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O filme conta a história de Memo e sua filha Ova, Memo apresenta algum transtorno mental não especificado, todos dizem que ele "não entende”, “é meio burro” e sua mãe diz a Ova que ele “tem a mesma idade do que ela”. No início do filme, Ova vê uma mochila na vitrine e seu pai diz que vai conseguir dinheiro para comprá-la vendendo maçãs no desfile. Neste dia, quando consegue o dinheiro, chega na loja e vê que outra criança já havia comprado, essa criança era filha do coronel, que bate em Memo quando ele insiste em comprar a mochila. No mesmo dia, mais tarde, Memo está pastorando as ovelhas quando encontra a mesma garota da mochila, e ela começa a brincar com ele de correr pelo pasto, até que se aventura em uma pedra, se desequilibra e cai batendo a cabeça. A garota morre na hora, e Memo vai ao seu resgate na água, quando a família dela chega na cena, julgam que ele a matou; mas, um desertor escondido nas ruinas viu tudo. Memo é preso e espancado até que assine sua confissão, os capangas o forçam a colocar sua digital na folha mesmo que Memo não tenha a menor noção do que está acontecendo, sem que tenha seus direitos apresentados ou respeitados, demonstrando o abuso de poder por aqueles que ocupam os maiores postos. Após a confissão "assinada”, Memo é transferido para o presídio e alocado na cela 7, é claro que o personagem não deveria ter recebido a sanção penal que recebeu, muito menos poderia ter ficado preso no local em que ficou, ninguém pode ser condenado sem o devido processo legal e a ampla defesa. A cela é coletiva, e o detento que comanda exige saber o que Memo fez para estar ali, e ao descobrir, prepara uma surra coletiva nele. Após alguns dias e certas situações se desenvolverem, os detentos da cela percebem que Memo não poderia ter sido capaz de realizar aquele crime, ainda mais depois de descobrirem sobre sua relação com Ova. Após algum tempo, Memo é condenado à morte na forca. Os detentos organizam uma visita de Ova para Memo dentro da cela, já que este estava proibido de receber visitar; Ova é levada dentro do carrinho de chá, e tem um reencontro emocionante com seu pai. No meio da conversa com os detentos na cela, a menina relata que encontrou o desertor que testemunhou o “crime”, iniciando uma busca dos detentos e diretor do presídio por este homem para conseguir salvar a vida de Memo. Infelizmente, o coronel o encontra primeiro e ao escutar o relato do homem, o mata, destruindo as chances de inocentar Memo e demonstrando que não se importa com a justiça e a vinculação legislativa do Direito Penal, buscando apenas encontrar um culpado para o que aconteceu com sua filha. É natural do ser humano transformar sua dor em desejo de vingança, mas o Estado não pode legitimar uma vingança privada, é nesse sentido que se insere o Direito Penal, para distinguir se o acusador busca apenas a vingança cega e onde a ação penal é realmente necessária. O poder do coronel o sobe à cabeça e seu privilégio facilita a utilização da máquina estatal para viabilizar sua vingança contra Memo, mesmo tendo provas de que o sujeito é inocente. Memo demonstra como a pena não tem sentido para uma pessoa que não compreende o que acontece à sua volta, mesmo que ele fosse realmente responsável pela morte da criança, uma pessoa Psicologia Jurídica Análise do Filme ‘O Milagre na Cela 7’ Laura P. da Encarnação daquela condição psicológica, além de não ter consciência do ato que o levou até a prisão, não tem também noção do castigo que está passando. Memo deveria ser uma pessoa inimputável, por apresentar uma condição mental em que ele é totalmente incapaz de entender o ato, mas devido ao fato de ter sido associado a morte da filha do coronel em um país com forte ditadura, o consideraram como imputável. Muitas vezes no filme, os personagens comentam que Memo foi considerado como são, mesmo claramente não sendo. De qualquer forma, se ele tivesse realmente cometido o crime, sua pena deveria ser reduzida ou substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, no entanto, Memo foi condenado à morte! Os direitos de Memo são todos negados, aproveitando-se da situação do indivíduo que sequer tem consciência destes. Os direitos de comunicação da prisão, de defesa técnica, de recurso, de apresentação de testemunha, de não ser torturado, de a confissão não poder ser prova suficiente e única devem ser garantidos a todos, sem exceção, somente a partir do exercício destes direitos é que será possível identificar se a acusação é real ou não, proporcional ou não. No final do filme, Memo consegue escapar da forca com a ajuda dos detentos da cela, o diretor da prisão e o tenente; outro detento da cela se voluntaria a ir para a forca no lugar de Memo em busca da redenção espiritual pelo seu próprio crime, ter matado sua filha. Memo reencontra sua filha e eles fogem da cidade juntos à noite de barco. Apesar do final feliz para o pai e filha, o filme traz uma lição jurídico- penal que propõe a reflexão sobre como um milagre pode ser realizado apenas a partir de garantias de direitos que os próprios homens podem estabelecer como regras legislativas.