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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ADMISTRACAO PÚBLICA 3º Ano Disciplina: ADMINISTRAÇÃO AUTARQUICA Código: Total Horas/1o Semestre: Créditos (SNATCA): Número de Temas: INSTITUTO SUPER INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail:isced@isced.ac.mz Website:www.isced.ac.mz mailto:isced@isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Autor Bernardo João Ferro Coordenação Design Financiamento e Logística Revisão Científica Revisão Linguística Ano de Publicação Local de Publicação Direcção Académica do ISCED Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) XXXXX XXXXX ISCED – BEIRA XXXXX ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica iii Índice Tema pag Visão geral-------------------------------------------------------------------------------------------------1 Objectivos do Módulo------------------------------------------------------------------------------------1 Objectivos específicos------------------------------------------------------------------------------------1 Quem deveria estudar este modulo----------------------------------------------------------------------1 Como está estruturado este módulo---------------------------------------------------------------------2 Conteúdo desta disciplina/módulo----------------------------------------------------------------------2 Outros recursos---------------------------------------------------------------------------------------------3 Autoavaliado e tarefas de avaliação---------------------------------------------------------------------3 Comentários e sugestões----------------------------------------------------------------------------------4 Icones de actividade---------------------------------------------------------------------------------------4 Habilidades de estudo-------------------------------------------------------------------------------------4 Precisa de apoio? ------------------------------------------------------------------------------------------6 Tarefas(avaliação e autoavaliação)----------------------------------------------------------------------7 Avaliação---------------------------------------------------------------------------------------------------7 Tema Evolução Histórica-----------------------------------------------------------------------------11 Considerações Gerais------------------------------------------------------------------------------------11 Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------------11 Objectivos gerais-----------------------------------------------------------------------------------------11 Objectivos específicos----------------------------------------------------------------------------------12 Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------------13 Objectivos específicos-----------------------------------------------------------------------------------13 1.0.A História da Administração ----------------------------------------------------------------------14 1.1.Administração Local no Período Colonial-------------------------------------------------------15 1.2.Administração Local Pós Independência------------------------------------------- -------------18 1.3.Administração Local Moçambicana--------------------------------------------------------------24 1.4.As autoridades Tradicionais------------------------------------------------------------------------31 1.5.Legitimidade do Poder Local em Moçambique-------------------------------------------------36 1.6.Pluralidade politica----------------------------------------------------------------------------------37 Sumario----------------------------------------------------------------------------------------------43 1.7.Exercícios de Auto Avaliação---------------------------------------------------------------------43 1.8.Resolução de exercício de auto avaliação--------------------------------------------------------44 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica iv Tema II---O Controlo----------------------------------------------------------------------------------48 Introdução-------------------------------------------------------------------------------------------------49 2.0. Objectivos Específicos-----------------------------------------------------------------------------49 2.1.1. A Velha e Nova Administração Local--------------------------------------------------------50 2.1.2. As empresas Municipais-------------------------------------------------------------------------50 2.2. Concessão da Exploração de Serviços Públicos------------------------------------------------50 2.3. Regulamentação Fiscalização e Tarefas---------------------------------------------------------51 2.4. A relação entre o Poder Central e o Poder Local-----------------------------------------------51 2.5. A razão do Controlo--------------------------------------------------------------------------------55 2.6. A Cidadania e o Controlo--------------------------------------------------------------------------56 2.7. 0. Organização da Tutela Administrativa--------------------------------------------------------57 2.7.1. Órgãos de Tutela---------------------------------------------------------------------------------57 2.7.2. Órgãos Centrais-----------------------------------------------------------------------------------57 2.7.3. O Ministério da Administração Estatal e Função Pública como Órgão central da Tutela Administrativa--------------------------------------------------------------------------------------------58 2.7.4. A inspecção Administrativa do Estado--------------------------------------------------------59 2.7.5. Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa---------------------------------------------61 2.7.6. Acções correctivas--------------------------------------------------------------------------------62 2.7.7. Ministério da Economia Plano e Orçamento--------------------------------------------------64 2.7.8. A inspecção Geral das Finanças----------------------------------------------------------------64 2.7.9. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento--------------------------------------------------66 2.8.0. Meios dos Órgãos de Tutela---------------------------------------------------------------------652.8.1. A inspecção----------------------------------------------------------------------------------------67 2.8.2. O Inquérito-----------------------------------------------------------------------------------------68 2.8.3. Sindicância----------------------------------------------------------------------------------------68 2.8.4. Ratificação----------------------------------------------------------------------------------------69 Sumario---------------------------------------------------------------------------------------------------71 2.8.5. Exercícios de Auto avaliação-------------------------------------------------------------------71 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica v 2.8.6. Resolução do exercício de auto avaliação-----------------------------------------------------71 Tema III- Geminações--------------------------------------------------------------------------------77 Introdução------------------------------------------------------------------------------------------------79 3.0. Objectivos específicos------------------------------------------------------------------------------79 3.1.0. Novos Instrumentos de Gestão------------------------------------------------------------------79 3.1.1. Operacionalização do Conceito de Descentralização----------------------------------------79 3.2. Enquadramento Histórico--------------------------------------------------------------------------81 3.3. O Conceito de Descentralização------------------------------------------------------------------83 3.4. Formas de Descentralização----------------------------------------------------------------------85 3.5. 0. Enquadramento legislativo da Lei 3/94 das eleições autárquicas de Janeiro de 1998--85 3.6.0. Reformas Administrativas-----------------------------------------------------------------------86 3.6.1. Opção da Descentralização para Moçambique-----------------------------------------------89 3.6.2. Uma Primeira Análise Crítica do Processo de Descentralização e Desconcentração---89 3.7.0. As Autarquias Locais----------------------------------------------------------------------------92 3.7.1. O Concelho----------------------------------------------------------------------------------------96 3.7.2. Classificação dos Municípios-------------------------------------------------------------------97 3.7.3. Atribuições Municipais--------------------------------------------------------------------------99 3.7.4. Órgão da Administração Municipal----------------------------------------------------------102 3.8.0. Serviços especiais-------------------------------------------------------------------------------105 3.8.1. Os Serviços Municipalizados------------------------------------------------------------------106 3.8.2. Regime Financeiro das Autarquias Locais--------------------------------------------------107 3.9.0. As Agências Doadoras Multilaterais e Bilaterais-------------------------------------------111 3.9.1. A Participação; A Autarquia Parceira--------------------------------------------------------115 3.9.2. Áreas de Cooperação---------------------------------------------------------------------------115 Formação de quadros----------------------------------------------------------------------------------115 3.9.3. Cultura e Património Histórico----------------------------------------------------------------115 3.9.4. Infra-Estrutura, Saneamento Básico, urbanismo e Ambiente-----------------------------116 3.10.0. Protocolos entre ICP e AMP-----------------------------------------------------------------116 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica vi 3.10.1. Na área de Educação e Formação de Quadros---------------------------------------------119 3.10.2. Na área de Infra-estruturas, Saneamento Básico, Urbanismo e Ambiente-------------120 3.10.3. Na área de Apoio em Matérias e Equipamentos------------------------------------------120 3.11. 0. Outras Instituições ---------------------------------------------------------------------------122 3.11.1. Análise da CIM com Moçambique----------------------------------------------------------122 3.11.2. Operacionalização da CIM-------------------------------------------------------------------127 3.11.3. Conteúdos da CIM----------------------------------------------------------------------------129 3.11.4. Formas da CIM-------------------------------------------------------------------------------130 3.11.5. A CIM nas Relações Internacionais--------------------------------------------------------132 3.11.6. Potencialidades e Limitações da CIM------------------------------------------------------134 3. 11.7. O Desenvolvimento Local, as Novas Autoridades---------------------------------------137 Sumario-------------------------------------------------------------------------------------------------138 3.11.8. Exercícios de autoavaliação------------------------------------------------------------------138 3.11.9. Resolução de Exercícios de autoavaliação------------------------------------------------140 4. Bibliografia-------------------------------------------------------------------------------------------145 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 1 Visão geral Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Administração Autárquica Objectivos do Módulo Ao terminar o estudo deste módulo de Contabilidade Geral deverá ser capaz de: Apresentar a estrutura básica da Administração Autárquica, destacando seus objectivos, sua sistematização, seus procedimentos concebidos para captar, registar, acumular, resumir e interpretar os fenómenos que afectam as situações das Autarquias Locais Objectivos Específicos Fazer um breve percurso histórico da disciplina. Conhecer as diferentes formas de descentralização; Conhecer os processos de orientarão a implementação das autarquias Locais em Moçambique Saber Interpretar o fenómeno da cooperação intermunicipal. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 3º ano do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 2 Como está estruturado este módulo Este módulo de Administração Autárquica, para estudantes do 3º ano do curso de licenciatura em Administração Pública, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice complete. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades, Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas algunas incluido estudo de caso. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/AdministraçãoAutárquica 3 Outros recursos A equipa dos académica e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 4 Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico- Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 5 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existirem. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama- se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 6 da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimento, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 7 ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas ,etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativo.O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficar a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver habito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 8 Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es).Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorias devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentada de avaliação. 1Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 9 Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 11 TEMA – I: CONSIDERAÇÕES GERAIS. UNIDADE Temática I Objectivos específicos; Unidade Tematica 1.0.Evolução histórica; Unidade tematica1.1.Adminstracao Local no período colonial; Unidade tematica 1.2. Administração Local pós-independência; Unidade Tematica 1.3Adminstracao Local moçambicana; Unidade Tematica1.4Autoridades tradicionais; Unidade Tematica 1.5Legitimidade do poder local em Moçambique; Unidade Tematica1.6 Pluralidade politica do poder local; Unidade Tematica1.7 Exercícios de Auto avaliação; Unidade tematica1.8 Resolução dos Exercícios de autoavaliação. Introdução A Administração Autárquica é uma área nova no contexto moçambicano. Só com a aprovação da revisão constitucional de 1990 é que a lei permite uma abertura para a sua implantação. Hoje Moçambique está enfrentando os desafios da implantação das autarquias locais por ser ainda Uma realidade nova. Ao longo deste modo ira ser debruçado no I Capitulo o processo da evolução Histórica passando pela chegada dos portugueses em Moçambique e a implantação da maquina administrativa colonial. No segundo capitulo, está patente o controlo, tutela, já criadas as autarquias locais há necessidade de se Estabelecer algum nível de controlo das suas actividades assim com para Cumprir com o princípio ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 12 Constitucional de unicidade do Estado moçambicano. No terceiro capítulo, dentre outros aspectos versa sobre a descentralização no Geral, o surgimento das autarquias locais, sua classificação. Há também um Olhar sobre as geminações que na verdade são formas de cooperação (CIM). Objectivos Gerais Objectivos específicos Apoiar os leitores a fazer uma comparação da etimologia da Descentralização e as suas consequências; Perceber o processo que levou ao surgimento das autarquias em Moçambique; Fazer uma abordagem da administração autárquica moçambicana ;um sistema de controle adequado à empresa; No final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de: 1. Explicar a estrutura prismática da administração moçambicana; 2. Perceber o processo de criação dos concelhos em Moçambique; 3. Explicar o processo de surgimento das companhias em Moçambique; 4. O papel do partido Frelimo na implementação da nova administração; 5. Diferenciar a lei 3/94 e a lei 2/97, sobre o poder local; 6. Indicar as primeiras regiões onde foram instalados os primeiros Municípios; 7. Explicar o papel dos Grupos dinamizadores. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 13 Unidade Temática I Introdução IA Administração Pública em moçambicana nem esteve no nível que se encontra hoje, pois passou pelo processo de administração colonial, esta que teve de ser abandonada após 1975, ano da proclamação da independência nacional. Sem recursos humanos formados, o Governo moçambicano teve que ir implementando a sua administração aprendendo Objectivos específicos Mostrar o processo da evolução da administração; Apresentar a importância da autoridade tradicional. No final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de: 8. Explicar a estrutura prismática da administração moçambicana; 9. Perceber o processo de criação dos concelhos em Moçambique; 10. Explicar o processo de surgimento das companhias em Moçambique; 11. O papel do partido Frelimo na implementação da nova administração; 12. Diferenciar a lei 3/94 e a lei 2/97, sobre o poder local; 13. Indicar as primeiras regiões onde foram instalados os primeiros Municípios; 14. Explicar o papel dos Grupos dinamizadores. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 14 1.0. A Historia da Administração Durante bastante tempo, entendeu-se que a modernização da administração dos Países em desenvolvimento se fazia pela adopção dos modelos e valores ocidentais.Uma vez adoptados, estes funcionariam tal como nos Países de origem. Riggs (1964) veio demonstrar que a modernização não equivale a um processo automático de transferência de modelos de organização administrativa e outros. As estruturas ocidentais em contacto com as sociedades tradicionais são retratadas, como a luz ao atravessar um prisma. A situação prismática não é nem tradicional, nem moderna, antes contém novos elementos que resultam da justaposição das antigas e novas estruturas sociais. A maior parte das sociedades mantém muitas das antigas tradições e normas culturais, enquanto importa e aceita práticas e padrões das sociedades modernas. O resultado é uma sociedade prismática, em que os valores e procedimentos ocidentais constituem uma fachada, mas, na prática, não funcionam. Será que a administração local em Moçambique é constituída por estruturas prismáticas? Ou deve procurar-se a explicação do seu funcionamento noutros mecanismos ou teorias? A literatura não é muito optimista sobre a situação actual da administração local nos países africanos. Segundo Jreisat (2010), embora os Estados africanos tenham sido governados segundo a lógica dual, com separação das áreas urbanas (europeias) e as áreas rurais, denominadas territoriais, os líderes africanos tenderam a reproduzir os tiques dos colonizadores, ocupando as suas posições no aparelho administrativo. Daí que, a partir dos anos oitenta, se tenha assistido a uma pressão das entidades doadoras no sentido de os Países africanos adoptarem modelos de gestão identificados com a Nova Gestão Pública. Reportando-se à administração local no Senegal, Touré (2012) insiste em que o movimento de autonomia local e de descentralização impulsionado pelas entidades doadoras ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 15 não passa de retórica, já que tem levado ao enfraquecimento das autoridades locais e ao aumento da intervenção estatal. O mesmo tem sido apontado para outros países africanos, designadamente o Uganda e o Gana (Awortwi, 2011). Vamos procurar desenvolver este tema da autonomia e da democracia local em Moçambique, usando vários contributos e a análise comparada. 1.1.Administração Local no Período Colonial Os portugueses chegaram a Moçambique nos finais do século XV, a caminho da Índia. Ao longo da costa fundaram as feitorias de comércio em Sofala (1505) e na Ilha de Moçambique (1507), que constituíram as primeiras formas de controlar o comércio entre o interior africano e diversos portos do Oceano Índico. A colonização ocorreu, primeiro, como consequência da procura de metais preciosos (ouro, prata e bronze), a que se juntou a demanda do marfim e, já no século XVIII, o comércio de escravos (Newitt, 1997; UEM, 1988). Durante os primeiros séculos de colonização, o território de Moçambique integrou o Estado da Índia, com sede em Goa. No contexto das reformas iluministas do império português, o Marquês de Pombal separou a administração de Moçambique do governo da Índia, concedeu-lhe autonomia administrativa (1752) e financeira (1755) e ordenou, em 1761, a instalação de câmaras municipais nas principais povoações da colónia, elevadas a vilas na mesma altura. Desse modo, em 1763, foram criados municípios na Ilha de Moçambique e em Quelimane; no ano seguinte, no Ibo, Sena, Tete e Zumbo; e em data desconhecida, entre o final de 1763 e Maio de 1764, em Sofala e Inhambane (Rodrigues, 1998; Teixeira, 1990). A criação de concelhos em Moçambique, assim como a urbanização, foi um processo lento, que esteve associado a uma ocupação colonial gradual e que só se tornou efectiva no século XX. A Ilha de Moçambique, cidade em 1818, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 16 manteve-se como capital até 1898, quando esta foi transferida para Lourenço Marques, actual Maputo, cujo crescimento esteve ligado à importância do Transval. A Beira, fundada no final do século XIX, só ganhou estatuto administrativo de cidade em 1907, depois de iniciada, em 1899, a construção do caminho-de-ferro que ligava o seu porto à Rodésia (actual Zimbabwe). Porto Amélia, hoje Pemba, só em 1934 foi elevada a categoria de vila e em 1958 de cidade. Em finais do século XIX, depois da Conferência de Berlim (1884- 1885), a administração colonial organizou campanhas de ocupação efectiva do território e reorganizou a administração da colónia. O sul e o distrito de Moçambique foram administrados de forma directa pelo governo colonial. No centro e no norte, o território foi arrendado a grandes companhias capitalistas, algumas das quais, a Companhia de Moçambique e a Companhia do Niassa, tinham poderes majestáticos. Estas companhias majestáticas não exploraram apenas economicamente o território, como asseguraram o exercício da autoridade administrativa nas áreas concessionadas (Newitt, 1997, pp. 321-343). As companhias sucederam aos chamados prazos, criados nos finais do século XVI e que perduraram até ao século XX. Tratava-se de estruturas feudais importadas da Europa e que constituíam o modo de exploração na bacia do Zambeze. Segundo Papagno (1980), os prazos foram um modelo de administração que acabou por ser integrado nas grandes companhias, nomeadamente a Companhia de Moçambique e a Companhia da Zambézia. Este processo acelerou-se depois do Ultimatum (1890), como consequência de investimentos ingleses. Neste formato de concessão, as companhias tinham poderes sobre os habitantes africanos das áreas concessionadas. Na sequência da ocupação efectiva imposta pela conferência de Berlim, o Estado português optou por uma administração indirecta, que assentava na diferenciação entre europeus e nativos. Os primeiros estavam sujeitos ao direito e às instituições europeias, nomeadamente as municipais; os segundos, aos direitos costumeiros e às autoridades ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 17 tradicionais, legitimadas por poder colonial. Alguns moçambicanos, uma pequena minoria, tinham emprego na economia capitalista e sabiam ler e escrever português, pelo que tinham o estatuto de “assimilados”, mas tinham uma posição inferior à dos europeus (Newitt, 1997, pp. 384-385). O Código do Trabalho dos Indígenas da África Portuguesa, de 1928, e o Estatuto Político, Civil e Criminal dos Indígenas, de 1929, na sequência da lei de trabalho de 1899 e de outros diplomas, articulavam a relação entre colonos e colonizados. Estes últimos eram forçados pela administração colonial a diversos tipos de trabalho. O recrutamento de trabalhadores era feito pelos sipaios, isto é, soldados locais, que actuavam sobretudo nas zonas rurais, mandatados pelos colonizadores. As autoridades tradicionais serviam de intermediários entre o poder colonial e as populações indígenas (Newitt, 1997, pp. 407-410). Entretanto, no começo dos anos de 1960, a política colonial do Estado português mudou, tendo sido abolido o regime do indigenato (decreto- lei nº 43893, de 6 de Setembro de 1961). Todos, num instante, passaram a cidadãos portugueses. Na prática, porém, o dualismo manteve-se, continuando os africanos a serem considerados cidadãos de segunda, ou cidadãos sem cidadania (Araújo, 2008). No auge da colonização, durante o Estado Novo, acentuou-se a criação de estruturas administrativas fortemente centralizadoras em que as estruturas municipais eram uma extensão do poder central, tal como, acontecia na metrópole colonial. Na sequência da reforma administrativa ultramarina de 1933, a colónia era dirigida por um governador-geral, compondo-se de três províncias, por sua vez divididas em distritos com um administrador. A nível local, a malha administrativa, na sequência da estabelecidajá em 1914, distinguia-se em concelhos municipais, nos principais centros urbanos, e em circunscrições, nas zonas rurais, em ambos os casos, administrados por autoridades nomeadas. Os concelhos municipais eram dirigidos por autoridades civis, sendo ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 18 os mais importantes presididos por um presidente de câmara, e dividiam-se em freguesias. As circunscrições eram governadas por administradores e decompunham-se em postos administrativos, que podiam existir igualmente nas áreas rurais dos concelhos, a cargo de chefes de posto. Os postos administrativos, por sua vez, agrupavam as regedorias, chefiadas por régulos, sob fiscalização dos administradores. A figura do régulo foi sendo promovida pelas autoridades coloniais, e entre as suas funções estava o recrutamento de trabalhadores. Mesmo depois da abolição do Estatuto dos Indígenas, em 1961, tal manteve-se ou reforçou-se mesmo, tendo os régulos passado a ser formalmente considerados parte da administração local. No início da década de 1960, existiam em Moçambique 61 concelhos – centros urbanos com 500 ou mais eleitores – e 31 circunscrições. Pela nova Lei Orgânica do Ultramar, de 1972, Moçambique passou a ser designado “Estado”, mas a estrutura administrativa manteve-se semelhante à existente (Meneses, 2009; Newitt, 1997, p. 410). 1.2. Administração Local Pós-Independencia Declarada a independência, em 1975, sob a denominação de República Popular de Moçambique, a administração do País foi marcada pela necessidade de reforçar a unidade nacional, a liderança do partido único e o planeamento central. A estrutura sociopolítica e administrativa obedecia ao centralismo democrático, que orientou os primeiros anos do País. Uma das primeiras medidas do novo governo foi abolir a dualidade administrativa entre zonas predominantemente rurais (circunscrições administrativas) e urbanas (concelhos), na sequência da orientação política saída do Conselho de Ministros, de 9 de Junho do 1975. Como argumenta Trindade (2003), a orientação política perfilhada aquando da ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 19 independência era contrária às estruturas legadas pelo colonialismo, pelo que havia a necessidade de “revolucionar o aparelho do Estado”. Esta ideia constituiu uma das principais tarefas levadas a cabo pelo Governo da Frelimo, para o qual a dualidade administrativa do modelo colonial deveria ser abandonada, enquanto se instituía um novo conceito, as aldeias comunais, como estratégia política de desenvolvimento rural. A estratégia era apoiada pelas populações que a entendiam como um meio para assegurar a melhoria das suas condições de vida. Conforme o autor, aquele modelo de organização iria facilitar ao Governo o fornecimento dos meios materiais, técnicos e científicos aos sectores considerados prioritários no processo de reconstrução nacional, ou seja, na “educação, saúde, agricultura e defesa” (idem). Esta abordagem defendia o desenvolvimento das zonas rurais em todos os sectores de actividade do Estado, o “que implicava necessariamente, a extinção das regedorias, que eram consideradas estruturas de natureza feudal, colaboracionistas com o colonialismo e incompatíveis com o poder popular” (idem). Assim, após a independência, o território de Moçambique foi dividido em províncias, distritos e localidades, não se reconhecendo o papel das autoridades tradicionais, já que se entendia que essas autoridades haviam colaborado com a administração colonial. Importa considerar, também, que existia o desiderato político de construir um País homogéneo do Rovuma ao Maputo, pelo que os localismos tinham de ser eliminados. A lei de 5/78, de 22 de Abril, substituiu as estruturas coloniais orgânicas em quatro níveis: central, provincial, distrital e local. Note-se que as estruturas locais eram meros receptoras e executores das decisões a nível central. A grande novidade foi a criação de assembleias do povo a nível local, distrital e provincial (lei de 7/78, de 22 de Abril). Os Conselhos Executivos eram fortemente dependentes do poder central. Como refere Otayek (2007), “logo após a independência, a hora é de exaltação da nação, erguida em verdadeira religião civil, e da ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 20 omnipotência do partido-estado que pretende ser a sua encarnação e o instrumento da sua criação” (p. 6). A Constituição de 1990 introduziu profundas mudanças políticas, como o pluralismo político e a existência de autonomias locais, e também económicas, nomeadamente pelo abandono do sistema de economia planificada e pela consagração da economia de mercado. O novo texto constitucional estabeleceu a separação dos órgãos do poder local, que passaram a ser dotados de personalidade jurídica própria face ao aparelho administrativo central. Na sequência das mudanças constitucionais, em Maio de 1992, o Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL), que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração local do Estado e a sua transformação em órgãos locais com personalidade jurídica própria e dotados de autonomia administrativa e financeira. Em consequência, foi aprovada a lei 3/94, de 13 de Setembro, que estabeleceu a “institucionalização dos distritos municipais e representando o primeiro instrumento normativo de descentralização” (Trindade, 2003). O processo da descentralização política e administrativa não foi encarado de forma igual pelo partido único da Frelimo e pelos partidos políticos emergentes neste período, incluindo a Renamo. Estes últimos partidos entendiam que o projecto se tratava de uma ideia saída do partido único no poder e, entretanto, não viam com agrado o lançamento do Programa de Reformas dos Órgãos Locais. A lei 3/94, de 13 de Setembro, cuja regulamentação se fazia já depois de eleições multipartidárias de 1994, acabou por se tornar um documento da discórdia em torno da sua constitucionalidade, pelo que se optou por fazer uma revisão da Constituição (lei 9/96 de 22 de Novembro). A emenda constitucional introduziu o título “Poder Local”, que previa a existência de Autarquias Locais, visando a participação dos cidadãos na solução dos problemas da sua comunidade, a promoção do desenvolvimento local e o ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 21 aprofundamento da democracia, no quadro da unidade do Estado moçambicano (Trindade, 2003, p. 120). Assim, em 1997, foi publicada nova lei (2/97, de 18 de Fevereiro), que serviu de quadro normativo às primeiras eleições municipais em 1998, feitas em 33 Municípios. Embora a lei fosse igualmente matéria de discórdia e de debate político-partidário, à semelhança da lei 3/94, foi, finalmente, aprovada pela Frelimo e pela União Democrática (UD). A Renamo e quase todos os restantes partidos de oposição recusaram-se a participar nas primeiras eleições autárquicas de 1998, por discordarem da forma como o processo de descentralização estava a ser conduzido pelo governo. Essa rejeição deu origem a uma elevada taxa de abstenção de 85,42%. Na maioria dos municípios em disputa, o partido no poder concorreu sozinho às eleições. Ainda assim, nas duas maiores cidades do país, Maputo e Beira, as associações de cidadãos – Juntos pela Cidade e Grupo de Reflexão e Mudança – obtiveram resultados relevantes, atingindo, respectivamente, 25,58% e 39,85% dos votos e elegendo, no primeiro caso, 15 e, no segundo, 17 membros para as Assembleias Municipais (Trindade, 2003, pp. 118-125). A nova legislação introduziu a uma mudança significativana filosofia subjacente à mencionada lei 3/94, conforme o Quadro 1. Para muitos autores, houve uma clara regressão sob o ponto de vista do aprofundamento do processo democrático. As maiores críticas dirigem- se, por um lado, ao facto de a lei 2/97 se aplicar a um número restrito de cidades e vilas, e, por outro lado, não contemplar as comunidades e não promover o envolvimento das autoridades tradicionais (Trindade, 2003, p. 120). O Quadro 1 mostra claramente as diferenças entre as duas concepções de poder local, já que na primeira lei, a 3/94, é manifesta a importância concedida às Autoridades Tradicionais, consideradas um poder de facto. Existiriam, assim, poderes legitimados pelo voto popular e poderes tradicionais, que não são eleitos. Esta dualidade levantava um problema constitucional que a lei 2/97, de 18 de Fevereiro, tentou resolver, introduzindo o conceito de ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 22 legitimação das Autoridades Tradicionais (AT), por parte do poder central. Todavia, este procedimento não retira às AT o seu papel de mediadores entre o poder central, herdeiro do poder colonial, e a população. Na verdade, esta absorve a lei, conforme ela é lida pelos líderes locais. Quadro 1: Principais Diferenças entre a Lei 3/94 e a Lei 2/97 sobre o Poder Local Lei nº 3/94 Lei nº 2/97 Divisão administrativa em 128 distritos municipais rurais (= distritos) e 23 distritos municipais urbanos. Criação de autarquias, subdivididas em municípios (urbanos), e povoações (rurais). Cidades, vilas, aldeias, povoações (544) são à partida elegíveis para o estatuto de autarquia. Ficam de fora do poder local os 128 distritos geridos pelos órgãos administrativos locais e, por conseguinte, sob administração central. Eleição directa e secreta dos três órgãos municipais: Presidente (Administrador nas zonas rurais), Assembleia e Conselhos Municipais. Eleição directa e secreta do Presidente e da Assembleia Municipal (AM). Metade dos membros do Conselho Municipal são designados pelo Presidente e metade são membros da AM. Enumeração clara das funções e serviços dos governos locais (inclui segurança pública, uso da terra, abastecimento de água, entre outros). As funções dos governos locais são reduzidas em questões essenciais (como o uso da terra) e condicionadas à existência de recursos financeiros locais. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 23 Definição clara das prerrogativas e competências da administração central e do município. Representação dos órgãos de administração central na jurisdição territorial das autarquias. Possibilidade de controlo e participação destes no governo local (dupla administração). Autonomia orçamental, fiscal, patrimonial, de planeamento e organização. Autonomia administrativa, fiscal, patrimonial e de organização. Subordinação administrativa das autarquias ao princípio da “unidade do poder político”. Apoio orçamental previsto no OGE. Apoio orçamental previsto no OGE. Integração das autoridades tradicionais no processo de consulta e tomada de decisões locais (nomeadamente no arbítrio de conflitos e em questões relacionadas com o uso da terra). A participação das autoridades tradicionais é substancialmente limitada e sujeita a regulamentação ministerial. Direito à criação de uma associação de municípios. Não há referência ao direito de associação dos municípios. Princípio do gradualismo: estabelecimento gradual dos municípios com base em condições socioeconómicas, administrativas e de infra- estruturas mínimas. Princípio do gradualismo. A lei da criação das autarquias (elaborada, discutida e aprovada posteriormente) limita o número de autarquias na primeira fase a 33. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 24 Tutela legal e financeira dos municípios por parte do Ministério do Plano e Finanças (MAE), respectivamente. Tutela legal e financeira dos municípios por parte do MAE e do MPF, respectivamente. A lei da tutela administrativa do Estado sobre as autarquias locais (elaborada, discutida e aprovada posteriormente) determina que a tutela pode ser delegada aos governos provinciais. Fonte: Faria & Chichava (1999, p. 8) 1.3.Administração Local Moçambicana Em 2003, foram aprovados vários textos legislativos destinados a acelerar o processo de consolidação dos municípios e, em 2007-2008, foram introduzidas alterações significativas à lei 2/1997, as quais procuram designar as autarquias como poder local, em oposição ao poder central desconcentrado. Como foi argumentado em Zavale (2011), a designação do “Poder Local” pelo legislador resulta da reimportação de leis eurocêntricas que continuam a marcar o mapa da administração pública do País. Na verdade, a Lei 1/2008 introduziu algumas alterações, mas manteve o princípio do gradualismo, que só permitia avançar para o estabelecimento de novos municípios se as povoações obedecessem a determinados critérios. O princípio do gradualismo consiste num processo lento de criação das autarquias locais em Moçambique, o que explica que, na sua primeira fase, tenham sido implementados apenas 33 municípios, 23 nas cidades e 10 nas 68 vilas existentes no país, conforme apresentado no Quadro 2. De acordo com Hanlon (1997), o princípio do gradualismo em Moçambique é essencialmente explicado pela inexistência ou insuficiência de condições económicas e sociais necessárias e ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 25 indiscutíveis para a reimplantação e funcionamento da administração autárquica nas vilas em geral (p. 13). E, portanto, é necessário fazer previamente a consolidação e a capacitação de agentes locais e fazer acompanhar o processo de recursos técnicos e infra-estruturas, que permitam o funcionamento da máquina da organização municipal. Daí que o processo de instituição do poder local nas primeiras vilas tivesse sido visto como uma acção piloto. O autor considera que a etapa subsequente passará pela transformação de mais vilas em municípios e a realização de eleições de harmonia com o mesmo princípio. Assim, o poder local foi inicialmente estendido a 10% do território, sendo que apenas 25% dos moçambicanos obtiveram o direito de eleger os seus representantes. Em Abril de 2008, foram implementados mais 10 municípios, e, finalmente, em 15 de Maio de 2013, o Conselho de Ministros propôs ao parlamento a introdução de mais dez novos municípios: Boane (província de Maputo), Praia do Bilene (província de Gaza), Quissico (Zavala) (província de Inhambane), Nhamatanda (província de Sofala), Sussundenga (província de Manica), Nhamayábué (província de Tete), Maganja da Costa (província de Zambézia), Malema (província de Nampula), Chiure (província de Cabo Delgado) e Mandimba (província de Niassa) (EA, 2013). Esta última proposta continua assente num dos grandes princípios orientadores da política de progressiva descentralização político- administrativa de Moçambique, o gradualismo. Assim, Moçambique tem um total de 53 conselhos municipais, conforme o Quadro 2. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 26 Quadro 2: Primeiros Municípios de Moçambique (Cidades e Vilas) Província Capital Província Municípios Total: Municípios (Cidades e Vilas) Cidades1 Vilas Cabo Delgado Pemba Pemba (Iº)2 - C e Montepuez (Iº) - D Mocímboa da Praia (Iº), Mueda (IIº)3 e Chiúre (IIIº)4 5 Niassa Lichinga Lichinga (Iº)- C e Cuamba (Iº)- D Metangula (Iº), Marrupa (IIº) e Mandimba (IIIº) 5 Nampula Nampula Nampula (Iº),- B Angoche (Iº)- C, Ilha de Moçambique (Iº) - C e Nacala (Porto) - (Iº)- C Monapo (Iº), Ribáuè (IIº) e Malema (IIIº) 7 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 27 Zambézia Quelimane Quelimane (Iº)- C, Gúrué (Iº)- D e Mocuba (Iº)- D Milange (Iº), Alto Molócuè (IIº), Maganja da Costa (IIIº) 6 Manica Chimoio Chimoio (Iº)- C e Manica (Iº)- D Catandica (Iº), Gondola (IIº) e Sassundenga (IIIº) 5 Sofala Beira Beira (Iº)- B e Dondo (Iº)- D Marromeu (Iº), Gorongosa (IIº) e Nhamatanda (IIIº) 5 Tete Tete Tete (Iº)- C Moatize (Iº), Ulógué (IIº) e Nhamayábuè (IIIº) 4 Inhambane Inhambane Inhambane (Iº)- C e Maxixe (Iº)- D Vilankulo (Iº), Massinga (IIº) e Quissico (Zavala). (IIIº) 5 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 28 Gaza Xai-Xai Xai-Xai (Iº)- C, Chibuto (Iº)- D e Chókwè (Iº)- D Mandlakazi (Iº), Macia (IIº) e Praia do Bilene (IIIº) 6 Maputo Maputo Matola (Iº)- B Manhiça (Iº), Namaacha (IIº) e Boane (IIIº) 4 Cidade de Maputo Cidade de Maputo Maputo (Iº)- A 1 Total Municípios 53 Fonte: Organização dos autores 1 “Cidades são classificadas em quatro categorias de acordo com o decreto-lei n.º 14/76, reflectindo o seu tamanho, desenvolvimento e importância. A cidade de Maputo é a única cidade do nível A; Beira e Nampula são as únicas do nível B. Nível C é utilizado para as outras capitais e cidades de importância regional. Nível D implica só importância local” (Hanlon, 1997, p. 45). 2 Iº - A referência Iº significa primeiro mandato, segundo a lei 10/97, de 31 de Maio. 3IIº - A referência IIº significa segundo mandato, segundo a Lei 3/2008, de 02 de Maio. 4 IIIº - A referência IIIº significa terceiro mandato, segundo a Lei 11/2013, de 03 de Junho. Segundo o Banco Mundial (2009), esse processo de implantação gradual dos municípios subdivide-se em duas áreas, territorial e ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 29 funcional. A primeira, o gradualismo territorial, refere-se ao alargamento progressivo da governação municipal a um número crescente de cidades em todo o território nacional. A segunda área considerada é o gradualismo funcional, que reflecte o incremento na transferência de competências do Estado para as municipalidades, conforme lavrado na lei 2/97 e no decreto 33/06. As autarquias locais são providas de um órgão executivo (Presidente do Conselho Municipal) e por um órgão representativo e deliberativo (Assembleia Municipal). O Conselho Municipal é um órgão executivo, composto por vereadores designados pelo Presidente para dirigir os vários pelouros da Câmara. O Presidente do Conselho Municipal e a Assembleia Municipal são eleitos simultaneamente por sufrágio universal, directo e secreto, ambos cumprindo mandatos de cinco anos. Em termos de competências, embora estas formalmente sejam alargadas, as autarquias têm de actuar como se fossem órgãos locais do Estado, porque estão sujeitas à sua tutela administrativa e dependem financeiramente dele, já que as suas receitas são constituídas quase globalmente por transferências do poder central. Ao mesmo tempo que prossegue o processo de descentralização, tem lugar o processo de desconcentração das funções administrativas do Estado, em grande medida decalcado da estrutura administrativa colonial (ver Quadro 3). De facto, a nível da Província, todos os oficiais são apontados pelo governo central: o governador pelo governo central; o secretário pelo primeiro-ministro; e os directores provinciais pelo ministro responsável pela respectiva pasta. Quadro 3: Evolução da dimensão administrativa de Moçambique Consti tuição de Revisã o Constit Revisão Constitu cional Constitu ição de ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 30 1975 ucional de 1978 de 1986 2004 Provín cias Provínc ias Provínci as Provínci as Distrit os Distrito s Distritos Distritos Cidade s Postos Adminis trativos Postos Adminis trativos Locali dades Localid ades Localida des Localida des Povoaçõ es Zonas Urbanas : cidades e vilas Zonas urbanas: cidades e vilas Fonte: Organização dos autores No dizer dos responsáveis moçambicanos, o distrito é a base do desenvolvimento económico, nacional e cultural. A nível distrital, a estrutura é composta pelo administrador distrital, o secretário permanente distrital e os serviços distritais. O enquadramento de outros níveis administrativos inferiores ao distrito está descrito na Figura. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 31 Figura 1: Estrutura dos Órgãos Locais-Distrito, Posto Administrativo, Localidade Fonte: Organização dos autores A lei 5/2007, de 7 de Fevereiro, veio dar competências às assembleias municipais para aprovar propostas de plano e orçamento municipal a submeter ao Conselho de Ministros e fiscalizar a sua execução. Em síntese, podemos resumir o sistema administrativo local dizendo que existem actividades centrais directas, actividades desconcentradas, desenvolvidas pelas Províncias ou níveis inferiores destas, e actividades desenvolvidas pelo poder local, conforme a Figura 2. Importa, ainda, analisar as autoridades tradicionais, cujo papel foi muito tumultuoso ao longo do período colonial e depois da independência. https://cea.revues.org/docannexe/image/1879/img-1.jpg ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 32 1.4.Autoridades Tradicionais Como notou Santos (2003), o tema das Autoridades Tradicionais (AT) tem provocado um grande debate no continente africano, merecendo, por si só, uma reflexão sociológica: os temas da discussão são muitos e entre eles são de salientar os seguintes: as autoridades tradicionais enquanto poder e administração local; a regulação do acesso à terra; o direito costumeiro e a justiça tradicional; as mulheres e o poder tradicional; a feitiçaria; a medicina tradicional; a compatibilidade entre os direitos costumeiros e o direito oficial e, em especial, a constituição (p. 74). Figura 2: Administrações Locais Fonte: Organização dos autores Após a independência política de Moçambique, a Frelimo encarou os régulos e, com eles, as AT como instrumentos de opressão e exploração do povo ao serviço do colonialismo. Por isso, os régulos bem como as AT, não só foram desprezados como ainda foram odiados, perseguidos e presos (Mutaquinha, 1998). Em seu lugar, foram criados os secretários das Aldeias Comunais e https://cea.revues.org/docannexe/image/1879/img-2.jpg ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 33 dos Grupos Dinamizadores. Estas autoridades viriam a desempenhar múltiplas funções, tomando conta de muitos dos encargos anteriormente realizados pelas autoridades tradicionais, como a “gestão de questões sociais, mediação de conflitos, policiamento, administração e regulação” (Meneses, 2009, p. 26). Além da introdução de uma nova tipologia de funções e de uma nova nomenclatura na administração, Mutaquinha (1998) considera que a Frelimo ignorou, igualmente, a tradição em matéria de origem e de legitimidade do poder (p. 15). Mutaquinha reitera essa ideia, afirmando que os secretários das aldeias eram todos indivíduosfiéis da linha ideológica da Frelimo, uma opinião também seguida por outros autores. Lourenço (2007), por exemplo, destaca que as autoridades tradicionais eram tidas como contrárias à construção do “Homem Novo”. A liderança da Frelimo retratou os chefes tradicionais como oportunistas e corruptos, já que haviam lucrado com o papel de cobradores de impostos, recrutadores de mão-de-obra e agentes de polícia local na estrutura colonial portuguesa, além de terem colaborado com as Forças Armadas Portuguesas. Conforme Meneses (2009), as autoridades tradicionais foram acusadas de serem instituições obscurantistas e vestígios do passado feudal. “Subalternizadas no tempo colonial e depreciadas pela Frelimo após a independência, as autoridades tradicionais mantinham uma forte presença no tecido político pelo peso que gozavam junto das populações que administravam” (p. 30). De facto, com a criação do “Homem Novo”, as ideias voltadas para o tradicional e tudo o que fosse considerado vestígio do passado colonial constituíam matérias a destruir para dar lugar aos princípios revolucionários de um País novo fundado na ideologia da Frelimo. Esta rejeição da parte da Frelimo dos chefes tradicionais e régulos fê- los cair na dependência da Renamo, de quem constituíram uma base social de apoio. Como argumenta Meneses (2009), gradualmente, e apoiando-se fortemente nas antigas instituições de poder local, a ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 34 Renamo foi reintroduzindo os régulos como agentes do poder local nas áreas sob o seu controlo. O papel destas autoridades foi fundamental na mobilização de jovens para integrar as fileiras do exército guerrilheiro da Renamo (p. 31). Como consequência dos Acordos de Paz (1992) e do processo eleitoral de 1994, a Frelimo fez uma aproximação às Autoridades Tradicionais. De facto, embora a Constituição de 1990 fosse já portadora de um clima de abertura às lideranças tradicionais, a legislação específica só apareceu mais tarde com a Constituição de 2004. Em consequência, a lei 11/2005, de 10 de Junho, definiu o distrito como sendo o órgão territorial da organização (política, económica e social) e do funcionamento da administração local do Estado, dando ênfase aos princípios de descentralização, bem como de desburocratização e de articulação entre as várias estruturas do poder presentes no território, nomeadamente as populações locais ou comunidades e as respectivas lideranças, incluindo também as autarquias locais compreendidas no respectivo território. Meneses (2009) clarifica a questão da diversidade das autoridades locais intervenientes no cenário da administração distrital: tal diversidade levou o poder governamental a reelaborar o plano de cooperação com as autoridades comunitárias. Para a autora, esse processo alargou o debate sobre as lideranças de vários atores que se entrecruzam, como os “chefes tradicionais, os secretários de bairro ou aldeia e outros líderes legitimados pelas respectivas comunidades” (p. 32). No entanto, ela critica a posição do governo ao equiparar as AT tradicionalmente reconhecidas aos líderes religiosos, os secretários de grupos dinamizadores e outras personalidades locais, conforme definido pelo diploma ministerial 80/2004. Nesta sessão ficaram estabelecidas duas categorias dicotómicas, os chefes tradicionais e os secretários de bairro ou aldeia, aos quais se juntam outros líderes legitimados, que desempenham algum papel de carácter económico, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 35 social, religioso ou cultural aceite pelo grupo social (Meneses, 2009). A divisão entre chefes tradicionais e secretários de bairro/aldeia retoma a ideia matriz das AT de que fala Mutaquinha (1998). Para este autor, com a independência, a Frelimo ignorou a tradição em matéria de origem e de legitimidade das AT substituindo-as pelos secretários de aldeia da sua criação e, após 16 anos de guerra, recuou no sentido de corrigir o erro cometido em relação às AT. Todavia, Meneses (2009) considera antes que o “Governo Central, pretendeu de forma encapotada e engenhosa, integrar a riqueza de instituição do poder local no sistema de administração local, ao mesmo tempo que a Frelimo procura capitalizar espaço político com esta manobra” (p. 33). Como salienta a autora, esse diploma estipulou que a selecção dos líderes tradicionais se baseava nas regras das respectivas comunidades, enquanto os secretários de bairro seriam escolhidos de acordo com critérios da comunidade local ou grupo social. A aplicação do diploma nas zonas rurais resultou no reconhecimento dos antigos régulos, bem como dos respectivos adjuntos, e nalguns casos dos secretários, enquanto outros líderes apenas recentemente têm sido reconhecidos pelo Estado, apesar do seu papel como mediadores na resolução de conflitos sobre problemas da terra, disputas familiares, casos de feitiçaria e no desempenho de outras competências, entretanto lavradas no decreto-lei 11/2005 (artigo 62º) (Meneses, 2009, p. 33). Na verdade, as dificuldades do Estado moçambicano no relacionamento com as autoridades tradicionais têm semelhanças com outros processos ocorridos nas antigas colónias africanas. Numa primeira fase, os chefes tradicionais (régulos) administravam, em nome do colonizador, as zonas rurais. Numa segunda fase, a seguir à independência, foram perseguidos porque tinham colaborado com o colonizador e tornava-se necessário construir um Estado, necessariamente centralizado. A terceira fase corresponde à crise dos Estados africanos, o que abriu caminho para o recurso às autoridades tradicionais como forma de redução das despesas. Na última fase, que começa nos anos noventa, o reconhecimento das autoridades ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 36 tradicionais tem estado associado à liberalização política, descentralização e processo de democratização (Forquilha, 2008). Em Moçambique, a Renamo tinha conseguido o apoio das autoridades tradicionais, pelo que a Frelimo procurou apropriar-se deste poder de facto, estabelecendo uma relação clientelar com os líderes locais. Estes passaram a ser intermediários entre o Estado central e os cidadãos. Mas nem sempre foi uma prática pacífica, porque muitos viam nesta colaboração um perigo para a unidade do Estado (Orre, 2008), além de que não se entendia como é que a democratização com base em eleições podia harmonizar-se com a aceitação de autoridades não eleitas e legitimadas pela tradição. 1.5. Legitimidade do Poder Local em Moçambique O Quadro 5 abaixo foi elaborado com base na seguinte pergunta: “diga qual a sua opção em relação as afirmações apresentadas”. Quadro 4: Poder tradicional e poder municipal Poder Frequência (%) As AT devem conservar um poder equivalente ao do Presidente da Câmara Municipal 26 4,8 As AT devem conservar algum poder, mas o Presidente da Câmara Municipal deve ter maior autoridade 464 86,1 As AT devem apenas aparecer em cerimónias e não devem ter outro poder 39 7,2 O sistema de AT deve ser completamente abolido 10 1,9 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 37 Total 539 100 Fonte: Organização dos autores Dos 539 indivíduos que responderam ao questionário, 86,1% escolheram a afirmação: Autoridades Tradicionais (ou Régulos) devem conservar algum poder, mas o Presidente da Câmara Municipal deve ter maior autoridade. Porém, no mesmo Quadro 5, pode ver-se que existe outro grupo, 1,9% dos inquiridos, que considera que o sistema de AT deve ser completamente abolido. Desse modo, pode concluir-se que a generalidadede cidadãos inquiridos considera as AT como parte integrante do poder local. 1.6.Pluralidade Politica do Poder Local Partindo da questão do pluralismo jurídico-administrativo observado em Moçambique pediu-se aos inquiridos que escolhessem só uma das cinco afirmações a seguir indicadas em resposta à seguinte questão: “até que ponto concorda ou discorda das seguintes afirmações abaixo?” Os Grupos Dinamizadores (GD) e Autoridades Tradicionais (ou Régulos) (AT) devem trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal, bem como com autoridades distritais; Os GD devem trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal (incluindo autoridades distritais); As AT devem trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal (incluindo autoridades distritais); Os GD devem ser abolidos definitivamente; As AT devem ser abolidas definitivamente. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 38 Na análise dos resultados obtidos no Quadro 6, pode ver-se que existe um total de 85,7% de pessoas inquiridas que concorda ou concorda muito com a articulação entre AT, Grupos Dinamizadores (GD) e Câmara Municipal, bem como com as autoridades distritais. Este resultado reforça as bases que deram origem à publicação do decreto-lei n.º 80/2004, que estabelece critérios de legitimação, no caso dos líderes tradicionais, através de seleção validada mediante as regras da respectiva comunidade (art. 8º), enquanto os secretários de bairro ou aldeia deverão ser escolhidos segundo mecanismos da respectiva comunidade local ou grupo social (art. 9º) (Meneses, 2009). Quadro 5: Pluralismo Jurídico-administrativo em Moçambique: Articulação entre AT,GD CM Articulação entre AT, Grupos Dinamizadores e Conselho Municipal, bem como com autoridades distritais Frequência (%) Concordo muito 125 26,7 Concordo 276 59 Nem discordo nem concordo 43 9,2 Discordo totalmente 21 4,5 Nem quero ouvir 3 0,6 Total 468 100 Fonte: Organização dos autores O grupo de participantes que discorda ou nem quer ouvir falar dessa articulação é apenas de 5,1%. A resposta sugere, portanto, que o número de cidadãos que rejeita o papel das AT é diminuto, o que pode ser traduzido no interesse crescente ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 39 pelas autoridades tradicionais e a sua relação com o Estado, enquanto tema central ao debate político no mapa do continente africano. Em relação à articulação entre o Conselho Municipal (incluindo autoridades distritais) e os Chefes Tradicionais, o Quadro 7 mostra que 50,8% de pessoas discorda totalmente ou nem quer ouvir da questão, enquanto 23% concorda ou concorda muito com essa articulação. Estas respostas parecem mostrar que é percebido pela população um antagonismo entre as Autoridades Tradicionais e o Conselho Municipal, considerando o papel histórico das AT quer no regime colonial, quer a sua experiência no regime socialista do pós- independência. Quadro 6: Pluralismo Jurídico-administrativo em Moçambique articulação entre CM e chefes tradicionais Articulação entre CM (incluindo autoridades distritais) e Chefes Tradicionais Frequência (%) Concordo muito 18 3,9 Concordo 89 19,1 Nem discordo nem concordo 123 26,3 Discordo totalmente 233 49,9 Nem quero ouvir 4 0,9 Total 467 100 Fonte: Organização dos autores Considerando o Quadro 8, verifica-se que 39,2% dos respondentes discorda totalmente ou não quer ouvir falar da articulação entre o Conselho Municipal e Grupos Dinamizadores, enquanto 39% concorda ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 40 ou concorda muito com essa articulação. Esses resultados sugerem uma clara divisão de opiniões entre o grupo de inquiridos. Quadro 7: Pluralismo Jurídico-administrativo em Moçambique articulação entre CM e GD Articulação entre CM (incluindo autoridades distritais) e Grupos Dinamizadores Frequência (%) Concordo muito 24 5,2 Concordo 156 33,8 Nem discordo nem concordo 101 21,9 Discordo totalmente 176 38,1 Nem quero ouvir 5 1,1 Total 462 100 Fonte: Organização dos autores O Quadro 9 mostra a posição dos respondentes face à questão da abolição das Autoridades Tradicionais: 92,6% discorda totalmente ou nem quer ouvir falar da extinção das AT, enquanto 2,2% se manifesta a favor. Este resultado dá a ideia de que as populações atribuem às AT um papel central na Administração Pública. Como dissemos antes, as Autoridades Tradicionais são mediadoras e contraponto do poder central e municipal, mesmo que este tome a forma do poder municipal na sua forma originária na Europa. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 41 Quadro 8: Pluralismo Jurídico Administrativo em Moçambique abolição dos Chefes Tradicionais Abolição dos Chefes Tradicionais Frequência (%) Concordo muito 4 0,8 Concordo 7 1,4 Nem discordo nem concordo 25 5,2 Discordo totalmente 349 72,1 Nem quero ouvir 99 20,5 Total 484 100 Fonte: Organização dos autores No que diz respeito aos Grupos Dinamizadores, conforme o quadro 10, 11,88,3% das pessoas discorda totalmente ou nem quer ouvir falar da sua abolição contra apenas 4,4% que se manifestam a favor da extinção, pese embora o seu papel histórico. De facto, durante a luta armada de independência de Moçambique e, sobretudo, no pós- independência, os Grupos Dinamizadores passaram a desempenhar o papel das AT (Autoridades Tradicionais ou Régulos), identificando-se com estas por indicação da Frelimo, sem, no entanto, terem adquirido o mesmo peso das Autoridades Tradicionais. Quadro 9: Pluralismo Jurídico Administrativo em Moçambique abolição dos GD Abolição dos Grupos Dinamizadores Frequência (%) Concordo muito 10 2,1 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 42 Concordo 11 2,3 Nem discordo nem concordo 34 7,2 Discordo totalmente 327 69,7 Nem quero ouvir 87 18,6 Total 469 100 Fonte: Organização dos autores Do confronto da teoria prismática com a análise do desenvolvimento administrativo em Moçambique e com a análise dos dados empíricos, verifica-se que a cultura e a estrutura política tradicionais têm uma importância central. Desse modo, a administração local não se esgota nas leis que traduzem modelos importados, mas tem que ser lida nas práticas administrativas e no comportamento dos habitantes. A observação destas distorções ou refrações obriga, necessariamente, a um outro tipo de estudo mais em profundidade, de confronto entre o papel das autoridades administrativas formais e das autoridades tradicionais. Na nossa opinião, as práticas e as rotinas administrativas não são uma fotocópia das intenções do legislador, nem pura e simplesmente a tradução do pensamento tradicional. A análise empírica não explica completamente a teoria prismática, mas confirma que tal teoria constitui uma aproximação explicativa da formação do poder local em Moçambique. A figura do régulo representava o elo articulador entre a administração colonial e a população na localidade ou posto administrativo. Neste sentido, a figura do régulo foi, fundamentalmente, um instrumento ao serviço da administração colonial. O mesmo já não acontecia com a figura de chefe tradicional, salvo nos casos em que este assumia, coincidentemente, também as funções de régulo (Mutaquinha, 1998, p. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 43 9). Em Moçambique, chamaram-se Grupos Dinamizadores às organizações de base da sociedade, durante a luta pela independência de Moçambique. Trata-se de células criadas pelo partidode base da Frelimo, organização que assumiu o poder político após a independência. Sumário Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos fundamentalmente três itens em termos de considerações gerais á disciplina de Contabilidade Geral: 1. Evolução da Administração Pública Moçambicana; 2. Administração Local de Moçambicana e; 1.7. Exercícios de auto avaliação 1. Os portugueses chegaram a Moçambique nos finais do Sec. XV, a caminho da Índia. a) Explique as razões que ditaram a colonização em África no geral e em Moçambique em particular. b) Diga como foi implemento o processo de administração nos primeiro séculos de colonização sob o comando do Marques de pombal? 2. A criação de concelhos em Moçambique foi um processo lento. a) Explique como este processo foi realizado em Moçambique? b) Indique os anos de fundação das seguintes cidade e a razão da sua fundação Ilha de Moçambique; Cidade da Beira; Cidade de Maputo. 3. Quando é que a capital Moçambicana foi transferida da Ilha de Moçambique para a cidade de Maputo e quais foram as razoes ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 44 que ditaram esta mudança? 4. Na sequência da conferência de Berlim, o Estado Português optou por uma Administração indirecta que assentava na diferenciação entre Europeus e Africanos. a) Segundo a afirmação acima indicada, onde e quando foi realizada a conferencia de Berlim? b) Quais as principais medidas tomadas na conferencia de Berlim e quais forma as consequências para África? c) Quais eram os direitos e deveres dos Africanos e Europeus diante da Administração colonial. 5. A Lei 5/78, de 22 de Abril, vem dar um ar novo a Administração em Moçambique pós independência. Qual foi o dado novo introduzido pela referida Lei? 6. Faça uma diferenciação evolutiva entre a Constituição da República de Moçambique de 1975 e a CRM de 1990? 7. Quando forma instituídas as primeiras autarquias em Moçambique. 1.8.Resolução dos Exercícios de Autoavaliação 1 a) As razões que ditaram a colonização em África no geral e em Moçambique em particular são: A procura dos metais preciosos (ouro, prata e bronze); Marfim; Mais tarde no século XVIII o comércio de escravos. b. Durante os primeiros séculos de colonização, o território de ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 45 Moçambique integrou o Estado da Índia, com sede em Goa. No contexto das reformas iluministas do império português, o Marquês de Pombal separou a administração de Moçambique do governo da Índia, concedeu-lhe autonomia administrativa (1752) e financeira (1755) e ordenou, em 1761, a instalação de câmaras municipais nas principais povoações da colónia, elevadas a vilas na mesma altura. Desse modo, em 1763, foram criados municípios na Ilha de Moçambique e em Quelimane; no ano seguinte, no Ibo, Sena, Tete e Zumbo; e em data desconhecida, entre o final de 1763 e Maio de 1764, em Sofala e Inhambane (Rodrigues, 1998; Teixeira, 1990). 2. a) A Ilha de Moçambique, cidade em 1818, ; Cidade da Beira 1907 Maputo 1898 3. A capital moçambicana foi transferida da Ilha de Moçambique para Maputo no ano de 1898,devido ao, crescimento ligado à importância do Transval. 4. a) A conferência de Berlim foi realizada em 1884-1885, em Berlim na Alemenha. b) A administração colonial organizou campanhas de ocupação efectivas do território e reorganizou a administração da colónia. No centro e norte, o território foi arrendado a grandes companhias capitalistas, algumas das quais, a companhia de Moçambique e a companhia do Niassa, tinham poderes majestáticos não exploravam apenas economicamente o território, como asseguraram o exercício da autoridade administrativa nas áreas concessionadas. c) O Estado português optou por uma administração indirecta, que assentava na diferenciação entre europeus e nativos. Os primeiros estavam sujeitos ao direito e às instituições europeias, nomeadamente as municipais; os segundos, aos direitos costumeiros e às autoridades tradicionais, legitimadas por poder colonial. Alguns moçambicanos, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 46 uma pequena minoria, tinham emprego na economia capitalista e sabiam ler e escrever português, pelo que tinham o estatuto de “assimilados”, mas tinham uma posição inferior à dos europeus. No auge da colonização, durante o Estado Novo, acentuou-se a criação de estruturas administrativas fortemente centralizadoras em que as estruturas municipais eram uma extensão do poder central, tal como, acontecia na metrópole colonial. Na sequência da reforma administrativa ultramarina de 1933, a colónia era dirigida por um governador-geral, compondo-se de três províncias, por sua vez divididas em distritos com um administrador. A nível local, a malha administrativa, na sequência da estabelecida já em 1914, distinguia-se em concelhos municipais, nos principais centros urbanos, e em circunscrições, nas zonas rurais, em ambos os casos, administrados por autoridades nomeadas. 5. A nova legislação introduziu a uma mudança significativa na filosofia subjacente à mencionada lei 3/94, conforme o Quadro 1. Para muitos autores, houve uma clara regressão sob o ponto de vista do aprofundamento do processo democrático. As maiores críticas dirigem- se, por um lado, ao facto de a lei 2/97 se aplicar a um número restrito de cidades e vilas, e, por outro lado, não contemplar as comunidades e não promover o envolvimento das autoridades tradicionais. O Quadro 1 mostra claramente as diferenças entre as duas concepções de poder local, já que na primeira lei, a 3/94, é manifesta a importância concedida às Autoridades Tradicionais, consideradas um poder de facto. Existiriam, assim, poderes legitimados pelo voto popular e poderes tradicionais, que não são eleitos. 6. A Constituição de 1990 introduziu profundas mudanças políticas, como o pluralismo político e a existência de autonomias locais, e também económicas, nomeadamente pelo abandono do sistema de economia planificada e pela consagração da economia de mercado. O novo texto constitucional estabeleceu a separação dos órgãos do poder local, que passaram a ser dotados de personalidade jurídica própria face ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 47 ao aparelho administrativo central Na sequência das mudanças constitucionais, em Maio de 1992, o Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL), que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração local do Estado e a sua transformação em órgãos locais com personalidade jurídica própria e dotados de autonomia administrativa e financeira. Em consequência, foi aprovada a lei 3/94, de 13 de Setembro, que estabeleceu a “institucionalização dos distritos municipais e representando o primeiro instrumento normativo de descentralização” (Trindade, 2003). 7.1998 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 48 UNIDADE Temática II : 2.0. Objectivos específicos 2.1. A velha e nova Administração Local; 2.2. As Empresas Municipais e Intermunicipais; 2.3 Concessão da Exploração de Serviços Públicos; 2.4 Regulamentação, Fiscalização e Tarifas; 2.5 Relação entre o Poder Central e o Poder Local; 2.6 A Razão do Controlo; 2.7 Cidadania e o Controlo; 2.8.0. Organização da Tutela Administrativa; 2.8.1. Órgãos de Tutela; 2.8.2.Órgãos centrais; 2.9.0.O MAEFP como órgão central da tutela Administrativa; 2.9.1. A Inspecção Administrativa do Estado; 2.9.2Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa;2.9.3. Acções Correctivas; 2.9.4 O Ministério da Economia e Finanças; 2.9.5 A inspecção Geral das Finanças; 2.9.6. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento; 2.9.7 Os Meios dos órgãos de Tutela; 2.9.8 A inspecção; 2.9.9 O inquérito; 2.9.10.Sindicancia; ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 49 2.9.11 Ratificação; 2.9.12 Exercícios de Autoavaliação; 2.9.13. Resolução dos exercícios de autoavaliação Introdução Logo após a implementação da administração pública pelo Governo moçambicano, surge a necessidade de descentralização, devendo esta ser de forma gradual devido a escassez dos recursos. Sedo assim no âmbito da descentralização surge as Autarquias Locais e consequentemente a necessidade de haver algum tipo de controlo. A Lei 1/2008, de 16 de Janeiro permite ao Município criar empresas ao nível municipal. 2.0. Objectivos específicos Fazer uma retrospectiva da Administração numa perspectiva local; Explicar a natureza e a importância do controlo numa autarquia local. No final desta unidade temática o estudante deverá ser capaz de: 1. Segundo a lei 1/2008, de 16 de Janeiro, explicar o processo de instituição das empresas municipais; 2. Explicar como ocorre a relação entre o poder central e o poder local numa autarquia; 3. Definir o controlo numa autarquia local 4. Indicar o papel do cidadão no controlo de uma autarquia local; 5. Falar da tutela Administrativa e os órgãos de tutela; 6. Indicar o papel do Ministério da Administração Estatal e Função Publica como órgão central de Tutela Administrativa; 7. Indicar e explicar os meios dos órgãos de tutela. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 50 2.1. A Velha e a Nova Administração Local 2.1.1 As empresas municipais e intermunicipais Segundo a Lei 1/2008, de 16 de Janeiro, que reformula o sistema tributário autárquico e harmoniza com a Lei base do sistema tributário, Lei n15/2002, de 26 de Julho, bem como introduzir alterações com vista à observância da Lei n 9/2002, de 12 de Fevereiro, Lei que aprova o sistema de Administração Financeira do Estado, no seu artigo 38 determina: As autarquias Locais podem criar serviços autónomos ou empresas publicas autárquicas para satisfação de necessidades colectivas das respectivas populações, quando tais necessidades sejam de interesse relevante para a colectividade e/ou a gestão autónoma se mostre a solução mais eficiente. A sua aprovação é da competência é da Assembleia Municipal ou de Povoação e a criação de empresas públicas autárquicas nos termos do número anterior, mediante proposta fundamentada do competente órgão executivo, devendo tal proposta ser acompanhada das necessárias demonstrações de viabilidade nos aspectos económicos, técnico e financeiro, e instruída com poderes que a lei tornar obrigatórios. Os serviços autónomos a que a lei acima indicada é gerida em termos empresarias, por conta e risco das autarquias gozando de autonomia administrativa e financeira. 2.2. Concessão da Exploração de Serviços Públicos Segundo os números 1,2,3, do artigo 39 da Lei 1/2008, de 16 de Janeiro, a Assembleia Municipal ou de povoação pode autorizar a concessão de serviços públicos pelos ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 51 órgãos executivos das autarquias locais, desde que o interesse público se mostre devidamente assegurado A escolha do concessionário tem lugar mediante concurso público a realizar com observância da legislação em vigor. Segundo a lei, são nulas e de nenhum efeito as concessões ou qualquer outra forma de autorização para a exploração de serviços públicos. 2.3.Regulamentação, Fiscalização e Tarifa No artigo 40 da mesma lei, no número um e dois, os serviços cuja exploração seja de concessão estão sujeitos à regulamentação e à fiscalização da administração autárquica, cabendo igualmente aos órgãos executivos autárquicos aprovar a respectiva política tarifária. O Presidente do conselho municipal ou de povoação pode rescindir os contratos de concessão ou de exploração, sempre que se verifique actuação em desconformidade com as cláusulas contratuais, lesiva do interesse público, ou quando os serviços venham funcionando em condições manifestamente insatisfatórias de atendimento das necessidades dos utentes. 2.5.A Relação entre o Poder Central e o Poder Local A autarquia local como pessoa colectiva descentralizada é autónoma quanto a hierarquia do Estado. Significa isto que não há subordinação hierárquica da autarquia local em relação ao Estado- Administração. Contudo, a não subordinação hierárquica não leva as Autarquias Locais a tornarem-se independentes do poder central. Por outras palavras, como escreve (Jaime Gerente), a criação dos municípios não liberta o Estado da sua responsabilidade global ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 52 sobre o País e o funcionamento dos diversos órgãos legal e constitucionalmente existentes. Moçambique é um Estado unitário, as Autarquias Locais desenvolvem as suas actividades no quadro da unidade do Estado e organizam-se com pleno respeito da unidade e do ordenamento Jurídico nacional. Assim o número 1 do artigo 188 da Constituição refere que: o poder local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade, promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano. Do mesmo modo o número 2 do artigo19 da Lei 2/97, de 18 de Fevereiro, e pelo número 1 do artigo 3 da Lei 7/97, de 31 de Maio, que estabelece o regime jurídico da tutela Administrativa do Estado a que estão sujeitas as autarquias locais. Esta questão do controlo constitui um dos problemas centrais do processo de mudança de gestão autárquica, razão por que desperta posições, se não contraditórias, pelo menos díspar quanto ao âmbito, profundidade e implicações do processo de controlo que deve incidir sobre as autarquias locais e se entende deve ser de natureza análoga definido para Administração Pública no Geral. Como escreve Joaquim dos Santos Carvalho, não deveria haver qualquer tipo de controlo sobre os actos praticados, excepto que decorresse da acção dos particulares dos eleitores, Admitido o controlo a posteriori exercido pelo tribunal de contas em processos de fiscalização sucessivas as contas da autarquia. De outro lado, os que entendem que a reforma constitucional e a legislação entretanto produzida ao manter apenas acautela e nem garante o bom uso dos dinheiros Públicos. O princípio de autonomia das autarquias locais, num estado como Moçambique deve conciliar-se com exigências inversas que resultam de um outro princípio constitucional: o da indivisibilidade do território da República. A Lei organiza a fiscalização da actividade dos órgãos das autarquias ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 53 locais pelos agentes do Estado. Ela implanta uma tutela Administrativa. O conceito designa o conjunto de meios de controlo que o poder central dispõe sobre as autarquias locais, ou por outras palavras, consiste no conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa colectiva pública na gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou mérito da sua actuação. A tutela Administrativa apresenta-se sob a forma de um conjunto de poderes limitados atribuídos pela Lei ou em virtude dela, a uma autoridade superior, com fim de garantir o respeito do direito e de salvaguardar o interesse geral contra a inércia, o excessoe a invasão dos agentes descentralizados. Assim a tutela Administrativa tem por fim assegurar em nome da entidade tutelar, que a entidade tutelada cumpra as leis em vigor e garantir que sejam adoptadas soluções convenientes e oportunas para a prossecução do interesse Público. Por outras palavras a tutela tem por fim o respeito da legalidade e a protecção do interesse geral ou de uma forma, é deste modo que através da tutela administrativa o Estado garante que os órgãos do município realizem as suas actividades em obediência aos comandos da Constituição da Republica e demais legislação vigente no País. “e um controlo que tem uma natureza administrativa porque ela é implementada e realizada pela Administração do Estado. O controlo Administrativo de tutela incide sobre a legalidade dos actos praticados pelas autarquias locais e exerce-se, em principio ex post facto, isto é depois do facto, ou por outras palavras depois que o acto praticado ganhe força executória. Do ponto de vista teórico e prático, a figura da tutela administrativa, não pode confundir-se com a noção de controlo hierárquico. Com efeito, deve-se distingui-la do poder hierárquico pelo facto de que este tipo de poder é na sua essência o que um chefe exerce sobre os seus subordinados ( o superior Hierárquico tem a faculdade de apreciar o acto do seu subordinado segundo critérios tanto de oportunidade como de legalidade. Ele dispõe do poder de reformar ou substituir por um novo praticado pelo seu subordinado). ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 54 O poder de tutela, pelo contrário é muito diferente. Ele não estabelece um relacionamento entre um superior hierárquico e seus subordinados, mas entre o fiscal (a autoridade de controlo e os fiscalizados (os órgãos da pessoa publica sob controlo). Disto resulta que seja um poder condicionado: o controlo não se presume ele só se exerce nos caso e nas formas previstas pela Lei. O que quer dizer que a tutela Administrativa do Estado só pode limitar a autonomia das autarquias locais, nos termos estabelecidos pela Lei e não como uma competência geral, tal como a que se relaciona com o poder hierárquico. A tutela Administrativa não comporta a possibilidade de dar ordens. Por outras palavras na área de competência própria das Autarquias Locais as instruções, as injunções, as ordens dos órgãos dos Estados Administração são proibidas. Em teoria, enquanto o poder central deve deixar a iniciativa e a responsabilidade aos agentes descentralizados e censurar só os seus eventuais excessos de poder, no regime de controlo hierárquico, pelo contrário, a qualidade de superior hierárquico induz implicação direito de apreciar o acto do seu subordinado em função das exigências que estão tão ligadas tanto a oportunidade quanto a legalidade das decisões. Do mesmo modo, a tutela Administrativa não se confunde com os poderes dos órgãos de poder jurisdicional da Administração da Administração pública e com certos controlos internos da Administração tais como a sujeição, a autorização ou aprovação por órgão da mesma pessoa colectiva pública. A tutela administrativa implica prerrogativas reduzidas da parte da Administração central. A autonomia dos órgãos descentralizados é a regra, a tutela é a excepção. As disposições que estabelecem o regime jurídico dos poderes de tutela são de interpretação estrita. Os órgãos das autarquias Locais sob controlo tem a responsabilidade dos interesses deste e só são obrigados em direito pelas leis, regulamentos e princípios gerais de direito. A autoridade de controlo pode fazer respeitar estes últimos, mas não pode acrescentar, por sua ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 55 própria iniciativa prescrições complementares ou substituir-se aos órgãos da autarquia Local para suprir ou substituir-se aos órgãos da autarquia local para suprir uma omissão município fazendo o que este não fez. 2.5. A Razão do Controlo O controlo exercido pelo estado, é necessário pelo menos por três razoes: em primeiro lugar a salvaguarda da unidade política e o respeito da legalidade necessita de um controlo de Estado é a tutela que garante o respeito das Autarquias locais pelo interesse geral e que assegura a coordenação eficiente entre os diversos interesses parcelares de cada uma das comunidades com supremo interesse colectivo. De uma outra forma a figura da descentralização como solução de liberdade, favorecendo a educação política dos cidadãos, seria inútil se o poder central pudesse intrometer-se na gestão de serviços públicos descentralizados e substituir as decisões da nova colectividade, regularmente adoptadas pelos dos seus agentes. Em contrapartida se necessário for a descentralização não deve e não pode privar o Estado do direito de controlar os serviços públicos criados pelas autarquias locais. Caso contrário, pode assistir-se à diluição de toda a autoridade numa feudalidade de organismos independentes. O Estado deve manter a coerência do sistema unitário: A segunda razão baseia-se no facto de que a autarquia local poder ser vítima da má gestão dos seus representantes. O estado deve, então intervir para estabelecer uma gestão sã. Parafraseando Geoges Vedel e Pierre Delvolvé , Neusa liberdade se exerce sem riscos e o risco de uma Administração imperfeita é o preço da liberdade dos interessados em gerir eles próprios os seus assuntos. Finalmente, o controlo é do próprio interesse dos indivíduos que possam ter necessidade de protecção contra a autoridade ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 56 descentralizada. Não é o princípio de uma tutela do Estado sobre as autarquias locais que é credível; é só o seu eventual carácter discriminatório as suas diversificações de toda a natureza. O princípio da tutela Administrativa em si próprio, é perfeitamente admissível. O Controlo do Estado sobre as autarquias locais é necessário pois é o único meio de que ele dispõe para garantir o respeito do interesse geral ou de protecção dos interesses nacionais. Por outras palavras a descentralização não existe sem tutelas em descentralização. Estamos em face de duas noções indissoluvelmente ligadas porque a tutela é a tradição Jurídica da descentralização: ela aí encontra ao mesmo tempo a sua origem e seu fim. O Estudo do controlo do Estado sobre as autarquias locais necessita, em primeiro lugar de apresentar a sua organização. Antes de analisar em segundo lugar, as modalidades segundo as quais ele está implementado. 2.6.A Cidadania e o Controlo .O controlo pode ser de natureza política através daquilo que Maurice Hauriou, chamava Poder de sufrágio. Depois do fim do mandato dos titulares e membros dos órgãos das autarquias locais, o cidadão será o Juiz aquando da nova eleição da gestão dos responsáveis dos seus órgãos e poderá sancionar, politicamente, se tiver lugar, os eleitos que segundo a sua livre opinião não responderam às suas esperanças. Acontece que, durante o seu mandato, a maioria dos eleitos locais, e isto é o caso na maioria dos países democráticos, não perderam de vista que eles devem evitar frontalmente conhecer mal as suas promessas eleitorais, comprometer a autarquia local em aventuras financeiras ou por outras palavras, a presença do eleitor, o boletim de voto que ele detêm são de natureza a travar, e mesmo impedir certas iniciativas dos eleitores locais que seriam mal entendidas pela opinião que as acharia ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 57 pouco justificáveis ou onerosas em comparação com as vantagens que elas são susceptíveis deapresentar para o interesse geral. A segunda forma de controlo que o cidadão municipal pode desempenhar é o de natureza jurisdicional. As Decisões e as deliberações dos órgãos da Autarquia local constituem, na maior parte dos casos, actos administrativos unilaterais. Com efeito, todos os administrados podem impugnar contenciosamente, por meio de recurso contencioso de anulação dos actos que lhes prejudicam artigo 81. 82 da CRM. A demais, a alínea f) do número 1 do artigo106 da lei n˚ 2/97, de 18 de Fevereiro, precisa que são nulas, independentemente da declaração dos tribunais, as decisões dos órgãos autárquicos (….) que violem direitos fundamentais dos cidadãos. Além disso, quando uma pessoa, singular ou colectiva, sofre um prejuízo por causa de uma decisão legal da administração municipal, no exercício de actividades de gestão privada ou de gestão pública, ela tem o direito de indemnizar a autarquia local com vista à reparação do prejuízo sofrido. 2.7.0. Organização da Tutela Administrativa A tutela administrativa pertence ao Estado que a exerce através de órgãos de tutela, dispondo de meios específicos de intervenção e de controlo. 2.7.1. Órgão de Tutela Operar-se a uma distinção entre os órgãos centrais da tutela administrativa e as suas componentes desconcentradas. 2.7.2. Órgãos Centrais A tutela Administrativa do Estado cabe ao Governo. Ela é exercida, segundo os termos do número 1 do ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 58 artigo8 da Lei n7/97, de 31 de Maio, pelo ministro que superintende a função Pública e a Administração Local do Estado e pelo ministro que superintende a área das finanças, no domínio das respectivas áreas de competência. Assim, se a Lei atribui aos Ministros da Administração Estatal (A), por um lado, e ao do Plano e Finanças (B) por outro, a competências exercício de poderes de tutela, é preciso analisar essas atribuições em relação às administrações centrais chefiadas pelos respectivos ministros que vão fornecer os recursos humano se os meios materiais necessários ao exercício do controlo de tutela. Fica bem claro que esses departamentos ou serviços dos ministérios referidos actuam ou decidem em nome dos ministros componentes, visto que só elas tem competência, por força de lei para decidir nesta matéria da tutela administrativa. 2.7.3.O Ministério da Administração Estatal e Função Pública como Órgão Central da Tutela Administrativa Dentro das estruturas internas do Ministério da Administração Estatal(a) a Inspecção Administrativa do Estado desenvolve um papel relevante em matéria de controlo administrativo. As estruturas internas relevantes no ministério da Administração Estatal em matéria de organização territorial. O Ministério da Administração Estatal e Função Pública é o órgão central da tutela Administrativa. Como titular, entre outras atribuições da coordenação do processo da descentralização da administração local, da implementação das normas sobre a organização territorial, da promoção de diligências que concorram para o exercício da tutela administrativa, do Estado sobre as Autarquias Locais da inspecção da Administração Pública e de prosseguir e desenvolver o processo de descentralização, o Ministério da Administração Estatal e a estrutura ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 59 Governamental mais indicada para exercer a tutela Administrativa sobre as autarquias locais. Beneficiando, por um lado, de estruturas centrais especializadas directamente ligadas às áreas da organização territorial e de gestão de recursos humanos do Estado (Direcção Nacional da Administração Local, Direcção Nacional da Função Pública, Inspecção Administrativa do Estado, tendo na maioria contribuído nos estudos preparatórios do conjunto da regulamentação sobre o processo de descentralização e por outro, de representações provinciais através das Direcções Provinciais de Apoio e Controlo (SP), este Ministério era o mais indicado para garantir, a título principal o controlo do Estado sobre as Autarquias Locais. Dentro do conjunto das estruturas internas do Ministério da Administração Estatal, interessadas nas actividades de controlo, a Inspecção Administrativa do Estado desempenha um papel especialmente importante. 2.7.4. Inspecção Administrativa do Estado A inspecção Administrativa do Estado, faz parte integrante da Estrutura do Ministério da Administração Estatal. Ela é dirigida por um inspector-geral, nomeado pelo Ministério da Administração Estatal. Estrutura Orgânica da Inspecção Administrativa do Estado é constituída por um corpo de inspectores Administrativos nomeados pelo Ministro da Administração Estatal, sob proposta do Inspector-geral, e de uma Secretária. De uma maneira geral, a inspecção administrativa do Estado tem por funções: Verificar o cumprimento e aplicação das normas procedimentos administrativos nas instituições centrais e locais do Estado ou sub tutela do Ministério da Administração Estatal; ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 60 Fiscalizar a aplicação das normas sobre a estrutura, organização, recursos humanos e documentação do aparelho do Estado; Verificar o funcionamento dos serviços Administrativos; Exercer acções inspectivas específicas por determinação superior; Denunciar junto do Ministério Público as ilegalidades detectadas no exercício da sua actividade. Especialmente como um órgão de apoio no âmbito do exercício da tutela Administrativa, a inspecção Administrativa é encarregue de: Fiscalização dos procedimentos Administrativos em municípios; Realizar inquéritos e sindicâncias nos órgãos, Municipais; Prestar orientações aos órgãos municipais uniformizando a interpretação e aplicação da Lei; Prestar informação ao Governo sobre a Administração Local; Proceder à instrução de Processos de inquéritos e sindicância nos órgãos do aparelho municipal; Controlar o funcionamento legal das instituições dos Municípios. Assim, a actividade da inspecção Administrativa do Estado tem principalmente por objectivos aspectos jurídicos administrativos e disciplinares da acção da administração das Autarquias Locais. Não se deve ter uma aproximação ou uma abordagem apenas repressiva da actuação da inspecção Administrativa do Estado como escreve o inspector-geral da Administração do Estado, a relação que deve existir entre os órgãos (das autarquias locais) e a inspecção Administrativa do Estado deve ser de complementaridade de tal modo que haja transparência na governação o que reforçará a unidade nacional, o aprofundamento da democracia, a reconciliação da família Moçambicana e a estabilização política economia do País. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 61 Assim, é mais na direcção de uma frutuosa colaboração entre os órgãos das Autarquias Locais e os agentes da inspecção Administrativa do Estado que devem caminhar as suas futuras relações, sobretudo no inicio da implementação do processo de autacização. Neste sentido a alínea e) do artigo 6 do Diploma ministerial no 141/94, de 30 de Novembro, tem um conteúdo que permite instaurar este tipo de relações. Com efeito, conforme esta disposição regulamentar, uma das funções da inspecção administrativa é a de emitir recomendações e propor aos níveis de decisão competente as acções correctivas. Estas disposições poderiam permitir à inspecção Administrativa implementar pelo menos, dois tipos de acções. A primeira situa-se num plano geral e pode apresentar-se antes da acção de inspeccionar propriamente dita; a segunda é concomitantecom acção de inspecção. 2.7.5. Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa Podem distinguir-se dois domínios nos quais a Inspecção Administrativa do estado pode desenvolver a sua função pedagógica. Em primeiro lugar, a pedagogia da inspecção administrativa do Estado poderia consistir num trabalho de explicação o e de informação do direito vigente. Sabemos todos que o pacote legislativo relacionado com as Autarquias Locais é um corpus Luris complexo que necessita de comentários e interpretações que muitas vezes algumas irregularidades cometidas tem as suas raízes não na má-fé do agente que praticou o acto suspeito de irregularidades, mas em razão do não ou mau conhecimento da legislação vigente. A Inspecção Administrativa poderia, sob a forma de recomendações não vinculativas, ou outras formas de documentos informativos, trazer ao conhecimento dos órgãos das autarquias locais uma determinada informação sobre a aplicação ou a interpretação das disposições legislativas ou regulamentares que podem suscitar dúvidas ou interrogações do lado dos órgãos das ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 62 Autarquias Locais. Neste sentido, devemos acrescentar que este verdadeiro dever de informação deve estender-se à divulgação das decisões jurisdicionais dos tribunais em relação aos assuntos locais. A Divulgação dos acórdãos do tribunal Administrativo de Moçambique relativos á interpretação das disposições legislativas ou regulamentares vigentes, por exemplo, poderiam ser muito úteis às partes interessadas, seja para a Administração pública do Estado ou seja para Administração das Autarquias Locais. A segunda acção pedagógica da parte da inspecção Administrativa do Estado , que poderia ser implementada soba forma de recomendações não vinculativas ou outras formas de documentos informativos , consistiria em aproveitar a sua própria experiencia no seu trabalho concreto de inspecção, junto das autarquias locais , para informar os órgãos das Autarquias Locais de situações ilegais que foram observados e dos meios mais adequados para as corrigir . Assim a inspecção poderia jogar um papel de prevenção de situações potencial ou virtualmente ilegais. 2.7.6. Acções Correctivas O resultado de uma acção de inspecção pode revelar situações não conforme ao direito vigente. As irregularidades detectadas, de uma forma geral, não serão todas da gravidade que necessita de uma denúncia junto do Ministério Público, dos elementos constitutivos de ilícito criminal, nos termos da alínea h) do artigo 6 do diploma ministerial n14/94, de 30 de Novembro alínea b) do Artigo 3 do Decreto n 51/95, de 14 de Novembro. Na maior parte dos casos, as irregularidades praticadas serão susceptíveis de ser corrigidas e sanadas. Nestes casos, a pedagogia que se exprime através dos erros cometidos e dos meios a empregar para restabelecer uma situação ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 63 conforme à legalidade, encontra-se nas acções correctivas que visam concretamente, tornar o acto praticado conforme ao direito vigente. Como estabelece a alínea e) do Artigo 6 do diploma ministerial no 14/94, de 30 de Novembro são funções da inspecção Administrativa. Emitir recomendações e propor aos níveis de decisão competente as acções correctivas. De modo geral, como escreve Carlos Lwanga Sabonete, a Inspecção Administrativa do Estado caso detecte algo anormal no processo de inspecção, inquérito ou sindicância informará aos agentes responsáveis por centros de decisão superiores sobre irregularidades e inobservância de normas administrativas a fim de proporcionar a revisão correctiva dos actos administrativos ilegais sem prejuízo de exercer as competências que lhe são próprias. A resultante deste conjunto de acções é a Inspecção Administrativa deveria assumir, no futuro, um papel importante na elaboração e reformulação da legislação no domínio do desenvolvimento da Administração Pública Municipal. No que concerne às relações com outras inspecções e mais particularmente, a inspecção-geral de finanças, o princípio é de que os inspectores Administrativos do Estado estabelecerão uma cooperação, sempre que isso se mostre conveniente a prossecução dos objectivos comuns. Os corpos de inspecção em geral e a inspecção Administrativa do Estado em particular, deveriam constituir um dos melhores reflexos da evolução das relações do Estado com as autarquias locais e um agente essencial da sua modernização. Além do controlo exercido, a inspecção Administrativa do Estado poderia actuar como assessor estratégico do Ministro da Administração Estatal nesta matéria, avaliar as políticas sectoriais implementadas e propor medidas de racionalização, de cooperação, de eficácia e o seu melhoramento. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 64 2.7.7. Ministério da Economia Plano e Finanças O controlo dos actos relativos à gestão financeira das Autarquias Locais é atribuído ao Ministro da Economia Plano e Finanças como, garante da correcta utilização dos fundos pelas entidades públicas, da execução, controlo e contabilização dos meios financeiros do orçamento do Estado e da inspecção e controlo da utilização dos fundos do Estado. Ele exerce este controlo financeiro externo, mas particularmente através da inspecção-geral de finanças. Trata-se de uma fiscalização realizada por um organismo externo independentemente da entidade fiscalizada. O exercício da tutela Administrativa não abrange unicamente acções de fiscalização. Ela compreende também ratificações. A direcção Nacional do Plano e Orçamento está encarregue da instrução dos processos das ratificações no que diz respeito aos actos financeiros da Autarquias Locais sujeitos à ratificação. Além dessas estruturas, é preciso realçar as atribuições das Direcções Provinciais da Economia e Finanças, nomeadamente a função de acompanhar o surgimento e funcionamento das autarquias em função de regulamentação própria e instrução superior, quer em apoio metodológico quer em interacção profunda incluindo a alocação de bens materiais e recursos humanos indispensáveis ao fortalecimento do processo de autarcisação. 2.7.8. A Inspecção Geral das Finanças A inspecção-geral das finanças foi criada em 1990 pelo diploma ministerial n 29/90, de 21 de Março como um serviço no Ministério das Finanças e confere ao Inspector-Geral de Finanças a autoridade para proceder à auditoria e inspeccionar os Ministérios do Governo de Moçambique, empresas estatais, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 65 serviços Públicos, Governos Locais, empresas privadas em que o Governo de Moçambique possui a participação em 20% ou mais, empresas privadas que tenham recebido empréstimo do Governo Moçambicano e embaixadas Moçambicanas no estrangeiro. A alínea h) do diploma Ministerial n2/97, de 1de Janeiro, consagra a Inspecção-geral de finanças como órgão central do Ministério do Plano e finanças e funciona na directa dependência do respectivo Ministro. O seu estatuto orgânico foi aprovado pelo Decreto n 40/99, de 29 de Junho. A inspecção-geral das finanças é dirigida por um inspector-geral e um inspector-geral Adjunto são nomeados pelo despacho do ministro das finanças. A nível regional funcionam as delações regionais da inspecção das finanças, cujo objectivo, funções e forma de organização são definidos no diploma ministerial n 57/2000, de 21 de Junho. A inspecção-geral das finanças é estruturada a nível central, em departamentos e repartições. Dentro do conjunto dessas estruturas é preciso realçar a existência do departamentode inspecção às autarquias (DIA). O diploma ministerial n 2/97, de 1 de Janeiro revoga o diploma Ministerial n 2/90, de 21 de Março e Precisa as funções da inspecção- geral de finanças. Mas particularmente, no que concerne ao controlo financeiro externo das Autarquias Locais, a inspecção-geral de finanças poderá: Realizar inspecções e exames às escritas) Autarquias Locais; Proceder a inquéritos que por virtude do decurso das inspecções se mostrem necessários; Proceder a inquéritos e sindicâncias. Levantar e instruir autos de transgressão, quando no decurso ou em resultado em resultado de inspecções inquéritos, sindicâncias detectem infracções às leis fiscais. Pertencer-lhe-á o controlo da gestão financeira e patrimonial através de inspecções ou de auditorias financeiras e desempenho não só dos ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 66 cofres, das contas e dos serviços financeiros das Autarquias Locais, mas também das suas unidades dependentes. Nesta perspectiva, pode-se pensar especialmente no controlo financeiro dos serviços autonomizados ou das empresas municipais. No que concerne à planificação do controlo, o numero 2 do artigo 80 da lei n 11/97, de 31, de 31 de Maio, prevê que as Autarquias com categoria de município devem ser inspeccionadas ordinariamente pelo menos duas vezes no período de cada mandato dos respectivos órgãos. 2.7.9. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento A Direcção Nacional do Plano e Orçamento do Ministério do Plano e Finanças constitui um órgão central. As suas funções constam do artigo 13 do diplomam Ministerial n 2/97, de 31 de Janeiro. Todavia, o artigo referido não estabelece nenhuma função específica em relação ao processo de ratificação dos actos autárquicos sujeitos à ratificação. Na altura da aprovação do Estatuto Orgânico do Ministério do Plano e Fianças ( 1 de Janeiro de 1997, Lei n 2/97, de 18 de Fevereiro não estava, por definição aprovado o referido diploma ministerial não podia consagrar funções ou relação a colectividades que ainda não existiam formalmente. De facto, esta função foi atribuída repartição do Orçamento Provincial do Departamento do Orçamento desta direcção cujo serviço é o encarregado da instrução do processo dos actos sujeitos a esta modalidade de controlo. 2.8.0. Meios dos Órgãos de Tutela O exercício da tutela Administrativa carece da criação de meios destinados a garantir a efectividade do controlo da legalidade dos actos das Autarquias Locais. Estes meios ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 67 estão expressamente definidos pelo número 1 do Artigo 4 da lei n0 7/97, de 31 de Maio. Trata-se da Inspecção, do Inquérito, da Sindicância e da Ratificação. O conjunto destas Técnicas estão especificadas nos artigos 5,6 e 7 da Lei n0 7/97, de 31 Maio. Estes meios representam um conjunto de técnicas e procedimentos com vista a concretizar dois fins ou a realizar dois objectivos: a verificação da legalidade dos actos Administrativos das Autarquias Locais e a verificação do mérito dos actos administrativos nos casos e nos termos expressamente previstos na Lei. Nesta perspectiva, só trataremos, nos desenvolvimentos a seguir das estruturas das modalidades de controlo. A Inspecção, o inquérito, a sindicância e a ratificação . o fundo e o conteúdo da versificação da legalidade serão abordados desenvolvimentos ulteriores. 2.8.1. A Inspecção O número 2 do artigo 5 da Lei n 4 /97, de 31 de Maio define a inspecção como o conjunto de operações que consistem na verificação da conformidade, com a Lei dos actos administrativos praticados e dos contratos celebrados pelos órgãos e serviços das Autarquias Locais. O conteúdo deste dispositivo legislativo permite distinguir estritamente esta noção daquela que consta dos artigos 8 e 9 do Decreto n 42:082/58, de Dezembro, que consagram um conceito muito mais abrangente de acções inspectivas. De forma geral, no processo de trabalho de inspecção, os inspectores devem verificar, analisar e tecer observações no que diz respeito, ao cumprimento e aplicação das normas e procedimentos Administrativo, à observância de normas sobre prestação de serviços públicos. As acções inspectivas enquadram-se num plano anual de actividades ou de trabalho (Inspecção Ordinária) ou mandatada superiormente para casos ou objectivos especificamente determinados (inspecção extraordinária). ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 68 2.8.2. O Inquérito O número 3 do Artigo 5 da Lei 7/97, de 31 de Maio no que concerne à definição do inquérito precisa: o Inquérito consiste na averiguação da legalidade dos actos administrativos dos órgãos e serviços das Autarquias Locais em virtude de denúncia fundada ou ainda, quando resulte de informações e recomendações de uma inspecção anterior. O objectivo do controlo no inquérito permanece idêntico ao da inspecção. Nos dois casos trata-se de verificar a conformidade de actos e contratos administrativos em relação de um modo geral, à Lei. O que distingue o inquérito da inspecção é o sujeito da iniciativa do processo de controlo. A inspecção pressupõe já uma planificação prévia das acções inspectivas, o que quer dizer que a iniciativa pertence exclusivamente à Administração Pública. No caso do inquérito a iniciativa é mista. Por um lado, a iniciativa do controlo tem as suas raízes nas informações e recomendações de uma inspecção anterior, o que deixa oportunidade da iniciativa do controlo à Administração Pública, mas por outro, o controlo pode ter os seus fundamentos numa denúncia fundada o que quer dizer que é uma entidade (outros órgãos da Administração ou particulares) que se situa fora da inspecção que está na origem do desencadeamento do processo de controlo. A Lei não prevê expressamente os pormenores da tramitação processual do inquérito. Todavia, como o fim é idêntico ao da inspecção, não há motivo para ter uma abordagem diferente desta. 2.8.3. Sindicância A sindicância consiste, segundo as disposições do número 4 do artigo 5 da Lei7/97, de 31 de Maio na indagação profunda e global da actividade dos órgãos e serviços da Autarquia Local, quando existam indícios de ilegalidade que pelo seu volume ou gravidade, não passam ser averiguados no âmbito de mero ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 69 inquérito. Por outras palavras, trata-se de averiguação geral acerca do funcionamento dos serviços. O processo de sindicância pode regular-se, em primeiro lugar, pelas orientações gerais relacionadas com as acções inspectivas e, em segundo lugar, pelo dispositivo do Artigo215 do EGFAE, como direito subsidiário com as necessárias adaptações. Diogo Freitas do Amaral, citado pelo Giles Cistac, resumiu perfeitamente conteúdo próprio a cada um destes métodos de controlo: Inspeccionar significa examinar as contas e documentos de um organismo, a fim de verificar-se tudo se encontra de acordo com as leis aplicáveis. Se suspeita da existência de uma situação geral de ilegalidades numerosas e imputáveis a várias pessoas, procede-se uma sindicância; pelo contrário, se pretende fazer apenas uma inspecção de rotina, ou verificar da legalidade de certo acto ou de comportamento de um dado individuo, procede-se a um inquérito. Assim a diferença destes dois reside por lado, e na pessoa titular da iniciativa do desencadeamento do processo de controlo, por outro diferente na sua concepção é a ratificação. 2.8.4. Ratificação Do Latim medieval ratificação, composto de ratum (confirmado) e facere (fazer), entende-se a aprovação ou confirmação de acto jurídicopraticado por outrem. A ratificação consiste na aprovação, pelos órgãos de tutela, a que ficam sujeitos certos actos administrativos dos órgãos de tutela, a que ficam sujeitos certos actos administrativos dos órgãos das Autarquias Locais, para se tornarem exequíveis. Assim, a ratificação entende-se por acto jurídico já praticado, isto é existente. Nos termos do número 2 do artigo 6 da Lei n 7/97, de 31 de Maio, carecem de ratificação do órgão tutelar os actos administrativos dos órgãos autárquicos expressamente indicados na Lei, bem como os que tenham por objectivo: ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 70 Aprovar o plano de desenvolvimento da Autarquia Local; Aprovar o orçamento; Aprovar o plano de ordenamento do território; Aprovar o quadro de pessoal; Aprovar a contracção de empréstimos de amortização plurianual. Independentemente destas técnicas de controlo, os órgãos de tutela administrativa do Estado podem solicitar informações e esclarecimentos sobre decisões administrativas dos órgãos e serviços das Autarquias Locais. O artigo 13 da lei n 7/97, de 31 de Maio prevê uma sanção radical contra os órgãos colegiais da Autarquia Local que se obstem à realização de inspecção, inquérito ou sindicância, quando se recusem a prestar informações e esclarecimentos aos agentes da inspecção ou facultar-lhes o exame aos serviços e a consulta de documentos. É a dissolução do órgão recalcitrante. Por detrás da qualidade das técnicas de controlo implementadas é preciso ter em vista que o objectivo a atingir é o bom funcionamento do processo de controlo da legalidade, para realizar este fim. Como escreve Ancha Elisa Carneiro, é importante o estabelecimento de um sistema de recolha e análise de informações e esclarecimentos, com vista à verificação atempada da legalidade dos actos autárquicos. O que só será possível com base num clima de confiança mútua entre as partes envolvidas, capacitação e fortalecimento institucional das mesmas. Já insistimos atrás, nos desenvolvimentos relativos a apresentação da Inspecção Administrativa do Estado sobre necessidade de instaurar um bom relacionamento entre as entidades controladas e a autoridade de controlo. O sucesso deste processo encotra-se na criação de um ambiente de confiança mútua entre os interessados. Em estrita colaboração, como parceiros que partilham um objectivo comum que é ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 71 o cumprimento da legalidade. Sumário Nesta Unidade temática 2 estudamos e discutimos fundamentalmente três itens em termos de considerações gerais á disciplina de Contabilidade Geral: 1. Empresas Municipais e intermunicipais 2. Autarquia Local 3. Tutela Administrativa, Controlo 2.8.5. Exercícios de autoavaliação 1. Por tuas próprias palavras, defina os seguintes conceitos: a) Tutela Administrativa; b) Hierarquia. 2. A não subordinação hierárquica da autarquia Local em relação ao Estado não leva as autarquias a tornarem-se independentes do poder central. a) Como é efectuado o controlo das autarquias locais pelo poder central? 3. Quais são os problemas despoletados pela questão de controlo na autarquia local ? 4. Quais as reais razões da realização do controlo a uma autarquia loca pelo Governo central? 5. A quem cabe realizar a tutela Administrativa a uma autarquia local? 6. Dentro da estrutura interna do MAEFP (Ministério da Administração Estatal e Função Pública), a inspecção administrativa do Estado desenvolve ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 72 um papel relevante em matéria de controlo administrativo. a) Explique qual é o papel da inspecção Administrativa na realização do controlo? b) Explique em que consiste a acção pedagógica da inspecção Administrativa. c) Qual é o papel da DNPO (Direcção Nacional do Plano e Orçamento? 2.8.6 Resolução dos Exercícios de autoavaliação 1c) o termo hierarquia significa a existência de escalões de responsabilidade, saindo do mais novo ao mais velho. 1. A Lei organiza a fiscalização da actividade dos órgãos das autarquias locais pelos agentes do Estado. Ela implanta uma tutela Administrativa. O conceito designa o conjunto de meios de controlo que o poder central dispõe sobre as autarquias locais, ou por outras palavras, consiste no conjunto de poderes de intervenção de uma pessoa colectiva pública na gestão de outra pessoa colectiva, a fim de assegurar a legalidade ou mérito da sua actuação. A tutela Administrativa apresenta-se sob a forma de um conjunto de poderes limitados atribuídos pela Lei ou em virtude dela, a uma autoridade superior, com fim de garantir o respeito do direito e de salvaguardar o interesse geral contra a inércia, o excesso e a invasão dos agentes descentralizados. Assim a tutela Administrativa tem por fim assegurar em nome da entidade tutelar, que a entidade tutelada cumpra as leis em vigor e garantir que sejam adoptadas soluções convenientes e oportunas para a prossecução do interesse Público. Por outras palavras a tutela tem por fim o respeito da legalidade e a protecção do interesse geral ou de uma forma, é deste modo que através da tutela administrativa o Estado garante que os órgãos do município realizem as suas actividades em obediência aos comandos da Constituição da Republica e demais legislação vigente no País. “e um controlo que tem uma natureza administrativa porque ela é ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 73 implementada e realizada pela Administração do Estado. O controlo Administrativo de tutela incide sobre a legalidade dos actos praticados pelas autarquias locais e exerce-se, em principio ex post facto, isto é depois do facto, ou por outras palavras depois que o acto praticado ganhe força executória. 2 a) Moçambique é um Estado unitário, as Autarquias Locais desenvolvem as suas actividades no quadro da unidade do Estado e organizam-se com pleno respeito da unidade e do ordenamento Jurídico nacional. Assim o número 1 do artigo 188 da Constituição refere que: o poder local tem como objectivos organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade, promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano. Do mesmo modo o número 2 do artigo19 da Lei 2/97, de 18 de Fevereiro, e pelo número 1 do artigo 3 da Lei 7/97, de 31 de Maio, que estabelece o regime jurídico da tutela Administrativa do Estado a que estão sujeitas as autarquias locais. 3. Esta questão do controlo constitui um dos problemas centrais do processo de mudança de gestão autárquica, razão por que desperta posições, se não contraditórias, pelo menos díspar quanto ao âmbito, profundidade e implicações do processo de controlo que deve incidir sobre as autarquias locais e se entende deve ser de natureza análoga definido para Administração Pública no Geral. Como escreve Joaquim dos Santos Carvalho, não deveria haver qualquer tipo de controlo sobre os actos praticados, excepto que decorresse da acção dos particulares dos eleitores, Admitido o controlo a posteriori exercido pelo tribunal de contas em processos de fiscalização sucessivas as contas da autarquia. De outro lado, os que entendem que a reforma constitucional e a legislação entretanto produzida ao manter apenas acautela e nem garante o bom uso dos dinheiros Públicos. O princípio de autonomia das autarquias locais, num estado como Moçambique deve conciliar-se com exigências inversas que resultam de um outro princípio constitucional: o ISCEDCURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 74 da indivisibilidade do território da República 4. O controlo exercido pelo estado, é necessário pelo menos por três razoes: em primeiro lugar a salvaguarda da unidade política e o respeito da legalidade necessita de um controlo de Estado é a tutela que garante o respeito das Autarquias locais pelo interesse geral e que assegura a coordenação eficiente entre os diversos interesses parcelares de cada uma das comunidades com supremo interesse colectivo. O princípio da tutela Administrativa em si próprio, é perfeitamente admissível. O Controlo do Estado sobre as autarquias locais é necessário pois é o único meio de que ele dispõe para garantir o respeito do interesse geral ou de protecção dos interesses nacionais. Por outras palavras a descentralização não existe sem tutelas em descentralização. Estamos em face de duas noções indissoluvelmente ligadas porque a tutela é a tradição Jurídica da descentralização: ela aí encontra ao mesmo tempo a sua origem e seu fim. 5. A tutela administrativa a uma Autarquia local cabe ao Ministério da Administração Estatal e Função Pública. 6 a) A inspecção Administrativa do Estado, faz parte integrante da Estrutura do Ministério da Administração Estatal. Ela é dirigida por um inspector-geral, nomeado pelo Ministério da Administração Estatal. Estrutura Orgânica da Inspecção Administrativa do Estado é constituída por um corpo de inspectores Administrativos nomeados pelo Ministro da Administração Estatal, sob proposta do Inspector-geral, e de uma Secretária. De uma maneira geral, a inspecção administrativa do Estado tem por funções: Verificar o cumprimento e aplicação das normas procedimentos administrativos nas instituições centrais e locais do Estado ou sub tutela do Ministério da Administração Estatal; Fiscalizar a aplicação das normas sobre a estrutura, organização, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 75 recursos humanos e documentação do aparelho do Estado; Verificar o funcionamento dos serviços Administrativos; Exercer acções inspectivas específicas por determinação superior; Denunciar junto do Ministério Público as ilegalidades detectadas no exercício da sua actividade. b) Podem distinguir-se dois domínios nos quais a Inspecção Administrativa do estado pode desenvolver a sua função pedagógica. Em primeiro lugar, a pedagogia da inspecção administrativa do Estado poderia consistir num trabalho de explicação o e de informação do direito vigente. Sabemos todos que o pacote legislativo relacionado com as Autarquias Locais é um corpus Luris complexo que necessita de comentários e interpretações que muitas vezes algumas irregularidades cometidas tem as suas raízes não na má-fé do agente que praticou o acto suspeito de irregularidades, mas em razão do não ou mau conhecimento da legislação vigente. A Inspecção Administrativa poderia, sob a forma de recomendações não vinculativas, ou outras formas de documentos informativos, trazer ao conhecimento dos órgãos das autarquias locais uma determinada informação sobre a aplicação ou a interpretação das disposições legislativas ou regulamentares que podem suscitar dúvidas ou interrogações do lado dos órgãos das Autarquias Locais. c) A Direcção Nacional do Plano e Orçamento do Ministério do Plano e Finanças constitui um órgão central. As suas funções constam do artigo 13 do diplomam Ministerial n 2/97, de 31 de Janeiro. Todavia, o artigo referido não estabelece nenhuma função específica em relação ao processo de ratificação dos actos autárquicos sujeitos à ratificação. Na altura da aprovação do Estatuto Orgânico do Ministério do Plano e Fianças ( 1 de Janeiro de 1997, Lei n 2/97, de 18 de Fevereiro não estava, por definição aprovado o referido diploma ministerial não podia ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 76 consagrar funções ou relação a colectividades que ainda não existiam formalmente. De facto, esta função foi atribuída repartição do Orçamento Provincial do Departamento do Orçamento desta direcção cujo serviço é o encarregado da instrução do processo dos actos sujeitos a esta modalidade de controlo. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 77 UNIDADE Temática III; Introdução; 3.0.Objectivos específicos; 3.1.Novos Instrumentos de gestão; 3.2 Operacionalização do conceito de descentralização; 3.3 Enquadramento Histórico politico; 3.4 O Conceito de Descentralização; 3.5Formas de Descentralização; 3.6.0 Enquadramento legislativo da lei 3/94 das Eleições Autárquicas de Junho de 1998; 3.6.1. Reformas Administrativas; 3.6.2. Opções de descentralização para Moçambique; 3.6.3. uma primeira análise crítica do processo de descentralização e desconcentração; 3.7.0. As Autarquias Locais; 3.7.1. O Concelho; 3.7.2. Classificação dos Municípios; 3.7.3. Atribuições Municipais; 3.7.4. “órgão da Administração municipal; 3.8.0 Serviços Especiais; 3.8.1.os Serviços Municipalizados; 3.8.2 Regime financeiro das Autarquias locais; 3.9.0. As agências doadoras multilaterais e bilaterais; ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 78 3.9.1. Participação: Autarquia Parceira (Cooperação lusófona); 3.9.2 áreas de cooperação; 3.9.3. Formação de quadros; 3.9.4 Cultura e património histórico; 3.9.5 Infra-estrutura, saneamento básico, urbanismo e ambiente; Geminações Portugal Moçambique; 3.10.0 Protocolos entre ICP e a ANMP; 3.10.1 Na área de educação e formação de quadros; 3.10.2. Na área de infra-estruturas, saneamento básico, urbanismo e ambiente; 3.11.0. Outras instituições; 3.11.1. Análise da CIM com Moçambique; 3.11.2. Operacionalização da CIM; 3.11.3. Conteúdo da CIM; 3.11.4. Formas da CIM; 3.11.5. CIM nas Relações Internacionais; 3.11.6. Potencialidades e limitações da CIM; 3.11.7 O Desenvolvimento Local- As novas autoridades; 3.11.8 Exercícios de Autoavaliação; 3.11.9 Resolução dos Exercícios de Autoavaliação ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 79 Introdução Devido as semelhanças climáticas, culturais entre outros, as Autarquias Locais abrem um novo campo de acção denominado cooperação intermunicipal. O surgimento das autarquias locais, suas características e funcionamento. 3.0. Objectivos específicos Explicar o processo da descentralização; Analisar o surgimento das primeiras autarquias locais; Analisar a cooperação intermunicipal (Geminações). No final desta unidade temática cada estudante deverá ser capaz de 1. Diferenciar a descentralização da desconcentração; 2. Explicar os processos que levaram Moçambique a adoptar o modelo de descentralização; 3. Explicar o processo das reformas Administrativas; 4. Explicar o âmbito do surgimento das Autarquias Locais; 5. Analisar a Cooperação Intermunicipal (CIM); 3.1.0. Novos Instrumentos de Gestão 3.1.1. Operacionalização do conceito de descentralização O termo descentralização tem sido aplicado a vários tipos de iniciativas. Por vezes o conceito refere-se à privatização, ou seja à transferência de tarefas antes desempenhadas formalmente pelo Estado para o sector privado. Na medida em que se agrega tanto a descentralização (o poder passa do Governo central para as empresas ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 80 privadas) e a democratização (alarga) a escolha dosclientes), muitos autores defendem este tipo de descentralização. Todavia, há que considerar que muitas vezes as empresas, dada a sua grandeza, mais não fazem do que assumir esse poder não ocorrendo assim qualquer tipo de descentralização. Actualmente, este fenómeno é muito comum dada a mundialização das empresas que se substituem, muitas vezes nos Países em desenvolvimento, ao próprio Estado. Em segundo lugar, o termo descentralização é muitas vezes relacionado com descentralização, no sentido em que há uma dispersão dos agentes do Governo central pelos níveis mais baixos. Se na verdade, a desconcentração é feita pelas autoridades máximas democraticamente eleitas, tal facto ganha relevância na discussão de uma governação democrática. Mas, normalmente, este processo é conduzido por Governos que não são eleitos democraticamente, pelo que esta pratica muitas vezes é utilizada como forma de permitir uma maior penetração e controlo nos níveis mais baixos e na sociedade civil. Em terceiro lugar, a descentralização por vezes refere-se a transferências fiscais, em que o nível mais elevado num sistema cede o controlo orçamental e o poder de decidir financeiramente aos níveis hierarquicamente mais baixos. Por último, a descentralização está ligada ao conceito de delegação, ou seja, a transferência de recursos, tarefas, poder de decisão para as autoridades hierarquicamente inferiores, que são ou independentes do Governo central, ou democraticamente eleitas. Deste modo, a “delegação”, encarada como uma descentralização democrática será o conceito que irá ser utilizado neste estudo, pelo que sem recorrer a conceitos do direito civil e administrativo, a descentralização pode ser definida como a Organização das actividades da administração central fora do Governo central, podendo ser através de: Medidas administrativas (e fiscais) que permitam a transferência de responsabilidades e recursos para agentes criados pelos órgãos da administração central; ou ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 81 Medidas políticas que permitam a atribuição, pelo Governo central, de poderes e responsabilidades e recursos específicos para autoridades locais. Alguns autores consideram que a descentralização ideal é um misto de descentralização administrativa, fiscal e política. 3.2. Enquadramento Histórico Politico Desde os anos de 1980 que Moçambique está a conhecer rápidas e significativas mudanças económicas, politicas e administrativas. As origens dos actuais problemas políticos e administrativos remontam ao período colonial e do pos- independência, em 1975. Moçambique herdou um conjunto de práticas administrativas colónias que não eram as adequadas para um País africano recém- independente. A partida funcionários civis e técnicos de origem portuguesa, pos a independência, dificultou a necessária transformação da administração colonial, que não procurou responder às necessidades de educação e formação da população local para actividades administrativas e técnicas. Sob a liderança do antigo movimento de libertação de Moçambique, FRELIMO, Moçambique independente tornou-se num Estado Socialista de partido único, baseado nos princípios do centralismo democrático. Num sistema político e administrativo muito hierarquizado, as regiões careciam de autonomia de recurso e quadros para administrar as suas respectivas áreas. O terceiro congresso da FRELIMO em 1977, declarou a sua intenção de avançar com a descentralização administrativa do Estado e com a criação de postos provinciais, distritais e administrativos baseados no poder popular. Apesar destas declarações, o poder de decisão cabia em ultima instancia ao partido e as funções dos seus órgãos regionais, distritais, locais nunca foram claramente definidas. Mesmo o mais modesto desempenho de alguns destes órgãos ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 82 não pode ser melhorado devido ao crescente conflito político, que culminou com a guerra e o seu opositor político, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). A deterioração da Economia, a destruição das estruturas sócio económicas e da Administração Pública devido a guerra e a falta de capacidade económica, administrativa e técnica, tiveram efeitos devastadores na situação política económica de Moçambique. O aumento da pobreza, a importante migração e deslocação da população em finais dos anos de 1980 obrigou a que em 1987 fosse lançado um programa de reabilitação económica. Em 1990, foi aprovada uma reforma constitucional que introduziu a democracia pluralista e multipartidária. Finalmente em 1992, com o apoio da comunidade internacional, foi assinado em Roma um acordo geral de Paz que pôs fim ao conflito armado entre a FRELIMO e a RENAMO constituindo um ponto de viragem na situação do País confirmando e consolidando mudanças económicas e politicas fundamentais em curso desde finais dos anos 80, nomeadamente: o Programa de reabilitação económica iniciado em 1987. A nova constituição que introduziu o pluralismo e a democracia multipartidária, o acordo de Paz ao redefinirem a relação entre o Parlamento e o Executivo, permitiram a RENAMO o acesso parcial ao poder, ainda que esse poder se circunscreve-se ao Parlamento e se limita-se essencialmente a questões internas. Em 1994, foram realizadas as primeiras eleições gerais multipartidárias que deram vitória ao partido Frelimo que formou o governo sozinho e nomeou governadores provinciais. A Lei sobre o quadro institucional ( lei 3/94, Primeira lei sobre a descentralização estabeleceu legalmente a autonomia dos Distritos Municipais. o Processo sofreu porém profundas mudanças nos últimos anos, por razões que serão desenvolvidas mais à frente. Como resultado, um novo quadro institucional para a reforma do Governo local, a lei 2/97. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 83 Esta lei , juntamente com outros instrumentos legais , permitiu a realização das primeiras eleições autárquicas em Junho de 1998. A oposição recusou-se a participar nas eleições locais devido à falta de consensos sobre o quadro legal e institucional. Este boicote afectou o âmbito e o ritmo do programa de descentralização em geral. As eleições foram realizadas em 33 cidades e vilas. 3.3.O Conceito de Descentralização A descentralização é um conceito que tem vindo a receber definições diferentes na literatura, com pontos diferentes de ênfase no tempo e no espaço. As razoes de tais mudanças são diferentes pelo facto de o conceito não ser uma constante. É importante perceber que a descentralização não é um fim. Rondineli citado pela Irae B. Lundim define a descentralização como a transferência ou delegação da autoridade judicial, planeamento, tomada de decisões e gestão de actividades de nível central as suas agências, organização no terreno de unidades subordinadas ao governo, empresas publicas semi-autonomas ou órgãos governamentais. Muitos governantes têm adoptado um sistema de descentralização por razões de naturezas diferentes. Na esfera política existem os que aceitam o sistema como parte do processo de democratização. Em tal quadro estrutural, o Governo central vê a necessidade de delegar alguns poderes à instituições eleitas localmente. Isto permite uma resposta rápida e eficaz às necessidades das populações. Não obstante, em certos casos a descentralização foi adoptada como uma opção para eliminar conflitos tribais e outros males no sei dos Estados. Na frente do Desenvolvimento, a descentralização tem sido apoiada porque se diz que ela acelera e expande os benefícios do crescimento e ISCEDCURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 84 garante a distribuição equitativa dos escassos recursos nacionais. Uma vez que os beneficiários do desenvolvimento ficam envolvidos em todo o cíclo de planificação, a descentralização permite uma melhor planificação da meta, dos recursos, e a mobilização dos recursos locais para aumentar os recursos nacionais. Os críticos têm contudo sido rápidos, ao afirmar que a descentralização caso não seja adequadamente concebida pode levar a desequilíbrios regionais, trazendo daí conflitos e desintegração nacional. A descentralização se não for bem concebida pode ajudar a aumentar o peso de tomada de decisões entre os diferentes níveis do Governo, permitindo assim ao Governo central coordenar e delinear as políticas a nível central. A descentralização permite a rápida realização de projectos, uma vez que aos gestores locais é dada a possibilidade de tomar decisões, evitando a fita vermelha e procedimentos burocráticos associados à centralização. Isto poupa igualmente à economia alguns fundos, através da redução dos custos desnecessários de sobre funcionamento devido a demora da decisão de implementação. Como tem sido dito com frequência, um gestor próximo do problema está melhor qualificado e posicionado para resolvê-lo (Rondineli,1981ª)Lundim. A Administração central não pode conhecer duma forma mais abrangente a complexa variedade de factores que afectam a implementação de um bem sucedida dos projectos nas comunidades locais ao longo do País. Na sua tentativa de enfrentar esta incerteza, criam procedimentos grandemente centralizados. Da mesma maneira, pelo medo de cometer erros nada fazem sobre a tomada de decisões urgentes que são essenciais para a implementação de projectos e programas locais. Como resultado as comunidades pobres sofrem. As autoridades e funcionários ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 85 locais, por outro lado, vão tentar o melhor possível para debelar a crise, mas quase inutilmente (B.Maphaugela, no relatório dos trabalhos do 16 seminário anual da CPO/DOD, 23-26 de Maio de 1994). 3.4. Formas de Descentralização A literatura diferencia duas formas de descentralização Desconcentração e a Devolução A desconcentração envolve uma transferência limitada de poderes na tomada de decisões a funcionários a nível local sem nenhum instrumento de suporte. Contudo, devolução envolve plena autoridade na tomada de decisões e envolvimento da comunidade a nível local, com termos estatutários para uma acção autónoma daqueles sectores mandatados por eles. ( Irae Baptista Lundim, Francisco Jamisse Machava, Friendrich Eben) 3.5.0. Enquadramento Legislativo da Lei 3/94, das Eleições Autárquicas de Junho de 1998 O problema de excessiva centralização do poder de decisão foi oficialmente reconhecido como problema nacional em 1983. O IV congresso da FRELIMO, caracterizou o Governo moçambicano de então uma estrutura do topo muito pesada, com uma estrutura muito fraca ao nível da províncias e dos distritos. Para ultrapassar este problema, foi desenhado um complexo e multifacetado processo político e legislativo. Em termos administrativos, identificam-se duas linhas de acções: Desconcentração do Governo central e autarcização, isto é, a criação de um número limitado de municípios. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 86 3.6.0. Reformas Administrativas O processo de descentralização teve o seu início em 1991, com a elaboração pelo Governo do programa da reforma dos órgãos locais (PROL), que tinha como objectivo a reformulação do sistema de administração local do Estado vigente. A sua transformação em órgãos locais com personalidade jurídica própria, distinta do Estado, dotados de autonomia Administrativa, financeira e patrimonial. Este programa consistia na elaboração de um diagnóstico e estudos aprofundados na área jurídica, administrativa, financeira, de infra-estruturas e meio ambiente da qual resultou a lei 3/94, aprovada por unanimidade pela Assembleia monopartidaria em Setembro de 1994. Elaborada após uma longa e intensas fases de consultas. De referir que a Lei 3/94 é orientada por seis princípios fundamentais que constituem a filosofia do programa de reforma dos Governos locais , nomeadamente: Autonomia - é garantida a autonomia aos municípios autonomia administrativa, financeira e patrimonial; Economia e simplicidade - devido à relativa escassez de recursos humanos e financeiros de base apenas foram contemplados, no curto prazo, um único nível de poder local; Pluralismo e participação é encorajada a participação dos cidadãos nos assuntos municipais; Legitimidade as autarquias obtêm a sua legitimidade a partir de um sufrágio directo e universal; Respeito pelas autoridades tradicionais – as autarquias estão orientadas no sentido de respeitar e procurar criar relações cooperativas com as autoridades locais; Gradualismo- na medida em que os municípios possuem fracos recursos humanos, materiais e financeiros , podem requerer uma extensão do período de desenvolvimento de modo a conseguirem uma total operacionalidade. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 87 Com as primeiras eleições multipartidárias (para a presidência e Parlamento) de Outubro de 1994 a marcarem uma etapa importante no processo de pacificação e democratização do País, concluiu-se que já estavam criadas as condições para se avançar, embora gradualmente, com a descentralização pelo menos administrativa do País. Mas por falta de clareza institucional ou por interesses ou divergências políticas, interpretou-se como descentralização (ou prioridade na descentralização) o processo que iria conduzir às eleições locais e a consequente criação dos municípios urbanos e rurais a luz da Lei 3/94. Contudo, a legislação elaborada posteriormente na tentativa de complementar e aplicar essa lei suscitou forte oposição da RENAMO, da UD, e de alguns elementos dentro da própria FRELIMO e duvidas quanto à sua conformidade com a Constituição. Daí a emenda da constituição da República através da Lei 9/96, que introduz no capítulo algo sobre órgãos Locais do Estado os artigos 188-198 sobre o poder local com objectivo de organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade, estas alterações à Constituição determinaram mudanças significativas ao previsto na Lei 3/94, substituída posteriormente e a luz da nova constituição pela lei 2/97. A aprovação da lei 2/97 e da subsequente legislação e regulamentação complementou a referida Lei, elaborada praticamente sem consultar ou debater com outras forças activas ou representantes da sociedade civil, foi objecto de grande controvérsia e divisão entre as principais forças políticas. A Lei foi aprovada apenas com votos da FRELIMO e da UD, tendo a RENAMO boicotado a votação e finalmente também as próprias eleições autárquicas, devido a discordâncias várias, nomeadamente quanto à supervisão e procedimentos do processo eleitoral, quanto ao número limitado de municipalidades criadas locais e centrais no mesmo espaço geográfico incluindo em termos de finanças locais. Não obstante a falta de consensos as principais forças políticas e o boicote de todos os partidos da ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 88 oposição, as eleições autárquicas acabaram por se realizar. Considerada a primeira etapa de facto do processo de descentralização. O conflito politico que se instalou evidenciado na falta de acordo e confiança mutua entreo Governo e principal força da oposição, a RENAMO, é uma importante limitação para a reforma administrativa. Parecem existir diferentes escolas de pensamento sobre a natureza da reforma administrativa, sobre os seus motivos e princípios de base. Estas diferentes visões não correspondem necessariamente a uma divisão entre o Governo e a oposição. Wigmer, considera que existem algumas indicações que apontam no sentido de uma dupla clivagem no seio do partido FRELIMO: entre centralizadores e descentralizadores e entre a direcção do partido e as bases. Brocaathem, por seu lado fez uma analise da política de descentralização identificando três lógicas de acção contraditórias tecnocratas patrimonial e a democrática. Conclui que o processo de descentralização em Moçambique. Um País em desenvolvimento, não conduz a uma verdadeira democracia participativa. Pelo contrário Braathen, considera que há actores que seguem uma estratégia tecnocrata e patrimonial, baseada em práticas centralistas e numa ideologia de estudo. Defende que o principal interesse desse grupo de actores é apoiar uma estratégia clientista de cedência de poderem troca de valores matérias ou económicos. Por outro lado, também existem activistas e membros do partido com um misto de preocupações tecnocráticas e democráticas, orientados por interesses de valor e razão, que estão mais receptivos à ideia de descentralização e desejosos de envolver a sociedade civil no processo de tomada de decisões politicas. No entanto, ambas as tendências estão nos centros do poder Estatal e controlam as elites locais do partido, que personificam as estruturas administrativas locais. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 89 3.6.1. Opções de Descentralização para Moçambique As aulas desta cadeira, não são sobre a política de descentralização, isto é sobre as forças motivadoras é alógica de base da política de descentralização. É, porém necessário perceber as principais motivações dos actores e os principais conflitos entre ele, para compreender a forma como a descentralização avança ou não, na prática. Seguidamente são apresentadas as várias formas de descentralização que estão a ser promovidas por diferentes centros de poder, recorrendo para tal aos conceitos geralmente usados na literatura sobre a descentralização: desconcentração administrativa e /ou fiscal vesus delegação politica (muitas vezes como descentralização democrática. Há autores que consideram que a descentralização da excessivamente centralizada administração estatal é necessária para ajudar Moçambique as realidades do pos- guerra fria. 3.6.2. Uma Primeira Analise Crítica do Processo de Descentralização e Desconcentração Depois deste quadro geral é possível, desde já, fazer algumas observações sobre o desenvolvimento do processo de descentralização e desconcentração. Em primeiro lugar, o programa inicial (PROL) teve por objectivo a divisão administrativa segundo um prisma de descentralização. Porém, as primeiras eleições multipartidárias em 1994 mostraram que a Renamo conseguiu ganhar as eleições nos meios rurais de algumas regiões do centro e norte do país. Em segundo lugar, os diversos pacotes legislativos foram quase integralmente informados pela legislação e pela doutrina portuguesa. Isso é patente, sobretudo, no caso das autarquias locais. Em terceiro lugar, numa primeira fase, os responsáveis moçambicanos ignoraram as autoridades tradicionais, mas a evolução dos acontecimentos obrigou-os as integrar esta ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 90 administração. Só que a forma de integração das autoridades tradicionais consistiu, em grande medida, na “reactualização do modelo de administração de indirect rule que presidiu à Reforma Administrativa Ultramarina, e que vigorou no País durante praticamente todo o tempo colonial” (Fernandes, 2007, p. 158), mesmo no que concerne ao reconhecimento da legitimidade dos líderes locais. Figura 3: Pluralismo Jurídico do Poder Local em Moçambique Fonte: Zavale (2011) Em conclusão, temos no mesmo território três tipos de administração, em muitos casos sobrepondo-se e, https://cea.revues.org/docannexe/image/1879/img-3.jpg ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 91 noutros, complementando-se: administração local do Estado (desconcentrada); administração local autárquica (descentralizada); e administração comunitária, onde podemos encontrar chefes tradicionais, secretários de bairro, grupos dinamizadores, grupos religiosos e não religiosos, organizações não-governamentais e outros líderes, sendo certo que a administração comunitária não tem autonomia, reportando ora ao município, ora à província ou ao distrito, conforme a Figura 3. Na prática, porém, o processo administrativo local é o resultado do embate dos modelos administrativos importados com a cultura e lideranças locais. As populações sempre aprendem os procedimentos administrativos pelo entendimento das Autoridades Tradicionais (Régulos) ao longo de séculos. A Figura 3 reproduz o reconhecimento e a regulamentação por parte do Estado das formas de legitimação e reconhecimento das autoridades comunitárias, e dos modos de articulação dos órgãos locais desconcentrados e descentralizados com as demais autoridades (internas/externas e nacionais/não nacionais) intervenientes no espaço local. Temos, assim, um Estado heterogéneo, potencialmente gerador dum processo de fragmentação, sobretudo em municípios controlados por partidos opostos ao poder central, se enraizados em culturas locais dotadas de autonomia. Finalmente, importa sublinhar que os modelos administrativos convencionais foram importados da Europa, tendo havido uma forte pressão dos doadores internacionais que impuseram a descentralização como condição das doações. Estas formas administrativas importadas da metrópole colonial estavam imbuídas da nova gestão pública que impregnava toda a administração, incluindo a administração local. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 92 3.7.0. As Autarquias Locais Podemos analisar o conceito de autarquias locais nos seus vários elementos: a circunscrição territorial, o agregado de pessoas, os interesses comuns, os órgãos próprios. Antes de expor o regime de cada uma das autarquias locais, vejamos alguns elementos comuns. Circunscrição territorial o substrato da autarquia local é um agregado de pessoas definido pela residência em certa circunscrição do território do Estado. Daqui se deduz a grande importância que tem na autarquia o seu território: trata-se de uma pessoa colectiva territorial ou da população e território. Mas este território é talhado dentro do território do Estado, por uma lei dimanada dos respectivos órgãos de soberania, que o delimita ou circunscreve segundo as tradições e as conveniências da administração. Essa função do território do Estado pode simultaneamente ser a circunscrição base de uma autarquia local (por exemplo, da freguesia) e parte integrante das circunscrições de outras autarquias (concelhos, Distrito). Em rigor a circunscrição paroquial é a base, pois o concelho forma-se de freguesias e os distritos compõem-se de concelhos. Como a circunscrição é uma parcela do território do Estado, mas fundamentalmente é território do Estado, nela vigoram as leis gerais, e a autoridade autárquica tem de ser exercida na medida prescrita por essas leis. O território de uma autarquia local tem um duplo pape: primeiro, o de permitir a definição do agregado de pessoas cujos interesses serão os fins específicos da autarquia vistoesse agregado resultar da residência dentro do espaço da circunscrição; Segundo o de limitar a jurisdição da autarquia e a competência dos seus órgãos em razão do lugar, visto que estes só têm autoridade no âmbito ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 93 da circunscrição. É em função deste duplo papel que tem de ser considerados os problemas tocantes ao território das autarquias. Como o território do Estado abrange o espaço aéreo e o mar territorial, a circunscrição de uma autarquia abrangerá esses espaços na mesma extensão? A resposta terá de ser dada tendo em conta o que nesses espaços corresponde a unicamente ao exercício da soberania do Estado e que, por conseguinte, não pode entrar nos interesses vicinais. Num conselho marítimo fazem parte da sua população as pessoas que porventura viviam permanentemente a bordo de barcos fundeados junto aos cais, mas isso não significa que o território da autarquia abranja toda a porção correspondente ao mar territorial. Só que traduzir vizinhança se integra na autarquia. O mesmo se diga do espaço aéreo, onde a jurisdição na autarquia se estende até onde os vizinhos exerçam o seu direito de propriedade privada, mas não mais além. Sendo a circunscrição uma fracção do território do Estado que vai servir de base a certa pessoa colectiva de direito público, só a lei pode dispor do território criando o substrato da autarquia. Na circunscrição de cada autarquia há uma povoação designada para sede da freguesia ou do concelho ou para capital do Distrito: a tal designação é da competência do Governo. Agregado populacional- outro elemento da autarquia local é o agregado de pessoas formado pela população residente na circunscrição ou território que lhe serve de base. Em rigor essa população constitui o primeiro elemento da autarquia na medida em que possui interesses comuns cuja realização exige uma comunidade de esforços e de acção. Mas tem de se falar previamente no território visto que é pela fixação neste que se individualiza a população. Outrora, quando cada conselho possuía o seu direito próprio, com ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 94 regime jurídico e fiscal privativo dos seus munícipes em que tantas vezes existiam apreciáveis privilégios, era no foral ou no direito consuetudinário de cada terra que tinha de ser procurada a definição dos respectivos vizinhos. Todos os que residam ou se encontrem na circunscrição onde a autarquia exerça jurisdição estão sujeitos aos seus regulamentos e posturas. A submissão aos impostos e taxas locais depende, não de qualidade pessoal, mas de verificação do território da respectiva circunscrição de qualquer dos factos tributários previstos na Lei. O mais importante direito ligado à qualidade de membro da autarquia é o direito de sufrágio. Mas no código Administrativo esse direito foi apenas reconhecido para eleição das juntas de freguesia. O código Administrativo quando concede direitos ou impõe deveres ora faz referencia ao munícipe, ora ao leitor recenseado pela circunscrição, ora ao contribuinte de contribuições directas do Estado, devendo notar- se a tendência para equiparar em direitos ( salvo quanto ao sufrágio) o eleitor ou contribuinte. Interesses comuns- A existência de umas tantas pessoas a residir em certa fracção do território do Estado não justificaria que fossem consideradas como um agregado a que a lei reconhecesse personalidade jurídica se da proximidade de residência ou vizinhança não resultasse para essas pessoas a comunidade de certos interesses que lhes conviesse realizar pelos seus próprios meios. Os primeiros municípios coincidiam com povoações. Era a povoação que formava o núcleo unificado na vida jurídica, ainda que numa civilização eminentemente rural, a povoação não pudesse subsistir sem um aro, mais ou menos extenso, de terras cultivadas pelos respectivos habitantes ou ao dispor de todos para usos comunais (pasto, lenhas,etc.) O alargamento de dimensão dos concelhos urbanos e o povoamento do ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 95 aro dos rurais levou em muitos deles a formar freguesias em cada um. O facto de a organização local corresponder a núcleos realmente vicinais tornava imediata a consciência dos interesses comuns. Os vizinhos de cada lugar juntavam-se na mesma preocupação de garantir a sua segurança regular a utilização das águas e terras comuns, manter em bom estado os caminhos, etc. Nos nossos dias a densidade da população e a facilidade das comunicações esbateram o localismo de tal modo que dificilmente se poderá dizer determinados interesses são exclusivos dos moradores de umas localidades indiferentes aos restantes cidadãos do País. Mas em todo caso podem discriminar-se os interesses mais próximos dos habitantes de cada localidade ou de um grupo de localidades situadas em certa circunscrição, em relação a outros interesses de carácter mais geral. Por outro lado, há que atender à facilidade de realização dos interesses. Aos agregados locais deve ser deixada a satisfação daquelas necessidades que eles possam conseguir pelos seus próprios meios mais rápida e ajustadamente, mesmo quando não sejam apenas locais e se justifique a comparticipação do Estado nas despesas a que esta satisfação dê lugar. Estes dois critérios proximidade dos interesses, eficiência da realização – levam a admitir certa diferenciação entre as autarquias , pois não só os interesses comuns são de diferentes carácter consoante se trata de freguesia, de conselho ou de distrito como dentro de cada uma destas categorias não deverão ser medidas pela mesma bitola as autarquias dos agregados urbanos ou rurais e sobretudo, os interesses das grandes cidades e das modestas povoações . Os problemas principais acerca da definição dos interesses autárquicos –as atribuições da autarquia local –levantam-se sobretudo em relação ao concelho. Aí os examinaremos a propósito das atribuições ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 96 municipais. Órgãos das autarquias locais – os corpos administrativos Na medida em que a lei reconhece como dignos de protecção jurídica os interesses comuns dos agregados populacionais definidos pela residência em certa circunscrição do território Estado, erige estes agregados em pessoas colectivas, o que implica a formação de órgãos próprios. Por definição, esses órgãos devem exprimir a vontade que convém á pessoa colectiva, pois lhe é normalmente imputável, isto é, devem querer o que importa à realização dos interesses dela e não doutros. Não tem que ver a propriedade dos órgãos da autarquia- órgãos dos seus interesses, capazes de tomar decisões e deliberações definitivas e executórias – com o modo de escolha dos seus titulares. O auto- Governo dos agregados, isto é, a escolha dos titulares dos órgãos da autarquia por sufrágio dos próprios membros desses agregados, pode ser uma garantia de que órgãos se mantenham fies aos interesses da autarquia mas não é essencial à natureza dela. Cada categoria de autarquias locais pode ter vários tipos de órgãos. Mas é comum a todos o tipo denominado corpo administrativo. Esta expressão pertence ao vocabulário importado da França nos primórdios da experiencia do sistema administrativo. Na verdade, é na Constituição Francesa do ano III, ou do Directório que, a par do corpo legislativo composto pelos dois conselhos, dos quinhentos e dos anciãos, aparecem no título VIII os corpos administrativos. De entre os órgãos colegiais das autarquias, é a eles que está confiada a gestão permanente dos respectivos interesses ao contráriodos conselhos municipais ou de distrito que reúnem uma ou duas vezes no ano, em sessões. Por isso a definição que convém aos corpos administrativos é a de órgãos colegiais de gestão permanente dos interesses das autarquias ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 97 locais. 3.7.1. O Concelho O Município, expressão tradicional da Administração local autárquica. Historia- A forma típica tradicional da administração local autárquica é o município. Nalguns países pode dizer-se que os termos concelho e município têm sido considerados sinónimos: o concelho é a autarquia local que tem por base territorial a circunscrição municipal. Mas em rigor, trata-se de noções distintas, pois que há instituições municipais sempre que os próprios vizinhos gerem directamente, ou por órgãos que os representem, em regra eleitos, os interesses locais. Podem, pois admitir-se dois conceitos de município: o conceito lato, que identifica o município com qualquer núcleo populacional em que os órgãos autárquicos sejam constituídos por pessoas que façam parte do respectivo agregado; e o conceito restrito, que limita a designação de município ao concelho, isto é, à autarquia local cujo território é a circunscrição municipal. É duvidoso porém que o actual concelho possa ser considerado directo sucessor do município medieval. 3.7.2. Classificação dos Municípios Vamos agora entrar no estudo da organização administrativa dos municípios. Começaremos pela classificação que com maior ou menor amplitude e extensão de efeitos, as nossas leis desde os primórdios da municipalização mandam fazer. Três critérios podem ser adoptados: o da Índole social dos municípios, o da população e o fiscal. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 98 O critério da índole social dos municípios leva à classificação fundamental em duas grandes ordens: a dos municípios urbanos e dos municípios rurais. São municípios urbanos aqueles em que a parte principal da população está aglomerada num mesmo centro residencial e aí exerce toda a espécie de profissões numa ampla divisão e especialização do trabalho. Desta complexa actividade e da aglomeração populacional nascem os problemas característicos das cidades os de arruamento, habitação, higiene, cultura física e intelectual, expansão, segurança, comunicações, abastecimento, iluminação, assistência etc. Os concelhos urbanos subdividem-se conforme a sua actividade predominante em industriai, comerciais, mineiros, marítimos, suburbanos e grandes cidades. São municípios rurais – aqueles cuja população se dedica, pela maior parte, à cultura da terra, quase sempre em povoamento disperso, de modo que a sede desempenha apenas o papel de centro administrativo e económico, sem o predomínio residencial e a preponderância social que lhe cabe nos municípios urbanos. Entre duas das ordens poderia admitir-se uma outra, a dos municípios mistos, ou seja aqueles em que interesses agrários e interesses se misturam. Segundo o critério da população, os concelhos dividem-se em classes conforme o número de habitantes critério só por si deficiente, pois este elemento quantitativo não basta para dar carácter e individualizar um município. Segundo o critério fiscal, graduam-se as classes conforme as receitas ordinárias dos municípios, índice das suas possibilidades económicas e administrativas. A classificação dos concelhos pode revestir maior ou menor importância, consoante dispuser o direito positivo. Umas vezes a classe do concelho só influi na composição ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 99 dos órgãos municipais; outras vezes a lei vai até ao ponto de estabelecer regimes jurídicos diferentes, quanto à organização, atribuições e competência para cada classe. Em algumas legislações, como em Espanha e nos Estados Unido, permite-se que cada concelho elabore o seu próprio foral, a sua carta, conforme entender mais convenientemente para estabelecer o sistema adequado às suas condições peculiares. A ordem dos municípios rurais depende, sobretudo, das indicações de dois factores a população e as possibilidades fiscais. Excepcionalmente se atende na primeira ordem a categoria administrativa da sede (capitais dos distritos). O legislador não surgiu pois, um critério puramente doutrinário e vê-se que não levou os princípios às suas últimas consequências, por ter de atender as outras considerações administrativas. Não figura na classificação legal a classe dos concelhos mistos, mas admite-se um regime administrativo que pode considerar-se misto quanto aos concelhos rurais com zonas de urbanização ou de turismo (praias estancias hidrológicas ou climatéricas de altitude, de repouso ou de recreio, monumentos ou lugares de nomeada). 3.7.3. Atribuições Municipais O problema das atribuições municipais é dos mais delicados a resolver. Em princípio pertencem ao município todos os negócios (mas só esses) que digam respeito à comunidade de interesses determinada pela vizinhança. Assim, por exemplo, a administração dos bens comuns, a segurança de pessoas e bens, a assistência, a limpeza pública, a iluminação, o abastecimento de águas. Mas, em primeiro lugar, nos grandes núcleos populacionais já se torna muito difícil ir buscar a vizinhança como critério da comunidade de interesses. Há antes uma continuidade de espaço habitado que, porém ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 100 exorbita com frequência dos limites convencionais do município ou cria interesses que as soluções de continuidade não quebram (caso dos núcleos suburbanos, dos dormitórios, citadinos, etc). Depois algumas dessas matérias podem, por via da evolução dos meios técnicos da sua resolução, transformar-se em objecto de interesses gerais; outras não cabem nas responsabilidades financeiras dos municípios; e há outras que não sendo por natureza municipais, o Estado entrega ao cuidado dos concelhos para maior eficiência dos serviços e comodidade do público. Torna-se pois extremamente delicado traçar a esfera de atribuições do município por via de uma definição ou (clausula geral). O princípio fundamental do direito municipal, neste ponto, é o de que os corpos administrativos só podem deliberar no exercício da sua competência e para realização das atribuições que expressamente lhes forem cometidas por leis. Quer dizer: não há negócios que por natureza, pertençam ao município; este só pode prosseguir os fins e interesses expressa e taxativamente enunciados na lei. Qualquer acto praticado por um corpo administrativo fora das atribuições municipais é juridicamente inexistente. Temos assim três sistemas de determinação das atribuições municipais: o chamado sistema da clausula geral que é o brasileiro, o sistema da enumeração taxativa que a lei portuguesa segue, e o sistema misto que consiste numa clausula geral segunda da enumeração exemplificativa, ou numa enumeração rematada por uma remissão “ em geral” para certo critério pelo qual em caso de duvida se decidirá. O inconveniente da cláusula geral é a incerteza na interpretação, que pode originar frequentes conflitos entre o município e outras entidades públicas. Para obviar a esse defeito, o IV Congresso Hispano-Luso – Americano de municípios, realizado em Barcelona em 1967, preconizou que em caso de duvida relativamente a um interesse ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 101 peculiar do município, prevalecesse a competência deste. Julgamos, porém mais conveniente o sistema da enumeração taxativa seguidopelo direito português, embora com o risco de dificultar o progresso da vida municipal quando o legislador não ponha oportunamente a cargo dos concelhos alguma atribuição correspondente a novas necessidades colectivas. Todavia esse risco é bem compensado pela certeza das esferas de acção das várias entidades públicas. O código Administrativo de 1936-40 introduziu a distinção entre atribuições (interesses a realizar pela pessoa colectiva) e competências (poderes jurídicos conferidos aos órgãos para desempenho das atribuições). Há duas classificações legais de maior importância a ter em conta: uma atende ao objecto das atribuições, outra ao seu exercício. Quanto a objectivos o código distingue seis grupos de atribuições sendo: a) Administração de bens comuns e próprios do conselho; b) De fomento; c) De abastecimento público; d) De cultura e assistência; e) De salubridade pública; f) De polícia. Mas a classificação de maior interesse é a que se faz quanto ao exercício, em atribuições a) De exercício facultativo; b) De exercício obrigatório. As atribuições de exercício obrigatório constituem um encargo legal, de que os órgãos municipais têm de desonerar-se antes de quaisquer outras, pois o legislador considerou matérias que formam o seu objecto ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 102 como mínimo necessário de funções a desempenhar pela administração do município. E como é natural que tal mínimo de funções varie, conforme a riqueza do concelho e as exigências do seu tipo social, resulta daí que o número e a natureza dessas obrigações variam com a classe e a ordem do concelho, e até dentro do mesmo concelho, consoante as zonas em que a competência da câmara tem que se exercer sejam urbanas ou rurais (caso das zonas de turismo). Esta obrigatoriedade é jurídica ou meramente programática? Se uma câmara abandonasse totalmente a realização de uma atribuição de exercício obrigatório poderiam ser arguidas de ilegais as deliberações que contemplassem atribuições de exercício facultativo. Mas esse abandono teria de ser total não bastando para haver ilegalidade alegar a insuficiente dotação , ou a incompleta realização, pois a extensão do cumprimento da atribuição é matéria discriminatória. A justificação da obrigatoriedade de certas atribuições é fácil: não faria sentido permitir aos municípios que preterissem as necessidades fundamentais (higiene, caminhos, abastecimento de águas, escolas, segurança etc) para darem preferência a iniciativas menus úteis ou até de simples carácter sumptuário, embora mais propicias a lisonjear a vaidade dos administradores e os olhos dos munícipes. 3.7.4. Órgãos da Administração Municipal 3.7.4. ÓRGÃOS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL OS órgãos da administração são segundo o código de 1940 A- Comuns: a) O concelho municipal; b) A câmara municipal; ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 103 c) O Presidente da câmara municipal. B- Especiais d) Juntas de turismo e comissões municipais de turismo; e) Comissões municipais de assistência; f) Órgãos municipais consultivos. a) Conselho Municipal-é uma Assembleia composta do presidente da câmara e de representantes. Esta assembleia tem carácter representativo, e da sua composição se depreende o conceito orgânico que o legislador forma de município, considerando, não como simples conjunto de indivíduos – cidadãos, mas como expressão orgânica da convivência de famílias agregadas. As funções do concelho municipal podem classificar-se em: - Função eleitoral, quando elege os vereadores; - Função moderadora, quando como fiscal da actuação do presidente da câmara municipal e dos vereadores, podendo requerer ao Governo inquérito aos actos daquele e revogar o mandato destes, de modo a manter o equilíbrio dos dois elementos (de nomeação e electivo) que compõem a câmara: Função orientadora e fiscalizadora ao estabelecer as regras gerais da acção administrativa e financeira da câmara, e ao pronunciar-se sobre as deliberações desta que careçam da sua aprovação para se tornarem executórias. O conselho municipal reúne ordinariamente duas vezes por ano e extraordinariamente sempre que for necessário. Tem mesa própria, mas é seu presidente o da câmara. Podem assistir às suas reuniões, por direito próprio, os vereadores; e os funcionários públicos ou municipais e os munícipes com reconhecida competência que sejam convocados pelo Presidente, mas só para ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 104 fins de informação e consulta nas matérias em que forem peritos ou de que tenham conhecimento especial (Marcelo de Sousa in Código Administrativo art 24). b) Câmara municipal, é o órgão colegial de gestão permanente dos negócios municipais: é o corpo Administrativo do concelho. Compõem-se de um presidente nomeado pelo Governo, e de vendedores eleitos conselho municipal e cujo número varia com a classe e ordem dos conselhos. As funções camarárias são principalmente deliberativas. A execução das deliberações compete ao presidente da câmara, mas salvo nas grandes cidades, os negócios municipais podem ser distribuídos por pelouros, cada um dos quais é gerido por um dos Membros da Câmara (Presidente e vereadores), cabendo aos vereadores a preparação da execução das deliberações relativas aos pelouros, sem prejuízo dos poderes de direcção e coordenação do presidente (cod, art 58). c) Presidente da Câmara Municipal - O Presidente da Câmara é livremente nomeado pelo Governo, devendo ser escolhido, salvo circunstancias excepcionais , de entre os Munícipes do respectivo concelho-e, de preferência , vogais do conselho Municipal, antigos vereadores ou Membros das comissões Administrativos municiais ou diplomadas com um curso superior. Tem uma dupla função, a de chefiar a administração municipal, como órgão, embora nomeado, do conselho; e a de representar o Governo, como magistrado administrativo. O Presidente da câmara é simultaneamente órgão do Município e órgão do Estado. Serviços Municipais a preparação das deliberações e decisões dos órgãos municipais e respectiva execução correm por serviços burocráticos e técnicos: são os serviços municipais, que o Código ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 105 distingue em secretaria, tesouraria e serviços especiais. Secretaria- A secretaria é o serviço por onde corre o expediente das câmaras, e o relativo à execução das deliberações camarárias e dos despachos e ordens do Presidente. Pode dividir-se em serviços ou Secções. O funcionário que a dirige é o chefe da Secretaria, mas os respectivos serviços são sempre do pelouro do presidente da câmara. Tesouraria compete-lhe a arrecadação das receitas a guarda de fundos e valores, o pagamento das despesas e quaisquer movimentos dos dinheiros do município. Está a cargo de um tesoureiro, que nos concelhos de pequena receita é o tesoureiro da fazenda Pública e nos outros um funcionário. 3.8.0. Serviços Especiais Cabe esta designação aos partidos, médicos, médicos veterinários e outros existentes no concelho, as repartições instituídas para assegurar o exercício de determinado ramo das atribuições municipais que exija conhecimentos especializados de qualquer ciência ou arte e não se traduza em actividade económica, bem como os serviços de extinção de incêndios. A expressão partido é tradicional e designa hoje a função exercida em beneficio dos habitantes do concelho, por conta deste, mas sob a forma de profissão liberal. Quer dizer: o funcionário não deixa de exercer livremente a sua profissão, masrecebe um vencimento para o fazer dentro de certa área e aí atender gratuitamente os munícipes pobres. Quanto às repartições técnicas podem ser diversas (saúde e higiene, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 106 engenharia, arquitectura e contencioso. Os serviços de incêndios é um serviço de segurança pública, a cargo das autoridades policiais ou de corpos de bombeiros e para cujo desempenho podem ser requisitados os serviços e bens necessários, e ordenados até os indispensáveis sacrifícios de coisas e direitos. 3.8.1. Os Serviços Municipalizados Além dos serviços municipais, podem as câmaras instituir com a aprovação dos respectivos conselhos municipais e do Governo, serviços municipalizados, isto é serviços públicos de interesse local explorados sob forma industrial por conta e risco dos municípios. Trata-se de empresas públicas cujo empresário é o município, embora essas empresas não tenham personalidade jurídica: são autónomas, mas estão integradas no concelho. As condições fundamentais prescritas para a municipalização resumem-se em que os serviços a instruir tenham: 1. Por fim, satisfazer necessidades colectivas da população do concelho em relação as quais se verifique que: a) A iniciativa privada as não provê satisfatoriamente; b) Sejam de primacial importância para a colectividade; 2. Organização autónoma, dentro da administração municipal e sob forma industrial (salvo autorização do Governo); 3. Funcionamento económico, em benefício do público. As actividades que podem ser municipalizadas o código enumera as principais, relativas ao abastecimento de água, de energia eléctrica e de gás de iluminação; ao aproveitamento, depuração e transformação águas de esgoto, lixos, detritos e imundícies; à construção e exploração de mercados frigoríficos, balneários, lavadouros públicos e estabelecimentos hidroterapeuticos; comercialização de carnes verdes, higienização de produtos alimentares, ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 107 nomeadamente o leite, e ao transporte colectivo de pessoas e mercadorias. Além destas, porém podem ser municipalizadas outras actividades quando circunstâncias especiais aconselhem o Governo a autoriza-lo. O processo de musicalização – para que uma actividade se converta em serviço municipalizado, o processo a seguir é: a) Elaboração prévia de um estudo económico, técnico e financeiro da empresa com o respectivo projecto; b) Deliberação da Câmara sobre este projecto favorável a municipalização; c) Sujeição da deliberação da câmara à aprovação do conselho municipal. 3.8.2. Regime Financeiro das Autarquias A aprovação deste novo regime financeiro local prevêem-se um conjunto de princípios fundamentais que pretendem assegurar uma efectiva coordenação entre administração central e local no plano financeiro e contribuir para o controlo orçamental e para a prevenção de situações de instabilidade e desequilíbrio financeiro. Princípio da legalidade - A actividade financeira das Autarquias Locais exerce-se no quadro da constituição, da lei, das regras de direito da União Europeia e das restantes obrigações internacionais assumidas pelo Estado Moçambicano. São nulas as deliberações de qualquer órgão das autarquias locais que envolvam o exercício de poderes tributários, determinem o lançamento de taxas não previstas na lei ou que determinem ou autorizem a realização de despesas não permitidas por ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 108 lei. Princípio da estabilidade orçamental - O princípio da estabilidade orçamental pressupõe, na aprovação e execução dos orçamentos, a sustentabilidade financeira das autarquias locais, bem como uma gestão orçamental equilibrada, incluindo as responsabilidades contingentes por si assumidas. As autarquias locais não podem assumir compromissos que coloquem em causa a respectiva estabilidade orçamental. Princípios da autonomia financeira - As autarquias locais têm património e finanças próprios, cuja gestão compete aos respectivos órgãos. A autonomia financeira das autarquias locais assenta, nomeadamente, nos seguintes poderes dos seus órgãos: a) Elaborar, aprovar e modificar as opções do plano, orçamentos e outros documentos previsionais, bem como elaborar e aprovar os correspondentes documentos de prestação de contas; b) Gerir o seu património, bem como aquele que lhes seja afecto; c) Exercer os poderes tributários que legalmente lhes estejam atribuídos; d) Liquidar, arrecadar, cobrar e dispor das receitas que por lei lhes sejam destinadas; e) Ordenar e processar as despesas legalmente autorizadas; f) Aceder ao crédito, nas situações previstas na lei. Princípio da transparência - A actividade financeira das autarquias locais está sujeita ao princípio da transparência, que se traduz num dever de informação mútuo entre estas e o Estado, bem como no dever de divulgar aos cidadãos, de forma acessível e rigorosa, a informação sobre a sua situação financeira. O princípio da transparência aplica-se igualmente à informação financeira respeitante às entidades participadas por autarquias locais e entidades intermunicipais que não integrem o sector local, bem como às concessões municipais e parcerias público-privadas. Princípio da solidariedade nacional recíproca - O Estado e as ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 109 autarquias locais estão vinculados a um dever de solidariedade nacional recíproca que obriga à contribuição proporcional do sector local para o equilíbrio das contas públicas nacionais. Tendo em vista assegurar a consolidação orçamental das contas públicas, em situações excepcionais e transitórias, podem ser estabelecidos, através da Lei do Orçamento do Estado, limites adicionais à dívida total autárquica, bem como à prática de actos que determinem a assunção de encargos financeiros com impacto nas contas públicas pelas autarquias locais. A Lei do Orçamento do Estado pode determinar transferências do Orçamento do Estado de montante inferior àquele que resultaria das leis financeiras especialmente aplicáveis a cada submeter, sem prejuízo dos compromissos assumidos pelo Estado nas áreas da solidariedade e da segurança social. A possibilidade de redução depende sempre da verificação de circunstâncias excepcionais imperiosamente exigidas pela rigorosa observância das obrigações decorrentes do Programa de Estabilidade e Crescimento e dos princípios da proporcionalidade, do não arbítrio e da solidariedade recíproca, e carece de audição prévia dos órgãos constitucional e legalmente competentes dos subsectores envolvidos. Princípio da equidade intergeracional - A actividade financeira das autarquias locais está subordinada ao princípio da equidade na distribuição de benefícios e custos entre gerações, salvaguardando as suas legítimas expectativas através de uma distribuição equilibrada dos custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual. O princípio implica a apreciação no plano da incidência orçamental, a apreciação, nomeadamente, dos investimentos aprovados, dos encargos com passivos financeiros, das necessidades de financiamento das entidades participadas pela autarquia, dos compromissos orçamentais e das responsabilidades contingentes, dos encargos explícitos e implícitos em parcerias público-privadas, concessões e demais compromissos financeiros de carácter plurianual, bem como da despesa fiscal, nomeadamente compromissos futuros decorrentes de isenções fiscais concedidas, pelos municípios. ISCED CURSO: Administração Publica30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 110 Princípio da justa repartição dos recursos públicos entre o Estado e as autarquias locais - A actividade financeira das autarquias locais desenvolve-se no respeito pelo princípio da estabilidade das relações financeiras entre o Estado e as autarquias locais, devendo ser garantidos os meios adequados e necessários à prossecução do quadro de atribuições e competências que lhes é cometido. A participação de cada autarquia local nos recursos públicos é determinada nos termos e de acordo com os critérios previstos no RFALEI (Regime Financeiro das Autarquias Locais e das Entidades Intermunicipais), visando o equilíbrio financeiro vertical (adequação dos recursos de cada nível de administração às respectivas atribuições e competências) e horizontal (correcção de desigualdades entre autarquias do mesmo grau resultantes, designadamente, de diferentes capacidades na arrecadação de receitas ou de diferentes necessidades de despesa). Princípio da coordenação entre finanças locais e finanças do Estado - A coordenação entre finanças locais e finanças do Estado tem especialmente em conta o desenvolvimento equilibrado de todo o País e a necessidade de atingir os objectivos e metas orçamentais traçados no âmbito. A coordenação referida no número anterior efectua-se através do Conselho de Coordenação Financeira, sendo as Autarquias Locais ouvidas antes da preparação do Programa de Estabilidade e Crescimento e da Lei do Orçamento do Estado, nomeadamente quanto à sua participação nos recursos públicos e à evolução do montante global da dívida total autárquica. Para efeitos do disposto no presente artigo, podem igualmente ser estabelecidos deveres de informação e reporte adicionais tendo em vista habilitar as autoridades nacionais com a informação agregada relativa à organização e gestão de órgãos e serviços das Autarquias Locais. Princípio da tutela inspectiva - O Estado exerce tutela inspectiva sobre as Autarquias Locais e as restantes entidades do sector local, a qual abrange a respectiva gestão patrimonial e financeira e só pode ser ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 111 exercida segundo as formas e nos casos previstos na lei, salvaguardando sempre a democraticidade e a autonomia do poder local. Os orçamentos das entidades do sector local prevêem as receitas necessárias para cobrir todas as despesas, respeitando assim o equilíbrio orçamental, sendo apresentados anualmente e enquadrados num plano plurianual de programação orçamental (anualidade e plurianualidade). Os orçamentos das autarquias locais e das entidades intermunicipais compreendem todas as receitas e despesas de todos os seus órgãos e serviços sem autonomia financeira (unidade e universalidade). São admitidas pela RFALEI como excepções ao princípio da não consignação, as receitas provenientes de: a) Fundos comunitários; b) Fundo social municipal; c) Cooperação técnica e financeira; d) Empréstimos a médio e longo prazos para aplicação em investimentos ou contraídos no âmbito de mecanismos de recuperação financeira; Pode, excepcionalmente, ser inscrita no Orçamento do Estado uma dotação para financiamento de projectos de interesse nacional a desenvolver pelas autarquias locais, de grande relevância para o desenvolvimento regional e local, correspondentes a políticas identificadas como prioritárias, de acordo com os princípios da igualdade, imparcialidade e justiça. A RFALEI prevê ainda a possibilidade da concessão de auxílios financeiros em situações excepcionais, como as de calamidade pública (www. Portal autárquico). ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 112 3.9.0. As Agências Doadoras Multilaterais e Bilaterais Um dos actuais debates no seio das organizações internacionais diz respeito à promoção da cooperação descentralizada. A criação dos laços directos entre um município e outra entidade local ( ou uma rede) com a atribuição directa de fundos a essa ligação, é a forma base utilizada por essas organizações para colaborar na cooperação intermunicipal. Nalguns casos, as associações nacionais de municípios funcionam como intermediárias, responsáveis pela selecção de projectos e distribuição de fundos. Podem também incluir uma ONG( Organização não Governamental), em parceria com uma entidade. Em termos de intervenção das agências doadoras multilaterais, destacam-se pela sua actuação, as seguintes: Organização das Nações Unidas No sistema das NU( Nações Unidas), existe vários Organismos e instituições que, directa ou indirectamente promovem a CIM(Cooperação intermunicipal), embora não exista uma política específica nesta matéria. O Secretariado não sendo um organismo financiador, exerce pressão política para a expansão de cooperação intermunicipal e organiza actividades nos Países em desenvolvimento para ajudar melhorar as suas capacidades de administração e gestão pública. O Banco Mundial Desenvolve programas de apoio a descentralização e às instituições e actores locais nos Países em desenvolvimento. Embora os municípios não possam solicitar financiamento directo para um projecto podem participar nestes programas associando-se aos organismos que são ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 113 directamente abrangidos: ONG, associações de municípios, redes de cidades. O Pnud Realiza estudos relativos a aspectos relacionados a descentralização e delegação de poderes ao nível local. A Unicef Funciona actualmente como um fundo para o desenvolvimento local, através da concessão de empréstimos em condições muito favoráveis a ONG e outras organizações da sociedade civil, municípios e empresários. Também recorre a CIM para atingir os seus objectivos relativamente as mulheres e à crianças. Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Económico(OCDE) O comité de ajuda ao desenvolvimento (CAD) tem como função a coordenação e a promoção da eficiência da ajuda ao desenvolvimento, tendo criado recentemente um grupo ad-hoc dirigido ao desenvolvimento participado , que poderá ser um impulso à expansão da CIM. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 114 Banco Europeu da Reconstrução e Desenvolvimento(BERD) A sua actividade está mais dirigida para o desenvolvimento do sector privado na Europa central e oriental, estimulando o crescente envolvimento dos municípios nos projectos que financia. O Concelho da Europa Encoraja o envolvimento das Autarquias na cooperação N/S. Um dos últimos programas do Centro Norte –Sul, o “ Programa dialogo descentralizado “ tem como o objectivo prioritário o reforço do papel dos poderes locais e regionais, a promoção da cooperação descentralizada e a democracia local nas relações Norte-sul. União Europeia A cooperação descentralizada e as actividades da CIM surgiram inicialmente nas Direcções Gerais da Comissão Europeia. Na Direcção Geral do Desenvolvimento (DGVIII) através da convenção de Lomé , a partir de 1990, incluída pela primeira vez a CIM e os Governos nacionais dos Países da ACP são adicionalmente encorajados a incluir cooperação descentralizada nos seus programas indicativos Nacionais(PIN) Frequentemente também, as agências bilaterais delegam os seus programas de CIM em Organizações intermédias como as Associações nacionais de municípios. Estas desempenham uma serie de funções adicionais na cooperação intermunicipal. Tendo em consideração a realidade das relações norte e sul em termos de CIM, as geminaçõescujo foco central ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 115 são as actividades culturais e sociais surgem como inúteis. No seu lugar, os municípios aumentem cada vez mais a cooperação em aspectos específicos de cariz técnico e institucional. 3.9.1. Participação : A Autarquia Parceira Cooperação Lusófona As Geminações com outros países são uma realidade. A independência, a história do poder local e o passado comum podem ajudar a definir os modos de cooperação. No âmbito das associações nacionais de municípios o papel da associação dos municípios tem se destacado na promoção das geminações na medida em que proporciona oportunidades de cooperação, colaboração entre os municípios. 3.9.2. Áreas de Cooperação Formação de Quadros Neste domínio estão incluídas acções que visam, nomeadamente, o apoio por parte do Governo na realização de cursos de formação, seminários e sessões de formação técnica levados a cabo por municípios, Associações de municípios ou outras entidades com competência para o efeito, no sentido de promover a formação e o aperfeiçoamento profissional de quadros da Administração Local dos Países beneficiários, incluem-se também iniciativas que tenham como objectivo apoiar ao nível do material e equipamento, programa de alfabetização no âmbito do ensino Básico. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 116 3.9.3. Cultura e Património Histórico Nesta área inserem-se acções que visem essencialmente apoiar a recuperação do património arquitectónico na comunidade, nomeadamente a elaboração de estudos e projectos, obras de recuperação de imóveis de valor arquitectónico na comunidade e a Edição de meios que visem a promoção deste património. 3.9.4. Infra-Estrutura, Saneamento Básico, Urbanismo e Ambiente Inserem-se neste domínio o apoia à elaboração de projectos e à execução de infra-estruturas, cujo objectivo seja a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das populações, bem como o apoio à formação de técnicos destes países, a realizar melhor os serviços. Quadro 10: Geminações entre Moçambique e Portugal Moçambique Portugal Data do acordo Angoche Figueira da foz 31.07.97 Beira Porto Seixal Coimbra Arganil 18.11.98 06.11.97 23.06.97 07.09.99 Ilha de Moçambique Évora 15.09.97 Inhambane Aveiro Oeiras 10.02.93 N.D 3.10.0. Protocolos entre o ICP e a ANMP A partir deste protocolos o ICP (Instituto de Cooperação Portuguesa) e a ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses) acordaram um conjunto de ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 117 procedimentos de modo a tornar mais eficaz todo o processo de planeamento e execução das acções de cooperação tendo sido acordadas as seguintes orientações de princípio. Ser apoiado o transporte de material, preferencialmente ligado a projectos já em curso ou em vias de execução; Serem apoiados os projectos e acções enquadradas nas prioridades estabelecidas no protocolo de cooperação MNE/ANMP( educação e formação de quadros, cultura, Património histórico, infra-estrutura s, saneamento básico, urbanismo e ambiente apoio em matérias e equipamento; Estabelecer que o único interlocutor do ICP, no diálogo com as câmaras municipais portuguesas, fosse a ANMP, que deveria assumir sempre que possível o papel de coordenador. Assim em 1998, o encargo total do ICP com apoio à cooperação intermunicipal, contabilizou-se 3.240 contos, em que 10% coube as autarquias moçambicanas, consubstanciado no envio de diverso material para PALOP(bibliografia, material escolar , medicamentos e material cirúrgico, roupas , contentores de lixo, uma pá retroescavadora e uma betoneira) inseridos em projectos já em execução e enquadrados no âmbito entre o protocolo MNE e a ANMP. Quadro 11: Cooperação Intermunicipal com Moçambique Câmara Municipa l Projecto/Acção Município Beneficiário Participação ICP(contos) m C Câmara municipa l (em contos) ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 118 CM Coimbra Oferta de 500 livros à Biblioteca municipal C.M Beira 140 N.d CM Figueira da foz Projecto de desenvolviment o comunitário; formação de recursos humanos, análise técnico Administrativa das obras municipais concurso das, formação na área de dos planos municipais; formação de agentes de desenvolviment o comunitário CM de Angoche N.d 3150 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 119 CM . S.Comba Dao Projecto de recuperação de sistema de captação de bombagem de água para abastecimento; apoio á escola primária, recuperação de casa do concelho de santa Comba dao Administraçã o Distrital de Namaacha N.D 53000 CM Maia Envio do material Básico CM Nampula 190 0 Fonte: Direcção de serviços sócio culturais do, ICP,2000 Dando sequência ao processo de melhoramento de toda a coordenação, o ICP, em 1999, mesmo sem verbas inscritas no seu orçamento para a cooperação intermunicipal, passou a analisar os projectos dos municípios com maior rigor e a sensibilizar tanto a ANMP como as câmaras para um melhor planeamento dos projectos O plano integrado de cooperação portuguesa aprovado conjuntamente com o orçamento de estado para o ano de 1999, veio criar condições, face às novas orientações estratégicas definidas para a cooperação, para o reforço da cooperação intermunicipal indo ao encontro da proposta do ministério dos negócios estrangeiros e da cooperação com Moçambique no sentido de dar apoio. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 120 3.10.1. Na Área de Educação e Formação de Quadros Bolsas para acções de formação no âmbito da administração local e da Administração autárquica; Formação e aperfeiçoamento profissional de quadros da Administração local, fundamentalmente através da frequência de cursos, seminários, sessões de informação técnica e realização de estágios; Apoio na realização de estudos e projectos sobre assuntos relevantes no poder local a empreender em Moçambique, organização e reorganização das estruturas do poder local e a troca de experiência e informação de natureza Técnico Administrativa; Acções de formação de formadores nas matérias concernentes a administração local. 3.10.2. Na Área de Infra-Estrutura, Saneamento Básico, Urbanismo e Ambiente Apoio ao estudo e execução de infra-estruturas, cujo objectivo seja a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das populações; Apoio à formação de técnicos, a realizar em Moçambique em áreas a definir. 3.10.3. Na Área de Apoio em Materiais e Equipamentos Acções que visem o envio de materiais e ou equipamentos directamente relacionados com áreas referidas. Assim em 1999,refeletindo a crescente importância da cooperação intermunicipal indo ao encontro dos ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 121 desejos manifestados pelas autoridades moçambicanas, o apoio a este tipo de projectos aumentou aproximadamente cinco vezes mais, atingindo os 33 mil contos distribuídos por 16 acções e projectos. Pode-se assim constatar houve de 1998 para 1999 uma evolução extremamente positiva tanto ao nível dos montantes desembolsados quanto ao nível da qualidade de cooperação portuguesa, a ANMP passou a levar em conta algumas das recomendações do ICP e as câmaras começaram a trabalhar no domínio dasprioridades da cooperação para o desenvolvimento e papel do coordenador do MNE através do ICP. Quadro 12: Cooperação Intermunicipal com Moçambique -1999 Câmara Municip al Projecto/Acçã o Município Beneficiário Participaçã o ICP(em contos) Câmara Municip al (em Contos) C.M Loures Envio de equipamento de saneamento básico C.M da Matola 7750 36000 ANMP Seminário Cooperação Descentraliza da Portugal - Moçambique Municípios Moçambican os 5500 5500 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 122 CM de Cascais Envio de de material e equipamento administrativo diverso CM de Xai- Xai 295 N.d CM Santa Comba dao Envio de duas viaturas (ambulância e pronto socorro) Administraçã o Distrital de Namamacha 875 CM Sintra Festa da língua portuguesa Sintra CPLP 2500 3.11.0. Outras Instituições Não se deve deixar de mencionar algumas outras instituições que actuam na área de cooperação descentralizada, para além das autarquias locais. Deste modo, a união das cidades capitais luso Africanas – América- Asia.(UCCLAA, assume-se como uma das grandes organizações de cooperação no espaço lusófono. Tendo sido criada em 1985, a UCCLA desenvolve actividades de cooperação intermunicipal nas áreas de formação, cultura, saúde , equipamento e infra-estrutura e relações institucionais internacionais através do estabelecimento das geminações e acordos de cooperação entre as 15 capitais membros. Também a direcção a Direcção-geral da Administração Autárquica (DGAA), tem desenvolvido acções de cooperação directamente ligadas com o poder local nos PALOPs ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 123 concretizadas através da formação profissional, assistência técnica intercambio de formação, documentação e acções de consultoria. 3.11. 1. Análise da CIM com Moçambique O grau de institucionalização das actividades de cooperação num município depende do modo como é tratado pela administração municipal. Na verdade, como excepção de alguns municípios (normalmente com centros urbanos importantes), a tendência para a profissionalização é ainda muito baixa, não existindo nem linhas orçamentais próprias nem gabinetes de relações internacionais, nem envolvimento com sociedade civil. As acções de cooperação intermunicipal com maior incidência são os serviços e as infra-estruturas sociais (educação, saúde abastecimento de agua e saneamento, etc). Também a oferta de material (desportivo, escolar, de Secretaria, medicamentos e material medico, contentores entre outros e atribuição de bolsas de estudo em instituições de ensino principalmente superior) são acções muito frequentes, bem como apoio na área de urbanismo e infra-estruturas económicas (pontes, estradas, portos, caminhos de ferro, iluminação publica e ajuda alimentar e de emergência. De acordo com os quatro pilares estabelecidos pela OCDE, já aqui identificados verifica-se que grande parte das autarquias que cooperam com Moçambique canaliza as suas actividades para assistência directa à redução da pobreza e no desenvolvimento participativo, em detrimento das questões ambientais e da paridade homens/mulheres. Também a cooperação económica começa a surgir não só através do envolvimento dos empresários na contribuição para ajuda ao município geminado, mas também na sua inclusão nas comitivas para analisar no local eventuais investimentos. Esta tendência é muito evidente nas geminações com as autoridades locais de Moçambique, devido às ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 124 potencialidades de investimento neste país. Também o envolvimento das ONG na CIM pode ser analisado através dos apoios que os municípios prestam a estas organizações, quer através do co-financiamento de projectos e/ ou acções de cooperação, nomeadamente a realização de estudos sobre a cooperação descentralizada e o papel dos municípios na ajuda ao desenvolvimento. Por outro lado, os municípios podem apoiar e/ ou envolver-se em eventos e acções promovidos pelas ONG e que o cruzem, directa ou indirectamente, com a CIM. Da análise da maioria das acções e projectos de desenvolvimento os municípios portugueses e moçambicanos, no âmbito dos respectivos protocolos de geminações é possível identificar áreas de intervenção, cujo objectivo é não só aumentar o nível do bem-estar das populações envolvidas, mas também a qualidade de vida das mesmas mas, contribuído assim para a redução dos níveis de pobreza e para uma maior proximidade entre Portugal e Moçambique. Assim, as áreas de maior intervenção são as seguintes: Agricultura e pescas; -Formação agrária e de pessoal ligado às pescas; -Formação em matéria de gestão do meio ambiente. Cultura, Juventude e desportos; -Investigação cultural; -Cooperação a nível da Biblioteca; -Recuperação do património histórico. Industria, comércio e turismo; -Formação em gestão empresarial para os agentes económicos; -Desenvolvimento do turismo. Obras Públicas e Habitação - Construção; ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 125 - Saneamento e gestão ambiental; Cooperação a nível de estradas. Saúde - Construção e reabilitação de estruturas; - Saneamento básico e salubridade; Programas de estudo e combate ao sida. Administração - Formação de quadros da administração; -Gestão de serviços urbanos; -Planeamento físico; Gestão financeira e patrimonial. De referir, ainda que todos estes projectos implicam intercâmbios, estágios, concessão de bolsa de estudo e formação em Portugal e em Moçambique, assumindo no conjunto a maior representatividade no contexto da cooperação intermunicipal. Embora estes sejam subjacentes ao estabelecimento de geminações e /ou protocolos objectivos como a troca de experiências para a resolução de problemas idênticos e a promoção de trocas económicas, analise das actividades empreendidas mostra um predomínio de acções unilaterais de ajuda ao desenvolvimento e/ ou ajuda humanitária e emergência. Até ao inicio do ano 2000, existiam como se pode constatar, muitas acções isoladas realizadas no âmbito dos protocolos de geminações. Como o acordado em sede Grupo de Missão para a gestão do programa de cooperação intermunicipal tipo de acções de cooperação deve-se inserir, como uma das suas componentes num projecto integrado de cooperação. Toda via, já em 2000 foram detectadas mais acções isoladas, mas que dado o cariz iminentemente humanitário dos seus objectivos e a título excepcional, as mesmas foram consideradas. Pode-se concluir que a CIM para o Desenvolvimento com Moçambique neste aspecto muito recente no poder ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 126 local português, encontrando-se, toda via, numa fase de incremento com uma significativa heterogeneidade de situações. Há quem tem com Moçambique um grande dinamismo e capacidade organizacional, ainda se registam acções de cooperação de forma improvisada. Nesta analise também podem ser salientadas as complicações financeiras e burocráticas, tanto da parte Moçambicana como portuguesa, bem como ainda fraco empenho politico que restringe as potencialidades deste tipo de cooperação e de relacionamento entre as populações, ao qual não é alheia a distância dos dois países. Ainda neste âmbito, os municípios enfrentam um dilema que se caracteriza por uma realização de esforços para a sua afirmação e legitimidade, portanto, o reforço institucional (criação de recursoshumanos, matérias e financeiros e a exigência para a realização de empreendimentos que resolvam de imediato os problemas das comunidades locais. Outro aspecto que merece menção no balanço é o relacionamento entre os municípios e o governo provincial e central. A legislação autárquica preconiza a tutela administrativa, patrimonial e financeira do estado sobre as autarquias locais moçambicanas. A nível central são órgãos tutelares os Ministérios de Administração Estatal e do Plano e fianças. Deste modo, a escassez da regulamentação específica sobre os mecanismos práticos de relacionamento e a delegação de competências aos Governadores provinciais na matéria tutelar cria disparidade na base de varias iniciativas locais. Já no que diz respeito ao relacionamento com a sociedade civil, os municípios moçambicanos têm a registar o mérito de estarem a alcançar níveis desejados de bom relacionamento com as associações de cidadãos, instituições religiosas, associações económicas e culturais que prometem contribuições e participações nos programas para o desenvolvimento dos municípios. Afigura-se na possibilidade de criação de uma estrutura junto do governo que se assegure de assistência técnicos financeira e administrativas dos municípios a vários ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 127 níveis. Neste âmbito, a concretização da associação nacional dos municípios de Moçambique, contribuirá para a cooperação , promoção da defesa , dignificação e representação do poder local de Moçambique. Quanto ao impacto directo da cooperação intermunicipal Portugal- Moçamabique no combate à pobreza são necessários melhoramentos na adopção de estratégias de desenvolvimento económico , social , cultural dos municípios que deve contemplar a capacitação institucional dos órgãos eleitos. Todavia, tem contribuído para aumentar os níveis de bem-estar e melhoria de condições de vida das populações locais. Se a primeira vista pode e deve existir uma complementaridade entre os vários níveis de poder, a competição entre eles é enorme. As tensões são constantes dado que descentralizar significa também ceder poder e, muitas vezes, a transferência de competências não é acompanhada pelos necessários recursos inviabilizando, na prática a assunção dessas competências. Também por esta via a CIM tem um importante papel a desempenhar. 3.11.1.Opercionalização da CIM O fracasso das estratégias de desenvolvimento tradicionais teve a ver, entre outros com o facto da ajuda ao desenvolvimento passar frequentes vezes ao lado das origens, e como tal das soluções , das desigualdades estruturais, e por o próprio impacto global da ajuda ter sido negligenciado. Por outro lado, muitas das relações N/S caracterizam-se pelo paternalismo. A mudança de atitude é, por isso necessária e a cooperação descentralizada procura ser uma das vias. Porém , a debilidade dos parceiros do sul e a falta de auto-refelexação no norte, entre outros factores , tem impedido mudanças significativas nas práticas . ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 128 A CIM é muitas vezes designadas por Cooperação descentralizada . No entanto, e embora esta seja a posição do Banco Mundial, que define cooperação internacional descentralizada como sendo uma parceria formal entre autoridades locais em diferentes Países que se comprometem num programa de intercâmbio e colaboração com objectivo de melhorar as circunstâncias sociais e económicas das suas respectivas comunidades e potenciando as habilitações e competências dos parceiros envolvidos, esta definição poderá ser excessivamente redutora e discriminatória em relação a outros actores. E isto porque se a letra cooperação descentralizada significa cooperação não centralizada, então está-se perante uma cooperação exercida também por outros actores que não as autoridades centrais. Esta é aliais, a visão da União Europeia que aquando da institucionalização da cooperação descentralizada no âmbito da IV convenção de Lomé, elegeu como actores da cooperação descentralizada “ os poderes públicos descentralizados, os agrupamentos rurais ou citadinos , as cooperativas , os sindicatos, os estabelecimentos de ensino e de investigação , as organizações não governamentais e outras associações , agrupamentos e entidades capazes e desejosos de contribuir , pela sua própria iniciativa , para o desenvolvimento dos Estados. Assim neste contexto a cooperação intermunicipal é uma forma de cooperação descentralizada na qual os municípios assumem eles próprios a tarefa de participação activa nos processos de desenvolvimento. Deste modo entende-se por cooperação intermunicipal ou cooperação autárquica o estabelecimento de relações entre duas ou mais comunidades e onde os principais actores são os municípios ou seus equivalentes de acordo com a organização administrativa dos diferentes Países. Nestas relações entre parceiros podem envolver-se outros actores, tais como ONG, outras organizações da sociedade civil, associações empresariais/Industriais. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 129 Entre as partes envolvidas são definidas, numa relação de igualdade, a natureza e o carácter do seu relacionamento. A natureza dos contratos celebrados é variada as geminações, os protocolos / acordos de colaboração / cooperação e as redes são um exemplo. Todos eles podem ser classificados como cooperação descentralizada, embora este seja um conceito mais amplo e ainda não haja um consenso no sentido operacional do termo. De facto, esta-se numa fase de identificação de um conceito que está na moda e no qual cabe tudo o que o programatismo de quem o utiliza dita. Apesar das limitações , a cooperação descentralizada começa a surgir como uma área importante na agenda da comunidade doadora internacional a qual está (pelo menos ao nível do discurso) disposta aumentar o volume de recursos para esse efeito Do que acaba de ser exposto, decorre que a CIM pode e deve ser considerada como uma forma de cooperação descentralizada. A sua concretização é feita através de variados programas , projectos e actividades, por diferentes actores que operam ao nível local nacional ou internacional usando várias estruturas Organizacionais. 3.11.3. Conteúdo da CIM O envolvimento inicial entre os municípios de vários países tinha subjacente uma filosofia diferente da actual que a evolução recente veio enriquecer. Um dos aspectos que actualmente marca a agenda internacional é a questão do ambiente, a par do incremento das incapacidades institucionais (capacity building). Esta necessidade tem conduzido ao desenvolvimento de programas técnicos e de administração especificamente destinados a aumentar as capacidades dos poderes locais e a qualidade dos serviços municipais. Ela tem merecido atenção não só das agências oficiais de ajuda ao desenvolvimento mas também dos municípios envolvidos em ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 130 actividades de cooperação internacional. Os intercâmbios tradicionais privilegiavam três áreas: Educação, Desporto e cultura. Actualmente para além destas outros domínios integram a CIM, nomeadamente, a saúde, o ambiente, a gestão e a administração municipal, o urbanismo e as infra-estruturas, numa tentativa de encontrar melhores soluções para os problemas idênticos. Também na lista das actividades desenvolvidas pelos municípios em matéria de cooperação há que referir o combate a pobreza, os intercâmbios profissionais e culturais do desenvolvimento social, a assistência técnica a formação profissional,a promoção da mulher e num menor número de casos ajuda humanitária. No que diz ao financiamento para a concretização destas actividades, os municípios recorrem não só ao aos fundos próprios, mas também as campanhas públicas de angariação a donativos privados e a contribuições das agências oficias de cooperação. 3.11. 4. Formas da CIM As Geminações são uma via privilegiada de implantação da CIM e como tal da cooperação descentralizada. Neste trabalho são entendidas como parcerias permanentes, formalizadas mediante acordos entre as partes reconhecidas oficialmente entre dois ou mais municípios e que promovem a troca de conhecimento e de experiências podendo envolver diferentes sectores da sociedade civil. (Associações, ONG, outras organizações). A relação de geminação consiste em promover relações de amizade, intercâmbio e apoio mútuo. Embora muitas não passem de acto formal, as potencialidades quanto à sua utilização enquanto canais de cooperação são grandes. Através delas podem-se desenvolver acções conjuntas, apoiar os parceiros do sul em questões que são rotineiras para os municípios de Países desenvolvidos mas que exigem um ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 131 considerável esforço no do sul ( infra-Estruturas básicas, abastecimento de agua, recolha e tratamento de resíduos etc). Podem constituir plataforma de intercâmbio cultural entre as associações e/ou escolas, possibilitar o envio de voluntários e o estabelecimento de convénios com ONG, através delas pode-se promover a educação para desenvolvimento aumentando a consciência pública sobre a interdependência. As geminações tem sabido adaptar-se aos ventos das mudanças internacionais e evoluir de actividades culturais e de solidariedade para actividades mais complexas que podem ser combinadas com interesses comerciais e políticos e de ajuda ao desenvolvimento. Recentemente por exemplo e intimamente ligada à relações internacionais e do papel do poder local em muitos Países, as geminações tendem a evoluir para o estabelecimento de trocas económicas entre municípios. A origem das parcerias pode ter fontes diversas, pois tanto pode ser o resultado de um acordo formal como pode ser o culminar de um longo percurso conjunto assinado apenas para oficializar as relações. Não se pode dizer que haja o predomínio de motivos que conduzem ao estabelecimento deste tipo de relações, variando desde tipo de situações acidentais a uma programação cuidadosa, sendo esta a forma mais comum. A primeira vaga de geminações N/S esteve ligada a acção de ONG, das associações locais ou a indivíduos transformando os laços existentes numa relação oficial de modo a assegurar a sua continuidade, melhorar o acesso aos financiamentos e ou desenvolver novas atitudes. Apresenta-se de seguida algumas das motivações para a formalização das relações entre os municípios: 1. Politicas - muitos municípios participam na CIM por razões de ordem política ou compromisso com aspectos globais; 2. Humanitária - reflexo da reacção perante situações de miséria e de dificuldades; 3. Económicas – a procura do lucro, através do alargamento das ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 132 relações comerciais; 4. Técnicas - muitas vezes, os Países procuram este tipo de geminações para ultrapassar o fosso tecnológico e para aceder a financiamento exteriores, assistência técnica e know-how; 5. Interesses humanos, -na Base desta motivação esta muitas vezes o interesse por outras culturas e estilos de vida; 6. Razões étnicas presença de minorias étnicas numa dada comunidade pode motivar o envolvimento de um município na CIM; 7. Proximidade geográfica língua, problemas ambientais idênticos. De um modo geral, a vontade de envolvimento dos municípios em actividades de cooperação e em geminações passa pela escolha dos parceiros nomeadamente, as semelhanças, demográficas geográficas, laços históricos e/ ou culturais. Outro dado importante é que a cooperação intermunicipal pode também ser concretizada através de protocolos de colaboração. Estes dada a sua natureza mais especifica, dão normalmente lugar à transferências de conhecimento, realizada ao nível de cooperação técnica, tirando partido do desenvolvimento das capacidades e põe um forte envolvimento do município e dos seus serviços técnicos especializados. Diz respeito a formação dos Recursos Humanos em áreas específicas como sejam o saneamento (recolha e tratamento de resíduos, luta contra a poluição), os transportes urbanos, a qualidade de vida, a reabilitação do património imobiliário, a gestão municipal, etc. As intervenções dos técnicos fazem-se ao nível dos estudos preliminares, da elaboração dos projectos da formação do pessoal e da transferência de tecnologias. Um outro tipo de protocolo tem a ver com as transferências de conhecimento em domínios mais teóricos, ligados à elaboração de políticas locais. Pela sua natureza é frequente a assinatura simultânea de protocolos de colaboração /cooperação aquando do acto da geminação, o inverso já é menos frequente ou seja podem existir protocolos de colaboração que ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 133 ainda não deram lugar a acordos de geminação. 3.11.5. A CIM nas Relações Internacionais A rápida evolução das relações internacionais na última década com o crescente fosso N/S, entre outros factores fez emergir movimentos na sociedade civil, nomeadamente, com a criação de muitas ONG, associações locais e mesmo departamentos internacionais dentro dos municípios, nos anos 70, 80, com o objectivo de influenciar directamente as relações N/S, através de acções de sensibilização e de educação para o desenvolvimento. Ao mesmo tempo, foram tendo lugar conferencias para debate do papel dos municípios e das ONGs na cooperação para o desenvolvimento sendo exemplo disso a federação mundial das cidades unidades e vilas geminadas (MMCU-VG) e a união internacional das autoridades locais. Ambas foram importantes para a emergência do movimento das geminações. A primeira conferencia internacional cidades na cooperação para o desenvolvimento, em Florença (1983), ONDE SE DISCUTIU a participação dos municípios nas actividades de cooperação. Em consequência deste debate, constitui-se um consórcio internacional de cooperação de Associações municipais e ONG. Em 1985 realizou-se em colónia a primeira conferência europeia sobre as cidades o desenvolvimento que deu mais tarde à declaração de colónia, a qual dirigida ao municípios e as ONG, incita a desenvolverem acções conjuntas e a participarem de uma forma mais activa na ajuda ao desenvolvimento e à cooperação, tirando partido de toda a sua variedade de recursos e capacidades contribuindo por essa via a para a mudança de relacionamento entre o norte e o sul. Centrada nas cidades e no desenvolvimento, a declaração de Colónia marca uma nova abordagem no quadro da descentralização da ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 134 cooperação N/S, pois coloca a ênfase na cooperação das ONGD e das cidades e atribui um importante papel as comunidades rurais. Todavia, dado o estado embrionário da cooperação municipal, as intenções da declaração não surtiam os efeitos desejados. Em 1988, o Conselho da Europa promoveu a conferência sobre a interdependência e solidariedade, em Madrid, recomendando a cooperação descentralizada. Em 1990, no Zimbabwe, é dado novo alento cooperação intermunicipal N/S, com a realização da conferência internacional Norte-Sul de trabalho conjunto para o desenvolvimento, da qual resultou a declaraçãode Bulawayo entusiasticamente recebida em África. Em Marco de 1992, teve lugar na Índia uma conferência semelhante à de Colónia de onde surgiu a declaração de SEVAGRAM , que chama atenção para a necessidade de uma maior justiça na índia através da actuação local. Em Outubro de 1992, teve lugar em Berlim, uma conferência sobre as iniciativas locais para o desenvolvimento sustentável, da qual saiu a carta de Berlim – Juntos para o desenvolvimento sustentável e um relatório analítico sobre aspectos significativos para as organizações locais. Em 1995, realizou-se em Haia a conferência relativa ao tema um mundo municípios: A forma local de inovar na cooperação internacional. a promoção da compreensão deste fenómeno a melhoria da qualidade de cooperação internacional entre os municípios, o reconhecimento da CIM como uma importante contribuição para a cooperação descentralizada e incentivar outros municípios a envolver se em neste tipo de relacionamento foram alguns dos objectivos da reunião. Uma também importante forma de cooperação do desenvolvimento direccionado para os poderes e populações locais é a cooperação sul/sul através da disseminação de ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 135 experiências entre municípios do sul, ainda que existam ainda poucos exemplos deste tipo de colaboração. O seu sucesso e incremento inicial parece ser facilitado pela intervenção de uma terceira parte, sejam eles os doadores bilaterais ou multilaterais, as ONG ou outros municípios. Paralelamente à realização destas conferências foram surgindo outras formas de promoção do envolvimento dos municípios em aspectos mais globais, que passaram a acompanhar temas como a Paz, direitos humanos e ambiente. 3.11. 6. Potencialidades e Limitações da CIM Entre as potencialidades que a CIM apresenta, destaca-se desde logo , a função de educação para o desenvolvimento , ao potenciar a consciência pública sobre a interdependência Norte/Sul e a sua compreensão em relação a outras sociedades e culturas. Do mesmo modo, pode servir de mecanismo de pressão institucional, ao focalizar- se na desigualdade das relações entre as diversas partes do mundo e para a necessidade urgente de uma maior equidade e solidariedades internacionais. Ao criar ligações entre poderes locais e ao proporcionar o envolvimento das sociedades, pode contribuir para aumento das trocas da amizade da valorização cultural e, ao mesmo tempo estimular a emergência da sociedade Civil do Sul. Ao ter um melhor conhecimento das carências económicas e sociais de uma sociedade menos desenvolvida, as geminações poderão atenuar e contrariar os efeitos dos programas de ajustamento estrutural do fundo monetário internacional por vezes verdadeiras terapias de choque. Dados os problemas que se colocam ao poder local em África, nomeadamente em termos de eficiência administrativa, escassez de recursos humanos capacitados e ausência de instituições efectivas, a politica de ajuda ao desenvolvimento tornou-se um instrumento ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 136 importante em termos de formação e de desenvolvimento dos recursos humanos locais e de capacitação administrativa no fortalecimento das instituições locais. Se bem que o poder local é apenas um dos aspectos a equacionar no desenvolvimento de um País, há, todavia, todo o interesse na descentralização e liberalização em curso nos Países em desenvolvimento, bem como no fortalecimento do poder local e regional. Como consequência da globalização e directamente relacionada com a reavaliação do papel do estado no processo de desenvolvimento, há em muitos Países Africanos um reconhecimento de que as questões do desenvolvimento local não podem ser equacionadas apenas através de iniciativas do Governo central. Trata-se aqui da aplicação prática do princípio da subsidiariedade. As geminações poderão também ser um importante veículo de partilha de conhecimento s, experiencias e assistência técnica, com o intuito de aumentar a capacidade de gestão, diminuir os custos de realização e aumentar o rendimento. As relações profissionais entre organismos que exercem actividades semelhantes têm a vantagem de serem complementares e poderem evoluir ao longo do tempo. Ao mesmo tempo, a longa duração da geminação permite o aprofundamento das relações interpessoais, característica que os outros tipos de cooperação não permitem. Por outro lado permite a criação de comunidades participativas e também um dos aspectos fundamentais da CIM, ao assegurar a manutenção de uma dimensão humana nas relações de cooperação. Contudo, se as potencialidades são enormes, existem inúmeros obstáculos que se deparam aos municípios no desenvolvimento das suas actividades de cooperação. Os constrangimentos à expansão da CIM são mais internos do que externos, resultam de factores endógenos e exógenos. Sem dúvida alguma que a maior limitação está relacionada com os recursos financeiros e humanos e com a pouca autonomia local. Muitas vezes para contornar este problema recorre-se a um terceiro parceiro, que muitas agências doadoras ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 137 já finariam a alguns programas de cooperação intermunicipal, aumentando, deste modo, tanta capacidade financeira como os recursos humanos. Todavia, este é ainda um processo embrionário, onde os mecanismos de incentivo e apoio à concretização de acções são incipientes, contribuído para uma sobrecarga dos orçamentos municipais. Outro grande obstáculo relaciona-se com a inexistência de capacidades por parte do poder local e regional e pelo fraco envolvimento da sociedade civil. De facto, no Sul, existe uma tensão permanente entre os planos nacional e local, traduzida numa grande competição. Por outro lado, a legitimidade destes poderes decorrentes do poder central, tratando-se mais de uma desconcentração do que de uma descentralização político-administrativa, agravada pela ausência de quadros e de parceiros capazes de empreender acções de cooperação inseridas em estratégias de desenvolvimento mais vastas. Contudo décadas de desenvolvimento planeado e assistência conduziram à inevitável conclusão de que o desenvolvimento económico por si só, não trará um desenvolvimento equilibrado e sustentável. Durante muito tempo, o enfoque no aspecto económico significou a exclusão de factores políticos, sociais e ambientais e culturais contribuindo para que perante o aumento dos níveis de pobreza e a rápida degradação ambiental, se consolidasse cada vez mais a ideia que o desenvolvimento deve ser centrado nas pessoas, a riqueza equitativamente distribuída e ambiente cada vez mais saudável. 3.11.7. O Desenvolvimento Local – As Novas Autoridades A incidência dos factores anteriormente descritos é naturalmente diferente na Europa e ou em África, mas o que é inegável é que aqueles factores encontram-se em todos os recantos desta aldeia global. Este ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 138 enquadramento permite obter uma multiplicação, em todos os continentes em vários Países com contornos e resultados diferenciados, de incitativas, processos e experiências comunitárias designados normalmente por desenvolvimento local. São iniciativas e projectos que procuram responder a necessidades locais, e tem encontrado respostas globais nomeadamente através de: Fórmulas locais de regulação social, económica, politica, etc. Mobilização das capacidades e recursos locais de forma integrada; Utilização de rede de solidariedade e identidades locais.Sumário Nesta Unidade temática estudamos e discutimos fundamentalmente três itens em termos de considerações gerais á disciplina de Contabilidade Geral: 1. Administração Municipal; 2. Analise critica da descentralização e; 3. Cooperação intermunicipal 3.11.8 Exercícios de Autoavaliação 1. De entre vários conceitos abordados neste capítulo defina os seguintes: a) Descentralização; b) Desconcentração; c) Devolução; d) Circunscrição territorial. 2. Quais são os elementos que definem uma autarquia local? ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 139 3. Durante o processo de sua introdução, os Municípios passaram por várias fases e critérios. Indique critério usado para classificar os municípios? 4. Refira-se aos órgãos de Administração Municipal qual a função de um deles? 5. O regime financeiro das autarquias locais implica a existência de vários princípios. a) Em poucas palavras, em que consiste o princípio de estabilidade orçamental e o de equidade interageracional? 6. As geminações com municípios de outros países são uma realidade. A independência, a história do poder local e o passado comum pode ajudar a definir os modos de cooperação. a) Indique 2 municípios moçambicanos que foram abrangidos por uma cooperação intermunicipal. 7. É verdade que a cooperação intermunicipal realiza-se por áreas. Explique em que consiste a cooperação na área de infra- estrutura. Saneamento básico, urbanismo e ambiente. 8. No âmbito dos respectivos protocolos de geminações é possível identificar áreas de intervenção cujo objectivo é não só aumentar o nível do bem-estar das populações envolvidas, mas também a qualidade de vida das mesmas. Quais são as áreas de maior intervenção nas geminações entre municípios moçambicanos e portugueses? 9. Formas da CIM, apresente algumas das motivações para a formalização das relações entre os Municípios. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 140 3.11.9. Resolução de Exercícios de Autoavaliação 1 a) A descentralização está ligada ao conceito de delegação, ou seja, a transferência de recursos, tarefas, poder de decisão para as autoridades hierarquicamente inferiores, que são ou independentes do Governo central, ou democraticamente eleitas. Deste modo, a “delegação”, encarada como uma descentralização democrática será o conceito que irá ser utilizado neste estudo, pelo que sem recorrer a conceitos do direito civil e administrativo, a descentralização pode ser definida como a Organização das actividades da administração central fora do Governo central. A descentralização é a transferência ou delegação da autoridade judicial, planeamento, tomada de decisões e gestão de actividades de nível central as suas agências, organização no terreno de unidades subordinadas ao governo, empresas publicas semi-autonomas ou órgãos governamentais. b) A desconcentração envolve uma transferência limitada de poderes na tomada de decisões a funcionários a nível local sem nenhum instrumento de suporte. c) Contudo, devolução envolve plena autoridade na tomada de decisões e envolvimento da comunidade a nível local, com termos estatutários para uma acção autónoma daqueles sectores mandatados por eles. d) Circunscrição territorial o substrato da autarquia local é um agregado de pessoas definido pela residência em certa circunscrição do território do Estado. e) Trata-se de uma pessoa colectiva territorial ou da população e território. Mas este território é talhado dentro do território do Estado, por uma lei dimanada dos respectivos órgãos de soberania, que o delimita ou circunscreve segundo as tradições e as conveniências da administração. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 141 f) A relação de geminação consiste em promover relações de amizade, intercâmbio e apoio mútuo. Embora muitas não passem de acto formal, as potencialidades quanto à sua utilização enquanto canais de cooperação são grandes. Através delas podem-se desenvolver acções conjuntas, apoiar os parceiros do sul em questões que são rotineiras para os municípios de Países desenvolvidos mas que exigem um considerável esforço no do sul ( infra-Estruturas básicas, abastecimento de agua, recolha e tratamento de resíduos etc). 1. A circunscrição territorial, o agregado de pessoas, os interesses comuns, os órgãos próprios. 2. Três critérios podem ser adoptados: o da Índole social dos municípios, o da população e o fiscal. O critério da índole social dos municípios leva à classificação fundamental em duas grandes ordens: a dos municípios urbanos e dos municípios rurais. São municípios urbanos aqueles em que a parte principal da população está aglomerada num mesmo centro residencial e aí exerce toda a espécie de profissões numa ampla divisão e especialização do trabalho. Desta complexa actividade e da aglomeração populacional nascem os problemas característicos das cidades os de arruamento, habitação, higiene, cultura física e intelectual, expansão, segurança, comunicações, abastecimento, iluminação, assistência etc. Os concelhos urbanos subdividem-se conforme a sua actividade predominante em industriai, comerciais, mineiros, marítimos, suburbanos e grandes cidades. São municípios rurais – aqueles cuja população se dedica, pela maior parte, à cultura da terra, quase sempre em povoamento disperso, de modo que a sede desempenha apenas o papel de centro administrativo e económico, sem o predomínio residencial e a preponderância social que lhe cabe nos ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 142 municípios urbanos. 3. O concelho municipal; A câmara municipal; a) O Presidente da câmara municipal. Conselho Municipal-é uma Assembleia composta do presidente da câmara e de representantes. Esta assembleia tem carácter representativo, e da sua composição se depreende o conceito orgânico que o legislador forma de município, considerando, não como simples conjunto de indivíduos – cidadãos, mas como expressão orgânica da convivência de famílias agregadas. As funções do concelho municipal podem classificar-se em: - Função eleitoral, quando elege os vereadores; - Função moderadora, quando como fiscal da actuação do presidente da câmara municipal e dos vereadores, podendo requerer ao Governo inquérito aos actos daquele e revogar o mandato destes, de modo a manter o equilíbrio dos dois elementos (de nomeação e electivo) que compõem a câmara 6 a) O princípio da estabilidade orçamental pressupõe, na aprovação e execução dos orçamentos, a sustentabilidade financeira das autarquias locais, bem como uma gestão orçamental equilibrada, incluindo as responsabilidades contingentes por si assumidas. As autarquias locais não podem assumir compromissos que coloquem em causa a respectiva estabilidade orçamental. Princípio da equidade intergeracional -A actividade financeira das autarquias locais está subordinada ao princípio da equidade na distribuição de benefícios e custos entre gerações, salvaguardando as suas legítimas expectativas através de uma distribuição equilibrada dos custos pelos vários orçamentos num quadro plurianual. O princípio implica a apreciação no plano da incidência orçamental, a apreciação, nomeadamente, dos investimentos aprovados, dos encargos com ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 143 passivos financeiros, das necessidades de financiamento das entidades participadas pela autarquia, dos compromissos orçamentais e das responsabilidades contingentes, dos encargos explícitose implícitos em parcerias público-privadas, concessões e demais compromissos financeiros de carácter plurianual, bem como da despesa fiscal, nomeadamente compromissos futuros decorrentes de isenções fiscais concedidas, pelos municípios. 7 CM Coimbra vs Cidade da Beira, oferta de 500 livros a biblioteca municipal; CM Loures vs CM Matola, envio de equipamento de saneamento básico 8 . Área de infra-estruturas, saneamento Básico, urbanismo e ambiente Apoio ao estudo e execução de infra-estruturas, cujo objectivo seja a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar das populações; Apoio à formação de técnicos, a realizar em Moçambique em áreas a definir. 9 Agricultura e pescas; -Formação agrária e de pessoal ligado às pescas; -Formação em matéria de gestão do meio ambiente. Cultura, Juventude e desportos; -Investigação cultural’ -Cooperação a nível da Biblioteca; -Recuperação do património histórico. Indústria, comércio e turismo; -Formação em gestão empresarial para os agentes económicos; -Desenvolvimento do turismo. Obras Públicas e Habitação - Construção; ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 144 - Saneamento e gestão ambiental; Cooperação a nível de estradas. Saúde - Construção e reabilitação de estruturas; - Saneamento básico e salubridade; Programas de estudo e combate ao sida. Administração - Formação de quadros da administração; -Gestão de serviços urbanos; -Planeamento físico; Gestão financeira e patrimonial. ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 145 4.0. Bibliografia Referência do documento impresso José António Oliveira Rocha e Gonçalves Jonas Bernardo Zavale, « O Desenvolvimento do Poder Local em África: O caso dos municípios em Moçambique », Cadernos de Estudos Africanos, 30 | -1, 105-133. Referência electrónica José António Oliveira Rocha e Gonçalves Jonas Bernardo Zavale, « O Desenvolvimento do Poder Local em África: O caso dos municípios em Moçambique », Cadernos de Estudos Africanos [Online], 30 | 2015, posto online no dia 14 Dezembro 2015, consultado o 10 Agosto 2016. URL : http://cea.revues.org/1879 ; DOI : 10.4000/cea.187 José António Oliveira Rocha Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal jaoliveirarocha@gmail.com Gonçalves Jonas Bernardo Zavale Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal dambuzaz@yahoo.com.br Os DOI (Digital Object Identifier) são agora acrescentados automaticamente às referências bibliográficas por Bilbo, a ferramenta de anotação bibliográfica do OpenEdition. Os utilizadores das instituições que subscrevem um dos programas Freemium do OpenEdition podem descarregar as referências bibliográficas para as quais Bilbo encontrou um DOI. Araújo, S. (2008). Pluralismo jurídico em África: Ficção ou realidade? Revista Crítica de Ciências https://cea.revues.org/1883 https://cea.revues.org/1884 ISCED CURSO: Administração Publica 30 Ano Disciplina/Administração Autárquica 146 Sociais, 83, pp. 121-39. doi: 10.4000/rccs.468 Awortwi, N. 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UNIDADE Temática I Objectivos específicos; Unidade Tematica 1.0.Evolução histórica; Unidade tematica1.1.Adminstracao Local no período colonial; Unidade tematica 1.2. Administração Local pós-independência; Unidade Tematica 1.3Adminstracao Local moçambicana; Unidade Tematica1.4Autoridades tradicionais; Unidade Tematica 1.5Legitimidade do poder local em Moçambique; Unidade Tematica1.6 Pluralidade politica do poder local; Unidade Tematica1.7 Exercícios de Auto avaliação; Unidade tematica1.8 Resolução dos Exercícios de autoavaliação. Introdução A Administração Autárquica é uma área nova no contexto moçambicano. Só com a aprovação da revisão constitucional de 1990 é que a lei permite uma abertura para a sua implantação. Hoje Moçambique está enfrentando os desafios da implantação das autarquias locais por ser ainda Uma realidade nova. Ao longo deste modo ira ser debruçado no I Capitulo o processo da evolução Histórica passando pela chegada dos portugueses em Moçambique e a implantação da maquina administrativa colonial. No segundo capitulo, está patente o controlo, tutela, já criadas as autarquias locais há necessidade de se Estabelecer algum nível de controlo das suas actividades assim com para Cumprir com o princípio Constitucional de unicidade do Estado moçambicano. No terceiro capítulo, dentre outros aspectos versa sobre a descentralização no Geral, o surgimento das autarquias locais, sua classificação. Há também um Olhar sobre as geminações que na verdade são formas de cooperação (CIM). Objectivos Gerais No final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de: 1. Explicar a estrutura prismática da administração moçambicana; 2. Perceber o processo de criação dos concelhos em Moçambique; 3. Explicar o processo de surgimento das companhias em Moçambique; 4. O papel do partido Frelimo na implementação da nova administração; 5. Diferenciar a lei 3/94 e a lei 2/97, sobre o poder local; 6. Indicar as primeiras regiões onde foram instalados os primeiros Municípios; 7. Explicar o papel dos Grupos dinamizadores. Unidade Temática I Introdução Objectivos específicos Mostrar o processo da evolução da administração; Apresentar a importância da autoridade tradicional. No final desta unidade temática, o estudante deve ser capaz de: (1) 8. Explicar a estrutura prismática da administração moçambicana; 9. Perceber o processo de criação dos concelhos em Moçambique; 10. Explicar o processo de surgimento das companhias em Moçambique; 11. O papel do partido Frelimo na implementação da nova administração; 12. Diferenciar a lei 3/94 e a lei 2/97, sobre o poder local; 13. Indicar as primeiras regiões onde foram instalados os primeiros Municípios; (1) 14. Explicar o papel dos Grupos dinamizadores. 1.0. A Historia da Administração 1.1.Administração Local no Período Colonial 1.2. Administração Local Pós-Independencia Quadro 1: Principais Diferenças entre a Lei 3/94 e a Lei 2/97 sobre o Poder Local 1.3.Administração Local Moçambicana Quadro 2: Primeiros Municípios de Moçambique (Cidades e Vilas) Quadro 3: Evolução da dimensão administrativa de Moçambique Figura 1: Estrutura dos Órgãos Locais-Distrito, Posto Administrativo, Localidade 1.4.Autoridades Tradicionais Figura 2: Administrações Locais 1.5. Legitimidade do Poder Local em Moçambique 1.6.Pluralidade Politica do Poder Local Quadro 5: Pluralismo Jurídico-administrativo em Moçambique: Articulação entre AT,GD CM Quadro 6: Pluralismo Jurídico-administrativo em Moçambique articulação entre CM e chefes tradicionais Quadro 7: Pluralismo Jurídico-administrativo em Moçambique articulação entre CM e GD Quadro 8: Pluralismo Jurídico Administrativo em Moçambique abolição dos Chefes Tradicionais Quadro 9: Pluralismo Jurídico Administrativo em Moçambique abolição dos GD Sumário 1.7. Exercícios de auto avaliação 1.8.Resolução dos Exercícios de Autoavaliação UNIDADE Temática II : 2.0. Objectivos específicos 2.1. A velha e nova Administração Local; 2.2. As Empresas Municipais e Intermunicipais; 2.3 Concessão da Exploração de Serviços Públicos; 2.4 Regulamentação, Fiscalização e Tarifas; 2.5 Relação entre o Poder Central e o Poder Local; 2.6 A Razão do Controlo; 2.7 Cidadania e o Controlo; 2.8.0. Organização da Tutela Administrativa; 2.8.1. Órgãos de Tutela; 2.8.2.Órgãos centrais; 2.9.0.O MAEFP como órgão central da tutela Administrativa; 2.9.1. A Inspecção Administrativa do Estado; 2.9.2Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa; 2.9.3. Acções Correctivas; 2.9.4 O Ministério da Economia e Finanças; 2.9.5 A inspecção Geral das Finanças; 2.9.6. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento; 2.9.7 Os Meios dos órgãos de Tutela; 2.9.8 A inspecção; 2.9.9 O inquérito; 2.9.10.Sindicancia; 2.9.11 Ratificação; 2.9.12 Exercícios deAutoavaliação; 2.9.13. Resolução dos exercícios de autoavaliação Introdução (1) Logo após a implementação da administração pública pelo Governo moçambicano, surge a necessidade de descentralização, devendo esta ser de forma gradual devido a escassez dos recursos. Sedo assim no âmbito da descentralização surge as Autarquias Locais... 2.0. Objectivos específicos No final desta unidade temática o estudante deverá ser capaz de: 2.1. A Velha e a Nova Administração Local 2.2. Concessão da Exploração de Serviços Públicos 2.3.Regulamentação, Fiscalização e Tarifa 2.5.A Relação entre o Poder Central e o Poder Local 2.5. A Razão do Controlo 2.6.A Cidadania e o Controlo 2.7.0. Organização da Tutela Administrativa 2.7.1. Órgão de Tutela 2.7.2. Órgãos Centrais 2.7.3.O Ministério da Administração Estatal e Função Pública como Órgão Central da Tutela Administrativa 2.7.4. Inspecção Administrativa do Estado 2.7.5. Acção Pedagógica da Inspecção Administrativa 2.7.6. Acções Correctivas 2.7.7. Ministério da Economia Plano e Finanças 2.7.8. A Inspecção Geral das Finanças 2.7.9. A Direcção Nacional do Plano e Orçamento 2.8.0. Meios dos Órgãos de Tutela 2.8.1. A Inspecção 2.8.2. O Inquérito 2.8.3. Sindicância 2.8.4. Ratificação Sumário (1) 2.8.5. Exercícios de autoavaliação 2.8.6 Resolução dos Exercícios de autoavaliação UNIDADE Temática III; Introdução; 3.0.Objectivos específicos; 3.1.Novos Instrumentos de gestão; 3.2 Operacionalização do conceito de descentralização; 3.3 Enquadramento Histórico politico; 3.4 O Conceito de Descentralização; 3.5Formas de Descentralização; 3.6.0 Enquadramento legislativo da lei 3/94 das Eleições Autárquicas de Junho de 1998; 3.6.1. Reformas Administrativas; 3.6.2. Opções de descentralização para Moçambique; 3.6.3. uma primeira análise crítica do processo de descentralização e desconcentração; 3.7.0. As Autarquias Locais; 3.7.1. O Concelho; 3.7.2. Classificação dos Municípios; 3.7.3. Atribuições Municipais; 3.7.4. “órgão da Administração municipal; 3.8.0 Serviços Especiais; 3.8.1.os Serviços Municipalizados; 3.8.2 Regime financeiro das Autarquias locais; 3.9.0. As agências doadoras multilaterais e bilaterais; 3.9.1. Participação: Autarquia Parceira (Cooperação lusófona); 3.9.2 áreas de cooperação; 3.9.3. Formação de quadros; 3.9.4 Cultura e património histórico; 3.9.5 Infra-estrutura, saneamento básico, urbanismo e ambiente; Geminações Portugal Moçambique; 3.10.0 Protocolos entre ICP e a ANMP; 3.10.1 Na área de educação e formação de quadros; 3.10.2. Na área de infra-estruturas, saneamento básico, urbanismo e ambiente; 3.11.0. Outras instituições; 3.11.1. Análise da CIM com Moçambique; 3.11.2. Operacionalização da CIM; 3.11.3. Conteúdo da CIM; 3.11.4. Formas da CIM; 3.11.5. CIM nas Relações Internacionais; 3.11.6. Potencialidades e limitações da CIM; 3.11.7 O Desenvolvimento Local- As novas autoridades; 3.11.8 Exercícios de Autoavaliação; 3.11.9 Resolução dos Exercícios de Autoavaliação Introdução (2) Devido as semelhanças climáticas, culturais entre outros, as Autarquias Locais abrem um novo campo de acção denominado cooperação intermunicipal. O surgimento das autarquias locais, suas características e funcionamento. 3.0. Objectivos específicos No final desta unidade temática cada estudante deverá ser capaz de 3.1.0. Novos Instrumentos de Gestão 3.2. Enquadramento Histórico Politico 3.3.O Conceito de Descentralização 3.4. Formas de Descentralização 3.5.0. Enquadramento Legislativo da Lei 3/94, das Eleições Autárquicas de Junho de 1998 3.6.0. Reformas Administrativas 3.6.1. Opções de Descentralização para Moçambique 3.6.2. Uma Primeira Analise Crítica do Processo de Descentralização e Desconcentração Figura 3: Pluralismo Jurídico do Poder Local em Moçambique 3.7.0. As Autarquias Locais 3.7.1. O Concelho 3.7.2. Classificação dos Municípios 3.7.3. Atribuições Municipais 3.7.4. Órgãos da Administração Municipal 3.8.0. Serviços Especiais 3.8.1. Os Serviços Municipalizados 3.8.2. Regime Financeiro das Autarquias A aprovação deste novo regime financeiro local prevêem-se um conjunto de princípios fundamentais que pretendem assegurar uma efectiva coordenação entre administração central e local no plano financeiro e contribuir para o controlo orçamental e para a ... Pode, excepcionalmente, ser inscrita no Orçamento do Estado uma dotação para financiamento de projectos de interesse nacional a desenvolver pelas autarquias locais, de grande relevância para o desenvolvimento regional e local, correspondentes a políti... 3.9.0. As Agências Doadoras Multilaterais e Bilaterais Organização das Nações Unidas O Banco Mundial O Pnud A Unicef Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Económico(OCDE) Banco Europeu da Reconstrução e Desenvolvimento(BERD) O Concelho da Europa União Europeia 3.9.1. Participação : A Autarquia Parceira 3.9.2. Áreas de Cooperação 3.9.3. Cultura e Património Histórico 3.9.4. Infra-Estrutura, Saneamento Básico, Urbanismo e Ambiente Quadro 10: Geminações entre Moçambique e Portugal 3.10.0. Protocolos entre o ICP e a ANMP Quadro 11: Cooperação Intermunicipal com Moçambique 3.10.1. Na Área de Educação e Formação de Quadros 3.10.2. Na Área de Infra-Estrutura, Saneamento Básico, Urbanismo e Ambiente 3.10.3. Na Área de Apoio em Materiais e Equipamentos Quadro 12: Cooperação Intermunicipal com Moçambique -1999 3.11.0. Outras Instituições 3.11. 1. Análise da CIM com Moçambique 3.11.1.Opercionalização da CIM 3.11.3. Conteúdo da CIM 3.11. 4. Formas da CIM 3.11.5. A CIM nas Relações Internacionais 3.11. 6. Potencialidades e Limitações da CIM 3.11.7. O Desenvolvimento Local – As Novas Autoridades Sumário (2) 3.11.8 Exercícios de Autoavaliação 3.11.9. Resolução de Exercícios de Autoavaliação 4.0. Bibliografia Referência electrónica José António Oliveira Rocha Gonçalves Jonas Bernardo Zavale