas que se operam no mercado de trabalho, as condições subjetivas relativas ao sujeito e a necessidade de qualificá-las permanentemente. Nessa perspectiva, a supervisão, na condição de atribuição profissional, contempla uma dimensão formativa. Aqui, pensa- -se tanto a supervisão de estágio quanto a supervisão de equipes, políticas, programas e projetos. Em todas as suas modalidades, a supervisão detém o potencial de cumprir com os princípios de compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, bem como com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional, expressa no nosso projeto ético- -político profissional (GUERRA; BRAGA, 2009, p. 616). A supervisão é uma das atribuições do profissional de Serviço Social. É nesse processo que o assistente social contribui para a formação de futuros profissionais, ampliando e aprimorando as suas competências e a sua com- preensão das dimensões teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético- -políticas do Serviço Social. Por sua vez, a avaliação é um processo constante de apreendizagem, não só no meio acadêmico, mas no fazer profissional cotidiano. Para se avaliar uma política social, são empregados processos metodológicos que possibilitam a produção e a divulgação das informações colhidas. Assim: [...] avaliar pressupõe determinar a valia ou o valor de algo; exige apreciar ou estimar o merecimento, a grandeza, a intensidade ou força de uma política social diante da situação a que se destina. Avaliar significa estabelecer uma relação de causalidade entre um programa e seu resultado, e isso só pode ser obtido mediante o estabelecimento de uma relação causal entre a modalidade da política social avaliada e seu sucesso e/ou fracasso, tendo como parâmetro a relação entre objetivos, intenção, desempenho e alcance dos objetivos. [...] a avaliação tem como principal objetivo estabelecer um valor ou julgamento sobre o significado e efeitos das políticas sociais (BOSCHETTI, 2009, p. 667). Com a avaliação das informações colhidas junto às políticas sociais, é possí- vel analisar se o objetivo está sendo alcançado ou não, o que se deve melhorar, o que se deve abolir. Enfim: a avaliação é um processo que requer cuidado na análise dos dados, mas é de suma importância para o desenvolvimento de políticas sociais que atendam aqueles a quem são destinadas. Na atualidade, os espaços de atuação em gestão, assessoria, consultoria, entre outros apresentados, estão sendo cada vez mais ocupados pelos assistentes sociais. Esses profissionais estão sendo chamados o ocupar tais espaços em O assistente social na função de gestor4 função das competências técnicas advindas de sua formação generalista. Contudo, o constante aprimoramento técnico e intelectual deve estar presente no fazer profissional cotidiano de todo assistente social. Assim, ele vai exercer o seu trabalho com a qualidade exigida por essas funções. O planejamento no processo de trabalho do assistente social O planejamento faz parte da vida cotidiana dos sujeitos sociais. No processo de planejar as atividades diárias, não são considerados conceitos teóricos. Contudo, no Serviço Social, o planejamento exige um aporte teórico. Atualmente, o Serviço Social se depara cada vez mais com a atuação em serviços, projetos, programas sociais, coordenação, direção, etc. Desse modo, é necessário pla- nejar a execução das atividades propostas. Isso é fundamental para garantir a efetividade e a efi cácia das ações. Para compreender melhor o conceito de planejamento, considere que o ato de planejar: [...] refere-se ao processo permanente e metódico de abordagem racional e científica de questões que se colocam no mundo social. Enquanto processo permanente supõe ação contínua sobre um conjunto dinâmico de situações em um determinado momento histórico. Como processo metódico de abordagem racional e científica, supõe uma sequência de atos decisórios, ordenados em momentos definidos e baseados em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos (BAPTISTA, 2007, p. 13). Assim, o ato de planejar está diretamente ligado aos processos de trabalho do assistente social, pois o planejamento faz parte do fazer cotidiano do referido profissional. Além disso, é uma ação que contribui para o desenvolvimento da práxis. Assim, é importantíssimo você compreender o processo de planeja- mento, seu objetivo, suas propostas de ação e sua efetivação. A ideia é que esse seja um processo que contribua para a reflexão crítica e para o desenvolvimento de uma sociedade mais coletiva e menos individualista. Veja: Hoje, enfrentando e absorvendo todas as críticas, retoma-se o planejamento para desvendar algumas de suas faces ocultas e de suas armadilhas, muito claras no planejamento tradicional, como o mito do instrumental técnico neutro, o mito do técnico planejador, o mito da previsão do futuro, etc., para inscrevê-lo como um exercício de liberdade e participação, necessário aos que governam e aos que não governam. É instrumento dos que querem tornar- -se sujeitos e construir o presente e o futuro desde já, dos que não querem 5O assistente social na função de gestor sucumbir às forças do acaso ou do mercado, ou à vontade estranha, ou aos desígnios dos donos do poder. O planejamento contemporâneo põe, claramente, no âmago de sua reflexão, o papel da estratégia no processo de tomada de decisões compartilhadas (TEIXEIRA, 2009, p. 645). Desse modo, o assistente social deve planejar suas atividades nos mais distintos espaços ocupacionais. Planejar é algo inerente ao homem; além disso, é um ato pensado, refletido, analisadoe executado. Ao executar o que foi planejado, o assistente social fortalece o fazer profissional, em seus mais distintos processos de trabalho. Com relação a isso, considere [...] que não existe um processo de trabalho do Serviço Social, visto que o trabalho é atividade de um sujeito vivo, enquanto realização de capacidades, faculdades e possibilidades do sujeito trabalhador. Existe, sim, um trabalho do assistente social e processos de trabalho nos quais se envolve na condição de trabalhador especializado (IAMAMOTO, 2009, p. 435). Ao pensar o planejamento como um ato de compreender a realidade, bem como de subsidiar os processos de trabalho da profissão, não se pode descon- siderar que esse ato também é político, no sentido de que política significa bem público, respeitando os distintos espaços de atuação profissional. Desse modo, o ato de planejar dialoga constantemente com o projeto ético-político do Serviço Social. Historicamente, ocorre a desconstrução de políticas sociais, mas elas ainda integram espaços que absorvem grande parte dos profissionais. Esses profissionais, contudo, não devem somente executar os serviços, mas também pensar e repensar as políticas. Segundo Iamamoto (2009), está ocorrendo o processo de descentralização das políticas sociais, o que exige que os profis- sionais desempenhem novas funções: Historicamente, os assistentes sociais dedicaram-se à implementação de polí- ticas públicas, localizando-se na linha de frente das relações entre população e instituição ou, nos termos de Netto (1992), sendo “executores terminais de políticas sociais”. Embora esse seja ainda o perfil predominante, não é mais o exclusivo, sendo abertas outras possibilidades. O processo de descentra- lização das políticas sociais públicas, com ênfase na sua municipalização, requer dos assistentes sociais – como de outros profissionais – novas fun- ções e competências. Os assistentes sociais estão sendo chamados a atuar na esfera da formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e monitoramento, inscritos em equipes multiprofissionais. Ampliam seu espaço O assistente social na função de gestor6 ocupacional para atividades relacionadas ao controle social, à implantação e orientação de conselhos de políticas públicas, à capacitação de conselheiros, à elaboração de planos e projetos sociais, ao acompanhamento e avaliação de políticas, programas e projetos (IAMAMOTO, 2009, p. 433). O planejamento está diretamente ligado, portanto, ao fazer profissional do assistente social e aos mais distintos processos de trabalho desenvolvidos por ele. Assim, ao realizar as mais diversas atividades, tanto no atendimento direto aos usuários das políticas sociais como em atividades de gestão, o assistente social deve refletir sobre a sua atuação. O assistente social como gestor nas instituições O Serviço Social é uma profi ssão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, reconhecida pela Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1993. Ele tem seus parâmetros embasados também no Código de Ética e no projeto ético-político da profi ssão. É considerado uma profi ssão importante socialmente, pois intervém cotidia- namente nas mais distintas expressões da Questão Social. Reconhecer esses fatores é importante para você compreender as competên- cias profissionais, suas habilidades e sua instrumentalidade. O conhecimento técnico é crucial para a intervenção profissional nos distintos espaços de atuação/ocupação. Segundo Netto (2017, documento on-line), a prática ou as habilidades profissionais estão ligadas ao aporte teórico, que dá subsídios à efetividade da profissão: “Tais projetos são construídos por um sujeito cole- tivo — o respectivo corpo (ou categoria) profissional, que inclui não apenas os profissionais ‘de campo’ ou ‘da prática’, mas que deve ser pensado como o conjunto dos membros que dão efetividade à profissão”. O assistente social não só pode exercer a função de gestor de políticas sociais, como sua atuação na gestão está alicerçada no art. 4º da lei que regulamenta a profissão. Segundo esse artigo, constituem competências do assistente social: I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organi- zações populares; II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil (BRASIL, 1993, documento on-line); 7O assistente social na função de gestor No art. 5º, são definidas as atribuições privativas do assistente social: I – coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II – planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III – assessoria e consultoria em órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social (BRASIL, 1993, documento on-line); Os assistentes sociais, ao exercerem a gestão, devem pautar sua atuação em princípios éticos e profissionais estabelecidos pela lei que regulamenta a profissão, pelo Código de Ética Profissional e pelo seu projeto ético-político. Também devem buscar, ao exercer a função de gestores, a defesa intransigente dos direitos construídos socialmente, assim como o fortalecimento e a im- plantação de programas, planos e projetos que atendam à população usuária, agilizando e melhorando os serviços prestados. O assistente social tem conhecimento e competência para exercer a função de gestor em qualquer instituição, pública ou privada, que oferte serviços em que o referido profissional atue. Um desses espaços é a política de assistência social, que, por meio da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/ SUAS), vem fortalecendo a atuação do profissional de Serviço Social como gestor. Nesse sentido, ele é chamado a assumir a função de gestor em diversas áreas, como saúde, educação, assistência social, previdência, habitação, entre outras. Veja: A gestão, no caso do SUAS, é central para a efetividade do sistema e, para que se consolide, será fundamental utilizar os referenciais do planejamento participativo e pautar-se na premissa da democratização dos espaços e na garantia de direitos sociais universais e emancipadores (COUTO, 2009b, p. 16). Assim, a função de gestor realizada pelo assistente social é de suma im- portância para as instituições, tendo em vista que esse profissional é formado para lutar pela garantia de direitos, bem como pela democratização de acesso a bens e serviços. Ao atuar na função de gestor, o assistente social pode detectar possibilidades de romper com processos burocráticos, contribuindo para melhorias nas instituições em que trabalha. Ao assumir a função de gestor, o assistente social deve considerar os objetivos que defende enquanto profissional de Serviço Social. A ideia é que O assistente social na função de gestor8 ele contribua para a existência de espaços democráticos de direito com matriz ético-política. Afinal, a gestão se configura como espaço político e pode ser utilizada para a democratização do poder. A ideia é mobilizar, organizar e motivar os trabalhadores e a população atendida. Este é, talvez, um dos maiores desafios da profissão: compreender o espaço de gestão como espaço de participação e mobilização para a transformação social. BAPTISTA, M. V. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo: Veras, 2007. BOSCHETTI, I. Avaliação de políticas, programas e projetos sociais. In: CONSELHO FE- DERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. BRASIL. Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8662.htm>. 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São Paulo: Cortez, 1997. IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e o serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2003. O assistente social na função de gestor10 Conteúdo: PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL Daniela Quadros da Silva A gestão no processo de trabalho do assistente social Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir gestão no processo de trabalho do Serviço Social e suas implicações. Descrever o processo de inserção do Serviço Social nos espaços de gestão. Reconhecer a gestão como atribuição do assistente social. Introdução O Serviço Social é uma profissão de caráter interventivo que atua nas expressões da Questão Social materializadas em amplos segmentos societários. Dessa forma, intervém em múltiplas situações de desi- gualdades sociais e no conjunto de resistências e rebeldias por parte daqueles que as vivenciam. A intervenção profissional ocorre nos mais distintos espaços sócio-ocu- pacionais e requer um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes por parte do assistente social. O profissional pode operar tanto no campo da execução das políticas sociais como também no âmbito da sua gestão. Neste capítulo, você vai conhecer a gestão como espaço sócio- -ocupacional do assistente social. Também vai identificar alguns limites e possibilidades desse espaço no processo de trabalho do Serviço Social. Além disso, você vai estudar as particularidades do exercício profissional nesse campo tão desafiador. A gestão no processo de trabalho do Serviço Social O Serviço Social é uma profi ssão de caráter eminentemente interventivo. Essa intervenção caracteriza-se pelo atendimento às mais distintas demandas dos sujeitos. A partir disso, podem ser produzidos resultados concretos e objetivos, como também resultados no nível da subjetividade. Estão envolvidas condições materiais, sociais, políticas e culturais, sempre permeadas pelo acesso aos direitos de cidadania. Enquanto profissional inserido na divisão social e técnica do trabalho, o assistente social pode desenvolver sua intervenção na execução direta de serviços, programas, projetos e benefícios sociais. Além disso, pode atuar no planejamento e na gestão desses elementos, bem como na gestão dos recursos voltados a eles, tanto na esfera pública quanto na privada. Assim, o exercício profissional ganha materialidade por meio de três dimensões constitutivas: a ético-política, a teórico-metodológica e a técnico-operativa. Essas dimensões devem ser compreendidas de forma articulada para que não haja dicotomias entre teoria e prática durante a intervenção profissional. A dimensão ético-política do trabalho profissional expressa o dire- cionamento que suas atividades tomam no sentido de defesa dos direitos e interesses da classe trabalhadora. Já a dimensão teórico-metodológica diz respeito aos pressupostos teóricos e reguladores da profissão. A dimensão técnico-operativa, por sua vez, refere-se ao instrumental que a profissão mobiliza para intervir. Uma atenção especial deve ser dada à discussão em torno da dimensão técnico-operativa. Tal discussão deve ultrapassar o discurso sobre as técnicas e instrumentos isoladamente para garantir que se realizem as devidas aproxima- ções entre o conjunto de instrumentos, a bagagem teórica e o direcionamento político que orienta a intervenção profissional. A discussão sobre a dimensão técnico-operativa no Serviço Social ainda pressupõe reconhecer os muitos espaços sócio-ocupacionais em que os assistentes sociais podem se inserir, o que acarreta especificidades para as intervenções, especialmente no que se refere à natureza das ações profissionais requisitadas em cada espaço. Um exemplo disso é a possibilidade de o profissional atuar no campo da gestão das políticas sociais e também na execução direta dos serviços, programas, projetos e benefícios que as compõem. A gestão no processo de trabalho do assistente social2 Leia o artigo de Regina Celia Tamaso Mioto e Vera Maria Ribeiro Nogueira intitulado “Política Social e Serviço Social: os desafios da intervenção profissional”, disponível no link a seguir. https://goo.gl/2vbzpP Antes de você conhecer as especificidades do trabalho do Serviço Social nos espaços de gestão, deve relembrar alguns importantes marcos do percurso histórico de consolidação da profissão no Brasil. Seu surgimento no País data de meados da década de 1930, quando se acirram conflitos de classe decorren- tes das mazelas sociais contrapostas ao desenvolvimento capitalista daquele período. Na Era Vargas, criam-se as primeiras intervenções estatais voltadas ao atendimento de algumas das necessidades da população, especialmente aquelas relacionadas às situações de desemprego e pobreza. Contudo, os assistentes sociais, enquanto agentes ligados à Igreja Católica, agiam a partir de um viés moralista e conservador, no intuito de assegurar a ordem vigente. Na década de 1980, o chamado movimento de reconceituação (iniciado em 1960) ganha consolidação e contribui para amplos e intensos debates no interior da profissão. Tais debates culminaram na ruptura com as práticas conservadoras que marcaram o surgimento do Serviço Social. Nesse período, alteraram-se as bases teóricas que norteavam as análises e intervenções no real, que já não se orientavam mais a partir da doutrina social da Igreja Católica, e sim a partir de uma perspectiva social crítica de base marxista. Ao buscar a qualificação e a reorientação profissional para intervir nas complexas expressões da Questão Social, a profissão vai ganhando maior reco- nhecimento da sociedade, não somente de seus usuários, mas também de seus empregadores. Alteram-se as relações de trabalho envolvendo o Serviço Social, que passa a contar com instrumentos reguladores e balizadores, a exemplo da Lei de Regulamentação Profissional (Lei nº8.668/1993) e do Código de Ética. Ao legitimar-se como profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, partícipe da produção e da reprodução das relações sociais, o Serviço Social amplia seus espaços de trabalho, bem como as demandas tradicionalmente atendidas. Na atualidade, há profissionais desempenhando atividades ligadas à execução direta de serviços sociais e também profissionais atuantes no âmbito da organização institucional desses mesmos serviços. Isto é, o profissional não é mais unicamente 3A gestão no processo de trabalho do assistente social um executor direto. Ele também pode intervir nas seguintes modalidades inter- ventivas: planejamento, avaliação, assessoria, consultoria e gestão. A gestão começa a ganhar maior visibilidade enquanto espaço sócio- -ocupacional para os assistentes sociais na década de 1980, justamente no período em que têm início os debates acerca do trabalho profissional. O termo “gestão” é derivado da área da administração e diz respeito ao ato de gerenciar (NOGUEIRA; SAUER, 2016), representando um conjunto de técnicas para racionalizar e otimizar o funcionamento das organizações. A gestão social, por sua vez, corresponde a processos que visam a alguma transformação societária. Para Maia (2005), esse termo refere-se a um conjunto de processos potentes para o desenvolvimento social emancipatório. O exercício profissional do assistente social nos espaços de gestão Os assistentes sociais que assumem espaços de trabalho vinculados à gestão precisam assumir também o compromisso de efetivar uma gestão democrática. A ideia é que estejam alinhados com os pressupostos ético-políticos que orientam seu fazer profi ssional. Assim, no trabalho dos assistentes sociais, a gestão pode sinalizar possibilidades concretas de viabilizar o projeto ético-político profi ssio- nal, contrapondo-se aos imperativos neoliberais que em grande parte ditam os direcionamentos das políticas sociais voltadas à operacionalização de direitos. No cotidiano da intervenção profissional, devido a determinações societárias que condicionam o mundo do trabalho e, particularmente, o desenvolvimento do trabalho em Serviço Social, é comum que os profissionais se questionem sobre as reais e efetivas mudanças que podem empreender ao assumir o campo da gestão. Contudo, importa considerar as pequenas alterações que eles podem realizar no seu contexto ocupacional. A ideia é concretizar seus compromissos ético-políticos, pois essas mudanças certamente culminarão em conquistas a médio e longo prazo que trarão impactos para a vida dos sujeitos beneficiários das intervenções. Tendo em vista a formação profissional dos assistentes sociais e seus conhecimentos sobre a realidade e os direitos sociais, ao ocupar espaços de gestão, há muitas potencialidades para promover rupturas com certas dinâmicas institucionais que reiteram a subalternidade dos sujeitos e em nada contribuem para o atendimento de suas reais necessidades. Contudo, certamente há muitos desafios presentes nesse trabalho. Por exemplo: os conflitos de interesses no interior das organizações; as disputas por espaços de controle; as divergências entre os objetivos institucionais e os profissionais; a efetivação do trabalho A gestão no processo de trabalho do assistente social4 em redes intersetoriais; a necessidade de busca por novos conhecimentos; e o gerenciamento de recursos (humanos e financeiros), muitas vezes escassos em relação à complexidade das demandas postas na realidade. De qualquer forma, é importante que o Serviço Social contribua para ampliar os movimentos de defesa e garantia de direitos e para propor novas alternativas de trabalho em quaisquer espaços sócio-ocupacionais em que se insira. Têm destaque aqueles espaços em que o assistente social é requisitado a atuar para além da operacionalização e da execução direta, contemplando intervenções voltadas à formulação, ao planejamento e à gestão das políticas sociais. Isso porque a gestão acaba direcionando o desenvolvimento das demais atividades que repercutem na vida cotidiana dos sujeitos demandatários das intervenções. Independentemente do espaço sócio-ocupacional em que os assistentes sociais inter- vêm, seu objeto de trabalho sempre é a Questão Social. Ela se apresenta de diferentes formas em cada espaço, podendo variar as suas expressões na vida dos usuários e no próprio ordenamento institucional. Lembre-se de que a Questão Social diz respeito ao conjunto de desigualdades sociais e resistências oriundas das contradições do modo de produção capitalista. Nesse sistema, as riquezas produzidas coletivamente são apropriadas por uma pequena parcela societária. O exercício no âmbito da gestão requer dos assistentes sociais diferentes saberes para o reconhecimento das especificidades desse campo de trabalho, para que seja possível a construção de respostas profissionais efetivas. Seu trabalho na gestão é cada vez mais requisitado, tendo em vista os elementos constitutivos de sua formação, que permite ao assistente social reconhecer e analisar com propriedade as necessidades sociais apresentadas pelos usuários. Como características do trabalho de gestão executado pelos assistentes sociais, você pode considerar os elementos de participação social, compar- tilhamento de poder, horizontalidade nas relações, autonomia dos sujeitos, liberdade e articulação de redes. O desenvolvimento da chamada gestão social torna-se um meio de exercitar, constantemente, as práticas democráticas nas organizações. Portanto, o compromisso ético-político profissional e o conjunto de conhecimentos gerais que esse profissional tem — devido à sua base de formação técnico-operativa, ético-política e teórico-metodológica — fazem 5A gestão no processo de trabalho do assistente social com que os espaços de gestão que ele ocupa tornem-se ricos em possibilidades de fortalecimento de práticas democráticas e emancipatórias. Ao legitimar-se socialmente como uma profissão assalariada e inserida na divisão social e técnica do trabalho, o Serviço Social ganha respaldo legal para suas intervenções por meio de instrumentos reguladores e balizadores. Nesses instrumentos, verificam-se, entre outros aspectos, as suas competências e atribuições privativas, as quais extrapolam o campo da execução direta de serviços, programas, projetos e benefícios, contemplando outras possibilidades interventivas, como você vai ver a seguir. A gestão como atribuição dos assistentes sociais A gestão é uma atribuição e também uma competência dos assistentes sociais. Ela é reconhecida nos instrumentos reguladores e balizadores de seu exercício profi ssional. Além disso, a gestão das políticas sociais é um importante campo de trabalho. Veja o que está disposto na lei de regulamentação da profi ssão quanto às competências do assistente social: I – Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II – Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil (BRASIL, 1993, documento on-line). Agora veja o que diz a lei a respeito das atribuições desse profissional: I – Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II – Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social (BRASIL, 1993, documento on-line). Diante disso, não restam dúvidas de que o desenvolvimento de atividades ligadas à gestão se trata de uma prerrogativa dos assistentes sociais. Para isso, esses profissionais devem aliar seus princípios ético-políticos profissionais aos princípios que nortearão os serviços, programas, projetos e benefícios que estiverem sob sua gestão. Também devem ter clareza sobre a diferença entre os objetivos institucionais e os objetivos
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