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2006-tcc-allima

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
ANDRÉA LOPES LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMPREGADOS PÚBLICOS: REGIME JURÍDICO, 
ESTABILIDADE E RESPONSABILIDADES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA – CEARÁ 
2006 
 
 
ANDRÉA LOPES LIMA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EMPREGADOS PÚBLICOS: REGIME JURÍDICO, 
ESTABILIDADE E RESPONSABILIDADES 
 
 
 
Monografia apresentada na Faculdade de 
Direito da Universidade Federal do Ceará, 
como parte dos requisitos para obtenção 
do título de Bacharel em Direito 
 
Orientadora: Profaª Maria Rafaela Castro 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FORTALEZA - CEARÁ 
2006
EMPREGADOS PÚBLICOS: REGIME JURÍDICO, 
ESTABILIDADE E RESPONSABILIDADES 
 
 
 
Esta monografia foi apresentada na Faculdade de Direito da Universidade 
Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em 
Direito, sob orientação da Profª Maria Rafaela Castro 
 
 
 
Andréa Lopes Lima 
 
 
 
Defesa em: ____/____/____ Conceito obitido:_________ 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
_____________________________________________ 
Prof. William Marques Júnior 
 
Universidade Federal do Ceará – UFC 
 
 
 
_____________________________________________ 
Prof. Fernando Antonio Castelo Branco Sales Júnior 
 
FACULDADE CEARENSE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No percorrer dos caminhos da minha graduação, 
procurei superar mais este obstáculo que é a 
conclusão desta monografia. Para vencê-lo encontrei, 
como sempre, o apoio de minha família, em especial 
do meu marido, companheiro fiel de todas as horas. 
Por isso, dedico esse trabalho a essas pessoas.
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
Em primeiro lugar, a DEUS, que fez nascer em mim, a inteligência e força 
de vontade necessárias para a realização deste trabalho. 
 
Aos meus pais, por esta soma de valores morais que, melhor do que 
ninguém, souberam transmitir. 
 
Ao meu marido Leonardo, pela presença incansável ao meu lado, 
especialmente nos meus momentos de maior angústia. 
 
À Rafaela Castro, minha orientadora, pela sua atenção e disponibilidade 
ímpares. 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho trata sobre os servidores públicos contratados sob regime da 
legislação trabalhista, os chamados empregados públicos, que possuem 
características que lhe são peculiares, diferenciando-os dos demais servidores. Uma 
primeira característica dos empregados públicos é o fato de estarem submetidos a 
um regime jurídico que apresenta uma unicidade normativa, posto que todas as 
normas que regulam a relação jurídica trabalhista encontram-se em um único 
diploma legal a CLT. Outra característica peculiar ao empregado público é 
concernente à natureza da sua relação jurídica com o Estado, pois a mesma é de 
natureza contratual. Além das mencionadas características dos empregados 
públicos, o presente trabalho trata de duas outras questões referentes a esta classe 
de servidor. A primeira delas diz respeito à existência ou não de estabilidade para o 
servidor celetista e a segunda faz referência às suas responsabilidades. Quanto à 
questão da estabilidade, não há consenso na doutrina nem na jurisprudência, 
havendo aqueles que defendem que somente os servidores estatutários podem ser 
estáveis, enquanto outros defendem que o empregado público também se torna 
estável após o estágio probatório, só podendo ser demitido após processo 
administrativo e com a devida motivação. Com relação às responsabilidades dos 
servidores celetistas, assim como os demais servidores públicos, aqueles 
respondem por seus atos civil, penal e administrativamente. 
 
 
 
Palavras-chaves: Empregado público, estabilidade, responsabilidades, divergências 
doutrinárias e jurisprudenciais 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This work deals with the public employees, who are public workers whose contracts 
are submitted under the worker law regime. Therefore, they present peculiar 
characteristics in comparison to the other public professionals. One of the first 
characteristics of the public employees is that they are submitted to a juridical regime 
that presents a normative unicity, considering that all of the laws that regulate the 
work relation are situated in an only legal diploma: the CLT (Consolidação das Leis 
Trabalhistas). Another peculiar characteristic of the public employee deals with the 
nature of its relation with the State, because it has a contractual nature. Therefore, in 
Brasil there are two different kinds of public employees, those whose work relation is 
due to a contract and are submitted to a general regime (CLT), and those who carry 
on a relation with no contractual basis based on a special public law. The present 
essay deals with the first tipe of public employees, named “servidores celetistas”. 
Besides the public employees (celetistas) peculiarities related above, this essay 
deals with two other problems involving the category. The first one is about the 
existence or not of stability for the public employee sumbmitted to the CLT and the 
second one refers to his responsibilities. Referring to the stability question, no 
common sense has been encountered in law cases or doctrine. Some defend that 
only public employees that maintain a non-contractual relation can be stable. In the 
other hand, some defend that the public employee on a contractual basis also 
becomes stable after the probatory stage (three years) and can only be dismissed 
after an administrative process and with an appropriate reason. Despite the different 
regime, there is no difference between the responsibilities comitted to public 
employees. Whether there are submitted to the CLT or to a special public law, they 
both take responsibilities for their civil, criminal and administrative acts. 
 
 
 
Key-words: public employees, stability, responsabilities 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 8 
2 NOÇÃO GERAL DE SERVIDOR PÚBLICO ................................................. 17 
3 OS REGIMES JURÍDICOS DOS SERVIDORES NA ADMINISTR AÇÃO .... 21 
4 O EMPREGADO PÚBLICO E A QUESTÃO DA (FALTA DE) 
ESTABILIDADE .......................................................................................... 
 
26 
5 A RESPONSABILIDADE FUNCIONAL DO SERVIDOR .............................. 38 
5.1 Responsabilidade civil .......................................................................... 40 
5.2 Responsabilidade administrativa 42 
5.3 Responsabilidade criminal ................................................................... 45 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 48 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 51 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O estudo da Administração Pública em geral, compreendendo a sua 
estrutura e as suas atividades, deve partir do conceito de Estado, sobre o qual 
repousa toda a concepção de organização e funcionamento dos serviços públicos a 
serem prestados. Observe-se a definição de José dos Santos Carvalho Filho, em 
que o Estado 
 
é um ente personalizado, apresentando-se não apenas exteriormente, nas 
relações internacionais, como internamente, neste caso como pessoa 
jurídica de direto público, capaz de adquirir direitos e contrair obrigações na 
ordem jurídica. (CARVALHO FILHO, 2005, p. 01) 
 
 
O Estado é uma ordenação que tem o objetivo de regulamentar as 
relações sociais entre os membros de uma dada população sobre um dado território. 
Ressalte-se que a palavra “ordenação” traz em si a idéia de poder soberano, 
institucionalizado. 
 
O Estado é constituído de quatro elementos essenciais: um poder 
soberano de um povo situado num território com certas finalidades . José Afonso 
da Silva (2001, p. 102) esclarece: “uma coletividade territorial, pois,só adquire a 
qualificação de Estado, quando conquista sua capacidade de autodeterminação, 
com a independência em relação a outros Estados.” . 
 
Acrescente-se a evolução da mencionada instituição, possibilitando o 
surgimento do conceito de Estado de Direito, noção que se baseia na idéia de que 
ao mesmo tempo em que o Estado cria o direito, deve sujeitar-se a ele. Tal conceito, 
 10 
atualmente, culminou por atingir a égide de um verdadeiro postulado fundamental. 
Odete Medauar complementa: 
 
A concepção de Estado de direito liga-se a um contexto de valores e à idéia 
de que o direito não se resume na regra escrita. Seus elementos básicos 
são os seguintes: sujeição do poder público à lei e ao direito (legalidade); 
declaração e garantia dos direitos fundamentais; funcionamento de juízos e 
tribunais protetores dos direitos dos indivíduos; criação e execução do 
direito como ordenamento destinado à justiça e à paz social (MEDAUAR, 
2005, p. 28) 
 
 
Um conceito mais amplo e avançado que o de Estado de Direito é o de 
Estado Democrático de Direito, que não significa apenas a junção formal do conceito 
de Estado de Direito e Estado Democrático, mas a criação de um conceito novo que 
leva em conta os conceitos dos elementos componentes e os supera na medida em 
que incorpora um componente revolucionário de transformação do status quo. 
 
Insere-se então a concepção de Estado Democrático de Direito, aonde o 
Estado reconhece e garante os direitos fundamentais do ser humano, e a efetiva 
participação democrática do povo, como cidadãos, na elaboração e efetiva aplicação 
do Direito. Nossa atual Constituição Federal consagra o Estado brasileiro como um 
Estado Democrático de Direito, com objetivos fundamentais voltados para a 
diminuição das desigualdades sociais, dentro de uma sociedade livre, justa e 
solidária. Segundo José Afonso: 
 
A democracia que o Estado de Direito realiza há de ser um processo de 
convivência social numa sociedade livre, justa e solidária(...), em que o 
poder emana do povo, e deve ser exercido em proveito do povo, 
diretamente ou por representantes eleitos (...); participativa, porque envolve 
a participação crescente do povo no processo decisório e na formação dos 
atos de governo; pluralista, porque respeita a pluralidade de idéias, culturas 
e etnias e pressupõe assim o diálogo entre opiniões e pensamentos 
divergentes e a possibilidade de convivência de formas de organização e 
interesses diferentes da sociedade; há de ser um processo de liberação da 
pessoa humana das formas de opressão que não depende apenas do 
 11 
reconhecimento formal de certos direitos individuais, políticos e sociais, mas 
especialmente da vigência de condições econômicas suscetíveis de 
favorecer o seu pleno exercício (SILVA, 2001, p. 124) 
 
 
O Estado é composto de poderes, segmentos estruturais em que se 
divide o poder geral e abstrato, decorrente de sua soberania. Os Poderes do Estado, 
como estruturas internas destinadas à execução de certas atividades, foram 
concebidos por Montesquieu em sua clássica obra “Del’Espirit des Lois”, afirmando 
que entre aqueles deveria haver necessário equilíbrio de forma a ser evitada a 
supremacia de um sobre o outro. 
 
É oportuno ressaltar que o poder é um fenômeno sócio-cultural, é inerente 
ao grupo. O Estado, como grupo social máximo e total, tem também o seu poder, 
que é o poder político ou estatal. A sociedade estatal, ou civil, compreende uma 
multiplicidade de grupos sociais diferenciados e indivíduos, aos quais o poder 
político tem que coordenar e impor regras e limites em função dos fins globais que 
ao Estado cumpre realizar. Essa superioridade do poder político caracteriza a 
soberania do Estado, que implica a um tempo, independência em confronto com 
todos os poderes exteriores à sociedade estatal e supremacia sobre todos os 
poderes sociais interiores à mesma sociedade estatal. São características 
fundamentais do poder político: unidade, indivisibilidade e indelegabilidade. 
 
Os Poderes de Estado figuram de forma expressa na Constituição 
Federal de 1988: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário” (art. 2º). 
 
A cada um dos Poderes foi atribuída determinada função. A função 
precípua do Poder Legislativo é a elaboração das leis e a fiscalização contábil, 
 12 
financeira e orçamentária; a do Executivo é a conversão da lei em ato individual e 
concreto; e a do Judiciário é a aplicação coativa da lei aos litigantes. 
 
Apregoa-se a expressão “função precípua” de cada Poder de Estado 
porque no exercício das funções, pelos Poderes, não há exclusividade, mas 
preponderância de determinada função. Na realidade, não existe separação de 
Poderes com divisão absoluta de funções e sim, distribuição das três funções 
estatais precípuas entre órgãos independentes, mas harmônicos e coordenados no 
seu funcionamento. 
 
As linhas que definem as funções exercidas pelos Poderes têm caráter 
político e figuram na Constituição. Aliás, é nesse sentido que se há de entender a 
independência e a harmonia entre eles: se, de um lado, possuem sua própria 
natureza, não se subordinando a qualquer outro, devem objetivar, ainda, os fins 
determinados pela Constituição. 
 
Portanto, apesar de terem funções que lhe são próprias, os Poderes 
estatais também desempenham outras que materialmente deveriam pertencer a 
outro Poder, o que é chamado de “funções atípicas”, desde que, logicamente, a 
Constituição o autorize. Isso significa que há situações em que o Legislativo 
desempenha, além de sua função normativa, a função executiva ou a jurisdicional. O 
mesmo ocorre com os demais Poderes do Estado. 
 
É possível afirmar que a função administrativa é aquela exercida pelo 
Estado ou por seus delegados, subjacentemente à ordem constitucional e legal, sob 
regime de direito público, com vistas a alcançar os fins colimados pela ordem 
 13 
jurídica. Na prática, a mencionada função tem sido considerada de caráter residual, 
sendo aquela que não representa a formulação da regra legal nem a composição de 
lides no plano concreto. 
 
Enquanto o ponto central da função legislativa consiste na criação do 
direito novo e o da função jurisdicional descansa na composição de litígios, na 
função administrativa o grande alvo é, de fato, a gestão dos interesses coletivos na 
sua mais variada dimensão, conseqüência das numerosas tarefas a que se deve 
propor o Estado moderno. 
 
Ainda antes de começar a ser abordado o assunto sobre o Servidor 
Público Celetista, é de fundamental importância apresentar, primeiramente, alguns 
conceitos básicos à respeito da Administração Publica. 
 
A Administração, em sentido amplo é um complexo harmônico de órgãos 
e entidades, com os seus respectivos serviços, pelos quais o Estado realiza os seus 
fins, gerindo os bens, administrando e zelando pelo interesse da comunidade. De 
acordo com o professor Meirelles, 
 
em sentido formal, é o conjunto de órgãos instituídos para consecução dos 
objetivos do Governo: em sentido material, é o conjunto das funções 
necessárias aos serviços públicos em geral; em acepção operacional, é o 
desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do 
Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade. (MEIRELLES, 
2000, p. 59) 
 
A administração Pública pressupõe alguns princípios básicos que 
norteiam a sua ação, alguns explícitos no direito positivo, outros não. A Constituição 
Federal de 1998, em seu artigo 37, caput, faz expressa noção a cinco princípios aos 
 14 
quais deve se submeter a Administração Direta e Indireta, quais sejam: legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
 
Em nossa Constituição Federal encontramos o princípio da legalidade 
expresso como determinação legal, de observação obrigatória, em dois momentos. 
Encontra-se expresso no artigo 5º, inciso II, aonde garantea liberdade dos cidadãos, 
quando prevê que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não 
seja previsto em lei, e no artigo 37, caput, o encontramos como o princípio que 
deverá ser obedecido por toda a Administração Pública, em todos os níveis. 
 
O princípio da legalidade, no âmbito exclusivo da Administração Pública, 
significa que esta, ao contrário do particular, que pode fazer tudo que não seja 
proibido em lei, só poderá agir segundo as determinações legais. Ou seja, a 
legalidade implica na obrigatoriedade do administrador público sujeitar-se aos 
mandamentos da lei e às exigências do bem comum em toda a sua atividade 
funcional. Celso Antônio Bandeira de Mello diz que 
 
é o fruto da submissão do Estado à lei. É em suma: a consagração da idéia 
de que a Administração Pública só pode ser exercida na conformidade da 
lei e que, de conseguinte, a atividade administrativa é atividade sublegal, 
infralegal, consistente na expedição de comandos complementares à lei. 
(MELLO, 1995, p. 47) 
 
Com relação ao princípio da impessoalidade, num primeiro sentido, 
significa que é a finalidade pública que deve nortear toda a atividade administrativa 
e, numa outra acepção, significa que os atos e provimentos administrativos devem 
ser imputados ao órgão ou entidade da Administração, e não ao funcionário que os 
pratica. 
 15 
Esclarecendo, o princípio constitucional da impessoalidade aplicado à 
administração pública deve ser observado sob dois aspectos distintos: o primeiro 
sentido a ser dado à aplicação do princípio é o que ressalta da obrigatoriedade de 
que a administração proceda de modo que não cause privilégios ou restrições 
descabidas a ninguém, vez que o seu norte sempre haverá de ser o interesse 
público; o segundo sentido a ser extraído da vinculação do princípio à administração 
pública é o da abstração da pessoalidade dos atos administrativos, pois que a ação 
administrativa, em que pese ser exercida por intermédio de seus servidores, é 
resultado tão somente da vontade estatal. 
 
Com relação ao princípio da moralidade, pode-se afirmar que é aquele 
que impõe ao administrador que não sejam dispensados os preceitos éticos, pois 
estes devem estar presentes em sua conduta. Deve haver a distinção entre o que é 
honesto e o que é desonesto, não apenas valorizando as questões de conveniência, 
oportunidade e justiça. 
 
O princípio da publicidade, por sua vez, indica que os atos da 
Administração devem merecer a mais ampla divulgação possível entre os 
administrados. Segundo Meirelles (2000, p. 86), a publicidade “abrange toda 
atuação estatal, não só sob o aspecto de divulgação oficial de seus atos como 
também de propiciação de conhecimento da conduta interna de seus agentes” 
 
Por fim, o princípio da eficiência, impõe a todo agente público realizar 
suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento funcional. Numa idéia muito 
geral, eficiência significa fazer acontecer com racionalidade, o que implica medir os 
 16 
custos que a satisfação das necessidades públicas importam em relação ao grau de 
utilidade alcançado. O referido princípio orienta a atividade administrativa no sentido 
de conseguir os melhores resultados com os meios escassos de que se dispõe e a 
menor custo. 
 
A organização administrativa resulta de um conjunto de normas jurídicas 
que regem a competência, as relações hierárquicas, a situação jurídica, as formas 
de atuação e controle dos órgãos e pessoas, no exercício da função administrativa. 
Nesse contexto, é oportuno considerar a existência de uma administração 
centralizada e de uma administração descentralizada, ambas voltadas para o 
cumprimento das atividades administrativas. 
 
Ao fazer-se menção à administração centralizada, está-se falando da 
Administração Direta, que se caracteriza por ser um conjunto de órgãos que 
integram as pessoas federativas, aos quais foi atribuída a competência para o 
exercício, de forma centralizada, das atividades administrativas do Estado. A 
centralização é, portanto, inerente à Administração Direta do Estado e dela 
indissociável. A professora Odete Medauar acrescenta: 
 
Uma das características da Administração direta é o vínculo de subordinação-
supremacia, denominado hierarquia, que liga seus órgãos. (...). Outra 
característica da Administração direta está na generalidade de tarefas e 
atribuições que lhe cabem. Para poder cumprir tais tarefas, efetua-se uma 
divisão entre diversos órgãos, cada qual desempenhando sua parcela, divisão 
essa denominada desconcentração (MEDAUAR, 2005, p. 67) 
 
A administração indireta, por sua vez, conduz à noção de administração 
descentralizada, sendo o conjunto de pessoas administrativas que, vinculadas à 
respectiva Administração Direta, têm o objetivo de desempenhar as atividades 
administrativas de forma descentralizada. 
 17 
Enquanto a Administração Direta é composta de órgãos internos do 
Estado, a Administração Indireta se compõe de pessoas jurídicas, entidades com 
personalidade jurídica própria, que são as autarquias, as fundações públicas, as 
sociedades de economia mista e as empresas públicas. 
 
Após essas sucintas considerações iniciais acerca do tema da 
Administração Pública torna-se possível adentrar-se nas questões próprias dos 
servidores públicos. 
 
2 NOÇÃO GERAL DE SERVIDOR PÚBLICO 
 
 
A Constituição Federal de 1988, no capítulo em que trata da 
Administração Pública, utiliza a expressão “Servidores Públicos” ao se referir às 
pessoas que prestam serviços, com vínculo empregatício, à Administração Pública 
direta, autarquias e fundações públicas. No entanto, em outra seção, contempla 
normas que abrangem todas as pessoas que prestam serviço à Administração 
Pública direta e indireta, o que inclui não apenas as fundações públicas e as 
autarquias, mas também as empresas públicas, sociedades de economia mista e 
fundações de direito privado. 
 
Isso significa que a referida expressão é utilizada ora em sentido amplo, 
para fazer referência a todas as pessoas físicas que prestam serviços com vínculo 
empregatício ao Estado e às entidades da Administração Indireta, ora em sentido 
mais restrito, excluindo aqueles prestadores de serviço que o fazem às entidades 
com personalidade jurídica de direito privado. 
 
Os doutrinadores, mais recentemente, têm passado a utilizar um outro 
vocábulo para designar as pessoas físicas que exercem função pública, com ou sem 
vínculo de emprego. A expressão “agente público” tem um sentido mais amplo, pois 
inclui toda pessoa física que, a qualquer título, presta serviços ao Estado e às 
pessoas da Administração Indireta. 
 
Pode-se afirmar que são quatro as categorias de agente público, quais 
sejam: agentes políticos, servidores públicos, militares e particulares em 
colaboração com o Poder Público. 
 19 
Os agentes políticos são os que executam as diretrizes traçadas pelo 
Poder Público. São eles que desenham os destinos fundamentais do Estado e criam 
as estratégias políticas por eles consideradas necessárias e convenientes para que 
o Estado atinja os seus fins. Tais agentes têm função de direção e orientação 
estabelecidas na Constituição. Para alguns doutrinadores, os agentes políticos são 
os Chefes do executivo, seus auxiliares e os membros do Poder Legislativo. Para 
outros, o referido conceito tem um sentido mais amplo incluindo Magistrados, 
membros do Ministério Público e membros dos Tribunais de Contas. 
 
Os militares abrangem as pessoas físicas que prestam serviços às Forças 
Armadas e às Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, 
Distrito Federal e Territórios, com vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, 
mediante remuneração paga pelos cofres públicos. 
 
Os agentes particulares em colaboração com o Poder Público, como o 
próprio nome diz, são agentes que, embora particulares, executam certas funções 
especiais que podem serqualificadas como públicas. Tais agentes são pessoas 
físicas que prestam serviço ao Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem 
remuneração, podendo fazê-lo sob diversos títulos, como delegação do Poder 
Público, mediante requisição, nomeação ou designação e como gestores de 
negócio. Clássico exemplo desses agentes são os jurados, as pessoas convocadas 
para serviços eleitorais, os comissários de menores voluntários. São também 
considerados agentes particulares colaboradores os titulares de ofícios de notas e 
de registro não oficializados e os concessionários e permissionários de serviços 
públicos. 
 20 
Por fim, há ainda a categoria dentre os agentes públicos dos servidores 
públicos propriamente ditos. Essa categoria é a que contém a maior quantidade de 
integrantes, formando a grande massa dos agentes do Estado, desenvolvendo as 
mais variadas funções. O certo é que tais agentes se vinculam ao Estado por uma 
relação permanente de trabalho e recebem, a cada período de labor, geralmente 
mensal, a sua correspondente remuneração. 
 
É possível apontar-se algumas características que delineiam o perfil da 
categoria dos servidores públicos. A primeira delas é a profissionalidade, que 
significa que os servidores exercem a função pública como uma profissão, formando 
uma categoria própria de trabalhadores. Uma segunda é a definitividade, ou seja, 
em regra, os servidores desenvolvem seus misteres com cunho de permanência. 
Há, ainda, como outra característica, a existência de uma relação jurídica de 
trabalho onde se verifica a presença de dois sujeitos envolvidos: de um lado a 
pessoa beneficiária do exercício das funções e de outro, o servidor público. 
 
Como já afirmado, servidor público é todo agente que integra o quadro 
funcional das pessoas federativas e da Administração Indireta, exercendo com 
caráter de permanência uma função pública em decorrência de relação de trabalho. 
Essa categoria compreende os servidores estatutários, os empregados públicos e os 
servidores temporários. 
 
Os servidores públicos estatutários são aqueles cuja relação jurídica de 
trabalho é disciplinada por diplomas legais específicos denominados estatutos. O 
regime estatutário é estabelecido em lei por cada uma das unidades da federação e 
modificável unilateralmente. Não há possibilidade de qualquer modificação das 
 21 
normas vigentes por meio de contrato, mesmo com a concordância do servidor e da 
Administração, uma vez que se tratam de normas de ordem pública, não sendo 
modificáveis pelas partes. 
 
Os empregados públicos, por sua vez, são aqueles contratados sob 
regime da legislação trabalhista, sendo esta aplicável com as alterações advindas da 
Constituição Federal. Seu regime básico, portanto, é o mesmo que se aplica à 
relação de emprego no campo privado, exceto pela posição diferenciada de uma das 
partes da relação de trabalho, o Poder Público. 
 
Por fim, há também os servidores públicos temporários, que são 
contratados para exercer funções provisórias, mediante regime jurídico especial a 
ser disciplinado em lei de cada unidade da federação. Configuram-se como um 
agrupamento excepcional dentro da categoria geral dos servidores públicos. 
Acrescente-se que a contratação dessa categoria somente pode ocorrer por tempo 
determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse 
público (art.37, IX da Carta Magna de 1988). No entanto, admitido o seu 
recrutamento na forma da lei, serão eles considerados como integrantes da 
categoria geral dos servidores públicos.
3 OS REGIMES JURÍDICOS DOS SERVIDORES NA ADMINISTRAÇÃ O 
 
 
Constata-se que muitas das peculiaridades de cada categoria de servidor 
público estão relacionadas aos diferentes regimes jurídicos que incidem sobre as 
respectivas relações de trabalho. No direito pátrio, estão presentes o regime 
estatutário, o trabalhista e o especial. Esclarecendo, regime jurídico, segundo 
Carvalho Filho (2005, p. 482), “é o conjunto de regras de direito que regulam 
determinada relação jurídica”. 
 
Para Hely Lopes Meirelles, 
 
o regime jurídico dos servidores civis consubstancia os preceitos legais 
sobre a acessibilidade aos cargos públicos, a investidura em cargo efetivo 
(por concurso público) e em comissão, as nomeações para funções de 
confiança; os deveres e direitos dos servidores; a promoção e os 
respectivos critérios; o sistema remuneratório (subsídios ou remuneração, 
envolvendo os vencimentos, com as especificações das vantagens de 
ordem pecuniária, os salários e as reposições pecuniárias); as penalidades 
e sua aplicação; o processo administrativo; e a aposentadoria. 
(MEIRELLES, 2000, p. 377) 
 
O primeiro regime jurídico é o estatutário e equivale ao conjunto de regras 
que regulam a relação jurídica funcional entre o servidor público estatutário e o 
Estado e se encontram no estatuto funcional da pessoa federativa. Tal regime 
apresenta duas características essenciais. A primeira delas é a da pluralidade 
normativa, o que significa que os estatutos funcionais são múltiplos, ou seja, cada 
pessoa da federação que adote o regime estatutário para os seus servidores precisa 
ter a sua lei estatutária para que possa identificar a disciplina da relação jurídica 
funcional entre as partes, de modo que há estatutos funcionais federal, estaduais, 
distrital e municipais. Ressalte-se que cada estatuto é autônomo em relação aos 
 23 
demais. Pode até ser que alguns municípios adotem as mesmas regras do estatuto 
do respectivo estado, mas para isso a autorização deve vir expressa em lei municipal. 
 
Outra característica do regime estatutário diz respeito à natureza da 
relação jurídica estatutária. A mencionada relação não tem natureza contratual, o 
que implica que não existe um contrato firmado entre o servidor estatutário e a 
Administração. Conclui-se, então, que o regime estatutário não pode incluir normas 
que denunciem a existência de negócio contratual, nos moldes da CLT. 
 
Acrescente-se que é da competência privativa do Chefe do Executivo a 
iniciativa de leis que disponham sobre o regime jurídico dos servidores públicos. 
 
Por fim, em relação ao regime estatutário, é válido esclarecer que 
quaisquer litígios entre o Estado e os servidores estatutários são dirimidos perante a 
Justiça Comum, Federal ou Estadual, dependendo se os servidores forem federais, 
no primeiro caso, ou estaduais e municipais, no segundo. Estão sujeitos ao 
mencionado regime, o magistrado, o promotor público (esses dois primeiros com 
certas reservas doutrinárias), o defensor público, o policial federal, dentre outros. 
 
O segundo regime jurídico tratado é o trabalhista (ou celetista), 
constituído a partir de normas que regulam a relação jurídica existente entre o 
Estado e o servidor público regido pela CLT. 
 
As características do regime jurídico celetista são totalmente diferentes 
em relação às do estatutário. Primeiramente, existe uma unicidade normativa neste 
 24 
regime, posto que todas as normas que regulam a relação jurídica trabalhista 
encontra-se em um único diploma legal a CLT. 
 
Outra característica distinta é concernente à natureza da relação jurídica 
entre Estado e servidor, pois em se tratando de servidor celetista, ao contrário do 
que ocorre no regime estatutário, a relação jurídica que se forma com o Estado é de 
natureza contratual. Pode-se mencionar como exemplo de servidores sujeitos ao 
referido regime, os servidores do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, da 
Petrobrás, da Cagece. 
 
Na hipótese de surgirem litígios entre servidores trabalhistas e a União, 
Estados, Distrito Federal e Municípios, decorrentes da relação de trabalho, na qual 
figuram tais entes públicos como empregadores, o foro competente para solucioná-
los é a Justiça do Trabalho. 
 
O último regime jurídico ao qual se submete o servidor público é o 
especial, que trata dos servidores temporários. Os mencionadosservidores são 
contratados para exercer funções temporárias, mediante regime jurídico especial a 
ser disciplinado em lei de cada unidade da federação. 
 
O recrutamento dos servidores temporários tem escora na própria 
Constituição Federal, em seu art. 37, IX, que disciplina que “a lei estabelecerá os 
casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade de 
excepcional interesse público”. Trata-se da possibilidade de contratar, sem concurso 
público, por prazo determinado, para atender a necessidade que difere das comuns, 
por ser qualificada como “de excepcional interesse público”. 
 25 
Como se observa, o texto constitucional utiliza a expressão “a lei 
estabelecerá”, deixando evidente que se trata de uma norma de eficácia limitada, 
uma vez que depende de lei para ter uma eficácia plena. Entende-se que a lei 
reguladora de que trata a referida norma constitucional deverá ser a da pessoa 
federativa que pretender a contratação desses servidores. Em nível federal, a Lei 
8.745/93, com as alterações trazidas pelas Leis 9.849/99 e 10.667/03, dispõe sobre 
essa contratação. 
 
Outra questão importante diz respeito à natureza da relação jurídica 
funcional. Ao referir-se ao termo “contratação”, deve-se interpretar que a vontade do 
constituinte foi a de caracterizar tal relação funcional como de natureza contratual, 
apesar da lei instituidora do regime incluir algumas normas semelhantes às do 
regime estatutário. 
 
O regime especial deve atender a três pressupostos inafastáveis: a 
determinabilidade temporal, a temporariedade da função e a excepcionalidade do 
interesse público. 
 
O primeiro pressuposto significa que os contratos firmados com esses 
servidores devem sempre ter prazo determinado. O segundo pressuposto implica 
que existe a necessidade de que esses serviços sejam sempre temporários. O 
último pressuposto significa que somente em situações de excepcional interesse 
público poderá haver a contratação desses servidores, de modo que situações 
administrativas comuns não podem gerar esse tipo de contratação. São exemplos 
de servidores temporários os professores substitutos da UFC. 
 26 
Em suma, coexistem na Administração brasileira os três regimes jurídicos 
mencionados, cada um com suas peculiaridades, mas tendo em comum o fato de 
serem normas disciplinadoras do vínculo existente entre o servidor e o poder 
público.
4 O EMPREGADO PÚBLICO E A QUESTÃO DA (FALTA DE) 
ESTABILIDADE 
 
 
O servidor nomeado por concurso em caráter efetivo, caso atenda os 
requisitos de provimento do cargo e transponha o estágio probatório, terá 
assegurada a estabilidade. 
 
Estabilidade é garantia de permanência no serviço público, é direito 
adquirido garantido pela Constituição Federal. Dispõe o art. 41 da Constituição 
Federal que “são estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores 
nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público”. 
Acrescente-se que para os detentores da estabilidade, a perda do cargo somente 
ocorrerá em virtude de sentença judicial transitada em julgado, mediante processo 
administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa ou mediante procedimento 
de avaliação periódica de desempenho, na forma da lei complementar, assegurada 
ampla defesa. 
 
Nesse contexto, é oportuno ressaltar o disposto no §4º do art. 169 da 
Constituição Federal que disciplina sobre a possibilidade do servidor estável perder 
o cargo caso as despesas com pessoal exceda os limites estabelecidos em lei. 
Assim dispõe o referido artigo: 
 
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites 
estabelecidos em lei complementar. 
(...) 
§4º Se as medidas adotadas com base no parágrafo anterior não forem 
suficientes para assegurar o cumprimento da lei complementar referida 
neste artigo, o servidor estável poderá perder o cargo, desde que ato 
normativo motivado de cada um dos poderes especifique a atividade 
funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de pessoal. 
 28 
A estabilidade é, portanto, uma garantia de ordem constitucional deferida 
aos ocupantes de cargos públicos de provimento efetivo, voltada, em princípio, a 
assegurar-lhes a permanência no serviço público, desde que tenham sido atendidos 
os requisitos da lei. 
 
Como se percebe, a estabilidade não é adquirida pelo servidor de forma 
imediata, logo após a posse, mas faz-se necessário que o servidor cumpra o período 
do estágio probatório de três anos. Reitere-se, ainda, que a estabilidade só será 
alcançada pelo servidor admitido mediante concurso público para ocupar cargo 
público de provimento efetivo. 
 
Para o servidor público, a estabilidade representa a segurança de saber 
que somente poderá perder o seu cargo nas situações determinadas pela lei, não 
estando sujeito ao arbítrio de seus superiores. Significa dizer que, da mesma forma 
que devem ser atendidas determinadas condições para a concessão do direito de 
ser o servidor ocupante de cargo público, assim também, para a dispensa do 
servidor, há de se transpor determinados obstáculos que a lei impõe com o intuito 
específico de impedir o arbítrio e os atos de mera vontade. 
 
É oportuno ressaltar que, como visto, a estabilidade não é um direito 
absoluto, pois ao mesmo tempo em que se oferta a medida de proteção, estabelece-
se a possibilidade de perda do cargo. 
 
A estabilidade conferida aos servidores públicos não é um mero privilégio 
sem fundamento, mas tem como função básica a necessária e indispensável 
proteção conferida ao agente público para o fim de ensejar a correta execução de 
 29 
suas atividades profissionais, sempre tendo como foco o interesse público. 
Resguardar o agente público de pressões não significa conferir-lhe um privilégio, 
mas sim instituir uma proteção indireta em benefício do regular exercício das 
atividades que lhe são cometidas. 
 
Levante-se, agora, uma questão: o empregado público também tem 
direito à estabilidade ou esta é exclusiva dos servidores estatutários? A doutrina e a 
jurisprudência divergem sobre o assunto, como será observado. 
 
Diante do texto constitucional, houve grande celeuma sobre a extensão e 
aplicação do previsto no artigo 41 da Carta. Para alguns, o preceito constitucional 
somente se referia aos servidores públicos estatutários e, para outros, à todos os 
servidores públicos, sejam eles, estatutários ou empregados, excetuando apenas 
aqueles que exercem cargos comissionados e aos contratados em regime 
temporário. 
 
Os que negam a existência do direito à estabilidade aos empregados 
públicos, apresentam vários argumentos nesse sentido. Primeiramente, alegam que 
a Administração pública quando contrata equipara-se ao empregador privado, de 
modo que o empregado celetista não é beneficiado pelo artigo 41 do Texto 
Constitucional, o qual é dirigido apenas ao regime de caráter administrativo. 
Observe-se a seguinte jurisprudência que corrobora com esse entendimento: 
 
Embargos. Estabilidade de ocupante de emprego público regido pela CLT. 
O disposto no artigo 41 da Constituição da República é inaplicável aos 
empregados públicos (os celetistas), uma vez que toda a sistemática da 
Seção II do Capítulo VII do Título III da Constituição da República, se 
fundava, até a Emenda n. 19/98, na existência de um regime jurídico único; 
 30 
hoje, a Administração pública pode celebrar contrato de trabalho pelo 
regime da CLT, e celebra. E quando o faz sujeita a relação de emprego às 
mesmas condições estabelecidas para as empresas privadas. Recurso de 
Embargos conhecido e provido para julgar improcedente a reclamação 
trabalhista (TST – SDI-I – ERR n. 557968 – Rel. Min. João Batista Brito 
Pereira – j. 2.4.2001 – DJ 22.6.2001 – p. 310). 
 
Argumentam, também, que o texto constitucional diz expressamente que 
o "servidor público estável só perderáo cargo em virtude de sentença judicial.. .". 
Ou seja, há menção expressa ao termo "cargo", o qual somente é ocupado por 
servidor estatutário e nunca por empregado público. 
 
Maximilianus Cláudio Américo Führer e Maximiliano Roberto Ernesto 
Führer fazem a distinção entre funções, cargos e empregos: 
 
Funções, cargos e empregos. A função pública é uma tarefa. Todos os 
cargos têm uma função, mas nem todas as funções decorrem de um cargo. 
Cargo é o posto, o lugar reservado a uma pessoa, para o desempenho de 
determinadas funções. Os cargos efetivos podem ser isolados ou 
escalonados em carreira. Os cargos em comissão, ou cargos de confiança, 
são ocupados em caráter precário, por pessoas que podem ser mantidas 
ou não no lugar pelo superior hierárquico. 
Nos cargos em comissão o servidor pode ser exonerado ad nutum, ou seja, 
sem necessidade de fundamentação. (...) 
Emprego público é a relação empregatícia estabelecida pelo poder público 
no regime da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT. (FÜHRER, 
Maximilianus; FÜHRER, Maximiliano, 1997, p. 72) 
 
Para os doutrinadores contrários à existência de estabilidade para os 
empregados públicos, nem mesmo a exigência de aprovação em concurso público, 
seria elemento capaz de estender ao empregado público a estabilidade 
constitucional. Acrescentam, ainda, que o instituto da estabilidade é totalmente 
incompatível com o regime de adoção do fundo de garantia por tempo de serviço. 
Observe-se as jurisprudências: 
 
Inexistência. Irrelevância da admissão por concurso, para efeitos de 
estabilidade – Arts. 41 e 37 da CF/88. O art. 41 da CF, inserido na Seção II 
 31 
– Dos Servidores Públicos Civis, refere-se àqueles cuja natureza do vínculo 
com o Estado seja institucional e não contratual. A conclusão desse 
entendimento se encontra no art. 37 da CF, que distinguiu cargo de 
emprego público, embora para ambos a aprovação dependa de concurso 
público, para investidura na Administração Pública, direta ou indireta. O 
cargo público é criado por lei, enquanto, no emprego público, a natureza do 
vínculo é contratual, regida pela CLT. Assim, em sendo a relação dos 
reclamantes para com a reclamada regida pelo estatuto consolidado, 
afasta-se a estabilidade pretendida, sendo irrelevante que sua admissão 
tenha-se dado por concurso. A estabilidade é uma garantia pessoal, 
exclusiva dos funcionários regularmente investidos em cargos públicos (na 
acepção estrita do termo) de provimento em caráter efetivo, não transitório 
(TRT – 15ª R – 2ª T – Ac. n. 6806/95 – Rel. Tadeu Gomieri – DOE 22.5.95 
– p. 67). 
 
Servidor Público Trabalhista. Estabilidade. O artigo 41, da Constituição 
Federal, não se estende aos servidores públicos contratados sob a égide 
da Consolidação das Leis do Trabalho. Assim, ainda que admitidos 
mediante prévio concurso público, o instituto da estabilidade não atinge 
essa categoria de servidores, haja vista que inexiste nomeação e ocupação 
de cargo, características do regime estatutário. Contudo, em face dos 
princípios da moralidade e da impessoalidade, a rescisão contratual deverá 
ser precedida do competente procedimento administrativo, através do qual 
será garantida a ampla defesa, sem o que nula será a dispensa (TRT – 3ª 
R. – 5ª T. – RO. n. 19245/99 – Rel. Ricardo Antônio Mohallem – DJMG 
30.9.2000 – p. 15). 
 
Estabilidade. Servidor contratado pelo regime celetista. A admissão de 
servidor mediante concurso público pelo regime celetista não lhe confere a 
estabilidade no emprego público. A estabilidade só é conferida ao servidor 
investido em cargo público de provimento em caráter efetivo (CF/88, art. 
41). Por evidente, o servidor admitido pelo regime da CLT não está 
investido em cargo, mas em emprego público. A diferença basilar entre o 
empregado celetista e o servidor público regido por regime estatutário é 
que aquele é garantido com a indenização fundiária, e este com a 
estabilidade. A soma de ambos os benefícios resultaria na criação de um 
tertius genus: empregado com estabilidade e FGTS (TRT – 2ª R – 5ª T. – 
RO n. 02990335069 – Rel. Francisco Antonio de Oliveira – j. 18.7.2000 – 
DOE 4.8.2000). 
 
No entanto, o entendimento de que os empregados públicos não têm 
direito à estabilidade não é o único. Vários doutrinadores não se filiam a essa 
posição. 
 
Aqueles que defendem a total compatibilidade do instituto da estabilidade 
em relação aos servidores celetistas, afirmam que mesmo se comparando ao 
empregador comum ao contratar pela CLT, a Administração não o faz de forma 
aleatória, mas ao contrário, todos os seus atos devem estar sujeitos aos princípios e 
 32 
normas constitucionais que, por exemplo, determinam a realização de concurso 
público e restringem a dispensa imotivada após a aprovação no estágio probatório. 
 
Alegam, inclusive, que conceder estabilidade aos funcionários estatutários 
e aos empregados celetistas com mais de cinco anos de serviços no momento da 
promulgação da Constituição Federal (o fenômeno da estabilização constitucional 
disposto no art. 19 do ADCT), mas não reconhecer a estabilidade do servidor 
celetista aprovado em concurso público, seria ferir de forma contundente o princípio 
da isonomia. 
 
Acrescentam, que também não haveria qualquer incompatibilidade de 
conflito entre a estabilidade e o fundo de garantia por tempo de serviço. Registre-se 
uma jurisprudência pátria nesse sentido: 
 
Empregado de Sociedade de Economia Mista. Estabilidade do artigo 41 da 
Constituição Federal de 1988. Inaplicabilidade. A estabilidade prevista no 
artigo 41 da Constituição, inserido em seção cujos preceitos referem-se 
especificamente aos servidores públicos civis da administração direta, das 
autarquias e das fundações públicas, destina-se não só aos servidores 
públicos, também denominados funcionários públicos, submetidos ao 
regime estatutário, e investidos em cargos públicos criados por lei, que lhes 
confere denominação própria, define suas atribuições e fixa o padrão de 
vencimento ou remuneração, como também aos empregados públicos. 
Realmente, o Supremo Tribunal Federal veio de consagrar a tese de que o 
servidor-empregado, contratado após prévia aprovação em concurso 
público, independentemente de ser optante pelo FGTS, goza de 
estabilidade do art. 41 da Constituição Federal, beneficiando-se assim do 
direito de, somente após regular apuração de falta que lhe seja imputada, 
ser dispensado por justa causa, quando seu empregador é a administração 
pública direta, autárquica ou fundacional. A hipótese, em exame, no 
entanto, como já assinalado, é de empregado que prestou serviços à 
empresa de economia mista, daí porque a relação jurídica não encontra 
abrigo no art. 41 da Constituição Federal, mas, sim, no art. 173, na CLT e 
Legislação Complementar. Recurso de revista provido (TST – 4ª T. – RR n. 
525486 – Rel. Min. Milton de Moura França – j. 21.10.2000 – DJ 
1.12.2000). 
 
Inclusive em suas orientações, a Corte Trabalhista indica o entendimento 
no sentido de que o servidor público celetista da administração direta, autárquica ou 
 33 
fundacional é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da Constituição 
Federal. Observe-se o que explicita a Orientação n. 22, SDI-II: 
 
Ação rescisória. Estabilidade. Artigo 41, CF/88. Celetista. Administração 
direta, autárquica ou fundacional. Aplicabilidade. O servidor público 
celetista da administração direta, autárquica e fundacional é beneficiário da 
estabilidade prevista no artigo 41 da Constituição Federal. 
 
Por outro lado, não resta qualquer dúvida em relação aos empregados 
das empresas públicas e das sociedades de economia mista no sentido de que os 
mesmos estão excluídos da estabilidade que trata o art. 41 da Constituição, uma 
vez que o art. 173,§ 1º, determina a sujeição dessas entidades ao regime jurídico 
próprio das empresas privadas. Inclusive é esse o posicionamento do doutrinador 
Franco Filho (2000, p. 113) que entende que “aos empregados de sociedadesde 
economia mista não se aplica a regra do art. 41 da Constituição de 1988, não 
gozando, portanto, da mesma estabilidade que protege os servidores públicos 
stricto sensu”. Eis o que afirma a jurisprudência pátria: 
 
Estabilidade. Artigo 41 da Carta Política. Empregado celetista. Sociedade 
de economia mista. Inaplicabilidade. Cassação da ordem de reintegração 
do empregado dispensado imotivadamente. A Jurisprudência pacífica desta 
alta Corte é no sentido de que somente os servidores públicos celetistas da 
Administração Pública Direta, Autárquica ou Fundacional são beneficiários 
da estabilidade prevista no art. 41 da Constituição Federal. Assim, os arts. 
37, caput, e 173, § 1º, da Lei Maior não se caracterizam como suporte 
jurídico garantidor da antecipação de tutela jurisdicional promovida pelo eg. 
Tribunal Regional de origem, consistente em conferir o referido benefício a 
empregado celetista de Sociedade de Economia Mista. Vale-refeição. 
Natureza salarial. Art. 3º da Lei n. 6.321/76. O Decreto n. 05/91, que 
regulamentou a Lei n. 6.321/76, estabelece que a parcela paga in natura, 
por empresa inscrita no Programa de Alimentação do Trabalhador, não tem 
natureza salarial, não se incorporando à remuneração do trabalhador para 
quaisquer efeitos. Descontos Previdenciários. A Justiça do Trabalho é 
competente para determinar o recolhimento dos descontos previdenciários, 
cuja retenção na fonte encontra amparo no art. 43 da Lei n. 8.212/91, com 
a nova redação que lhe foi conferida pela Lei n. 8.621/93, bem como nos 
Provimentos n. 02/93 e 01/96 da douta Corregedoria-Geral desta Justiça 
Especializada. Danos morais. Competência da Justiça do Trabalho. A 
competência da Justiça do Trabalho, prevista no art. 114 da Constituição 
Federal, estende-se aos conflitos decorrentes da relação de emprego, 
dentre os quais encontra-se a indenização por dano moral emergente do 
 34 
vínculo laborativo. Recurso de Revista parcialmente conhecido e em parte 
provido" (TST – 2ª T. – RR n. 577884 – Rel. Márcio Ribeiro do Valle – j. 
22.11.2000 – DJ 7.12.2000). 
 
Como é possível observar, ainda não há consenso entre doutrinadores, 
tampouco há uma jurisprudência pacificada relativa à questão da existência ou não 
de estabilidade para os empregados públicos, mas talvez isso seja apenas uma 
questão de tempo, até porque o próprio TST já sumulou o assunto, in verbis: 
 
Súmula nº 390 do TST: Estabilidade. Art. 41 da CF/1988. Celetista. 
Administração direta, autárquica ou fundacional. Aplicabilidade. Empregado 
de empresa pública e sociedade de economia mista. Inaplicável. 
(conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 229 e 265 da SDI-1 e da 
Orientação Jurisprudencial nº 22 da SDI-2) - Res. 129/2005 - DJ 20.04.05 
 I - O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou 
fundacional é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988. 
(ex-OJ nº 265 da SDI-1 - Inserida em 27.09.2002 e ex-OJ nº 22 da SDI-2 - 
Inserida em 20.09.00) 
II - Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de economia mista, 
ainda que admitido mediante aprovação em concurso público, não é 
garantida a estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988. (ex-OJ nº 229 - 
Inserida em 20.06.2001) 
 
Defendendo a estabilidade dos empregados públicos resultante da 
aplicação do art. 41 da Constituição Federal à referida classe de servidores 
públicos, tem-se que a dispensa dos mesmos não poderia ser imotivada, mas sim, 
deveria fazer-se necessário um processo administrativo que oferecesse ao servidor 
celetista concursado a possibilidade de realizar plenamente o seu direito ao 
contraditório e à ampla defesa. No âmbito da Justiça do Trabalho, o processo 
judicial seria o inquérito de apuração de falta grave. Nem mesmo a dispensa 
durante o estágio probatório poderia dispensar a apuração da falta cometida. 
 
É interessante notar que mesmo alguns daqueles que contestam o direito 
à estabilidade dos empregados públicos, consideram que a Administração Pública 
não pode praticar atos de acordo com a sua mera vontade, mas deve respeitar as 
 35 
normas e princípios constitucionais, de modo que somente poderia dispensar seus 
empregados públicos mediante motivação. Este seria, então, um elemento de 
validade do ato demissionário por parte da Administração. 
 
A doutrinadora Lúcia Valle Figueiredo afirma: 
 
Não se pense, também, que a dispensa de empregados regidos pela 
Consolidação das Leis do Trabalho – C.L.T. (claro que não estamos a nos 
referir aos contratos por tempo determinado, ex vi do artigo 37, IX, da 
Constituição), possa se dar sem qualquer motivação ou sem que lhes seja 
dada qualquer possibilidade de contraditar a dispensa. 
O concurso é a regra geral para a contratação de quaisquer servidores (em 
sentido lato), de empregados. A dispensa não se pode verificar 
desmotivada, se tiver havido concurso público. É preciso ter fundamento 
jurídico, pouco importa que os empregados possam não ser estáveis. 
(FIGUEIREDO, 1995, p. 398) 
 
A jurisprudência tem alguns entendimentos nesse sentido, in verbis: 
 
Empregado concursado. Contratação pela CLT. Despedida sem motivação. 
Reintegração. Entidade de Direito Público. 1. ‘A dispensa de servidor 
público regido pela CLT não se pode dar da mesma forma que a dispensa 
do empregado privado. É que todos os atos da Administração Pública terão 
de ser sempre motivados; não podem ser sem causa. Pelo princípio da 
legalidade que preside a atividade da Administração Pública, a esta não 
cabe praticar atos, ainda que no exercício de poder discricionário, que 
impliquem expressões de arbítrio de sua atividade. A dispensa da servidora 
admitida por concurso público, como todo ato administrativo, tem de ser 
motivada, ainda que se cuide de relação regida pela CLT, implicando sua 
falta, sem dúvida, invalidade do ato, até mesmo por se configurar, na 
hipótese, abuso de poder. Trata-se, na hipótese dos autos, de autarquia 
estadual, pessoa jurídica de direito público, cuja criação justifica-se apenas 
pelo fato de poder melhor executar atividades típicas da Administração 
Pública (art. 5º, inciso I, do Decreto-Lei n. 200/67). Não há qualquer dúvida 
de que os cargos e empregos públicos deverão ser preenchidos por 
intermédio da realização de concurso público, exigência da Constituição 
Federal. Tal regra se tornaria inócua se o administrador público pudesse 
admitir num dia e dispensar, a seu talante, imediatamente no outro dia, 
fraudando, com esta atitude, a ordem de classificação dos candidatos’ 
(STF-MS, 21485-DF, Relator Ministro Néri da Silveira). 2. Recurso de 
revista provido (TST – 3ª T. – RR n. 424778 – Rel. Min. Francisco Fausto – 
j. 21.6.2000 – DJ 25.8.2000 – p. 507). 
 
Servidor Público Celetista. Dispensa. Conduta Irregular. Motivação. 
Operando-se o ingresso de servidor em cargo ou emprego público 
mediante concurso público de provas ou de provas e títulos, nos termos do 
artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, ainda que o regime jurídico 
adotado pelo órgão da administração pública seja o celetista, razão não há 
para que o administrador público dispense ao servidor celetista tratamento 
diverso daquele adotado em relação aos servidores estatutários no que 
 36 
tange à dispensa, devendo esta atender estritamente ao interesse público. 
Por conseguinte, não obstante a garantia da estabilidade não alcançar o 
servidor celetista, deve-se observar a apuração minuciosa de conduta 
irregular, bem como a motivação para a sua dispensa, sem o que o ato se 
torna arbitrário, impondo-se a reintegração ao serviço público (TRT – 3ª R. 
– 5ª T. – RO n. 18151/97 – Rel. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho – DJMG 
30.1.1999 – p. 22) 
 
Pelo fato do empregado público ser regido pela CLT, tal legislação 
trabalhista de ordem privada passa a ser a regra do sistema a que ele pertence, 
sendo a legislação de natureza pública a exceção. 
 
Dessa forma, de um lado tem-se o fato de que, sendo os empregados 
públicos regidospelo regime celetista, naturalmente serão regidos por todas as 
normas próprias do regime privado, inclusive a possibilidades de demissão sem 
justa causa e, em sentido diametralmente oposto, observa-se que o ato 
demissionário não deixa de ser um ato administrativo, sendo-lhe exigido todos os 
elementos próprios deste instrumento jurídico, entre eles a motivação. 
 
Entenda-se a motivação como uma exposição de motivos, por escrito, de 
que os pressupostos de fato e de direito do ato administrativo realmente existam. 
Apesar de alguns doutrinadores divergirem sobre a obrigatoriedade da motivação 
dos atos administrativos, é importante ter em mente o quanto é essencial para a 
validade do ato administrativo tal motivação, sob pena de tornar inócua a exigência 
constitucional de obediência aos princípios administrativos. 
 
Maria Silvia Zanela di Pietro, tratando do assunto, leciona: 
Entendemos que a motivação é, em regra, necessária, seja para os atos 
vinculados, seja para os atos discricionários, pois constitui garantia de 
legalidade, que tanto diz respeito ao interessado como à própria 
Administração Pública; a motivação é que permite a verificação, a qualquer 
momento, da legalidade do ato, até mesmo pelos demais Poderes do 
Estado. (DI PIETRO, 2004, p. 204) 
 37 
É fundamental se observar que o Poder Público tem o dever da promoção 
do bem comum, um dever ainda maior que o das empresas privadas que tem o 
dever à responsabilidade social. 
 
Diante disso, a Administração Pública, independentemente de ter 
servidores estatutários ou celetistas, deveria atender ao comando do art. 37, caput, 
da Constituição Federal, não promovendo despedidas arbitrárias e imotivadas. 
Respeitando esse posicionamento, anote-se o seguinte julgado: 
 
COPEL – SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA – DISPENSA DE SEUS 
EMPREGADOS CONDICIONADA À NECESSÁRIA MOTIVAÇÃO – A 
dispensa de servidor público admitido por concurso público, ainda que 
regido pela CLT, deve, necessariamente, ser motivada (princípio da 
legalidade – art. 37, II, da CF), sob pena de invalidade. Do contrário, seria o 
mesmo que admitir a possibilidade de o administrador admitir num dia e 
dispensar no outro, fraudando, assim, a ordem de classificação dos 
candidatos. (STF-MS, 21485-DF, Relator Ministro Néri da Silveira). 
Inteligência da Súmula nº 03 do TRT da 9ª Região (IUJ julgado em 
16.04.01). 
 
Observando o texto constitucional se utilizando de uma interpretação 
unitária de todo o sistema, conclui-se que o entendimento supra citado encontra 
guarida em nosso ordenamento jurídico que tem como fundamento a proteção ao 
trabalho humano. A carta política vigente não deixa dúvida quando, já em seu artigo 
primeiro, traz como fundamentos da República Federativa do Brasil a observância I - 
a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV - aos valores 
sociais do trabalho e da livre iniciativa. 
 
Dessa forma, o presente trabalho adota a tese de que o empregado 
público tem direito à estabilidade por todos os motivos mencionados, devendo ser 
enfatizado o fato de que da mesma forma que os servidores estatutários precisam 
 38 
da estabilidade para exercerem suas atividades sem estarem sujeitos ao arbítrio de 
seus superiores, os servidores celetistas também exercem muitas funções de 
extrema responsabilidade que por sua natureza tornam indispensável a estabilidade 
do servidor para serem realizadas com a devida imparcialidade.
5 A RESPONSABILIDADE FUNCIONAL DO SERVIDOR 
 
 
O servidor público, no desempenho de suas funções ou a pretexto de 
exercê-las, sujeita-se à responsabilidade civil, penal e administrativa decorrente de 
cargo, emprego ou função. Portanto, o servidor pode cometer ilícitos na seara 
administrativa, civil e penal. José dos Santos Carvalho Filho esclarece: 
 
A responsabilidade se origina de uma conduta ilícita ou da ocorrência de 
determinada situação fática prevista em lei e se caracteriza pela natureza 
do campo jurídico em que se consuma. Desse modo, a responsabilidade 
pode ser civil, penal e administrativa. Cada responsabilidade é, em 
princípio, independente da outra. (...) Sucede que, em algumas ocasiões, o 
fato que gera certo tipo de responsabilidade é simultaneamente gerador de 
outro tipo; se isso ocorrer, as responsabilidades serão conjugadas. Essa é a 
razão por que a mesma situação fática é idônea a criar, concomitantemente, 
as responsabilidades civil, penal e administrativa. (CARVALHO FILHO, 
2005, p. 594) 
 
É possível que a conduta inadequada afete a ordem interna do serviço 
público e seja caracterizada apenas como ilícito administrativo. Nesse caso, trata-se 
da responsabilidade administrativa que poderá levar o agente a sofrer sanção nessa 
esfera. Por outro lado, se o agente causar dano à Administração em decorrência de 
ação ou omissão, dolosa ou culposa, terá que repará-lo, sendo responsabilizado 
civilmente. 
 
Se a conduta ilícita afetar a sociedade de forma imediata e for 
caracterizado como crime funcional, o servidor responderá criminalmente, podendo, 
inclusive, sofrer sanções penais. 
 
Levando-se em consideração a possibilidade de haver acumulação de 
responsabilidades, também é possível que se acumulem as sanções, uma vez que 
 40 
para cada tipo de responsabilidade corresponde uma espécie de sanção. Portanto, 
pode-se afirmar que existe independência entre as responsabilidades, assim como 
das sanções e das respectivas instâncias. 
 
Corroborando com esse entendimento, o STF, por maioria, indeferiu 
Mandado de Segurança impetrado contra ato que, em processo disciplinar, 
impusera ao impetrante a pena de demissão pela prática de ilícito funcional, sem 
que se aguardasse o fim da ação penal a que responde pela mesma falta, 
levando em consideração que a punição disciplinar independe de decisão judicial. 
Observe-se: 
 
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO DEMITIDO POR 
ILÍCITO ADMINISTRATIVO. SIMULTANEIDADE DE PROCESSOS 
ADMINISTRATIVO E PENAL. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS. 
PRECEDENTES. Esta Corte tem reconhecido a autonomia das 
instâncias penal e administrativa, ressalvando as hipóteses de 
inexistência material do fato, de negativa de sua autoria e de fundamento 
lançado na instância administrativa referente a crime contra a 
administração pública. Precedentes: MS nº 21.029, CELSO DE MELLO, 
DJ de 23.09.94; MS nº 21.332, NÉRI DA SILVEIRA, DJ de 07.05.93; e 
21.294, SEPÚLVEDA PERTENCE, julgado em 23.10.91; e MS nº 22.076, 
Relator para o acórdão Min. MAURÍCIO CORRÊA. Segurança denegada. 
(STF, MS nº 21.708-DF, Pleno, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgado em 
09/11/2000). 
 
Ressalte-se que, como decorrência do princípio da indisponibilidade do 
interesse público, os ocupantes de cargos ou funções de chefia e direção têm o 
dever de tomar as providências para apurar a responsabilidade de servidores, tão 
logo estejam cientes do fato ocorrido que possa importar infração, sob pena, 
inclusive, de serem enquadrados no art. 320 do Código Penal que abriga a figura 
penal correspondente ao descumprimento desse dever. 
 
 
 41 
5.1 Responsabilidade civil 
 
Em se tratando da responsabilidade civil, pode-se afirmar que o servidor 
público tem a obrigação de reparar o dano que tenha causado à Administração 
Pública ou a terceiro resultante de alguma conduta dolosa ou culposa, comissiva ou 
omissiva. 
 
Não há, para o servidor, responsabilidade objetiva ou sem culpa. Essa 
responsabilidade, como já afirmado, é independente da penal e da administrativa e 
se apura na forma do Direito Privado, perante a Justiça Comum. 
 
É oportuno tecer alguns comentários em relação ao dolo e à culpa. 
Primeiramente, é necessário ressaltar que são conceitos diversos, sendo a culpa 
verificada em conduta lesiva resultante de imperícia imprudência ou negligência, 
enquanto o dolo se dá quando o agente deseja a conduta lesiva ou assume o risco 
de produzi-la. E mais, a diferença entre os dois ilícitosé subjetiva, variando 
conforme a conduta do agente. 
 
Acrescente-se que para ser imputada a responsabilidade civil ao servidor 
faz-se necessário a comprovação do dano causado à Administração ou a terceiro. 
Sem o dano inexiste responsabilização. 
 
É oportuno ressaltar que a Administração não pode isentar de 
responsabilidade civil seus servidores, uma vez que não possui disponibilidade 
sobre o patrimônio público, mas ao contrário, tem o dever de zelar pela integridade 
 42 
desse patrimônio, adotando todas as providências legais cabíveis para que o dano 
causado pelo servidor seja devidamente reparado. 
 
No caso da conduta do servidor ter gerado algum dano à Administração, 
ele será diretamente responsabilizado. Por outro lado, caso sejam causados danos 
contra terceiros, pode o servidor responder diretamente através de ação ajuizada 
pelo prejudicado, ou indiretamente, através do direito de regresso assegurado à 
Administração, que por sua vez, teria sido acionada diretamente pela vítima. 
Observe-se as jurisprudências: 
 
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS RESULTANTES DE ABALROAMENTO 
DE VEICULOS. CULPA DO MOTORISTA DA UNIÃO, COMPROVADA POR 
LAUDO TECNICO. Responsabilidade indeclinável desta, pela pretendida 
composição, face as regras do art. 107 da CF/69. Direito de regresso que, 
por igual, se evidencia diante da conduta culposa do servidor. Procedência 
da ação. (STF, Ação Cível Originária nº409, Pleno, Rel. Min. Ilmar Galvão, 
julgado em 14/10/1993 publicado no DJ em 03/12/93). 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. 
INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. DENUNCIAÇÃO À LIDE DO 
SERVIDOR CAUSADOR DO DANO. AÇÃO REGRESSIVA GARANTIDA. 
I - Admite-se que o Estado promova a denunciação da lide envolvendo 
agente seu nas ações de responsabilidade civil, no entanto, tal denunciação 
não é obrigatória, podendo o Estado, em ação própria, exercer o seu direito 
de regresso em face do agente causador do dano. 
II - Assim, entende esta Corte Superior que, em observância aos princípios 
da economia e da celeridade processuais, o indeferimento da denunciação 
da lide ao preposto estatal não seria causa de nulidade do processo já 
iniciado. 
III - Precedentes. 
IV - Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ, Agravo regimental 
no Resp nº 313886 – RN, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, 
Julgamento em 18/02/03, Publicado em 22/04/03) 
 
A responsabilidade civil do servidor deve ser apurada por processo 
administrativo que respeite o princípio da ampla defesa e do contraditório, findo o 
qual a autoridade competente irá impor ao servidor o dever de reparar o dano 
causado, através de indenização em dinheiro, que pode se dar de uma só vez ou de 
forma parcelada. 
 43 
A forma do pagamento da indenização pode ser, inclusive, através de 
desconto de cada parcela nos vencimentos do servidor. No entanto, ressalte-se que 
tal desconto não pode ocorrer de modo coercitivo, o servidor precisa concordar com 
ele, uma vez que a Administração não pode lançar mão dos bens de seus servidores 
ou gravar unilateralmente seus vencimentos com a finalidade de se ressarcir de 
eventuais prejuízos. Observe-se a jurisprudência do STF: 
 
Mandado de Segurança. 2. Desaparecimento de talonários de tíquetes-
alimentação. Condenação do impetrante, em processo administrativo 
disciplinar, de ressarcimento ao erário do valor do prejuízo apurado. 3. 
Decisão da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados de desconto mensais, 
em folha de pagamento, sem a autorização do servidor. 4. 
Responsabilidade civil de servidor. Hipótese em que não se aplica a auto-
executoriedade do procedimento administrativo. 5. A Administração acha-se 
restrita às sanções de natureza administrativa, não podendo alcançar, 
compulsoriamente, as conseqüências civis e penais. 6. À falta de prévia 
aquiescência do servidor, cabe à Administração propor ação de indenização 
para a confirmação, ou não, do ressarcimento apurado na esfera 
administrativa. 7. O Art. 46 da Lei no 8.112, de 1990, dispõe que o desconto 
em folha de pagamento é a forma como poderá ocorrer o pagamento pelo 
servidor, após sua concordância com a conclusão administrativa ou a 
condenação judicial transitada em julgado. 8. Mandado de Segurança 
deferido (STF, MS nº 24.182 – DF, Pleno, Rel. Min. Maurício Corrêa, julgado 
em 12/02/2004, publicado em 03/09/2004) 
 
 
5.2 Responsabilidade administrativa 
 
O servidor também está sujeito a cometer algum ilícito administrativo, 
situação em que será atribuído a ele responsabilidade administrativa por sua 
conduta comissiva ou omissiva. 
 
Segundo Meirelles, pode-se afirmar em relação à responsabilidade 
administrativa: 
 
Responsabilidade administrativa é a que resulta da violação de normas 
internas da Administração pelo servidor sujeito ao estatuto e disposições 
 44 
complementares estabelecidas em lei, decreto ou qualquer outro provimento 
regulamentar da função pública (MEIRELLES, 2000, p. 451) 
 
Essa espécie de responsabilidade deve ser apurada mediante processo 
administrativo, sendo garantido ao servidor o direito à ampla defesa e ao 
contraditório (devido processo legal). 
 
Acrescente-se que a punição administrativa, também denominada 
disciplinar, não depende de processo civil ou criminal a que se sujeite o servidor pela 
mesma falta, tampouco obriga a Administração a aguardar o desfecho dos demais 
processos. 
 
Devido à sua autonomia, a punição disciplinar pode ser aplicada ao 
servidor antes do julgamento judicial do mesmo fato, uma vez que os ilícitos 
administrativo e penal são independentes. É importante ressaltar que a absolvição 
na esfera penal só tem força para afastar a punição disciplinar se ficar provado na 
ação criminal a inexistência do fato ou que o acusado não foi seu autor. É o que vem 
a ser confirmado pela jurisprudência pátria: 
 
ADMINISTRATIVO - SERVIDOR - DEMISSÃO - PROCESSO DISCIPLINAR 
- ABSOLVIÇÃO NA ES\FERA PENAL. A absolvição criminal só afasta a 
responsabilidade administrativa e civil quando ficar decidida a inexistência 
do fato ou a não autoria imputada ao servidor, dada a independência das 
três jurisdições. A absolvição na ação penal, por falta de provas ou ausência 
de dolo, não exclui a culpa administrativa e civil do servidor público, que 
pode, assim, ser punido administrativamente e responsabilizado civilmente. 
Recurso improvido.(TJDF, 20000110714873APC, Relator HERMENEGILDO 
GONÇALVES, 1ª Turma Cível, julgado em 08/11/2004, DJ 16/12/2004 p. 48) 
 
Frise-se que o sistema punitivo na esfera administrativa é bem diferente 
do existente na esfera criminal, no sentido de que em relação ao ilícito administrativo 
 45 
não há a mesma tipicidade que caracteriza o ilícito penal. Na seara criminal, a lei 
especificará uma sanção para a conduta que estiver vinculada a ela. 
 
Em relação às infrações administrativas, pode-se afirmar que a maior 
parte delas não é definida com precisão, limitando-se a lei, em regra, a elencar um 
conjunto de deveres e obrigações para os servidores de modo que o ilícito 
administrativo consistiria justamente na inobservância de tais deveres e vedações. 
Acrescente-se que os estatutos relacionam as penalidades administrativas sem fixar 
qualquer elo de ligação a priori com a conduta. 
 
Essa falta de precisão legal permite que a Administração tenha uma certa 
margem de liberdade no enquadramento da conduta dentre os ilícitos previstos na 
lei, não implicando na possibilidade de arbitrariedades, uma vez que a lei determina 
que na aplicação das penas disciplinares devem ser levados em conta a natureza e 
a gravidade da infração assim como os danos causados ao Poder Público. 
 
Acrescente-se, ainda, a obrigatoriedade da Administração de motivar 
todos os seus atos que implicarem em penalidades disciplinares de modo a 
comprovar a observância pelo administrador da correlação entre a infração funcional 
e a punição imposta, evitando, assim, arbítrios por partedo Poder Público. Anote-se 
o seguinte julgado: 
 
ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSO 
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. MOTIVAÇÃO DO ATO DEMISSÓRIO E 
PROPORCIONALIDADE DA PENA APLICADA. 
1. Não subsiste a assertiva de ausência de motivação do ato invectivado 
porquanto a autoridade apontada como coatora logrou demonstrar o acerto 
de seu procedimento, colacionando aos autos o ato de julgamento 
realizado, devidamente fundamentado. 
2. A Comissão Processante não poderia sugerir, como penalidade, a 
 46 
reprovação em estágio probatório, porque essa não se traduz em sanção 
por prática de infração ao regime disciplinar do servidor público, previsto na 
Lei n. 8.112/90. 
3. "Ao motivar a imposição da pena, o administrador não se está 
despojando da discricionariedade que lhe é conferida em matéria disciplinar. 
Está, apenas, legalizando essa discricionariedade, visto que a valoração 
dos motivos é matéria reservada privativamente à sua consideração, sem 
que outro Poder possa rever o mérito de tais motivos. O próprio Judiciário 
deter-se-á no exame material e jurídico dos motivos invocados, sem lhes 
adentrar a substância administrativa" (Hely Lopes Meirelles, in "Direito 
Administrativo Brasileiro", ed. Malheiros, São Paulo, 1998, 23ª edição, p. 
111/112). 
4. Ordem denegada. (STJ, MS nº 7.268, Terceira Turma, Rel. Min. Hélio 
Quaglia Barbosa, julgado em 10/11/2004, publicado em 13/12/2004) 
 
Finalizando, cumpre-se destacar que ao juiz não é dado examinar os 
critérios de conveniência, oportunidade ou justiça dos atos punitivos praticados pela 
Administração, mas apenas lhe é possível apreciar o aspecto da legalidade. 
 
 
5.3 Responsabilidade criminal 
 
A responsabilidade criminal do servidor é decorrente de condutas que a lei 
tipifica como infração penal. Por conseqüência, o servidor que praticou o ilícito está 
sujeito a responder a processo crime e a suportar os efeitos legais da condenação. 
 
Para efeitos penais, o conceito de servidor público é bastante amplo, 
aproximando-se bastante do conceito de agente público, incluindo quem, embora 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em 
entidade estatal, autárquica, fundacional ou empresas públicas. 
 
Os crimes funcionais estão previstos basicamente entre os arts 312 e 
326. Além desses, a legislação especial prevê outras condutas típicas que também 
acarretam a responsabilidade penal do servidor. 
 47 
Ressalte-se que a questão da responsabilidade criminal é própria das 
áreas do Direito Penal e Processo Penal, exigindo que a solução do litígio seja dada 
pelo Poder Judiciário. 
 
Esta espécie de responsabilidade só poderá ser atribuída em caso de 
haver culpa ou dolo na conduta do servidor, sendo totalmente descartada a 
possibilidade de haver responsabilidade objetiva. 
 
Como já afirmado, as três espécies de responsabilidade são 
independentes, podendo o servidor ser responsabilizado apenas penalmente, caso 
não tenha causado prejuízos à Administração. Por outro lado, caso ele tenha 
ocasionado algum tipo de dano ao Poder Público ou a terceiro, também terá que 
responder administrativa e civilmente. 
 
No caso da conduta do servidor dar ensejo às três esferas de 
responsabilidades, estas podem ser apuradas juntas ou separadamente. 
Ressalte-se, no entanto, que a condenação na esfera criminal implicaria o 
reconhecimento automático das outras duas. Dessa forma, como relata Hely 
Lopes Meirelles: 
 
A condenação criminal por um delito funcional importa o reconhecimento, 
também, de culpa administrativa e civil, mas a absolvição no crime nem 
sempre isenta o servidor destas responsabilidades, porque pode não haver 
ilícito penal e existir ilícitos administrativo e civil (MEIRELLES, 2000, p. 455) 
 
Só serão afastadas as responsabilidades civil e administrativa em 
decorrência de absolvição criminal se for julgado inexistente o fato ou a não autoria 
 48 
imputada ao servidor. Caso o servidor seja absolvido por falta de provas ou ausência 
de dolo, não será excluída a sua responsabilidade civil e administrativa. 
Corroborando com o afirmado, observem-se as jurisprudências: 
 
RMS. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. DEMISSÃO. FATO 
INEXISTENTE. SENTENÇA CRIMINAL. ART. 386, I - CPP. 
1 - A absolvição na forma do art. 386, I, do Código de Processo Penal, 
através de sentença criminal transitada em julgado, impede tome a instância 
administrativa por base aqueles mesmos fatos, reputados inexistentes, para 
sancionar pretensa falta residual, ainda que estejam eles tipificados na 
legislação local como aptos a ensejar a pena de demissão. Incide a letra do 
art. 1.525 do Código Civil. 
2 - RMS provido. (STJ, Recurso em Mandado de Segurança nº 10.654, Rel. 
Min. Fernando Gonçalves, Sexta Turma, Julg. 25/09/01, publicado em 
15/10/01, p. 299) 
ADMINISTRATIVO - RESPONSABILIDADE CIVIL - DEMISSÃO DE 
SERVIDOR PÚBLICO - FATO DEFINIDO COMO ILÍCITO PENAL - 
ABSOLVIÇÃO POR FALTA DE PROVA NO JUÍZO CRIMINAL. 
I - A absolvição criminal por insuficiência ou falta de provas não implica em 
desconstituir-se automaticamente a sanção administrativa aplicada ao 
servidor, pelo mesmo fato. A desconstituição automática somente ocorre, 
quando a Justiça Criminal declara inexistente o fato ou que dele não 
participou o funcionário. 
II - Ação de indenização. Improcedência. (STJ, Recurso Especial nº 138801, 
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, Primeira Turma, julgado em 
08/09/98, publicado em 13/10/98, p. 18) 
 
Portanto, como é possível verificar, o servidor público, independentemente 
do regime jurídico, poderá ser responsabilizado administrativa, civil ou penalmente por 
seus atos, sendo dever dos ocupantes de cargos ou funções de chefia e direção a 
tomada de providências para a apuração das responsabilidades devidas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Num primeiro momento do presente estudo discorreu-se sobre aspectos 
da Administração Pública, da sua organização e dos agentes públicos, com a 
finalidade de distinguir juridicamente as diversas relações individuais de trabalho que 
se formam com o Poder Público e os regimes jurídicos aos quais se sujeitam os 
servidores estatutários, celetistas e temporários. 
 
Isso porque a Administração Pública pressupõe alguns princípios básicos 
que norteiam a sua ação, alguns explícitos no direito positivo, outros não. A 
Constituição Federal de 1998, em seu artigo 37, caput, faz expressa noção a cinco 
princípios aos quais deve se submeter a Administração Direta e Indireta, quais 
sejam: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. 
 
Em um segundo momento, o presente trabalho se deteve na questão da 
estabilidade (ou da falta desta) do empregado público, questão bastante polêmica 
sobre a qual ainda não existe consenso doutrinário nem jurisprudencial, 
posicionando-se, no entanto, no sentido de que existe a total compatibilidade do 
instituto da estabilidade em relação aos servidores celetistas e, como 
conseqüência, sendo necessário que a dispensa dos servidores em questão seja 
motivada. 
 
Pode-se, ainda, afirmar que são quatro as categorias de agente público, 
quais sejam: agentes políticos, servidores públicos, militares e particulares em 
colaboração com o Poder Público. 
 50 
Constata-se que muitas das peculiaridades de cada categoria de servidor 
público estão relacionadas aos diferentes regimes jurídicos que incidem sobre as 
respectivas relações de trabalho. No direito pátrio, estão presentes o regime 
estatutário, o trabalhista e o especial. 
 
O primeiro regime jurídico é o estatutário e equivale ao conjunto de regras 
que regulam a relação jurídica funcional entre o servidor público estatutário e o 
Estado e se encontram no estatuto funcional da pessoa federativa 
 
O segundo regime jurídico tratado é o trabalhista (ou celetista), 
constituído a partir de normas que regulam a relação jurídica existente entre o 
Estado e o servidor público

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