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Fundamentos Historicos Teoricos

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FUNDAMENTOS ■■
HISTÓRICOS, TEÓRICOS 
E METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO SOCIAL
Módulo
Professora Ma. Enilda Maria Lemos
Unidade Didática – Fundamentos Históricos 
e Teóricos do Serviço Social
BookUniderp63_ServSocial.indb 1 11/16/09 1:45:53 PM
Apresentação ■
Caro(a) aluno(a),
Os textos que compõem a Unidade Didática “Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos do Ser-
viço Social” abordam o Serviço Social brasileiro após 1964, a formação profissional e algumas manifestações 
da sociedade atual.
Com a preocupação de explicitar o Serviço Social na sociedade monopolista, buscou-se observar o critério 
da unidade teórica das obras pesquisadas, como foi feito na unidade didática “Fundamentos Históricos do 
Serviço Social”.
A unidade didática “Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social” está estruturada em nove aulas. 
A aula 1 trata da perspectiva da modernização conservadora do Serviço Social; a aula 2 aborda a perspectiva 
da reatualização do conservadorismo do Serviço Social e a perspectiva da intenção de ruptura; a aula 3 analisa 
o movimento de reconceituação do Serviço Social na América Latina; a aula 4 discute a questão social e o Ser-
viço Social; a aula 5 tece considerações sobre o neoliberalismo; a aula 6 versa sobre o movimento ambienta-
lista; a aula 7 trata do terceiro setor; a aula 8 aborda a importância de o assistente social conhecer a Sociedade 
contemporânea; a aula 9 discute a assistência social e o Serviço Social.
É importante que você, aluno(a), leia todos os textos referentes à unidade que fazem parte do livro e/ou 
aqueles que serão postados no Portal.
Você está convidado a adentrar a profundidade das análises, lendo o texto original das obras pesquisadas. 
Faça da leitura das obras originais uma preliminar para a leitura de textos clássicos, aqueles que revelam a 
questão social: o objeto do Serviço Social. Faça deles um componente da sua formação acadêmica. Busque 
muito mais...
Professora Ma. Enilda Maria Lemos
BookUniderp63_ServSocial.indb 2 11/16/09 1:45:53 PM
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AULA
1
A PERSPECTIVA DA MODERNIZAÇÃO 
CONSERVADORA DO SERVIÇO SOCIAL
Conteúdo■■
A implantação de empresas de capital internacional no Brasil•฀
O processo de renovação do Serviço Social•฀
A perspectiva modernizadora do Serviço Social•฀
O Seminário de Araxá (MG) e o Seminário de Teresópolis (RJ)•฀
Competências e habilidades■■
Compreender os determinantes que levaram às adequações na formação e atuação dos •฀
assistentes sociais brasileiros, no período do regime militar de 1964
Ler e analisar textos que tratam da renovação do Serviço Social tradicional no Brasil•฀
Reconhecer os principais pontos da perspectiva da modernização conservadora realizada •฀
no regime militar na formação e atuação na área de Serviço Social
Material para autoestudo■■
Verificar no Portal os textos e as atividades disponíveis na galeria da unidade 
Duração■■
2 h-a – via satélite com professor interativo
2 h-a – presenciais com professor local
6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo
INTRODUÇÃO
O presente trabalho faz considerações acerca do 
processo de renovação do Serviço Social brasileiro, 
que desembocou nas três perspectivas do Serviço 
Social, discutidas por José Paulo Netto (2006): a mo-
dernização conservadora, a que faz uma reatualiza-
ção do conservadorismo e a que busca romper com 
as formas tradicionais da profissão. Este texto, mais 
especificamente, faz uma abordagem da perspectiva 
da modernização conservadora do Serviço Social.
Para isso, é fundamental que sejam feitas algu-
mas considerações a respeito da dominação nos 
países da América Latina após a Segunda Guerra 
Mundial, para que se possa compreender o con-
texto no qual o Serviço Social do Brasil se desen-
volveu.
A obra que referencia este texto é Ditadura e Ser-
viço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil 
pós-64, de José Paulo Netto.
BookUniderp63_ServSocial.indb 3 11/16/09 1:45:53 PM
4
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
A IMPLANTAÇÃO DE EMPRESAS DE CAPITAL 
INTERNACIONAL NO BRASIL
Com a construção do bloco capitalista e do bloco 
socialista, o capitalismo gerou algumas mudanças 
na sociedade. Para Fernandes (1981, p. 21), após a 
Segunda Guerra Mundial, países da Europa, Ásia e 
América lançaram estratégias em defesa do capita-
lismo. Uma dessas estratégias foi a implantação de 
empresas norte-americanas e europeias na América 
Latina.
Moniz Bandeira, no estudo sobre cartéis e desna-
cionalização no Brasil, de 1964 a 1974, afirma que 
a economia brasileira registrava “alta concentração 
monopolística” nos anos 1950.1
Segundo Bandeira (1975, p. 10), o governo de 
Juscelino Kubitschek de Oliveira2 fez concessões ao 
capital internacional, como, por exemplo, ao apri-
morar a “Instrução 113 da Sumoc”3. Esse meca-
nismo massacrou o empresariado nacional e “[...] 
instituiu um regime de privilégios para capitalistas 
estrangeiros, ou melhor, americanos” (BANDEIRA, 
1975, p. 10).
Nessa altura, o empresariado nacional, que atuava 
de forma competitiva, teve que ceder ao capital in-
ternacional. Florestan Fernandes, num estudo sobre 
capitalismo dependente e classes sociais na América 
Latina, afirma que as empresas locais
[...] foram absorvidas ou destruídas, as estruturas 
econômicas existentes foram adaptadas às dimen-
sões e às funções das empresas corporativas, as 
bases para o crescimento autônomo e a integração 
1 O Brasil, àquele tempo, já registrava alta concentração mo-
nopolística e, nos anos seguintes, década de 1950, tornou-se no-
vamente campo de batalha dos grandes interesses estrangeiros, 
que, de um lado, disputavam entre si o mercado nacional e o 
controle das fontes de matérias-primas e, do outro, procuravam 
arrebatar e distorcer o processo de industrialização, na medida 
em que não mais podiam segurá-lo, conforme as conveniências 
do sistema capitalista mundial. (MONIZ, 1975, pp.9–10). 
2 Juscelino Kubitschek de Oliveira foi o presidente do Brasil de 
31.01.1956 a 31.01.1961.
3 Instrução da “Superintendência da Moeda e do Crédito (SU-
MOC)” foi baixada no governo de Café Filho, no início de 1955, 
conforme Moniz (1975, p. 10). 
nacional da economia, conquistadas tão ardua-
mente, foram postas a serviço dessas empresas e 
dos seus poderosos interesses privados (FERNAN-
DES, 1981, p. 23).
Assim sendo, uma parte da burguesia (a parte 
aliada aos Estados Unidos era a favor do capital in-
ternacional e a outra defendia o nacionalismo, pro-
vocando uma crise4 na burguesia. Conforme Iama-
moto (2004, pp. 77–78), a crise se deu por pressões 
de ordem externa e interna.
A primeira era exercida pelas empresas de capi-
tal monopolista mundial com interesse no Brasil. A 
outra pressão vinha da burguesia local (que resistia 
a mudanças) e dos trabalhadores.
A parte da burguesia nacional que era atrelada aos 
norte-americanos resolveu a crise com o golpe de 1o 
de abril de 1964.5 Para Bandeira (1975, pp. 16–17), 
em apoio à concentração do capital, o regime mi-
litar proibiu o sindicalismo, “suprimiu os focos de 
resistência” e agravou a exploração do trabalhador.
Como bem diz Iamamoto (2004, p. 77), os go-
vernos militares
6 deram amplo apoio às empresas 
internacionais. O capital monopolista contou com 
“[...] o respaldo de uma política econômica capaz 
4 Pano de fundo dessa crise foi “[...] a exigência de adaptação 
da burguesia à industrialização intensiva e aos novos ritmos 
econômico-sociais, transferidos de fora para a sociedade 
brasileira” (IAMAMOTO, 2004, p. 78).
5 O Brasil, entre os anos de 1945 a 1963, teve à frente governos 
populistas que defendiam o nacionalismo. Nos anos de 1960 
a 1964, os movimentos sociais ganharam força e apoiaram 
as Reformas de Base (reforma agrária e reforma urbana, por 
exemplo) e o nacional-desenvolvimentismo,proposto pelos 
governos populistas. Nesse período, configurou-se “[...] o apro-
fundamento e a problematização do processo democrático na 
sociedade e no Estado” (NETTO, 2006, p.159).
6 Por desenvolvimentismo entende-se “[...] qualquer tipo de políti-
ca econômica baseada no crescimento da produção industrial e 
da infraestrutura, com participação ativa do Estado, [...]” (http://
pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimentismo. Acessado em 31 de 
janeiro de 2008). Compondo o discurso oficial de alguns países 
da América Latina, o desenvolvimentismo “[...] converteu-se em 
prática e diretriz de ação política de diversas regiões latino-amer-
icanas” (CASTRO, 2006, p. 151). A política desenvolvimentista é 
parte inerente de economias capitalistas “[...] como no Brasil (gover-
no JK) e no governo militar, quando ocorreu o ‘milagre econômico 
brasileiro’, [...]”. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimentismo. 
Acessado em 31 de janeiro de 2008).
BookUniderp63_ServSocial.indb 4 11/16/09 1:45:53 PM
5
AULA 1 — A Perspectiva da Modernização Conservadora do Serviço Social
de articular a ação governamental com os interesses 
dos grandes empresários” (IAMAMOTO, 2004, p. 
77). Foram implantadas medidas de controle nas
[...] instituições oficiais, semioficiais ou privadas 
encarregadas de conduzir a política de controle 
global das finanças, da educação, da pesquisa cien-
tífica, da inovação tecnológica, dos meios de comu-
nicação em massa, do emprego extranacional das 
políticas, das forças armadas e mesmo dos gover-
nos. (FERNANDES, 1981, p. 24)
A título de exemplo, o autor cita os programas 
educacionais, de controle de natalidade, de inova-
ções tecnológicas que “[...] são projetados e aplica-
dos sem consideração (ou com pouca considera-
ção) pelas necessidades e potencialidades concretas 
dos países receptores” (FERNANDES (1981, p. 25). 
Pode-se concluir que os governos militares fizeram 
modificações na sociedade brasileira em benefício 
do “grande capital”.
O PROCESSO DE RENOVAÇÃO DO SERVIÇO 
SOCIAL
O processo de renovação do Serviço Social 
ocorreu na crise do Serviço Social tradicional, 
que levou ao movimento de reconceituação 
do Serviço Social latino-americano. A renovação do 
Serviço Social brasileiro é discutida no estudo de 
José Paulo Netto sobre o Serviço Social, depois da 
ditadura de 1964.
No caso da América Latina, o movimento de re-
conceituação do Serviço Social tradicional é “[...] 
parte integrante do processo internacional de erosão 
do Serviço Social tradicional [...]” (NETTO, 2006, p. 
146).7 Isso quer dizer que o movimento de reconcei-
tuação foi uma resposta local à crise internacional do 
Serviço Social.
7 Em resposta à crise e aos questionamentos dos movimentos 
sociais acerca da sociedade burguesa e do Serviço Social tradi-
cional, um grupo de assistentes sociais organizou o movimento 
de Reconceituação do Serviço Social Latino-americano, que 
ocorreu de 1965 a 1975 (tema do texto da aula 3).
Segundo Netto (2006, p. 154), na erosão da base 
do Serviço Social tradicional, “a reflexão profissio-
nal de desenvolveu em três direções”: a perspecti-
va modernizadora, a perspectiva da reatualização 
do conservadorismo e a perspectiva da intenção de 
ruptura. Foi assim o início da renovação do Serviço 
Social brasileiro.
O Serviço Social, na perspectiva modernizadora, 
ajustou-se ao projeto econômico do governo mili-
tar. Na concepção da reatualização do conservado-
rismo, deu um novo formato a ele, e na perspectiva 
da intenção de ruptura, pretendia romper com a sua 
herança conservadora.
Netto (2006, pp. 152–153) também detectou três 
momentos no processo de renovação:
O primeiro, desencadeado na segunda metade 
dos anos 1960, foi marcado pelos seminários de te-
orização do Serviço Social, promovidos pelo Centro 
Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços 
Sociais (CBCISS).
8
O segundo momento, além do CBCISS, que se 
manifestou na década de 1970, incorporou as pro-
duções teóricas dos cursos de pós-graduação.
9
O terceiro, que se desencadeou no início dos anos 
de 1980, agregou aos dois anteriores a Associação 
Brasileira de Ensino de Serviço Social (ABESS) 
ligada às agências de formação, e entidades ligadas 
à categoria, como as associações profissionais, os 
sindicatos, entre outros.
É possível dizer que, no Brasil, fatores como a luta 
dos subalternos contra a exploração e as manifesta-
ções pela democracia, ocorridas no período de 1960 
a 1964, bem como o golpe militar de 1964 e a aber-
8 “Fundado em 1946 sob a denominação de Comitê Brasileiro 
de Conferência Internacional do Serviço Social, e re-estrutura-
do em 1956 [...]”. Seu prestígio aumentou “[...] quando iniciou 
a publicação de sua revista Debates Sociais, que passou a con-
stituir o principal órgão de difusão de trabalhos na área”. (AM-
MANN, 184, p. 152)
9 De fato, boa parte da produção divulgada no final dos anos 
1970 já é fruto desses programas de pós-graduação, muito es-
pecialmente as teses defendidas nas Pontifícias Universidades 
Católicas de São Paulo e do Rio de Janeiro. (NETTO, 2006, p. 
153, nota de rodapé no 86)
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6
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
tura política na crise da ditadura estão ligados ao 
processo de renovação do Serviço Social.
A PERSPECTIVA MODERNIZADORA DO SERVIÇO 
SOCIAL (SEGUNDA METADE DA DÉCADA 
DE 1960)
Como foi dito, no contexto da ditadura, o Ser-
viço Social na perspectiva modernizadora ajustou-
se ao projeto de governo para atender ao “grande 
capital”.
O Serviço Social “modernizou” a sua metodologia 
e os cursos para formar o profissional “moderno” 
para atuar nas instituições burguesas remodeladas 
do regime militar:10 “[...] exige-se um assistente so-
cial, ele mesmo, ‘moderno’ – com um desempenho 
cujos traços ‘tradicionais’ são deslocados e substi-
tuídos por procedimentos ‘racionais’” (NETTO, 
p.123). Portanto, esse profissional moderno “[...] 
supõe uma formação bem diversa daquela que foi a 
predominante até meados dos anos 1960.” (NETTO, 
2006, p. 192).
Yasbek (1996) chama a atenção para a dificulda-
de de se discutir a relação entre o Serviço Social e 
a sociedade no regime militar. Daí a ênfase que os 
seminários de Araxá (1967) e de Teresópolis (1970) 
deram à metodologia do Serviço Social.
A perspectiva modernizadora, segundo Netto 
(2006, p. 164), foi discutida e proposta no Seminá-
rio de Araxá (1967), contudo, as ideias dessa pers-
pectiva emergiram do I Seminário Regional Latino-
Americano de Serviço Social, ocorrido em Porto Ale-
gre, em maio de 1965.
O principal representante da perspectiva mo-
dernizadora é José Lucena Dantas. Para o autor, 
Dantas11 “[...] ofereceu ao debate uma concepção 
10 “Sinteticamente, o fato central é que, no curso deste pro-
cesso, mudou o perfil do profissional demandado pelo mer-
cado de trabalho que as condições novas postas pelo quadro 
macroscópico da autocracia burguesa faziam emergir: [...].” 
(NETTO, p. 123).
11 José Lucena Dantas desempenhou funções de relevo (1970-
1974) na Secretaria de Serviços Sociais do Governo do Distrito 
Federal, de docência, trabalhou no Conselho Interamericano 
de Bem-Estar Social, dedicando-se também à teorização do 
extremamente articulada da ‘metodologia do Ser-
viço Social’, efetivamente a mais compatível com 
a perspectiva modernizadora [...]” (NETTO, 2006, 
p. 180).12
Ele considera Dantas um profundo teorizador, 
pois as suas elaborações teóricas e os cursos e as 
conferências que ele proferiu atestam, “[...] indubi-
tavelmente, que ele foi o assistente social que mais 
apurou as concepções nucleares da modernização 
do Serviço Social no Brasil” (NETTO, 2006, p. 181, 
nota de rodapé no 140).
De concepção funcionalista, Dantas “[...] era for-
temente influenciado pelas teses desenvolvimentis-
tas e do bem-estar social emanadas de agências in-
ternacionais” (NETTO,2006, p. 181, nota de rodapé 
no 140).
Em relação à orientação que a teoria funciona-
lista deu ao Serviço Social, Vicente de Paula Falei-
ros associa a posição neutra do assistente social à 
“neutralidade” dos funcionalistas. Portanto, a “[...] 
posição ideológica dos funcionalistas é a ‘neutrali-
dade’, que se manifesta no Serviço Social [...]” (FA-
LEIROS, 1983, p. 22).
O funcionalismo “[...] busca a integração do ho-
mem ao meio e tem como base o equilíbrio das ten-
sões na unificação social de todos os papéis.” (FA-
LEIROS, 1983, p. 22). No referencial funcionalista, o 
sistema deve funcionar na mais perfeita ordem, caso 
contrário as disfunções precisam ser corrigidas.
A perspectiva modernizadora “[...] constitui – 
sob todos os aspectos – a primeira expressão do 
processo de renovação do Serviço Social no Brasil” 
(NETTO, 2006, p. 164).
A título de esclarecimento, a perspectiva da re-
atualização do conservadorismo e a perspectiva 
da intenção de ruptura farão parte do conteúdo 
da aula 2.
Serviço Social, conforme Netto (2006, p. 181, nota de rodapé 
no 140).
12 Segundo Netto (2006, p. 181), José Lucena Dantas considera 
a metodologia de ação como “a parte central da Teoria Geral do 
Serviço Social”.
BookUniderp63_ServSocial.indb 6 11/16/09 1:45:53 PM
7
AULA 1 — A Perspectiva da Modernização Conservadora do Serviço Social
O SEMINÁRIO DE ARAXÁ (MG) E O SEMINÁRIO 
DE TERESÓPOLIS (RJ)
Durante a ditadura militar foram realizados dois 
seminários de teorização do Serviço Social, o Semi-
nário de Araxá (MG) e o Seminário de Teresópolis 
(RJ). O documento de Araxá, o de Teresópolis e o 
documento de Sumaré constam das publicações do 
CBCISS (1986) e constituem uma importante fonte 
de pesquisa. A seguir, será feito um breve comentá-
rio sobre os referidos seminários.
O Seminário de Araxá
Segundo Netto (2006, p. 164), o I Seminário de 
Teorização do Serviço Social foi realizado em Araxá 
(MG), no período de 19 a 26 de março de 1967. En-
tre outros temas, o documento de Araxá, publicado 
pelo CBCISS (1986, p. 32) trata dos níveis da micro-
atuação e da macroatuação do Serviço Social.
O nível da microatuação discute a prática pro-
fissional voltada para a prestação de serviços dire-
tos. Para tanto, o “[...] Serviço Social, como técnica, 
dispõe de uma metodologia de ação que utiliza di-
versos processos” (CBCISS 1986, p. 30). São os pro-
cessos de caso, grupo, comunidade e trabalho com 
a população.
Na macroatuação, o Serviço Social está voltado 
para a política e o planejamento. “Essa integra-
ção supõe a participação no planejamento, na im-
plantação e na melhor utilização da infraestrutura 
social”13 (CBCISS, 1986, p. 31).
Para Netto (2006, p. 172) há “um exagero da pro-
posta”. Contudo, ele reconhece nela a “[...] recusa em 
limitar-se às funções executivas terminais, em torno 
das quais historicamente centralizaram-se a práti-
ca profissional e a meridiana indicação dos novos 
papéis profissionais”. De fato, o assistente social, ao 
participar “da política e do planejamento para o de-
senvolvimento”, deixa de atuar apenas na execução.
13 A infraestrutura social é aqui entendida como “facilidades 
básicas, programas para saúde, educação, habitação, educação e 
serviços sociais fundamentais [...]” (CBCISS, 1986, p. 32). 
O Seminário de Teresópolis
Enquanto o Seminário de Araxá (1967) foi rea-
lizado na cidade mineira, que é ornamentada pela 
beleza da Serra da Bocaina, os participantes do Se-
minário de Teresópolis puderam desfrutar da paisa-
gem do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.14
Promovido pelo CBCISS, o II Seminário de Teo-
rização do Serviço Social, cujo tema era a metodo-
logia do Serviço Social, foi realizado de 10 a 17 de 
janeiro de 1970, em Teresópolis.
A ditadura exigia que o profissional fosse prepa-
rado para atuar nas instituições que foram adapta-
das ao projeto da autocracia burguesa,
15 vinculado 
ao capital internacional. Nesse sentido, Teresópolis 
situa o assistente social como um “funcionário do 
desenvolvimento”, afirma Netto (2006, p. 192).
Para isso, as formulações de Teresópolis “[...] 
apontam para a requalificação profissional do as-
sistente social, definem nitidamente o perfil socio-
técnico da profissão e a inscrevem conclusivamente 
no circuito da ‘modernização conservadora’ [...]” 
(NETTO, 2006, p. 192).
As elaborações que constam dos documentos de 
Araxá e de Teresópolis objetivavam instrumentali-
zar o assistente social para responder às demandas 
do regime ditatorial; por isso, não buscavam uma 
nova organização para a sociedade.
14 A área do Parque Nacional da Serra dos Órgãos abrange os 
municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim, no 
Estado do Rio de Janeiro. 
15 A burguesia brasileira possui algumas características próprias. 
Segundo Madson (2001), na concepção de Florestan Fernandes, 
a burguesia brasileira (sem tender para a democratização) é de-
pendente e autoritária. Essa dependência possibilitou o desen-
volvimento capitalista e a sua dominação. “A dominação bur-
guesa no Brasil é autocrática”, quer dizer, a burguesia deixou 
de fora a população. 
Para Cardoso (1994, 1995), as formas de dominação aconte-
ceram desde as relações mais simples até aquelas de âmbitos 
maiores: no caso do Brasil, desde as relações internas estabele-
cidas entre a classe dominante e a população até a relação dos 
Estados Unidos com o governo brasileiro. 
Nesse tipo de regime, a burguesia dos países periféricos esta-
beleceu com a burguesia hegemônica uma relação de “parceria 
subordinada” e uma relação de opressão e de exploração “[...] 
com as demais classes e agrupamentos sociais” (CARDOSO, 
1994, 1995, p. 7). 
BookUniderp63_ServSocial.indb 7 11/16/09 1:45:53 PM
8
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
Concluindo■■
Nos anos de 1950, a economia brasileira registra-
va “alta concentração monopolística”. O governo de 
Juscelino Kubitschek de Oliveira, por exemplo, apri-
morou a “Instrução 113 da Sumoc”, que massacrou 
o empresariado nacional e instituiu um regime de 
privilégios para capitalistas americanos.
A burguesia nacional entrou em crise por pressão 
das empresas de capital monopolista mundial com 
interesse no Brasil, da burguesia local (que resistia a 
mudanças) e dos trabalhadores.
Essa crise foi resolvida com o regime militar, 
que apoiou a concentração do capital, proibiu o 
sindicalismo,“suprimiu os focos de resistência” e 
agravou a exploração do trabalhador.
Os governos militares beneficiaram o “grande 
capital”, articulando a ação governamental com os 
interesses dos grandes empresários.
Quando foi “erodida a base do Serviço Social tra-
dicional”, iniciou-se a renovação do Serviço Social 
brasileiro a partir de três perspectivas: a moderniza-
dora, a de reatualização do conservadorismo e a da 
intenção de ruptura.
O Serviço Social na perspectiva modernizadora 
“modernizou” a metodologia e a formação acadê-
mica para atuar nas instituições burguesas remode-
ladas do regime militar.
A perspectiva modernizadora foi discutida e pro-
posta no Seminário de Araxá (1967), mas as suas 
ideias emergiram do I Seminário Regional Latino-
Americano de Serviço Social, ocorrido em Porto 
Alegre, em maio de 1965. Essa perspectiva é “a pri-
meira expressão do processo de renovação do Servi-
ço Social no Brasil”. 
O principal representante da modernização con-
servadora é José Lucena Dantas. Ele orientou-se pela 
teoria funcionalista, que prevê o funcionamento do 
sistema na mais perfeita ordem, caso contrário, as 
disfunções precisam ser corrigidas.
Durante a ditadura militar foram realizados dois 
seminários de teorização do Serviço Social, o Semi-
nário de Araxá (MG) e o Seminário de Teresópolis 
(RJ). O documento de Araxá, o de Teresópolis e o 
documento de Sumaré constam das publicações do 
CBCISS (1986) que discutiram a metodologia do 
Serviço Social.
As elaboraçõesque constam dos documentos de 
Araxá e de Teresópolis objetivavam instrumentali-
zar o assistente social para responder às demandas 
do regime ditatorial; por isso, não buscavam uma 
nova organização para a sociedade.
Atividade■■
Leia o texto da aula 1 e desenvolva as seguintes 
questões:
1. Fale sobre a implantação das empresas de capi-
tal internacional no Brasil.
2. Como se deu o processo de renovação do Ser-
viço Social no Brasil?
3. Quais os três momentos de reflexão profissio-
nal que Netto (2006) detectou?
4. Como você compreendeu a perspectiva da mo-
dernização conservadora (segunda metade da déca-
da de 1960)?
5. Quem foi o principal representante da pers-
pectiva da modernização conservadora na visão de 
Netto (2006)?
6. Destaque os pontos importantes do Seminário 
de Araxá e do Seminário de Teresópolis.
ANOTAÇÕES *
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AULA 2 — A Perspectiva da Reatualização do Conservadorismo do Serviço Social e a Perspectiva da Intenção de Ruptura
INTRODUÇÃO
Dando continuidade à reflexão sobre o processo 
de renovação do Serviço Social, este texto aborda a 
perspectiva da reatualização do conservadorismo e 
a perspectiva da intenção de ruptura com as formas 
tradicionais do Serviço Social. A obra em referência 
é a Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço 
Social no Brasil pós-64, de José Paulo Netto.
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AULA
2
A PERSPECTIVA DA REATUALIZAÇÃO 
DO CONSERVADORISMO DO SERVIÇO SOCIAL 
E A PERSPECTIVA DA INTENÇÃO DE RUPTURA
Conteúdo■■
Os rumos do Serviço Social brasileiro na vigência do regime militar de 1964•฀
A perspectiva da reatualização do conservadorismo (década de 1970)•฀
A perspectiva da intenção de ruptura, do início (década de 1980)•฀
Considerações acerca do Seminário de Sumaré (1978) e do Seminário do Alto da Boa Vista •฀
(1984)
Competências e habilidades■■
Compreender a emergência da perspectiva da intenção de ruptura e da perspectiva da rea-•฀
tualização do conservadorismo no Serviço Social
Associar as manifestações da sociedade que ocorreram na primeira metade da década de •฀
1960 com o Serviço Social
Compreender o sentido da perspectiva da reatualização do conservadorismo do Serviço •฀
Social
Reconhecer o “Método BH” como proposta teórico-metodológica•฀
Material para autoestudo■■
Verificar no Portal os textos e as atividades disponíveis na galeria da unidade
Duração■■
2 h-a – via satélite com professor interativo•฀
2 h-a – presenciais com professor local•฀
6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo•฀
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10
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
OS RUMOS DO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO 
NA VIGÊNCIA DO REGIME MILITAR DE 1964
A crise da ditadura, depois de meados dos anos 
1970, contribuiu para que a perspectiva moderniza-
dora do Serviço Social perdesse a sua hegemonia.
O mesmo regime que moldou a perspectiva 
modernizadora,1 fazia emergir posições contes-
tadoras, criando “[...] um espaço onde se inscre-
via a possibilidade de se gestarem alternativas às 
práticas e às concepções profissionais que ela de-
mandava” (NETTO, 2006, p. 129).
O autor distingue dois aspectos da perspectiva 
modernizadora. De um lado, “[...] seu conteúdo 
reformista (recorde-se que ela incorpora o vetor 
do reformismo próprio ao conservantismo bur-
guês) [...]” não foi incorporado pelos assistentes 
sociais mais tradicionais. (NETTO, 2006, p. 156).2 
De outro, “[...] seu traço conservador e sua co-
lagem à ditadura incompatibilizaram-na com os 
segmentos profissionais críticos [...]” (NETTO, 
2006, p. 161). Isso resultou nas outras duas dire-
ções do processo de renovação do Serviço Social, 
discutidas por Netto (2006, p. 194): a perspectiva 
da reatualização do conservadorismo e a perspec-
tiva da intenção da ruptura.3
De fato, a ditadura não manteve a hegemonia da 
perspectiva modernizadora, visto que não agregou 
os assistentes sociais. Por outra parte, a perspecti-
va da reatualização do conservadorismo e a pers-
pectiva da intenção de ruptura não conseguiram 
extinguir a perspectiva modernizadora. Nas pala-
vras do autor, “[...] o que de fato se registra é o 
1 A primeira direção da renovação do Serviço Social foi a per-
spectiva modernizadora.
2 “Este segmento de vinculação católica privilegia os componen-
tes mais conservadores da tradição profissional e mostra-se refra-
tário às inovações introduzidas pela perspectiva modernizadora 
[...]” (NETTO, 2006, p. 156-157).
3 Enquanto a perspectiva da reatualização do conservadorismo 
era menos afeita a mudanças sociais, pois almejava tão somente 
um novo jeito de fazer profissional, a perspectiva da intenção 
da ruptura, sim, vislumbrava romper com o conservadorismo 
do Serviço Social.
seu deslocamento da arena central do debate e da 
polêmica” (NETTO, 2006, p. 194).
Na sequência, serão feitas algumas considerações 
sobre a perspectiva da reatualização do conservado-
rismo e a perspectiva da intenção de ruptura.
A PERSPECTIVA DA REATUALIZAÇÃO 
DO CONSERVADORISMO (DÉCADA DE 1970)
Segundo Netto (2006, p. 201), foi no marco do 
Seminário de Sumaré (1978) e no Seminário do Alto 
da Boa Vista (1984) “que se explicitou” a perspectiva 
da reatualização do conservadorismo. Ela foi “[...] 
expressa primeiramente na tese de livre-docência de 
Anna Augusta de Almeida (1978), texto base nesta 
perspectiva [...]”, intitulada a “nova proposta”.
Foi significativa a preocupação dos teóricos da 
perspectiva da reatualização do conservadorismo 
em buscar um suporte metodológico na fenome-
nologia. Antes disso, a fenomenologia não era co-
nhecida no meio profissional, é o que indica Netto 
(2006, p. 208-209).
Esses teóricos não se apoiaram na teoria positivis-
ta e na teoria marxista, mas na teoria fenomenológi-
ca. No que se refere à abordagem positivista, o autor 
faz a seguinte observação: “[...] ao ‘pensamento cau-
sal’ quer substituir-se ‘um pensamento não causal, 
o fenomenológico, cujo quadro de referência não 
é a explicação, mas a compreensão’” (CARVALHO, 
1987. Citado por NETTO, 2006, p. 205).
Em relação à abordagem marxista, Anna Augusta 
de Almeida e outros autores da perspectiva da re-
atualização do conservadorismo não vislumbram 
mudanças na organização da sociedade.4 Almeida 
“[...] nada incorpora das problemáticas relativas às 
lutas de classes, às formas de manipulação ideológi-
ca, aos modos de controle das classes subalternas, à 
divisão social e técnica do trabalho, ao Estado [...]” 
(NETTO, 2006, p. 229).
Sem discutir as causas, nem os conflitos de classe, 
a perspectiva da reatualização do conservadorismo 
4 A própria denominação é cuidadosa ao reafirmar que, nessa 
vertente do Serviço Social, foi feita, apenas, uma reatualização 
do conservadorismo.
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11
AULA 2 — A Perspectiva da Reatualização do Conservadorismo do Serviço Social e a Perspectiva...
trouxe à tona elementos do conservadorismo e do 
pensamento católico, imprimindo-lhe um novo 
formato. Para Anna Augusta de Almeida, os valores 
são calcados “[...] por uma fenomenologia existen-
cial e por uma ética cristã motivante (ALMEIDA, 
1978:11) [...]” (NETTO, 2006, p. 205).
Anna Augusta de Almeida é a responsável pela 
“[...] formulação seminal desta vertente no processo 
de renovação do Serviço Social no Brasil” (NETTO, 
2006, p. 227).
O autor chama a atenção para o uso de fontes se-
cundárias. Mas, cuidadosamente, ele sublinha que 
somente “[...] Carvalho (1987) se aproxima de uma 
fonte original – Merleau-Ponty – da qual recolhe 
o que lhe parece pertinente para os seus objetivos, 
num processo seletivo [...]” (NETTO, 2006, p. 212). 
Segundo ele, no documento de Sumaré consta que 
há uma ou duas referências clássicas, nas demais,é 
comum o uso das fontes secundárias.
É preciso lembrar que docentes encaminham 
suas pesquisas na perspectiva da reatualização do 
conservadorismo, assim como profissionais, nela, 
ancoram suas práticas.
A PERSPECTIVA DA INTENÇÃO DE RUPTURA 
(DÉCADA DE 1980)
Como a proposta da perspectiva da intenção de 
ruptura é romper com as práticas tradicionais do 
Serviço Social, vinculadas aos interesses da classe 
dominante, ela discute a relação entre o Serviço So-
cial e a sociedade capitalista.
Nas palavras do autor, ela queria “[...] romper 
com o passado conservador do Serviço Social e os 
indicativos prático-profissionais para consumá-la” 
(NETTO, 2006, p. 161). Ela foi manifestada no âm-
bito dos movimentos democráticos e das classes 
exploradas e subalternas, do início dos anos 1960, 
quando
[...] o Serviço Social – de forma visível, pela pri-
meira vez – vulnerabilizava-se a vontades sociais 
(de classe) que indicavam a criação, no mar-
co profissional, de núcleos capazes de intervir 
no sentido de vinculá-lo a projeções societárias 
pertinentes às classes exploradas e subalternas. 
(NETTO, 2006, p. 256)
O autor enfatiza a importância desse momento 
da sociedade brasileira para a intenção de ruptura: 
“[...] Sociopolítica e historicamente, esta perspec-
tiva é impensável sem o processo que se precipita 
de 1961 a 1964 – e é abortada em abril – no plano 
também profissional, é ali que ela encontra os seus 
suportes sociais” (NETTO, 2006, p. 257).
Os assistentes sociais, portanto, que fizeram a 
opção política de trabalhar em favor dos explora-
dos e subalternos, conceberam as primeiras ideias 
da perspectiva da intenção de ruptura:
Netto (2006, p. 261) apreendeu três momentos 
dessa perspectiva: a) o momento da emersão da 
intenção de ruptura; b) o momento da conso-
lidação acadêmica da intenção de ruptura; e c) o 
momento do espalhamento da intenção de ruptura 
no âmbito da categoria profissional.
O momento da emersão da intenção de ruptura 
(de 1972 a 1975)
Segundo ele, a perspectiva da intenção de ruptu-
ra emergiu com o grupo da Escola de Serviço So-
cial da Universidade Católica de Minas Gerais, de 
1972 a 1975. Apesar da repressão militar, as ideias 
da intenção de ruptura se desenvolveram nessa es-
cola mineira.
Sob a liderança de Leila Lima dos Santos (diretora 
da escola) e Ana Maria Quiroga, o grupo elaborou o 
“Método Belo Horizonte”, conhecido por “Método 
BH”, um trabalho de crítica teórico-prática ao tradi-
cionalismo. O “Método BH” foi considerado
[...] a primeira elaboração cuidadosa, no país, sob 
a autocracia burguesa, de uma proposta profissio-
nal alternativa ao tradicionalismo preocupada em 
atender a critérios teóricos, metodológicos e inter-
ventivos capazes de aportar ao Serviço Social uma 
fundamentação orgânica e sistemática, articulada 
a partir de uma angulação que pretendia expressar 
os interesses históricos das classes e camadas ex-
ploradas e subalternas. (NETTO, 2006, p. 275)
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12
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
Tal importância conferida ao movimento não foi 
suficiente para impedir a demissão dos principais 
formuladores e gestores do “Método BH”, interrom-
pendo de novo o projeto da intenção de ruptura. 
Efetivamente, a demissão desmantelou o grupo, 
mas não conseguiu extinguir o movimento.
Embora tenha sido uma experiência isolada, em 
plena ditadura, o “Método BH” contribuiu para a 
implementação da perspectiva da intenção de rup-
tura, pois foi ele que estabeleceu “[...] no final da 
década, as bases para a retomada da crítica ao tra-
dicionalismo [...]” (NETTO, 2006, p. 270).
Com este grupo, “[...] a intenção de ruptura se ex-
plicita originalmente em nosso país, assumindo uma 
formulação abrangente que até hoje se revela uma ar-
quitetura ímpar” (NETTO, 2006, p. 261).
Como bem diz Netto (2006, p. 270), na década 
de 1970 não havia condições institucionais para 
implementar o projeto da intenção de ruptura. Na 
verdade, segundo Netto (2006, p. 258), a perspecti-
va da intenção de ruptura só pôde expressar-se na 
crise da autocracia burguesa.
Alguns registros sobre o “Método BH”
Para Netto (2006, pp. 276–277 ) o “Método BH” 
constituiu um marco para o Serviço Social, uma al-
ternativa global ao Serviço Social tradicional. Pois 
o grupo que elaborou o “Método BH” não se ateve 
em fazer apenas uma crítica ao Serviço Social tra-
dicional, suas formulações dirigidas às concepções 
e às práticas do Serviço Social deram “[...] suportes 
acadêmicos para a formação dos quadros técnicos 
e para a intervenção do Serviço Social”.
Dentre as críticas ao tradicionalismo do Serviço 
Social, o documento (1974) do “Método BH” re-
gistrou a neutralidade do Serviço Social (no fundo 
expressa um certo comprometimento da profissão 
com os interesses conservadores); a departamen-
talização da realidade, e a fragmentação dos fenô-
menos sociais, que separa realidade social e grupos 
sociais, sociedade e homens, sujeito e objeto.
O documento reafirmou que o Serviço Social 
tradicional está voltado para “[...] eliminar as dis-
funções, os problemas de desadaptação, as con-
dutas desviadas” (Análise histórica... p. 6-7 apud. 
NETTO, 2006, p. 278).
Serão destacados alguns aspectos das considera-
ções que o autor faz sobre Leila Lima dos Santos e 
Vicente de Paula Faleiros.
LEILA LIMA DOS SANTOS
Primeiramente vale dizer que Leila Lima dos San-
tos e Vicente de Paula Faleiros tiveram participação 
relevante “[...] no momento em que a perspectiva 
da ruptura, consolidada, desborda os circuitos aca-
dêmicos e rebate no conjunto da categoria profis-
sional” (NETTO, 2006, p. 271).
Leila Lima dos Santos “[...] exerceu um papel 
central no experimento de Belo Horizonte [...]”. 
Como foi mencionado, o “Método BH”, formulado 
durante o regime militar, teve singular importância 
para a perspectiva da intenção de ruptura e para o 
Serviço Social brasileiro.
Demitida da escola de Belo Horizonte, Leila Lima 
dos Santos atuou no Centro Latinoamericano de 
Trabajo Social (CELATS)5 até a metade da década de 
1980. Lá, ela fez reflexões críticas acerca da proposta 
de Belo Horizonte, destacando entre outros pontos 
“[...] a compreensão do papel da categoria profis-
sional como espaço para a redefinição do Serviço 
Social” (NETTO, 2006, p. 272).
VICENTE DE PAULA FALEIROS
Vicente de Paula Faleiros destacou-se, também, 
pela preocupação em buscar referenciais críticos 
para a prática cotidiana dos assistentes sociais. Para 
tanto, Vicente Faleiros “[...] procura fundar o pro-
jeto de ruptura no domínio do fazer profissional a 
partir de uma análise das conexões entre dinâmica 
social e dinâmica institucional e das correlações de 
força [...]” (NETTO, 2006, p. 273).
5 O CELATS foi criado pela Asociación Latinoamericana de Es-
cuelas de Trabajo Social (ALAETS), como seu organismo aca-
dêmico. Fundada no Panamá, em 1965, a ALAETS e o CELATS 
exercem influência no trabalho social dos países do continente. 
(Seno A. Cornely. Disponível em: http://www.pucrs.br/textos/
anteriores/ano1/memorias02.pdf. Acessado em 1o de dezembro 
de 2006).
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13
AULA 2 — A Perspectiva da Reatualização do Conservadorismo do Serviço Social e a Perspectiva...
Ele é autor de uma bibliografia considerável so-
bre o Serviço Social. Dentre outros trabalhos, publi-
cou Trabajo Social: Ideologia y Método, no seu exílio 
(ditadura militar) em Buenos Aires, Argentina, em 
1970. Este livro trouxe contribuições para a perspec-
tiva da intenção de ruptura e para o Serviço Social 
brasileiro, mas circulou no Brasil, discretamente, 
durante o regime militar.
O MOMENTO DA CONSOLIDAÇÃO ACADÊMICA 
DA INTENÇÃO DE RUPTURA (FINAL DOS ANOS 
1970 E INÍCIO DOS ANOS 1980)
No final da década de 1970 e primeiro terço da 
década de 1980, as universidadesapresentavam al-
guns trabalhos de conclusão de pós-graduação6 e de 
ensaios sobre a intenção de ruptura. Despontavam 
as faculdades7 do Rio de Janeiro, de São Paulo e de 
Campina Grande, conforme Netto (2006, p. 264).8
Os três primeiros anos da década de 1980 trans-
correram de forma diferente:
Ao contrário do momento de emersão da pers-
pectiva da intenção de ruptura – claramente loca-
lizada em Belo Horizonte e com suas formulações 
claramente reduzidas às da escola mineira – o que 
então se passa pluraliza os núcleos de aglutinação 
dos pesquisadores e tem um efeito óbvio, na me-
dida em que os protagonistas vinham de diferentes 
regiões do país e a elas frequentemente retornavam. 
(NETTO, 2006, p. 264, nota de rodapé no 312)
Nesse momento, as elaborações teóricas benefi-
ciaram-se da produção teórica anterior, da crise na 
ditadura e do movimento de abertura da sociedade. 
6 “No Brasil, a pós-graduação é oficialmente implantada em 
1972, pelas Pontifícias Universidades Católicas do Rio de Ja-
neiro e de São Paulo.” (AMMANN, 1984, p. 157). 
7 As universidades que ofereciam pós-graduação na década de 
1970 são a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e 
a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1972), a Pon-
tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e a Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (1976 e 1977), dentre outras.
8 Desde 1966, a Universidade Federal do Rio de Janeiro oferecia 
cursos de aperfeiçoamento e especialização, cujos alunos proce-
diam em grande parte dos quadros docentes das universidades 
brasileiras (AMMANN, 1984, p. 157).
Segundo Netto (2006, p. 264), até o início da década 
de 1980, as pesquisas na perspectiva da intenção de 
ruptura ainda não se pautavam nas fontes originais 
do marxismo, apesar do seu rigor intelectual.
Por isso, as pesquisas realizadas com base nas 
fontes teórico-metodológicas originais do marxis-
mo clássico representavam um avanço. “Tipificam 
esse momento os trabalhos de Iamamoto (1982) e 
Carvalho (1986)” (NETTO, 2006, p. 269, nota de 
rodapé no 322).
Vale registrar que a crítica às principais propostas 
de renovação profissional foi influenciada por Mi-
riam Limoeiro Cardoso. “O [...] seu saldo positivo 
[...] foi recolocar no centro do debate profissional o 
projeto da ruptura [...]” (NETTO, 2006, p. 265).
As universidades tiveram um papel especial na 
construção do arcabouço teórico e metodológico 
da perspectiva da intenção de ruptura, pois, ali, o 
controle do regime era menos rígido, se comparado 
ao que era exercido em outras instituições.
MARILDA VILLELA IAMAMOTO
De acordo com Netto (2006, p. 299), Marilda Vil-
lela Iamamoto “[...] visualiza na sua evolução, duas 
vertentes profissionais – a modernizadora e a que 
pretende uma ruptura com a herança conservadora 
do Serviço Social”. Com relação ao significado que a 
autora deu à primeira, confira na transcrição abaixo:
[...] o que a vertente modernizadora do Serviço So-
cial no Brasil faz, no pós-64, é atualizar a herança 
conservadora da profissão, de forma a adequá-la ‘às 
novas estratégias de controle e repressão da classe 
trabalhadora, efetivadas pelo Estado e pelo gran-
de capital, para atender às exigências da política 
de desenvolvimento com segurança’. (Iamamoto, 
1982:213 apud NETTO, 2006, p. 299)
Assim, Marilda Villela Iamamoto mostra os 
vínculos do Serviço Social com o Estado e com 
o grande capital, na vertente modernizadora. O 
autor destaca que Marilda Villela Iamamoto “[...] 
participou em alguma medida da experiência da 
escola de Belo Horizonte: ali ela iniciou a sua car-
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14
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
reira docente, depois transitoriamente interrompi-
da pela repressão militar-fascista” (NETTO, 2006, 
p. 275, nota no 345).
A produção teórica de Marilda Villela Iamamo-
to influencia os assistentes sociais e “[...] configura 
a primeira incorporação bem-sucedida, no debate 
brasileiro, da fonte clássica da tradição marxiana 
para a compreensão profissional do Serviço Social” 
(NETTO, 2006, p. 276).
Antes do trabalho dessa autora, as pesquisas não 
eram feitas com base em fontes originais, mas em 
autores que tratavam do marxismo. Ainda confor-
me Netto (2006, p. 276), a teoria de Marilda Villela 
Iamamoto foi essencial para a consolidação da pro-
posta brasileira da intenção de ruptura.
Cabe registrar o seguinte fato citado por José 
Paulo Netto na obra da autora Renovação e con-
servadorismo no serviço social: ensaios críticos: a 
professora Marilda Villela Iamamoto participou 
do movimento estudantil nos anos 1960 e expe-
rimentou na década de 1970 “[...] a tortura nos 
porões da ditadura, a prisão e o ostracismo” (IA-
MAMOTO, 2004, p. 10). Marilda Villela Iamamo-
to, Raul de Carvalho, José Paulo Netto, Manuel 
Manrique de Castro, Vicente de Paula Faleiros, 
Leila Lima dos Santos e outros autores, com base 
em fontes originais, discutira o Serviço Social na 
perspectiva da intenção de ruptura.
O momento do espalhamento da intenção 
de ruptura no âmbito da categoria profissional 
(de 1982 a 1983)
No período de 1982 e 1983, o debate do Serviço 
Social na perspectiva da intenção de ruptura esten-
deu-se para o conjunto dos profissionais. Confira 
na transcrição abaixo:
O fato é que a incidência do projeto da ruptura, a 
partir do segundo terço da década de 1980, penetra 
e informa os debates da categoria profissional, dá o 
tom da sua produção intelectual, rebate na forma-
ção de quadros operada nas agências acadêmicas de 
ponta e atinge as organizações representativas dos 
assistentes sociais. (NETTO, 2006, p. 267)
Conforme Netto (2006, p. 267, nota de rodapé, no 
318), as escolas de Serviço Social implantaram seu 
currículo mínimo utilizando referências dessa pers-
pectiva; a ABESS, que depois de 1982 empenhou-se 
numa formação crítica ao tradicionalismo; e outras 
entidades.
Merece registro o lançamento da Revista Servi-
ço Social e Sociedade, editada pela Cortez, em 1979, 
“uma das mais importantes revistas profissionais do 
continente”, que publicou grande parte dos textos 
na perspectiva da intenção de ruptura.
O avanço dessa perspectiva é visível nas contri-
buições teóricas que desvelaram e desvelam o Ser-
viço Social brasileiro e latino-americano, pautadas 
em fontes originais. São produções teóricas que 
vão das origens da profissão até o Serviço Social na 
sua contemporaneidade, sem contar, ainda, outros 
eventos que a ela se reportam.
Convém registrar o “[...] flagrante hiato entre a 
intenção de romper com o passado conservador do 
Serviço Social e os indicativos práticos profissionais 
para consumá-la” (NETTO, 2006, p. 161). Mas, Net-
to (2006, p. 161) reafirma o acúmulo teórico dessa 
perspectiva que ajuda a pensar a profissão, além de 
qualificar o debate acadêmico.
CONSIDERAÇÕES ACERCA DO SEMINÁRIO 
DE SUMARÉ (1978) E DO SEMINÁRIO DO ALTO 
DA BOA VISTA (1984)
Como foi dito, no marco do Seminário de Su-
maré (1978) e do Seminário do Alto da Boa Vista 
(1984) “[...] se explicitou a segunda direção do pro-
cesso renovador [...]”, a perspectiva da reatualização 
do conservadorismo (NETTO, 2006, p. 201).
Mais especificamente, a perspectiva da reatuali-
zação do conservadorismo e a perspectiva da inten-
ção de ruptura foram discutidas no Seminário de 
Sumaré (1978), promovido pelo CBCISS.
O III Seminário de Teorização do Serviço Social 
foi realizado no Centro de Estudos de Sumaré, da 
Arquidiocese do Rio de Janeiro, de 20 a 24 de no-
vembro de 1978, tendo por tema: o Serviço Social e 
a cientificidade; o Serviço Social e a fenomenologia; 
bem como o Serviço Social e a Dialética.
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15
AULA 2 — A Perspectiva da Reatualização do Conservadorismo do Serviço Social e a Perspectiva...
O Seminário do Alto da Boa Vista (1984), comoobserva Netto (2006, p. 194), foi realizado no Colé-
gio Coração de Jesus, no Rio de Janeiro.
Comparando os dois primeiros seminários com 
os dois últimos, Netto (2006, p. 197) chama a aten-
ção para os seminários de Araxá (1967) e de Teresó-
polis (1970), que possibilitavam o diálogo.
É importante, ainda, verificar que conforme 
a ditadura ia entrando em crise, a perspectiva da 
modernização conservadora, regida pelo funciona-
lismo, perdia a sua hegemonia, tanto é que o Semi-
nário de Sumaré abriu o debate para duas teorias 
do conhecimento, a fenomenologia e o marxismo.
Concluindo■■
A crise da ditadura, depois de meados dos anos 
1970, contribuiu para que a perspectiva moderniza-
dora perdesse a sua hegemonia.
Tanto o seu reformismo não foi incorporado pe-
los assistentes sociais mais tradicionais, como o seu 
conservadorismo atrelado à ditadura não atendeu 
aos segmentos profissionais críticos.
Isso resultou na formação de outras duas dire-
ções do processo de renovação do Serviço Social: a 
perspectiva da reatualização do conservadorismo e 
a perspectiva da intenção da ruptura, discutidas no 
Seminário de Sumaré (1978).
A principal representante da perspectiva da rea-
tualização do conservadorismo foi Anna Augusta de 
Almeida. Os teóricos não se apoiaram na aborda-
gem positivista e na marxista, mas na abordagem 
fenomenológica. As pesquisas de Anna Augusta de 
Almeida e de outros autores que discutiram o Servi-
ço Social na perspectiva da reatualização do conser-
vadorismo não vislumbraram mudanças na organi-
zação da sociedade.
Sem discutir as causas, nem os conflitos, a 
perspectiva da reatualização do conservadorismo 
trouxe à tona elementos do conservadorismo e do 
pensamento católico, imprimindo-lhe um novo 
formato.
A perspectiva da intenção de ruptura discute a 
relação entre o Serviço Social e a sociedade e se ma-
nifestou no âmbito dos movimentos democráticos 
e/ou das classes exploradas e subalternas, do início 
dos anos 1960.
Os assistentes sociais, portanto, que fizeram a op-
ção política de trabalhar em favor dos explorados 
e subalternos, conceberam as primeiras ideias da 
perspectiva da intenção de ruptura. Mas esse pro-
cesso foi interrompido com o golpe de 1964.
Essa perspectiva emergiu de 1972 a 1975, com a 
experiência do grupo da Escola de Serviço Social da 
Universidade Católica de Minas Gerais, que desen-
volveu o “Método BH”, durante a ditadura. O “Mé-
todo BH” é um trabalho de crítica teórico-prática 
ao tradicionalismo.
A consolidação acadêmica da intenção de rup-
tura se deu no final da década de 1970 e primeiro 
terço da década de 1980, quando as universidades 
apresentavam alguns trabalhos de conclusão de pós-
graduação e de ensaios sobre a intenção de ruptura. 
Despontavam as faculdades do Rio, de São Paulo e 
de Campina Grande.
Nesse momento, as elaborações teóricas benefi-
ciaram-se da produção teórica anterior, da crise na 
ditadura e do movimento de abertura da sociedade. 
Até o início da década de 1980, as pesquisas na pers-
pectiva da intenção de ruptura ainda não se pau-
tavam nas fontes originais do marxismo, apesar do 
seu rigor intelectual.
Por isso, as pesquisas realizadas com base nas 
fontes teórico-metodológicas originais do marxis-
mo clássico representavam um avanço.
O espalhamento da intenção de ruptura ocorreu 
de 1982 a 1983, quando o debate do Serviço Social 
na perspectiva da intenção de ruptura estendeu-se 
para o conjunto dos profissionais.
O avanço dessa perspectiva é visível nas contri-
buições teóricas que desvelaram o Serviço Social 
brasileiro e latino-americano, pautadas em fontes 
originais. São produções teóricas que vão das ori-
gens da profissão até o Serviço Social na sua con-
temporaneidade, sem contar, ainda, outros eventos 
que a ela se reportam. Mas ainda se observa uma 
distância entre “a intenção de romper com o pas-
sado conservador do Serviço Social e os indicativos 
práticos profissionais para consumá-la”.
BookUniderp63_ServSocial.indb 15 11/16/09 1:45:54 PM
16
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
Atividades■■
Leia o texto da aula 2 e desenvolva as seguintes 
questões:
1. Quais os rumos que o Serviço Social tomou no 
regime militar de 1964?
2. Em que Seminário de Teorização foi discutida 
a segunda direção da renovação do Serviço Social? 
Quais as vertentes que compõem a segunda direção 
do processo renovador do Serviço Social?
3. Qual era a preocupação que os teóricos tive-
ram ao formular a perspectiva da reatualização do 
conservadorismo?
4. Destaque alguns pontos da proposta de Anna 
Augusta de Almeida, representante da perspectiva 
da reatualização do conservadorismo.
5. Quais os fatores citados por Netto (2006) que 
ligam a concepção das primeiras ideias da perspec-
tiva da intenção de ruptura ao cenário brasileiro e 
internacional?
6. Como se deu a manifestação da intenção de 
ruptura?
7. Em que consiste o “Método BH”?
8. Qual é o papel de Leila Lima dos Santos em 
relação ao “Método BH”?
9. O que Vicente de Paula Faleiros enfatizou em 
relação à perspectiva da intenção de ruptura?
10. Em que período se deu a consolidação pers-
pectiva da intenção de ruptura? Quais os fatos im-
portantes do processo de consolidação da intenção 
de ruptura?
11. Quais os pontos que o texto destacou do estu-
do que Netto (2006) faz sobre a pesquisadora Maril-
da Villela Iamamoto?
12. Quais os pontos que o texto destacou so-
bre o estudo que Netto (2006) faz sobre o espa-
lhamento da perspectiva da intenção de ruptura 
entre os profissionais do Serviço Social (de 1982 
a 1983)?
ANOTAÇÕES *
BookUniderp63_ServSocial.indb 16 11/16/09 1:45:54 PM
17
AULA 3 — O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina 
INTRODUÇÃO
O texto desta aula trata do movimento de recon-
ceituação do Serviço Social na América Latina, que 
ocorreu em decorrência da crise internacional do 
Serviço Social tradicional. O texto, ainda, traz ob-
servações acerca das implicações da política desen-
volvimentista para o Serviço Social latino-america-
no. Ressalta o texto que as imposições dessa política 
também motivaram a organização do movimento 
de reconceituação do Serviço Social, que contestava 
essa dominação.
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AULA
3
O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO 
DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA 
Conteúdo■■
Alguns fatores da dependência latino-americana no pós II Guerra Mundial•฀
Intercâmbio do Serviço Social Latino-americano com o Serviço Social norte-americano•฀
Movimento de reconceituação do Serviço Social no Brasil•฀
Competências e habilidades■■
Compreender o movimento histórico de reconceituação do Serviço Social latino-americano •฀
nas especificidades brasileiras
Associar a política desenvolvimentista às formas de realização do Serviço Social latino-ame-•฀
ricano
Reconhecer como o regime militar vigente à época e a divergência do grupo de assistentes •฀
sociais dificultaram a realização do movimento da reconceituação
Material para autoestudo■■
Verificar no Portal os textos e as atividades disponíveis na galeria da unidade
Duração■■
2 h-a – via satélite com professor interativo
2 h-a – presenciais com professor local
6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo
BookUniderp63_ServSocial.indb 17 11/16/09 1:45:54 PM
18
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
A obra em referência é O Serviço Social na con-
temporaneidade: trabalho e formação profissional, de 
Marilda Villela Iamamoto.
ALGUNS FATORES DA DEPENDÊNCIA LATINO-
AMERICANA NO PÓS SEGUNDA GUERRA 
MUNDIAL
Segundo Faleiros (1983, p. 21), na década de 1940, 
os Estados Unidos estabeleceram uma aliança com a 
América Latina para que ela fornecesse matéria-pri-
ma e mercado para os produtos norte-americanos.
Nas décadas de 1960 a 1980,a América Latina pas-
sou por um “[...] processo de mobilização popular-
reforma e autoritarismo político [...]” (FALEIROS, 
2006, p. 141). No Brasil, por exemplo, ocorreram 
manifestações pela democracia e em favor das clas-
ses subalternas que foram duramente rechaçadas 
pelo golpe de abril de 1964. Mas quando a ditadura 
entrou em crise, a sociedade civil pôde voltar à cena 
brasileira.
No caso das pressões exercidas pelos movimentos 
sociais, o autor faz a seguinte colocação: “[...] as classes 
dominantes ou suas frações hegemônicas respondiam, 
seja com projeto de reformas, seja com a repressão, ar-
ticulando uns e outros em função das ameaças reais ou 
percebidas” (FALEIROS, 2006, p. 142).
Os governos de João Goulart, no Brasil, Perez, na 
Venezuela, Velasco Alvarado, no Peru, Frondisi, na 
Argentina, tentaram “[...] a via de aglutinação de 
massas em torno de mudanças parciais” (FALEI-
ROS, 2006, p. 142).1
Mas, quando as mobilizações constituíam uma 
força capaz de levar adiante o embate contra a hege-
monia, elas eram reprimidas pela classe dominante 
que estava no poder. Dessa forma, as populações 
brasileira, argentina, equatoriana, uruguaia, chile-
na, boliviana e peruana viveram um longo período 
1 Os governos “[...] impulsionaram reformas sob a égide do 
desenvolvimento, do crescimento e da modernização ou de 
um programa minimamente redistributivista de terras, renda 
e com um discurso participativo” (FALEIROS, 2006, p. 142). 
Eduardo Frei, no Chile, realizou uma ação reformista e desen-
volvimentista.
de ditadura militar, é o que indica Faleiros (2006, 
p. 142).2
INTERCÂMBIO DO SERVIÇO SOCIAL LATINO-
AMERICANO COM O SERVIÇO SOCIAL NORTE-
AMERICANO
Com base nos textos pesquisados, serão desta-
cados dois intercâmbios do Serviço Social latino-
americano com o Serviço Social norte-americano: 
um que se deu no âmbito da formação acadêmica e 
o outro, no âmbito de programas internacionais.
O primeiro foi efetivado com a participação de 
diretores de escolas de Serviço Social da América 
Latina, na Conferência Nacional de Serviço Social 
(1941),3 citada por Yasbek (1988, p. 49). Nesse even-
to, instituições norte-americanas ofereceram aos 
assistentes sociais sul-americanos bolsas de estudo 
para aperfeiçoamento e especialização em escolas 
norte-americanas.
A autora conclui que o intercâmbio do Serviço 
Social latino-americano com o norte-americano 
começou com as bolsistas. À época, ocorriam algu-
mas mudanças no cenário internacional que con-
correram para efetivar esse intercâmbio. Confira no 
texto abaixo:
Com a Segunda Guerra Mundial e consequente 
limitação do intercâmbio com a Europa, e com a 
política da Boa Vizinhança do presidente Roose-
velt (reforço político e ideológico das relações de 
solidariedade continental), há uma aproximação 
muito intensa com os Estados Unidos. (YASBEK, 
1988, p. 49).
Influenciado pelos norte-americanos, o Serviço 
Social latino-americano passou a se orientar pelo 
2 As empresas de capital internacional eram bem vistas pelos 
governos do continente, por isso, “[...] elas foram saudadas 
como uma contribuição efetiva para o “desarrolismo” ou o “de-
senvolvimentismo”, recebendo um apoio econômico e político 
irracional” (FERNANDES, 1981, p. 22). 
3 Segundo Yasbek (1988, p. 49), esta Conferência foi realizada 
pela American Association of Schools of Social Work, em 
Atlantic City. 
BookUniderp63_ServSocial.indb 18 11/16/09 1:45:54 PM
19
AULA 3 — O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina 
pensamento positivista na vertente funcionalista 
que imperava nos Estados Unidos. Em relação à 
orientação que a teoria funcionalista deu ao Serviço 
Social, Vicente de Paula Faleiros associa a posição 
neutra do assistente social à “neutralidade” dos fun-
cionalistas.4
O segundo intercâmbio se deu por intermédio 
dos programas de Desenvolvimento de Comuni-
dade que envolviam governo e comunidade local,5 
implantados pela Organização das Nações Unidas 
(ONU) e pela Organização dos Estados Americanos 
(OEA). A esse respeito, Castro (2006, p. 148) afirma 
que a ONU e a OEA ofereciam apoio técnico e fi-
nanceiro aos países periféricos e latino-americanos, 
em troca de ações na comunidade que fossem base-
adas em “formulações desenvolvimentistas”.6
O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO 
DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
No contexto da dominação econômica norte-
americana, um grupo de assistentes sociais que era 
contra o imperialismo norte-americano e o Serviço 
Social tradicional organizou o movimento de recon-
ceituação latino-americano. Segue abaixo um texto 
que apresenta a forma imperialista de dominação:
O traço específico do imperialismo total consiste 
no fato de que ele organiza a dominação externa a 
partir de dentro e em todos os níveis da ordem so-
cial, desde o controle da natalidade, a comunicação 
4 Dessa forma, a “[...] posição ideológica dos funcionalistas é 
a ‘neutralidade’, que se manifesta no Serviço Social [...]” (FA-
LEIROS, 1983, p. 22). O funcionalismo “[...] busca a integração 
do homem ao meio e tem como base o equilíbrio das tensões 
na unificação social de todos os papéis.” No referencial funcio-
nalista, o sistema deve funcionar na mais perfeita ordem, caso 
contrário, as disfunções precisam ser corrigidas. 
5 O Desenvolvimento de Comunidade é um conjunto de “[...] 
atividades baseadas na associação de uma comunidade local 
com o governo, em busca da superação das condições de sub-
desenvolvimento.” (UTRIA, 1969, p. 81 apud. CASTRO, 2006, 
p. 147).
6 O desenvolvimentismo incorporado ao discurso oficial de al-
guns países da América Latina “[...] saltou do marco de uma 
proposta para resolver os problemas do atraso e converteu-se 
em prática e diretriz de ação política de diversas regiões latino-
americanas” (CASTRO, 2006, p. 151).
de massa, o consumo de massa, até a educação, a 
transposição maciça da tecnologia ou de institui-
ções sociais, a modernização da infra e da superes-
trutura, os expedientes financeiros ou de capital, 
o eixo vital da política nacional etc. (Capitalismo 
dependente e classes sociais na América Latina, op. 
cit., Cap. I “Padrões de dominação na América La-
tina”, p. 18. Fernandes, 1981, p. 18 apud IAMAMO-
TO, 2004, p. 77).
“Nessa dinâmica, as políticas internas se entro-
sam com as relações externas de dependência/do-
minação dos Estados Unidos.” (FALEIROS, 2006, p. 
142). Na verdade, os dois autores tratam da reorga-
nização interna exigida pela dominação imperialis-
ta durante o regime militar.
No caso do Serviço Social brasileiro, efetivamen-
te, o projeto modernizador do regime militar deu 
os contornos do seu projeto hegemônico, mas não 
conseguiu a adesão de todos. O movimento de re-
conceituação ia numa direção oposta. Para o movi-
mento a
[...] ruptura com o Serviço Social tradicional se 
inscreve na dinâmica de rompimento das amarras 
imperialistas, de lutas pela libertação nacional e 
de transformações da estrutura capitalista exclu-
dente, concentradora, exploradora. (FALEIROS, 
2006, p. 143)
Não bastava, então, inovar as instituições para 
romper com o Serviço Social tradicional,7 nem 
formular procedimentos metodológicos, nem se 
apoiar na visão psicologista que foca a pessoa. A 
partir disso, o “[...] Serviço Social passa a ques-
tionar seu papel na sociedade, seu atrelamento às 
classes dominantes, sua teoria e sua prática corre-
tora de ‘disfunções’ sociais” (AMMANN, 1984, pp. 
146–147).
7 O Serviço Social “tradicional” é “[...] a prática empirista 
reiterativa e burocratizada que os agentes realizavam e realizam 
efetivamente na América Latina” (NETTO, J. P. La crítica 
conservadora... 1981, p. 44 apud IAMAMOTO, 2004, p. 206, 
nota de rodapé no 250).
BookUniderp63_ServSocial.indb 19 11/16/09 1:45:54 PM
20
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
Ao optar pelos subalternos, o movimento lutou 
contra as práticastradicionais e por criar um Servi-
ço Social latino-americano; bem como orientou as 
produções teóricas, para que fossem voltadas para as 
questões do continente e não se prendessem ao mo-
delo norte-americano. O movimento é considerado, 
portanto, “[...] um marco decisivo no desenvolvi-
mento do processo de revisão crítica do Serviço So-
cial no continente” (IAMAMOTO, 2006, p. 205).
Enquanto a visão oficial do Serviço Social brasi-
leiro não questionava as diretrizes governamentais, 
o movimento de reconceituação latino-americano 
(1965-1975)
8
 questionava desde as elaborações teó-
ricas até o modo de fazer do Serviço Social. Dessa 
forma, observa Faleiros (1983, p. 133), a reconceitu-
ação acena com a possibilidade de se tentar compre-
ender as relações entre Serviço Social e sociedade.
Na sequência serão citados os “eixos de preocu-
pações fundamentais” do movimento de reconcei-
tuação na visão de Marilda Villela Iamamoto. Con-
forme a autora,
[...] o reconhecimento e a busca de compreensão 
dos rumos peculiares do desenvolvimento latino-
americano em sua relação de dependência com 
os países “cêntricos”, para a contextualização his-
tórica da ação profissional, redundaram em uma 
incorporação das produções acadêmicas no vasto 
campo das ciências econômicas, sociais e políticas. 
(IAMAMOTO, 2006, p. 209)
Constata-se, no momento da reconceituação, a 
necessidade de criar “[...] um projeto profissional 
8 O período do movimento de reconceituação coincide com o 
terceiro momento do Serviço Social brasileiro, segundo a di-
visão feita por Ammann (1984, p. 146). Segundo o autor, na 
primeira fase (1930–1945), sob a influência do neotomismo, o 
Serviço Social tradicional prestava assistência e orientações ao 
“cliente”, por meio da técnica do Serviço Social de Caso. Na se-
gunda fase, (1945 – 1965), depois da Segunda Guerra Mundial, 
o Serviço Social foi marcado pela “[...] perspectiva funcionalista 
para a integração social [...]”. A prática é instrumentalizada pelo 
Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade “[...] inspirados 
numa visão atomizada da sociedade, que camufla os conflitos 
entre as classes e que interpela os indivíduos – isolada, grupal 
ou comunitariamente – como sujeitos responsáveis pelos prob-
lemas sociais”.
abrangente e atento às características latino-ame-
ricanas, em contraposição ao tradicionalismo, que 
envolvia critérios teórico-metodológicos e prático-
interventivos” (IAMAMOTO, 2006, p. 209). E, ain-
da, “[....] uma explícita politização da ação profis-
sional, solidária com a ‘libertação dos oprimidos’ e 
comprometida com a ‘transformação social’ [...]”.
“[...] Finalmente, as preocupações anteriores 
se canalizam para a reestruturação da formação 
profissional, articulando ensino, pesquisa e práti-
ca profissional [...]” (IAMAMOTO, 2006, p. 209). 
Isso exigia “[...] da Universidade o exercício da 
crítica, do debate, da produção criadora de conhe-
cimentos no estreitamento de seus vínculos com a 
sociedade”.
O desfecho do movimento de reconceituação
Como foi visto, os vanguardistas latino-america-
nos pretendiam criar uma “[...] unidade profissio-
nal que respondesse às problemáticas comuns da 
América Latina, uma unidade construída autono-
mamente sem a tutela imperialista [...]”(NETTO, 
2006, p. 150). No entanto, essa união foi desfeita por 
dois motivos: 1) o que se refere às ditaduras burgue-
sas que “[....] não deixaram vingar as propostas que 
situavam a ultrapassagem do subdesenvolvimen-
to como função da transformação substantiva dos 
quadros societários latino-americanos” (NETTO, 
2006, p. 147); 2) e o que trata das posições distintas 
que os assistentes sociais adotaram em relação ao 
Serviço Social tradicional: “um polo investia num 
aggiornamento do Serviço Social e outro tenciona-
va uma ruptura com o passado profissional [...]” 
(NETTO, 2006, p. 147).
Vicente de Paula Faleiros (2006, p.143) chama a 
atenção para as tendências que se manifestaram no 
movimento de reconceituação: “[...] tendências de 
conciliação e de reformas com outras de transfor-
mação da ordem vigente no bojo do processo revo-
lucionário, e ainda com outras, que visavam apenas 
modernizar e minimizar a dominação”. De fato, di-
vergências internas, também, não permitiram a re-
alização de uma proposta única da reconceituação. 
Apesar de todas as dificuldades, o movimento de re-
BookUniderp63_ServSocial.indb 20 11/16/09 1:45:54 PM
21
AULA 3 — O Movimento de Reconceituação do Serviço Social na América Latina 
conceituação conseguiu colocar na pauta dos encon-
tros profissionais assuntos de interesses latino-ame-
ricanos em lugar dos debates pan-americanistas,9 
patrocinados pelos Estados Unidos.
O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO 
DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
No estudo sobre o movimento de reconceitua-
ção no Brasil, Iamamoto (2006, p. 215) conclui que 
o debate da reconceituação só criou força quando 
a ditadura10 entrou em crise11 e a sociedade civil 
emergiu novamente. A autora explica que, duran-
te o regime militar, o processo de modernização do 
Serviço Social tradicional “[...] atualiza a sua heran-
ça conservadora”.
Verificou-se uma mudança no discurso, nos mé-
todos de ação e nos rumos da prática profissional 
com o objetivo de obter um reforço de sua legitimi-
dade junto às instâncias demandantes da profissão, 
em especial o Estado e as grandes empresas, ade-
quando o Serviço Social à ideologia dos governan-
tes (IAMAMOTO, 2006, p. 215).
Isso quer dizer que as inovações feitas nas insti-
tuições não foram suficientes para romper com o 
Serviço Social tradicional. No regime militar, não 
era possível discutir a relação entre Serviço Social 
e sociedade.
9 O pan-americanismo oficial “[...] é uma estratégia dos Esta-
dos Unidos para ganhar a hegemonia no continente” (CAS-
TRO, 2006, p. 132). No final do século XIX, afirma Castro que 
o pan-americanismo definiu-se como um programa, em espe-
cial a partir das Conferências Interamericanas realizadas em 
Washington (1889), no México (1910), no Rio de Janeiro (1906), 
em Buenos Aires (1910), em Santiago do Chile (1923), em Ha-
vana (1928) e em Montevidéu (1933). Depois da criação da 
Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização dos 
Estados Americanos (OEA), os Estados Unidos organizaram a 
sua hegemonia, impondo a política do pan-americanismo.
10 Na crise da ditadura, os cursos de pós-graduação expandiram 
o diálogo do Serviço Social com as ciências afins, entretanto, as 
elaborações teóricas não se apoiaram nas fontes clássicas.
11 O período de crise da ditadura estendeu-se de 1975-1985, 
quando iniciou-se o auge da crise econômica e o fim do mi-
lagre econômico. Aqui, cabe lembrar que, em 1973, ocorreu a 
crise internacional do petróleo, o que contribuiu com o fim do 
milagre brasileiro. À época, deu-se a abertura política que ocor-
ria de forma lenta e gradual.
Em vez disso, a orientação funcionalista encami-
nhava o Serviço Social para discutir o “[...] aperfei-
çoamento do instrumental técnico-operativo ex-
presso pela sofisticação de modelos de diagnóstico 
e planejamento, na busca de uma eficiência [...]” 
(IAMAMOTO, 2006, p. 215).
É preciso dizer que a ditadura militar brasileira 
dificultou o processamento das ideias da reconcei-
tuação, mas elas não foram extintas, “[...] no entan-
to, suas expressões são isoladas [...]”, como foi a ex-
periência do “Método BH” (IAMAMOTO, 2006, p. 
214). Assim, Netto (2006, p. 275) e Iamamoto (2006, 
p. 214) reconhecem o “Método BH”.
Cabe registrar ainda a realização do III Congres-
so Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 
1979, em São Paulo. Foi marcante neste Congresso 
a substituição da comissão de honra dos ministros 
do Estado pelos trabalhadores. Na “[...] sessão de 
encerramento, em vez de ministros, falaram líderes 
dos operários, dos metalúrgicos e dos movimentos 
populares ‘pela anistia’ e ‘contra o custo de vida’” 
(FALEIROS, 1983, p.119). Nele, foi lançada a Revis-
ta Serviço Social e Sociedade, com a publicação do 
seu primeiro número.
Concluindo■■
Na década de 1940, os Estados Unidos estabele-
ceram uma aliança com a América Latina para que 
ela fornecesse matéria-prima e mercado para os 
produtos norte-americanos. Nas décadas de 1960 
a 1980, na América Latina alternavam “mobiliza-
ção popular-reforma e autoritarismo político”. No 
Brasil, por exemplo, as manifestações sociais foram 
duramente rechaçadas pelo golpe de abril de 1964. 
Mas, quando a ditadura entrou em crise, a socieda-
de civil pôde voltar à cena brasileira.
O intercâmbio do Serviço Social latino-america-
no com o Serviço Social norte-americano se deu no 
âmbito da formação acadêmica e de programas in-
ternacionais. No contexto da dominação econômica 
norte-americana, um grupo de assistentes sociais, 
que era contra o imperialismo norte-americano e o 
Serviço Social tradicional, organizou o movimento 
de reconceituação latino-americano.
BookUniderp63_ServSocial.indb 21 11/16/09 1:45:55 PM
22
Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
Na proposta da reconceituação, a ruptura com 
o Serviço Social tradicional estava vinculada ao 
término do domínio imperialista. O grupo ques-
tionava o atrelamento do Serviço Social às classes 
dominantes. Então, não bastava inovar as institui-
ções para romper com o Serviço Social tradicional, 
nem formular procedimentos metodológicos.
Ao optar pelos subalternos, o movimento de re-
conceituação lutou contra as práticas tradicionais 
e por criar um Serviço Social latino-americano; e 
orientou as produções teóricas, para que fossem 
voltadas para as questões do continente e não se 
prendessem ao modelo norte-americano.
A união pretendida pelo movimento de recon-
ceituação foi desfeita pelas ditaduras burguesas e 
por divergências no próprio grupo dos assistentes 
sociais.
No Brasil, o debate da reconceituação só criou 
força quando a ditadura entrou em crise e a socie-
dade civil emergiu novamente. A ditadura militar 
brasileira dificultou, mas não extinguiu, o processa-
mento das ideias da reconceituação, pois elas ocor-
reram de forma isolada, como foi o “Método BH”.
Atividades■■
Leia o texto da aula 3 e desenvolva as seguintes 
questões:
1. Como o texto define o desenvolvimentismo?
2. Quais os fatores que mostram a dependência 
latino-americana que ocorreu depois da Segunda 
Guerra Mundial?
3. Como se deu o intercâmbio do Serviço Social 
latino-americano com o Serviço Social norte-ame-
ricano?
4. Como ocorreu o movimento de reconceitua-
ção do Serviço Social latino-americano?
5. Quais são os “eixos de preocupações funda-
mentais” do movimento de reconceituação, desta-
cados por Marilda Villela Iamamoto?
6. Qual foi o desfecho do movimento de recon-
ceituação?
7. Como ocorreu o movimento de reconceitua-
ção no Brasil?
ANOTAÇÕES *
BookUniderp63_ServSocial.indb 22 11/16/09 1:45:55 PM
23
AULA 4 — A Questão Social e o Serviço Social
INTRODUÇÃO
A proposta deste texto é discutir a questão social e 
o Serviço Social. O texto parte da organização social 
monopolista para explicitar os vínculos do Serviço 
Social com a questão social, nas suas diferentes ex-
pressões. Destaca, ainda, a reorganização da sociedade 
brasileira, na ditadura de 1964, em função das exigên-
cias do capital externo, bem como a atuação do Servi-
ço Social em instituições do Estado e em empresas.
Basicamente, o texto está referendado na obra 
Capitalismo monopolista e Serviço Social, de José 
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AULA
4
A QUESTÃO SOCIAL E O SERVIÇO SOCIAL
Conteúdo■■
A sociedade dos monopólios•฀
A questão social e o Serviço Social•฀
A questão social nas mudanças ocorridas a partir do final do século XX•฀
O trabalho do assistente social nas unidades de serviço•฀
Competências e habilidades■■
Compreender a organização do Serviço Social na sociedade monopolista•฀
Reconhecer as várias expressões da questão social e buscar caminhos de trabalho•฀
Apreender o objeto do Serviço Social diante dos problemas sociais•฀
Material para autoestudo■■
Verificar no Portal os textos e as atividades disponíveis na galeria da unidade
Duração■■
2 h-a – via satélite com professor interativo
2 h-a – presenciais com professor local
6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo
Paulo Netto, e nas obras de Marilda Villela Ia-
mamoto, O Serviço Social na contemporaneidade: 
trabalho e formação profissional, Serviço Social em 
Tempo de Capital Fetiche e Renovação e conserva-
dorismo do Serviço Social: ensaios críticos.
A SOCIEDADE DOS MONOPÓLIOS
O capitalismo monopolista
Antes de refletir sobre a questão social e o Ser-
viço Social, serão feitas algumas observações acerca 
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Unidade Didática – Fundamentos Históricos e Teóricos do Serviço Social
do capitalismo monopolista1 (instaurado no final 
do século XIX), que configurou a questão social e o 
Serviço Social.
O monopolismo, segundo Alves (2001, p. 189), 
teve início quando as grandes empresas começa-
ram a abarcar as pequenas e as médias no último 
terço do século XIX. “Tornando-se cada vez mais 
gigantescas, aquelas, que se sustentaram no mer-
cado, deram margem à formação de empresas mo-
nopolistas”.
Na organização monopolista, em vez de traba-
lho, “[...] o monopólio faz aumentar a taxa de aflu-
ência de trabalhadores ao exército industrial de re-
serva” (Sweezy, 1977: 304 apud NETTO, 2006, p. 
21). Nessas condições, Alves (2001, p. 190) afirma 
que o capitalismo deixou de reproduzir somente a 
riqueza social, reproduzindo o parasitismo. O Es-
tado, então, ficou com o controle do parasitismo.2
Segundo Netto (2006, p. 25), o Estado assumiu 
várias funções no monopolismo. Pois o “[...] eixo 
da intervenção estatal na idade do monopólio é di-
recionado para garantir os superlucros dos mono-
pólios [...]” (NETTO, 2007, p. 25).
O processo de monopolização do capital 
no Brasil
Como foi dito no texto da aula 1, para Bandei-
ra (1975, pp. 9–10), na década de 19503 havia “alta 
concentração monopolística” na economia brasi-
leira. Segundo ele, o governo de Juscelino Kubits-
chek de Oliveira faz concessões ao capital inter-
1 É bom lembrar que o capitalismo monopolista foi antecedido 
pelo capitalismo comercial e pelo concorrencial.
2 O Estado “[...] organizou o parasitismo a partir da transferên-
cia, por meio de impostos, de parte dos ganhos dos capitalistas 
para as atividades improdutivas” (ALVES, 2001, p. 190).
3 “O Brasil, àquele tempo, já registrava alta concentração mo-
nopolística e, nos anos seguintes, na década de 1950, tornou-
se novamente campo de batalha dos grandes interesses es-
trangeiros, que, de um lado, disputavam entre si o mercado 
nacional e o controle das fontes de matérias-primas e, do outro, 
procuravam arrebatar e distorcer o processo de industrializa-
ção, na medida em que não mais podiam segurá-lo, conforme 
as conveniências do sistema capitalista mundial.” (MONIZ, 
1975, pp.9–10).
nacional; por exemplo, ao aprimorar a Instrução 
da Superintendência da Moeda e do Crédito (SU-
MOC), mecanismo que privilegia o capital norte-
americano.
As indústrias brasileiras perdem espaço de tal 
maneira que os investimentos das grandes empre-
sas monopolistas “[...] absorvem posições de lide-
rança antes ocupadas por indústrias e empresários 
nativos” (IAMAMOTO, 2004, p. 77, nota de roda-
pé no 3). O empresariado nacional, que atuava de 
forma competitiva, teve que ceder ao capital inter-
nacional.4
Nesse contexto, uma parte da burguesia, aliada 
aos Estados Unidos, era a favor do capital inter-
nacional e a outra, defendia o nacionalismo, pro-
vocando uma crise5 na burguesia, na passagem da 
concorrência para o monopólio. Conforme Iama-
moto (2004, pp. 77–78), a crise se deu

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