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è Entender a epidemiologia, etiologia, fatores de risco, fisiopatologia e manifestações clínicas da dermatite atópica. Dermatite Atopica • É uma doença inflamatória crônica caracterizada por prurido intenso e lesões eczematosas recorrentes; • Trata-se de doença genética, de herança poligênica, com influência de fatores externos, fatores internos, imunidade e fatores emocionais; • É a evolução natural de um quadro de atopia. • Em gera; a DA é a primeira manifestação da marcha atópica, seguida de asma e/ou rinite alérgica. • É uma doença muito frequente, afetando aproximadamente 20% das crianças e cerca de 7 a 10% dos adultos; • É considerada uma doença infantil pois 90% dos pacientes desenvolvem os primeiros sintomas antes dos 5 anos de idade; • Fatores ambientais: Exposoma é a soma das influências ambientais ao longo da vida de um indivíduo; • Os domínios expossomais são divididos em: è Exposições externas não específicas (ex. clima, migração, urbanização); è Exposições externas específicas (ex. umidade, radiação UV, dieta, poluição, alérgenos, tipos de água); è Exposições internas (ex. microbiomas); • Os fatores ambientais estão envolvidos como desencadeantes ou agravantes da DA; • A base fisiopatológica da DA consiste em interações entre: alterações imunológicas, alterações da barreira epidérmica e disbiose (perturbação do equilíbrio de algum microbioma); Barreira cutânea • Alterações na barreira cutânea são fatores fundamentais para o desenvolvimento da dermatite atópica; APG 30 – Coceira Danada Amanda Rocha 1 Marcha Atópica Epidemiologia Fatores de Risco Fisiopatologia • Na barreira geneticamente predisposta, a exposição a irritantes e agressões mecânicas (substâncias alcalinas – sabonete, cloro de piscinas, banho com água aquecida e fricção exagerada) podem desencadear ou agravar a inflamação pela liberação de citocinas pelos queratinócitos alterados; • Filagrina (FLG): proteína-chave da barreira epidérmica, pode ser influenciada por fatores ambientais (clima, poluição e microbioma); • É uma proteína necessária para a formação do estrato córneo e seus metabólitos são importantes na manutenção do fator de hidratação natural (FHN), sendo fundamental para a manutenção da integridade da carreira cutânea e hidratação da pele; • Paciente com mutações no gene da FLG apresentam risco maior para desenvolver DA, assim como maior gravidade da doença; • A FLG tem dupla função na prevenção de infecções da pele -> barreira física e a inibição da proliferação de Staphylococcos aureus; Microbioma Cutâneo • A microbiota residente normal constitui papel importante na barreira cutânea; • O pH ácido e a presença da microbiota residente dificultam a colonização por bactérias patogênicas (ex. S. Aureus); • A diminuição da microbiota residente, o pH alcalino e a redução de peptídeos antimicrobianos (PAMs), que ajudam na defesa contra microrganismos, contribuem para maior colonização por S. aureus, que pioram a inflamação da DA e agravam a doença; Alterações Imunológicas • A partir das alterações da barreira física, tem início uma resposta imune inata para evitar invasão e replicação microbiana; • Os queratinócitos e as células apresentadoras de antígenos da pele expressam uma série de receptores imunes inatos (ex. Toll like – TLRs); • A estimulação de TLRs por agentes microbianos ou lesões teciduais induz a liberação de peptídeos antimicrobianos, citocinas e quimiocinas que aumentam a forca da junção intercelular com o intuído de limitar a penetração de alérgenos e microrganismos; • Pacientes com DA: função dos TLRs reduzida -> facilita a penetração de microrganismos; • A barreira cutânea defeituosa permite que irritantes e alérgenos penetrem na pele e causem inflamação por meio de uma resposta TH2 hiperativa (com aumento das IL-4 e IL-5) -> lesões agudas; • Resposta TH1 (IFN-gama e IL-12) -> lesões crônicas; Amanda Rocha 2 • O ato de cocar a pele também estimula os queratinócitos a liberar citocinas inflamatórias como TNF- alfa, IL-1 e IL-6; • A exposição prolongada a agentes patogênicos leva a um desequilíbrio do sistema imune adaptativo mediado por células T; • Esse desequilíbrio impulsiona o desenvolvimento de um ambiente de citocinas TH2 especializado: IL-4, IL-13 e IL-31; • Células dendríticas (DCs) e células de Langerhans (LCs) tornam-se ativadas pelo reconhecimento de antígenos derivados de agente patogênicos -> promovem a indução de resposta imune Th1, Th2, Th17 e tH22 em lesões agudas da DA; • Clinicamente a pele não lesada de pacientes com DA tem aparência saudável, porém exibe infiltração de linfócitos T que produzem mediadores inflamatórios responsáveis pela diminuição da diferenciação epidérmica; • Citocinas derivadas de vários subtipos de células T modificam gradualmente a doença – FASE INICIAL (sem lesão) -> FASE AGUDA -> FASE CRÔNICA; • Fase Aguda: no início, as citocinas Th2 (IL-4, IL-13 e IL-22, de modo sinérgico com a IL-17 de Th17, contribuem para a inibição da diferenciação epidérmica de proteínas como filagrina, liricrina e corneodesmosina; • O aumento abrupto de IL-31 induz prurido intenso, seguido por escoriação da pele que agrava a deficiência da barreira; • Fase Crônica: predomina resposta do tipo Th1 -> produzem IFN – y, que confere proteção contra agentes patogênicos intracelulares ativando células fagocíticas; • O IFN-y atua na maturação/diferenciação de queratinócitos e, portanto, na regulação da função da barreira da pele; • Na presença de IFN-y, os queratinócitos tornam-se mais sensíveis aos sinais de ligação de CD40 ou fator de necrose tumoral (TNF), que induz o processo inflamatório; • A superprodução de IFN-y também resulta em apoptose de queratinócitos, causando disfunção da barreira cutânea; • Dermatose crônica de evolução recorrente, podendo ocorrer em qualquer idade a partir do 3º mês de vida; • O prurido é intenso e está sempre presente; • A morfologia e a distribuição das lesões variam com a idade, tendendo a ser mais exsudativas na primeira infância e liquenifadas nas faixas etárias mais avançadas; 3 Amanda Rocha Manifestações Clínicas • A DA tem 3 fases distintas: infantil, pré-puberal e adolescentes-adultos; podendo evoluir de uma fase para outra, ou iniciar-se em qualquer uma delas; è Fase Infantil: Até 2 anos de idade. Surge, em geral, entre os 3 e 6 meses como; áreas eritematocrostosas, inicialmente nas regiões malares, disseminando-se para o couro cabeludo, pescoço, fronte, punhos, face de extensão de membros e área das fraldas; • Dentição, infecções, distúrbios emocionais, alterações ambientais (temperatura e umidade), imunizações etc., podem agravá-la ou desencadeá-la; • Antígenos alimentares (ovo, castanha, leite, peixe, soja, galinha e aditivos alimentares) também podem desencadear a DA; • A maioria dos casos evolui para fase pré-puberal; è Fase Pré-puberal: Lesões menos exsudativas, mais papulosas e com tendencia a liquenificação; • As lesões comprometem, principalmente, as dobras antecubitais e poplíteas, punhos, pálpebras, face e pescoço; • O surgimento de vesiculação aguda, localizada ou generalizada sugere infecção secundária bacteriana ou viral; • Nessa fase aumenta a hipersensibilidade a inalantes (pelo de animais, pólen, penas e poeira domiciliar – ácaros); è Adolescência: lesões tornam-se papulodescamativas, liquenificadas, sujeitas a surtos de agudização; è Adulto: sua distribuição usual é típica e compreende as dobras antecubitais e poplíteas;4 Amanda Rocha • Também é frequente o comprometimento do pescoço, pálpebras, mãos e punhos; • A doença tende a atenuar com a idade, sendo rara sua persistência após os 30 anos; • Outras manifestações de atopia (asma, rinite) ocorrem em 50% dos casos de DA, podendo haver alternância ou concomitância entre elas ao longo da vida; • Urticária e reações anafiláticas são as mais frequentes; • A ictiose vulgar (condição em que a pele fica extremamente seca) é encontrada em 30 a 40% dos doentes; • Alopecia areata também é frequente; • Alguns pacientes podem evoluir para eritrodermia esfoliativa (lesões cutâneas eritematosas e esfoliativas generalizadas, que acometem mais de 80% da superfície corporal); Complicações 5 Amanda Rocha • O acometimento ocular da DA ocorre entre 25 e 40%, sendo a dermatite palpebral a mais comum; • A ceratoconjuntivite (conjuntivite alérgica) pode se manifestar como: prurido ocular bilateral, cansaço, irritação ou sensação de corpo estranho, chegando, eventualmente, à ulceração ou perfuração da córnea; • O prurido intenso e mantido leva ao ceratocone, conificação da córnea (1% dos casos); • Os atópicos geralmente são competitivos, sensíveis, facilmente depressivos, tensos, intolerantes e hiperativos. • Distúrbios emocionais podem desencadear/agravar a DA; è Compreender o diagnóstico e tratamento da dermatite atópica; • O diagnóstico é basicamente clínico: è Histórico pessoal ou familiar de atopia; • Eosinofilia e aumento da IgE circulante podem reforçá-lo; • A confirmação diagnóstica é feita por meio dos critérios da classificação de Hanifin e Rajka. É necessária a associação de 3 critérios maiores a 3 critérios menores; • Utiliza-se também os critérios UK, critérios simplificados propostos por Willian et al. Em 1994; è Presença de prurido cutâneo e 3 ou mais dos seguintes achados: envolvimento flexural, história de atopia respiratória, xerodermia Diagnóstico 6 Amanda Rocha (pele seca) e erupção cutânea antes dos 2 anos de vida; • Achados essências da DA pela Associação Americana de Dermatologia: • A gravidade da DA é avaliada pelo EASI (eczema área severity index) e pelo SCORAD (scoring atopic dermatites); • Ambos avaliam a área da pele acometida e a gravidade de uma lesão em especial, destacando-se: eritema, edema, presença de crostas, sinais de escoriação e liquenificação; • No SCORAD, considera-se ainda a avaliação do paciente ou cuidador incluindo perguntas sobre a qualidade do sono e intensidade do prurido nos últimos 3 dias; è 0 a 14: DA leve; è 15 a 40: DA moderada; è Acima de 41: DA grave; • Devem ser consideradas: dermatite seborreica, dermatite de contato, eczema numular, escabiose, psoríase, dermatite herpetiforme e doença de Darier; • Principais objetivos: aliviar o prurido, corrigir a xerose e tratar a inflamação; • Os fatores agravantes (sabonetes, lã, extremos de temperatura, baixa umidade ambiente, exposição a antígenos inalantes, banhos demorados e quentes, roupas Diagnóstico Diferencial Tratamento 7 Amanda Rocha sintéticas, substâncias irritantes à pele) devem ser evitados; • Cortar unhas semanalmente para evitar escoriações; • Terapêutica tópica: emolientes específicos para a restauração da barreira cutânea e correção/manutenção do Microbioma -> aplicação deve ser feita no corpo todo, preferencialmente dentro de 3 minutos após o banho, para evitar o ressecamento da pele; • Corticoides tópicos são agentes de primeira linha para o tratamento das crises; • Nos casos com infecção secundária ou sinais evidentes de colonização bacteriana está indicado a antibioticoterapia antiestafilocócica; • Algumas vezes são necessários cursos prolongados, pois recidivas são frequentes; 8 Amanda Rocha