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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA ISABEL PEIXOTO LOURENÇO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE FRUTOS DE GENÓTIPOS DE MURICIZEIROS CULTIVADOS NO LITORAL DO CEARÁ FORTALEZA CEARÁ - BRASIL 2008 ii ISABEL PEIXOTO LOURENÇO POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE FRUTOS DE GENÓTIPOS DE MURICIZEIROS CULTIVADOS NO LITORAL DO CEARÁ Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Agronomia, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de mestre em Agronomia. Área de concentração: Fitotecnia Orientador: Prof. Dr. Raimundo Wilane de Figueiredo Co-Orientador: Dr. Ricardo Elesbão Alves FORTALEZA CEARÁ - BRASIL 2008 iii iv v DEDICO A Deus, por sua presença em todos os momentos de minha vida. Aos meus pais que são um exemplo de força, dedicação e coragem. Ao meu esposo, por sua compreensão, amizade e acima de tudo por seu amor. À minha filha, que simplesmente por existir, modificou minha visão da vida. vi AGRADECIMENTOS A Universidade Federal do Ceará, através do Curso de Pós-Graduação em Agronomia / Fitotecnia pela oportunidade de aprendizado profissional e crescimento pessoal. A Capes pelo apoio financeiro, através da bolsa de pesquisa, sem a qual se tornaria muito difícil a realização deste curso. Ao CNPq pelo apoio financeiro ao projeto, tornando factível sua execução. A Embrapa Agroindústria Tropical, por fornecer suas instalações para a realização das análises. A todos os professores que se empenharam em seu trabalho e assim conseguiram modificar minha vida, iluminando-me com sabedoria e curiosidade para seguir em tão bela profissão. Ao Prof. Dr. Raimundo Wilane de Figueiredo da Universidade Federal do Ceará (UFC), por sua amizade e orientação. Ao Dr. Ricardo Elesbão Alves da Embrapa Agroindústria Tropical, por sua amizade, atenção, colaboração e disponibilidade em compartilhar seu conhecimento. Ao Dr. Fernando Antônio Souza de Aragão ao qual não consigo sequer encontrar palavras capazes de agradecer toda ajuda, amizade e desprendimento ofertados a mim durante a finalização deste trabalho. Ao Dr. Carlos Farley Herbster Moura, pela companhia e ajuda nas viagens de coleta de material e no laboratório, sempre com bom humor e satisfação. Ao Dr. André Márcio Araújo Amorim, do Centro de Pesquisa Cacaueira (CEPEC), por seu acolhimento, gentileza, cordialidade e por sua fundamental colaboração em realizar a classificação da espécie. vii A todos que fazem à coordenação do curso de pós-graduação em Agronomia/Fitotecnia, pela cordialidade, alegria, prestatividade e amizade. Aos amigos do Laboratório de Fisiologia e Tecnologia Pós-Colheita, pelos momentos que passamos juntos, compartilhando as alegrias e dificuldades. Aos meus eternos amigos de graduação e de pós-graduação, que farão sempre parte da minha vida. Aos meus sogros, José e Amparo, pelo amor e dedicação a minha filha. viii RESUMO Este trabalho teve por objetivos avaliar frutos de muricizeiros (Byrsonima dealbata), oriundos de diferentes genótipos, por meio da caracterização física e físico-química. Os frutos utilizados no experimento foram provenientes de campos experimentais da Embrapa Agroindústria Tropical. Analisou-se 18 genótipos de muricizeiros, dos quais sete foram oriundos do município de Pacajus (PAC0, PAC1, PAC2, PAC3, PAC5, PAC6, PAC7), quatro do município de Fortaleza (EM1, EM3, EM4, EM5) e sete do município de Paraipaba (PAR3, PAR4, PAR5, PAR7, PAR 9, PAR 11 e PAR 12), todos no Estado do Ceará. Para avaliação do potencial comercial dos genótipos foram realizadas análises estatísticas uni e multivariadas. O genótipo EM4 apresentou maior peso. Para todos os genótipos de muricizeiros estudados, exceto EM3, observou-se que o diâmetro é maior que o comprimento, caracterizando frutos oblongos. A média geral para vitamina C foi de 61,58 mg/100 g. De modo geral, o fruto é ácido, contém elevado teor de açúcares solúveis totais, amido, pectina total e solúvel e baixo teor de carotenóides e flavonóides amarelos. As características físico- químicas analisadas apresentaram altos coeficientes de determinação e coeficientes de repetibilidade de intermediários a altos, tendo, portanto, baixo número de medições necessário para predição do valor real da característica. Os elevados valores das estimativas de repetibilidade são indicativos de que existe variabilidade genética observada nesse germoplasma. A análise de agrupamento, feita por meio da otimização de Tocher, a análise de componentes principais e a dissimilaridade dos genótipos, poderão ser utilizados para orientar a seleção de genótipos promissores para possíveis programas de melhoramento genético. Palavras-chave: murici, Byrsonima dealbata, pós-colheita, caracterização. ix ABSTRACT The objective of this work was to evaluate fruits of nance (Byrsonima dealbata), from different genotypes, by means of the physical and physical-chemical characterization. Fruits of nance were collected of from genotypes of the three experimental station of EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, in Ceará, Brazil. Eighteen genotypes of nance, of which seven had been deriving of the Pacajus city (PAC0, PAC1, PAC2, PAC3, PAC5, PAC6, PAC7), four of the Fortaleza city (EM1, EM3, EM4, EM5) and seven of the Paraipaba city (PAR3, PAR4, PAR5, PAR7, PAR 9, PAR 11 and PAR 12), all in the State of the Ceará. To evaluate the commercial potential of the genotypes joined and multivaried statistical analyses had been carried through. The genotype EM4 presented the greatest weight. For all the studied genotypes of nance, except EM3, were observed that the diameter is greater than the length, characterizing oblong fruits. The general average for vitamin C was of 61.58 mg/100 g. In general, the fruit is acid, with high levels of total soluble sugars, starch, total and soluble pectin and low levels of carotenoids and yellow flavonoids. The physical chemical characteristics analyzed presented high coefficients of determination and medium to high coefficients of repeatability therefore, needing a low number of measurements for prediction of the real value of the characteristics. The high values of the estimates of repeatability indicates that there is a genetic variability in this germplasm. The group analysis made by means of the Tocher Optimization, the analysis of main components and the dissimilarity of the genotypes, could be used to guide the election of promising genotypes on programs of genetic improvement. Keywords: nance, Byrsonima dealbata, Postharvest, characterization x LISTA DE TABELAS Tabela 1- Altitude, Latitude e Longitude, medidas com aparelho GPS, nos municípios de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, Ceará. ...................................................................... 28 Tabela 2 - Pluviosidade ocorrida em janeiro de 2005 a janeiro de 2006 na região de Pacajus, Ceará........................................................................................................................ 28 Tabela 3 - Pluviosidade ocorrida em janeiro de 2005 a janeiro de 2006 na região de Fortaleza, Ceará........................................................................................................................ 29 Tabela 4 - Pluviosidade ocorrida em janeiro de 2005 a janeiro de 2006 na região de Paraipaba, Ceará........................................................................................................................ 29 Tabela 5 - Quadro geral de médias, amplitude e coeficiente de variação das característicasfísicas avaliadas........................................................................................................ 39 Tabela 6 - Estimativas da variância residual, variância genética, coeficiente de repetibilidade, coeficiente de determinação e do número de medições necessárias para obtenção dos níveis de certeza de 95 e 99%, para as características físicas dos frutos de muricizeiros. ................................................................................................................................. 48 Tabela 7 - Correlações fenotípicas entre as características físicas avaliadas. ..................... 49 Tabela 8 - Formação de grupos com base na análise de agrupamento feito por meio da otimização de Tocher, com base na distância Euclidiana média. ............................... 50 Tabela 9 - Quadro geral de amplitude, média, intervalo de confiança e coeficiente de variação das características físico-químicas e químicas dos frutos de muricizeiros.................. 52 Tabela 10 - Estimativas da variância residual, da variância genética entre plantas, coeficiente de repetibilidade, coeficiente de determinação e do número de medições necessárias para obtenção dos níveis de certeza de 90 e 95%, para as característica químicas e físico- químicas avaliadas.................................................................................................... 65 Tabela 11 - Correlações fenotípicas entre as características físico-químicas e químicas avaliadas. ................................................................................................................. 67 Tabela 12 - Formação de grupos com base na análise de agrupamento feito por meio da otimização de Tocher, com base na distância Euclidiana média. ............................... 67 xi LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Fotos de muricizeiro (B. dealbata): árvore (A), flores (B e C), frutos (D)........... 6 Figura 2 - Esfera de cor CIELAB..................................................................................... 16 Figura 3 - Sistema espacial de cores CIELAB. ................................................................. 16 Figura 4 - Frutos de muricizeiro provenientes de Pacajus (PAC 0, PAC 1, PAC 2, PAC 3, PAC 5, PAC 6, PAC 7), Fortaleza (EM 1, EM 3, EM 4, EM 5) e Paraipaba (PAR 3, PAR 4, PAR 5, PAR 7, PAR 9, PAR 11 e PAR 12), Ceará................................................ 30 Figura 5 - Peso Total (g) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ......................................................... 40 Figura 6 - Diâmetro (mm) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ......................................................... 41 Figura 7 - Comprimento (mm) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ................................................... 42 Figura 8 - Firmeza (N) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ......................................................... 43 Figura 9 - Componente L (Luminosidade) da cor da casca de frutos dos genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ............ 44 Figura 10 - Coordenada a* da cor da casca de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 45 Figura 11 - Coordenada b* da cor da casca de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 46 Figura 12 - Rendimento de Polpa (epicarpo + mesocarpo) de frutos dos genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ............ 47 Figura 13 - Dispersão gráfica (2D) da análise de componentes principais das características físicas dos frutos de muricizeiros, ilustrado pela formação de grupos da Tabela 8..... 51 Figura 14 - Dissimilaridade dos genótipos por meio do método de agrupamento do vizinho mais próximo envolvendo todas as características físicas avaliadas. ......................... 51 Figura 15 - Sólidos Solúveis Totais (°Brix) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 53 Figura 16 - Açúcares Solúveis Totais (%) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 54 xii Figura 17 - pH de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. .......................................................................... 55 Figura 18 - Acidez Total Titulável (%) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 56 Figura 19 - Relação SST/ATT de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ................................................... 57 Figura 20 - Amido (%) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ......................................................... 58 Figura 21 - Pectina Total (%) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ................................................... 59 Figura 22 - Pectina Solúvel (%) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE. ................................................... 60 Figura 23 - Vitamina C (mg/100g) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 61 Figura 24 - Carotenóides Totais (mg/100g) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 62 Figura 25 - Flavonóides amarelos (mg/100g) de frutos de diferentes genótipos de muricizeiro provenientes das regiões de Pacajus, Fortaleza e Paraipaba, CE................................ 64 Figura 26 - Dispersão gráfica (2D) da análise de componentes principais das características físico-químicas e químicas dos frutos de muricizeiro ilustrada pela formação de grupos da Tabela 12............................................................................................................. 68 Figura 27 - Dissimilaridade dos genótipos por meio do método de agrupamento do vizinho mais próximo envolvendo as características físico-químicas e químicas avaliadas. ... 69 xiii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ATT Acidez Total Titulável AST Açúcares Solúveis Totais Carot Carotenóides Flav Flavonóides Pect Sol Pectina Solúvel Pect Tot Pectina Total SST Sólidos Solúveis Totais Vit C Vitamina C xiv SUMÁRIO RESUMO ........................................................................................................................... viii ABSTRACT ..........................................................................................................................ix LISTA DE TABELAS............................................................................................................x LISTA DE FIGURAS ...........................................................................................................xi LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.........................................................................xiii SUMÁRIO...........................................................................................................................xiv 1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................1 2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................4 2.1 Aspectos Gerais Sobre o Muricizeiro........................................................................4 2.2 Recursos genéticos...................................................................................................7 2.3 Formas de Propagação.............................................................................................. 8 2.4 Produção, Colheita e Pós-Colheita............................................................................9 2.5 Potencial de Utilização........................................................................................... 10 2.6 Atributos de Qualidade........................................................................................... 12 2.6.1 Físicos ..............................................................................................................12 2.6.1.1 Peso Total .................................................................................................13 2.6.1.2 Diâmetro e Comprimento ..........................................................................13 2.6.1.3 Firmeza .....................................................................................................14 2.6.1.4 Cor da Casca .............................................................................................15 2.6.1.5 Rendimento...............................................................................................17 2.6.2 Físico-Químicos e Químicos .............................................................................17 2.6.2.1 Sólidos e Açúcares Solúveis Totais (SST e AST) .......................................18 2.6.2.2 pH e Acidez Total Titulável (ATT) ............................................................19 2.6.2.3 Relação SST/ATT .....................................................................................20 2.6.2.4 Amido.......................................................................................................20 2.6.2.5 Pectinas Total e Solúvel.............................................................................21 2.6.3 Compostos Bioativos ........................................................................................22 xv 2.6.3.1 Vitamina C................................................................................................23 2.6.3.2 Carotenóides Totais ...................................................................................25 2.6.3.3 Flavonóides...............................................................................................26 3 MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................................28 3.1 Origem do material experimental............................................................................ 28 3.2 Colheita e Preparo de Amostras.............................................................................. 31 3.2.1 Características Físicas .......................................................................................31 3.2.1.1 Peso total...................................................................................................31 3.2.1.2 Diâmetro e comprimento ...........................................................................32 3.2.1.3 Firmeza .....................................................................................................32 3.2.1.4 Cor............................................................................................................32 3.2.1.5 Rendimento...............................................................................................32 3.2.2 Características Físico-Químicas e Químicas ......................................................33 3.2.2.1 Sólidos Solúveis Totais (SST)....................................................................33 3.2.2.2 Açúcares Solúveis Totais (AST) ................................................................33 3.2.2.3 pH.............................................................................................................34 3.2.2.4 Acidez Total Titulável (ATT) ....................................................................34 3.2.2.5 Relação SST/ATT .....................................................................................34 3.2.2.6 Amido.......................................................................................................34 3.2.2.7 Pectina total...............................................................................................35 3.2.2.8 Pectina solúvel ..........................................................................................36 3.2.3 Compostos Bioativos ........................................................................................36 3.2.3.1 Vitamina C................................................................................................36 3.2.3.2 Carotenóides Totais ...................................................................................37 3.2.3.3 Flavonóides Amarelos ...............................................................................37 3.2.4 Análise Estatística.............................................................................................38 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................39 4.1 Características Físicas ............................................................................................ 39 4.1.1 Peso Total.........................................................................................................40 4.1.2 Diâmetro e comprimento...................................................................................41 4.1.3 Firmeza ............................................................................................................42 4.1.4 Cor da casca .....................................................................................................44 4.1.4.1 Luminosidade............................................................................................44 4.1.4.2 Coordenada a ............................................................................................45 4.1.4.3 Coordenada b ............................................................................................45 4.1.5 Rendimento de Polpa ........................................................................................46 4.1.6 Repetibilidade...................................................................................................48 xvi 4.1.7 Correlações.......................................................................................................49 4.1.8 Análises Multivariadas......................................................................................50 4.2 Características Físico-Químicas e Químicas............................................................ 52 4.2.1 Sólidos e Açúcares Solúveis Totais ...................................................................53 4.2.2 pH e Acidez Total Titulável ..............................................................................55 4.2.3 Relação SST / ATT...........................................................................................57 4.2.4 Amido ..............................................................................................................58 4.2.5 Pectinas Total e Solúvel ....................................................................................59 4.3 Compostos Bioativos ............................................................................................. 614.3.1 Vitamina C .......................................................................................................61 4.3.2 Carotenóides Totais ..........................................................................................62 4.3.3 Flavonóides Amarelos.......................................................................................64 4.4 Análise estatística................................................................................................... 65 4.4.1 Repetibilidade...................................................................................................65 4.4.2 Correlações.......................................................................................................66 4.4.3 Análises Multivariadas......................................................................................67 5 CONCLUSÕES .............................................................................................................70 6 REFERÊNCIAS............................................................................................................71 1 1 INTRODUÇÃO As preocupações da sociedade no seu relacionamento com a natureza e os prejuízos causados pelo homem ao meio-ambiente passaram a ter ênfase na década de 1960, quando se deu conta de que a terra, não suportaria a intensidade de agressão que vem recebendo (TAVARES; TERAO, 2006). Transformações nos cenários político e econômico mundial, no que diz respeito ao comércio internacional de produtos hortícolas, há muito vem afetando os hábitos de consumo, principalmente de frutas e hortaliças in natura. O consumidor tradicional, que buscava nos produtos atributos associados ao sabor, aparência, aroma, forma e cor têm cada vez mais levado em consideração a origem do produto, o modo de produção, o impacto ambiental decorrente, o valor nutritivo, a ausência de resíduos tóxicos e o potencial nutracêutico (SARRIA; FIGUEIRAS, 2006). Este é o potencial existente em substâncias que podem ser um alimento ou parte de um alimento que proporciona benefícios médicos ou de saúde, incluindo a prevenção e tratamento de doenças (CÂNDIDO; CAMPOS, 1995). O consumo de frutas na alimentação humana tem deixado de ser somente um prazer para converter-se em uma necessidade, dadas às boas características que as mesmas têm para a saúde e bem-estar do homem. As frutas são fontes muito boas de energia, carboidratos, diversas vitaminas, minerais e produtos com propriedades bioativas, além de proporcionar variedade e sabor à dieta, constituindo parte importante desta (ALVES et al., 2006). O Brasil apresenta uma das maiores biodiversidades do mundo e contribui com aproximadamente 23% das espécies de plantas e de animais conhecidos no planeta (NOGUEIRA, 2003). Muitas das plantas nativas são utilizadas por populações locais de baixa renda como fonte de medicamentos, alimentos e geração de renda, através da coleta e venda destes produtos. Pouco se sabe sobre os reais efeitos e potenciais destas frutas, já que ficaram esquecidas e subutilizadas durante muito tempo, graças a esforços mundiais e a conscientizações das populações, estas vêm ganhando espaço no meio científico, visando o conhecimento de seus potencias em várias áreas de utilização. O desenvolvimento de pesquisas que visem garantir a preservação e a diversidade genética do germoplasma dessas espécies, bem como as que resultem na geração de 2 conhecimentos e tecnologias que venham permitir o cultivo racional e econômico, além de melhores formas de aproveitamento, em muito contribuirá para inserção das mesmas no agronegócio regional e brasileiro, aumentando as oportunidades de emprego e renda, especialmente no meio rural e, por conseguinte, para o desenvolvimento sustentável da região. Dentre as espécies frutíferas nativas do Nordeste destaca-se o muricizeiro, pois apresenta potencialidades para consumo in natura, com sal (DONADIO et al., 2002) e para o processamento industrial da polpa na fabricação de suco, licor, geléias (SILVA et al., 2001a), vinho, doces, refrescos e sorvetes (ANDERSEN; ANDERSEN, 1988). Além disso, em alguns países da América Central e na Florida, os muricizeiros são cultivados como ornamental pelo efeito decorativo de suas flores (VILLACHICA, 1996). O murici permaneceu por muito tempo sem despertar a atenção dos estudiosos, suas reduzidas dimensões e fácil perecibilidade, se constituíram nos principais entraves para o desenvolvimento de estudos relativos ao seu aproveitamento (SILVA, 1978). O muricizeiro apresenta fruto de importância econômica para pequenas comunidades do litoral que o colhem de forma extrativista para consumo e comercialização. O fruto é coletado principalmente por mulheres e crianças, aproveitando a mão de obra disponível, diversificando a dieta e aumentando a renda familiar no período de safra da fruta. Apesar da importância do muricizeiro para as comunidades locais, pouco se conhece sobre a sua reprodução, requerimentos de polinização, agentes polinizadores, sucesso reprodutivo da espécie e outros aspectos importantes para assegurar a sua perpetuação (PEREIRA, 2001). Pode-se acrescentar ainda a falta de informações sobre pós-colheita no que diz respeito às características nutricionais, físicas, químicas, físico-químicos e de conservação. A necessidade de estudos sobre qualidade pós-colheita de frutos de muricizeiro se faz óbvia, objetivando complementar pesquisas realizadas sobre técnicas de propagação e cultivo, de modo que, uma vez implantados os pomares, os produtores estejam prontos a colocar os frutos no mercado em condições competitivas de qualidade e vida útil. Além disso, dispondo do conhecimento da qualidade e do potencial de utilização dos frutos pode-se classifica-los de acordo com sua aptidão, ou seja, industrialização e/ou consumo in natura. Deste modo, o presente trabalho objetivou: I. Avaliar a qualidade de frutos de muricizeiros, oriundos de diferentes genótipos, através de sua caracterização física e físico-química, identificando aqueles que apresentem melhores características para o consumo in natura e/ou processamento industrial. II. Estimar a dissimilaridade (divergência genética), a repetibilidade e as correlações fenotípicas entre os genótipos de muricizeiros. 3 III. Subsidiar trabalhos de recursos genéticos da espécie, especialmente na formação de bancos de germoplasma. 4 2 REVISÃO DE LITERATURA Conforme Aragão et al. (2002) estima-se que 250 mil espécies de plantas já foram descritas em âmbito mundial, sendo o Brasil considerado o país mais rico, com cerca de 55 a 60 mil espécies, correspondendo a 22% do total. Giacometti (1993) inclui entre elas cerca de 500 espécies frutíferas, a maioria muito pouco estudada. O autor supracitado propôs a existência de dez centros de diversidade de fruteiras nativas no Brasil onde classificou o muricizeiro como fruteira nativa nos seguintes centros de diversidade: zonas de cerrado da Amazônia, principalmente Pará e Amapá, áreas de tabuleiros costeiros, cerrados e baixadas litorâneas do Nordeste e cerrados do Brasil Central até o Pantanal. Segundo Gamarra-Rojas et al. (2004) as frutas nativas podem ser conceituadas de duas maneiras: “fruta nativa-do-mato”, concepção local próxima da noção de fruta nativa silvestre, ou seja, aquela espécie que “nasce pela própria natureza” no meio da vegetação local ou nos quintais e que “não precisa educar, mas que pode ser educada”; e “fruta nativa- naturalizada”, indicando espécies e variedades introduzidas que estão adaptadas às condições locais, como algumas espécies de Annona, Spondias e algumas variedades de banana e Citrus. As demais frutíferas estão contidas numa terceira categoria de frutas, as “não-nativas”.Entre estas últimas estão incluídas espécies e variedades de introdução recente, geralmente exigente em insumos e em cuidados fitossanitários. 2.1 Aspectos Gerais Sobre o Muricizeiro De acordo com Schultz (1968), a família Malpighiaceae possui cerca de 850 espécies conhecidas, mais de 350 destas se encontram no território brasileiro. Sua distribuição, todavia, é restrita apenas às Américas Centrais e do Sul, razão que constitui material dos mais interessantes para um trabalho de pesquisa. A esta família corresponde aproximadamente 63 gêneros. São plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas ou mais freqüentemente trepadeiras com folhas inteiras, de disposição alterna, sem estípulas. As flores são vistosas de coloração em geral amarela ou rosada, 5 cíclicas, hermafroditas, diclamídeas, de simetria zigomorfa, reunidas em inflorescências paniculadas nas axilas superiores ou terminais. O cálice apresenta-se caracteristicamente com dez glândulas grandes, localizadas na base externa da sépala, duas em cada sépala (raramente sem glândulas como em Galphimia). As pétalas, em geral, são fimbriadas, longipedunculadas. O androceu é formado por dez estames, às vezes alguns estaminodiais. O ovário é súpero, tricarpelar, trilocular com cada lóculo, geralmente, com um óvulo. O fruto é baciforme (Byrsonima) ou esquizocárpico, separando-se em frutículos samaróideos com a semente localizada na base da sâmara como em Tetrapteris, Banisteria e Heteropteris (JOLY, 2002). A palavra murici provém do Tupi mboricí, faz resinar (BRAGA, 1976). Os muricis do Brasil são muitos e variados, sendo, em sua maioria, plantas da família Malpighiaceae. Em suas diferentes espécies, os muricis distinguem-se, também, por suas cores e locais de ocorrência (EMATER, 2005). Assim, são conhecidos murici-amarelo, (Cassia verrucosa) da família das leguminosas – Cesalpiniáceas; o murici-da-serra (Vochysia saldanhae) da família das Voquisiáceas e os muricias da família Malpighiaceae, tais como: o murici-pequeno (Byrsonima verbascifolia), o murici-de-flor-vermelha (B. punctulata), o murici-da-chapada (B. salzmanniana), o murici-das-capoeiras (B.lancifolia), o murici-do- campo (B. crassifolia; B. intermedia), entre outros (CORRÊA, 1974). Estão descritas abaixo algumas características de espécies de muricizeiros citadas neste estudo. De acordo com Corrêa (1974) a espécie B. crassifolia, é uma árvore pequena ou frequentemente arbusto de 30 cm a 2 m, com caule e ramos retorcidos; folhas coriáceas, mais ou menos elípticas, ovais ou obovais, agudas ou acuminadas nas duas extremidades; cachos ou pseudo-cachos terminais pedunculados compridos, em geral compostos e multifloros, brácteas e bractéolas delgadas, caducas; flores pediceladas amarelas ou avermelhadas. O fruto é uma drupa. Ocorre das Guianas até a Bahia. A espécie B. verbascifolia, possui altura de 4-6 m, podendo, entretanto se apresentar como simples arbusto de 1m de altura nos campos cerrados da região Amazônica. As folhas são simples e concentradas em direção à extremidade dos ramos. As inflorescências em racemo simples concentrados nas axilas da extremidade dos ramos, de 15-25 cm de comprimento, sobre pedúnculo de 1-6 cm, com muitas flores de cor vermelha e amarela muito vistosa. O fruto é uma drupa globosa, de polpa suculenta e adocicada. Sua ocorrência é no Brasil Central e região Amazônica, em cerrados, cerradões e campos cerrados. É particularmente freqüente no Triângulo Mineiro (LORENZI, 1998). 6 A espécie B. intermedia é um arbusto muito ramificado, de ramos ascendentes e ereto, de 1-4 m de atura, nativo dos cerrados do Brasil. Folhas coriáceas, de 3-6 cm de comprimento. Flores amarelas, com glândulas visíveis no cálice, reunidas em racemos terminais de 5 a 10 cm de comprimento. Os frutos são drupas globosas, de cor amarela, de cerca de 1 cm de diâmetro (LORENZI; MATOS, 2002). A espécie estudada neste trabalho foi a B. dealbata (Figura 1), tendo classificação botânica segundo Martius et al. (2007): Família: Malpighiaceae Tribo: Malpighieae Gênero: Byrsonima Rich. Nome botânico: Byrsonima dealbata Griseb. (A) (B) (C) Figura 1 - Fotos de muricizeiro (B. dealbata): frutos (A), flores (B), árvore (C). Segundo Martius et al. (2007) a espécie B. dealbata é um arbusto ou pequena árvore, com folha oboval, oval lanceolada-oblonga, com a face superior sem pêlo e a inferior com pêlo esbranquiçado ou avermelhada, possui nervuras espaçadas, pecíolo curto ou subséssil, bráctea com o quádruplo do tamanho do pedicelo, ápice atenuado, bractéolas 7 semelhantes e pouco maiores que as brácteas, corola com mais de uma cor, conectivo sub- igual aos lóculos da antera, sem pêlo, ovário com pouco pêlo. Sua distribuição é na Bahia. 2.2 Recursos genéticos É de responsabilidade de toda a sociedade o cuidado e a manutenção do seu patrimônio genético vegetal. Para isso, necessita-se conhecer cada espécie, avaliar o seu potencial e desenvolver tecnologias capazes de estabelecer a domesticação, o cultivo racional, o desenvolvimento de variedades, a conservação e a industrialização das frutas nativas. O estabelecimento de programas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico por agências oficiais, privadas ou organizações não governamentais pode acelerar esse desenvolvimento, promovendo a preservação ambiental e a geração de emprego e renda para populações rurais (FERREIRA et al., 2005). Segundo Alves et al. (2005) a flora brasileira destaca-se pela riqueza de espécies frutíferas com potencial para uso na agricultura, domesticação e melhoramento genético. O aproveitamento da variabilidade genética dessas espécies tem sido modesto em relação a seu valor estratégico para o desenvolvimento de novos produtos nacionais. O autor supracitado afirma que a variabilidade genética existente ao nível populacional de espécies nativas é um dos fatores mais importantes no que se refere à conservação e aproveitamento de recursos genéticos em programas de melhoramento. A identificação de materiais genéticos que, além de produtivos, apresentem qualidade superior para o aproveitamento industrial e/ou consumo in natura é de fundamental importância para formação de pomares (CHITARRA; CHITARRA, 1990). Um dos maiores problemas dos recursos genéticos é a escassez de informações, principalmente daquelas relacionadas com a documentação e a caracterização genética, o que culmina com a carência de estudos sobre o conhecimento da diversidade genética das espécies com potencial econômico para a região (COSTA et al., 2001). 8 2.3 Formas de Propagação A propagação do muricizeiro pode ser realizada de forma assexuada ou sexuada (VILLACHICA, 1996). O órgão utilizado como semente corresponde ao endocarpo, sendo diminuto o tamanho da semente botânica, em relação ao endocarpo duro e grosso que a envolve. Cada endocarpo pode ter uma, duas ou três sementes (SOUZA, 2002). Conforme relatado em Souza (2002) a maior freqüência (71,0%) é de endocarpo com três sementes, seguido pelos de duas sementes (21,5%) e com uma única semente (7,5%). Quando um endocarpo possui mais de uma semente, estas se encontram em lóculos isolados. A germinação é do tipo epígea e normalmente é baixa, devido à restrição imposta pelo mesocarpo para a absorção de água e para a expansão do embrião. As sementes sem dormência representam cerca de 20% de cada lote e geralmente germinam entre 20 e 45 dias, após semeadura. Quando germina mais de uma semente em um mesmo endocarpo, estas mantêm suas individualidades, assim uma pode germinar em 20 dias e as outras em períodos diferentes. Raramente ocorre a germinação simultânea das sementes de um mesmo endocarpo (VILLACHICA, 1996). A propagação de espécies frutíferas é uma linha de trabalho desenvolvida pelaEmbrapa há mais de vinte anos. Das frutas nativas da Amazônia, a pesquisa já estabeleceu técnicas eficientes para a propagação do açaizeiro, abieiro, cupuaçuzeiro, muricizeiro, taperebazeiro, pequiazeiro, castanheira-do-brasil e pupunheira. A propagação assexuada proporciona a obtenção de plantas mais homogêneas e frutos com melhor qualidade. Além disso, reduz em 40% o tempo de início da produção e gera plantas com menor porte, o que facilita a colheita (EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL, 2007). Otzoy et al. (2003) em estudo conduzido no sudoeste da Guatemala com a espécie B. crassifolia para determinar os usos de acordo com a população local, os métodos de propagação da árvore e dentre estes qual seria o melhor método para a propagação vegetativa das plantas, verificaram que são usados 43% das frutas como alimento e 5% da casca da árvore como medicinal. A análise estatística não mostrou nenhuma diferença significativa na germinação das sementes selecionadas. As estacas não enraizaram com sucesso. A enxertia e a borbulhia tiveram sucesso de 86 e de 96%, respectivamente, sendo recomendados como métodos da propagação. Andersen e Andersen (1988) afirmaram que o mesmo sistema de propagação utilizado para goiabeira pode ser utilizado com sucesso na propagação da B. crassifolia. 9 Castro (2003) em estudo sobre o aspecto de propagação, ecofisiologia e fitoquímica da B. verbascifolia, considera o desenvolvimento das plantas no campo de lento a moderado, não ultrapassando 1,5 m nos primeiros dois anos. Fatores ambientais como água, luz e temperatura, entre outros, influenciam diretamente o crescimento, desenvolvimento e a produção vegetal, por promoverem alterações físicas e químicas no metabolismo. O autor supracitado teve como um dos propósitos de seu trabalho estabelecer uma metodologia de propagação in vitro, por via sexuada, visando a otimização da produção do murici em larga escala, avaliação do comportamento fisiológico de plantas já estabelecidas frente a condições sazonais na espécie B. verbascifolia. Nogueira (2003) estudou propagação in vitro em murici- pequeno (B. intermedia) e obteve entre os meios de cultura estudados, dois mais eficientes para a germinação. Nogueira et al. (2007) induziram a formação de calos na mesma espécie a partir de segmentos foliares inoculados em meio de cultura MS suplementado com 1,0 mg L-1 de 2,4-D. Após a indução, os calos foram repicados a cada 60 dias e multiplicados por mais dois subcultivos. Eles observaram que as células dos calos passaram de um formato alongado para um formato isodiamétrico e apresentaram estruturas subcelulares que caracterizam células meristemáticas e evidenciaram capacidade embriogênica. 2.4 Produção, Colheita e Pós-Colheita Conforme Villachica (1996) para a espécie B. crassifolia, as plantas adultas cultivadas adequadamente podem produzir até 20 kg de frutos por ano. Quando cultivadas sem manejo a produção não ultrapassa os 7 Kg/planta. Souza (2002) cita que a produtividade do murici oscila em razão de fatores, como por exemplo, o grau de racionalização da cultura, a idade da fruteira e o estado fitossanitário. Assim quando a cultura se encontra implantada e com os tratos culturais realizados nas épocas adequadas, a fruteira apresenta maiores índices, podendo alcançar após cinco anos, a média de 16 kg/árvore/ano. Os pomares tecnicamente conduzidos são implantados observando uma densidade de plantio de 277 plantas/ha. No estado do Ceará a colheita do murici tem início em meados do mês de novembro prolongando-se até março. A maior produção ocorre durante o mês de janeiro. A colheita é realizada no solo após a queda do fruto através da “catação” ou na árvore, onde os frutos são geralmente colhidos “de vez”, quando a película começa a amarelar, depositados em bolsas de palha e levados no dia seguinte até o local de comercialização. Por se tratar de 10 um fruto não climatérico, o murici não amadurece se colhido verde. A maturação dos frutos é retardada pelo período de até uma semana quando estes são colocados em barricas de madeira, com partes iguais de frutos e de água, com renovação da água e retirada de frutos em decomposição de três em três dias (SILVA, 1978). No entanto, Calzavara (1970) afirma que os frutos em estádio de maturação de vez ou maduros, podem ser armazenados nas barricas de madeira ou tambores contendo água e açúcar por mais de quarenta dias, possibilitando seu transporte à longa distância. 2.5 Potencial de Utilização Na época da safra, o murici torna-se uma fruta de grande procura pela população devido a sua grande aceitação. A comercialização nas capitais nordestinas, especialmente na zona litorânea, ocorre em grande parte com a fruta in natura nas feiras livres e mercados públicos das cidades. As outras diversas formas, manufaturadas ou industrializadas, são comercializadas nas lanchonetes, sorveterias e supermercados das cidades (EMATER, 2005). Segundo Braga (1976) o fruto amassado em água desprende facilmente a sua massa carnosa, que, dissolvida, misturada com farinha, adoçada ou não, constitui um dos recursos alimentares mais importantes para a pobreza dos tabuleiros costeiros. É a conhecida “cambica” de murici, rica em gordura e de alto teor nutritivo. Esta, diluída e sem farinha é um apreciado refrigerante. Com a massa se faz excelente sorvete e doce de boa qualidade. Pela abundância e propriedades nutritivas, o murici recebe a antonomásia de “mantimento do pobre”. Para espécie B. crassifolia o suco da fruta verde após oxidação torna-se preto e é usado como tintura. Uma tintura marrom similar é feita da casca da árvore e é usada na Guatemala para tingir tecidos de algodão. Esta é rica em taninos (10-25%), podendo ser usada para curtir o couro. A infusão da casca é usada como febrífugo, broncodilatador, expectorante e antidiarréicos, provavelmente devido à presença de fenantroindolizidina, vários compostos fenólicos, além de taninos e amido (CIRAD-FLHOR, 2005). O muricizeiro (B. crassifolia) segundo Bejar et al. (1995) é usado como planta medicinal para tratar tosses, doenças de pele, diarréia, indigestão e doenças fúngicas. Martinez et al. (1999) relatou em seu trabalho sobre atividade antimicrobiana as atividades anti-bacterianas de extratos orgânicos das raízes e das hastes da espécie B. crassifolia. O 11 acetato etílico das raízes foi o mais ativo contra várias bactérias. Cáceres et al. (1990) verificou plantas usadas na Guatemala no tratamento de doenças gastrointestinais e observou que entre as plantas de origem americana que exibiram maior atividade anti-bacteriana estava a B.crassifolia. Segundo Espana et al. (1994) extratos etanólicos de casca da espécie supracitada apresentaram atividade contra o Vibrio cholerae. Rodrigues e Carvalho (2001) mostraram que a infusão da casca do caule de B. intermedia é utilizada em alguns municípios de Minas Gerais em casos de diarréias. Silva et al. (2007b) estudaram compostos fenólicos e atividade antioxidante em folhas, cascas, hastes, frutas e sementes de 15 espécies de plantas da Amazônia e identificaram em folhas e cascas de B. crassifolia uma elevada capacidade antioxidante. Algumas espécies nativas têm experimentado, mais recentemente, um grande extrativismo, em função da demanda por polpa, sucos, bebidas lácteas e sorvetes. Essa demanda tem sido viabilizada, em parte, pela possibilidade da extração e congelamento da polpa obtida de frutos de plantas cultivadas em chácaras de inúmeros recantos da região ou em áreas de ocorrência natural. A grande popularização do liquidificador doméstico possibilitou o processamento das polpas congeladas, adquiridas em diversos pontos de venda espalhados nas grandes cidades da região (FERREIRA et al., 2005). Os mesmos autores citam que o hábito de consumir sucos de polpas congeladas estabeleceu-se de tal forma que pressionatoda a cadeia das frutas nativas por tecnologias que eliminem os gargalos de produção, pós-colheita e processamento. A extração da polpa para industrialização é relativamente fácil, não requerendo equipamentos sofisticados. Segundo Almeida (1998a) após a lavagem, deixa-se os frutos escorrerem. Com as mãos, pode-se macerá-los e espremê-los, passando pela peneira sobre vasilhame de boca larga (bacia ou balde plástico). Na peneira ficam retidas as cascas e as sementes e no vasilhame o suco que pode ser imediatamente utilizado em refrescos, sorvetes, geléias, pudins e pavês. Pode ser acondicionado em sacos plásticos e conservado sob refrigeração. A metodologia para produzir néctar de murici já existe: com pasteurização a 90º por 30 segundos e envasando em latas a 14º brix, não há necessidade de utilizar acidulantes. O néctar pode ser armazenado à temperatura ambiente entre 26 e 28ºC, até 13 meses sem variações significativas de pH, acidez, odor ou sabor. A polpa mantém a cor durante um ano, mas aos 14 meses escurece sem alteração do sabor ou odor, esta mudança de coloração pode ser evitada com a conservação a baixa temperatura. O conteúdo de vitamina C diminui de 2,72 a 2,2 mg por 100 g de polpa, os sólidos solúveis totais diminuem em 0,48º em um ano. O 12 mercado desta fruta é prioritariamente de nível local, nas zonas de produção. O Brasil é um dos principais consumidores, sendo também um dos maiores produtores de murici nativo (VILLACHICA, 1996). Silva (1978) em estudo com a espécie B. verbascifolia relacionou os passos para obtenção e processamento do néctar de murici. 2.6 Atributos de Qualidade Segundo Chitarra e Chitarra (2005) a qualidade de frutos e hortaliças corresponde ao conjunto de atributos ou propriedades que os tornam apreciados como alimento. Do ponto de vista da Ciência dos Alimentos, a qualidade é composta pelas características que diferenciam unidades individuais de um produto, sendo significante na determinação do grau de aceitabilidade pelo comprador. Portanto, de um modo abrangente, pode ser definida como o conjunto de características que diferenciam componentes individuais de um mesmo produto e que tem significância na determinação do grau de aceitação pelo comprador. Dessa forma, devem ser considerados os atributos físicos, sensoriais e a composição química, bem como devem ser realizadas associações ou relações entre as medidas objetivas e subjetivas, para um melhor entendimento das transformações que ocorrem, afetando ou não a qualidade do produto. 2.6.1 Físicos Os métodos físicos para avaliação da qualidade apresentam inúmeras vantagens, principalmente por serem, na maioria, não-destrutivos e por serem facilmente adaptáveis à automação e informatização. As avaliações das características físicas são realizadas com auxílio de instrumentos como balança, paquímetro, texturômetro, etc.; para medições de peso, tamanho, textura, e relação entre as partes componentes (polpa: casca: caroço) (CHITARRA; CHITARRA, 2005). 13 2.6.1.1 Peso Total O tamanho e o peso são características físicas inerentes às espécies ou cultivares, mas são utilizados como atributos de qualidade para seleção e classificação dos produtos de acordo com a conveniência do mercado consumidor (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Silva (1978) em seu trabalho sobre estudo tecnológico, e algumas características físicas e químicas do murici (Byrsonima verbascifolia) coletou frutos em duas localidades de Fortaleza, Ce. Marcou cerca de 20 árvores para a colheita dos frutos, os quais foram colocados em sacos plásticos, transportados para o local das análises e armazenados a temperatura de 18 ºC, o valor médio encontrado para peso dos frutos foi de 1,83g. Estudos realizados na região do Distrito Federal, relativos à B. verbascifolia, apresentaram resultados de massa entre 1,0 g e 4,0 g (SILVA et al., 1994) e entre 0,27 g e 2,34 g no estudo de caracterização física de frutos e endocarpos (caroços) de murici da região de Montes Claros- MG, com frutos coletados em uma área de cerrado natural e conduzidos para o Laboratório de Botânica da UNIMONTES (Gusmão et al., 2006). Carvalho e Muller (2005) em trabalho realizado sobre biometria e rendimento percentual de polpa de frutas da Amazônia encontraram valor médio de peso dos frutos de 3,2 g para a espécie B. crassifolia. Foram utilizados frutos maduros oriundos de pelo menos cinco plantas-matrizes. 2.6.1.2 Diâmetro e Comprimento O tamanho e a forma são atributos importantes, pois a variação entre as unidades individuais de um produto pode afetar a escolha desse produto pelo consumidor; as práticas de manuseio; a seleção de mercado e o destino final. O diâmetro longitudinal (ou comprimento) e o transversal representam, em conjunto, o tamanho, e a sua relação dá idéia da forma do produto (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Conforme os mesmos autores as medições das dimensões físicas do produto, como diâmetro longitudinal e transversal, são de grande utilidade para produtos destinados ao consumo, sendo de uso restrito quando destinados ao processamento. 14 Silva (1978) em estudo realizado com a espécie B. verbascifolia, no estado do Ceará, encontrou valores médios de diâmetro e comprimento para frutos de murici, respectivamente de 14,50mm e 12,55mm. Gusmão et al. (2006) em seu estudo, na região de Montes Claros-MG em uma área de cerrado natural, sobre biometria dos frutos e endocarpos de murici na espécie B. verbascifolia, encontraram frutos com diâmetro entre 7,8 mm e 16,5 mm e comprimento entre 7,3 mm e 13,9 mm. Carvalho e Muller (2005) encontraram em seu trabalho sobre biometria e rendimento percentual de polpa de frutas nativas da Amazônia, utilizando frutos provenientes de cinco plantas matrizes, valor médio para diâmetro e comprimento iguais a 18mm para a espécie B. crassifolia. Almeida et al. (1998b) em seu trabalho na região do Distrito Federal sobre espécies vegetais úteis, citaram para frutos de B. verbascifolia valores de diâmetro entre 13,0 mm e 15,0 mm. 2.6.1.3 Firmeza A firmeza é uma das características da textura e corresponde ao grau de resistência dos tecidos vegetais à compressão. É relacionada com a composição e com o grau de solubilização das pectinas das paredes celulares e da lamela média (CHITARRA; CHITARRA, 2006). É uma das características pós-colheita mais importante. Ela não apenas influencia a palatabilidade, mas também os métodos de colheita, manuseio, transporte, resistência a doenças e a vida útil do fruto (HUBER, 1983; SEYMOUR; GROSS, 1996). Em alguns frutos, é usada como índice de maturidade prático e confiável (HUBER, 1983). Produtos com textura mais firme são desejáveis por serem mais resistentes aos danos físicos e mecânicos, usuais no manuseio durante a colheita, transporte, embalagem etc (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Na literatura não foram encontrados estudos que referenciem valores para esta característica em frutos de muricizeiros de nenhuma espécie. 15 2.6.1.4 Cor da Casca A cor dos alimentos é um atributo que, conscientemente ou não, afeta a vida diária das pessoas. A aparência de um alimento pode ter efeito estimulante ou inibidor do apetite (COLLINS; PLUMBLY, 1995). A coloração é utilizada como parâmetro para a seleção de muitos produtos em classes ou categorias comerciais; no entanto a quantificação de pigmentos, ou de outros constituintes, pode prover uma melhor indicação da qualidade, pois a coloração relaciona-se diretamente com a percepção da aparência pelo consumidor, ao passo que a concentração de pigmentos pode estar mais diretamente relacionada com a maturidade do produto. É de interesse que o produto apresente intensidade e uniformidade de coloração (CHITARRA; CHITARRA, 2005). A variação no teor e na proporção dos pigmentos é utilizada como indicativo do grau dematuração de muitos produtos hortícolas. Na indústria de sucos e de outros produtos industriais como doces em massa, compotas, etc., a quantificação dos pigmentos é importante para a padronização da coloração (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Segundo Chitarra e Chitarra (2005) o sistema de cores L* a* b* (Figuras 2 e 3) desenvolvido pela CIE (Comission International de l`Eclairiage) é um padrão internacional para medições da cor, onde L* corresponde ao eixo vertical, sendo a medida da luminosidade, a* é uma coordenada positiva ou negativa, definindo um local relativo ao eixo púrpura- vermelho-azulado-verde e b* que também é uma coordenada positiva ou negativa, no entanto, se refere ao eixo amarelo-azul. Portanto, o a* e o b* são componentes cromáticos, com valores variando de -120 a +120. Conforme Vargas et al. (2006) a luminosidade varia de 100 (branco) a 0 (preto), o a* varia de +a (vermelho) ao –a (verde), e o b* varia de +b (amarelo) ao –b (azul). 16 Figura 2 - Esfera de cor CIELAB Figura 3 - Sistema espacial de cores CIELAB. Fonte. Camelo, 2004 Não foram encontrados na literatura estudos referentes a esta característica em frutos de muricizeiros de nenhuma espécie. 17 2.6.1.5 Rendimento A proporção entre o epicarpo (casca), o mesocarpo (polpa) e o endocarpo (caroço) é de interesse em algumas frutas, podendo ser utilizada, em conjunto com outras características, como coeficiente de maturação ou como indicativo de rendimento da matéria- prima (CHITARRA; CHITARRA, 2005). O rendimento de polpa é um parâmetro de qualidade importante para a indústria de produtos concentrados, e variedades cujas frutas têm alto rendimento de polpa, apresentam maiores rendimentos no processamento dos produtos finais (concentrados), o que pode representar uma maior lucratividade para as indústrias (CHITARRA; CHITARRA, 1990). Silva (1978) em seu estudo sobre algumas características físicas e químicas do murici (B. verbascifolia), em Fortaleza-Ce, encontrou para rendimento de extração de polpa um valor superior a 70,25%. Gusmão et al. (2006) em trabalho de biometria de frutos da mesma espécie, avaliando frutos coletados em uma área de cerrado natural da região de Montes Claros-MG verificou rendimento de polpa de 73,63%. Para a espécie B. crassifolia, Villachica (1996) em seu livro sobre frutas e hortaliças promissoras da Amazônia citou que a polpa do murici representa 75% do peso da fruta, Carvalho e Muller (2005) encontraram em estudos sobre biometria e rendimento percentual de polpa de frutas da Amazônia, com frutos maduros, oriundos de pelo menos cinco plantas-matrizes, rendimento de 83,3%. 2.6.2 Físico-Químicos e Químicos Os métodos químicos e físico-químicos convencionais são usualmente destrutivos e lentos. O componente a ser analisado é inicialmente extraído de forma apropriada e quantificado diretamente, ou após reação química específica com outros compostos em condições previamente estabelecidas. Necessitam de infra-estrutura laboratorial para execução das avaliações dos componentes do produto (CHITARRA; CHITARRA, 2005). 18 2.6.2.1 Sólidos e Açúcares Solúveis Totais (SST e AST) Os SST presentes no fruto representam os compostos que são solúveis em água. Sua determinação normalmente é feita com o objetivo de se ter uma estimativa da quantidade de açúcares presentes nos frutos, principalmente açúcares solúveis, além das pectinas, fenólicos, vitaminas, sais, ácidos, aminoácidos e algumas proteínas (HOBSON; GRIERSON, 1993; COCOZZA, 2003). Os SST indicam a quantidade, em gramas, dos sólidos que se encontram dissolvidos no suco ou polpa. São comumente expressos em ºBrix e têm tendência de aumento com a maturação (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Este acréscimo é atribuído, principalmente, à hidrólise de carboidratos de reserva acumulados durante o crescimento do fruto na planta, resultando na produção de açúcares (KAYS, 1991). Segundo Chitarra e Chitarra (2005), esta característica é constituída principalmente por açúcares, sendo variáveis com a espécie, a cultivar, o estádio de maturação e o clima, com valores médios entre 8% e 14% (faixa de variação entre 2% e 25%). Os autores supracitados afirmam também que o teor de açúcares normalmente constituiu de 65 a 85 % do teor de sólidos solúveis totais. Os açúcares são ingredientes alimentícios multifuncionais. Além de adoçantes, são agentes espessantes, umectantes, conservantes, solubilizantes e ainda atuam modificando a textura, fornecendo volume, realçando aroma e sabor, modificando a aparência e atuando como precursores de aroma, sabor e de coloração. São ainda utilizados como matéria prima fermentescível, controladores de ponto de congelamento e reguladores de estrutura e formação de cristais (CÂNDIDO; CAMPOS, 1995). Segundo Oliveira et al. (1982) os açúcares em concentrações elevadas previnem o crescimento de microorganismos podendo, pois, ser usado como conservadores em alimentos e sob aquecimento, adquirem cor escura ou se caramelizam. Em nenhuma espécie de muricizeiro, foi encontrada pesquisa relativa à característica açúcar solúvel total. 19 2.6.2.2 pH e Acidez Total Titulável (ATT) O pH associado com a ATT são os principais métodos usados para medir a acidez de frutos e hortaliças (MENEZES; ALVES, 1995). O pH de um suco de fruta, por exemplo, representa a concentração de íons H+ livres no suco, enquanto a ATT estima a participação dos ácidos, orgânicos ou não, presentes no meio. Se a fruta analisada for uma oleaginosa, a acidez titulável é decorrente principalmente dos ácidos graxos livres, que são lipossolúveis, portanto, sua extração deve ser feita com etanol (BEZERRA NETO; BARRETO, 2004). A concentração de íons hidrogênio (pH) é um fator de grande influência na qualidade e segurança dos alimentos. De um modo geral, fornece uma indicação do seu grau de deterioração, atestado pela acidez desenvolvida (GAVA, 1999). Silva (1978) ao estudar frutos colhidos no litoral do Ceará, verificou algumas características físicas e químicas do murici (B.verbascifolia), dentre elas o pH, que apresentou média de 3,7 e Villachica (1996) em seu livro sobre frutas e hortaliças da Amazônia citou em um quadro sobre valor nutricional de 100g de polpa de murici, um valor de pH de 2,80 para a espécie B. crassifolia. A determinação da acidez auxilia na avaliação do estado de conservação do alimento. Um processo de decomposição, tanto por hidrólise, como por respiração ou por fermentação (oxidações), quase sempre altera a concentração dos íons hidrogênio no fruto (BEZERRA NETO; BARRETO, 2004). A acidez total titulável é usualmente calculada com base no principal ácido presente, expressando-se o resultado com percentagem de acidez titulável, que é determinada por titulação com solução de hidróxido de sódio (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Segundo os autores são numerosos os compostos ácidos com natureza variada. Dentre eles, os mais abundantes em frutos são o cítrico e o málico, havendo predominância desses ou de outros de acordo com a espécie. Para o murici, o ácido cítrico foi adotado para expressar a percentagem de acidez total titulável no fruto, com base na dissertação escrita por Silva (1978). Para a característica acidez total titulável, Villachica (1996) citou em seu livro sobre frutas e hortaliças promissoras da Amazônia, o valor de 2,45g/100g para espécie B. crassifolia e Silva (1978) na espécie B. verbascifolia encontrou valor médio de 0,94g/100g, 20 em seu estudo sobre algumas características físicas e químicas do murici realizadas com frutos colhidos no litoral do Ceará. 2.6.2.3 Relação SST/ATT A relação SST/ATT é uma das formas mais utilizadas para avaliação do sabor, sendo mais representativo que a medição isolada de açúcaresou da acidez. Essa relação dá uma boa idéia do equilíbrio entre esses dois componentes (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Segundo Bleironth (1981) com o amadurecimento a acidez diminui até atingir um conteúdo tal que, juntamente com o açúcar, dá à fruta o seu sabor característico, o qual varia com a espécie. O balanço entre conteúdo de SST e ATT indica a palatabilidade, ou a aceitabilidade do fruto e é característico de cada espécie (FILGUEIRAS et al., 2001b). Matsuura et al. (2001) informam que a relação Brix/acidez indica o grau de equilíbrio entre o teor de açúcares e ácidos orgânicos do fruto e Couceiro (1986) afirma que ela está diretamente relacionada à sua qualidade quanto ao atributo sabor, sendo, portanto, um importante parâmetro a ser considerado na seleção de “variedades de mesa”, isto é, para consumo in natura. Na literatura não foram encontrados trabalhos referentes a esta característica em frutos de muricizeiros de nenhuma espécie. 2.6.2.4 Amido O amido é o principal material de reserva energética nos vegetais. A principal transformação quantitativa que ocorre na maturação de frutas é a decomposição de carboidratos, notadamente a conversão de amido em açúcares solúveis. Essa transformação tem efeito no sabor e na textura. Em algumas frutas maduras, os teores de amido permanecem elevados, os quais as tornam insípidas, com grau de doçura inadequado para o consumo ao natural (CHITARRA; CHITARRA, 2005). 21 O amido proveniente de diferentes vegetais apresenta as seguintes propriedades: 1. não possui sabor doce; 2. não é solúvel em água fria; 3. sob aquecimento, forma com a água pastas ou géis; 4. a gelatinização aumenta a viscosidade das soluções, fato que é usado quando se deseja engrossar um alimento (OLIVEIRA et al., 1982). O amido tem grande importância na indústria de alimentos, sendo empregado principalmente como espessante e/ou estabilizante (SILVA et al., 2006), porém, conforme Demiate et al. (2003) o amido e as substâncias pécticas, dentre outros, são agentes causais de turvação em sucos, podendo alterar sua aparência tanto à temperatura ambiente quanto sob refrigeração, o que determinaria uma perda de valor econômico do produto. Um elevado teor de amido e pectina total pode influenciar no processo de clarificação do suco (ALVES et al., 2001a), bem como trazer dificuldades durante o processamento e a estabilização do mesmo, principalmente se for realizado tratamento térmico (ALVES et al., 2001b), pois o alto conteúdo de amido dificulta a troca de calor e pode provocar a sua gelatinização (PAULA et al., 2004). Em nenhuma espécie de muricizeiro, foi encontrada pesquisa relativa a amido nos frutos. 2.6.2.5 Pectinas Total e Solúvel As substâncias pécticas encontram-se nos frutos em diferentes formas, caracterizadas por graus de solubilidade variáveis dependendo do estádio evolutivo do fruto, e cada uma delas com possíveis funções nas modificações de firmeza (PILNIK; VORAGEN, 1970). Contribuem para a adesão entre as células e para a resistência mecânica da parede celular (ASPINALL, 1970; PTITCHKINA et al., 1994). As alterações que ocorrem na parede celular no amadurecimento consistem de uma aparente dissolução da região da lamela média, que é rica em pectina (TUCKER, 1993). O amolecimento e as mudanças nas substâncias pécticas durante o amadurecimento é devido à ação de enzimas que agem despolimerizando a pectina (SHEWFELT et al., 1971). As pectinas atuam como agente cimentante entre paredes celulares adjacentes (KAYS, 1991) e Segundo Satoh (1998) a associação da rigidez das moléculas de pectina à interação com outros constituintes da parede celular é que determinam esta ação. Elas têm 22 sido usadas tradicionalmente como emulsificante, geleificante, estabilizante e espessante no preparo de uma grande variedade de produtos (CÂNDIDO; CAMPOS, 1995). No organismo humano, segundo Chitarra e Chitarra (2005) elas reduzem a absorção da glicose, com redução concomitante da produção de insulina, reduz o nível de colesterol, dependendo do valor inicial da hipercolesterolemia e da composição da dieta. Uenojo e Pastore (2008) citam que as substâncias pécticas são responsáveis pela consistência, turgidez e aparência dos sucos das frutas, e sua presença causa um aumento considerável na viscosidade do suco, dificultando a filtração e a concentração. Chitarra e Chitarra (2005) informam que o teor de pectina está relacionado com a consistência ou textura dos frutos, especial para sua conservação, sendo importante na matéria prima destinada à indústria, principalmente para elaboração de geléias, pois constitui um dos seus componentes básicos e fundamentais, responsáveis por conferir ao produto aspecto agradável e palatabilidade. Para a obtenção de geléias, compotas, frutas glaceadas, frutas cristalizadas e doces em pasta, deve-se obedecer algumas condições preestabelecidas, exclusivamente para elaboração destes produtos. Estas condições se referem particularmente ao regulamento que disciplina o emprego do açúcar, da pectina, do ácido e da própria fruta. A pectina é o elemento fundamental para a formação do gel (Silva, 2000). Não foram encontrados na literatura estudos referentes à pectina para frutos de muricizeiros de nenhuma espécie. 2.6.3 Compostos Bioativos Os alimentos funcionais ou nutracêuticos são estudados através de uma ciência chamada nutracêutica que descobriu os compostos bioativos nos alimentos, ou seja, os elementos que são capazes de atuar diretamente na prevenção e no tratamento de doenças. Em sua grande maioria, os compostos bioativos estão distribuídos entre as frutas, legumes, verduras, cereais, peixes de água fria, leite fermentado, dentre outros. Eles são aproveitados no próprio consumo dos alimentos in natura ou então isolados e inseridos em outro produto passando então a ser enriquecido com nutrientes. Deste processo surgem, por exemplo, as cápsulas de fibras e aminoácidos, os leites enriquecidos com ácidos graxos (ômegas 3 e 6) e as vitaminas (SAÚDE E NUTRIÇÃO, 2008). 23 As identificações de agentes bioativos presentes em plantas indicam que o consumo de frutas, vegetais e grãos, estão relacionados com baixa incidência de alguns tipos de distúrbios como câncer e doenças cardiovasculares. Há evidências que a melhoria do estado geral da saúde das pessoas, não está associada apenas ao conteúdo de nutrientes essenciais nos alimentos, demonstrando que outros constituintes podem exercer uma atividade fisiológica, contribuindo de forma significativa para o bem estar da população (STRINGHETA, 2008). 2.6.3.1 Vitamina C Segundo Cozzolino e Silva (2005) a vitamina C foi conhecida por muito tempo como o nutriente essencial que prevenia o escorbuto, doença causada por sua deficiência. Sua importância cresceu ao longo do tempo, grande parte devido a descobertas de seu potencial antioxidante. É conhecida também como ácido ascórbico, L - ácido ascórbico, ácido deidroascórbico, ascorbato e vitamina antiescorbútica. A vitamina C é essencial à saúde. Acelera a absorção intestinal dos íons de ferro e sua mobilização, e influencia sua distribuição dentro do organismo (GUILLAND; LEQUEU, 1995). Também esta envolvida na cicatrização de fraturas, contusões, hemorragias puntiformes e sangramentos gengivais. Desempenha papel fundamental no desenvolvimento e regeneração dos músculos, pele, dentes e ossos, na formação do colágeno, na regulação da temperatura corporal, na produção de diversos hormônios e no metabolismo em geral. A falta dessa vitamina no organismo aumenta a propensão a doenças (GARDENER et al., 2000). Além de sua conhecida propriedade de aumentar a resistência do organismo às infecções, ajuda no crescimento e é um fator de regeneração e formação do sangue. Encontra- se em verduras e legumes, mas, principalmente, nos frutos ácidos, comocaju, uva, limão e laranja. Atualmente, sabe-se que a acerola é um fruto bastante rico nessa vitamina, contendo dezenas de vezes mais vitamina C do que qualquer das frutas citadas. Quimicamente a vitamina C é o ácido ascórbico que se comporta como um composto bastante instável. Por oxidação, facilmente se converte em ácido deidroascórbico, propriedade essa que dificulta sua análise química (OLIVEIRA et al., 2006a). A vitamina C é absorvida do intestino delgado para o sangue. No corpo ela é encontrada em maior concentração nos tecidos de elevada atividade metabólica. (OLIVEIRA et al., 1982). 24 Cerca de 90% das necessidades de vitamina C (ácido ascórbico) do homem são provenientes de frutos e hortaliças. Ela é o componente nutricional mais importante, embora na maioria dos frutos não exceda a 300 mg/100g. A goiaba e o caju encontram-se entre as principais fontes dessa vitamina, com teores de 200 a 300 mg/100g de suco. Contudo, suplantando todas as fontes de vitamina C, estão à acerola com teores entre 1000 a 1500 mg/100g e o camu-camu que possui cerca de 2780 mg/100g de polpa, também é encontrada em morango (95 mg/100 g), mamão papaia (85 mg/100 g), kiwi (75 mg/100 g), laranja (70 mg/100 g) e manga (45 mg/100 g) (GOMES, 2005).Os frutos cítricos são considerados entre as melhores fontes, não só pelo teor dessa vitamina (50 a 75 mg/100g de suco) como pelo seu elevado consumo, nas dietas, no mundo inteiro (SILVA, 1998). Conforme Bobbio e Bobbio (1995b) a vitamina C é encontrada em concentrações razoáveis em todas as plantas superiores. Segundo os mesmos autores, é uma substância destruída pela ação da luz. Sua estabilidade aumenta com o abaixamento da temperatura e a maior perda se dá durante o aquecimento de alimento, existindo casos de perda durante o congelamento ou armazenamento de alimentos a baixas temperaturas. Visando fornecer proteção antioxidante, a Quota Dietética Recomendada de vitamina C, de 90 mg/dia para os homens e 75 mg/dia para as mulheres, se baseou na ingestão necessária para garantir a manutenção quase máxima da concentração dos neutrófilos com o mínimo de excreção urinária de ascorbato. A recomendação para idosos é a mesma do adulto jovem (FRANCESCHINI et al., 2002). Cozzolino (2005) afirmou que o nível de ingestão diária na dieta para atender as necessidades de quase todos os indivíduos saudáveis de um determinado grupo do mesmo estágio de vida e gênero é o mesmo citado acima. Em situações diversas, tais como infecções, gravidez e amamentação, e em tabagistas, doses ainda mais elevadas são necessárias (SCHECTMAN, 1993). Silva (1978) encontrou quantidade média de ácido ascórbico para frutos maduros de murici da espécie B. verbascifolia de 51,00 mg/100g de polpa, segundo método de Pearson (1970) em seu trabalho sobre características físicas e químicas de murici, com frutos coletados no litoral do Ceará e Villachica (1996) cita em seu livro sobre frutas da Amazônia, onde detalha para o murici vários processos de produção, tecnologia e comercialização, dentre outros, um quadro sobre valor nutricional do murici apresentando valor de vitamina C de 7,27 mg/100g de polpa em frutos da espécie B. crassifolia. 25 2.6.3.2 Carotenóides Totais Segundo Taiz e Zeiger (2004) os carotenóides são compostos terpênicos de cores: amarela, laranja e vermelha, que também atuam como pigmentos acessórios na fotossíntese, possuem banda de absorção na região dos 400 a 500 nm, o que imprime sua coloração característica. São encontrados em todos os organismos fotossintéticos e a luz que absorvem é transferida à clorofila para o processo da fotossíntese. Localizam-se nos cromoplastos e também nos cloroplastos associados com a clorofila. Têm como funções a proteção da clorofila e do aparelho fotossintético contra a fotodegradação, bem como a absorção de luz em comprimento de onda diferente do da clorofila, aumentando o potencial energético do sistema. Com a degradação da clorofila, os carotenóides previamente presentes nos tecidos tornam-se visíveis, ou podem também ser sintetizados com o avanço da maturação dos frutos. Também na maturação, a biodegradação dos carotenóides resulta na formação de alguns compostos voláteis, que podem contribuir para o aroma e o sabor típico de cada espécie e/ou cultivar (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Segundo Oliveira et al. (1982) a principal função fisiológica dos carotenóides nos animais é atuarem como precursores de vitamina A. Várias substâncias possuem atividade biológica de vitamina A; assim, temos a vitamina A pré-formada, que é encontrada nos alimentos de origem animal, as pró-vitaminas, ou precursores da vitamina A, são constituídas por pigmentos carotenóides existentes principalmente no reino vegetal. Entre os carotenóides precursores de vitamina A ou pró-vitaminas naturais, temos: o β- caroteno, α- caroteno e o γ- caroteno e a equinona. Como exemplos de carotenóides sem atividade de vitamina A, podemos citar o licopeno e a bixina. Burton (1979) afirma que esta vitamina forma-se no corpo do homem ou do peixe, a partir de precursores, após uma hidrólise que produz uma ou duas moléculas de vitamina A por molécula de caroteno, dependendo do número de anéis de β-ionona presentes. A conversão dos precursores para a vitamina A fisiologicamente ativa ocorre principalmente nas células do intestino. Atualmente, são conhecidos, aproximadamente, 600 tipos de carotenóides, sendo usados como aditivos (corantes) alimentares. Entretanto, é na nutrição que os carotenóides ganham maior importância (ALVES et al., 2007). Entre as frutas mais ricas em carotenóides biologicamente ativos estão aquelas de cor, amarelo-alaranjado, principalmente, as frutas tropicais e subtropicais, como buriti, 26 manga, mamão, cajá, damasco seco e goiaba (SILVA; NAVES, 2001). Conforme Ferreira et al. (1987) o pequi também é um fruto rico neste pigmento. Segundo Alves Filho (2008) são alimentos que contribuem para a disponibilidade de carotenóides: cenoura, abóbora, manga e tomate, como fornecedores de beta-caroteno; de alfa-caroteno: abóbora e cenoura; de beta- criptoxantina: laranja pêra e mamão; de licopeno: tomate, massa de tomate, melancia, mamão; de luteína: fubá de milho, couve, alface e laranja pêra. Alves Filho (2008) informa as ingestões "prudentes" de 3 a 6 mg de beta- caroteno, de pró-vitamínicos A (de 5,2 a 6 mg) e de carotenóides totais (de 9 a 18 mg). Não há relatos na literatura sobre estes compostos em frutos de muricizeiros. 2.6.3.3 Flavonóides Os compostos fenólicos correspondem a uma ampla faixa de substâncias, desde fenóis simples, ácidos fenólicos e flavonóides, até polímeros complexos como a lignina (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Os compostos fenólicos de fontes vegetais podem ser divididos em dois grupos: os flavonóides e os não flavonóides, sendo que ambos são metabólitos secundários presentes em frutas e vegetais. Os denominados de flavonóides são os que apresentam a estrutura química descrita como C6-C3-C6. Já os denominados de não flavonóides são classificados como: os derivados das estruturas químicas C6-C1 específicas dos ácidos hidroxi benzóico, gálico e elágico; os derivados das estruturas químicas C6-C3 específicas dos ácidos cafêico e p-cumárico hidroxi cinamatos e os derivados das estruturas químicas C6-C2-C6 específicas do trans resveratrol, cis-resveratrol e trans-resveratrol-glucosídio. (MELO; GUERRA, 2002). A distribuição dos flavonóides nos vegetais depende de diversos fatores de acordo com filo/ordem/família do vegetal, bem como da variação das espécies. São formados da combinação de derivados sintetizados da fenilalanina (via metabólica do ácido chiquímico) e ácido acético. Os padrões de distribuição dependem do grau de acesso à luminosidade, especialmente raios ultravioleta B, pois a formação dos flavonóides é acelerada pela luz (FENNEMA, 1993)
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