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Puberdade 1)INTRODUÇÃO -Puberdade é o período de transição biológica entre infância e a vida adulta e tem como objetivo final a aquisição da maturidade sexual, é um processo que inicia normalmente após 8 anos e dura em média 4,5 anos (entre 1,5 a 6 anos). Depende de alguns fatores – etnia, raça, genética, deficiências nutricionais, obesidade, crescimento intrauterino e etc., por exemplo, mulheres do mediterrâneo tem puberdade mais tardia. -Marcos da puberdade: 1. Estirão do crescimento c/ estágio inicial/peripuberal (velocidade mínima de crescimento), pico da velocidade de crescimento PVC (aceleração rápida do crescimento) e estágio final (diminui a veloc. e interrompe o crescimento, mediante junção das epífises ósseas, que ocorre um pouco antes da menarca, por isso o ditado ¨menstruou, parou de crescer¨). Ocorre entre a telarca e a menarca. 2. Telarca: surgimento do broto mamário, geralmente aos 10-11 anos e finalizando aos 14 anos. 1° a aparecer fenotipicamente. 3. Adrenarca/pubarca: indica o início da esteroidogênese adrenal aos 6 anos, mas a manifestação fenotípica apenas 6-12 meses após a telarca, levando 3 anos p/ completar o desenv. 4. Menarca: primeira menstruação, nas mulheres brasileiras ocorre em média 12,8 anos, seguidos de cerca de 2 a 3 anos de ciclos anovulatórios irregulares por imaturidade do eixo hormonal. *O primeiro sinal da puberdade em meninas é o aparecimento das mamas (telarca), que pode ocorrer entre 8 e 13 anos de idade, seguido pelo aparecimento dos pelos pubianos (pubarca) e por fim o último estágio no desenvolvimento hipotalâmico-hipofisário que é a menarca (primeira menstruação) que é considerada como evento final do processo de maturação sexual feminina, sinaliza a obtenção da capacidade reprodutiva. -Caracteres sexuais secundários são classificados de acordo com os estágios de desenvolvimento de Tunner: 1. Mamas infantis (M1). Ausência de pelos (P1). 2. Primeiro broto mamário forma-se com uma pequena saliência com elevação da mama e da papila e ocorre o aumento do diâmetro arelar. Melhor visualização lateral (M2). Pelos iniciam- se com pelugem fina, longa, um pouco mais escura na linha centra da região pubiana. (P2) 3. Maior aumento da aréola e da papila sem separação do contorno da mama (M3). Maior quantidade de pelos, mais escuros e mais espessos, discretamente encaracolados e em toda região pubiana (P3) 4. Aumento continuado e projeção da aréola e da papila formando uma segunda saliência acima do nível da mama (M4) – estágio da menarca. Pelos do tipo adulto, encaracolados, mais distribuídos e ainda em pouca quantidade. (P4) 5. Mama com aspecto adulto, com retração da aréola para contorno da mama e projeção da papila. Pelos do tipo adulto, maior distribuição pubiana e na raiz da coxa. (P5) *Eixo hipotálamo-hipófise-ovário (HHO) -Caracteres sexuais primários: Mucosa vaginal progressivamente mais espessa e enrugada Aumento do volume de secreção clara, alguns meses antes da menarca pH vaginal diminui Depósito de gordura subcutânea no monte púbico e grandes lábios Espessamento do epitélio vulvar Pequenos lábios e clitóris tornam-se proeminentes Aumento progressivo do volume do útero e ovários 2)REGULAÇÃO HORMONAL -O eixo HHO inicia o seu desenv desde a vida fetal, tendo uma quiescência na infância (pausa pré- puberal) e volta na gonadarca pela reativação do pulso gerador de GnRH, progressiva responsividade da hipófise anterior, reatividade folicular ao FSH e LH, com produção dos esteroides sexuais ovarianos. -Aumento progressivo na amplitude dos pulsos de gonadotrofinas a noite aumentos diurnos de estradiol (marcador neuroendócrino da puberdade feminina). *Fase puberal tardia feedback positivo aumento de LH no meio do ciclo ovulação -Processo de maturação hormonal: Adrenarca: inicio da produção dos andrógenos pela adrenal, geralmente entre 6 e 8 anos, independe do eixo HHO e os fatores desencadeantes são desconhecidos. Produz principalmente androstenediona, deidroepiandrosterona (DHEA – odor nas axilas, pelos pubianos e acne) e S-DHEA (marcador bioquímico). Ativação do eixo HHO: resultado do aumento da sensibilidade da hipófise ao GnRH produzido pelo hipotálamo, na puberdade ocorre um aumento nos pulsos noturnos de GnRH, o qual age na hipófise já sensível e libera FSH e LH que agem nas gônadas e iniciam a gonadarca. Gonadarca: aumento dos esteroides sexuais por ação do FSH e LH – testículos produzem testosterona e ovários produzem estrógenos que desenvolvem os caracteres sexuais secundários. -No estirão do crescimento, o estrogênio aumenta a secreção de GH que gera produção de IGF-1; ocorre maturação dos condrócitos e osteoblastos; ganho de peso e aumento no percentual de gordura corporal; hormônios tireoidianos e glicocorticoides. Velocidade de crescimento 9-10cm/ano, após menarca há desaceleração. Obs.: o estirão da puberdade da mulher ocorre antes dos homens. -Mecanismos envolvidos no desencadeamento da puberdade: • Múltiplos fatores estimulatórios kisspetina, neuroquinina B, glutamato, glicina, norepinefrina, dopamina, serotonina, fatores de crescimento gliais e leptina. • Múltiplos fatores inibitórios opióides endógenos (dinorfina A), ácido gama- aminobutírico (Gaba), neuropeptídeo Y, peptídeo intestinal vasoativo, hormônio corticotrófico, melatonina. • Reativação do eixo HHO influenciada por uma interação complexa entre fatores genéticos, nutricionais, ambientais e socioeconômicos, que reduzem o tônus inibitório e aumentam o tônus estimulatório sobre a secreção pulsátil do GnRH. O equilíbrio entre eles é o que determina a ativação do eixo. 3)PUBERDADE PRECOCE PUBERDADE PRECOCE COMPLETA 1. Puberdade Precoce Central/Verdadeira -Ocorre por ativação precoce do eixo HHO, é sempre isossexual dependente de GnRH (caracteres sexuais secundário sempre em direção ao mesmo sexo da pessoa. Ex.: menina desenvolve caracteres de menina) – os níveis de FSH, LH e estradiol estão aumentados. Ocorre maturação óssea avançada, com soldadura precoce das epífises ósseas e, com isso, uma redução na altura final esperada para idade adulta. -É idiopática em 90% dos casos, mais comum em meninas. Diagnóstico de exclusão. Contudo, tem uma tabela de possíveis outras causas. -Segue a cronologia usual do desenv. puberal normal, mas com padrão de crescimento lento (por causa idiopática) ou rápida (outra causa). 2. Puberdade Precoce Periférica/ Pseudopuberdade precoce -Ocorre por níveis elevados de estrogênio, pode ser isso ou heterossexual (virilização do sexo feminino – acne, hirsutismo, engrossamento da voz e desenv muscular), independente de GnRH, decorre da secreção ovariana ou adrenal ou fonte exógena. -Sem padrão na cronologia dos eventos (pode ter como exemplo um sangramento vaginal antes do desenv das mamas), com maturação óssea avançada e níveis de FSH e LH baixos devido supressão do eixo HHO pelas altas concentrações de esteroides sexuais. -Causa ovariana é mais comum tumor de céls da granulosa (60%) e cistos ovarianos. Obs.: qualquer causa de PPP com elevação crônica dos esteroides sexuais pode ativar o eixo HHO e levar a PPC. PUBERDADE PRECOCE INCOMPLETA 3. Precocidade sexual isolada -Geralmente não é patológico, apenas uma variante do desenv normal. Ocorre eventos isolados e autolimitados – pode ser o 1° sinal de puberdade precoce -Deve-se monitorizar curvas de crescimento e outros sinais de maturidade sexual. 4. Adrenarca prematura -Surgimento de pelos pubianos antes dos 8 anos (pubarca), axilarca e odor característico nas axilas. Condição progride lentamente até a puberdade com ativação da suprarrenal, há discreta aceleração do crescimento. -Ausência de desenvolvimento mamário. -Ocorre por deficiência parcial da 21-hidroxilase, principal autoantígeno da gl. adrenal. -Casosexuberantes: hiperplasia adrenal congênita e TU das adrenais. -Monitorizar curvas de crescimento e outros sinais de maturidade sexual. 5. Telarca precoce -Surgimento do broto mamário antes do tempo, sendo uni ou bilateral isolado. Benigna, autolimitada, na ausência de outros caracteres sexuais secundários e sem aceleração do crescimento – apenas vigilância no tamanho das mamas, na velocidade de crescimento e surgimento de outras caracteres é o suficiente, se observar a outros fatores pode ser puberdade precoce e aí investiga. -Comum em menores de 2 anos (mas regride e entra em quiescência). Devido os hormônios maternos passados na vida intrauterina, por não haver continuação desses hormônios, há regressão. -Idade óssea sincrônica até 1 ano de idade cronológica -Associado a desreguladores endócrinos (pesticidas, agrotóxicos, plásticos, etc.) -Estradiol levemente elevado e gonadotrofinas baixos 6. Menarca precoce -Evento raro, considerado diagnóstico de exclusão, antes investiga-se diagnóstico diferencial de corpo estranho, trauma, infecções, abuso sexual e neoplasia. -Estradiol e gonadotrofinas em níveis pré-puberais, USG pélvica normal. -Sensibilidade do endométrio a pequenas doses de estrogênio DIAGNÓSTICO DE PUBERDADE PRECOCE -Anamnese (caracterizar cronologia e evolução dos eventos puberais, antecedentes pessoais e familiares – idade da puberdade deles, sintomas associados = cefaleia, alteração visual, trauma ou doença prévia de SNC etc.) + Exame físico (caracteres sexuais secundários, peso, altura, IMC, veloc. de crescimento cm/ano) – quanto menor a idade, mais deve ser aprofundada a investigação. -Exames complementares dependem da avaliação clínica inicial, mas pode ter: • Dosagens hormonais de LH (> 0,6 UI/L), FSH, estradiol (> 10pg/ml), TSH/T4L, testosterona e 17-OH-progesterona, S-DHEA e androstenediona, HCG. • Teste do GnRH (picos de LH > 6,9 UI/L) • Radiografia de mão e punho esquerdo para caracterizar idade óssea (> 2dp) • USG pélvica e abd (avaliar ovários, útero, possíveis tumores) • RM/TC (avaliar SNC se PPC ou adrenais/ovários se suspeita de tumor) *Valores alterados -Pode ser causado por hipotireoidismo, aumento de testosterona e outros presentes na tabela acima. TRATAMENTO Em PPC: barrar o eixo por um agonista do GnRH IM mensal ou trimestral (Gosserrelina, Leuprorrelina, Triptorrelina) – porque com essa oferta, há competição com o GnRH endógeno, os receptores ficam saturados e o endógeno não tem onde se ligar pra exercer sua função e ocorre o chamado dawn regulation, que causa inibição do eixo HHO dessensibilização dos gonadotrofos inibição da produção de FSH e LH; pode ser associado ao uso de GH. -Outras opções: Acetato de medroxiprogesterona ou de ciproterona (não apresentam benefícios sobre estatura final) -Não há consenso até quando manter o tratamento, não tem parâmetros que indiquem pausa (em média até os 11 anos, pois é a fase que ocorre naturalmente a puberdade). Mas sabe-se que quando o tratamento/ tto é interrompido, a puberdade normal retorna. -Para a PPP, devemos tratar cada uma das alterações de base que levam a esse quadro. Exemplos: 4)PUBERDADE TARDIA -Considerada quando o broto mamário não surge até os 13 anos ou quanto a menarca não ocorre após 5 anos do início da puberdade. 1) Retardo Constitucional -É a forma mais comum, possui altura, idade óssea e desenv puberal normais, níveis de FSH e LH normais. -Associados a fatores familiares (variações genéticas e individuais), doenças crônicas e desnutrição. -Aquisição completa dos caracteres sexuais secundários sem o estabelecimento da menarca – investiga-se amenorreia, pode ser por: Mal formações Müllerianas: Sd. de Rokitansky- Kuster-Hauser Criptomenorreia: hímen imperfurado, septo vaginal transverso Distúrbios de diferenciação sexual: Sd. Swyer 2) Hipogonadismo hipogonadotrófico -Distúrbio do eixo HHO por diminuição ou não produção de gonadotrofinas, com consequente dosagem de FSH e LH baixa. Causas: SNC: craniofaringiomas, infecções, traumas, tu, prolactinoma, sd. de kallmann, deficiência isolada de gonadotrofinas, etc. Hipotireoidismo Suprarrenal: HAC, sd. Cushing, dç. de Addison Psicossocial: desnutrição e anorexia, exercícios em excesso, estresse e depressão 3) Hipogonadismo hipergonadotrófico -Disfunção gonadal congênita ou adquirida por diminuição ou não produção de hormônios gonadais, o que leva a um aumento das gonadotrofinas (dosagem de FSH e LH alta). Causas: DISGENESIA GONADAL (Sd. de Tunner 45X) – mais frequente! Disgenesia gonadal pura (46, xx ou 46, xy) Insuficiência ovariana prematura: ooforite autoimune, Qt, Rt, galactosemia, etc. DIAGNÓSTICO -Anamnese (hábitos, sintomas neurológicos, história prévia de Qtx ou Rtx, uso de medicamentos e antecedentes familiares) + Exame físico (altura, peso, caracteres secundários, presença de estigmas – pescoço alado, cúbito valgo, excesso de nevus e implantação baixa do cabelo) -Exames complementares: Dosagens hormonais: FSH, LH, estradiol, prolactina, TSH, T4, androgênios Cariótipo Rx de mãe e punho esquerdo Exames de imagem: USG, RM/TC TRATAMENTO -Induzir e manter o desenvolvimento puberal, estimular o crescimento da estatura e manter a massa óssea, com uso de estrógenos em doses progressivas. -Após menarca, inicia uso de progestágenos concomitantemente, exemplo o acetato de medroxiprogesterona. -Tratamento específico para cada causa. -Acompanhamento psicológico adequado
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