Buscar

UNIDADE 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 57 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

GESTÃO E 
PLANEJAMENTO 
EM SERVIÇO 
SOCIAL 
Klauze Silva
A técnica do planejamento 
como instrumento 
do Serviço Social
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer os instrumentais utilizados pelo Serviço Social e seus 
objetivos.
  Relacionar o processo de trabalho do Serviço Social ao projeto ético-
-político profissional.
  Analisar as contradições inerentes ao planejamento como instrumento 
do Serviço Social, considerando o contexto sociopolítico e econômico 
contemporâneo.
Introdução
Como você sabe, o Serviço Social é uma profissão inserida na divisão 
sociotécnica do trabalho. Ele tem nas políticas sociais o espaço para o 
seu exercício. Além disso, o Serviço Social tem em sua natureza a ação 
interventiva que busca atender às necessidades das classes sociais. Essa 
ação se realiza nas expressões da Questão Social.
Reconhecer o planejamento como instrumento de trabalho inserido 
na dimensão técnico-operativa do Serviço Social exige a compreensão 
dos contextos técnicos e políticos da profissão. Além disso, quando se 
leva em conta a dimensão política do planejamento, é preciso analisá-la 
no contexto do projeto ético-político do Serviço Social.
Neste capítulo, você vai conhecer os instrumentos utilizados pelo 
Serviço Social e seus objetivos e vai estudar o projeto ético-político 
profissional. Por último, vai analisar as contradições inerentes ao plane-
jamento como instrumento do Serviço Social, considerando o contexto 
sociopolítico e econômico contemporâneo.
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 1 10/01/2019 11:35:55
Instrumentais utilizados pelo Serviço Social
Ao longo da sua trajetória, o Serviço Social vem ocupando espaços cada vez 
mais singulares e peculiares. Isso ocorre em virtude do movimento do capital 
e da posição assumida pelo Estado no enfrentamento da Questão Social. Ao 
ocupar esses espaços, o profi ssional precisa de novas habilidades teórico-
-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. Como afi rma Teixeira 
(2009, p. 554), “A profi ssão consolidou-se e vem avançando por meio da 
conquista de novas responsabilidades profi ssionais e de novos espaços ocu-
pacionais, onde se impõem exigências de expansão qualitativa e quantitativa 
de conhecimentos no campo teórico e prático [...]”.
Às habilidades requeridas ao assistente social somam-se também funções 
no âmbito da gestão, como a formulação, a implantação e o acompanhamento 
das políticas sociais. O amadurecimento intelectual da profissão e o projeto 
profissional construído coletivamente contribuíram para a ampliação do escopo 
de intervenção dos assistentes sociais. Contudo, essa ampliação encontra-se 
revestida de relativa autonomia, já que o Serviço Social atua no limite da 
reprodução social do capital e das contradições das relações societárias, se 
fixando na divisão sociotécnica do trabalho. Segundo Teixeira (2009, p. 554):
[...] abrem-se as possibilidades ao seu ingresso no complexo campo da formu-
lação, gestão e avaliação de políticas públicas, planos, programas e projetos 
sociais, impondo a apropriação de conceitos e procedimentos para a atuação 
nesse largo e diversificado espectro de relações de gestão em âmbito insti-
tucional e não institucional.
Assim, o assistente social deixa de ser um mero executor terminal das 
políticas sociais e passa a atuar na formulação e na proposição dessas políticas. 
O planejamento tem sido utilizado como instrumento importante para dar 
materialidade ao exercício profissional.
Enquanto competência e atribuição privativa do assistente social, o planeja-
mento deve ser compreendido historicamente. Se você considerar a capacidade 
humana de pensar, prever, organizar e sistematizar conteúdos e conhecimentos 
a partir da realidade social, pode inferir que planejar também compete ao ser 
humano, em especial porque tais características o definem enquanto sujeito 
social. Nesse sentido, “O planejamento é responsável e também decorrência 
do uso da razão pelo homem nos diferentes contextos e períodos históricos, 
isto é, no desenvolvimento da humanidade [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 335).
Além disso, conforme ilustra Marconsin (2010, p. 73):
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social2
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 2 10/01/2019 11:35:56
A elaboração de planos, programas e projetos pressupõe o planejamento do trabalho 
e deve ser precedida pelo processo de conhecimento e análise da realidade, como a 
própria condução metodológica do Serviço Social aponta. Deve responder àquelas 
tradicionais questões: por que, para que, o que, para quem, como e quando. Deve 
conter, também, o orçamento do que se pretende operacionalizar.
Se você considerar a história da humanidade, vai perceber que as iniciativas 
do homem pressupõem o planejamento. Pense, por exemplo, na construção 
das pirâmides do Egito e na construção do cavalo de Troia. Na sociedade 
capitalista, após a Segunda Guerra Mundial, emprega-se o planejamento 
econômico numa perspectiva de desenvolvimento. 
O New Deal (1933–1945) é considerado um marco dessa forma de planejar 
no mundo capitalista do Ocidente. Em 1946, a França elaborou um plano de 
recuperação econômica e de modernização e, em 1947, os EUA elaboraram 
também um plano de recuperação econômica da Europa e Japão (Plano Mar-
shall) [...] (TEIXEIRA, 2009, p. 555).
No século XIX, a teoria da administração se apropriou do planejamento, 
conceituando-o e elaborando diretrizes para a sua aplicabilidade numa perspec-
tiva de previsão. A ideia era antever recursos a serem utilizados para determinado 
fim. Impulsionado pela Revolução Industrial, o planejamento foi aplicado no 
setor privado como instrumento capaz de prever os recursos e as despesas na 
execução de determinada atividade. Como afirma Guerra (2007, p. 10):
Esse movimento ilustra a lógica da racionalidade burguesa, é a racionalidade 
predominante que está subjacente às formas de ser, pensar e agir na ordem 
social capitalista. Ela possui duas características fundamentais: o formalismo 
e a abstração. Ela é a lógica necessária à manutenção da ordem social e tem 
no positivismo sua mais alta expressão.
Baptista (2000, p. 13) define o planejamento da seguinte forma:
O termo “planejamento”, na perspectiva lógico-racional, refere-se ao processo 
permanente e metódico de abordagem racional e científica de questões que 
se colocam no mundo social. Enquanto processo permanente, supõe ação 
contínua sobre um conjunto dinâmico de situações em um determinado mo-
mento histórico. Como processo metódico de abordagem racional e científica, 
supõe uma sequência de atos decisórios, ordenados em momentos definidos 
e baseados em conhecimentos teóricos, científicos e técnicos.
3A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 3 10/01/2019 11:35:56
Dessa forma, a racionalidade pode ser entendida como o modo de ser e 
pensar específico de determinada ordem societária. Ela se origina e se recria 
na história real. Nesse contexto, a vinculação ideológica é determinante para 
a forma de apreensão e compreensão do real.
A função técnica e política do planejamento demanda do assistente social a 
leitura da realidade social ancorada nos fundamentos da profissão e, sobretudo, 
no significado social, tendo a Questão Social como objeto de intervenção. 
Para tanto, compatibilizar as condições subjetivas e objetivas no cotidiano 
do exercício profissional num contexto de disputas políticas e de correlação 
de forças torna-se um desafio ao profissional.
Como afirma Bertollo (2016, p. 337):
[...] o planejamento constitui-se em um ato técnico e político. Técnico porque 
pressupõe a racionalidade das ações ponderando uma série de condicionan-
tes, dentre eles: prazos e recursos existentes. Político porque se inscreve no 
contexto de tomada de decisões onde a correlação de forças e de interesses 
distintos evidencia-se entre os sujeitos.
Na emergência do Estado-nação, apresenta-sea dimensão dos direitos sociais 
num cenário de disputas de projetos societários distintos, de lutas sociais, de 
contradição. O poder público estatal admite o planejamento como mecanismo 
racionalizador da intervenção do Estado na aplicação das políticas sociais. Ou 
seja, “[...] a dimensão política do planejamento decorre do fato de que ele é um 
processo contínuo de tomadas de decisões, inscritas nas relações de poder, o 
que caracteriza ou envolve uma função política [...]” (BAPTISTA, 2000, p. 17).
O Estado neoliberal caracteriza-se pela redução da intervenção estatal nas 
políticas sociais, num processo de transferência de responsabilidades das ações 
públicas à sociedade civil no âmbito da Questão Social. Assim, abre-se espaço 
para o chamado terceiro setor desenvolver ações focalizadas que atendam às 
necessidades sociais no que tange às políticas sociais. É nesse cenário que a 
gestão social se revela como uma estratégia de ordenamento gerencial catali-
zador de ações coletivas e dialógicas. Ela revela o protagonismo de diferentes 
atores sociais que atuam em processos decisórios de interesse coletivo.
Você também deve considerar que o planejamento adquire uma dimensão 
técnico-política quando, no cotidiano do exercício profissional, nos diferentes 
espaços sócio-ocupacionais, o assistente social consegue “[...] ler, interpretar e 
articular-se com a realidade, com os seres sociais organizados em classes que 
se encontram em permanente luta [...]” (MARCONSIN, 2010, p. 67).
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social4
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 4 10/01/2019 11:35:56
A ação profissional que envolve o planejamento se materializa de diferentes 
formas. Ela ocorre na elaboração do plano de trabalho, na organização de reuni-
ões, na elaboração de planos/programas/projetos, na elaboração de diretrizes de 
atendimento aos usuários das políticas públicas, etc. Em síntese, a ação profis-
sional é “[...] o desvendar da realidade social, apreendendo-a em suas múltiplas 
determinações, relações e nexos como uma totalidade, em sua processualidade, 
em seu movimento, em suas contradições [...]” (MARCONSIN, 2010, p. 67).
Tomando o planejamento como elemento essencial às políticas públicas, 
é possível analisá-lo sob dois modelos, o do planejamento estratégico e o do 
planejamento participativo. Nessa perspectiva, o planejamento se inscreve no 
contexto de correlação de forças impressas no sistema capitalista, no qual o 
Estado neoliberal opera as políticas sociais. A seguir, você vai conhecer esses dois 
modelos de planejamento. No Quadro 1, veja os instrumentos de planejamento.
Fonte: Adaptado de Teixeira (2009) e Bertollo (2016).
Formulação de Teixeira (2009) Formulação de Bertollo (2016)
Plano: é o documento mais abrangente 
e geral, que contém estudos, análises 
situacionais ou diagnósticos necessários 
à identificação dos pontos a serem 
atacados, dos programas e projetos 
necessários, dos objetivos, estratégias e 
metas de um governo, de um ministério, 
de uma secretaria ou de uma unidade.
Plano: define e delineia as 
ações de forma mais ampla, 
isto é, considera e propõe 
ações relacionadas à estrutura 
organizacional como um todo, 
orientando os demais níveis 
de detalhamento das ações.
Programa: é o documento que 
indica um conjunto de projetos cujos 
resultados permitem alcançar o objetivo 
maior de uma política pública. 
Programa: é o momento/
documento de setorização 
do plano e de referência 
para o projeto.
Projeto: é a menor unidade do processo 
de planejamento. Trata-se de um 
instrumento técnico-administrativo de 
execução de empreendimentos específicos, 
direcionados para as mais variadas 
atividades interventivas e de pesquisa no 
espaço público e no espaço privado.
Projeto: é o instrumento de 
maior nível de detalhamento 
das ações e de menor 
âmbito de abrangência.
Quadro 1. Instrumentos de planejamento
5A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 5 10/01/2019 11:35:56
Planejamento estratégico e planejamento participativo
O planejamento se confi gura como uma atividade técnica e política. Assim, 
inexiste neutralidade na elaboração do planejamento. A técnica refere-se aos 
procedimentos, à racionalidade; já a política diz respeito à correlação de forças 
e de projetos societários distintos.
Na elaboração do planejamento, pode ocorrer “[...] o jogo de vontades po-
líticas dos diferentes grupos envolvidos, a correlação de forças, a articulação 
de grupos, as alianças ou as incompatibilidades existentes entre os diversos 
segmentos [...]” (BAPTISTA, 2000, p. 17–18). Tais elementos podem ser iden-
tificados a partir da leitura da realidade ancorada em determinado referencial 
teórico-metodológico crítico.
O planejamento estratégico descende da teoria da administração científica, 
cuja racionalidade visava a reduzir os custos de produção capitalista com a 
introdução de tecnologias poupadoras de mão de obra. Inicialmente, essa teoria 
foi aplicada nas empresas privadas com o objetivo de lidar com situações 
complexas e mudanças sistemáticas no modo de produção. Nesse sentido, 
“[...] esta metodologia pressupõe um pensamento estratégico e a implementação 
de ações concretas [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 339).
Esse modelo de planejamento, no momento seguinte, foi apropriado pelo 
setor público, que se valeu da conotação política relacionada ao adjetivo 
“estratégico”. Assim, 
O planejamento estratégico absorve a categoria estratégia e lhe dá visibi-
lidade por agregar ao processo a noção de mobilização, de negociação, de 
movimento, de manejo de técnicas, recursos, enfim, todos os meios (táticos) 
necessários para enfrentar o(s) oponente(s) ou uma situação complexa [...] 
(TEIXEIRA, 2009, p. 559).
Na elaboração do planejamento, é fundamental “[...] o reconhecimento do 
ambiente-alvo da ação, dos atores sociais envolvidos, o investimento pessoal no 
processo, as correlações de forças em disputa e o tempo necessário à realização 
de cada etapa do planejamento [...]” (TEIXEIRA, 2009, p. 559). Daí você pode 
inferir que “[...] o plano estratégico é o elo de articulação entre a gestão e a 
política de intervenção, uma vez que explicita os meios e o modo pelos quais 
serão colocadas em prática as ações [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 340).
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social6
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 6 10/01/2019 11:35:56
Leia o artigo de Guerra (2007) “A instrumentalidade no trabalho do assistente social”, 
disponível no link a seguir.
https://goo.gl/zMo1xa
O assistente social deve fazer uma leitura crítica da realidade social. Na 
elaboração do planejamento, deve atentar às correlações de forças existentes, 
distintas e contraditórias. Em resumo, “Trata-se de assegurar os princípios 
norteadores da profissão, assim como o projeto profissional, na direção do 
acesso aos direitos sociais, à justiça social e à transformação social [...]” 
(BARBOSA, 2004, p. 73). Sobretudo, o assistente social deve evitar tornar-
-se um técnico executor de tarefas, respondendo pragmaticamente ao que o 
mercado requisita em termos de empregabilidade para a área.
Veja a análise de Bertollo (2016, p. 341):
Faz-se necessário, então, ao assistente social gestor de políticas sociais ou 
técnico-executor das mesmas, posicionar-se e agregar forças no sentido de 
não sucumbir o que duramente foi conquistado como direitos sociais e hu-
manos — legal e normativamente reconhecidos — a ações manipulatórias e 
que coadunam com interesses contraditórios ao que o Serviço Social defende.
O profissional deve ancorar o exercício profissional nas dimensões teórico-
-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas. Tais elementos fornecerão 
os subsídios necessários à compreensão das transformações societárias. Assim, 
o assistente social pode posicionar-se pela defesa intransigente dos direitos 
humanos e sociais e pelo aprofundamento da democracia.
Na esteira do planejamento estratégico estáo planejamento participativo, 
envolto em indefinição quanto ao adjetivo “participativo”. Isso porque, no 
Brasil, o uso do planejamento participativo ocorreu entre as décadas de 1950 
e 1970, a partir do Programa de Desenvolvimento de Comunidade. Esse pro-
grama foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) no período 
pós-Segunda Guerra Mundial como recurso das grandes potências mundiais 
para socorrer os países pobres, com o intuito de transformar as relações sociais 
existentes nos mercados capitalistas.
7A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 7 10/01/2019 11:35:56
A participação, nesse período, consistia numa ação unilateral de substituição 
das relações sociais existentes por relações econômicas e sociais capitalistas. 
Nesse período, o modo de produção fordista-taylorista encontrou potencial para a 
expansão de mercados consumidores com a mudança na organização do trabalho e 
com a introdução de novas tecnologias industriais. Tais elementos impulsionaram 
as grandes potências mundiais a expandir mercados e levaram à dominação dos 
países subdesenvolvidos, alijados das relações sociais não capitalistas.
A partir da Constituição Federal de 1988, no Brasil, o conceito de par-
ticipação incorpora a ideia de democracia. Como afirma Teixeira (2009, 
p. 564), “Daí decorre que a participação no planejamento tem como escopo 
de compartilhar decisões, quer sejam econômicas, quer sejam políticas, quer 
sejam sociais ou culturais. Tomar decisões como um exercício de liberdade, 
sim, mas tomá-las de forma compartilhada [...]”.
Ainda que envolta sob o manto da democracia,
[...] não raras vezes a ideia de participação é utilizada para manipular grupos 
sociais, para significar a mera presença física dos indivíduos em espaços deli-
berativos, para legitimar interesses que não são oriundos e legítimos de grupos 
demandatários das ações, mas de outros que estão em via oposta no jogo de 
interesses presente naquele determinado contexto (BERTOLLO, 2016, p. 342).
No recente processo democrático brasileiro, foi possível observar essas 
ações nos espaços de controle social próprios da inexperiência no exercício 
da cidadania. Além disso, segundo Teixeira (2009, p. 565):
O ideal democrático supõe cidadãos atentos para as escolhas que estão sendo 
procedidas entre as diversas alternativas apresentadas pelas forças políticas 
e sociais, quer nas instâncias locais, quer no universo globalizado, principal-
mente vendo a relação de um com o outro (do local com o global).
Você ainda deve notar que o planejamento, enquanto ferramenta de in-
tervenção profissional do assistente social, merece ser apropriado a partir da 
realidade social posta. Além disso, é preciso subsidiar esse processo por uma 
leitura crítico-reflexivo-propositiva que ultrapasse os limites do tecnicismo 
e do pragmatismo, com vistas à transformação social.
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social8
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 8 10/01/2019 11:35:56
Você sabe o que é participação orgânica? De acordo com Teixeira (2009, p. 565), 
é a “Participação assegurada por meio de uma organização ou órgão. Trata-se de 
uma estrutura organizada, legal, que ocupa um espaço institucional na organização 
da sociedade [...]”. Nesse sentido, é importante que o assistente social contribua na 
organização de conselhos, colegiados e comissões, viabilizando o intercâmbio de 
informações e decifrando códigos para permitir a efetiva participação de todos os 
atores envolvidos nesse processo.
O trabalho do assistente social 
e o projeto ético-político
Como você viu, o planejamento é uma atividade técnica e política que demanda 
um conjunto de instrumentais a serem operacionalizados. É no arcabouço 
teórico-metodológico da sua profi ssão que o assistente social encontra as bases 
elementares para fazer a leitura da realidade social. Como você vai verifi car 
a seguir, a dimensão política do planejamento compreende o espaço de lutas 
de projetos societários distintos e contraditórios.
É no cotidiano que se efetiva o processo de trabalho do assistente social 
no marco do projeto ético-político. Nesse sentido, 
[...] todo processo de trabalho implica uma matéria-prima ou objeto sobre o 
qual incide a ação; meios ou instrumentos de trabalho que potenciam a ação 
do sujeito sobre o objeto; e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado 
a um fim, que resulta em um produto [...] (IAMAMOTO, 2005, p. 61).
Os projetos societários e os projetos profissionais constituem uma dimensão 
política, conforme ilustra Teixeira (2009, p. 188):
Todo projeto e, logo, toda prática, numa sociedade classista, têm uma dimensão 
política [...]. Ou seja, se desenvolvem em meio às contradições econômicas 
e políticas engendradas na dinâmica das classes sociais antagônicas. Na 
sociedade em que vivemos (a do modo de produção capitalista), elas são a 
burguesia e o proletariado. Logo, o projeto profissional (e a prática profissional) 
é, também, um projeto político: ou projeto político-profissional.
9A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 9 10/01/2019 11:35:56
Assim, é necessário pensar o trabalho na atualidade, conectá-lo às dimensões 
constitutivas da sociedade a partir do modo de produção capitalista. O trabalho, 
nessa perspectiva, é condição essencial ao processo de produção e reprodução 
da vida em sociedade. É a partir dele que são atendidas as necessidades sociais. 
Inserido nessa dinâmica, o processo de trabalho do assistente social se gesta a 
partir do movimento contraditório da sociedade, posto que o Serviço Social se 
encontra inserido no contexto da divisão sociotécnica do trabalho.
É no bojo das contradições do sistema capitalista que o Serviço Social surge 
para buscar respostas à Questão Social. Os processos históricos mostram, no 
caso brasileiro, que o Serviço Social vem acompanhando os movimentos da 
sociedade a fim de compreender as demandas concretas da classe trabalhadora. 
A história do Serviço Social brasileiro começou marcada pela vinculação com a 
Igreja Católica, cuja metodologia de intervenção pautava-se pelo assistencialismo 
e pela caridade. Em seguida, houve um momento de reflexão das bases teóricas 
e práticas, desvinculadas da Igreja Católica. Assim, passam a ser questionados a 
inserção e os objetivos dessa profissão no sistema capitalista. O amadurecimento 
se dá ao mesmo tempo em que a sociedade se organiza e luta pelos direitos sociais.
É nesse momento que o Serviço Social refuta e questiona o conservadorismo 
na profissão, conforme aponta Netto (1999, p. 1):
[...] a própria construção deste projeto no marco do Serviço Social no Brasil 
tem uma história que não é tão recente, iniciada na transição da década de 1970 
à de 1980. Este período marca um momento importante no desenvolvimento 
do Serviço Social no Brasil, vincado especialmente pelo enfrentamento e pela 
denúncia do conservadorismo profissional. É neste processo de recusa e crítica 
do conservadorismo que se encontram as raízes de um projeto profissional 
novo, precisamente as bases do que se está denominando projeto ético-político.
Nos anos 1990, houve o amadurecimento da profissão, do ponto de vista 
da produção científica, do exercício profissional e da base legal, com a apro-
vação do Código de Ética, da lei de regulamentação da profissão e do seu 
projeto ético-político, uma construção coletiva. Dessa forma, a década de 
1990 pode ser considerada o marco da mudança profissional, na medida em 
nela foi assegurada:
[...] a dimensão jurídico-política da profissão, na qual se constitui o arcabouço 
legal e institucional da profissão, que envolve um conjunto de leis e resoluções, 
documentos e textos políticos consagrados no seio da profissão. Há nessa di-
mensão duas esferas distintas, ainda que articuladas, quais sejam: um aparato 
jurídico-político estritamente profissional e um aparato jurídico-político de 
caráter mais abrangente(TEIXEIRA; BRAZ, 2009, p. 9).
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social10
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 10 10/01/2019 11:35:57
No Brasil, ao longo das décadas, ocorreu o movimento da sociedade ca-
pitalista na direção da organização baseada num Estado neoliberal. O Estado 
neoliberal traz consigo uma forma de gestão que valoriza as privatizações dos 
serviços públicos e a abertura para o capital estrangeiro, marcando a entrada 
do País no cenário internacional. Essas transformações na organização do 
Estado também ocorrem no mundo produtivo, o que afeta a forma como os 
trabalhadores se inserem no mercado de trabalho e os novos requisitos para a 
sua manutenção. Tais transformações afetam muito o exercício profissional, 
conforme indica Iamamoto (2009, p. 26):
A mundialiazação do capital tem profundas repercussões na órbita das políti-
cas públicas, em suas conhecidas diretrizes de focalização, descentralização, 
desfinanciamento e regressão do legado dos direitos do trabalho. Ela também 
redimensiona as requisições dirigidas aos assistentes sociais, as bases materiais 
e organizacionais de suas atividades, e as condições e relações de trabalho por 
meio das quais se realiza o consumo dessa força de trabalho especializada.
Sobre o trabalhador recaem novas exigências profissionais baseadas nos 
quesitos de competência e de qualificação profissional. Para atender às novas 
exigências do mundo do trabalho, o Estado delibera uma série de leis, decretos e 
pareceres que visam à flexibilização das relações trabalhistas. Com isso, modifica-
-se a estrutura produtiva. Assim, “O novo padrão societário impõe outra maneira 
de trabalhar, viver e pensar, exigindo atuação na subjetividade do trabalhador 
para consolidar a sociabilidade do capitalismo reatualizado [...]” (KOIKE, 2009, 
p. 204). O significado do trabalho relaciona-se com o contexto histórico em 
que se apresenta e os rumos vislumbrados pelo sistema capitalista. Nesse 
contexto, encontra-se o berço dos determinantes estruturais da desigualdade 
social no capitalismo e as refrações da Questão Social.
Desde os anos 1990, tem crescido a demanda para a inserção do Serviço 
Social no mercado produtivo, em especial após a implantação da política de 
assistência social. Além dessa demanda crescente, também são postos ao as-
sistente social novos desafios: a ideia é encaminhar os usuários à conquista dos 
seus direitos sociais. Também há uma pressão relacionada ao aprimoramento 
teórico-metodológico do Serviço Social, de modo que o profissional seja capaz 
de atuar mais como consultor, elaborando projetos e propostas para uma inter-
venção que, segundo os padrões mercadológicos, deve ter eficiência e eficácia.
As configurações assumidas pelo mercado produtivo afetam o exercício 
profissional ao alterarem o padrão de produção e reprodução social e material 
para que sejam atendidas as necessidades sociais. Iamamoto (2009, p. 39) 
exemplifica isso ao dizer que:
11A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 11 10/01/2019 11:35:57
Transitar da análise da instituição Serviço Social para o seu exercício agre-
ga, portanto, um complexo de novas determinações e mediações essenciais 
para elucidar o significado social do trabalho do assistente social. Sintetiza 
tensões entre o direcionamento socialmente condicionado que o assistente 
social pretende imprimir ao seu trabalho concreto, condizente com o projeto 
profissional coletivo, e as exigências que os empregadores impõem aos seus 
trabalhadores assalariados especializados.
É imprescindível dotar o assistente social de recursos teórico-metodológi-
cos, ético-políticos e técnico-operativos a fim de que possa nortear sua ação 
objetivando a transformação social dos usuários das políticas públicas. Além 
disso, é fundamental incentivar, estimular e promover a participação dos 
usuários nos espaços de discussão coletiva, para exercerem o controle social 
no âmbito das políticas sociais.
Como você já sabe, o planejamento é um ato técnico e político. Portanto, 
a ação qualificada do assistente social consiste na construção de respostas 
afinadas ao propósito de transformação social pela via da emancipação e da 
justiça social. Dessa forma, a organização da equipe profissional para o plane-
jamento de atividades que visem à inserção social de crianças e adolescentes 
na aquisição dos direitos civis (como registro de identidade e cadastro de 
pessoa física) propõe a viabilização, a ampliação e a consolidação da cidadania.
Há, ainda, a possibilidade de se utilizar o planejamento na dimensão dos 
direitos humanos. Isso pode ocorrer, por exemplo, se o planejamento se destina 
a uma atividade de acolhida e acompanhamento dos usuários e familiares insti-
tucionalizados em espaços de longa permanência, objetivando o fortalecimento 
dos vínculos familiares e laços emocionais. Em síntese, é preciso exercitar o 
projeto ético-político promovendo a emancipação humana e reconhecendo os 
atores envolvidos na ação profissional como sujeitos políticos.
É importante que o assistente social ocupe os espaços de articulação po-
lítica, que reconheça a realidade considerando seus aspectos determinantes 
(econômicos, sociais e políticos, etc.) e que reconheça os usuários de suas ações 
como sujeitos de direito e sujeitos políticos. Esse “[...] é o movimento primeiro 
para superar a burocratização e a tecnificação do planejamento, ações estas 
que são funcionais para a manutenção da ordem desigual e contraditória da 
sociabilidade capitalista [...]” (BERTOLLO, 2016, p. 355).
Além disso, é necessário alargar a esfera política:
[...] na medida em que, no Brasil, tornam-se visíveis e sensíveis os resultados 
do projeto societário inspirado no neoliberalismo — privatização do Estado, 
desnacionalização da economia, desemprego, desproteção social, concentração 
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social12
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 12 10/01/2019 11:35:57
exponenciada da riqueza etc. —, nesta mesma medida fica claro que o pro-
jeto ético-político do Serviço Social tem futuro. E tem futuro porque aponta 
precisamente ao combate (ético, teórico, ideológico, político e prático social) 
ao neoliberalismo, de modo a preservar e atualizar os valores que, enquanto 
projeto profissional, o informam e o tornam solidário ao projeto de sociedade 
que interessa à massa da população (NETTO, 1999, p. 19).
Para a organização de seminários, palestras, cursos ou eventos de natureza educacional, 
é importante elaborar um bom planejamento. Ele deve estar em consonância com 
os objetivos estimados pela organização social. O organizador, em conjunto com a 
equipe, precisa pensar numa temática a ser discutida, que norteará todo o evento. 
Será necessário elaborar a temática, os objetivos, determinar o público-alvo, definir o 
tipo de refeição (coffee break, almoço ou jantar) e dimensionar o espaço para abrigar 
o público esperado. Definidos esses aspectos, é importante entrar em contato com 
o palestrante, fazer o convite, negociar as possíveis datas. Para facilitar a negociação 
com o palestrante, é importante o organizador já ter estruturado:
  os recursos para o deslocamento, a hospedagem e os honorários;
  as possíveis datas para a realização do evento;
  a possibilidade de divulgação das publicações do palestrante.
Outro aspecto a ser destacado no planejamento é a dotação orçamentária, ou seja, a 
elaboração da planilha de custos, definindo os recursos (materiais, físicos, financeiros e 
humanos) a serem empreendidos e a fonte de custeio. As parcerias são fundamentais 
se você pretende oferecer serviços ao público-alvo. Os parceiros podem contribuir de 
diferentes maneiras para a realização de eventos, até mesmo com recursos financeiros. 
Como o planejamento envolve diferentes atores, é necessário elaborar um cronograma, 
identificando detalhadamente todas as etapas do planejamento, as datas para a 
realização de cada etapa e o custorelativo a cada fase. Além disso, é importante fazer 
uma checklist a fim de evitar atropelos e esquecimentos.
Contradições do planejamento enquanto 
instrumento do Serviço Social
O planejamento, enquanto ferramenta de trabalho do assistente social, tem 
sido apropriado há pouco tempo. Isso ocorre porque ele se relaciona às áreas 
de gestão, coordenação, elaboração de planos e projetos sociais. Portanto, ele 
se vincula a novas requisições profi ssionais ofertadas no espaço público para a 
elaboração, a implantação e a execução de políticas sociais. No espaço privado, 
ele se associa à elaboração de projetos sociais que atendem às demandas de 
responsabilidade empresarial e de organizações do terceiro setor.
13A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 13 10/01/2019 11:35:57
Essa mudança no espaço sócio-ocupacional do assistente social deve-se 
às configurações do Estado neoliberal, em especial a partir da década de 
1990. O Estado tem transferido para o setor privado e para a sociedade civil 
a gestão das políticas sociais que atendem à Questão Social. Tais mudanças se 
processam em momentos de lutas sociais por projetos de sociedade distintos 
e contraditórios. Como você sabe, é no universo das contradições do sistema 
capitalista que o assistente social intervém.
Nesse contexto, é necessário apreender as estruturas fundantes da desi-
gualdade social, que perpassam a sujeição do homem às normas do sistema 
capitalista. O homem participa do processo de produção capitalista a partir do 
trabalho. Este se traduz na possibilidade de elaborar formas de sociabilidade 
que implicam a modificação da natureza. Ao relacionar-se com a natureza, 
o homem constrói objetos, ferramentas e relações sociais necessárias à vida 
em sociedade. Veja o que afirma Granemann (2009, p. 6):
A capacidade de produzir coisas pelo trabalho nas diferentes sociedades sempre 
esteve subordinada às relações sociais construídas pelos seres sociais, ainda 
que as justificativas para a permanência dos diferentes arranjos societários mui-
tas vezes tenham invocado relações baseadas no sangue e na hereditariedade 
ou em divindades para explicar o poder e a realização da vontade das classes 
dominantes, em nome de relações que somente na aparência mistificadora 
por elas assumidas legitimavam a ordem social como natural e, portanto, não 
passível de transformações e de questionamentos.
Para fazer a leitura da realidade social posta, é necessário apreender a 
dinâmica do processo de reestruturação produtiva capitaneado pelas transfor-
mações societárias. A partir da década de 1990, o processo de globalização 
das economias aconteceu de maneiras diferentes entre os países. No Brasil, 
esse processo aconteceu numa condição temporal bem diferenciada daquela 
dos países europeus, o que redundou no capitalismo tardio.
No final do século XX, o capitalismo tornou-se globalizado devido aos avanços 
tecnológicos que ocorreram nos setores da informática e da comunicação. A partir 
daí, surgiu a oportunidade certa para o capital internacionalizar suas transações e 
se expandir a nível mundial (IANNI, 2005). Nesse sentido, o processo se aliou ao 
neoliberalismo, que propõe, conforme Anderson (1995), um ideário contrário ao 
Estado intervencionista, acentuando as consequências da reestruturação produtiva 
em toda a sociedade, interferindo no desenvolvimento e na execução das políticas 
sociais e culminando no agravamento da Questão Social (FREITAS, 2016).
O capitalismo selvagem, marcado pela financeirização do mercado, preza pelas 
relações mercantis e transforma as relações sociais em mercadoria. Ele retira do 
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social14
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 14 10/01/2019 11:35:57
ser humano o seu caráter de humanidade e o transforma em objeto a ser negociado 
no mercado produtivo. Os processos produtivos ancorados na trajetória do avanço 
tecnológico despersonificam o homem, na medida em que o seu “trabalho” só 
se faz importante quando ele domina a máquina para melhor operacionalizá-la.
O cenário de atuação do assistente social se modificou, em especial a 
partir da década 1990, por meio das novas formas de contratação, da redução 
dos direitos sociais trabalhistas e, em contrapartida, das novas requisições 
para a atuação profissional. Tais requisições estão associadas à qualificação 
profissional, ao aprimoramento na área da informática e da comunicação e, 
sobretudo, às estratégias de intervenção pautadas no projeto ético-político. Veja:
Ao alterarem o cotidiano profissional e o cotidiano das classes sociais que deman-
dam a sua intervenção, modificando as condições, os meios e os instrumentos 
existentes, e os convertendo em condições, meios e instrumentos para o alcance 
dos objetivos profissionais, os assistentes sociais estão dando instrumentalidade às 
suas ações. Na medida em que os profissionais utilizam, criam, se adequam às con-
dições existentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das 
intencionalidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. Deste modo, 
a instrumentalidade é tanto condição necessária de todo trabalho social quanto 
categoria constitutiva, um modo de ser, de todo trabalho (GUERRA, 2007, p. 2).
Os desafios apresentados à classe trabalhadora se apresentam também aos 
assistentes sociais, visto que eles se encontram na condição de trabalhadores 
assalariados — especializados, mas assalariados. Há uma dupla posição para 
esses profissionais, porque eles também atendem aos trabalhadores expropriados 
do mercado produtivo.
Hoje, os assistentes sociais devem estar atentos às mudanças tanto locais quanto 
globais, ou seja, mundiais. Exige-se cada vez mais do profissional uma qualifi-
cação teórico-metodológica que dê conta de apreender a dinâmica da sociedade 
e as manifestações sociais, numa conjuntura de contradições, conflitos e num 
repensar dos valores e, sobretudo, da ética. Iamamoto (2009, p. 12) destaca que:
O exercício da profissão exige um sujeito profissional que tenha competência 
para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu 
campo de trabalho, suas qualificações e atribuições profissionais. Requer ir além 
das rotinas institucionais para buscar apreender, no movimento da realidade, as 
tendências e possibilidades, ali presentes, passíveis de serem apropriadas pelo 
profissional, desenvolvidas e transformadas em projetos de trabalho.
Fazer uma intervenção com base nessas noções torna-se um desafio para 
o Serviço Social, que deseja que os brasileiros construam paulatinamente 
15A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 15 10/01/2019 11:35:57
o exercício da sua cidadania. Antes de tudo, é preciso discutir mais sobre a 
consciência política que todo cidadão deve ter. A ideia é fazer reflexões, análises 
críticas e construir uma forma de sociabilidade baseada na transformação e 
na emancipação social. Dessa forma, é possível viabilizar as lutas sociais.
Como você viu, a competência profissional está pautada nas leis que regu-
lamentam o Serviço Social e, sobretudo, no seu projeto ético-político. Essas 
ferramentas orientam um exercício profissional reflexivo, criativo e crítico, 
capaz de perceber a realidade social na complexidade e na totalidade históricas. 
Assim, é possível fazer uma intervenção com vistas à transformação social.
A seguir, veja os elementos que podem dificultar a percepção da realidade social nas 
organizações (BARBOSA, 2004):
  visão fragmentada da realidade social, que interdita uma visão de totalidade;
  organização do trabalho baseada em atividades programáticas, fragmentárias e 
desarticuladas, de modo que as diferentes equipes não conhecem globalmente a 
situação e por isso realizam diferentes encaminhamentos parciais face às demandas 
(respostas fragmentadas);
  apreensão parcial e fragmentária do processo de trabalho, que conduzao estra-
nhamento do trabalho, à alienação.
ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E.; GENTILI, P. (Ed.). Pós-neolibera-
lismo: as políticas sociais e o estado democrático. São Paulo: Paz e Terra, 1995.
BAPTISTA, M. V. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo: 
Veras, 2000. (Série Livro-Texto, n. 1).
BARBOSA, R. N. C. Gestão: planejamento e administração. Temporalis, Rio de Janeiro, 
v. 4, n. 8, jul./dez. 2004.
BERTOLLO, K. Planejamento em serviço social: tensões e desafios no exercício profissio-
nal. Revista Temporalis, Rio de Janeiro, v. 16, n. 31, p. 333-356, jan/jun. 2016. Disponível em: 
<http://periodicos.ufes.br/temporalis/article/view/11943/10111>. Acesso em: 07 jan. 2019.
FREITAS, T. F. Os rebatimentos da reestruturação produtiva sobre a classe trabalhadora 
e a questão social. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE ASSISTENTES SOCIAIS, 4., 2016, Belo Ho-
rizonte. Anais... Belo Horizonte: CRESS/MG, 2016. 
A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social16
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 16 10/01/2019 11:35:57
GRANEMANN, S. O processo de produção e reprodução social: trabalho e sociabilidade. 
2009. Disponível em: <http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/s709726Gx6l8W29E12Si.
pdf>. Acesso em: 08 jan. 2019.
GUERRA, Y. A instrumentalidade no trabalho do assistente social. Belo Horizonte: CFESS/
CRESS, maio 2007. Palestra ministrada no Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais. 
Disponível em: <http://canaldoassistentesocial.com.br/wp-content/uploads/2018/04/
instrumentalidade-e-ss.pdf>. Acesso em: 07 jan. 2019.
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis-
sional. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
IANNI, O. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2005.
KOIKE, M. M. Formação profissional em serviço social: exigências atuais. 2009. Disponível em: 
<http://www.abepss.org.br/arquivos/anexos/koike-marieta-201608060345477665680.
pdf>. Acesso em: 08 jan. 2019.
MARCONSIN, C. Documentação em serviço social: debatendo a concepção burocrática 
e rotineira. In: FORTI, V.; GUERRA, Y. (Org.). Serviço social: temas, textos e contextos. Rio 
de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político contemporâneo. In: CAPACITAÇÃO em 
serviço social e política social: módulo 1. Brasília: [s.n.], 1999. Disponível em: <http://
www.ssrede.pro.br/wp-content/uploads/2017/07/projeto_etico_politico-j-p-netto_.
pdf>. Acesso em: 07 jan. 2019.
TEIXEIRA, J. B. Formulação, administração e execução de políticas públicas. In: CON-
SELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA EM PESQUISA EM 
SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos e competências profissionais. Brasília: CFESS/
ABEPSS, 2009. p. 553-574.
TEIXEIRA, J. B.; BRAZ, M. O projeto ético-político do serviço social. In: CONSELHO FEDE-
RAL DE SERVIÇO SOCIAL; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA EM PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL. 
Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CEFESS/ABEPSS, 2009.
Leituras recomendadas
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA EM PESQUISA EM 
SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: 
CFESS/ABEPSS, 2009.
LUCK, H. Metodologia de projetos: uma ferramenta de planejamento e gestão. 7. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2009
MAGALHÃES, S. M. Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres. 2. ed. São 
Paulo: Veras, 2006.
RICO, E. M. Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. 6. ed. São Paulo: 
Cortez, 2009.
17A técnica do planejamento como instrumento do Serviço Social
C7_Gestao_e_Planejamento.indd 17 10/01/2019 11:35:57
Conteúdo:
GESTÃO E 
PLANEJAMENTO 
EM SERVIÇO 
SOCIAL
Silvia Santiago Martins 
O assistente social na 
função de gestor
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir projeto, programa, serviço, coordenação, direção, assessoria, 
consultoria, supervisão e avaliação.
  Identificar a importância do planejamento no processo de trabalho 
do assistente social.
  Reconhecer a função de gestor do assistente social nas instituições.
Introdução
Neste capítulo, você vai descobrir a importância da atuação do assistente 
social junto à gestão. Além disso, você vai conhecer as diferentes áreas em 
que esse profissional é chamado a atuar, como a assessoria e a consultoria. 
Você também vai ver que o planejamento se faz presente no processo de 
pensar e construir diferentes intervenções para o Serviço Social.
Por fim, você vai verificar como a gestão se insere nos preceitos que 
regulamentam a profissão, ou seja, enquanto um processo ético-político 
e técnico-político. Afinal, na gestão também é necessário pensar, refletir, 
propor e avaliar tendo em mente a realidade contemporânea e a socie-
dade que se deseja e defende.
Conceitos básicos
A elaboração e a efetivação de projetos integram o fazer cotidiano dos sujeitos. 
Essas atividades se relacionam à coordenação, à direção, à assessoria, à con-
sultoria, à supervisão e à avaliação. Em vários momentos, as pessoas realizam 
essas tarefas sem conceitos teóricos preestabelecidos, pois a realidade vasta e 
complexa da contemporaneidade as incita a essas atividades. Contudo, você 
precisa conhecer alguns conceitos fundamentais para que possa elaborar e 
efetivar projetos com competência e responsabilidade.
Entre tais conceitos, está o de projeto, “[...] a menor unidade do processo 
de planejamento. Trata-se de um instrumento técnico-administrativo de exe-
cução de empreendimentos específicos, direcionados para as mais variadas 
atividades interventivas e de pesquisa no espaço público e no espaço privado” 
(TEIXEIRA, 2009, p. 643). É no projeto que são detalhados os objetivos, as 
ações a serem tomadas, o momento em que serão realizadas e o seu custo. 
Ou seja, no projeto são detalhadas as ações que contemplarão objetivos deli-
neados no plano e no programa a serem executados. O programa, então, “É 
o documento que indica um conjunto de projetos cujos resultados permitem 
alcançar o objetivo maior de uma política pública” (TEIXEIRA, 2009, p. 643).
No campo do Serviço Social, se destaca o Programa Bolsa Família, que 
tem como principal objetivo a distribuição de renda, com critérios de seleção 
definidos. As famílias devem ser cadastradas por meio do Cadastro Único. 
Esse programa faz parte de um plano de governo. Desse modo, pode ser mo-
dificado, alterado ou extinto se, no seu processo de implantação, execução e 
avaliação, for considerado inoperante. Os planos de governo propõem uma 
intencionalidade maior, mais abrangente. Eles são compostos de vários pro-
gramas, projetos e até mesmo serviços, garantidos por meio de leis e portarias 
que os regulamentam de acordo com cada política.
Já os serviços podem ter várias definições, considerando as distintas 
áreas do conhecimento. Contudo, aqui você deve considerar o serviço junto 
à área social. Assim, o serviço pode ser definido como um bem não material. 
Isso o distingue dos produtos, mas não impede que o serviço tenha valor. 
Segundo Marx (1985, p. 159), o serviço pode ser compreendido da seguinte 
forma: “[...] um serviço nada mais é que o efeito útil de um valor de uso, seja 
da mercadoria, seja do trabalho”.
Há vários serviços indispensáveis. Por exemplo: transporte, habitação, serviços garan-
tidos na seguridade social (saúde, previdência e assistência social), entre outros. Assim, 
você pode considerar que as pessoas não produzem um serviço, mas o prestam.
O assistente social na função de gestor2
Outro ponto a ser discutido é referente à coordenação e à direção. Ambas 
podem ter definições distintas para as diferentes áreas do saber, mas tais 
definições se entrelaçam. Desse modo, coordenar implica ordenar as partes, 
respeitando o grau de importância de cada uma. A coordenação tem a pre-
tensão de manter a estabilidade das partes envolvidas. A direção pode ser 
compreendida como “para onde ir”, “para onde seguir”,na interpretação dos 
programas e projetos. Dessa forma, a direção serve para planejar, organizar, 
dirigir e controlar o que deve ser executado para se atingir determinada meta 
ou objetivo.
Já a assessoria e a consultoria têm a função de auxiliar, nos diferentes 
espaços, a reflexão e a execução dos mais diferentes projetos, programas, 
bem como a coordenação e a direção dos serviços prestados. Assim, ao es-
tudar o processo de execução da assessoria, você tem de considerar que o 
profissional que exerce essa atividade, ou melhor, que executa esse serviço, 
deve ser plenamente capacitado na área de atuação. Afinal, “Se observarmos 
a origem da palavra [...], podemos entender que assessoria é aquela ação que 
visa a auxiliar, ajudar, apontar caminhos. Não sendo o assessor um sujeito 
que opera a ação e sim o propositor desta, junto a quem lhe demanda esta 
assessoria” (TEIXEIRA, 2009, p. 599).
A assessoria e a consultoria estão intrinsecamente ligadas, mas se distinguem 
pois a assessoria tem a ver com assistir, e a consultoria com pedir opinião, 
consultar a respeito de algo. Para compreender isso melhor, considere o seguinte:
Frequentemente para que uma equipe ou assistente social solicite um processo 
de consultoria, é necessário que já tenha passado, ainda que precariamente, pela 
elaboração de um projeto de prática, objetivando, com a consultoria, respostas 
para algumas questões pontuais que dificultam o encaminhamento do mesmo.
As assessorias são solicitadas ou indicadas, na maioria das vezes, com o obje-
tivo de possibilitar a articulação e preparação de uma equipe para a construção 
do seu projeto de prática por meio de um expert que venha assisti-la teórica 
e tecnicamente (VASCONCELOS, 1998, p. 128–129).
A supervisão, que não deve ser confundida com a assessoria/consultoria, 
significa a ação de ver, ou seja, olhar de cima. No Serviço Social, se destaca 
a supervisão de estágio, fator primordial para a formação de futuros profis-
sionais, assim como a supervisão nos diferentes espaços ocupacionais da 
profissão. Veja:
3O assistente social na função de gestor
A supervisão é a expressão da indissociabilidade entre trabalho e formação 
profissional. Nela as duas dimensões da profissão se articulam, de modo a 
realizar uma síntese de múltiplas determinações que envolvem o exercício 
profissional na sua totalidade: as condições objetivas que se operam no mercado 
de trabalho, as condições subjetivas relativas ao sujeito e a necessidade de 
qualificá-las permanentemente. Nessa perspectiva, a supervisão, na condição 
de atribuição profissional, contempla uma dimensão formativa. Aqui, pensa-
-se tanto a supervisão de estágio quanto a supervisão de equipes, políticas, 
programas e projetos. Em todas as suas modalidades, a supervisão detém o 
potencial de cumprir com os princípios de compromisso com a qualidade dos 
serviços prestados à população, bem como com o aprimoramento intelectual, 
na perspectiva da competência profissional, expressa no nosso projeto ético-
-político profissional (GUERRA; BRAGA, 2009, p. 616).
A supervisão é uma das atribuições do profissional de Serviço Social. É 
nesse processo que o assistente social contribui para a formação de futuros 
profissionais, ampliando e aprimorando as suas competências e a sua com-
preensão das dimensões teórico-metodológicas, técnico-operativas e ético-
-políticas do Serviço Social.
Por sua vez, a avaliação é um processo constante de apreendizagem, não só 
no meio acadêmico, mas no fazer profissional cotidiano. Para se avaliar uma 
política social, são empregados processos metodológicos que possibilitam a 
produção e a divulgação das informações colhidas. Assim:
[...] avaliar pressupõe determinar a valia ou o valor de algo; exige apreciar ou 
estimar o merecimento, a grandeza, a intensidade ou força de uma política 
social diante da situação a que se destina. Avaliar significa estabelecer uma 
relação de causalidade entre um programa e seu resultado, e isso só pode ser 
obtido mediante o estabelecimento de uma relação causal entre a modalidade 
da política social avaliada e seu sucesso e/ou fracasso, tendo como parâmetro 
a relação entre objetivos, intenção, desempenho e alcance dos objetivos. [...] 
a avaliação tem como principal objetivo estabelecer um valor ou julgamento 
sobre o significado e efeitos das políticas sociais (BOSCHETTI, 2009, p. 667).
Com a avaliação das informações colhidas junto às políticas sociais, é possí-
vel analisar se o objetivo está sendo alcançado ou não, o que se deve melhorar, 
o que se deve abolir. Enfim: a avaliação é um processo que requer cuidado 
na análise dos dados, mas é de suma importância para o desenvolvimento de 
políticas sociais que atendam aqueles a quem são destinadas.
Na atualidade, os espaços de atuação em gestão, assessoria, consultoria, 
entre outros apresentados, estão sendo cada vez mais ocupados pelos assistentes 
sociais. Esses profissionais estão sendo chamados o ocupar tais espaços em 
O assistente social na função de gestor4
função das competências técnicas advindas de sua formação generalista. 
Contudo, o constante aprimoramento técnico e intelectual deve estar presente 
no fazer profissional cotidiano de todo assistente social. Assim, ele vai exercer 
o seu trabalho com a qualidade exigida por essas funções.
O planejamento no processo de trabalho do 
assistente social
O planejamento faz parte da vida cotidiana dos sujeitos sociais. No processo de 
planejar as atividades diárias, não são considerados conceitos teóricos. Contudo, 
no Serviço Social, o planejamento exige um aporte teórico. Atualmente, o 
Serviço Social se depara cada vez mais com a atuação em serviços, projetos, 
programas sociais, coordenação, direção, etc. Desse modo, é necessário pla-
nejar a execução das atividades propostas. Isso é fundamental para garantir 
a efetividade e a efi cácia das ações. Para compreender melhor o conceito de 
planejamento, considere que o ato de planejar:
[...] refere-se ao processo permanente e metódico de abordagem racional e 
científica de questões que se colocam no mundo social. Enquanto processo 
permanente supõe ação contínua sobre um conjunto dinâmico de situações em 
um determinado momento histórico. Como processo metódico de abordagem 
racional e científica, supõe uma sequência de atos decisórios, ordenados em 
momentos definidos e baseados em conhecimentos teóricos, científicos e 
técnicos (BAPTISTA, 2007, p. 13).
Assim, o ato de planejar está diretamente ligado aos processos de trabalho 
do assistente social, pois o planejamento faz parte do fazer cotidiano do referido 
profissional. Além disso, é uma ação que contribui para o desenvolvimento da 
práxis. Assim, é importantíssimo você compreender o processo de planeja-
mento, seu objetivo, suas propostas de ação e sua efetivação. A ideia é que esse 
seja um processo que contribua para a reflexão crítica e para o desenvolvimento 
de uma sociedade mais coletiva e menos individualista. Veja:
Hoje, enfrentando e absorvendo todas as críticas, retoma-se o planejamento 
para desvendar algumas de suas faces ocultas e de suas armadilhas, muito 
claras no planejamento tradicional, como o mito do instrumental técnico 
neutro, o mito do técnico planejador, o mito da previsão do futuro, etc., para 
inscrevê-lo como um exercício de liberdade e participação, necessário aos 
que governam e aos que não governam. É instrumento dos que querem tornar-
-se sujeitos e construir o presente e o futuro desde já, dos que não querem 
5O assistente social na função de gestor
sucumbir às forças do acaso ou do mercado, ou à vontade estranha, ou aos 
desígnios dos donos do poder. O planejamento contemporâneo põe, claramente, 
no âmago de sua reflexão, o papel da estratégia no processo de tomada de 
decisões compartilhadas (TEIXEIRA, 2009, p. 645).
Desse modo, o assistente social deve planejar suas atividades nos mais 
distintos espaços ocupacionais. Planejar é algo inerente ao homem; além 
disso, é um ato pensado, refletido, analisadoe executado. Ao executar o que 
foi planejado, o assistente social fortalece o fazer profissional, em seus mais 
distintos processos de trabalho. Com relação a isso, considere
[...] que não existe um processo de trabalho do Serviço Social, visto que o 
trabalho é atividade de um sujeito vivo, enquanto realização de capacidades, 
faculdades e possibilidades do sujeito trabalhador. Existe, sim, um trabalho 
do assistente social e processos de trabalho nos quais se envolve na condição 
de trabalhador especializado (IAMAMOTO, 2009, p. 435).
Ao pensar o planejamento como um ato de compreender a realidade, bem 
como de subsidiar os processos de trabalho da profissão, não se pode descon-
siderar que esse ato também é político, no sentido de que política significa 
bem público, respeitando os distintos espaços de atuação profissional. Desse 
modo, o ato de planejar dialoga constantemente com o projeto ético-político 
do Serviço Social.
Historicamente, ocorre a desconstrução de políticas sociais, mas elas 
ainda integram espaços que absorvem grande parte dos profissionais. Esses 
profissionais, contudo, não devem somente executar os serviços, mas também 
pensar e repensar as políticas. Segundo Iamamoto (2009), está ocorrendo o 
processo de descentralização das políticas sociais, o que exige que os profis-
sionais desempenhem novas funções:
Historicamente, os assistentes sociais dedicaram-se à implementação de polí-
ticas públicas, localizando-se na linha de frente das relações entre população 
e instituição ou, nos termos de Netto (1992), sendo “executores terminais de 
políticas sociais”. Embora esse seja ainda o perfil predominante, não é mais 
o exclusivo, sendo abertas outras possibilidades. O processo de descentra-
lização das políticas sociais públicas, com ênfase na sua municipalização, 
requer dos assistentes sociais – como de outros profissionais – novas fun-
ções e competências. Os assistentes sociais estão sendo chamados a atuar 
na esfera da formulação e avaliação de políticas e do planejamento, gestão e 
monitoramento, inscritos em equipes multiprofissionais. Ampliam seu espaço 
O assistente social na função de gestor6
ocupacional para atividades relacionadas ao controle social, à implantação e 
orientação de conselhos de políticas públicas, à capacitação de conselheiros, 
à elaboração de planos e projetos sociais, ao acompanhamento e avaliação de 
políticas, programas e projetos (IAMAMOTO, 2009, p. 433).
O planejamento está diretamente ligado, portanto, ao fazer profissional do 
assistente social e aos mais distintos processos de trabalho desenvolvidos por 
ele. Assim, ao realizar as mais diversas atividades, tanto no atendimento direto 
aos usuários das políticas sociais como em atividades de gestão, o assistente 
social deve refletir sobre a sua atuação.
O assistente social como gestor nas instituições
O Serviço Social é uma profi ssão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, 
reconhecida pela Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1993. Ele tem seus parâmetros 
embasados também no Código de Ética e no projeto ético-político da profi ssão. 
É considerado uma profi ssão importante socialmente, pois intervém cotidia-
namente nas mais distintas expressões da Questão Social.
Reconhecer esses fatores é importante para você compreender as competên-
cias profissionais, suas habilidades e sua instrumentalidade. O conhecimento 
técnico é crucial para a intervenção profissional nos distintos espaços de 
atuação/ocupação. Segundo Netto (2017, documento on-line), a prática ou as 
habilidades profissionais estão ligadas ao aporte teórico, que dá subsídios à 
efetividade da profissão: “Tais projetos são construídos por um sujeito cole-
tivo — o respectivo corpo (ou categoria) profissional, que inclui não apenas 
os profissionais ‘de campo’ ou ‘da prática’, mas que deve ser pensado como 
o conjunto dos membros que dão efetividade à profissão”.
O assistente social não só pode exercer a função de gestor de políticas 
sociais, como sua atuação na gestão está alicerçada no art. 4º da lei que 
regulamenta a profissão. Segundo esse artigo, constituem competências do 
assistente social:
I – elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos 
da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organi-
zações populares;
II – elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que 
sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade 
civil (BRASIL, 1993, documento on-line);
7O assistente social na função de gestor
No art. 5º, são definidas as atribuições privativas do assistente social:
I – coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, 
planos, programas e projetos na área de Serviço Social;
II – planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de 
Serviço Social;
III – assessoria e consultoria em órgãos da Administração Pública direta e 
indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social 
(BRASIL, 1993, documento on-line);
Os assistentes sociais, ao exercerem a gestão, devem pautar sua atuação 
em princípios éticos e profissionais estabelecidos pela lei que regulamenta a 
profissão, pelo Código de Ética Profissional e pelo seu projeto ético-político. 
Também devem buscar, ao exercer a função de gestores, a defesa intransigente 
dos direitos construídos socialmente, assim como o fortalecimento e a im-
plantação de programas, planos e projetos que atendam à população usuária, 
agilizando e melhorando os serviços prestados.
O assistente social tem conhecimento e competência para exercer a função 
de gestor em qualquer instituição, pública ou privada, que oferte serviços em 
que o referido profissional atue. Um desses espaços é a política de assistência 
social, que, por meio da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da 
Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social (NOB/
SUAS), vem fortalecendo a atuação do profissional de Serviço Social como 
gestor. Nesse sentido, ele é chamado a assumir a função de gestor em diversas 
áreas, como saúde, educação, assistência social, previdência, habitação, entre 
outras. Veja:
A gestão, no caso do SUAS, é central para a efetividade do sistema e, para 
que se consolide, será fundamental utilizar os referenciais do planejamento 
participativo e pautar-se na premissa da democratização dos espaços e na 
garantia de direitos sociais universais e emancipadores (COUTO, 2009b, p. 16).
Assim, a função de gestor realizada pelo assistente social é de suma im-
portância para as instituições, tendo em vista que esse profissional é formado 
para lutar pela garantia de direitos, bem como pela democratização de acesso 
a bens e serviços. Ao atuar na função de gestor, o assistente social pode 
detectar possibilidades de romper com processos burocráticos, contribuindo 
para melhorias nas instituições em que trabalha.
Ao assumir a função de gestor, o assistente social deve considerar os 
objetivos que defende enquanto profissional de Serviço Social. A ideia é que 
O assistente social na função de gestor8
ele contribua para a existência de espaços democráticos de direito com matriz 
ético-política. Afinal, a gestão se configura como espaço político e pode ser 
utilizada para a democratização do poder. A ideia é mobilizar, organizar 
e motivar os trabalhadores e a população atendida. Este é, talvez, um dos 
maiores desafios da profissão: compreender o espaço de gestão como espaço 
de participação e mobilização para a transformação social.
BAPTISTA, M. V. Planejamento social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo: 
Veras, 2007.
BOSCHETTI, I. Avaliação de políticas, programas e projetos sociais. In: CONSELHO FE-
DERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. 
Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.
BRASIL. Lei nº. 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social 
e dá outras providências. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8662.htm>. Acesso em: 5 dez. 2018.
COUTO, B. R. O sistema único de assistência social: uma nova forma de gestão da as-
sistência social. In: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 
Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. Brasília: MDS, 2009a.
COUTO, B. R. O sistema único da assistência social – SUAS: na consolidação da assistência 
social enquanto política pública. In: CRUZ, L. R. da; GUARESCHI, N. (Org.). Políticas públicas 
e assistência social: diálogo com as práticas psicológicas. Rio de Janeiro: Vozes, 2009b.
GUERRA, Y.; BRAGA, M. E. Supervisão em serviço social. In: CONSELHO FEDERAL DE 
SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: 
CFESS/ABEPSS, 2009.
IAMAMOTO, M. V. Os espaços sócio-ocupacionais do assistente social. In: CONSELHO 
FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. 
Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.
MARX, K. O capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
NETTO, J. P. A construção do projeto ético-político do serviço social. 2017. Disponível em: 
<http://www.ssrede.pro.br/wp-content/uploads/2017/07/projeto_etico_politico-j-p-
-netto_.pdf>. Acesso em: 5 dez. 2018.
TEIXEIRA, J. B. Formulação, administração e execução de políticas públicas. In: CON-
SELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências 
profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. 
9O assistente social na função de gestor
VASCONCELOS, A. M. Relação Teoria/Prática: o processo de assessoria/consultoria e o 
Serviço Social. In: Serviço Social e Sociedade, n. 56, São Paulo: Cortez, 1998.
Leituras recomendadas
COUTO, B. R. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação 
possível?. 4. ed. São Paulo: Cortez. 2010. 
IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profis-
sional. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 
IAMAMOTO, M. V. Renovação e conservadorismo no serviço social ensaios críticos. São 
Paulo: Cortez, 1997. 
IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e o serviço social no Brasil: esboço de 
uma interpretação histórico-metodológica. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
O assistente social na função de gestor10
Conteúdo:
PROCESSO DE 
TRABALHO EM 
SERVIÇO SOCIAL
Daniela Quadros da Silva 
A gestão no processo 
de trabalho 
do assistente social
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir gestão no processo de trabalho do Serviço Social e suas implicações.
  Descrever o processo de inserção do Serviço Social nos espaços de gestão.
  Reconhecer a gestão como atribuição do assistente social.
Introdução
O Serviço Social é uma profissão de caráter interventivo que atua nas 
expressões da Questão Social materializadas em amplos segmentos 
societários. Dessa forma, intervém em múltiplas situações de desi-
gualdades sociais e no conjunto de resistências e rebeldias por parte 
daqueles que as vivenciam.
A intervenção profissional ocorre nos mais distintos espaços sócio-ocu-
pacionais e requer um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes 
por parte do assistente social. O profissional pode operar tanto no campo 
da execução das políticas sociais como também no âmbito da sua gestão.
Neste capítulo, você vai conhecer a gestão como espaço sócio-
-ocupacional do assistente social. Também vai identificar alguns limites 
e possibilidades desse espaço no processo de trabalho do Serviço Social. 
Além disso, você vai estudar as particularidades do exercício profissional 
nesse campo tão desafiador.
A gestão no processo de trabalho do Serviço 
Social
O Serviço Social é uma profi ssão de caráter eminentemente interventivo. Essa 
intervenção caracteriza-se pelo atendimento às mais distintas demandas dos 
sujeitos. A partir disso, podem ser produzidos resultados concretos e objetivos, 
como também resultados no nível da subjetividade. Estão envolvidas condições 
materiais, sociais, políticas e culturais, sempre permeadas pelo acesso aos 
direitos de cidadania.
Enquanto profissional inserido na divisão social e técnica do trabalho, 
o assistente social pode desenvolver sua intervenção na execução direta de 
serviços, programas, projetos e benefícios sociais. Além disso, pode atuar no 
planejamento e na gestão desses elementos, bem como na gestão dos recursos 
voltados a eles, tanto na esfera pública quanto na privada. Assim, o exercício 
profissional ganha materialidade por meio de três dimensões constitutivas: a 
ético-política, a teórico-metodológica e a técnico-operativa. Essas dimensões 
devem ser compreendidas de forma articulada para que não haja dicotomias 
entre teoria e prática durante a intervenção profissional.
A dimensão ético-política do trabalho profissional expressa o dire-
cionamento que suas atividades tomam no sentido de defesa dos direitos e 
interesses da classe trabalhadora. Já a dimensão teórico-metodológica diz 
respeito aos pressupostos teóricos e reguladores da profissão. A dimensão 
técnico-operativa, por sua vez, refere-se ao instrumental que a profissão 
mobiliza para intervir.
Uma atenção especial deve ser dada à discussão em torno da dimensão 
técnico-operativa. Tal discussão deve ultrapassar o discurso sobre as técnicas e 
instrumentos isoladamente para garantir que se realizem as devidas aproxima-
ções entre o conjunto de instrumentos, a bagagem teórica e o direcionamento 
político que orienta a intervenção profissional. A discussão sobre a dimensão 
técnico-operativa no Serviço Social ainda pressupõe reconhecer os muitos 
espaços sócio-ocupacionais em que os assistentes sociais podem se inserir, o 
que acarreta especificidades para as intervenções, especialmente no que se 
refere à natureza das ações profissionais requisitadas em cada espaço. Um 
exemplo disso é a possibilidade de o profissional atuar no campo da gestão 
das políticas sociais e também na execução direta dos serviços, programas, 
projetos e benefícios que as compõem.
A gestão no processo de trabalho do assistente social2
Leia o artigo de Regina Celia Tamaso Mioto e Vera Maria Ribeiro Nogueira intitulado 
“Política Social e Serviço Social: os desafios da intervenção profissional”, disponível 
no link a seguir.
https://goo.gl/2vbzpP
Antes de você conhecer as especificidades do trabalho do Serviço Social 
nos espaços de gestão, deve relembrar alguns importantes marcos do percurso 
histórico de consolidação da profissão no Brasil. Seu surgimento no País data 
de meados da década de 1930, quando se acirram conflitos de classe decorren-
tes das mazelas sociais contrapostas ao desenvolvimento capitalista daquele 
período. Na Era Vargas, criam-se as primeiras intervenções estatais voltadas 
ao atendimento de algumas das necessidades da população, especialmente 
aquelas relacionadas às situações de desemprego e pobreza. Contudo, os 
assistentes sociais, enquanto agentes ligados à Igreja Católica, agiam a partir 
de um viés moralista e conservador, no intuito de assegurar a ordem vigente.
Na década de 1980, o chamado movimento de reconceituação (iniciado 
em 1960) ganha consolidação e contribui para amplos e intensos debates no 
interior da profissão. Tais debates culminaram na ruptura com as práticas 
conservadoras que marcaram o surgimento do Serviço Social. Nesse período, 
alteraram-se as bases teóricas que norteavam as análises e intervenções no real, 
que já não se orientavam mais a partir da doutrina social da Igreja Católica, e 
sim a partir de uma perspectiva social crítica de base marxista.
Ao buscar a qualificação e a reorientação profissional para intervir nas 
complexas expressões da Questão Social, a profissão vai ganhando maior reco-
nhecimento da sociedade, não somente de seus usuários, mas também de seus 
empregadores. Alteram-se as relações de trabalho envolvendo o Serviço Social, 
que passa a contar com instrumentos reguladores e balizadores, a exemplo da 
Lei de Regulamentação Profissional (Lei nº8.668/1993) e do Código de Ética.
Ao legitimar-se como profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho, 
partícipe da produção e da reprodução das relações sociais, o Serviço Social amplia 
seus espaços de trabalho, bem como as demandas tradicionalmente atendidas. Na 
atualidade, há profissionais desempenhando atividades ligadas à execução direta 
de serviços sociais e também profissionais atuantes no âmbito da organização 
institucional desses mesmos serviços. Isto é, o profissional não é mais unicamente 
3A gestão no processo de trabalho do assistente social
um executor direto. Ele também pode intervir nas seguintes modalidades inter-
ventivas: planejamento, avaliação, assessoria, consultoria e gestão.
A gestão começa a ganhar maior visibilidade enquanto espaço sócio-
-ocupacional para os assistentes sociais na década de 1980, justamente no 
período em que têm início os debates acerca do trabalho profissional. O termo 
“gestão” é derivado da área da administração e diz respeito ao ato de gerenciar 
(NOGUEIRA; SAUER, 2016), representando um conjunto de técnicas para 
racionalizar e otimizar o funcionamento das organizações. A gestão social, 
por sua vez, corresponde a processos que visam a alguma transformação 
societária. Para Maia (2005), esse termo refere-se a um conjunto de processos 
potentes para o desenvolvimento social emancipatório.
O exercício profissional do assistente social 
nos espaços de gestão
Os assistentes sociais que assumem espaços de trabalho vinculados à gestão 
precisam assumir também o compromisso de efetivar uma gestão democrática. A 
ideia é que estejam alinhados com os pressupostos ético-políticos que orientam 
seu fazer profi ssional. Assim, no trabalho dos assistentes sociais, a gestão pode 
sinalizar possibilidades concretas de viabilizar o projeto ético-político profi ssio-
nal, contrapondo-se aos imperativos neoliberais que em grande parte ditam os 
direcionamentos das políticas sociais voltadas à operacionalização de direitos.
No cotidiano da intervenção profissional, devido a determinações societárias 
que condicionam o mundo do trabalho e, particularmente, o desenvolvimento do 
trabalho em Serviço Social, é comum que os profissionais se questionem sobre as 
reais e efetivas mudanças que podem empreender ao assumir o campo da gestão. 
Contudo, importa considerar as pequenas alterações que eles podem realizar no 
seu contexto ocupacional. A ideia é concretizar seus compromissos ético-políticos, 
pois essas mudanças certamente culminarão em conquistas a médio e longo prazo 
que trarão impactos para a vida dos sujeitos beneficiários das intervenções.
Tendo em vista a formação profissional dos assistentes sociais e seus 
conhecimentos sobre a realidade e os direitos sociais, ao ocupar espaços de 
gestão, há muitas potencialidades para promover rupturas com certas dinâmicas 
institucionais que reiteram a subalternidade dos sujeitos e em nada contribuem 
para o atendimento de suas reais necessidades. Contudo, certamente há muitos 
desafios presentes nesse trabalho. Por exemplo: os conflitos de interesses no 
interior das organizações; as disputas por espaços de controle; as divergências 
entre os objetivos institucionais e os profissionais; a efetivação do trabalho 
A gestão no processo de trabalho do assistente social4
em redes intersetoriais; a necessidade de busca por novos conhecimentos; e 
o gerenciamento de recursos (humanos e financeiros), muitas vezes escassos 
em relação à complexidade das demandas postas na realidade.
De qualquer forma, é importante que o Serviço Social contribua para ampliar 
os movimentos de defesa e garantia de direitos e para propor novas alternativas 
de trabalho em quaisquer espaços sócio-ocupacionais em que se insira. Têm 
destaque aqueles espaços em que o assistente social é requisitado a atuar para 
além da operacionalização e da execução direta, contemplando intervenções 
voltadas à formulação, ao planejamento e à gestão das políticas sociais. Isso 
porque a gestão acaba direcionando o desenvolvimento das demais atividades 
que repercutem na vida cotidiana dos sujeitos demandatários das intervenções.
Independentemente do espaço sócio-ocupacional em que os assistentes sociais inter-
vêm, seu objeto de trabalho sempre é a Questão Social. Ela se apresenta de diferentes 
formas em cada espaço, podendo variar as suas expressões na vida dos usuários e no 
próprio ordenamento institucional. Lembre-se de que a Questão Social diz respeito 
ao conjunto de desigualdades sociais e resistências oriundas das contradições do 
modo de produção capitalista. Nesse sistema, as riquezas produzidas coletivamente 
são apropriadas por uma pequena parcela societária.
O exercício no âmbito da gestão requer dos assistentes sociais diferentes 
saberes para o reconhecimento das especificidades desse campo de trabalho, 
para que seja possível a construção de respostas profissionais efetivas. Seu 
trabalho na gestão é cada vez mais requisitado, tendo em vista os elementos 
constitutivos de sua formação, que permite ao assistente social reconhecer e 
analisar com propriedade as necessidades sociais apresentadas pelos usuários.
Como características do trabalho de gestão executado pelos assistentes 
sociais, você pode considerar os elementos de participação social, compar-
tilhamento de poder, horizontalidade nas relações, autonomia dos sujeitos, 
liberdade e articulação de redes. O desenvolvimento da chamada gestão social 
torna-se um meio de exercitar, constantemente, as práticas democráticas nas 
organizações. Portanto, o compromisso ético-político profissional e o conjunto 
de conhecimentos gerais que esse profissional tem — devido à sua base de 
formação técnico-operativa, ético-política e teórico-metodológica — fazem 
5A gestão no processo de trabalho do assistente social
com que os espaços de gestão que ele ocupa tornem-se ricos em possibilidades 
de fortalecimento de práticas democráticas e emancipatórias.
Ao legitimar-se socialmente como uma profissão assalariada e inserida 
na divisão social e técnica do trabalho, o Serviço Social ganha respaldo legal 
para suas intervenções por meio de instrumentos reguladores e balizadores. 
Nesses instrumentos, verificam-se, entre outros aspectos, as suas competências 
e atribuições privativas, as quais extrapolam o campo da execução direta de 
serviços, programas, projetos e benefícios, contemplando outras possibilidades 
interventivas, como você vai ver a seguir.
A gestão como atribuição dos assistentes sociais
A gestão é uma atribuição e também uma competência dos assistentes sociais. 
Ela é reconhecida nos instrumentos reguladores e balizadores de seu exercício 
profi ssional. Além disso, a gestão das políticas sociais é um importante campo 
de trabalho. Veja o que está disposto na lei de regulamentação da profi ssão 
quanto às competências do assistente social:
I – Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a 
órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades 
e organizações populares;
II – Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que 
sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade 
civil (BRASIL, 1993, documento on-line).
Agora veja o que diz a lei a respeito das atribuições desse profissional:
I – Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, 
planos, programas e projetos na área de Serviço Social;
II – Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de 
Serviço Social (BRASIL, 1993, documento on-line). 
Diante disso, não restam dúvidas de que o desenvolvimento de atividades 
ligadas à gestão se trata de uma prerrogativa dos assistentes sociais. Para isso, 
esses profissionais devem aliar seus princípios ético-políticos profissionais 
aos princípios que nortearão os serviços, programas, projetos e benefícios que 
estiverem sob sua gestão. Também devem ter clareza sobre a diferença entre 
os objetivos institucionais e os objetivos

Outros materiais