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1995-dis-jwgaldino

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A INTERMEDIAÇÃO E OS PROBLEMAS 
SOCIO-ECONÔMICOS NO DEFESO DA PESCA 
DE LAGOSTAS EM REDONDA, ICAPUÍ (CE) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
José Wilson Galdino 
 
 
 
 
 
 
Dissertação Submetida à Coordenação do Curso de 
Mestrado em Economia Rural, do Departamento 
de Economia Agrícola do Centro de Ciências 
Agrárias, da UFC, como requisito parcial 
para a obtenção do grau de mestre. 
 
Universidade Federal do Ceará 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL 
 
1995 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Elaborada Por: 
 Maria Josineide Silva Góis CRB-3/657 – Bibliotecária/UFC 
 
 
 
 
 
 
 
 G149i Galdino, José Wilson 
 A intermediação e os problemas socioeconômicos no defeso da 
pesca de lagostas em Redonda, Icapuí (CE)./ José Wilson Galdino. 
- Fortaleza, 1995. 
 
 150p fl. il. 31 cm. 
 Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará. Progra-
ma de Pós-Graduação em Economia Rural, Fortaleza (CE), 1995. 
 Orientador: Prof. José Ribamar Furtado de Souza, PhD. 
 1- PESCA ARTESANAL – REDONDA, ICAPUÍ (CE). 2- INTERMEDIAÇÃO 
NA PESCA. 3- COMUNIDADES LITORANEAS. 4- PESCA DE LAGOSTAS - 
DEFESO. I- Souza, José Ribamar Furtado de (Orient.). II- Universidade Fede-
ral do Ceará. Programa de Pós-Graduação em Economia Rural. III- Título. 
 CDD: 639.2 
 
Esta dissertação foi submetida à Coordenação do Curso de Mestrado em 
Economia Rural, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Grau de Mes-
tre, outorgado pela Universidade Federal do Ceará. Um exemplar da presente pes-
quisa encontra-se a disposição dos interessados na biblioteca do Departamento de 
Economia Agrícola da referida instituição. 
A citação de qualquer trecho desta dissertação é permitida desde que seja 
feita de conformidade com as normas da ética científica. 
 
 
 
 
 
_________________ 
José Wilson Galdino 
 
 
 
 
 
DISSERTAÇÃO APROVADA EM: 12/12/1995. 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________ 
Prof. José Ribamar Furtado de Souza, PhD. 
Orientador 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________ 
Prof. Antonio Adauto Fonteles Filho, PhD. 
 
 
 
 
 
 
_____________________________________ 
Prof. Roberto Claudio de Almeida Carvalho, Ms. 
 
 
 
 
Aos meus pais, JOÃO GALDINO e MARIA NELSA, pela educação e orientações que ali-
cerçam minha vida. 
Meu reconhecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A VALÉRIA, DAVI E MARTA 
pelo amor, carinho, companheirismo, 
estímulo e confiança 
D E D I C O 
 
 
 
 
 
NOSSOS AGRADECIMENTOS 
 
 
 
A DEUS, pelo dom da vida e pela luz que me acompanhou desde a deci-
são até a conclusão desse trabalho. 
Ao professor Dr. José Ribamar Furtado de Souza, pelo incentivo, acuida-
de nas críticas e sugestões durante o transcorrer de sua competente e segura orien-
tação da pesquisa. 
Aos professores, Dr. Antonio Adauto Fonteles Filho e Roberto Cláudio de 
Almeida Carvalho, pelas suas observações, construtivas críticas e modificações su-
geridas na proposta inicial do relatório, como membros da Banca Examinadora. 
Aos professores e funcionários do Departamento de Economia Agrícola 
da Universidade Federal do Ceará, pelo apoio intelectual, novos conhecimentos 
transmitidos e pela amizade que conquistamos durante esses anos. 
Da mesma forma, aos professores e funcionários do Departamento de 
Engenharia de Pesca da UFC, do qual faço parte. 
À professora Annuzia Maria P. M. Gosson, do Departamento de Estatísti-
ca e Matemática Aplicada desta Universidade, pela orientação e colaboração duran-
te a fase de processamento dos dados. 
A todos os colegas da notável turma de 1992, da qual tive o privilégio de 
fazer parte, pela amizade, convivência fraterna, companheirismo e integração. 
Aos da minha família, pelo seu apoio e incentivo constante no decorrer 
dessa jornada. 
Aos pescadores, comerciantes da pesca e lideranças da comunidade de 
Redonda, por sua amizade, convivência e valiosas informações e observações, sem 
as quais não teria sido possível a consecução deste estudo. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O fechamento da temporada de pesca da lagosta no Nordeste Brasileiro, que, 
atualmente, vai de 1º de janeiro a 30 de abril (portaria/IBAMA nº 137/94, de 12 de dezembro 
de 1994), é conhecido como o ”defeso da lagosta”. Nesse período, as comunidades de pes-
cadores litorâneas que vivem exclusivamente da pesca desse crustáceo passam por suas 
maiores necessidades e enfrentam seus piores problemas socioeconômicos. Assim, os pes-
cadores artesanais dessas comunidades ficam mais vulneráveis e dependentes das ações, 
intervenções e favores dos agentes que atuam na comercialização da pesca local. Essa rea-
lidade ensejou a elaboração da presente pesquisa, que procurou observar e identificar ca-
racterísticas dos fenômenos sociais e econômicos da pesca artesanal de lagosta, na comu-
nidade de Redonda, localizada no Município de Icapuí (CE), descrevendo-os, classificando-
os e correlacionando-os com ações e intervenções dos comerciantes da pesca local, princi-
palmente com relação ao período do defeso. Para a realização do trabalho, foi desenvolvido 
um estudo quantitativo e qualitativo, no qual, para a coleta dos dados primários utilizados, 
recorreu-se aos instrumentos metodológicos da observação participante, de questionários 
administrados e entrevistas estruturadas e informais. Estes foram utilizados numa população 
de aproximadamente 400 pescadores, em meio a qual foram aplicados 65 questionários e 
entrevistados os 10 principais intermediários residentes no local, assim como 11 lideranças 
formais e não formais. Deve-se salientar que a definição do problema da investigação teve a 
participação direta da comunidade envolvida. Os resultados do estudo apontam para uma 
participação ativa dos intermediários, nos segmentos econômicos e sociais da pesca arte-
sanal na comunidade, principalmente naqueles referentes aos financiamentos de seus mei-
os de produção e nas emergências de saúde de seus habitantes. Conseguiu-se, também, 
identificar e quantificar a renda média bruta mensal dos pescadores, de maneira geral e por 
categoria, e observou-se que, quanto mais desprovidos são de seus meios de trabalho, me-
nor sua remuneração e maior sua expropriação por aqueles agentes detentores do capital e 
controladores do processo de comercialização. Em face dos resultados alcançados, conclu-
iu-se que os intermediários (barraqueiros) da comunidade de Redonda contribuem para a 
inércia do pescador no período do defeso, assim como estão se apropriando de seus meios 
e fatores de produção. Será através de processos educativos, via entidades associativas, 
conscientizando o pescador nos questionamentos de seus problemas, que a categoria vai 
poder buscar soluções para resolve-los e, minimizar as interferências impostas pelos agen-
tes da intermediação. É também através destes processos, que deverá fluir toda e qualquer 
ação de intervenção de governo na comunidade. 
 
Palavras Chave : 
Pesca Artesanal. Intermediação na pesca. Comunidades Litorâneas. Pesca de Lagostas. 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This study was developed in the fisherman community of Redonda in Ica-
puí county in the eastern side of Ceará State-Brazil. The research aimed to observe 
and identify social and economic characteristics of the lobster small-scale fishing in 
the community, describing, classifying and correlating them to the action and inter-
vention of local fishery trademan, specially in relation to the fisheries closed season. 
To this, a quantitative and qualitative study was developed through the aplication of 
participant observation, administrative questionnaries, informed and structured inter-
views.They were applied to a population of four hundred fishermen, a total of sixty 
five questionnaries and twenty one interviews. From those last, ten were the main 
market middlemen and eleven, formal and non formal leadership. It is important to 
state that the local community had a participative role in the definition of the research 
problem. The results of the study point to the lack of income and its consequences as 
the main problem of this community as well as the negative intervention of the mid-
dlemen who provide many to them for the production means and health emergen-
cies. Facing those problems it was concluded that the market middlemen of the 
community of Redonda have contributed to the lethargy of the fishermen during the 
fisheries closed season, as well as they are appropriating of their means and produc-
tion features. It will be through the fishermen association, organizative and educative 
processes that the conscientization of their problems will be done. Then, the search 
for solutions and the minimizations of the interference of the market middlemen will 
be possible. It will be also through these processes that any government intervention 
in the community has to be done. 
 
Keywords Keys: 
Artisanal Fisheries. Intermediation in fishing. Coastal communities. Fishing Lobsters. 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
 
FIGURA Página 
 
1 Modelo do jereré utilizado na captura de lagostas ................................. 24 
 
2 Covo ou manzuá utilizado na pesca de lagostas ...................................... 24 
 
3 Cangalha, armadilha criada e desenvolvida na comunidade de Redon-
da, utilizada na pesca de lagosta .............................................................. 
 
 25 
 
4 Desenho esquemático da rede de espera, utilizada na captura de lagostas 25 
 
5 Acesso e localização geográfica de Icapuí e Redonda ............................ 53 
 
6 Fluxo normal de comercialização da produção de lagosta de Redonda... 90 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA Página 
 
1 Exportações de caudas congeladas de lagostas através do porto de 
Fortaleza (CE), pelas indústrias cearenses, comparada com a exporta-
ção nacional, nos anos de 1955 a 1993 ................................................... 
 
 
 20 
 
2 Exportações cearenses dos principais produtos pesqueiros marítimos 
(em US$ 1.000), através do porto de Fortaleza (CE), no período de 
1983 a 1993 ............................................................................................. 
 
 
 22 
 
3 Distribuição de frequências dos principais problemas da comunidade no 
defeso ....................................................................................................... 
 
 67 
 
4 Distribuição de frequências do tipo de pesca que o pescador aprendeu 
quando iniciou a pescar ........................................................................... 
 
 71 
 
5 Distribuição de frequências das razões para pescar só lagostas ............ 71 
 
6 Distribuição de frequências da variável já pescou peixe para vender .... 73 
 
7 Distribuição de frequências da variável pesca peixes no paradeiro (pelo 
menos para o consumo) ........................................................................... 
 
 73 
 
8 Distribuição de frequências da variável atualmente pesca peixes para 
vender ....................................................................................................... 
 
 73 
 
9 Distribuição de frequências da variável é proprietário de embarcação..... 76 
 
10 Distribuição de frequências do número de embarcações que o pesca-
dor possui ................................................................................................. 
 
 76 
 
11 Distribuição de frequências da função que o proprietário ocupa na tripulação 76 
 
 
 
12 Distribuição de frequências da variável já possuiu embarcação antes..... 77 
 
13 Distribuição de frequências da propriedade, tipo dos meios de trabalho 
e da renda média dos pescadores dessas categorias ............................ 
 
 78 
 
14 Distribuição de frequências da propriedade das embarcações em que 
os não proprietários pescam .................................................................... 
 
 79 
 
15 Distribuição de frequências do destino da venda da produção .............. 80 
 
16 Distribuição de frequências do destino da produção vendida ................ 81 
 
17 Distribuição de frequências da forma do rateio da produção de lagostas 
e renda média dos pescadores dessas categorias ................................. 
 
 81 
 
18 Distribuição de frequências das razões pelas quais o pescador se sente 
explorado .................................................................................................. 
 
 85 
 
19 Distribuição de frequências da variável acha certo o preço pago pelo 
seu produto ............................................................................................... 
 
 88 
 
20 Distribuição de frequências das razões pelas quais o pescador não 
considera certo o preço pago pelo seu produto ..................................... 
 
 88 
 
21 Valor médio recebido pelo pescador, pelo kg do pescado, na temporada 
de 1993 ..................................................................................................... 
 
 88 
 
22 Renda média mensal (em US$), desvio padrão, rendas mínimas e má-
xima dos pescadores e pessoas da família, tendo como base a produ-
ção de 1993 ............................................................................................... 
 
 
 92 
 
23 Renda média mensal (em US$), desvio padrão, rendas mínimas e má-
ximas das diversas categorias de pescadores identificados na pesqui-
sa, durante o ano de 1993 ....................................................................... 
 
 
 93 
 
24 Resultados do teste X2 para os cruzamentos que apresentaram relação 
de dependência significante .................................................................... 
 
 94 
 
25 Renda média do pescador segundo a variável barraqueiro presta ajuda 
em urgências ............................................................................................ 
 
 95 
 
26 Renda média do pescador segundo a forma de rateio da produção ... 95 
 
27 Renda média do pescador segundo a variável vende sua produção ao 
dono dos apetrechos/embarcação ........................................................... 
 
 96 
 
28 Barraqueiro financia consertos e reparos segundo a variável é proprie-
tário de embarcação ................................................................................. 
 
 97 
 
29 Barraqueiro presta ajuda em urgência segundo a variável é proprietário 
de embarcação ......................................................................................... 
 
 97 
 
30 Nível de habitação segundo a renda média familiar ................................ 98 
 
31 Nível de saneamento segundo a renda média familiar ........................... 99 
 
32 Distribuição de frequências da opinião sobre o defeso sem o barraqueiro 99 
 
 
 
33 Distribuição de frequências das razões pelas quais o defeso sem o bar-
raqueiro seria pior ..................................................................................... 
 
 100 
 
34 Distribuição de frequências das razões pelas quais o defeso sem o bar-
raqueiro seria o mesmo ............................................................................ 
 
 100 
 
35 Distribuição de frequências das alternativas de renda para o pescador 
no defeso ..................................................................................................104 
 
36 Distribuição de frequências da origem da renda do pescador no defeso 
para o sustento da família ........................................................................ 
 
 104 
 
37 Distribuição de frequências da variável participaria de curso sobre téc-
nicas de pescar peixes ............................................................................. 
 
 105 
 
 
 
LISTA DE TABELAS DOS APÊNDICES 
 
 
TABELA Página 
 
1.1 Distribuição de frequências do estado civil dos pescadores .................. 124 
 
1.2 Distribuição de frequências da idade dos pescadores ........................... 124 
 
1.3 Distribuição de frequência da escolaridade dos pescadores ................. 124 
 
1.4 Distribuição de frequências do nº de filhos dos pescadores .................. 124 
 
1.5 Distribuição de frequências do tempo que reside na comunidade......... 124 
 
1.6 Distribuição de frequências dos nascidos em Redonda ........................ 125 
 
1.7 Distribuição de frequências do tempo de profissão do pescador .......... 125 
 
1.8 Distribuição de frequências da variável é filho de pescador ................. 125 
 
1.9 Distribuição de frequências da variável com quem aprendeu a pescar 125 
 
1.10 Distribuição de frequência da idade que começou a trabalhar na pesca 125 
 
1.11 Distribuição de frequências da produção de peixes pescado por se-
mana no paradeiro ................................................................................. 
 
 125 
 
1.12 Distribuição de frequências do consumo semanal de peixes (da famí-
lia) no defeso ......................................................................................... 
 
 126 
 
1.13 Produção média de lagosta e camarão do pescador, na safra e entre-
safra, por semana ................................................................................. 
 
 126 
 
1.14 Destribuição de frequências da fonte de renda da esposa .................... 126 
 
1.15 Distribuição de frequências da renda mensal da esposa ...................... 126 
 
1.16 Distribuição de frequências da remuneração das outras pessoas da 
família com atividade remunerada ......................................................... 
 
 125 
 
 
 
1.17 Distribuição de frequências das outras atividades do pescador ............ 127 
 
1.18 Distribuição de frequências da renda média semanal gerada de outras 
atividades no defeso e fora do defeso ................................................... 
 
 127 
 
1.19 Distribuição de frequências da ocupação no defeso, do pescador que 
não possui outra atividade ..................................................................... 
 
 127 
 
1.20 Distribuição de frequências do valor poupado na última safra .............. 127 
 
1.21 Distribuição de frequências da variável dificuldades dos pescadores 
são iguais no defeso .............................................................................. 
 
 127 
 
1.22 Distribuição de frequências da forma como conseguiu comprar a em-
barcação ................................................................................................ 
 
 128 
 
1.23 Distribuição de frequências da fonte de financiamento de insumos de 
pesca ..................................................................................................... 
 
 128 
 
1.24 Distribuição de frequências do tipo de embarcação em que os não 
proprietários pescam .............................................................................. 
 
 128 
 
1.25 Distribuição de frequências da variável é proprietário de apetrecho de 
captura ................................................................................................... 
 
 128 
 
1.26 Número médio e desvio padrão de apetrechos de captura dos proprie-
tários e não proprietários ....................................................................... 
 
 128 
 
1.27 Distribuição de frequências do financiamento de apetrechos de captu-
ra dos pescadores proprietários ............................................................. 
 
 129 
 
1.28 Distribuição de frequências da variável sabe para onde vai produção 
vendida ................................................................................................... 
 
 129 
 
1.29 Distribuição de frequências da variável sabe quantos intermediários 
existem até consumidor final .................................................................. 
 
 129 
 
1.30 Distribuição de frequências do caminho que o pescado percorre até o 
consumidor final ..................................................................................... 
 
 129 
 
1.31 Distribuição de frequências da variável é obrigado a vender a produ-
ção ao barraqueiro ou a quem financiou a embarcação/apetrechos ..... 
 
 129 
 
1.32 Distribuição de frequências das razões pelas quais é obrigado vender 
a produção ao proprietário ou quem financiou a embarcação ............... 
 
 129 
 
1.33 Distribuição de frequências da forma de pagamento na entrega da 
produção ................................................................................................ 
 
 130 
 
1.34 Distribuição de frequências do tipo de ajuda prestada pelo barraqueiro 130 
 
1.35 Distribuição de frequências do que poderia ser feito para modificar a 
situação de dependência do pescador .................................................. 
 
 130 
 
1.36 Distribuição de frequências da variável participa de entidade associativa 130 
 
1.37 Distribuição de frequências do tipo de associação que o pescador par-
ticipa ....................................................................................................... 
 
 130 
 
 
 
1.38 Distribuição de frequências das sugestões para melhorar a associa-
ção de moradores .................................................................................. 
 
 131 
 
1.39 Distribuição de frequências de sugestões para melhorar a colônia ....... 131 
 
1.40 Distribuição de frequências da variável cria animais domésticos para 
auxiliar na alimentação da família .......................................................... 
 
 131 
 
1.41 Distribuição de frequências da variável já participou de curso e/ou 
treinamento prestado por órgão público ................................................ 
 
 131 
 
1.42 Distribuição de frequências da variável tem registro de nascimento ..... 131 
 
1.43 Distribuição de frequências da Religião que participa ........................... 131 
 
1.44 Distribuição de frequências da propriedade da habitação ..................... 132 
 
1.45 Distribuição de frequências das condições da habitação ...................... 132 
 
1.46 Distribuição de frequências do número de cômodos da casa ............... 132 
 
1.47 Distribuição de frequências da posse do terreno da casa .................... 132 
 
1.48 Distribuição de frequências da origem da água ..................................... 132 
 
1.49 Distribuição de frequências da variável possui caixa d’água ................. 133 
 
1.50 Distribuição de frequências do tratamento d’água ................................. 133 
 
1.51 Distribuição de frequências do destino dos dejetos ............................... 133 
 
1.52 Distribuição de frequências do destino do lixo ....................................... 133 
 
1.53 Distribuição de frequências da forma de iluminação da casa ................ 133 
 
1.54 Distribuição de frequências da variável possui terra .............................. 133 
 
1.55 Distribuiçãode frequências da área da terra ......................................... 134 
 
1.56 Distribuição de frequências do acesso à terra ....................................... 134 
 
1.57 Distribuição de frequências do uso da terra ........................................... 134 
 
2.1 Renda média do pescador segundo a variável atualmente pesca peixe 
para vender ............................................................................................ 
 
 134 
 
2.2 Renda média do pescador segundo a variável vende produção a 
quem paga mais ..................................................................................... 
 
 134 
 
2.3 Renda média do pescador segundo a variável exerce outra atividade.. 135 
 
2.4 Renda média do pescador segundo a variável participa de entidade 
associativa ............................................................................................. 
 
 135 
 
2.5 Renda média do pescador segundo a variável conseguiu poupar na 
última safra ............................................................................................. 
 
 135 
 
2.6 Renda média do pescador segundo a Posse da Terra .......................... 135 
 
2.7 Renda média do pescador segundo a Escolaridade ............................. 135 
 
 
 
2.8 Renda média do pescador segundo o Nº de Filhos ............................... 136 
 
2.9 Renda média do pescador segundo a variável esposa gera renda ....... 136 
 
2.10 Barraqueiro financia consertos e reparos segundo renda mensal do 
pescador no defeso ............................................................................... 
 
 136 
 
2.11 Barraqueiro financia consertos e reparos segundo a variável atual-
mente pesca peixe para vender ............................................................. 
 
 136 
 
2.12 Barraqueiro financia consertos e reparos segundo a variável é proprie-
tário de apetrechos de captura .............................................................. 
 
 136 
 
2.13 Barraqueiro presta ajuda em urgência segundo o tempo que reside na 
comunidade ............................................................................................ 
 
 137 
 
2.14 Barraqueiro presta ajuda em urgência segundo a variável exerce outra 
atividade ................................................................................................. 
 
 137 
 
2.15 Barraqueiro presta ajuda em urgência segundo a variável conseguiu 
poupar na última safra ........................................................................... 
 
 137 
 
2.16 Pescador é obrigado vender a produção ao proprietário da embarca-
ção segundo a variável é proprietário de aptrecho de captura .............. 
 
 137 
 
2.17 Pescador é obrigado vender a produção ao proprietário da embarca-
ção segundo a variável vende produção ao barraqueiro ....................... 
 
 138 
 
2.18 Pescador é obrigado vender a produção ao proprietário da embarca-
ção segundo a variável vende produção ao dono dos apetrechos da 
embarcação ........................................................................................... 
 
 
 138 
 
2.19 Conseguiu poupar na última safra, segundo a variável é proprietário 
da embarcação ...................................................................................... 
 
 138 
 
2.20 Conseguiu poupar na última safra, segundo a variável renda mensal 
do pescador na safra ............................................................................. 
 
 138 
 
2.21 Conseguiu poupar na última safra, segundo variável pesca peixe no 
paradeiro ................................................................................................ 
 
 139 
 
2.22 Conseguiu poupar na última safra, segundo variável pesca peixe para 
vender .................................................................................................... 
 
 139 
 
2.23 Nível de organização segundo renda média familiar ............................. 139 
 
2.24 Nível de higiene segundo renda média familiar ..................................... 139 
 
2.25 Média, Desvio Padrão, Valores Mínimo e Máximo das Variáveis Quan-
titativas ................................................................................................... 
 
 140 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 Página 
 
1. INTRODUÇÃO 14 
2. A PESCA ARTESANAL DE LAGOSTA NO CEARÁ: apresentando o 
cenário 
 
17 
3. O DEFESO DA PESCA DE LAGOSTA: contextualização do problema 32 
4. A INTERMEDIAÇÃO NA COMERCIALIZAÇÃO: o quadro teórico de 
análise 
 
40 
5. A PESQUISA: métodos e técnicas 51 
 5.1 Unidade Geográfica de Análise 52 
 5.1.1 O município 52 
 5.1.2 A comunidade 54 
 5.2 Unidade Temporal da Análise 56 
 5.3 Universo e Amostra 57 
 5.4 Os Dados; Sujeitos, Fontes e Instrumentos de P esquisa 58 
 5.5 Definição e Operacionalização das Variáveis 60 
 5.6 Método e Técnicas de Análise 62 
6. O RETRATO SOCIOECONÔMICO DE REDONDA: fatos e posições dos 
protagonistas 
65 
6.1 Os Problemas Socioeconômicos do Defeso 66 
6.2 A Comercialização na Pesca Artesanal de Lagosta 74 
 6.2.1 Os meios de trabalho e as relações de produção 74 
 6.2.2 A comercialização da produção 83 
6.3 A Comercialização e os Problemas do Defeso 92 
6.4 As Opções das Famílias dos Pescadores no Defeso 103 
7. O INTERMEDIÁRIO E O DEFESO: respondendo a questão inicial 107 
 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 111 
 
APÊNDICE A 116 
APÊNDICE B 141 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A pesca artesanal no Brasil investe-se de uma relevância fundamental para o 
Estado, essencialmente se levarmos em consideração a função social da atividade 
como geradora de alimentos para a população, produzindo proteínas de alta qualida-
de, num país onde a carência de alimentos é uma constante, principalmente nos es-
tados do Nordeste. No Ceará, a ação possui enorme importância social e econômica, 
especialmente naqueles Municípios possuidores de comunidades costeiras. 
Atualmente, um dos maiores problemas nas comunidades pesqueiras artesa-
nais litorâneas, que possuem sua economia direcionada exclusivamente para a pes-
ca de lagosta, é a sua estagnação no período do ”fechamento de estações de pes-
ca” - o defeso. Criado pela extinta Superintendência do Desenvolvimento da Pesca 
(SUDEPE) e atualmente controlado e administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio 
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sua função básica é prote-
ger a espécie na época de maior atividade reprodutiva e reduzir o nível do esforço 
de pesca (IBAMA, 1994b). 
É também nesse período que se agravam as dificuldades socioeconômicas 
dessas comunidades, colocando os pescadores artesanais mais vulneráveis e de-
pendentes das ações, intervenções e favores dos armadores e intermediários que 
atuam na pesca local. 
Levando-se em consideração essa realidade e a experiência profissional do 
Autor em trabalhos e atividades ligadas à extensão rural em comunidades pesquei-
ras, juntamente com sua participação num estudo de área e realidade efetuado na 
região da pesquisa, resolveu-se partir para o desenvolvimento deste trabalho. 
O presente estudo, segundo a classificação de Gil (1994), constitui um levan-
tamento social, com ênfase na pesquisa descritiva. Foi realizado em uma comunida-
de atípica1 de pescadores artesanais do litoral cearense, localizada no Município de 
Icapuí, litoral leste do Estado, e que possui como atividade econômica principal a 
pesca de lagostas. Na presente investigação, procurou-se observar, identificar e 
analisar características dos fenômenos sociais e econômicos da pesca local, princi-
 
1 No decorrer dos capítulos o leitor irá identificando as principais característicasespecíficas a essa 
comunidade, que lhe conferem seu caráter atípico. 
15 
 
 
palmente no período do defeso, descrevendo-os, classificando-os e correlacionando-
os com as ações e intervenções dos intermediários locais. Para tanto, foi desenvol-
vido um estudo quantitativo e qualitativo, recorrendo-se aos instrumentos metodoló-
gicos da observação participante, de questionários administrados e entrevistas estru-
turadas e informais. 
A proposta de investigação foi levantada através de contatos e entrevistas 
junto a membros e lideranças da comunidade, dos quais se procurou saber dos seus 
principais problemas e de suas possíveis soluções. Após a análise do material reco-
lhido, voltou-se à comunidade e, juntamente com suas lideranças, decidiu-se que o 
problema a ser estudado seria aquele que, no momento, traria uma resposta aos an-
seios de seus habitantes. Dessa maneira, evitou-se que o estudo proposto fosse ex-
clusivamente determinado pela curiosidade do pesquisador. Assim sendo, procu-
rou-se agir segundo o pensamento de Lundberg, citado em Ferrari (1982: p.188), 
quando afirma que ”a investigação científica é concebida ordinariamente como ativi-
dade de importância geral para a comunidade, antes de ser um esforço individual do 
estudioso para alcançar uma satisfação pessoal de sua curiosidade, embora esta úl-
tima possa ser o principal dos incentivos do estudioso”. 
Com o fim de permitir melhor apresentação e compreensão da pesquisa pelo 
leitor, o presente relatório, além desta introdução, está segmentado em mais sete 
capítulos, assim constituídos. 
No próximo segmento, apresenta-se um comentário geral a respeito da pesca 
artesanal de lagostas no Estado do Ceará. Descreve-se sobre sua importância eco-
nômica e social para a região em apreço, suas características, evolução e crises do 
setor ao longo de seu desenvolvimento como atividade de interesse comercial, bem 
como sobre sua relevância na comunidade alvo do problema. 
O terceiro capítulo é integralmente dedicado à contextualização do problema 
da pesquisa, sua importância, com realce para a região onde foi realizado o estudo. 
Mostra sua caracterização e o seu relacionamento com o tema central da tese, bem 
como os critérios que levaram à sua definição. 
Na quarta parte, faz-se uma exposição descritiva sobre o embasamento teóri-
co do estudo relacionado ao problema, citando as teorias nas quais o cenário está 
inserido. Apresenta-se a posição, pensamento e opinião dos mais conceituados au-
tores sobre o assunto em apreço e comenta-se a respeito das mais recentes pesqui-
16 
 
 
sas desenvolvidas sobre consequências e implicações dos intermediários no pro-
cesso de comercialização da pesca artesanal. 
Na quinta etapa do relatório, aborda-se a tipologia geral da pesquisa, apre-
sentando a localização, identificação e as particularidades da área de estudo; o pe-
ríodo, os métodos e os instrumentos pelos quais os dados foram levantados; a ope-
racionalização e definição das variáveis e indicadores utilizados; e os métodos e 
técnicas de análise empregados para a avaliação dos resultados alcançados. 
O capítulo seis é destinado à análise, discussão e interpretação dos resulta-
dos que tiveram como meta os objetivos preestabelecidos no estudo quantitativo e 
qualitativo. Esses resultados estão transcritos sob a forma de evidências, correla-
ções, em tabelas e testemunhos revelados pelo material reunido no desenvolvimento 
da pesquisa, e que esclarecem os fatos e posições vividos pelos protagonistas, na-
quele período em que se realizou a fotografia socioeconômica da comunidade. 
Na penúltima parte do relatório, após uma leitura e análise criteriosa do capí-
tulo anterior, tendo como base todas as informações colhidas no transcorrer do es-
tudo, passa-se à apresentação das conclusões a que se chegou com a elaboração e 
finalização da presente pesquisa. 
No último segmento, insere-se a relação do material bibliográfico consultado, 
que fez parte do acervo necessário ao suporte científico do estudo. 
 
 
 
2 A PESCA ARTESANAL DE LAGOSTA NO CEARÁ : apresentando o cenário 
 
A pesca artesanal, no cenário contemporâneo mundial, investe-se de uma 
importância significativa por desempenhar um papel em duas circunstâncias. A pri-
meira, por afiançar às nações costeiras representadas, em virtude da regulamenta-
ção do novo direito do mar, a requerer e estabelecer uma Zona Economicamente 
Exclusiva (ZEE)2 para exploração da pesca. A segunda é resultado do contingente 
de profissionais vinculados a essa atividade, para a manutenção dos direitos à ex-
ploração da ZEE, visto que, em razão da sua magnitude, ocupam a maior parte des-
ses limites geográficos (BEN-YAMI et al, 1985 & McGOODWIN, 1990). 
Os pescadores artesanais brasileiros se identificam, predominantemente, pe-
lo estágio de subdesenvolvimento, na condição de dupla marginalidade em que sua 
maioria se encontra, em grande parte em consequência do modelo de crescimento 
econômico vigente no País, concentrador de renda e voltado prioritariamente para 
atender aos interesses das classes econômicas dominantes. É um marginal geográ-
fico, pelo fato de realizar seu labor à margem da costa oceânica, dos rios e lagoas. 
É, também, um marginal social, pois a sua maioria se situa à margem dos benefícios 
concedidos às demais categorias de trabalhadores organizados e amparados pelo 
poder público (TIMM, 1990). O Autor denuncia que, na média nacional, embora a 
maioria dos governos tenham enfatizado sua prioridade pelo social, é nesse setor 
que a situação do pescador artesanal brasileiro "…está pior do que estava há vinte 
anos passados" (TIMM, 1993: p.5). O mesmo autor afirma que 90% das cerca de 
800 mil pessoas que o setor pesqueiro nacional emprega são constituídas por pes-
cadores artesanais, responsáveis por aproximadamente 50% da produção total do 
pescado, sendo 100% da de água doce (TIMM 1990). 
O pescador artesanal cearense, segundo o diagnóstico da pesca do Estado do 
Ceará-1988, pode ser enquadrado como um indivíduo de "baixa e instável renda". Tal 
nível é caracterizado pela incerteza de em quantos dias poderá pescar, quantidade e 
 
2 Criadas através de acordo firmado em 1982, e retificado em 1989, numa convenção entre 130 na-
ções coordenada pela United Nations Law of the Sea (Lei das Nações Unidas para o Mar- UNLOS-
82), organismo das Nações Unidas. O tratado assegura ao país costeiro a oportunidade de exercer 
a exclusividade sobre a jurisdição e a exploração dos recursos pesqueiros marinhos até o limite de 
200 milhas marítimas da costa nacional. Para tal os signatários, obrigam-se a realizar pesquisas so-
bre o potencial da ZEE e definir as quantidades, métodos e períodos permitidos à pesca, sob pena 
de não auferirem seus direitos se assim não procederem (MAcGOODWIN, 1990). 
 
 
18
qualidade das espécies capturadas, e pela oscilação de preços em face da oferta de sa-
fra e entressafra, fatores estes responsáveis pelo baixo padrão de vida encontrado em 
suas comunidades. 
A expressão pesca artesanal passou a ser utilizada com maior frequência a par-
tir da criação da SUDEPE (Lei Delegada nº 10, de 11/10/62; Autarquia Federal vincu-
lada ao Ministério da Agricultura), e teve suas primeiras caracterizações quando da cri-
ação do Plano de Assistência à Pesca Artesanal (PESCART), em 17 de abril de 1973, 
o qual serviu como um divisor entre os dois sub-setores - industrial e artesanal. Foi a 
partir deste referencial que a expressão passou a ser difundida em todos os meios, 
sendo inclusive propagada entre intelectuais e acadêmicos que trabalham no setor. 
Segundo o documento básico do PESCART, SUDEPE (1974), a pesca arte-
sanal é aquela que não é praticada por sociedade de capital, os pescadores artesa-
nais por sua vez não são sócios ou empregados de empresas de pesca, suas ativi-
dades seriam complementarese auxiliares a estas. Esses profissionais agrupam-se 
em colônias, podendo organizar-se em cooperativas e/ou associações, embora, no 
caso específico do Estado, as experiências nesse sentido não tenham alcançado os 
resultados desejados. 
Ribeiro-Neto (1993, p.12) afirma que a pesca artesanal não passa de "…um 
subsistema de uma economia capitalista, que mantém relações de complementarie-
dade e principalmente de dependência assimétrica, com o sub-setor da pesca indus-
trial, de capital industrial e comercial, que comanda o seu processo de produção". 
Segundo, ainda, o mesmo Autor, o que caracteriza o sub-setor artesanal é um com-
plexo envolvendo tipo de tecnologia, relações específicas de produção, processos 
de produção e comercialização comandados por uma teia de intermediários, áreas 
de pesca, espécies capturadas, tradições culturais, entre outros. 
Fonteles Filho (1982) caracteriza a pesca artesanal marítima como uma ativi-
dade tecnologicamente estagnada, do ponto de vista da tecnologia da pesca e do 
pescado, e economicamente deficiente. Segue afirmando que os pontos de estrangu-
lamento para o desenvolvimento da pesca artesanal estão na ausência de literatura 
especializada, na escassez de informações técnico-científicas e na falta de assistência 
financeira e administrativa por parte dos órgãos públicos responsáveis pelo setor. 
De maneira geral, o sub-setor artesanal, como atividade produtiva, é caracte-
rizado por: utilizar embarcações de pequeno porte(menos de 20 Toneladas Bruta de 
 
 
19
Arqueação-TBA), com propulsão manual, eólica, mecânica ou mista (eólica e mecâ-
nica); empregar métodos tecnologicamente estagnados em relação à tecnologia de 
pesca e do pescado; possuir relações específicas de produção, como a meiação3 e 
a parceria; produtor de uma grande diversidade de espécies; apresentar a fragmen-
tação do processo produtivo e, nesse, ter a participação da mão de obra familiar; ter 
sua comercialização subordinada a um amplo mercado comandado por uma cadeia 
de intermediação; apresentar pequena parcela de remuneração aos pescadores e 
uma baixa capitalização de suas atividades; e por possuir uma cultura própria base-
ada no tradicionalismo da região e cujo saber é transmitido de pai para filho. 
A pesca artesanal marítima é praticada em toda a extensão do litoral cearense, à 
margem da tecnologia, com um sistema de produção que varia desde uma atividade de 
subsistência até aquele que se submete ao processo de subordinação ao capital co-
mercial. Difere basicamente do setor industrial em relação à quantidade e qualidade da 
mão de obra empregada, composição da produção, produtividade, meios de produção, 
métodos de captura, volume de inversões e organização empresarial (CEPA, 1978). 
Foi o setor empresarial cearense o pioneiro nas exportações do crustáceo no 
País. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas (1964), a pesca de la-
gostas no Estado do Ceará passa a ser considerada uma atividade economicamente 
importante a partir do registro de pequenas quantidades na pauta de exportações do 
ano de 1954, e pela importância do valor comercial do produto alcançado no merca-
do internacional. A partir desse ano, com crescimentos4 sucessivos de produção 
(Tabela 1), a atividade passou a ocupar, hoje, a segunda posição na pauta de expor-
tações, abaixo apenas da amêndoa da castanha de caju (IPLANCE, 1994a). 
O Estado foi sempre o principal produtor nacional desde o inicio da atividade 
lagosteira no Nordeste do Brasil, participando com a totalidade das exportações no 
início da exploração industrial-1955. No período de 1955 a 1993, o Brasil exportou 
80.746 t de caudas, das quais 61.405 t através do porto de Fortaleza, o que corres-
ponde a 76% do total. O destaque fica por conta dos anos de 1979 e 1991, com uma 
participação de 86% e 88,2%, respectivamente (Tabela 1). 
 
3 Na pesca artesanal, o sistema tradicional de meiação é aquele que o proprietário da embarcação 
(armador ou pescador) fornece os apetrechos de pesca, o rancho, a isca e, as vezes, o gelo, e, na 
divisão da produção este fica com a metade da captura. O restante é dividido entre os tripulantes, 
inclusive com o proprietário, se este tiver participado da pescaria. 
4 Em curtos períodos (i.e.: 1964 - 1967) a produção foi decrescente devido, provavelmente, a uma re-
dução no preço do produto no mercado internacional. 
 
 
20
Tabela 1: Exportações de caudas congeladas de lagostas através do porto de Fortaleza 
(CE), pelas indústrias cearenses, comparada com a exportação nacional, nos anos 
de 1955 a 1993. 
Ano Exportações de caudas(t) Participação 
 Ceará Brasil do Ceará(%) 
1955 40 40 100,0 
1956 99 155 63,9 
1957 189 346 54,6 
1958 237 432 54,9 
1959 390 616 63,6 
1960 711 1.197 59,4 
1961 1.265 1.740 72,7 
1962 1.382 2.070 66,8 
1963 1.111 1.778 62,5 
1964 927 1.578 58,7 
1965 742 1.169 63,5 
1966 816 1.298 62,9 
1967 883 1.286 69,6 
1968 1.427 1.845 77,4 
1969 1.924 2.608 73,8 
1970 2.032 2.793 72,7 
1971 1.696 2.391 70,9 
1972 1.968 2.845 69,2 
1973 2.156 2.632 81,9 
1974 2.292 3.077 74,5 
1975 1.795 2.226 80,6 
1976 1.773 2.317 76,5 
1977 2.165 2.767 78,2 
1978 2.664 3.112 85,6 
1979 3.031 3.521 86,0 
1980 2.095 2.674 78,3 
1981 2.221 2.946 75,4 
1982 2.441 2.928 83,3 
1983 1.300 1.670 77,8 
1984 2.201 2.805 78,5 
1985 1.922 2.392 80,4 
1986 1.161 1.702 68,2 
1987 1.830 2.195 83,4 
1988 2.029 2.583 78,5 
1989 1.888 2.432 77,6 
1990 2.296 2.806 81,8 
1991 2.502 2.837 88,2 
1992 1.936 2.332 83,0 
1993 1.868 2.605 71,7 
TOTAL 61.405 80.746 76,0 
MÉDIA 1.830 2.332 75,4 
 FONTE: CACEX/B.BRASIL e IBAMA/CE 
 
 
21
Segundo pesquisa realizada pela SUDEPE/CEPA (1978), a ocorrência do re-
curso lagosta dá-se em frente a toda plataforma continental ao Estado do Ceará - 
com 573 km de costa, os quais representam 15,65 e 6,4% do Nordeste e do Brasil, 
respectivamente, totalizando 11.539 milhas quadradas (CEPA, 1978) - com maior 
abundância na faixa situada entre 20 e 50 metros de profundidade. O Município de 
Aracati - que na época possuía Icapuí como distrito - é o mais importante do Estado 
com relação à produção de lagostas. Dos 30 núcleos pesqueiros pesquisados, em 
apenas 8, ocorre a produção de peixes, e somente em quantidades suficientes para 
o abastecimento local. 
A pesca deste crustáceo tem propulsionado o desenvolvimento da atividade 
pesqueira na região, em virtude da considerável receita auferida com a exportação 
do produto5 para o mercado internacional, - destacando-se os Estados Unidos, Ja-
pão e alguns países da Europa - sendo o maior gerador de divisas no setor pesquei-
ro para o Estado, chegando a superar a cifra dos 52 milhões de dólares em 1991 
(Tabela 2), e, em função da razoável abundância das espécies de lagostas, Panuli-
rus argus (Latreille) e Panulirus laevicauda (Latreille), exploradas comercialmente no 
País. Torna-se, portanto, um fato evidente e incontestável a importância da pesca de 
lagostas para a economia cearense, no que se refere ao desenvolvimento socioeco-
nômico do setor pesqueiro, funcionando inclusive como indução de atividades corre-
latas na indústria naval, frigorificação, equipamentos e aparelhos da pesca, transpor-
te e serviços, na geração de divisas com exportação, impostos e criação de empre-
gos6 diretos e indiretos (FONTELES FILHO et al., 1988). 
Com relação às espécies de lagostas capturadas pelo segmento artesanal ao 
longo da costa do litoral cearense, segundo IBAMA (1994a) e IBAMA (1994b), des-
tacam-se: predominantemente, com uma representação média nas capturas7 de 
78,7%, a Panulirus argus (lagostavermelha); com uma média de 16,8%, a Panuli-
rus laevicauda (lagosta verde); registrando-se, também, em menor escala (4,5%), a 
ocorrência da lagosta sapateira, representada pelas espécies Scyllarides brasili-
ensis e Scyllarides deceptor. 
 
 
5 Principalmente lagosta inteira cozida congelada, viva e em cauda congelada. 
6 Segundo o IBAMA (1994c) a pesca artesanal cearense é o setor responsável pela manutenção de 
mais de 17 mil empregos diretos, os quais funcionam como ponto de sustentação da economia local 
em mais de 100(cem) comunidades pesqueiras litorâneas. 
7 Considerando os diversos apetrechos usados na captura em conjunto e os diferentes tipos de embarcação. 
 
 
22
 
 
 
 
 
Tabela 2: Exportações cearenses dos principais produtos pesqueiros marítimos (em US$ 1.000), através do porto de 
Fortaleza (CE), no período de 1983 a 1993. 
PRODUTO 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 
Lagosta (1) 22.644,3 39.316,5 33.011,7 22.663,3 45.839,3 44.252,9 32.207,4 47.823,3 52.535,8 42.215,4 36.053,7 
Camarão (2) 5.504,1 10.851,8 12.659,9 10.422,6 12.258,1 12.890,7 6.710,1 5.447,5 5.210,9 9.540,2 9.062,8 
Peixe (3) 3.385,9 3.484,4 4.239,1 5.691,1 4.763,5 1.629,4 2.065,4 1.425,1 1.318,5 1.127,8 1.643,4 
Algas Secas 86,3 192,9 91,6 36,0 53,8 310,3 393,9 246,9 244,0 98,9 53,5 
FONTE: IBAMA/CE - CACEX/BB 
(1) Total de lagosta inteira, em cauda e carne 
(2) Total de camarão inteiro, descascado e sem cabeça 
(3) Total de peixe inteiro, filé e posteado 
 
 
23 
 
 
Para a captura dessas espécies, as embarcações utilizadas pelos pescadores 
artesanais cearenses, em sua maioria, constituem uma frota de pequeno e médio 
porte, com o comprimento variando entre 5 e 15 metros. Segundo o IBAMA (1994a), 
embarcações de pequeno porte são aquelas que alcançam até 10 metros de com-
primento, com casco de madeira, normalmente sem instrumentos que auxiliem à 
pesca e à navegação, com tripulação de até 4 pescadores e autonomia de 5 dias de 
mar. Nesse tipo, enquadram-se: os botes à vela e motorizados, as jangadas, paque-
tes e canoas. Formam a grande maioria, 95%, da frota artesanal da comunidade de 
Redonda. As embarcações de médio porte são representadas por aquelas que pos-
suem: comprimento entre 10 e 15 metros, casco de madeira ou aço, motorizadas (70 
a 130hp), casaria na popa ou na proa, com equipamentos (talha) para o recolhimen-
to dos apetrechos de pesca, algumas com rádio e ecossonda, tripulação de 5 a 6 
pescadores, autonomia de mar de até 15 dias e que conservam o produto de suas 
capturas em urnas isotérmicas com gelo. Nesse segmento, Redonda possui somen-
te 10 embarcações. 
Outra característica que diz respeito à pesca artesanal de lagostas está em 
seus apetrechos utilizados na captura, os quais foram sendo modificados e/ou intro-
duzidos de acordo com a evolução e a importância da pesca. No período compreen-
dido entre as décadas de 50 e 60, eram utilizados jererés8 (Figura 1) e covos de 
bambu. Numa segunda etapa, aconteceu o aperfeiçoamento do covo ou manzuá9 
(Figura 2), que passou por modificações e assumiu a forma hexagonal irregular, 
passando a usar uma armação de marmeleiro, revestidas com tela de nylon ou ara-
me. Foi através do emprego de dois covos atados que surgiu, na década de 60, no 
Município de Icapuí, uma armadilha derivada do manzuá que possui o nome de 
"cangalha". Trata-se de um apetrecho confeccionado com armação de marmeleiro, 
com frente e fundo de 1,2m, possuindo 0,70m de profundidade por 0,26m de altura, 
recobertos com tela de nylon com malhas de 5 cm entre nós, possuindo como carac-
terística principal duas sangas, localizadas na parte frontal (Figura 3). 
 
 
8 Foram artes de pesca, com um formato de cone, constituídas por uma rede de malha pequena, fixa 
a um aro de madeira ou metal, usadas na pesca artesanal para a captura de sirís e que foram utili-
zados no início da exploração da pesca de lagosta no Nordeste. 
9 Até chegar ao formato hoje utilizado, os manzuás variaram bastante na sua forma e no modo de o-
peração, destacando-se os modelos: covo-ripa, covo-palheta e covo-cruz-de-malta. 
24 
 
 
 
 
Figura 1: Modelo de Jereré, utilizado na captura de lagostas 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Covo ou Manzuá, utilizado na pesca de lagostas 
 
 
25 
 
 
 
Figura 3: Cangalha; armadilha criada e desenvolvida na comunidade 
de Redonda, utilizada na pesca de lagosta 
 
 
 
 Figura 4: Desenho esquemático da Rede de Espera, utilizada na captura de lagostas 
 
A partir de 1970, em razão do decréscimo de produtividade da pesca com co-
vos, foi introduzido, experimentalmente no Ceará, o uso da rede de emalhar, adap-
tada para a pesca de fundo10, vulgarmente conhecida como "caçoeira" (Figura 4). 
Trata-se de uma rede confeccionada com fibra sintética, geralmente fio de nylon 
 
10 É aquela realizada com aparelhos de pesca que atuam junto ao substrato, na captura de espécies 
demersais ou bentônicas. 
26 
 
 
multifilamento (poliamida 210/12-24), com ou sem nó, malha estirada de 130 a 140 
mm, panagem com aproximadamente 80 metros de comprimento, 15 malhas de altu-
ra e um entralhamento variando de 50 a 70%, que captura a lagosta por emalha-
mento, ou seja, o crustáceo, ao esbarrar na rede, tende a se fixar às suas malhas, 
em razão, principalmente, dos seus espinhos e apêndices locomotores. No início, 
era praticada somente por embarcações de pequeno porte, mas, hoje está em ex-
pansão entre aquelas que tradicionalmente operavam com covos. Segundo o IBAMA 
(1994b), a caçoeira apresenta-se como uma modalidade de pesca que causa danos 
ao meio ambiente, quando em operação na captura da lagosta. 
E foi pela mesma razão anterior que, a partir da década de 80, com origem no 
litoral do Estado do Rio Grande do Norte, aparece a pesca de mergulho, mais co-
nhecida como "a pesca de compressor"11, realizada com embarcações de pequeno 
e médio porte, com até 5 pescadores tripulantes(1 mestre, 2 mergulhadores e 2 
manguereiros) que não possuem treinamento em mergulho. A prática da pesca con-
siste de um compressor conectado através de polia e correia ao motor da embarca-
ção, com a finalidade de fornecer o ar necessário, via mangueiras, aos mergulhado-
res que descem a uma profundidade de até 33 metros, utilizando-se de um cinto de 
chumbo, pés-de-pato e máscara. Ao constatar a presença de lagostas utilizam-se do 
arpão ou espeto, do bicheiro ou usam o mangote (pequena rede de arrasto) para 
cercar o cardume, capturando lagostas de todo tamanho, independente do sexo ou 
do estádio de maturação sexual. Segundo o IBAMA (1994b), de todas as modalida-
des de pesca utilizadas na captura de lagostas, o mergulho é a que se apresenta 
com um maior poder de destruição do meio ambiente. Este fato foi confirmado entre 
os próprios profissionais que praticam esse tipo de atividade, através de uma pes-
quisa em andamento (IBAMA, 1992 - comentada logo adiante), mantida pelo órgão. 
Excetuando-se a pesca com auxílio de jererés, atualmente, todas as outras 
modalidades descritas são praticadas na pesca artesanal de lagostas no Estado do 
Ceará. Entretanto, oficialmente, o IBAMA, órgão responsável pela administração e 
fiscalização da pesca de lagostas, através da Portaria nº 136/94, de 08 de dezembro 
de 1994, resolve em seu Art.4º - “Permitir a captura de lagosta somente com o em-
prego de manzuás ou covos, cuja malha tenha espaçamento mínimo de 5,0[cinco 
centímetros] entre nós adjacentes“. Porém, recentemente, em virtude de estudos re-
 
11 Segundo o IBAMA (1994b), cerca de 10% da frota lagosteira do Estado do Ceará e 50% da frota do 
Rio Grande do Norte praticam esse tipo de pesca. 
27 
 
 
alizados pelo órgão e de pressões por parte dos empresáriose comunidades arte-
sanais em relação aos custos com a pesca de manzuás, o IBAMA, através da Porta-
ria nº 043/95, de 21 de junho de 1995, em seu Art.4º , resolveu liberar a pesca da la-
gosta, também, com o uso da rede caçoeira. 
Tratando-se de um produto nobre e com excelente cotação no mercado inter-
nacional, aliado a uma política colocada em prática pelos sucessivos governos milita-
res, a partir de 1964, sob a perspectiva do desenvolvimentismo e modernização, que 
presenteou ao segmento industrial pesqueiro, através do Decreto-lei 221/67, com as 
melhores medidas protecionistas da história do setor, é fácil compreender o desen-
volvimento e a consolidação do parque industrial pesqueiro do Estado. Tal legislação 
amparou e beneficiou as empresas de pesca com incentivos fiscais como: isenção do 
imposto de renda e seus adicionais, às pessoas jurídicas com planos aprovados pela 
SUDEPE; e a isenção total de impostos e taxas federais incidentes sobre a produção 
do pescado durante dez anos (1967 a 1977). Através do Dec. nº 70.886, de 29/07/72, 
a indústria pesqueira se beneficiou com isenção do Imposto Único sobre Combustí-
veis e Lubrificantes-INCL, barateando ainda mais o custo com a armação12 de suas 
embarcações, estimado em 46% do total dos gastos (SUDEPE, 1988). 
Com o sucesso das exportações e todo este estímulo fiscal, ao que se alia a 
obtenção de crédito fácil e barato junto ao Fundo de Investimentos Setoriais-FISET 
/Pesca, os empresários do setor passaram a investir na construção e importação de 
embarcações de grande porte, com autonomia de até 60 dias de mar. Implantaram 
em Fortaleza e nas sedes dos municípios representantes das principais zonas pro-
dutoras - Aracati, Acaraú e Camocim - estruturas físicas a nível de empresas, para 
recepção, beneficiamento, industrialização de suas produções e, da produção adqui-
rida dos armadores e intermediários da região. 
Com um mercado francamente insatisfeito, a exploração da lagosta passou a 
ser praticada de forma por demais intensa. Isso veio acarretar uma série de efeitos ne-
gativos em sua captura, trazendo-lhe alguns problemas suficientemente graves para 
provocarem crises com repercussões multilaterais. A ação conjunta industrial-armador 
provocou a captura indiscriminada do crustáceo, ocasionando a apreensão de indiví-
duos jovens e ovados, acarretando um aumento expressivo na pesca predatória. 
 
12 Trata-se do conjunto de ações para operacionalizar uma embarcação, desde sua organização or-
çamentária e da tripulação, até a aquisição de insumos e apetrechos de pesca, com vistas a um 
bom rendimento das atividades de captura. 
28 
 
 
Uma das consequências dessa ampliação e crescimento do segmento em-
presarial, resultado da maior penetração de interesses capitalistas no setor, foi um 
aumento exagerado do esforço de pesca13 para a captura do crustáceo, que passou 
de 2,0 milhões de covos-dias (medida de esforço), em 1965, para 35,7 milhões de 
covos-dia em 1990, o que significou um aumento anual a uma taxa geométrica de 
12,2%, sendo que o esforço de 1990 foi 60,1% superior ao esforço ótimo de 22,3 mi-
lhões de covos-dia (FONTELES-FILHO et al, 1988). Esse aumento, também, deve-
se à diminuição da produtividade do recurso aquático explorado, participante de um 
sistema sujeito à lei dos Retornos Decrescentes. Isto torna-se evidente com a dimi-
nuição da Captura por Unidade de Esforço-CPUE, a partir de 1980, representando 
em média somente 47,2% do seu valor sustentável de 0,391 kg/covo-dia 
(FONTELES-FILHO et al, op. cit.), passando a refletir decréscimos reais na abun-
dância das populações de lagostas, com influência direta sobre os baixos retornos 
econômicos do setor industrial, em decorrência da superexploração dos estoques. 
Essa diminuição provocou significantes prejuízos, principalmente a queda da produ-
ção, fazendo com que os custos da armação das embarcações e outros ficassem 
num nível superior ao da receita obtida com as exportações. Tal situação passou a 
ficar desinteressante aos empresários do setor. 
Como resultado inevitável deste processo houve inadimplência das empresas 
de pesca, desativação de algumas estruturas, falência de empresas do setor, venda 
de embarcações e sucateamento de outras por falta de capital para manutenção e 
reparos. Por extensão, esses eventos atingiram também aos armadores e intermedi-
ários que, sem alternativa imediata, juntamente com o segmento empresarial, passa-
ram a fomentar a pesca artesanal de lagostas como uma opção viável à sobrevivên-
cia de seus negócios. 
Segundo Teixeira (1992), o parque industrial lagosteiro cearense modificou-
se ao longo do tempo, saindo de uma condição de principal executor de todas as fa-
ses do processo produtivo, desde a captura até a exportação, para se tornar numa 
indústria de beneficiamento e exportação, dependendo dos armadores autônomos e 
intermediários para conseguir a matéria-prima, oriunda, principalmente, do setor ar-
tesanal. Atualmente, estima-se que mais de 60% da produção exportada pelas em-
presas é originária da pesca artesanal (IBAMA, 1994a). 
 
13 Um conjunto de artes e/ou métodos de captura, atuando sobre um determinado estoque pesqueiro, 
num dado período. 
29 
 
 
Dessa forma, a partir de 1983, com o agravamento da crise da pesca industrial 
de lagostas, a pesca artesanal passa por um processo de especialização da produção 
e concentra seus esforços no produto lagosta, especialmente naquelas áreas onde a 
participação da iniciativa privada era uma constante; Aracati, Acaraú e Camocim. 
Esse processo alterou de forma significativa a atividade exploratória de certas 
espécies de pescado nestas áreas. Isto ocorreu em virtude da imposição dos grupos 
exportadores empresariais, que levou a uma modificação nos apetrechos e métodos 
de captura. Isto coincidiu, não só com a exploração da força de trabalho do pesca-
dor, como também com a sobrepesca14 e a pesca predatória, principalmente, em 
decorrência da difusão no emprego do uso da rede-caçoeira e da pesca de com-
pressor, como apetrecho principal na pesca de lagostas. Essas modificações nos 
apetrechos e métodos (por ex: uso do manzuá) da pesca artesanal, de certo, 
"…representou o atendimento a uma imposição do capital em busca de um incre-
mento maior da produção, do que uma oportunidade de conquista dos pescadores" 
(RIBEIRO-NETO, 1993; p.101). 
Da mesma maneira, esse processo, além de incentivar mais ainda a pesca 
artesanal de lagosta com métodos predatórios, intensificou, também, a questão so-
cial nas comunidades, visto que a grande maioria de pescadores e armadores dei-
xou a captura de peixes e se concentrou na captura de lagostas. Tal prática resultou 
em que, segundo o IBAMA (1994b: p.209), no ano de 1993, cerca de 1.715 embar-
cações, a maioria de pequeno porte, passasse a atuar na pesca desse crustáceo, 
sendo que, oficialmente, apenas 589 (34,3%) operaram com apetrechos permissio-
nados. Fica claro que a exploração racional desse importante recurso passa funda-
mentalmente pela diminuição do esforço de pesca, ou seja, uma redução drástica do 
número de embarcações em operação, o que, certamente, trará maiores prejuízos 
sociais, se não forem ouvidas e respeitadas as expectativas dessas comunidades. 
De certa forma, a curto prazo, a especialização da pesca artesanal com ênfa-
se no produto lagosta significou aos profissionais dessa atividade um ganho real, 
pois, para se obter uma renda equivalente à venda de 10 kg de peixes, é necessário 
apenas 1 kg do crustáceo (LIMA, 1993 & IBAMA, 1994a). Essa relação intensificou a 
pesca artesanal de lagostas e fez com que os pescadores deixassem de ser produ-
 
14 É quando a quantidade de apetrechos utilizados na captura de um determinado recurso pesqueirose encontra acima do nível máximo sustentável por esse recurso. 
30 
 
 
tores de subsistência de peixes, no sentido de ofertarem apenas o "excedente", e 
passassem a produzir fundamentalmente para o mercado externo. Esse novo modo 
de produzir levou esses profissionais a sofrerem transformações em suas relações 
sociais de produção, nas práticas tradicionais de captura e na organização social 
das comunidades. Todavia, a intensificação da pesca de lagosta, principalmente 
com apetrechos predatórios, concorreu para uma escassez do produto, antes, tão 
abundante no litoral cearense. 
Atualmente, o IBAMA, através de sua Diretoria de Incentivo à Pesquisa e Di-
vulgação-DIRPED, está executando uma pesquisa intitulada; "Estudo Socioeconô-
mico e Ambiental da Pesca de Lagostas no Nordeste do Brasil". Nesta, o órgão pre-
tende "aprofundar o conhecimento sobre a pesca de lagosta, com o emprego de co-
vo, caçoeira e de mergulho, e sobre aspectos sociais e econômicos da população 
envolvida nessa atividade, bem como os seus impactos sobre o meio ambiente, com 
vistas a subsidiar um possível reordenamento dessa pesca" (IBAMA, 1992; p.3). Os 
resultados preliminares desta pesquisa foram apresentados recentemente na última 
reunião do GPE, da lagosta, realizado em novembro de 1994, com a participação 
das principais entidades de pesquisas do setor, na região. 
Segundo diagnóstico da pesca realizada pela SUDEPE em 1988, Icapuí, Mu-
nicípio no qual está inserida a comunidade de Redonda, objeto desse estudo, está 
situada numa das áreas geográficas de maior produção de lagostas do Estado. Em 
1993, a pesca desse crustáceo representou 52,3% da produção total de pescado do 
Município, que alcançou 506.360 kg (IPLANCE, 1994b). Redonda contribuiu com a 
maior parcela dessa produção, haja vista que possui o maior número de embarca-
ções da região - 203 unidades no total. Contudo, os profissionais que vivem da pes-
ca na comunidade não usufruem do produto principal de seu trabalho em sua ali-
mentação. Para eles, a lagosta é apenas um produto de troca e não de consumo, 
aproveitando-se às vezes das cabeças e de indivíduos muito jovens, cuja captura é 
oficialmente proibida. 
Nessa comunidade, os pescadores sabem quais os métodos de captura que 
são considerados predatórios, muito embora a grande maioria não conheça o signifi-
cado do termo predatório . A justificativa para o uso de tais métodos é sempre dire-
cionada para o enfoque econômico financeiro. 
31 
 
 
Em Redonda, a pesca do crustáceo teve início no final da década de 50, no 
mesmo decênio em que ela surgiu comercialmente. Foi introduzida pela mesma pessoa 
que exportou o produto pela primeira vez no Estado, o americano conhecido por Mr. 
Morgan (IBAMA, 1994a), como afirma um ex-pescador, hoje intermediário da pesca. 
A pesca de lagosta aqui, começou em 58. Nos fomos os primeiros que co-
meçamos a pesca de lagosta. O Morgan [grifo nosso] foi quem trouxe a 
pesca de lagosta pra cá, nos fizemos arco de jereré de cipó. [...] Eu fui um 
dos tais que naquela época tinha onze anos de idade, e fui pró mar (barrq15. 
48 anos). 
Na comunidade, a partir do instante em que se intensificou a procura pelo 
produto lagosta, mudanças aconteceram em sua estrutura e no modo de vida de 
seus habitantes (quase que exclusivamente pescadores). As mais visíveis, segundo 
relato dos mais antigos, foram o crescimento, em tamanho e população, e o aumen-
to do número de embarcações. Tais fatos vieram refletir nos problemas dessa co-
munidade, com características peculiares, principalmente no período do defeso. Es-
sas modificações, características e problemas da comunidade, bem como os modos 
predominantes na pesca artesanal da lagosta e sua comercialização, estão apresen-
tados na parte seis desse relatório. 
 
 
 
15 A partir desse segmento serão utilizadas as seguintes abreviaturas , para identificação dos autores 
dos testemunhos: ag. sd.= agente de saúde; alfab.= alfabetizado; anfab.= analfabeto; assc.= associa-
ção; barrq.= barraqueiro; comc.= comerciante(s); comut.= comunitário; coord.= coordenadora; frig.= fri-
gorífico; gert.= gerente; mord.= moradores; pescd.= pescador; presd.= presidente e; prof.= professora. 
 
3 O “DEFESO” DA PESCA DE LAGOSTA: contextualização do problema 
 
A exploração racional de um recurso pesqueiro que pretenda manter sua po-
pulação ecologicamente equilibrada deve se basear em um raciocínio lógico e ele-
mentar, no qual se observa que seu estoque possui um limite máximo sustentável de 
exploração. Desrespeitar esse limite significa atingir o ponto de inflexão e, a partir 
desse instante, a espécie tenderá a um processo que poderá levá-la à extinção. Infe-
lizmente, a evolução histórica da utilização dos recursos pesqueiros tem demonstra-
do que a tendência inevitável é atingir um estágio de sobrexploração física e econô-
mica desses recursos (BEDDINGTON et al, 1984 & LIMA, 1993). 
Segundo esse princípio, participar da exploração racional de um recurso pes-
queiro requer, antes de tudo, o conhecimento da biologia da espécie que se preten-
de explorar. Assim sendo, nem todos os segmentos deveriam participar de tal ação, 
ficando de fora, principalmente, aqueles que fazem uso da pesca predatória sem 
discriminação. Entretanto, tem-se observado, de certo modo, que todos os grupos 
querem ter o direito de pescar toda espécie, em qualquer lugar, a qualquer montan-
te, durante qualquer período. Isso tem levado a uma difícil e ineficiente administra-
ção dos recursos aquáticos, tornando a atividade econômica da pesca numa prerro-
gativa para certos segmentos e não um direito de todos, principalmente daqueles 
que sobrevivem exclusivamente dessa atividade. Numa sociedade capitalista como a 
brasileira, torna-se difícil encontrar maneiras de socializar e distribuir equitativamente 
esses privilégios (por ex: licença de pesca), haja vista a existência de segmentos di-
ametralmente opostos (industrial x artesanal), explorando um mesmo recurso animal. 
De acordo com Fonteles-Filho (1979, p.24), "toda população animal tem uma 
capacidade limitada de produção, a qual é determinada pelos fatores limitantes do 
ecossistema e pela competição com outras populações da comunidade, por espaço 
e alimento". Segundo o Autor, nessas condições, a população permanece num equi-
líbrio, cuja manutenção é atingida pela ação da mortalidade natural. Segue afirman-
do que, em populações de organismos aquáticos, o homem, através da pesca, faz a 
população atingir outro nível de equilíbrio, menor que o anterior, mas que dá origem 
a um excedente que é retirado quando da captura desses recursos. Esse novo esta-
do de equilíbrio pode ser definido "…como uma situação de rendimento estabilizado 
33 
 
 
pela igualdade dos ganhos e perdas de biomassa num determinado período de tem-
po" (FONTELES-FILHO, 1989; p.249). Conforme o pesquisador, esse rendimento 
seria sua produção máxima sustentável , ou seja, aquele volume máximo de captu-
ra que o homem poderia retirar da população, através de um determinado nível de 
esforço de pesca, sem afetar o seu equilíbrio biológico. 
Todavia acontece, que na maioria dos casos, o esforço de pesca atuante so-
bre aqueles recursos pesqueiros de grande atração econômica, como a lagosta, cos-
tuma ser muito superior àquele que seria necessário para se obter a captura máxima 
sustentável para aquela espécie16. Aliando-se ao fato a intensificação da utilização 
de artes ou práticas reconhecidamente predatórias (como o caso da pesca de mer-
gulho), tem-se como resultado dessa situação a depleção dos estoques desses re-
cursos pesqueiros. 
Fonteles-Filho (1979) tem alertado para a elevada taxa de exploração dos 
estoques lagosteiros no Nordeste Brasileiro. Afirma que, a partir de 1972, esse 
crescimento tem colocado em perigo a capacidade de renovação dos estoques, e 
que as consequênciasdesse aumento desordenado do esforço de pesca , eviden-
ciados pela diminuição do índice de abundância (CPUE) e do nível ótimo de produ-
ção máxima sustentável, são: "…a elevação da taxa de mortalidade e o desequilí-
brio na estrutura etária, favorecendo uma participação predominante dos indivíduos 
jovens e decréscimo relativo dos indivíduos adultos e reprodutores, na população" 
(FONTELES-FILHO, 1979; p.1-2). 
E foi a partir dos anos 70, com a crescente pressão sobre os estoques lagos-
teiros no Nordeste do Brasil, em razão do aumento quantitativo do esforço de pesca, 
bem como pela prática excessiva de apetrechos e métodos predatórios aplicados 
sobre essas populações, que se exigiu da SUDEPE, àquela época o organismo fe-
deral responsável pela ordenação da exploração dos recursos pesqueiros nacionais, 
a adoção de medidas e regras de gerenciamento visando à regulamentação da pes-
ca de lagostas. 
 
16 Segundo o relatório do último GPE da lagosta (novembro de 1994), os valores ótimos para os parâ-
metros da pesca da lagosta(espécies em conjunto), seriam: Eotm= 25 milhões de covos-dia; CPUEotm= 
0,40 kg/covo-dia e; CMS= 9.000 ton./ano. Os valores obtidos com os dados dos desembarques efetu-
ados em 1993 foram: esforço de pesca padronizado, incluindo as artes covo e caçoeira, segundo a 
expressão fp=fc+ICExfr (Fonteles-Filho, 1989), foi fp= 87,6 milhões de covos-dia; CPUE= 0,12 kg/covo-
dia; para uma produção de 7.992 ton./ano (IBAMA, 1994b). Essa situação retrata um estado de sobre-
pesca, já que o esforço, 250% superior ao valor ótimo, foi inversamente proporcional à produção. 
34 
 
 
Por essas razões, o Brasil, a partir de 1975, à semelhança dos demais paí-
ses17 que também possuíam em suas plataformas bancos lagosteiros explorados 
comercialmente, passou a estabelecer medidas limitadoras, com a finalidade de pro-
teger seus estoques em seus pontos mais vulneráveis, quais sejam; os indivíduos 
jovens, fêmeas ovadas e a reprodução. 
As seis normas baixadas com o fim de proteção desses estoques foram: 1- 
Fechamento de estações de pesca (defeso); 2- Fechamento de áreas de pesca (pro-
teção de áreas de criatórios naturais); 3- Limites de tamanho mínimo de captura das 
espécies; 4- Restrições sobre apetrechos de pesca; 5- Controle de acesso à pesca 
(limitação da frota) e; 6- Proteção aos reprodutores (lagosta ovígera). Segundo o 
IBAMA (1994a), entre as medidas ordenadoras impostas ao gerenciamento da pes-
ca da lagosta aquela que passou a produzir um maior impacto socioeconômico ao 
setor foi o "Fechamento de estações de Pesca" - o defeso18. 
Desde o seu estabelecimento, através da Portaria SUDEPE/nº 623, de 07 de 
dezembro de 1975, esta interdição anual tem passado por vários períodos e épocas 
distintas. Ocorreram paralisações de 60, 90 e até 120 dias, variando entre os meses 
de março a abril, dezembro a janeiro, dezembro a fevereiro, dezembro a março e, a 
partir da Portaria nº 2.164, de 29 de outubro de 1990, até a presente, de nº 137/94, 
de 12 de dezembro de 1994, de janeiro a abril, conforme estabelecem seus: 
Art.1º - Proibir o exercício da pesca da lagosta vermelha [Panulirus argus] e 
lagosta cabo verde [P. laevicauda], anualmente, no período de 01 de janeiro 
a 30 de abril, no mar territorial brasileiro [faixa de doze milhas marítimas] e 
na Zona Econômica Exclusiva brasileira [faixa que estende das doze às du-
zentas milhas marítimas]. 
§ 1º- Tolerar-se-á o desembarque das citadas espécies somente até o dia 31 
de dezembro de cada ano, data em que as embarcações devem retornar, da 
faina pesqueira, com todos os covos conduzidos em sua última saída. 
§ 2º- É concedido o prazo de 03[três] dias para que as mencionadas espé-
cies desembarcadas sejam transportadas, por terra, até os frigoríficos ou 
empresas processadoras, desde que possuidoras do certificado do Serviço 
de Inspeção Federal - SIF. 
§ 3º- Permitir-se-á a largada das embarcações lagosteiras, devidamente li-
cenciadas, a partir de 00:00 [zero hora] do dia 1º de maio de cada ano. 
Art.2º - As pessoas físicas ou jurídicas que atuam na captura, conservação, 
beneficiamento, comercialização ou industrialização de lagostas deverão 
fornecer às Superintendências Estaduais do IBAMA, até o dia 07 de janeiro, 
 
17 Segundo Teixeira (1992), as medidas colocadas em vigor na Austrália, além de muito rígidas, como 
um defeso de 135 dias no ano (01/07 a 14/11), visam a proteção dos indivíduos imaturos e a manu-
tenção do esforço de pesca naquele nível ótimo da produção sustentável. Tal prática tem mantido a 
produção anual estável com crescimento médio em torno de 1,8%. 
18 Entre as comunidades pesqueiras artesanais litorâneas, esse período de interdição da pesca de la-
gosta é vulgarmente chamado de “paradeiro”. 
35 
 
 
relação detalhada do estoque de lagosta existente no dia 03 de janeiro (Pu-
blicada no DOU de 13/12, Seção I, pag. 19372). 
Esta medida tem como objetivo primordial proteger a espécie na época de 
maior atividade reprodutiva, dando possibilidade a que os indivíduos tenham um pe-
ríodo de crescimento sem serem capturados e reduzindo o nível do esforço aplicado 
à pesca (IBAMA, 1994b). 
Todas as medidas de proteção à pesca de lagostas estão baseadas no co-
nhecimento científico dos estudos e recomendações do Grupo Permanente de Estu-
do (GPE) da lagosta, principal fórum técnico de análise e debates da problemática 
da pesca de lagostas, organizado e coordenado atualmente pelo IBAMA. Em sua úl-
tima reunião anual, ocorrida de 21 a 25 de novembro de 1994, o subgrupo de Bioe-
cologia/Tecnologia recomenda que o período de defeso seja transferido para os me-
ses de fevereiro a maio. Os últimos resultados das pesquisas apresentadas nessas 
reuniões demonstram ser essa a época mais indicada e o período mínimo, 120 dias, 
necessários para o alcance dos objetivos desejados (IBAMA, 1994b). 
As medidas regulamentares, principalmente o período do defeso, são necessá-
rias para a manutenção dos estoques em níveis economicamente exploráveis, pois, 
segundo o IBAMA (1994a), a oferta de lagosta está ameaçada pela sobrepesca e pela 
pesca predatória, que ocorrem em razão da desobediência às recomendações das 
medidas de ordenamento da pesca. Entretanto, essas normas atingem mais direta-
mente, através de seu impacto socioeconômico, à categoria dos pescadores artesa-
nais, por serem o vetor mais descapitalizado do segmento produtivo - empresários, 
armadores, comerciantes e/ou intermediários e pescadores - e o menos amparado pe-
lo modelo econômico vigente em nosso País. Assim sendo, além de ficarem sem pes-
car por quatro meses, no período do defeso, esses profissionais são direcionados 
compulsoriamente para o uso de aparelhos de pesca predatórios, em decorrência da 
pequena autonomia de mar e insuficientes condições físico-estruturais de suas em-
barcações, que limitam o pleno exercício de pescarias com o emprego de covos. 
A prática predatória é estimulada indiretamente pelo segmento industrial, pois 
grande parcela das empresas do setor não investem na aquisição de embarcações 
lagosteiras, em virtude dos seus altos custos de manutenção, preferindo dessa ma-
neira financiar a armadores e intermediários locais, que repassam esses custeios 
aos pescadores, fomentando a atividade com a aquisição de caçoeiras e equipa-
36 
 
 
mentos de mergulho. É dessa forma que a problemática da lagosta caminha ao lado 
da questão social desse segmento produtivo, que, em algumas regiões, tentam de 
todas as maneiras, via associações de classe e a políticos sem consciência ecológi-
ca, a liberação da pesca da lagosta com o uso de caçoeira e compressores. 
Atualmente, com a finalidade de buscar opções que amenizem a prática da 
pesca predatória, o IBAMA, através de seu núcleo de educação ambiental, procura o 
envolvimento da sociedade na defesa do meio

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