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2005-dis-inmasilva

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Inaura Maria de Almeida Silva
RELATOS HISTORIOGRÁFICOS E MEMÓRIAS DA TRAVESSIA DO RIO 
PARNAÍBA: A EDUCAÇÃO BARONENSE E A BUSCA PELO SISTEMA 
ESCOLAR DE FLORIANO, NO PIAUÍ (1940 - 1970)
Fortaleza - CE
2005
Silva, Inaura Maria de Almeida.
Relatos historiográficos e memórias da travessia do rio Parnaíba: a 
educação baronense e a busca peio sistema escolar de Floriano no 
Piauí (1940 - 1970). Inaura Maria de Almeida Silva. - Fortaleza: 2005.
160 p: ií.
Orientadora: Maria Juraci Maia Cavalcante.
Dissertação (Mestrado) - UFC / UFPI: Faculdade de Educação, 
2005.
1. História e memória. 2. Educação. 3. Barão de Grajaú, Ma - 
Floriano, Pi. 4. rio Parnaíba. I. Título.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ-UFC 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO - FACED 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Inaura Maria de Almeida Silva
RELATOS HISTORIOGRÁFICOS E MEMÓRIAS DA TRAVESSIA DO RIO 
PARNAÍBA: A EDUCAÇÃO BARONENSE E A BUSCA PELO SISTEMA 
ESCOLAR DE FLORIANO, NO PIAUÍ (1940 - 1970).
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- 
Graduação em Educação Brasileira, da Faculdade 
de Educação da Universidade Federal do Ceará 
como requisito parcial para obtenção do título de 
Mestre em Educação, sob a orientação da Prof3 Dr3 
Maria Juraci Maia Cavalcante.
Fortaleza - CE
2005
RELATOS HISTORIOGRÁFICOS E MEMÓRIAS DA TRAVESSIA DO RIO
PARNAÍBA: A EDUCAÇÃO BARONENSE E A BUSCA PELO SISTEMA 
ESCOLAR DE FLORIANO, NO PIAUÍ (1940 - 1970)
BANCA EXAMINADORA
Profa Dra. Maria Juraci Maia Cavalcante (Presidente - UFC)
Profa Dr3 Zuleide Queiroz Fernandes - 1a Examinadora (URCA)
Profa Dr3 - M3 Isabel F. Lima Ciasca - 2a Examinadora (UFC)
Aprovada no dia 01 de julho de 2005
DEDICATÓRIA
Aos pais, José Almeida e Adelina, que com muito esforço, proporcionaram 
uma base sólida na qual foram edificados os meus sonhos.
Ao meu esposo Daniel, pelo estímulo para a realização deste trabalho.
Aos filhos Daina e Danilo, orgulho e incentivo para a concretização dos 
meus sonhos, construídos ao longo dos anos.
AGRADECIMENTOS
A Deus, nossa sustentação espiritual e guia em todos os momentos da 
nossa vida.
À professora, doutora Maria Juraci Maia Cavalcante, pela competente e 
segura orientação, repleta de sabedoria, paciência e, sobretudo, de amizade, numa 
autêntica demonstração do que é ser educadora.
Ao Campus Amílcar Ferreira Sobral, pelos meios postos à nossa 
disposição na pessoa do senhor Diretor.
Ao professor, doutor José Arimatea, pela paciente disposição para o diálogo 
e pelas ricas sugestões no início do projeto.
Ao professor doutor Rui Martinho, pelos valiosos comentários que muito 
contribuíram para a condução da pesquisa.
Aos professores do mestrado, pelo convívio e pela experiência de ensino- 
aprendizagem vivida durante o curso.
À professora, Dra. Marlene Carvalho, pelos esclarecimentos e sugestões na 
elaboração do projeto.
À amiga acolhedora e incentivadora, Izaura Silva e seu esposo Carlos 
Alberto.
À cunhada, Maria Fontinele, pela colaboração ao longo do curso.
Ao sobrinho Gustavo pelo auxílio prestado na transcrição e digitação das 
entrevistas.
À sobrinha Lidiany pela colaboração na estrutura final deste trabalho.
À diretora da Unidade Escolar Domingos Machado, Maria Luiza Almeida, e 
a diretora do Ney Braga, que nos permitiram consultar os arquivo da Escola.
Ao colega Alex, pelo apoio na apresentação da pesquisa.
Aos colegas Gilmar e Everardo pelo auxilio na organização das fotos.
A todos que contribuíram para a realização deste trabalho.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................... 12
2. O SENTIDO HISTÓRICO DA ESCOLA NA MODERNIDADE.......................... 30
3. A OCUPAÇÃO DO SERTÃO: O SURGIMENTO DAS CIDADES DE BARÃO DE
GRAJAÚ E FLORIANO
3.1. A criação de gado e a ocupação dos pastos................................................ 39
3.2. A ocupação do atual Município de Barão de Grajaú.................................... 46
3.3. A origem e aparecimento das cidades.......................................................... 50
3. 4. De uma Colônia Agrícola nascem duas povoações: a educação como
ponto de partida e de chegada....................................................................... 57
4. UM RASTREAMENTO HISTÓRICO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA 
ESCOLAR DO MARANHÃO: RETARDAMENTO E BUSCA DOS
BARONENSES PELAS ESCOLAS DE FLORIANO NO PIAUÍ
4.1. A organização do sistema escolar no Maranhão: 1940 - 1970 ........... 64
4.2. A trajetória da organização escolar em Barão de Grajaú.......................... 75
4.3. Democratização da Escola e o impacto da modernidade na educação
baronense............................................................................................................ 94
4.4. Outro lado, outras escolas: início da migração de alunos....................... 106
5. MEMÓRIAS DO RIO PARNAÍBA: UM DIVISOR DE TERRAS E INTEGRADOR 
SOCIOECONÔMICO E CULTURAL
5.1. O rio Parnaíba como divisor de terras e integrador socioeconômico e 
cultural................................................................................................................. 122
5.2. O rio na memória de estudantes, canoeiros e de pais de alunos em relação
ao período de 1940 a 1970............................................................................... 132
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 150
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 155
índice das fotos
Foto 1 - Alunos da Escola Estadual Domingos Machado. Ao centro, o prefeito
Pedro Ferreira Góes e as professoras Corina e Zuleide Souza Silva....... 85
Foto 2 - Apresentação cívica da Escola Domingos Machado............................... 91
Foto 3 - Prédio da Prefeitura e da casa ao lado, onde funcionou a primeira escola
de Barão de Grajaú.......................................................................................... 94
Foto 4 - Ponte sobre o rio Parnaíba, ligando as cidades de Barão de Grajaú - Ma.
e Floriano-Pi .................................................................................... 123
RESUMO
Este trabalho apresenta uma abordagem histórica sobre a educação do 
Município de Barão de Grajaú - Ma., com o objetivo de reconstruir a experiência 
vivida por jovens baronenses que estudavam na cidade de Floriano. Embora 
próximas, as duas cidades pertencem a Estados diferentes e têm na Educação um 
dos elementos integradores no campo sócio-econômico e cultural.
Por meio desta pesquisa, procurou-se apreender informações mediante 
memórias, que ajudaram na reconstituição da estrutura educacional de Barão de 
Grajaú.
Para melhor elucidação do desenvolvimento educacional ocorrido neste 
município maranhense, de 1940 a 1970, período em estudo, buscou-se apoio 
teórico-metodológico nas idéias de autores da História Nova, por possibilitar maior 
dinamismo à pesquisa. Ao abordar temas como memórias, recorremos aos escritos 
de Ecléa Bosi e Paul Thompson. Como recurso metodológico, foram realizadas 
entrevistas, fazendo a interlocução com outras fontes, como documentos, jornais, 
registros públicos e particulares, importantes para chegar ao objetivo proposto. As 
fontes orais foram representadas por alunos, pais, professores, funcionário de escola 
e canoeiro que vivenciaram aquele período.
Nesta pesquisa, evidenciou-se que as experiências do cotidiano escolar dos 
pesquisados, reveladas pela memória, foram importantes na reconstrução da história 
da educação de Barão de Grajaú. Sem esses elementos, teria sido difícil a 
compreensão da trajetória educativa desses sujeitos históricos.
ABSTRACT
This work introduces a historical approach about education of Barão de 
Grajaú with the purpose ofreconstruct the experience lived by baronenses youths 
that studied in Floriano. Although these two cities are near, they belong to different 
states and have in Education one of the integral elements in social-economic and 
cultural field.
Through this study, we search to apprehend information from memories, that 
helped in educational structure reconstitution de Barão de Grajaú.
To a better elucidation of the educational development occurred em Barão 
de Grajaú, from 1940 to 1970, period in study, we lookes for methological-theoretical 
support on the ideas from the new History authors, as they could enable a big 
dynamism to the research. When we approach themes like memories, we resort to 
Ecléa Bosi's is and Paul Thompson's works. As methodological resource, interviews 
were realized to do interlocution with other authorships such as: documents, 
newspapers, public and private registers, that were very important to reach the 
purpose. The oral information were represented by students, parents, teachers, 
school official and canoeist that lived in that period.
In this research, it was proved that the daily school experiences of the 
partakers, exposed through memory, were important on reconstruction of Barão de 
Grajaú education history. Without these elements it would be difficult to comprehend 
educational route of those historical subjects.
RYSUM
Este trabajo presenta subir histórico en Ia educación de Ia ciudad dei Barão 
de Grajaú - Ma., con el objetivo para reconstruir Ia experiência vivido para los 
baronenses jóvenes que estudiaron en Ia ciudad de Floriano. Aunque es siguiente, 
Ias dos ciudades pertenecen los diversos estados y tienen en Ia educación uma de 
los integradores de los elementos en el el socio-econo'mico y cultural campo.
Con esta investigación me miro prendo Ia información a través memórias, 
que habían ayudado en Ia reconstitución dei educativo estructura de Barão de 
Grajaú.
Para un informe mejor de Ia ocurrencia educativa dei desarrollo en el 
Barón de Grajaú, de 1940 el 1970. Cuando temas que se acercan como memórias, 
abrogamos a Ias escrituras de Ecléia Bosi y de Paul Thompson. Como recurso dei 
metodológico, tales habían sido llevados con Ias entrevistas que hacían el 
interlocution com otras fuentes como: documentos, periódicos, público y registros 
particulares, que habían sido importantes llegar el objetivo considerado. Las fuentes 
verbales habían sido representadas por las pupilas, padres, profesores, empleado 
de Ia escuela y dei canoeiro que había vivido profundamente ese período.
En esta investigación, fue probado que las experiencias de pertenecer 
diário a Ia escuela buscados, divulgado con Ia memória, habían sido importantes en 
Ia reconstrucción de Ia historia dei educación dei Barão de Grajaú. Sin estos 
elementos llegó a ser difícil Ia comprensión de Ia trayectoria educativa de estos 
ciudadanos históricos.
12
1. INTRODUÇÃO
Cresce o interesse pelo estudo de fenômenos relacionados à História da 
Educação brasileira, no intuito de melhor compreender a realidade educacional no 
País. Nesse sentido, a Educação se aproximou de outras áreas do conhecimento 
humano, dentre elas a História, que possibilitem um aprofundamento do fenômeno 
ocorrido em um determinado tempo e em certo lugar. Essa aproximação resultou na 
intensificação e inovação das pesquisas pelos historiadores da educação, que, com 
modos mais refinados de elaborar a História, adotaram problemas, métodos, objetos 
e fontes variadas, provocando, como explica Zequera (2002), o surgimento de 
enfoques e perspectivas de análise diversas no campo da pesquisa histórico- 
educacional.
Por conseguinte, foi a descoberta dessa combinação da inovação de 
pesquisas e ampliação do universo do conhecimento ora descrito que nos encorajou 
para realizar um estudo sobre o fenômeno da educação, sob o recorte de um 
espaço geograficamente pequeno, mas relevante, por estar sendo bem mais 
valorizado dentro das perspectivas atuais da História da Educação. Diante disso, 
além da motivação pessoal e profissional que nos anima, encontramos no presente 
estudo um campo fértil para o nosso preparo acadêmico como pesquisadora.
A propósito disso, é importante dizer que o nosso interesse pelo tema 
enfocado está relacionado com a nossa própria história de vida, já que parte da vida 
estudantil teve curso em escolas na cidade de Floriano, no Piauí e residindo em 
Barão de Grajaú, Maranhão, nosso lugar de origem e onde estudamos da 1a a 4a 
série primária. Nesse período, convivíamos’ com muitas outras crianças, 
13
adolescentes e jovens, na faixa de idade entre 10 a 20 anos, que faziam o mesmo 
trajeto à procura de oportunidades ascendentes de escolarização. O estudante tinha 
que atravessar o rio Parnaíba, que serve de limite entre as duas cidades, dentro de 
pequenas canoas para chegar à escola. As embarcações, nos horários de 
passagem dos estudantes, ganhavam um alegre colorido, não só pela diversidade 
dos tons e modelos das fardas, mas, principalmente, pela sua jovialidade 
contagiante.
Ao concluir o 2° grau, que corresponde ao atual Ensino Médio, fomos para 
a Capital maranhense, no intuito de dar continuidade aos estudos. O ingresso na 
Universidade Federal do Maranhão redobrou a esperança de exercer o magistério 
nas cidades onde realizamos a educação básica. Ser professora era um sonho 
alimentado desde a infância, em função dos elogios à profissão e por influência de 
nossa mãe que era docente. Concluído o curso de Licenciatura Plena em História, 
retornamos a Barão de Grajaú. Aquele deslocamento espacial, que, nos deixou 
marcas do tempo de juventude, foi continuado, só que não mais como estudante, e, 
sim, como professora na rede de ensino de Floriano.
Como professora, percebemos uma realidade diferente da vivida como 
estudante. Outras ações, reflexões e necessidades se formavam, estando a exigir 
novas explicações e respostas em meio à constatação de estar a viver num mundo 
em constante transformação.
Refazendo o mesmo percurso, passamos a observar mais atentamente o 
movimento migratório diário de estudantes baronenses e percebemos que, ao longo 
do tempo, muitas mudanças haviam acontecido. A principal delas estava relacionada 
com a passagem obrigatória pelo rio Parnaíba, em canoas movidas pela força 
14
humana, a partir da década de 1970, quando foram introduzidas as primeiras 
embarcações com motor movido a óleo diesel. As lembranças dos tempos de 
estudante e as experiências como professora expressavam momentos com 
características bastante diferentes. Depois da motorização dos barcos, a passagem 
de uma cidade para outra fora facilitada e se tornado mais freqüente.
Em 1978, com a construção da ponte sobre o rio Parnaíba - que liga Barão 
de Grajaú a Floriano - foi ainda mais facilitada a passagem de um lado para o outro 
do rio. As canoas haviam perdido muito da sua importância nessa relação entre as 
duas cidades. Era o aludido progresso que chegava aos pequenos e distantes 
lugares do Nordeste, o qual se integrava ao resto do país, através da 
Transamazõnica. Este progresso mudou a paisagem do Parnaíba e deu outro 
contorno à relação entre estas duas cidades.
Os avanços da sociedade brasileira modernizada se fizeram sentir em 
todos os setores da vida social: melhoraram as condições de vida de populações 
interioranas, surgiram melhores oportunidades de estudo e trabalho às famílias e, ao 
mesmo tempo, conduziram a um distanciamento de hábitos e práticas realizadas por 
outros, no passado, suplantando, sob muitos aspectos, as suas tradições.
A vivência como estudante em Floriano e as observações feitas como 
profissional empenhada com a causa social, produziram em nós um anseio de 
reaver experiências educacionais e nos remeteram ao aprofundamento sobre a 
educação escolar dos baronenses. No âmbito da educação e das relações 
interpessoais, há uma riqueza de elementos de vivênciacultural, muitas vezes 
inexplorados, mas que podem nos ajudar na compreensão da própria história 
15
coletiva. Nesse sentido, nos apoiamos na lição de Nagle (In: CAVALCANTE, 2000), 
para quem “história da educação também é história".
O que tomou decisiva a escolha do tema aqui apresentado foi o desejo de 
registrar aquele momento histórico, marcante na vida daqueles que migravam 
diariamente para a cidade vizinha em busca de formação escolar, conforme relatos, 
sempre presente em encontros, de velhos estudantes e contemporâneos, ameaçado 
de cair num total esquecimento, esmagado pelo avanço científico e tecnológico. As 
lembranças da travessia do rio Parnaíba aparecem cheios de representações e 
significados. Em uma dessas ocasiões, foi possível um mergulho profundo na 
memória, uma viagem que trazia de volta o passado, dava vida e o tomava presente. 
Uma história se desdobrava em outras, e, aos poucos, ia surgindo uma riqueza de 
informações detalhadas nas lembranças sobre os encantos e os desencantos, os 
prazeres e os desprazeres do nosso tempo de estudante. O exercício de rememorar 
revelava o cotidiano e trazia ao presente muito do que já não era lembrado.
Além desses motivos de ordem pessoal e profissional que justificaram a 
escolha do assunto a ser estudado, há também de se considerar a dificuldade de 
encontrar registros e estudos sobre o tema, sendo esta uma razão de caráter 
acadêmico, que motivou a nossa decisão de realizar a investigação da qual 
apresentamos no presente trabalho.
Com este estudo, pretendemos contribuir para o resgate histórico da 
educação de Barão de Grajaú, no período de 1940 a 1970, despertando, quem 
sabe, o interesse de outros pesquisadores, com vistas ao aprofundamento do 
assunto.
A escolha do período compreendido entre as décadas de 1940 e 1970 
decorreu da identificação de dois importantes marcos da história de Barão de 
Grajaú: o primeiro, relativo à emancipação da localidade, ascensão concedida em 
1938 e o segundo, em decorrência da instalação do primeiro ginásio da cidade, 
ocorrida em 1968. Considerando que os desdobramentos desses dois marcos 
puderam ser mais bem avaliados nas décadas que subseqüentes, é que optamos 
por trabalhar com o período assinalado, além do que essas três décadas são 
referidas mais freqüentemente por nossos depoentes e testemunhas, revelando o 
seu significado particular e esclarecedor da sua presença insistente nas memórias 
daqueles que as vivenciaram.
Esse recorte temporal, também, se justifica pelo fato de representar uma 
fase de adaptação e consolidação de uma nova situação política e social que, 
conseqüentemente, influenciou na organização educacional do Município. É 
acrescida a razão de tratar-se de um momento histórico considerado importante e 
inovador na educação baronense, tal como a contratação de professoras 
normalistas, facilitando assim o desenvolvimento da pesquisa, de acordo com os 
objetivos propostos.
Neste trabalho, buscamos reconstituir, sob o prisma histórico, a educação 
em Barão de Grajaú, enfocando as experiências e o que representava o rio Parnaíba 
naqueles momentos na vida das pessoas. Ao escolher este tema para pesquisa, 
sabíamos que as dificuldades seriam grandes e que íamos percorrer um caminho 
espinhoso, pois, em ensaio de pesquisa histórica realizado anteriormente, acerca do 
município (SILVA, 1992), já havíamos identificado dificuldades para encontrar fontes 
sobre a educação em Barão de Grajaú. Essa barreira, no entanto, passou a ser 
17
também um desafio e queríamos justamente encontrar uma forma de enfrentá-io. Foi 
a ausência de fontes historiográficas que nos levou à decisão de trabalhar com a 
memória de sujeitos envolvidos nesse processo. Novamente, é em Nagle (In: 
CAVALCANTE, 2002) que vamos buscar estímulo para julgar a importância de 
articular memória e história:
...a pesquisa em história no campo da educação, aviva aquilo que 
nós chamamos de memória social. [...] Talvez a importância maior da 
pesquisa histórica no campo da educação esteja no fato de que é 
essa pesquisa que nos vai dar elementos para a nossa própria 
identidade, não é individual, também, mas eu faço por ressaltar a 
identidade política (p. 16).
A história é consciência do passado no presente e, como o mesmo autor 
ressalta, o passado nos dá lições muito importantes e que, por isso, não devem ficar 
limitadas ao plano político, mas que ocorra também no terreno da educação. Para a 
história, nem tudo do que aconteceu um dia pode ser considerado perdido. Muito 
embora o passado não esteja registrado em documento, é possível (re)construir a 
história mediante outras diferentes e variadas fontes, tal como a memória. Nesse 
sentido, Cavalcante (2003) destaca a importância das múltiplas histórias e 
experiências como auxiliares no trabalho de pesquisa e na reconstituição do 
passado, inclusive, no campo educacional.
Por essa razão, séculos depois de firmada essa ambição moderna de 
enfeixamento do conhecimento, perpassada por uma ânsia reformista 
da sociedade, pressupor uma vastidão de iniciativas de registro e 
análise e, assim, adotar o esteio da multiplicidade de histórias, idéias 
e experiências educacionais, é o melhor que temos a fazer, inclusive, 
para dar lugar a outras tantas iniciativas de reflexão e entendimento, 
que não cessam nunca de acontecer. Afinal de contas, vivemos um 
tempo aberto ao múltiplo e ao microscópio, o que se traduz, no campo 
do conhecimento histórico, numa proliferação de narrativas e 
narradores (p. 17).
18
O presente tem forte relação com o passado e com o futuro. Trazer o 
passado para o presente é confirmar experiências, situando-se em uma realidade 
vivida por indivíduos e coletividades na família e no grupo ao qual pertencemos, 
como bem expressa Hobsbawm (1990 p. 36): “é inevitável que nos situemos no 
continuum de nossa própria existência, da família e do grupo a que pertencemos”. É 
a história do grupo que está representada na experiência escolar de pessoas 
comuns. São realidades de um tempo passado e totalmente desconhecidas das 
gerações mais novas, em virtude das mudanças ocorridas nos últimos anos, que 
transformou a sociedade nos seus variados aspectos - políticos, sociais, 
econômicos - onde as relações sociais e as formas de ver o mundo são diferentes 
de trinta há cinqüenta anos. Desse modo, há um risco de perdermos essas 
memórias que podem se constituir como uma fonte de grande riqueza para a história 
das duas cidades - Barão de Grajaú e Floriano - razão que torna ainda mais 
importante uma pesquisa nesse segmento.
Para a delimitação do nosso objeto de estudo, durante o desenvolvimento 
da pesquisa, consideramos a origem histórica, a organização do sistema escolar e a 
memória das duas cidades. Duas questões nortearam todo o processo de 
investigação: a motivação dos estudantes de Barão de Grajaú em buscar o sistema 
escolar de Floriano e a importância social e simbólica do rio Parnaíba nesse 
contexto.
A fundamentação teórico-metodológica adotada para responder às 
questões formuladas foi baseada nas idéias dos seguidores da História Nova, pois, 
segundo esse paradigma, é possível realizar a história a partir de uma atividade 
humana qualquer, pois tudo tem um passado quê pode ser recobrado, como bem 
19
acentua Haldane; “tudo tem uma história” (In: BURKE, 1992, p.11). Na abordagem 
histórica - neste pressuposto - é um campo de possibilidades a ser trabalhado, 
reconhecendo uma diversidade de abordagem, inclusive, há um envolvimento do 
sujeito no processo do conhecimento.
Com essa orientação, podemos visualizar novas ações, ocorridas ao longo 
do tempo, pontos de vistas e interpretações que se transformam na decorrência da 
História. Há ainda de considerar que a História Nova admite a utilização de várias 
fontes, o que facilita o trabalho do pesquisador na compreensão e análise do objeto 
em estudo.
As fontes de pesquisa aqui utilizadas forammúltiplas e envolvem 
documentos provindos do Poder Executivo e Legislativo Estadual, localizadas no 
Arquivo Público e na Biblioteca Pública do Maranhão; registros oficiais da Prefeitura 
de Barão de Grajaú, jornais de época, livros, fotografias, documentos de arquivos 
particulares e de escolas de Barão de Grajaú e Floriano, como também entrevistas 
com pessoas que vivenciaram o período, na tentativa de entender como se sucedeu 
o intercâmbio cultural desses estudantes com o sistema escolar da vizinha cidade 
piauiense, visto ser essa, a nossa problemática da pesquisa.
A dinâmica de depoimentos, articulados com dados em registros, serviu 
como alternativa para preencher vazios documentais a respeito do tema. A ausência 
de documentos mais precisos sobre a educação em Barão de Grajaú tornou mais 
difícil o cruzamento das informações colhidas.
à ação do tempo e do que foi “perdido”, é o que leva o historiador a tomar 
como “novo aquilo que foi silenciando, no âmbito da historiografia produzida. Para 
20
Le Goff (2003, p. 179), “mais do que uma ruptura com o passado, ‘novo’ significa um 
esquecimento, uma ausência de passado”.
Para reflexão e esclarecimento no campo da memória, a base teórica foi 
encontrada em Ecléa Bosi, por tratar do significado da ação direta da história na vida 
pessoal e coletiva, numa trama permanente traçada com as próprias experiências 
nas duas instâncias, o que torna importante o uso de lembranças para recompor os 
significados da trajetória educacional.
Seguindo o relato sobre o exercício da presente investigação, foram 
levantadas informações sobre a rede de educação escolar do Município de Barão de 
Grajaú para avaliar sua formação, e saber como eram as escolas em Floriano, 
buscando configurar o perfil do aluno que estudava nessa cidade piauiense. Para 
isso, fizemos entrevistas com base na orientação metodológica de Thompson 
(2002), pois, de acordo com esse autor, a lembrança pessoal é importante para o 
historiador, porque ajuda a fazer uma descrição mais ampla do objeto de estudo, em 
especial, quando se trata de um espaço geográfico pequeno.
Para a realização das entrevistas, foram escolhidas, de início, 10 pessoas. 
Posteriorrnente, surgiu a necessidade de incluir outros sujeitos que vivenciaram esse 
período, a fim de alcançar melhor equilíbrio em relação às diferentes “vozes” nos 
variados momentos do período enfocado, tais como alunos, pais de alunos, 
professores, funcionários de escolas e canoeiros.
A escolha dos entrevistados foi arrimada, como expressamos a pouco, nas 
idéias de Thompson (2002), haja vista este autor assinalar que o homem é o 
construtor da sua própria história, bem como das fontes e dos documentos que 
21
servirão para a reelaboração da História como saber. Pessoas comuns contando 
fatos da sua vivência, é que tornam essas falas alvo de interesse histórico, tomando- 
as como agentes que participam da formulação social da história com suas 
experiências, “cujas vozes estão ocultas porque suas vidas são muito menos 
prováveis de serem documentadas nos arquivos” (IDEM, p. 16-17).
A articulação das fontes e do tempo permite o entendimento da 
transformação social e da própria vida em sociedade. De acordo com Zequera 
(2002, p. 126), “a História é entendida como ingrediente da construção social da 
realidade e como categoria ontológica dessa realidade. Isto é, toda sociedade se 
transforma, ao longo do tempo, e é história em si mesma”. Para justificar seu 
entendimento a respeito dessa idéia, cita Vinao:
El tiempo social y humano, múltiple y plural, es um aspecto más de Ia 
construcción social de Ia realidad. Esta construcción es consecuencia 
e implica el estabelecimento de unas determinadas relaciones entre el 
antes, el después y ela hora - el passado, el futuro y el presente -, de 
una determinada temporalización de Ia experiência em relación com el 
presente también concreto (IBIDEM, p. 12).
Acreditamos que trabalhar com a memória das pessoas sobre 
determinados acontecimentos por elas vivenciados será de extrema importância, 
tanto para a reconstrução da história como para elevar nelas a auto-estima e, 
certamente, servir de estímulo e de conscientização do seu papel no processo 
histórico. As narrativas emanadas das lembranças têm uma função social, por tratar- 
se de uma informação passada para outro, ‘na ausência do acontecimento ou do 
objeto que constitui o seu motivo’ (LE GOFF, 2003, p. 421).
22
As entrevistas foram do tipo semi-estruturada, por entendermos que esse 
meio possibilita maior liberdade ao entrevistado para discorrer sobre o tema em 
curso.
Nossos sujeitos são pessoas comuns que vivenciaram uma época em que 
a realidade educacional e as condições socioeconômicas do Município eram bem 
diversas da atual, tempo em que as oportunidades eram poucas, mas, com todas as 
adversidades, foram, sobretudo uns vencedores. São testemunhos carregados de 
experiências significativas para a construção da história de Barão de Grajaú.
Ao rememorar, trazem para o presente acontecimentos do passado até 
então desconhecidos pelas gerações mais novas. As experiências desses sujeitos, 
na análise de Bosi (1987), fazem parte de “um mundo social que possui uma riqueza 
e uma diversidade que não conhecemos”, o qual só pode ser compreendido através 
da memória dos velhos, importante veículo de aproximação desse momento, que 
poderá ser perdido, caso não seja exercitado. A memória, para Le Goff (2003), é um 
elemento essencial que permite a compreensão das diferentes relações sociais e da 
reconstituição da história.
O ato de rememorar, segundo Halbwachs (1990), é quase sempre 
individual, mas está inserido nos quadros sociais da vida humana. Os fatos 
rememorados, além de evocativos, para Thompson (2002), são matéria-prima para 
uma história valiosa.
Por intermédio da memória, teremos um passado revelado, apresentando- 
se, como entende Bosi (1987), não como antecedente do presente, mas como fonte 
deste. Assim, o homem, é sujeito da história e é fonte de edificação do processo 
23
histórico. É nesse manancial cheio de possibilidades inesgotáveis que iremos 
mergulhar, nessa pesquisa, para nos auxiliar na reconstituição da história 
educacional de Barão de Grajaú.
A apresentação dos sujeitos será feita por ordem alfabética, ressaltando- 
se a diferença de idade entre eles, visto ser o estudo concentrado no período de 
1940 a 1970, e os testemunhos se referem a pontos diversos de temporalidade, 
dentro do mesmo espaço.
A lista de depoentes exposta na seqüência, além de tornar mais claro o 
desenvolvimento empírico desta investigação, pode facilitar a leitura relativa ao 
nosso modo de articulação entre história e memória, ao longo do trabalho.
1. Adelina Ferreira de Almeida
Nasceu em 05 de agosto de 1927. Residente em Barão de Grajaú, desde 
1955. Esposa de agricultor. Os dez filhos estudaram o primário na escola pública 
naquela cidade e o ginásio e 2° grau em Floriano. Foi professora de adultos, 
contratada pelo Município, de 1956 a 1958, e, posteriormente, contratada para 
lecionar no Grupo Escolar Domingos Machado. Foi mãe de alunos e, também, aluna, 
na rede escolar de Floriano.
2. Aiida Rios Cunha
Residente em Floriano. Foi nomeada professora para o Grupo Escolar 
Domingos Machado, pelo Estado do Maranhão, em 1949. Em 1961 foi transferida 
para a Escola Paroquial Santo Antonio, onde trabalhou até 1968.
24
3. Aldir Carvalho
Nascido em 05 de junho de 1936. Filho de lavrador. Mudou-se para a 
cidade de Barão de Grajaú, ainda criança, onde estudou as primeiras séries do 
primário. Transferiu-se para São Luis no intuito de concluir seus estudos e se 
profissionalizar.
4. Alexandre Dias Azevedo
Canoeiro, desde os 16 anos. Residente em Barão de Grajaú. Nascido em
24 de abril de 1928.
5. Altanir Fereira Góes
Filho de político e comerciante, nasceu a 14 de maio de 1943. Estudou 
primário e ginásio em Floriano. Recebeu orientaçãode tarefas escolares na escola 
particular da professora Zuleide Silva
6. Maria Angélica de França
Tesoureira e secretária do Ginásio Primeiro de Maio, por mais de 30 anos.
Nasceu em 03 de julho 1938. Residente em Floriano.
7. Ângelo Ferreira do Nascimento, “Major”.
Nascido em 27 de maio de 1926. Foi canoeiro por mais de 3 décadas. 
Transportava os estudantes mensalistas, por meio de acordo verbal, forma típica da 
época.
25
8. Helena Barros Helluy
Filha de funcionário público e político. Estudou as primeiras séries do 
primário em Barão de Grajaú e as seguintes, alternando entre São Luis e Floriano. 
Nasceu em 7 de outubro de 1941. Mudou-se para a capital maranhense e, 
freqüentemente, vem a Barão de Grajaú a passeio.
9. Idalina Meneses Rezende
Natural de Colinas, Maranhão, chegou em Barão de Grajaú em 24 de junho 
de 1941, nomeada professora para a Escola Reunida Domingos Machado. 
Fixou residência e constituiu família na cidade.
10. Joselita Góes Damasceno
Filha de político, lavrador e comerciante. Estudou o primário em Barão de 
Grajaú e o ginásio e magistério em Floriano. Aposentou-se como professora do 
Município,
11. Justiná Pereira
Nasceu em 06 de junho de 1925. Esposa de funcionário público federal e 
mãe de cinco filhos que também estudaram ginásio e 2o grau em Floriano.
12. Maria das Graças Pereira da Silva
Filha de lavadeira. Concluiu o primário em 1964 e ingressou no ginásio 
Bandeirante na década de 1970. Atualmente é professora do Município. Nasceu em 
21 de setembro de 1951.
26
13. Maria Efigênia Guimarães Ramos
Residente em Floriano e nomeada para a Escola Reunida Domingos 
Machado, em 1949, onde exerceu a profissão até 1983.
14. Paulino Carvalho
Nasceu em 17 de dezembro de 1929, no lugar Jatobá, município de Barão 
de Grajaú. Foi um dos precursores nessa experiência de estudar em escolas da 
vizinha cidade piauiense. Filho de comerciante, criador de gado e lavrador. Fiscal da 
Receita Federal aposentado.
15. Salomão Pires de Carvalho
Filho de lavrador e criador de gado para subsistência. Fiscal da Receita 
Federal, aposentado. Nasceu no município de Barão de Grajaú 1926. Foi também 
um dos pioneiros na passagem do rio Parnaíba para chegar à escola.
16. Sebastião Ribeiro
Chegou em Barão de Grajaú em 1948. Foi prefeito do município e 
funcionário público estadual.
17. Vicente Almeida Neto
Filho de comerciante, lavrador e político. Engenheiro mecânico. Nasceu 
em 1940 no interior do município de Barão de Grajaú, transferindo-se para a cidade 
com 12 anos, para completar os estudos primário e secundário.
27
18. Zuleide de Souza Silva
Foi professora leiga na Escola Reunida Domingos Machado. Pioneira na 
educação baronense e fundadora de uma escola “particular”.
Este trabalho foi divido em quatro capítulos numa demonstração do 
esforço mantido para a estruturação do estudo proposto, de modo a obter certa 
organicidade em nossa exposição no que concerne ao cruzamento de fontes 
historiográficas, documentais e orais.
O segundo capítulo - após esta introdução - faz um apanhado histórico 
das lutas pela educação a partir das idéias iluministas, para situar a importância da 
escola pública a partir da revolução e hegemonia burguesa no mundo ocidental.
No terceiro tópico, discorremos sobre as origens históricas da região em 
estudo, na tentativa de apresentar a antiga relação entre as cidades de Floriano e 
Barão de Grajaú, com vistas a sua constituição social. Os fatos descritos referem-se 
à conquista do sertão piauiense e maranhense, seguindo a historiografia relativa aos 
aspectos gerais da história do Maranhão e Piauí, sobre a evolução e características 
das cidades, assim como o surgimento dos dois núcleos populacionais de Barão de 
Grajaú e Floriano.
No quarto tópico, é feita uma descrição sobre a estrutura escolar 
baronense e a trajetória dos estudantes do Município, no período enfocado. Para 
melhor entendimento dessa organização educacional, foi necessário fazer um recuo 
temporal em busca das primeiras escolas implantadas na cidade. Apesar da 
28
precariedade das fontes documentais, os fatos foram organizados de maneira a 
mostrar a dificuldade para a formação educacional dos baronenses na própria 
cidade e a necessidade da migração para Floriano. Para descrever esse capítulo, as 
fontes básicas utilizadas foram os relatórios e discursos oficiais, bem como os 
relatos pessoais. Destaca também a importância da rede escolar de Floriano na 
formação escolar dos baronenses, que, embora incipiente, lhes dava a base 
necessária para prosseguimento dos estudos, na cidade vizinha.
O quinto módulo foi reservado para apresentação e análise das memórias 
dos sujeitos que vivenciaram a trajetória da educação escolar de baronenses em 
Floriano, buscando identificar o que o rio representou para essa integração social, 
econômica e cultural; ou seja, a importância do rio Parnaíba como fonte integradora 
e de desenvolvimento para ambas.
Na parte conclusiva do trabalho, foi realizada uma análise sobre o tema 
pesquisado e foram articuladas as relações estabelecidas entre a educação de 
baronenses e a rede de ensino de Floriano.
Entendemos que o presente estudo tem significado relevante, pois faz 
parte de uma realidade histórico-educacional em que as pessoas eram atraídas pela 
cidade vizinha, especialmente os jovens, para integrar o seu sistema escolar. 
Acreditamos ainda que o trabalho ensejará às gerações futuras a possibilidade de 
conhecer as marcas dos caminhos pisados por seus antepassados e conterrâneos, 
alcançando, certamente, melhor compreensão do passado e provocando uma 
atitude de valorização da história. Afinal, é a compreensão do passado que dá 
sentido ao presente e ajuda a projetar o futuro, pois nele estão as raízes do 
presente. São fatos que fizeram parte da vida dos estudantes e das famílias de 
29
Barão de Grajaú, e que contribuíram para a formação, pessoal e coletiva, de um 
contingente letrado na região, tendo, portanto, papel fundamental na formulação e 
desconstrução da identidade dos baronenses. Registrar esses acontecimentos é 
também evitar que caiam no esquecimento e desapareçam ao longo dos anos. 
Esperamos também que estejamos estabelecendo as bases para outros estudos 
relacionados à história e à memória da educação em Barão de Grajaú e Floriano.
30
2. O SENTIDO HISTÓRICO DA ESCOLA NA MODERNIDADE
A educação, como processo sistemático no qual se utilizam meios que 
visam a atingir intencionalmente determinados fins, geralmente ministrado dentro da 
família e da escola, sempre ocupou lugar de destaque nas discussões filosóficas, 
desde a Antiguidade. Considerada como fundamental na sociedade moderna, a 
educação escolar tem um papel importante na vida das pessoas, sendo, portanto, 
instituída, por essas sociedades, como um dever do Estado e um direito de todos. 
No Brasil, a educação, mediante a luta de educadores e governantes, tem 
procurado, ao longo dos anos, novos rumos e ampliação do seu alcance social, 
iniciativas traduzidas sob a forma de projetos e reformas. Os constantes debates 
sobre a democratização da escola pública não são recentes. No século XVIII, 
acalorados discursos de defensores do ensino gratuito para todos, a partir da 
Revolução Francesa, ultrapassaram fronteiras, perseverando no espaço e no tempo, 
até hoje.
Para entender melhor a educação nos dias atuais, será necessário um 
mergulho no passado, trazendo para o presente a origem da instrução pública na 
sociedade burguesa.
As transformações ocorridas a partir do século XV, alteraram o modo de 
produção, caracterizado pelo surgimento do capitalismo, trazendo, também, 
mudanças no campo social, com a ascensão da burguesia contrapondo-se à 
nobreza feudal. A maneira de pensar da nova classe era diferente daquela 
predominante na Idade Média. As críticas dos renascentistas demonstram a 
31
necessidade de romper com o pensamento medieval. De acordo comAranha (2002), 
com o objetivo de ser um dos instrumentos para difusão dos valores burgueses, nem 
sempre alcançado nas escolas da Igreja Católica, literatos, filósofos e pedagogos 
defendem uma educação independente do controle religioso.
O ensino escolar não era mais pensado apenas para nobres e futuros 
membros da igreja cristã. Os colégios se multiplicaram. Segundo Le Goff (1988), 
jovens de origem camponesa passam a frequentar as universidades, mas a Igreja 
continuava a ter o domínio do ensino, nesse período.
No século XVII, com uma burguesia fortalecida pelo capitalismo, delineou- 
se o pensamento liberal que vai exprimir o desejo da burguesia. A teoria liberal, 
embora se apresente como democrática, tem bases elitistas e é voltada para 
interesses burgueses, estendendo-se para o âmbito da educação. O racionalismo de 
Descartes, priorizando a razão como ponto de partida para todo conhecimento e o 
empirismo de Locke, que destaca a experiência nesse processo do conhecer vão 
influenciar a educação. De acordo com Aranha (2002), alguns países da Europa 
como Alemanha e França criaram escolas gratuitas para crianças pobres. Essas 
escolas, porém, visavam à instrução religiosa, disciplinar e de preparação para o 
trabalho, onde pareciam mercados de servidores domésticos, empregados 
comerciais ou industriais. Analisando o pensamento dos enciclopedistas, Boto 
(1996), assinala que D’Alembert não propôs o ensino como dever público, mas tão 
somente sugeriu a educação doméstica.
A “escola pública para todos”, defendida pela burguesia, encontrava os 
entraves dos interesses burgueses sobre o Estado, cujo governo não se interessava
32
pela educação universal. Esse fato envolveu políticos e pensadores nos debates 
pela educação pública, especialmente na França.
O século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes, caracterizado, 
segundo Burns (1975), pela primazia da razão humana, procurando uma explicação 
racional de interpretação e reorganização do mundo. De acordo com Boto (1996), 
aquele foi “por excelência o século da política”, (p. 38)
Durante a Revolução Francesa, ponto alto das discussões, houve forte 
tendência de uma defesa ampla de uma escola pública e universal, leiga, gratuita e 
obrigatória.
Do lluminismo à Revolução Francesa, vislumbra-se o surgimento de 
um espírito público no qual a pedagogia passa a ser a pedra de toque. 
[...] Por tal utopia revolucionária, credito-se à instrução o ofício de 
palmilhar a arquitetura da nova sociedade. A escola - como instituição 
do Estado - deveria gerir e proteger a República (BOTTO, 1996, p. 
16).
A idéia de universalização da escola está, em princípio, ligada à
necessidade de transformar as “pessoas comuns” em cidadãos.
A modernidade elegia a cidadania como referência e álibi para 
sustentação de uma sociedade que não equacionava as distancias e 
as desigualdades sociais. A cidadania, no entanto, exigia 
emancipação pelas Luzes, pela erradicação do suposto 
obscurantismo (IBIDEM p. 16).
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada em 1793, 
segundo Luzuriaga (1959), preconiza a educação como um direito de todos e 
comete aos governantes, portanto, ao Estado, essa responsabilidade.
33
No século XIX, com o impacto da industrialização e o aumento da 
produção, novas mudanças aconteceram em todos os setores da sociedade 
humana. Na economia, o capitalismo liberal deixa a idéia da livre concorrência e 
passa para o moderno capitalismo dos monopólios. A burguesia se consolida no 
pode,r operando mudanças que mais uma vez influenciaram o pensamento 
pedagógico e a organização educacional.
A urbanização, característica da expansão industrial, exigiu, segundo 
Manacorda (1989), a qualificação da mão-de-obra e concretizou as tentativas de 
universalização do ensino, do século anterior. O Estado assumiu, aos poucos, o 
encargo da escolarização. O caráter universal e geral deixou de ser o foco da 
educação e a preocupação passou a ser a formação da consciência nacional e 
patriótica do cidadão.
A concentração de renda e as conseqüentes diferenças entre as classes 
sociais e choques entre nações imperialistas culminam em conflitos de grandes 
proporções, que marcaram profundamente o século XX, especialmente pela 
ocorrência de duas grandes guerras mundiais. Nos períodos de restabelecimento da 
paz, esse quadro social reafirma a necessidade da escola pública, gratuita e leiga. 
Nos paises em desenvolvimento, apesar dos intensos programas dos governos para 
atendimento da população escolarizável, estes são nitidamente insuficientes.
No Brasil, durante o período colonial, a educação era de responsabilidade 
dos padres jesuítas, segundo Monvelade (1997), que receberam do rei de Portugal a 
concessão de colégios com o objetivo de conquistar o “novo mundo” para Cristo. Até 
o século XVII, as escolas públicas não tiveram despesas para o Estado. A educação, 
nesse período histórico, tornou-se uma “empresa de gado bem-sucedida”. No século 
34
XVII, inúmeras escolas gratuitas se espalhavam pelas fazendas. Fora da 
responsabilidade dos jesuítas, existiam as escolas gratuitas, “não oficiais”, que 
funcionavam nas casas grandes e sobrados para complementar o ensino dado pelos 
jesuítas, com aulas ministradas pelos ex-alunos dos padres. Na verdade, o sistema 
jesuítico de educação serviu mais para acumular terras e gado. Com a expulsão dos 
jesuítas do Brasil, em 1759, a educação fica a cargo da Coroa, implantando as 
famosas Aulas Régias, isto é, aquele que soubesse mais e que quisesse lecionar 
solicitava a permissão ao Rei, através da Câmara Municipal, para obter a licença.
O começo do século XIX, com a consolidação da economia agrário- 
comercial, a preferência é pelo ensino superior. O Império, segundo Vieira (2003), 
abre passagem rumo à descentralização educacional. A Constituição de 1824, no 
seu artigo 179, limita a estabelecer a gratuidade do ensino a todos os cidadãos. A 
Lei de 15 de outubro de 1827 regulamentou a responsabilidade do Estado, com a 
educação, bem como a necessidade de ampliação de escolas. O autor supra citado 
apresenta o papel do Estado diante das mudanças ocorridas naquele período.
... estavam presentes as idéias da educação como dever do Estado, 
da distribuição racional por todo o território nacional das escolas dos 
diferentes graus e da necessidade da graduação do processo 
educativo (p. 59).
Na prática, o ensino oficial, no período imperial, privilegiou a educação da 
elite em detrimento da educação popular. Ainda com base na mesma autora, o 
sistema escolar, no Brasil, não tinha bases sólidas, o que contribuiu para que parte 
dos problemas relacionados à organização do sistema educativo brasileiro surgisse 
a partir do Ato Adicional de 1834 ou Lei n° 16, de 12 de agosto de 1834.
35
As tentativas de reformas do ensino no Segundo Reinado, não lograram 
êxito. A população que tinha acesso à escola continuava muito pequena, dando uma 
configuração, de uma educação voltada para a elite do País.
Com a implantação da República, em 1889, reacendem-se no Brasil as 
idéias liberais; surgem novas promessas de Reforma, que realimentam, segundo 
Vieira (2003), os anseios de mudança no campo educacional no País. Consoante 
Nagle (2001),
O que se deve considerar antes de tudo, é a força desenclausurada 
com que se apresentou esse ideário no contexto histórico-social 
daquele tempo. O ideário liberal, então difundido, se compunha, 
basicamente, de dois elementos, em torno dos quais girava a luta para 
alterar o status quo: representação e justiça (p. 131).
Na Primeira República, as transformações econômicas e sociais, 
conviviam visivelmente em desarmonia desarticulando outros setores e 
desencadeando novas condutas de pensamento político e cultural. A burguesia 
urbana exigia acesso à educação, porém, uma educação acadêmica, elitista. O 
operariado, por sua vez, reclamava pela expansão de oferta do ensino. 
Notadamente, eramforças sociais antagônicas em busca da satisfação dos seus 
interesses. Ainda de acordo com Nagle, de um lado, estava a civilização urbano- 
industrial e, do outro, a civilização agrário-comercial. O período é marcado por 
grandes discussões e críticas ao modelo vigente, sendo proposto para, em seu 
lugar, uma educação primária articulada com o ensino mais avançado, formando um 
todo. As reformas educacionais, sob o clima do “entusiasmo pela educação” e do 
“otimismo pedagógico", foram muito importantes em torno de um modelo de 
organização de educação pública. Essas idéias caracterizam os anos 1920, dado o 
surgimento de profissionais da educação e intelectuais que se empenharam no 
36
campo dos debates por uma educação justa e que pudesse ajudar na recuperação 
do Brasil, retirando-o do aludido atraso em que se encontrava. O “otimismo 
pedagógico” é a expressão empregada por pelo autor para identificar o pensamento 
da Escola Nova, cuja orientação ideológica é democratizar e transformar a educação 
por meio da escola.
O entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico, que tão bem 
caracterizam a década de 1920, começaram por ser, no decênio 
anterior, uma atitude que se desenvolveu nas correntes de idéias e 
movimentos políticos-sociais e que consistia em atribuir importância 
cada vez maior ao tema da instrução, nos seus diversos níveis e tipos 
(IBIDEM, p. 135).
A década de 1930 começa com embates políticos e educacionais entre 
liberais, católicos, integralistas, governistas e aliancistas. Cada grupo defendia 
transformações conforme seus princípios ideológicos. De acordo com Ghiraldelli 
(2001), de um lado, havia facções conservadoras que não concordavam com a 
democratização de oportunidades educacionais para toda a população; de outro 
lado, estavam concentrados os liberais, que desejavam um ensino público de 
qualidade e a expansão de vagas.
No Estado Novo, houve uma “desobrigação” por parte do Estado, em 
relação à educação pública. Na apreciação de Ghiraldelli, a Carta de 1937 não se 
interessou em estabelecer tarefas ao Estado, no sentido de atender à população por 
meio de um ensino público e gratuito. Nesse sentido, Schwartzman (2000) considera 
que o Estado Novo teve um caráter excludente e opressor.
A Constituição de 1946, reconhecida como “fiel às linhas do liberalismo 
clássico”, avançou em relação às constituições republicanas anteriores, ao 
estabelecer a educação como um direito de todos e, ao mesmo tempo, reanimou os 
37
debates em defesa da escola pública. Foi também, na Carta de 1946, empregada, 
pela primeira vez, a expressão “ensino oficial”, conforme o Art. 168, II: “O ensino 
primário oficial é gratuito para todos: o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para 
quantos provarem falta ou insuficiência de recursos”. Para a organização do sistema 
de ensino é proposta a criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O 
percurso da LDB foi demorado, produzindo discussões e divergências sobre o 
projeto em tramitação.
Diante dos desacordos sobre o projeto da Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional, a década de 1950 mostrava sinais de uma “verdadeira guerra 
ideológica” e de conflitos entre os próprios escolanovistas. Em 1959, é 
desencadeada uma Campanha de Defesa da Escola Pública, em que apresenta a 
necessidade de uma educação liberal e democrática.
Toda a história do ensino nos tempos modernos é a história de sua 
inversão em serviço público. É que a educação pública é a única que 
se compadece com o espírito e as instituições democráticas cujos 
progressos acompanha e reflete, e que ela concorre, por sua vez, 
para fortalecer e alargar com seu próprio desenvolvimento 
(GHIRALDELLI, 2001, p.153).
Òs governos populistas aproveitaram-se dos debates em prol da educação 
pelo desenvolvimento, para incluir nos seus discursos temas relacionados ao ensino 
público e intenções de novos projetos no campo educacional.
Em 1961, foi aprovado o projeto da LDBN, frustrando as expectativas dos 
setores progressistas que acreditavam na democratização da escola pública. Na Lei, 
os estabelecimentos oficiais e privados tinham a mesma igualdade de tratamento, o 
que acarretava envio de verbas públicas para a rede particular de ensino.
38
No regime militar, das reformas promovidas, o grande destaque, no 
pensamento de Vieira (2003), foi para a reforma do ensino fundamental e médio, 
com a tentativa de introduzir a educação profissionalizante. Essas reformas, 
consoante Ghiraldelli (2001, p.167), tinham por finalidade “alinhar o sistema 
educacional pelo fio condutor da ideologia do desenvolvimento com segurança”.
Para Boto (1996, p.17), os educadores brasileiros, defensores da 
democratização da escola pública “são tributários do ideário democrático da 
Revolução que consolida a política burguesa”. A escola moderna, na análise da 
autora (IN: CAVALCANTE, 2003, p. 38), remete à idéia de única instituição a ter o 
propósito de educar; “para isso eram necessários métodos, técnicas, um espaço 
físico dividido mediante critérios específicos, uma nova organização do tempo em 
horários e um dado segredo da arte...”.
As intenções das reformas realizadas sob a luz das discussões de 
intelectuais, políticos e educadores e das pressões econômicas e sociais, contudo, 
mostram a permanente preocupação com a educação popular em nossa história 
republicana e manifestam o sentido e a importância da educação na formação de 
um país ou nação.
39
3. A OCUPAÇÃO DO SERTÃO: O SURGIMENTO DAS CIDADES DE BARÃO DE 
GRAJAÚ E FLORIANO
3.1. A criação de gado e a ocupação dos pastos
O Maranhão tem a sua história ligada à colonização francesa, na parte 
litorânea, e à criação de gado na sua parte interiorana. A área onde se desenvolve a 
presente pesquisa pertence ao interior do Estado, na região dos sertões, 
desbravada muitos anos depois da conquista do litoral, naquela zona de maior 
ocupação pelo colonizador1.
A finalidade da criação do gado bovino era, a principio, para ser fonte de alimentação dos 
moradores dos engenhos. Depois foi usado como transporte e no funcionamento dos engenhos de 
trapiches, um tipo de engenho que empregava somente bois no serviço de moagem.
2 Esse tipo de vegetação possibilitou a superação das adversidades enfrentadas pelos sertanejos, 
uma vez que aprenderam, com os nativos, a lidar com estas terras de natureza árida. Além disso, 
favoreceu o desenvolvimento da pecuária, grande impulsionadora da conquista dos sertões.
No inicio da colonização, com a montagem dos engenhos de cana-de- 
açúcar no Nordeste do Brasil, houve, de forma lenta, a penetração e povoamento do 
sertão nordestino, pelos criadores de gado, sob a forma de processo paralelo e 
complementar às necessidades econômicas das grandes plantações.
A expansão da pecuária abrangendo a região do médio São Francisco 
até o rio Parnaíba, nos limite do Maranhão, e também, do Ceará, começa com a 
instalação do Governo Geral na Colônia em 1549. Informa Prado Júnior (1999), que 
a criação do gado vacum incidiu nessa região em virtude das características 
geográficas, que facilitaram a penetração do homem no território. De acordo com 
Varnhagen, numa referência de Capistrano de Abreu (1982), a caatinga2 possibilitou 
a entrada e a conquista dos sertões nordestinos.
40
Como era variado o uso do gado bovino, rapidamente, cresceu o rebanho, 
inviabilizando a criação de gado e a plantação de cana na mesma área, surgindo, 
com isso, as fazendas dedicadas apenas à pecuária. A instalação dessas fazendas 
ocorreu no interior do território da Colônia brasileira, pois o litoral era ocupado pelos 
grandes engenhos de açúcar.
O gado vacum dispensava a proximidade da praia, pois como as 
vítimas dos bandeirantes a si próprio transportavam das maiores 
distâncias, e ainda com mais comodidade; dava-se bem nas regiões 
impróprias ao cultivo da cana, quer pela ingratidão do solo quer pela 
pobreza das matas sem as quais asfornalhas não podiam laborar... 
(CAPISTRANO DE ABREU p. 131).
Iniciado nos arredores da cidade de Salvador, no governo de Tomé de 
Sousa, a criação de gado se estendeu pelas margens do rio São Francisco, na 
região de Sergipe e Pernambuco, e, tendo esse mesmo rio como referência, 
alcançou o interior brasileiro, abrindo caminhos que levaram à formação dos atuais 
Estados do Ceará, Piauí e Maranhão.
Com as doações de sesmarias feitas pela Coroa portuguesa aos 
desbravadores do sertão, ao longo do rio São Francisco, os maiores beneficiados 
foram os Ávilas, fundadores da Casa da Torre3, em Sergipe, de onde partiram 
expedições para a região do Piauí, na sua parte sul, já na década de 1670. O que 
causou essa ampliação foi a perseguição aos nativos que fugiam de incursões 
3 A Casa da Torre foi a unida de central de uma sesmaria por quase trezentos anos, e compreendia 
áreas desde Salvador até o atual Estado do Maranhão, o que correspondia a 800.000 km2, ou seja, 
1/10 da área total de nosso Pais. As terras serviam como grandes pastagens de gado, provenientes 
da índia, e como áreas para cultivo do coco, espécie introduzida no Brasil em 1553, originária 
também da índia. Em 1551, foi construída a Torre Singela de São Pedro de Rates, e, depois, a casa 
com a atual capela, por Garcia D'Ávila que chegou ao Brasil em 1549 na expedição de Tomé de 
Souza, primeiro Governador Geral do Brasil-Colônia.
41
destruidores, como uma bandeira punitiva organizada por Francisco Dias de Ávila, 
juntamente com Domingos Rodrigues de Carvalho, a serviço do governador-geral D. 
Afonso Furtado de Mendonça, que promoveu o massacre de 85 pessoas, entre 
negros e brancos, às margens do rio São Francisco, e se apossaram dos currais 
de gado ali existentes. Decorre essa implantação, também, da disposição plana das 
terras com facilidade de pastos para o gado (LIMA SOBRINHO, 1946). Prado Júnior 
(1999) também indica que a escolha dessa região para a criação do gado vacum 
ocorreu por possuir características geográficas que facilitavam a penetração de 
pessoas no território. Em 1676 e 1681, foram doadas terras, pelo governador de 
Pernambuco, aos homens da Casa da Torre, situadas às margens dos rios Gurguéia 
e Parnaíba.
Capistrano de Abreu (1982) fez uma representação da geografia das 
bandeiras e dele extraímos aquelas que penetraram no interior do Maranhão e Piauí, 
percorrendo caminhos através das principais bacias hidrográficas:
a) Bandeiras paulistas, ligando o Paraíba ao São Francisco, ao 
Parnaíba e Itapecurú até o Piauí e Maranhão por um lado; [...]
b) Bandeiras baianas, ligando o São Francisco ao Parnaíba e 
chegando ao Maranhão pelo Itapecurú [...]
c) [...]
d) Bandeiras maranhenses, de pouco alcance, ligando o Itapecurú ao 
Parnaíba e São Francisco, e o Parnaíba às terras aquém da Ibiapaba.
42
Para o major Francisco de Paula Ribeiro (2002), Domingos Afonso Sertão4
Domingos Afonso Mafrense ou Sertão veio de Portugal para o Brasil por volta de 1670, em 
companhia do irmão Julião Afonso, tomando-se em pouco- tempo, um dos maiores latifundiários do 
Piauí e um dos sócios da Casa da Torre (BANDEIRA, 2000, p. 174).
e seus companheiros foram os primeiros a alcançar e povoar as terras além do
Parnaíba, após ter povoado todo o Piauí:
Domingos Afonso Sertão e outros seus companheiros que do rio São 
Francisco, nos sertões da Bahia, vieram atravessando e povoando 
todo o Piauí, por eles verdadeiramente então descoberto, foram os 
primeiros que passando aquém do Parnaíba, estabeleceram as 
primeiras povoações de Pastos Bons, sacudindo para o sudoeste para 
o sudoeste e para oeste o referido gentilismo. Seus progressos de 
população foram bastante rápidos: lançaram-se as primeiras fazendas 
de gado nas cabeceiras do rio Piauí e como em um momento surgiu a 
capitania deste nome, a sua capital, as suas vilas e até os 
estabelecimentos de Pastos Bons, aquém do dito rio Parnaíba, 
chegando logo a sessenta léguas de extensão, montaram no ano de 
1810 às margens do Tocantins mais de cento e vinte, distante das 
primeiras povoações do riacho e fazenda Serra (p. 110).
De acordo com Clodoaldo Cardoso (1946), a pecuária, dos fins do século 
XVII ao início do século XIX, foi um elemento de expansão geográfica e fator de uma 
dinamização econômica que contribuiu decisivamente para a colonização do sul do 
Estado do Maranhão. Ainda segundo o autor, “os criadores de gado, na ânsia de 
descobrirem novas pastagens, atiraram-se à conquista do sertão desconhecido, 
deixando em cada pousada a semente de uma cidade".
Domingos Afonso Mafrense e Domingos Jorge Velho tangendo os 
seus rebanhos das margens do rio São Francisco, transpuseram a 
Serra dos Dois Irmãos e em 1674, atingiram as Chapadas do Piauí, 
onde o primeiro se estabeleceu fundando importantes e muitas 
fazendas. Consta que no mesmo período Francisco Dias D’Avila, 
senhor da Casa da Torre, chegou às terras piauienses, atravessou o 
Parnaíba indo até a beira do rio Mearim. No início do século XVIII, 
quando a colonização maranhense estava em pleno ciclo da cana- 
de-açúcar, não havia se afastado das proximidades dos engenhos, 
na zona litorânea, estendendo-se somente até Aldeias Altas 
(Caxias), os vaqueiros procedentes do Vale do São Francisco e da 
43
Serra da Ibiapaba, em Pernambuco e Ceará iniciaram a devastação 
dos Sertões maranhenses em Pastos Bons e “se fixaram para a 
labuta tranqüila de vida pastoril” (p 1).
As menções ora apresentadas apontam no sentido de que a ocupação 
dos sertões brasileiros ocorreu com a expansão da pecuária e a instalação de 
currais, a serviço da família dos Ávilas e dos sócios da Casa da Torre, que, da 
Bahia, chegaram até o sertão maranhense através do Piauí, e que Domingos Afonso 
Sertão, além dos latifúndios no Piauí, tinha terras, também, no Maranhão
A presença de Domingos Jorge Velho em terras piauienses, tem sido 
motivo para questionamentos por pesquisadores que dividem opiniões sobre o 
assunto. Pelos documentos analisados por historiadores interessados no assunto, 
há indícios da passagem de Jorge Velho pelo Piauí, mas, como recomenda Lima 
Sobrinho, será necessário mais documentos para uma conclusão definitiva.
Em relação ao sertanista Domingos Afonso Sertão, após a morte em 1711, 
suas propriedades foram doadas para os jesuítas, representados pelo colégio da 
Bahia. Mais tarde, essa herança, assim como de outros sesmeiros, foi confiscada 
pelo Estado, na época em que o marquês de Pombal era ministro de Portugal.
Com a tomada de posse dessas fazendas7, pela Coroa Portuguesa, houve 
um aumento da produção de gado e o Piauí passou a exportar toda essa produção 
para as Minas Gerais e Paraíba.
7 Essas fazendas acham-se situadas no município de Oeiras no Piauí, distante 86 km de Barão de 
Grajaú.
Enquanto os vaqueiros, através do rio São Francisco e da serra da 
Ibiapaba, nas áreas que vieram a compor os Estados de Pernambuco e Ceará, 
44
ultrapassam o rio Parnaíba e alcançam o sertão maranhense, o Maranhão, até o
início do século XVIII, em pleno ciclo da cana-de-açúcar, tinha a colonização limitada 
às proximidades dos engenhos, na zona litorânea, estendendo-se somente até 
Aldeias Altas, hoje denominada Caxias.
A ocupação do sertão do Maranhão e da parte do médio Parnaíba, na 
afirmação de Cardoso (1947), ocorreu a partir do Piauí,
E se acaso os sertões dessa província não recebessem colonos 
pelo Piauí, desde 1730, que ocuparam todo o território de Caxias até 
o Tocantins, talvez ainda hoje não fossem conhecidos. Tanto a 
colonização do litoral, como a dos sertões, vieram encontrar-se em 
Caxias, a antiga Aldeias Altas, em 1750 em diante, segundo o que 
podemos coligir de algumas memórias e documentos antigos (p. 2).
Na segunda metade do século XVII, a partir do latifúndio de Garcia d’Ávila,
criadores de gado pertencentes àquela família fundaram fazendas de gado na Bahia 
e Pernambuco, e, em seguida, rumaram para o atual Estado do Piauí, onde 
instalaram fazendaspróximas aos rios Piauí e Canindé; posteriormente, atingiram o 
território maranhense.
O Arraial dos Ávilas fundado por Miguel de Abreu Sepúlveda, às 
margens do rio Gurguéia, afluente do rio Parnaíba, possibilitou a 
penetração do lado esquerdo do dito rio, rumo a Pastos Bons8 onde 
estabeleceram alguns currais (SILVA, 1992, p. 15).
Denominação dada pelo colonizador, em razão da fertilidade do solo e da sua vegetação atraente.
Das fazendas na Capitania do Piauí, criadores de gado avançaram e
penetraram o atual Estado do Maranhão, denominando a região de Pastos Bons.
45
O processo de colonização e povoamento do Maranhão não ocorreu de 
forma homogênea. Enquanto o litoral era palco de lutas entre franceses e 
portugueses, o interior ainda era território tranqüilo para os nativos. O Piauí, por 
conseguinte, teve a sua colonização e povoamento a partir do interior, como mostra 
Nunes (1975, vol. I). E foram esses povoadores do Piauí que desbravaram também 
o interior maranhense, no sentido leste-oeste, como nos aponta Cardoso (1946, p. 2) 
numa apreciação de Berredo:
Foram os exploradores da Bahia que habitavam o rio São Francisco e 
os bandeirantes de São Paulo que em 1674 entraram no interior 
dessa província, os primeiros pela Serra dos Dois Irmãos, e os outros, 
provavelmente pelo Sul, em procura de índios para cativar; e pouco a 
pouco se foram estendendo até o litoral. A esses mesmos 
exploradores deve a Província do Maranhão a povoação de todo o 
sertão de Pastos Bons, e São José, e o rápido incremento do distrito 
de Caxias; e por isso há uma notável diferença entre a população 
oriunda da colonização que entrou pelo litoral, e a outra: a primeira é 
de costumes mais amenos, a segunda é menos civilizada, e ressente- 
se em extremo da sua origem. Daí provém o chamar-se no interior da 
Província do Maranhão aos sertanejos ou habitantes do campo - 
baianos.
Numa confirmação de que o interior maranhense foi ocupado pelos
mesmos que povoaram o Piauí, o mesmo autor citado continua fazendo referência a
Berredo, de quem retiramos o seguinte trecho:
A esses exploradores deve a Província do Maranhão a povoação de 
todo o seu sertão de Pastos Bons, e São José o rápido incremento do 
distrito de Caxias; e por isso há uma notável deferência entre a 
população oriunda da colonização que entrou pelo litoral, e a outra: a 
primeira é de costumes mais amenos, a segunda é menos civilizada, e 
ressente-se em extremo da sua origem.
Nunes (1975) também nos informa que os vaqueiros do Piauí, já no final 
do século XVII, frequentavam o Maranhão, onde, passaram a pedir datas de terras 
para instalação de seus currais.
46
De acordo com a historiografia consultada, o nordeste, o Piauí, sudeste e 
sul do Maranhão tiveram os mesmos caminhos e a mesma forma de ocupação do 
território.
A nossa intenção, ao expor o processo de povoamento do sertão 
maranhense e piauiense, é de demonstrar que o espaço sociocultural que iremos 
estudar fez parte de uma ação ampla e gradativa de ocupação dos sertões 
brasileiros e está imbricada com a ocupação do lado direito do rio Parnaíba, cujo 
processo, por sua vez, está relacionado com os mesmos povoadores.
3.2. A ocupação do atual Município de Barão de Grajaú
A criação do gado foi um dos fatores que mais colaborou para a ocupação 
e conquista do território brasileiro.
Há evidências que a atração pelos pastos para o gado, na margem do rio 
Parnaíba, acelerou a posse das terras e a fixação de algumas fazendas, sendo que 
esse processo não demorou muito a ganhar importância política, social e econômica. 
Na expressão de Francisco de Paula Ribeiro (2002), a natureza de alguns terrenos, 
demasiadamente generosa na sua vegetação, talvez tenha estendido a 
denominação de Pastos Bons para todo o Distrito.
Encontramos em Carlota Carvalho (2000) a seguinte interpretação à 
denominação dada às novas terras:
“Pastos Bons foi uma expressão geográfica, uma denominação 
regional geral, dada pelos ocupantes a imensa extensão de campos 
47
abertos para o ocidente em uma sucessão pasmosa em que ao bom 
sucedia o melhor” (p.68).
Ainda segundo Paula Ribeiro (2002),
Chama-se distrito ou freguesia de Pastos Bons todo aquele território 
que desde a fazenda e riacho Serra, na extremidade sul dos limites de 
Caxias, cortada da beira do rio Parnaíba na povoação das 
Queimadas, à barra do riacho corrente no rio Itapecurú, se estende 
por entre o mesmo rio Parnaíba e o Tocantins até as margens do rio 
Manoel Alves Grande, como já fica relatado, limitando-se por entre as 
cabeceiras dos ditos Parnaíba e Manoel Alves Grande com a serra 
chamada Piauí, e com a capitania deste nome por uma parte das 
margens daquele rio, assim como se limita com a capitania de Goiás 
pelas margens deste e por uma parte das do Turi até defronte do rio 
Araguaia. Nesse espaço foi criado o Distrito de Pastos Bons e 
atualmente é ocupado pelos municípios maranhenses compreendidos 
dos vales dos rios Tocantins, Parnaíba, Balsas Neves, Itapecurú com 
os municípios de Colinas e Mirador, e o vale Alpercatas (p. 42-43).
No mesmo sentido, Cardoso (1947) faz a seguinte narração;
Extasiados diante da imensidade verde dos ‘campos gerais’ que 
avançando da zona ribeirinha do Parnaíba, desbravam-se a perder de 
vista , na direção do ocidente, os pioneiros refeitos da monotonia das 
‘caatingas’ do nordeste sáfaro, que haviam atravessado, deram o 
nome de ‘pastos bons' (p. 2).
Os incursionistas gradativamente foram tomando as terras dos “primitivos 
habitantes, os amanajós, índios louros ou de cor mais clara do que os das outras 
tribos” (COELHO NETO, 1985) e, ao mesmo tempo, chamando dos sertões de 
outras capitanias confinantes os negociantes de gados, que dali transportam vacas e 
novilhas para a criação, manutenção e povoação dos campos como pontua Ribeiro 
(2002).
Aos poucos, pernambucanos, baianos e piauienses intensificavam a busca 
por terras do lado esquerdo do rio Parnaíba,* com o intuito ou não de ali se 
estabelecerem. Cardoso (1947), afirma que a travessia era feita na altura do lugar 
48
chamado Nossa Senhora da Conceição da Passagem da Manga9, onde 
desenvolveram duas povoações com o mesmo nome, sendo uma do lado direito e 
outra do lado esquerdo do rio.
9
A denominação Manga refere-se à região próxima ao rio, que servia de descanso e pasto para o 
gado, enquanto os vaqueiros esperavam o momento da passagem de um lado para o outro do dito 
rio. O lugar, atualmente, pertence ao Município de Barão de Grajaú e, na outra margem do rio, ao 
município de Floriano.
10 Nome da cidade de Parnaíba, no litoral piauiense, no tempo que era vila.
Para Coelho Neto (1985), em virtude do intenso movimento migratório, a 
Passagem da Manga, como ficou conhecida, passou a ser chamada de “porta do 
Distrito de Pastos Bons”. Tomou-se também referência para outras paragens de 
aventureiros e comerciantes, servindo como um meio de sobrevivência para os que 
ali moravam.
“São geralmente pobres os seus moradores, sem embargo de ser 
notável a freqüência de passageiros para todas as minas do Brasil, 
para o Piauí, Bahia, Pernambuco, São Paulo e para todo o mais 
continente de leste e sul, cujos viandantes na ida ou vinda pagam as 
quantias que ali se lhes estabelecem pelo contrato real das passagens 
do mesmo rio, e das quais é esta a mais principal” (RIBEIRO, 2002, p. 
60).
Com o passar do tempo, as viagens são feitas, rio acima e rio abaixo, 
margeando o Parnaíba, levando aos mais distantes lugares das Províncias do Piauí 
e Maranhão, tornando-se a principal via de comunicação. A navegação era feita em 
balsas ou jangadas de buriti, onde os seus moradores exportavam para a vila de 
São João da Parnaíba10 “os insignificantes gêneros que podem transportar, ou que 
podem traficar” (IDEM, p. 62).
O imenso território de Pastos Bons, segundo Guimarães (1976), era vasto 
e, a partir da primeira metade do século XIX, foi se fragmentando em unidades 
49
político-administrativasque se tornaram autônomas, dentre as quais está o 
Município de Barão de Grajaú. De acordo com Silva (1992), a vila de Nossa Senhora 
da Conceição da Manga foi o primeiro núcleo de povoamento do que constitui 
atualmente o Município baronense.
Sobre a extensão territorial de Pastos Bons, colhemos, também, o registro 
de Coelho Neto (1985):
O espaço do então Distrito de Pastos Bons é atualmente ocupado 
pelos municípios maranhenses compreendidos no vale do Tocantins, 
vale do Pamaíba, vale do Balsas e do rio Neves, o vale de Itapecurú 
com os municípios de Colinas e Mirador, ainda no vale Alpercatas (p. 
27).
Essa fragmentação começa ainda na segunda metade do século XIX, com 
a criação de vários municípios pertencentes ao Distrito e Comarca de Pastos Bons. 
Em 1870, por lei provincial11, é extinta a vila da Manga, criada em 1859. Anos 
depois, pela Lei Provincial n° 1412, de 17 de março de 1888, Nossa Senhora da 
Conceição da Manga passa a pertencer ao Município de São Francisco, distante 72 
km e também na margem do rio Parnaíba. A navegação, no entendimento de 
Barbosa (1986), foi um elemento preponderante para o surgimento de aglomerados 
populacionais em toda a extensão que margeia o rio, uma vez que a via utilizada 
para a comunicação entre as povoações ribeirinhas dava-se através do Parnaíba.
11 Lei Provincial cio Maranhão n° 920 de 14 de julho de 1870. Coleção de Leis Provinciais do 
Maranhão - 1868 a 1870.
De acordo com Cardoso (2001), em 1884, Barão de Grajaú era uma 
povoação de certa importância na região intermediária entre Manga e São 
50
Francisco. Dos povoadores, alguns eram piauienses, o que contribuiu para fortalecer 
as ligações comerciais com aquele Estado.
Apesar de situada na área correspondente aos “pastos bons”, de acordo 
com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1948), o solo era de 
baixa fertilidade natural, embora oferecesse potencial para a agricultura e pecuária 
de subsistência. Felizmente, o Município goza de uma posição geográfica 
privilegiada e talvez por isso os habitantes dessa região, por não contarem com o 
apoio do governo, recorreram à exploração de alguns produtos nativos e ao seu 
comércio, bem como de produtos de primeiras necessidades, tais como cereais, 
tecidos, ferramentas, entre outros.
É a partir do intercâmbio com a Província do Piauí que outros 
maranhenses, ali, se estabelecem e esse fato vai criando outra dinâmica para 
aquela povoação.
3.3. A origem e aparecimento das cidades
A cidade é um local com maior concentração de pessoas e mais 
desenvolvido no processo civilizatório. É também um lugar de ações intelectuais, 
comerciais, de conflitos, sede das decisões político-administrativas e de relações 
sociais mais intensas.
São muitos os entendimentos sobre a cidade. No estudo de Giometti e
Braga (2004), retiramos a definição de cidade:
51
A cidade como uma aglomeração humana abastecida do exterior, na 
qual a maioria dos habitantes se dedicam a atividades diferentes da 
exploração agrícola ou pastoril. O que define uma cidade não é a 
quantidade de pessoas que ali residem, mas o que elas fazem, bem 
como o seu modo de fazer (p.2).
A busca histórica sobre da origem das duas cidades aqui tratadas permite 
uma compreensão em torno das especificidades do processo de povoamento de 
Barão de Grajaú e de Floriano.
Desde os seus primórdios, os homens estabeleceram relações entre si e a 
natureza modificando o espaço, criando diferentes formas produtivas e sociais de 
vida, que se tornavam cada vez mais complexas. Em decorrência desse processo 
criativo do homem, grandes civilizações começaram a se formar e a maioria delas 
desenvolveu-se nas proximidades de grandes rios, aproveitando o regime de suas 
águas, que favorece a fertilidade da terra e a prática da agricultura. Outras 
civilizações, porém, dedicaram-se ao comércio e à pecuária.
As primeiras cidades, segundo Sjoberg (1972), surgiram na Ásia, nos 
vales do rio Tigre e Eufrates, por volta de 3.500 a.C. Mais ou menos 400 anos 
depois, outras apareceram, na África, no vale do rio Nilo; e entre 2.500 a.C. e 1.500 
a.C., os vales do Indo e Amarelo, também na Ásia, já contavam com algumas 
cidades.
Essas cidades surgiram quando o homem, além de caçar e coletar, 
aprendeu a plantar e a domesticar animais, o que o levou a se fixar em determinado 
lugar, abandonando o nomadismo e tomando-se dessa forma um sedentário. Esse 
fenômeno ficou conhecido como Revolução Agrícola, ocorrida no período Neolítico, 
no século IV, antes de Cristo. Para Rolnik (1995), além desses fatores, contribuiu 
52
também para a sedentarização a fundação de templos religiosos, reunindo o grupo 
de pessoas que viviam ali próximas, assinalando que a cidade dos “deuses e dos 
mortos” precede a cidade dos vivos, anunciando a sedentarização. Com isso, surge 
a necessidade de garantir a defesa e a produção em áreas amplas e habitadas por 
grupos diferentes, o que levou ao inicio da “organização de Estados" e cidades com 
base e delimitação territorial, com vistas à organização da vida pública, por 
intermédio de uma autoridade político-administrativa. A partir daí, outros espaços 
são formados com as mesmas características, expandindo-se para lugares diversos 
e distantes.
Para Le Goff (1988), as cidades, com características atuais, surgiram na 
Idade Média No século VII, no Ocidente, as urbes antigas desapareceram no seu 
formato. No lugar do templo, foi construída a igreja cristã e, ao lado, o campanário12, 
torre onde ficava instalado o sino, ponto de referência das cidades. A sociabilidade 
urbana toma outra configuração, momento em que os velhos hábitos, os locais de 
encontros, decisões e discussões são substituídos. A igreja passou a ser o espaço 
de concentração dessas reuniões. A igreja também assumiu a responsabilidade 
pelos mortos, deixando de existir as antigas práticas de enterrarem os corpos fora da 
cidade, e o cemitério, desde então, passa, a ser um lugar de encontro e 
sociabilidade.
12 Torre construída ao lado da igreja onde ficava instalado o sino.
Durante muitos séculos, ainda de acordo com Le Goff (1988), a maioria da 
população européia tinha vida ruralizada. Poucas eram as cidades importantes e 
desenvolvidas. A partir do século X, houve grande período de urbanização, como 
conseqüência do desenvolvimento do artesanato e do comércio, caracterizado por 
53
núcleos dominados por um membro do clero ou por um senhor leigo, que governa a 
partir de seu castelo 13 ou do palácio episcopal. A área da cidade propriamente dita é 
separada do campo por muralhas e fossos, ou seja, a área urbana da área rural, 
possivelmente, constituindo uma geopolítica, que hoje conhecemos sob a forma 
político-administrativa integrada de município.
3 Centro econômico e político e de dominação da sociedade camponesa pelos seus “senhores".
Ainda, segundo o autor, há no início de formação da civitas um espaço 
onde se desenvolvem a produção e a troca, voltadas para a economia monetária. Na 
cidade, desenvolve-se o gosto para o negócio e é onde se concentram as atividades 
de lazer e os “prazeres pelas festas e diálogos”.
Segundo Rouanet, (1997), historicamente, as cidades seguem o mesmo 
ritual. As ruas são traçadas a partir de um ponto central, geralmente de uma praça 
ou de uma construção de grande significação religiosa, social, cultural ou 
econômica.
As cidades modernas começam a se desenhar na Idade Média, quando a 
vila, centro de produção e de comercialização, onde se concentrava o “grande 
domínio", tem o seu poder substituído pelo poder da cidade. Antigamente, vila era 
um centro de domínio e designava um estabelecimento rural importante.
Não esqueçamos de a palavra “ville”, para designar aquilo que 
chamamos de cidade, é muito tardia. Até os séculos XI e XII, escreve- 
se quase que estritamente em latim e, para designar uma cidade, usa- 
se “civitas”, “cite”. Ou urbs, a rigor, mas basicamente civitas

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