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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 5 2 A CRIANÇA NO CONTEXTO SOCIAL ..................................................... 6 2.1 Definições de criança, primeira infância e adolescência .................... 7 2.2 Determinantes de morbimortalidade infantil e juvenil no Brasil .......... 8 3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO Á SAÚDE DA CRIANÇA ........... 12 4 PNAISC – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO Á SAÚDE DA CRIANÇA 14 4.1 Eixos da PNAISC ............................................................................. 15 5 SAÚDE DA CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA – PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA. ...................................................................... 25 5.1 Programa Nacional de Imunização – PNI ......................................... 27 5.2 Programa Saúde na Escola – PSE .................................................. 28 5.3 Atenção à Saúde Bucal .................................................................... 29 5.4 Saúde da Criança nas Redes Temáticas ......................................... 30 5.5 Saúde da Criança na Rede de Atenção Materna, Neonatal e Infantil – Rede Cegonha ..................................................................................................... 33 5.6 Saúde da Criança na Rede de Atenção às Urgências ..................... 35 5.7 A Organização dos Pontos de Atenção da RUE para o Cuidado com a Criança 36 5.8 Saúde da Criança na Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência – RCPD 37 5.9 Saúde da Criança na Rede de Atenção Psicossocial – Raps .......... 39 5.10 Saúde da Criança na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas ............................................................................................... 40 5.11 A Organização dos Pontos de Atenção para o Cuidado de Crianças na Rede 42 6 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL ............................ 43 3 6.1 Fatores Intrínsecos e Extrínsecos .................................................... 44 6.2 O Crescimento Pós-neonatal ........................................................... 45 6.3 Instrumentos de Avaliação do Crescimento Infantil .......................... 45 6.4 O Desenvolvimento Infantil ............................................................... 47 6.5 Avaliação do Desenvolvimento Infantil ............................................. 48 6.6 Alimentação da criança .................................................................... 52 6.7 Aleitamento Materno ........................................................................ 53 6.8 Alimentação Complementar ............................................................. 55 6.9 Desnutrição infantil ........................................................................... 56 6.10 AIDPI – Atenção Integrada a Doenças Prevalente na Infância ..... 59 6.11 PNI – Programa Nacional de Imunização ..................................... 60 7 A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES – SAÚDE MENTAL .................................................................................................... 64 7.1 A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) ......................................... 66 8 SAÚDE DO ADOLESCENTE .................................................................. 67 8.1 Definições de adolescência e juventude .......................................... 68 8.2 Estratégia Iman – Integração de Manejo dos adolescentes e suas necessidades. ...................................................................................................... 69 8.3 Caderneta de Saúde de Adolescentes ............................................. 71 8.4 Famílias com adolescentes .............................................................. 71 8.5 Atenção Integral à Saúde de Adolescentes no Contexto da Socioeducação .................................................................................................... 74 8.6 Crescimento e desenvolvimento do adolescente ............................. 76 8.7 Desenvolvimento físico..................................................................... 77 8.8 Crescimento ..................................................................................... 77 8.9 Problemas no Desenvolvimento Puberal.......................................... 81 8.10 Alimentação e Nutrição ................................................................. 88 8.11 Aspectos comuns e frequentes na alimentação e nutrição ........... 88 4 8.12 Avaliação nutricional de adolescentes .......................................... 89 9 ATENÇÃO INTEGRAL SAÚDE DO ADOLESCENTE ............................ 91 9.1 Consulta ........................................................................................... 91 9.2 Saúde mental ................................................................................... 95 9.3 Planejamento Reprodutivo ............................................................... 95 9.4 Cuidado Integrado na Atenção Básica frente às IST/HIV/aids e Hepatites Virais .................................................................................................... 97 9.5 Gravidez na adolescência ................................................................ 99 9.6 Acompanhamento pré-natal da adolescente .................................. 102 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 105 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 108 5 1 INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a)! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro quase improvável, um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2 A CRIANÇA NO CONTEXTO SOCIAL Fonte: revistacrescer.globo.com A criança, ao longo dos anos, evidenciou inúmeras transformações e ocupou diferentes posições na sociedade. Essas transformações a levou a enfrentar diversas situações de vida e de saúde para, finalmente, depois de muitos anos, ser considerada sujeito social com características particulares. (ARIÉS, 2011 apud ARAÚJO et al., 2014). No século XI, a criança era mundialmente percebida apenas como um adulto em miniatura, sem características ou particularidades individuais, principalmente pelo fato de não possuir a linguagem bem desenvolvida. Sua imagem, por volta do século XV, começou a ser retratada por pintores da época, não por fazer parte de um grupo que necessitasse de atenção específica da sociedade, mas por sua beleza e graciosidade. (SILVA; CHRISTOFFEL e SOUZA, 2005; ARIÉS, 2011 apud ARAÚJO et al., 2014). De acordo com Marcílio (1998) e Ribeiro (2006): No Brasil, essa realidade não se mostrou diferente. O período colonial, por exemplo, foi marcadopor muitas barbáries que contribuíram efetivamente para os altos índices de Mortalidade Infantil (MI), os quais se mantinham próximos a 70%. As crianças eram vistas como um instrumento para as famílias, agentes passivos, amedrontadas pelos cruéis castigos físicos, permanecendo constantemente submetidas ao serviço e ao poder paternos, 7 quando não abandonadas em casas de caridade ou hospitais. (apud ARAÚJO et al., 2014) Para Silva, Christoffel e Souza (2005 apud SILVA, 2013), as crianças eram submetidas à indiferença e crueldades e como se não bastasse, as condições sanitárias e sociais eram precárias, colaborando com o processo de adoecimento. Muitas dessas crianças viviam em um único cômodo, sem arejamento ou sol e, como consequência, o quadro da morbimortalidade infantil tornava-se ainda mais crítico. As precárias condições nutricionais e de vestimenta a que as crianças eram submetidas, era outro agravante. A alimentação e o vestuário adulto eram prioritários entre as comunidades da época. E isso colaborava para agravar o processo de adoecimento infantil e, quando isso acontecia, as crianças eram levadas tardiamente aos médicos. (ARAÚJO et al., 2014). Somente no século XVII que a criança começou a ocupar espaço no âmbito social, pois é neste período que as famílias demonstraram sentimentos de carinho e amor ao infante. A sociedade passou a perceber que a criança representava o centro para as famílias, inclusive plausível de mudanças físicas e mentais. Nessa mesma época foram encontrados os primeiros registros da linguagem infantil. (ARIÉS, 2011 apud ARAÚJO et al., 2014). 2.1 Definições de criança, primeira infância e adolescência Atenção à Saúde da Criança representa uma área prioritária no âmbito dos cuidados à saúde das populações. Para que se desenvolva de forma adequada, além do conhecimento sobre as características relacionadas aos indicadores de morbimortalidade, é necessário compreender os aspectos biológicos, demográficos e socioeconômicos, bem como os demais determinantes sociais no processo de saúde-doença. Os direitos da criança estão consagrados na Constituição Federal de 1988 e reafirmados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), através da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que considera a criança, a pessoa até 12 anos incompletos, e o adolescente, a pessoa entre 12 e 18 anos de idade. (BRASIL, 2018). A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) de 1989 considera a criança todo ser humano com menos de 18 anos de idade. 8 Para efeitos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), o Ministério da Saúde considera criança, a pessoa na faixa etária de 0 a 9 anos, ou seja, até completar os 10 anos, sendo que a Primeira Infância, é considerada aquela de 0 a 5 anos, também, até completar 6 anos. (BRASIL, 2015b, art. 3º). De acordo com Brasil (2016), a definição de primeira infância está alinhada com o Marco Legal da Primeira Infância, Lei n. º 13.257, de 8 de março de 2016. Para atendimento em serviços de Pediatria no SUS, a Política abrange “crianças e adolescentes de zero a 15 anos, ou seja, até completarem 16 anos ou 192 meses, sendo este limite etário passível de alteração de acordo com as normas e rotinas do estabelecimento de saúde responsável pelo atendimento. ” (BRASIL, 2015b apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). A divisão em ciclos de vida, adotada pelo Ministério da Saúde (MS), visa a atender às especificidades nas fases de crescimento e desenvolvimento da criança e o início da puberdade (UNA-SUS/UFSC, 2013 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Trata-se de uma conquista para os adolescentes nos serviços de Pediatria da rede de saúde do País, pela possibilidade de eles continuarem a usufruir do vínculo já construído com estes serviços e seus profissionais, especialmente quando se trata de adolescentes com doenças crônicas. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) define como campo de atuação do pediatra o ser humano entre zero e 20 anos. No entanto, considerando que não existiam parâmetros definidos pelo MS anteriormente, entendeu-se que, no atual momento, diante do perfil de formação dos pediatras e da estrutura dos serviços pediátricos do país, não seria viável responsabilizá-los por faixa etária a partir de 16 anos. (BRASIL, 2016a apud MINISTÉRIO DA SAÚDE,2018). 2.2 Determinantes de morbimortalidade infantil e juvenil no Brasil A taxa de mortalidade infantil é considerada como um dos melhores indicadores não só do estado de saúde infantil como também do nível socioeconômico de uma população. Quanto mais baixa for a taxa de mortalidade infantil de uma população, melhor é a condição social e econômica dessa. 9 Pesquisas realizadas durante o período 1970 – 2000 por diversos órgãos, como IBGE e Ministério da Saúde, apontam questões sobre os determinantes da redução da mortalidade infantil no Brasil. Há diferentes fatores socioeconômicos determinantes na diminuição da taxa de mortalidade infantil que varia de acordo com a região geográfica e o tempo. Entre os anos de 1980 e 2000, a mortalidade de crianças com menos de um ano de idade reduziu-se em um ritmo bastante acelerado. Alguns programas e ações adotados neste período como: Programas de Atenção Integral à Saúde da Mulher, Terapia de Reidratação Oral, Programa Nacional de Imunização e atenção ao pré- natal, contribuíram para o declínio acentuado dos óbitos infantis. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004 apud PAIXÃO e FERREIRA, 2012). As ações no sentido de diminuir significativamente a mortalidade infantil estão muito ligadas à atuação de políticas públicas como saneamento básico, educação, acesso aos recursos da saúde e outros componentes de condições de vida. De acordo com Oliveira et al. (2004), a taxa de mortalidade infantil tem a seguinte definição: A taxa de mortalidade infantil é definida como o número de óbitos de menores de um ano de idade (por mil nascidos vivos), em determinada área geográfica e período, e interpreta-se como a estimativa do risco de um nascido vivo morrer durante o seu primeiro ano de vida. Altas taxas de mortalidade infantil refletem, de maneira geral, baixos níveis de saúde, de condições de vida e de desenvolvimento socioeconômico. As taxas de mortalidade infantil são geralmente classificadas em altas (50 ou mais), médias (20 - 49) e baixas (menos de 20), em função da proximidade ou distância dos valores já alcançados pelas sociedades mais desenvolvidas ao longo do tempo. No entanto, mesmo quando as taxas de mortalidade infantil são baixas no conjunto, podem ser verificadas pronunciadas variações entre distintos segmentos da população. Vários estudos foram feitos para se concluir quais seriam os fatores que influenciam na mortalidade infantil. Os autores Sousa e Maia (2004) exploraram os fatores determinantes das taxas de mortalidade infantil no Nordeste durante o período de 1990 a 2001. Dos resultados obtidos, concluíram que o acesso à água tratada tem efeitos positivos para redução da mortalidade infantil, também foram significativos os indicadores como a taxa de fecundidade e a taxa de alfabetização, bem como a 10 renda per capita, gastos com saúde e saneamento. Para os autores, a inclusão social a partir do acesso à educação, saneamento, saúde e programas de planejamento familiar confirmam a necessidade de uma ação governamental para diminuir as taxas de mortalidade infantil para a região. (PAIXÃO e FERREIRA, 2012 apud SOUSA e MAIA, 2014) Um estudo realizado em 2008, por Irffi et al, para identificar os fatores que determinam a diminuição da mortalidade infantil, na região do Nordeste, identificou que os fatores determinantes foram: a educação e em seguida o nível de renda. Como ponto de grande importância, os autores do estudo focaram as políticas de melhoria que visem o aumento do nível de educação e no aumento darenda para o combate à taxa de mortalidade infantil na região. (PAIXÃO e FERREIRA, 2012). Com o intuito de diminuir a taxa de mortalidade infantil, o Brasil assumiu, na Constituição Federal de 1988, a garantia do direito universal à saúde, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e, em 1990, a proteção integral da criança, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além disso, ratificou os mais importantes pactos, tratados e convenções internacionais sobre os direitos humanos da criança. Desde então, a saúde da criança vem apresentando melhora significativa. O País conquistou grande diminuição nas taxas de mortalidade infantil (menores de 1 ano) e de mortalidade na infância (menores de 5 anos), tendo com isso cumprido o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) número quatro para 2015, com três anos de antecedência e com redução de 77%, uma das maiores do mundo. Também se observa admirável controle da morbimortalidade por doenças imunopreveníveis e diarreia, grande diminuição dos índices de desnutrição e melhora crescente nos indicadores de aleitamento materno. 11 Fonte: estudopratico.com.br Por outro lado, o Brasil vem enfrentando novos desafios. A identificação de novos agentes infecciosos e o ressurgimento de doenças, até então consideradas sob controle, ao lado dos efeitos do envelhecimento populacional e da violência urbana, estão hoje como centro das atenções de profissionais da saúde, acadêmicos, gestores, agentes e atores de políticas públicas, das instituições governamentais e não governamentais. Os mesmos determinantes que, acreditava-se, reduziriam as doenças infecciosas também podem atuar na direção inversa, propiciando o surgimento e a disseminação de novas e antigas doenças infectoparasitárias. As altas taxas de parto cesáreo e da prematuridade, ao mesmo tempo em que crescem a prevalência da obesidade na infância e os óbitos evitáveis por causas externas (acidentes e violências), além das doenças em razão das más condições sanitárias, apontam a complexidade sociocultural e de fenômenos da sociedade contemporânea que afetam a vida das crianças. Segundo a Organização das Nações Unidas (2015), conforme citado por Ministério da Saúde (2018): Apesar dos avanços nos indicadores de saúde infantil e dos investimentos nas políticas públicas federais voltadas à saúde da criança, como a Rede de Atenção à Saúde Materna, Neonatal e Infantil (Rede Cegonha), o Programa Intersetorial Brasil Carinhoso e o Programa Criança Feliz, fica evidente a necessidade de ampliar o enfrentamento das iniquidades relacionadas às condições de saúde e, ao mesmo tempo, universalizar todos os avanços para grupos de maior vulnerabilidade, tais como as 12 crianças indígenas, quilombolas, ribeirinhas, com deficiências e as com doenças raras, além de garantir não só a sobrevivência, mas o desenvolvimento integral de todas as crianças, condição essencial para o exercício da cidadania e a garantia do desenvolvimento nacional, bem como para o cumprimento dos compromissos do País diante das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2015-2030 (ODS). 3 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENÇÃO Á SAÚDE DA CRIANÇA Fonte: primeirainfancia.org.br A Atenção Primária à Saúde (APS) na concepção mais abrangente e contemporânea pode ser compreendida como estratégia de reorganização do sistema de atenção à saúde. A partir deste entendimento a APS desempenha papel singular com potencial de reordenar recursos do sistema de saúde para satisfazer as demandas da população, condição que implica em considerá-la como parte coordenadora de uma Rede de Atenção à Saúde (RAS). (MENDES, 2015 apud DAMASCENO, 2016) Nesse contexto, destacam-se importantes instrumentos legislativos, a exemplo da portaria n° 2.488 de 2011, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, definindo a organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS), como estratégia para um cuidado integral e direcionado às necessidades de saúde da população, em cada fase da vida. 13 Fonte: pscriancaeadolescente.blogspot.com No tocante à saúde da criança, em 2015, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC) com a Portaria n° 1.130, a qual sintetiza de maneira clara e objetiva os eixos de ações que compõem a atenção integral à saúde da criança. (BRASIL, 2015 apud DAMASCENO, 2016) O documento aponta estratégias e dispositivos para a articulação das ações e dos serviços de saúde, a fim de facilitar sua implementação pelas gestões estadual e municipal e pelos profissionais de saúde. A elaboração da PNAISC foi fruto de amplo e participativo processo de construção coletiva, com início no ano de 2012, liderado pela Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (CGSCAM), do Ministério da Saúde, e com apoio conceitual e metodológico da Estratégia Brasileirinhas e Brasileirinhos Saudáveis (EBBS), do Instituto Fernandes Figueira (IFF) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). (ALMEIDA, 2013 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Nessa perspectiva, a PNAISC se organiza a partir das redes de atenção à saúde e de seus eixos estratégicos, na qual a APS configura-se como coordenadora do cuidado à criança e ponto central desse processo. 14 4 PNAISC – POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO Á SAÚDE DA CRIANÇA A PNAISC passou por discussão e aprovação no Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e no Conselho Nacional de Saúde (CNS), possibilitando que fosse publicada a Portaria GM/MS n. º 1.130, de 5 de agosto de 2015, instituindo a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC). De acordo com o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF): A Pnaisc está estruturada em princípios, diretrizes e eixos estratégicos. Tem como objetivo promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante atenção e cuidados integrais e integrados, da gestação aos nove anos de vida, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento. Fonte: slideshare.net Dentre os eixos estratégicos destacam-se: aleitamento materno e alimentação complementar saudável; promoção e acompanhamento do crescimento e desenvolvimento integral; atenção a crianças com agravos prevalentes na infância e com doenças crônicas; atenção à saúde de crianças com deficiência ou em situações específicas e de vulnerabilidade; vigilância e prevenção do óbito infantil, fetal e materno. (BRASIL,2015 apud DAMASCENO, 2016). 15 4.1 Eixos da PNAISC Fonte: slideplayer.com.br A PNAISC se estrutura em 7 (sete) eixos estratégicos, com a finalidade de orientar e qualificar as ações e serviços de saúde da criança no território nacional, considerando os determinantes sociais e condicionantes para garantir o direito à vida e à saúde, visando à efetivação de medidas que permitam o nascimento e o pleno desenvolvimento na infância, de forma saudável e harmoniosa, bem como a redução das vulnerabilidades e riscos para o adoecimento e outros agravos, a prevenção das doenças crônicas na vida adulta e da morte prematura de crianças.(BRASIL, 2015) 1) Eixo Estratégico I – Atenção Humanizada e Qualificada à Gestação, ao Parto, ao Nascimento e ao Recém-Nascido A atenção integral à gestação, ao parto e ao nascimento inicia-se com a visão abrangente de saúde integral da mulher (Paism) e promoção da saúde sexual e reprodutiva, desde a adolescência. Enfoca a fisiologia, o protagonismo e autonomia 16 da mulher neste processo, contrapondo-se à abordagem predominante de medicalização com intervenções excessivas e, muitas vezes, prejudiciais para a saúde da mulher e dobebê. Deve incluir situações especiais como atenção às mulheres em situação de violência, a prevenção e abordagem da gravidez não planejada e a de alto risco, a assistência à infertilidade e atenção diferenciada a situações de risco, as doenças ou problemas com identificação e os tratamentos oportunos para prevenção de complicações. (BRASIL, 1984 apud BRASIL, 2018). De acordo com Ministério da Saúde (2015, art. 7º) da PNAISC, são ações estratégicas do eixo de atenção humanizada e qualificada à gestação, ao parto, ao nascimento e ao recém-nascido: A prevenção da transmissão vertical do HIV e da sífilis. A atenção humanizada e qualificada ao parto e ao recém-nascido no momento do nascimento, com capacitação dos profissionais de enfermagem e médicos para prevenção da asfixia neonatal e das parteiras tradicionais. A atenção humanizada ao recém-nascido de baixo peso, com a utilização do “Método Canguru”. A qualificação da atenção neonatal na rede de saúde materna, neonatal e infantil, com especial atenção aos recém-nascidos graves ou potencialmente graves, internados em Unidade Neonatal, com cuidado progressivo entre a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN), a Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCo) e a Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa). A alta qualificada do recém-nascido da maternidade, com vinculação da dupla mãe-bebê à Atenção Básica, de forma precoce, para continuidade do cuidado, a exemplo da estratégia do “5º Dia de Saúde Integral”, que se traduz em um conjunto de ações de saúde essenciais a serem ofertadas para a mãe e bebê pela Atenção Básica à Saúde no primeiro contato após a alta da maternidade. O seguimento do recém-nascido de risco, após a alta da maternidade, de forma compartilhada entre a Atenção Especializada e a Atenção Básica. As triagens neonatais universais. 17 2) Eixo Estratégico II – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável Estratégia ancorada na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, iniciando na gestação, considerando-se as vantagens da amamentação para a criança, a mãe, a família e a sociedade, bem como a importância de estabelecimento de hábitos alimentares saudáveis (BRASIL, 2015b, art. 6º, item II). O aleitamento materno tem se constituído em tema fundamental para a saúde e a qualidade de vida da criança. Evidências científicas comprovam que a amamentação, quando praticada de forma exclusiva até os 6 meses e complementada com alimentos apropriados até os 2 anos de idade ou mais, demonstra grande potencial transformador no crescimento, no desenvolvimento e na prevenção de doenças na infância e idade adulta e promoção não apenas da sobrevivência infantil, mas do pleno desenvolvimento do ser humano. As políticas públicas de aleitamento materno do Brasil, historicamente, têm trabalhado sob a ótica da promoção, da proteção e do apoio à mulher, começando no início da gestação, considerando as vantagens da amamentação para a criança, a mãe, a família e a sociedade, constituindo-se em prioridade para o País (ESPIRITO SANTO; MONTEIRO; ALMEIDA, 2017 apud BRASIL, 2018). As ações, iniciativas e estratégicas do eixo de aleitamento materno e alimentação complementar saudável são: (BRASIL, 2015b, art. 8º apud BRASIL, 2018) A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (Ihac). Estratégia Nacional para Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no SUS – Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil (EAAB). A ação de apoio à Mulher Trabalhadora que Amamenta (MTA). A Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH). A implementação da Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes, para Crianças de Primeira Infância, Bicos Chupetas e Mamadeiras (Nbcal). A mobilização social em aleitamento materno. 18 3) Eixo Estratégico III – Promoção e Acompanhamento do Crescimento e do Desenvolvimento Integral Consiste na vigilância e estímulo do pleno crescimento e desenvolvimento da criança, em especial do “Desenvolvimento na Primeira Infância (DPI) ”, pela Atenção Básica à saúde, conforme as orientações da Caderneta de Saúde da Criança, incluindo ações de apoio às famílias para o fortalecimento de vínculos familiares (BRASIL, 2015b, art. 6º, item III apud BRASIL, 2018). Este eixo estratégico da Pnaisc constitui uma das preocupações mais tradicionais da saúde pública nacional quando se trata da saúde da criança. Segundo Brasil (2018): A primeira infância (período de vida entre zero a 5 anos ou até completar 6 anos, equivalente a 72 meses), é decisiva para o desenvolvimento saudável do ser humano. É um ciclo de grande promessa e, ao mesmo tempo, de ameaças consideráveis. As evidências mostram que as suas experiências familiares e sociais, quanto mais precoces, ficam incorporadas biologicamente, podendo ter influências nas etapas ao longo da vida, tanto positivas quanto negativas, pois afetam as bases da aprendizagem, do comportamento e da saúde. A seguir, destacam-se as ações estratégicas do eixo de promoção e acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento integral: (BRASIL, 2015b, art. 9º apud BRASIL, 2018) A disponibilização da Caderneta de Saúde da Criança, com atualização periódica de seu conteúdo. A qualificação do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da primeira infância pela Atenção Básica à Saúde. O Comitê de Especialistas e de Mobilização Social para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O apoio à implementação do Plano Nacional pela Primeira Infância. 4) Eixo Estratégico IV – Atenção Integral a Crianças com Agravos Prevalentes na Infância e com Doenças Crônicas 19 Consiste em estratégia para o diagnóstico precoce e a qualificação do manejo de doenças prevalentes na infância e ações de prevenção de doenças crônicas e de cuidado dos casos diagnosticados, com o fomento da atenção e internação domiciliar sempre que possível (BRASIL, 2015b, art. 6º, item IV apud BRASIL, 2018). Nas últimas décadas, tem-se observado importante mudança no perfil de morbimortalidade da população brasileira, denominada de “transição epidemiológica”, caracterizada pela redução das doenças infectocontagiosas, aumento das doenças crônicas não transmissíveis e, mais recentemente, o aumento de casos de anomalias congênitas. A transição epidemiológica ocorre devido a fatores como a urbanização, o acesso aos serviços de saúde, os meios de diagnóstico e as mudanças culturais expressivas. No Brasil, porém, esta transição apresenta características particulares, decorrentes das diferenças sociais, econômicas e regionais, e o envelhecimento da população, apresentando assim um modelo de transição onde ainda temos significativa ocorrência de agravos causados por doenças infectocontagiosas e, ao mesmo tempo, o crescimento da morbimortalidade por doenças crônicas não transmissíveis. Tais mudanças criaram novas demandas para o sistema de saúde, que precisa assistir as crianças que apresentam condições crônicas de saúde com uma gama variada de etiologias e prevalências distintas, que vão desde doenças como problemas alérgicos, obesidade, diabetes, hipertensão, distúrbios neurológicos, câncer e problemas de saúde mental até doenças raras como síndromes genéticas e metabólicas, lembrando ainda, que as condições crônicas de saúde apresentam um largo espectro de gravidade (MOREIRA; GOMES; SÁ, 2014). São ações estratégicas do eixo de atenção integral a crianças com doenças crônicas: (BRASIL, 2015b, art. 10 apud BRASIL, 2018) A Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (Aidpi). A construção de diretrizes de atenção e linhas de cuidado. O fomento da atenção e internação domiciliar. 20 Atenção Integradaàs Doenças Prevalentes na Infância – Aidpi A estratégia “Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância” (Aidpi) tem por objetivo diminuir a morbidade e mortalidade de crianças entre zero a 5 anos de idade, por meio da melhoria da qualidade da atenção prestada à criança por profissionais de saúde, em especial na Atenção Básica à Saúde, promovendo ações de promoção e prevenção em saúde infantil, diminuindo a mortalidade por estas doenças, não apenas investindo na sobrevivência das crianças, mas também no seu pleno desenvolvimento infantil (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2005 apud BRASIL, 2018). Trata-se de uma abordagem da Atenção Integral à Saúde da Criança, desenvolvida originalmente pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que teve início no Brasil no ano 1996. Caracteriza-se pela consideração simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior prevalência na infância, em vez do enfoque tradicional que busca abordar cada doença isoladamente, como se ela fosse independente das demais doenças que atingem a criança e do contexto em que ela está inserida. Segundo o Ministério da Saúde (2018), o Aidpi: Propõe-se melhor organização dos serviços de saúde, ações de prevenção de agravos e promoção da saúde, além da melhora do acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento nos primeiros anos de vida. Estes são primordiais para criarmos condições que visam garantir futuras gerações de adultos e idosos mais saudáveis. 5) Eixo Estratégico V – Atenção Integral à Criança em Situação de Violências, Prevenção de Acidentes e Promoção da Cultura de Paz Consiste em articular um conjunto de ações e estratégias da rede de saúde para a prevenção de violências, acidentes e promoção da cultura de paz, além de organizar metodologias de apoio aos serviços especializados e processos formativos para a qualificação da atenção à criança em situação de violência de natureza sexual, física e psicológica, negligência e/ou abandono, visando à implementação de linhas de cuidado na Rede de Atenção à Saúde e na rede de proteção social no território (BRASIL, 2015b, art. 6º, item V apud BRASIL, 2018). 21 Para efeito da política, considera-se como violência “quaisquer atos ou omissões dos pais, responsáveis, instituições e, em última instância da sociedade em geral, que redundam em dano físico, emocional, sexual e moral” (BRASIL, 2010d, p. 28), abrangendo ainda a negligência e/ou abandono. O termo acidente é consagrado pelo uso, contudo, podemos assumir que tais eventos são, em maior ou menor grau, previsíveis e preveníveis, retirando-lhes, assim, a conotação fortuita e casual que lhe pode ser atribuída (BRASIL, 2001a). Para ambos os agravos, tanto os acidentes como as violências, devem-se investir em ações de prevenção e de promoção da cultura de paz, considerando-se que são eventos evitáveis. As medidas normativas, especialmente o Estatuto da Criança e do Adolescente, repudiam a violência, definindo, no Art. 5º da Lei, que “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. ” (BRASIL, 1990). De acordo com a Lei n. º 13.010, de 26 de junho de 2014, “A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto [...] ” (BRASIL, 2014). A Pnaisc define como ações estratégicas do eixo de atenção integral à criança em situação de violências, prevenção de acidentes e promoção da cultura de paz: (BRASIL, 2015b, art. 11 apud BRASIL, 2018) O fomento à organização e qualificação dos serviços especializados para atenção integral a crianças e suas famílias em situação de violência sexual. A implementação da “Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências”. A articulação de ações intrassetoriais e intersetoriais de prevenção de acidentes, violências e promoção da cultura de paz. O apoio à implementação de protocolos, planos e outros compromissos sobre o enfrentamento às violações de direitos da criança pactuados com instituições governamentais e não governamentais, que compõem o sistema de garantia de direitos. 22 Destacam-se ações a serem desenvolvidas, nas três esferas de gestão do SUS, para o estímulo à cultura de paz, a direitos humanos e a não violência: Realização de campanhas informativas e educativas sobre a prevenção de violências contra crianças e estímulo à cultura de paz, articuladas de forma intra e intersetorial, direcionadas às famílias, mas também para a comunidade escolar. Articulação de ações intersetoriais para o desenvolvimento integral da criança e a promoção da cultura de paz, visando ao empoderamento e fortalecimento das competências familiares para bom vínculo afetivo e para educação com limites, mas sem violência. Capacitação permanente dos profissionais das políticas sociais básicas (educação e assistência) para o desenvolvimento de competências necessárias para a prevenção, a identificação de sinais e sintomas de violências e para o cuidado dessas situações. 6) Eixo Estratégico VI – Atenção à Saúde de Crianças com Deficiência ou em Situações Específicas e de Vulnerabilidade Consiste na articulação de um conjunto de estratégias intrassetoriais e intersetoriais, para inclusão dessas crianças nas redes temáticas de atenção à saúde, mediante a identificação de situação de vulnerabilidade e risco de agravos e adoecimento, reconhecendo as especificidades deste público para uma atenção resolutiva. (BRASIL, 2015b, art. 6º, item VI apud BRASIL, 2018). Para esta política, as crianças com Deficiência ou em Situações específicas e/ou de Vulnerabilidade são as que demandam ações estratégicas e serviços de saúde prioritários, que em regra geral devem ser articulados com outras políticas públicas. Crianças com deficiência são aquelas que nascem ou adquirem algum tipo de deficiência de natureza física, mental, intelectual ou sensorial – com alguma repercussão no desenvolvimento neuropsicomotor. 23 São consideradas crianças em situações específicas as crianças indígenas, quilombolas, do campo e da floresta, ribeirinhas e/ou das águas, entre outras. Em situação de vulnerabilidade as crianças em serviços de acolhimento institucional, filhos e filhas de mães privadas de liberdade (com atenção especial para as mães adolescentes), em situação de rua (incluindo famílias com crianças, mulheres e adolescentes gestantes), famílias e crianças em áreas de risco de desastres. O trabalho infantil, um grave problema social, expõe a criança às mais diversas situações de vulnerabilidade, que afetam o seu desenvolvimento biológico, social e psicológico. A atenção à saúde de crianças com Deficiência ou em Situações Específicas e de Vulnerabilidade dispõe das seguintes ações estratégicas: (BRASIL, 2015b, art. 12 apud BRASIL,2018) A articulação e a intensificação de ações para inclusão de crianças com deficiências, indígenas, negras, quilombolas, do campo, das águas e da floresta, e crianças em situação de rua, entre outras, nas redes temáticas. O apoio à implementação do protocolo nacional para a proteção integral de crianças e adolescentes em situação de risco e desastres. O apoio à implementação das diretrizes para atenção integral à saúde de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil. 7) Eixo Estratégico VII – Vigilância e Prevenção do Óbito Infantil, Fetal e Materno Consiste na contribuição para o monitoramento e investigação da mortalidadeinfantil e fetal e possibilita a avaliação das medidas necessárias para a prevenção de óbitos evitáveis. (BRASIL, 2015b, art. 6º, item I apud BRASIL, 2018). A Vigilância do óbito infantil, fetal e materno é considerada uma estratégia importante para a gestão e para a clínica na saúde da mulher e da criança. Contribui para o monitoramento da mortalidade infantil e fetal, para a melhoria dos registros dos óbitos, orienta as ações de intervenção para a prevenção de óbito e subsidia a avaliação e ação sobre o contexto social e econômico da família. 24 Por meio de suas múltiplas etapas possibilita ainda a avaliação das ações e dos serviços de saúde e contribui no processo formativo permanente dos profissionais envolvidos por meio de ações de sensibilização e estudos de caso. A vigilância do óbito infantil, fetal e materno é de responsabilidade do gestor municipal e deve ser realizada pela equipe de Atenção Básica para levantamento dos possíveis problemas que envolveram a morte de uma mulher, um feto ou uma criança por causa evitável na sua área de responsabilidade, considerado evento- sentinela. Também deve ser feita pelas maternidades e hospitais onde são realizados partos. Possibilita a avaliação das medidas necessárias para a prevenção de óbitos evitáveis pelos serviços de saúde e redução da mortalidade materna, infantil e perinatal. (BRASIL, 2008a, 2010b apud BRASIL, 2018) A interface entre a vigilância do óbito infantil, fetal e materno se faz necessária, na medida em que os problemas relacionados a estes óbitos são semelhantes e as ações de prevenção podem beneficiar a mulher e a criança. Ainda, é importante destacar a repercussão de um óbito materno sobre a vida da criança que sobrevive (BRASIL, 2008a, 2010b apud BRASIL, 2018). Devem ser realizadas: Identificação, levantamento dos dados da atenção ambulatorial, urgência e hospitalar, entrevista domiciliar e análise dos óbitos de mulheres em idade fértil e óbitos maternos, fetais e infantis da área de abrangência da unidade/município/regional/estado; utilização dos instrumentos recomendados pelo MS. Análise da evitabilidade dos óbitos maternos fetais e infantis, em reuniões locais, e identificação das medidas necessárias para prevenção de novas ocorrências. 25 5 SAÚDE DA CRIANÇA NA ATENÇÃO BÁSICA – PROGRAMAS DE ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA. Fonte: atarde.uol.com.br O cuidado da criança demanda visão de integralidade em todos os aspectos, contemplando postura acolhedora com escuta qualificada, olhar zeloso e estabelecimento de vínculo e responsabilização. Da mesma maneira, é necessária a visão integral dos demais pontos da Rede de Atenção à Saúde, potencializando os recursos disponíveis para oferecer a resposta mais adequada, completa e resolutiva à necessidade da criança. O foco dos profissionais deve ser a criança, dentro do contexto da sua família e sociedade. Segundo o Ministério da Saúde (2018): A organização da atenção à saúde em linhas de cuidado, a partir da Atenção Básica, é uma estratégia que favorece a tão desejada atenção integral, com a continuidade do cuidado, desde as ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, até as medidas de tratamento, cuidado e reabilitação, com um fluxo ágil e oportuno em cada nível de atenção, com referência e contra referência responsável, até o alcance de uma situação satisfatória (apud BRASIL, 2005a). A Política Nacional de Atenção Básica (Pnab) tem na Estratégia de Saúde da Família (ESF) sua âncora prioritária para expansão e consolidação deste nível de atenção. A qualificação da ESF e de outras ações, iniciativas e programas seguem as diretrizes da Pnab e do SUS, configurando um processo progressivo e singular, 26 considerando as especificidades locorregionais. (BRASIL, 2012f apud BRASIL, 2018) O Ministério da Saúde (2018) discorre sobre os problemas de saúde das crianças atendidas na atenção básica: Parte significativa dos problemas de saúde da criança atendidos na Atenção Básica, complexos e multifatoriais, como obesidade e outras doenças crônicas, agravos psicossociais/comportamentais, dificuldades escolares, situações familiares de violência, uso de drogas etc., não é passível de enfrentamento sem abordagem multiprofissional e em rede intrassetorial na saúde (com suporte de Nasf e serviços de referência especializados e outros) e intersetorial, abrangendo envolvimento da escola (ofertado pelo PSE) e de outros equipamentos públicos frequentados pela criança e sua família, como parques, praças de esportes, espaços culturais etc. (apud ALMEIDA, 2008) A Atenção Básica caracteriza-se como conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde, com o objetivo de desenvolver uma atenção integral, contínua e organizada, que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. (BRASIL, 2012f apud BRASIL, 2018) Como prevê a Pnab, além da atenção à demanda espontânea, é fundamental que a ESF a equilibre a com o desenvolvimento de ações de saúde integral para a criança e também para a mulher, em especial na saúde sexual e reprodutiva, e para a gestante. Além da oferta das ações programáticas tradicionais, como o acompanhamento do crescimento e o desenvolvimento da criança (puericultura) e do pré- -natal, outros grupos de maior risco/vulnerabilidade, como crianças com agravos sociais, nutricionais (obesidade/desnutrição), psicossociais (crianças com dificuldades escolares, famílias com dificuldades relacionais afetando a criança), clínicos (asma e outros problemas crônicos e agravos de importância epidemiológica local, priorizados pela ESF), podem e devem ser selecionados para acompanhamento longitudinal, seja em atendimentos individuais, pelo médico ou profissional de enfermagem ou ainda grupais. 27 5.1 Programa Nacional de Imunização – PNI Fonte: agrolandia.sc.gov.br As ações de vacinação são coordenadas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), com o objetivo de erradicar, eliminar e controlar as doenças imunopreveníveis no território brasileiro. Os registros, na Caderneta de Saúde da Criança, das vacinas do Calendário Nacional de Vacinação recebidas pela criança, devem ser sempre observados pelos profissionais da Atenção Básica e mesmo de outros serviços de saúde que venham a ter contato com ela, com objetivo de que esteja sempre com a vacinação atualizada. (BRASIL, 2014i apud BRASIL, 2018) De acordo com a Portaria n 1.533 de 18 de agosto de 2016, o calendário de vacinação para crianças indígenas, foi adaptado para atender as especificidades daquela população e respeitando também os aspectos culturais envolvidos. Também é adaptado às circunstâncias operacionais e epidemiológicas das crianças comprovadamente infectadas pelo HIV. (BRASIL, 2016) Os serviços devem garantir o funcionamento contínuo da sala de vacina, sem restrição de horários, de forma a não perder oportunidades de vacinar todas as crianças. As atividades da sala de vacinação são desenvolvidas pela equipe de Enfermagem treinada e capacitada para o manuseio, a conservação, o preparo e a 28 administração, o registro e o descarte dos resíduos das atividades de vacinação. A vacinação segura é fator determinante para o sucesso dessa iniciativa e todos os possíveis eventos adversos devem ser notificados para possibilitar a avaliação e a investigação de suas causas. O PNI disponibiliza Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) distribuídos nas 27 unidades federadas, com infraestrutura e logística específica, profissionais especializados e destinados ao atendimento de pessoas com quadros clínicos especiais, ou seja, grupospopulacionais com condições que justificam a utilização dos imunobiológicos especiais, como por exemplo, os recém- nascidos, especialmente prematuros, crianças com imunodeficiências congênitas, crianças expostas ou infectadas pelo HIV e outras crianças em situações específicas. (BRASIL, 2006b apud BRASIL, 2018) 5.2 Programa Saúde na Escola – PSE Fonte: educacao.rs.gov.br A nova concepção em saúde na escola foi incorporada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em 1997, consagrando o tema da saúde como transversal às disciplinas e às ações no contexto escolar, nas dimensões da promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos e de atenção e cuidados à saúde de crianças e adolescentes. 29 As Políticas de Saúde e de Educação investiram no Programa Saúde na Escola (PSE), instituído pelo Decreto Presidencial n. º 6.286, de 5 de dezembro de 2007 (BRASIL, 2007c apud BRASIL, 2018), tendo como principais desafios o uso de estratégias pedagógicas coerentes com a produção de educação e saúde integral, fundamental para produzir autocuidado, autonomia e participação dos escolares de acordo com a idade que se encontram. A organização das ações do PSE, por meio das equipes das Unidades Básicas de Saúde e das escolas, está estruturada de forma intersetorial, segundo os seguintes componentes: avaliação das condições de saúde, promoção da saúde e prevenção de doenças e agravos, e formação de profissionais de saúde e educação. A gestão do PSE é centrada em ações intersetoriais, que requerem a articulação das redes de Saúde, de Educação e dos demais setores, por meio de Grupos de Trabalho Intersetorial (GTI), nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal. 5.3 Atenção à Saúde Bucal Fonte: ptnosenado.org.br A Política Nacional de Saúde Bucal, intitulada Brasil Sorridente, pauta-se nos princípios e nas diretrizes do SUS. Na Atenção Integral à Saúde da Criança essa política se insere de forma transversal, integral e intersetorial nas linhas de cuidado 30 direcionadas à mulher e à criança, com o objetivo de promover a qualidade de vida desse público, por meio das ações de promoção, prevenção, cuidado, qualificação e vigilância em saúde (BRASIL, 2004a apud BRASIL, 2018). O acesso à saúde bucal deve ter início no pré-natal e será incorporado no acompanhamento do crescimento e no desenvolvimento da criança. A equipe de saúde deve trabalhar de forma articulada, encaminhando a gestante para a consulta odontológica ao iniciar o pré-natal. Deve-se garantir ao menos uma consulta odontológica durante o pré-natal, com agendamento das demais consultas, conforme as necessidades individuais da gestante. A equipe de Saúde Bucal deverá efetuar os registros das ações realizadas nas Cadernetas de Saúde da Criança e da Gestante (BRASIL, 2004a, 2008b apud BRASIL, 2018). Nas ações de saúde direcionadas à criança, recomenda-se que todos os profissionais da equipe de saúde incorporem, em sua rotina, o exame da cavidade bucal das crianças e orientações aos pais e responsáveis sobre prevenção de doenças e agravos e de promoção da saúde bucal, enfatizando a importância do acompanhamento da saúde bucal e direcionando a criança para as consultas odontológicas periódicas, evitando assim que o acesso ocorra tardiamente devido à doença já instalada (COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE apud 2008BRASIL, 2018). O ambiente escolar é também um espaço eficiente para o desenvolvimento de atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde bucal, desenvolvido pelo Programa Saúde na Escola (PSE). Os profissionais de saúde devem desenvolver, com os educandos, atividades de escovação supervisionada, aplicação de flúor nos casos necessários e atividades educativas em sala de aula, com o envolvimento de outros temas de saúde (alimentação saudável, autoestima, autocuidado, entre outros) e no próprio território, além da realização anual da avaliação da saúde bucal dos escolares (BRASIL, 2004a, 2012h apud BRASIL, 2018). 5.4 Saúde da Criança nas Redes Temáticas As Redes de Atenção à Saúde (RAS) são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas que, integradas por meio 31 de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado. Reúne um conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde, em consonância com as diretrizes para a organização da RAS, no âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL,2010). A Portaria n. º 4.279, de 30 de dezembro de 2010, “Estabelece diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). ” São atributos da RAS, essenciais ao seu funcionamento, de acordo com a portaria: População e território definidos com amplo conhecimento de suas necessidades e preferências que determinam a oferta de serviços de saúde. Extensa gama de estabelecimentos de saúde que prestam serviços de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento, gestão de casos, reabilitação e cuidados paliativos e integram os programas focalizados em doenças, riscos e populações específicas, os serviços de saúde individuais e os coletivos. Atenção Básica à Saúde estruturada como primeiro nível de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, constituída de equipe multidisciplinar que cobre toda a população, integrando, coordenando o cuidado, e atendendo às suas necessidades de saúde. Prestação de serviços especializados em lugar adequado. Existência de mecanismos de coordenação, continuidade do cuidado e integração assistencial por todo o contínuo da atenção. Atenção à saúde centrada no indivíduo, na família e na comunidade, tendo em conta as particularidades culturais, gênero, assim como a diversidade da população. Sistema de governança único para toda a rede com o propósito de criar missão, visão e estratégias nas organizações que compõem a Região de Saúde; definir objetivos e metas que devam ser cumpridos no curto, médio e longo prazos; articular as políticas institucionais; e desenvolver a capacidade de gestão necessária para planejar, monitorar e avaliar o desempenho dos gerentes e das organizações. 32 Participação social ampla. Gestão integrada dos sistemas de apoio administrativo, clínico e logístico. Recursos humanos suficientes, competentes, comprometidos e com incentivos pelo alcance de metas da rede. Sistema de informação integrado que vincula todos os membros da rede, com identificação de dados por sexo, idade, lugar de residência, origem étnica e outras variáveis pertinentes. Financiamento tripartite, garantido e suficiente, alinhado com as metas da rede. Ação intersetorial e abordagem dos determinantes da saúde e da equidade em saúde. Gestão baseada em resultados. Fonte: PNAISC, 2018 A elaboração de protocolos clínicos assistenciais e também de Linhas de Cuidado, definindo as ações e os serviços que devem ser desenvolvidos nos diferentes pontos de atenção de uma rede e os fluxos assistenciais a serem percorridos pelos usuários, constitui outra estratégia que, além de organizar e facilitar o percurso terapêutico destes usuários, sendo formulados conjuntamente por profissionais destes diferentes serviços, também pode servir de importante elemento de integração entre eles. A partir de pactuação tripartite, em 2011, baseada na necessidade de enfrentamentos de vulnerabilidades, agravos ou doenças mais prevalentes, foi priorizada a estruturação de Redes Temáticas, tendo sido criadas as seguintes: Rede Cegonha, abrangendo a atenção à gestante e atenção à criança até 24 meses. Rede de Atenção às Urgências e Emergências. Rede de Atenção Psicossocial (com prioridade para oenfrentamento do álcool, crack, e outras drogas). Rede de Atenção às Doenças e Condições Crônicas: iniciando-se pelo câncer (a partir da intensificação da prevenção e controle do câncer de mama e colo do útero). Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência. 33 5.5 Saúde da Criança na Rede de Atenção Materna, Neonatal e Infantil – Rede Cegonha Fonte: redehumanizasus.net Conceitua-se que a saúde da criança se inicia na gravidez, há muitas décadas, conforme o Decreto-Lei n. º 2.024, de 17 de fevereiro de 1940 (BRASIL, 1940), e, mais recentemente, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. º 8.069, de 13 de julho de 1990. Em 2011, o Ministério da Saúde, lançou a Rede de Atenção Materna, Neonatal e Infantil – Rede Cegonha (RC), Portaria n.º 1.459, de 24 de junho de 2011 (BRASIL, 2011a), com o objetivo de garantir o acesso oportuno, com resolutividade e qualificação da assistência, com a implementação de um novo modelo de atenção à gestação, ao parto e ao nascimento e à criança, visando promover a saúde neste ciclo da vida e reduzir a morbimortalidade materna, fetal e infantil, com ênfase no componente neonatal (BRASIL, 2011a apud BRASIL, 2018). Trata-se de uma estratégia para fortalecer a integração entre as ações de saúde da mulher e da criança até os 2 anos, momento da vida de grande vulnerabilidade e maior necessidade de proteção, colocada como prioridade para as políticas públicas de saúde. Assim como as mortes maternas, as mortes infantis concentram-se nas primeiras 24 a 48 horas após o parto, e a RC visa à redução de mortes evitáveis por ação dos serviços de saúde. 34 Do ponto de vista da criança, a Rede Cegonha tem por objetivo a promoção da gravidez saudável e do respeito à fisiologia dos processos da transição da vida intra para a vida extrauterina, às suas necessidades de maturação, ao seu tempo e à sua capacidade de desenvolvimento pleno. Incentiva a preservação desta fisiologia humana em que o trabalho de parto exerce influências profundas e positivas sobre o bebê: A liberação de ocitocina endógena e cortisol da mãe que promove a maturação final da criança, do sistema nervoso e respiratório; A liberação de líquidos pulmonares pela passagem pelo canal de parto e a colonização bacteriana que estimula o sistema imunológico e aponta associação com menor redução de risco de obesidade, diabetes, hipertensão, asma e autismo, maior interação mãe-filho e melhores resultados perinatais de forma geral. Trata-se de ação de promoção da saúde e de prevenção de agravos na vida adulta, de problemas de grande dimensão e impacto na saúde da população. Conforme preconizado na legislação, nas políticas e nas diretrizes nacionais e baseada nos direitos e nas evidências científicas, a Rede Cegonha se estrutura com: Acesso em tempo oportuno a todos os níveis de atenção: básica, especializada ambulatorial e hospitalar, na gestação, no parto e no cuidado à puérpera e à criança, com a regionalização e hierarquização do cuidado segundo planejamento local. Atenção qualificada baseada em evidências. Regulação da atenção de saúde com implementação das centrais de internação e outros dispositivos para priorização, organização e promoção de equidade. Controle social e incentivo a dispositivos para implementação da cogestão: trabalho colaborativo multidisciplinar e participação social nos processos de decisão e assistencial, apoio à informação adequada e exercício de direitos de cidadania e de autonomia, fomento à constituição dos Fóruns Perinatais (distritais/municipais/regionais e estaduais) para o 35 planejamento, a avaliação e a tomada de decisão transparente e participativa, envolvendo os diversos atores. 5.6 Saúde da Criança na Rede de Atenção às Urgências Fonte: edisciplinas.usp.br A organização da Rede de Atenção às Urgências (RUE) tem a finalidade de articular e integrar todos os equipamentos de saúde, objetivando ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e emergência nos serviços de saúde, de forma ágil e oportuna (BRASIL, 2011b apud BRASIL, 2018). Entre as diretrizes da Rede de Atenção às Urgências temos: A ampliação do acesso e acolhimento, contemplando a classificação de risco e a intervenção adequada aos diferentes agravos; A garantia da universalidade, equidade e integralidade no atendimento às urgências; A humanização da atenção, garantindo efetivação de um modelo centrado no usuário e baseado nas suas necessidades de saúde; A regulação articulada entre todos os componentes da RUE, com garantia da equidade e integralidade do cuidado; o bem como a qualificação da assistência por meio da educação permanente das equipes. 36 5.7 A Organização dos Pontos de Atenção da RUE para o Cuidado com a Criança A Rede de Atenção às Urgências é constituída pelos seguintes pontos de atenção: Atenção Básica: Funciona como coordenadora do cuidado no território, atuando especialmente no atendimento a traumas de baixa complexidade e na continuidade do cuidado de crianças que estão em processo de recuperação de traumas. SAMU 192: Desempenha papel importante no atendimento primário e secundário em situações de Urgência e Emergência, tendo a Regulação das Urgências como elemento transversal do processo, de forma que o componente móvel mantenha interação com os demais componentes da rede e demais redes, a fim de proporcionar o encaminhamento adequado aos pacientes após sua estabilização. Todas as Centrais de Regulação do Samu devem possuir pelo menos uma incubadora de transporte de recém-nascido, adaptada para uso nas ambulâncias, quando necessário. Central de Regulação Médica de Urgências: Estrutura física constituída por profissionais (médicos, telefonistas auxiliares de regulação médica e rádio- - operadores) capacitados em regulação dos chamados telefônicos que demandam orientação e/ou atendimento de urgência, por meio de uma classificação e priorização das necessidades de assistência em urgência, além de ordenar o fluxo efetivo das referências e contra referências dentro de uma Rede de Atenção, que cumprem determinados requisitos estabelecidos pelas normativas do Ministério da Saúde (BRASIL, 2013s apud BRASIL, 2018). Sala de Estabilização: Espaço que presta assistência temporária e qualificada para estabilização de pacientes críticos/graves, após a avaliação clínica com internação no ambiente hospitalar e/ou encaminhamento para as portas de urgência referenciadas pela Central de Regulação Médica das Urgências, ou outros pontos da Rede de Atenção à Saúde, conforme as diretrizes da Portaria n. º 2.338, de 3 de outubro de 2011 (BRASIL, 2011i apud BRASIL, 2018). Unidade de Pronto Atendimento – UPA 24h: é um estabelecimento de saúde de complexidade intermediária, situado entre a Atenção Básica de Saúde (ABS) e a Atenção Hospitalar e articula-se com a ABS, Samu 192, unidades 37 hospitalares, unidades de apoio diagnóstico e terapêutico e com outros serviços de atenção à saúde, por meio de fluxos lógicos e efetivos de referência e contra referência, ordenados pelas Centrais de Regulação Médica de Urgências e complexos reguladores instalados na região (BRASIL, 2013u; BRASIL, 2013s apud BRASIL, 2018). Atenção/Internação Domiciliar: Tem importante papel, no sentido de abreviar o período de observação ou internação de crianças em situação de U/E, já estabilizadas, mas que ainda demandam cuidados. Produz impactos na humanização do atendimento à criança, no seu lar, com a sua família, o que traz conhecidos benefícios à sua recuperação, bem como favorece a disponibilização de leitos nas portas de urgências. A Rede também é integrada por outros serviços de urgência 24 horas, do componente hospitalar: portas hospitalares de urgência, leitos clínicosde retaguarda, leitos de UTI, unidades de cuidados prolongados e tranversalizada por uma linha do cuidado em trauma. 5.8 Saúde da Criança na Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência – RCPD Com o lançamento do Plano Nacional de Direitos da Pessoa com Deficiência: Viver Sem Limite, Decreto n. º 7.612, de 17 de novembro de 2011 (BRASIL, 2011j apud BRASIL, 2018), o Ministério da Saúde instituiu a Rede de Cuidados à Saúde da Pessoa com Deficiência, no âmbito do SUS, Portaria n. º 793, de 24 de abril de 2012 (BRASIL, 2012k). Esta estabeleceu diretrizes para o cuidado às pessoas com deficiência, temporária ou permanente, progressiva, regressiva ou estável, intermitente ou contínua. O eixo de Atenção à Saúde tem como foco a organização do cuidado integral em rede, contemplando as áreas de deficiência auditiva, física, visual, intelectual, ostomia e transtorno do espectro do autismo. Sinais de Alerta e Identificação Precoce de Deficiência: A identificação de sinais iniciais de problemas possibilita a instauração imediata de intervenções extremamente importantes, uma vez que os resultados positivos em resposta a terapias são tão mais significativos quanto mais precocemente instituídos. A maior plasticidade das estruturas 38 anátomo-fisiológicas do cérebro nos primeiros anos de vida e o papel fundamental das experiências de vida de um bebê, para o funcionamento das conexões neuronais e para a constituição psicossocial, tornam este período um momento sensível e privilegiado para intervenções. Nas ações de assistência materna e infantil da Atenção Básica, por exemplo, as equipes profissionais são importantes na tarefa de identificação de sinais iniciais de problemas de desenvolvimento. Assim, em toda visita domiciliar ou atendimento da criança, a equipe de saúde deve estar atenta a alguns sinais de alerta, como atraso nas aquisições neuropsicomotoras, comportamentos estereotipados e repetitivos, apatia frente a estímulos do ambiente, dificuldade em fixar visualmente o rosto da mãe e objetos do ambiente, ausência de resposta aos estímulos sonoros, entre outros. Outro importante ponto a ser considerado são os casos de violência e/ou negligência. Tendo em vista que mulheres e meninas com deficiência estão frequentemente expostas a maiores riscos, tanto no lar como fora dele, de sofrer tratamento negligente, violência física, psicológica e sexual. Para o enfrentamento desse tipo de situação é fundamental o preparo da equipe na identificação, na notificação e na comunicação ao Conselho Tutelar, além da intervenção e cuidados terapêuticos e/ou psicossociais para a criança e orientação às famílias. Para saber mais, consultar o eixo estratégico, sobre a Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências. Fonte: PNAISC, 2018 A Organização dos Pontos de Atenção para o Cuidado de Crianças com Deficiências Para melhor orientação da família, a equipe deverá conhecer os Pontos de Atenção da Rede e os níveis de atenção, oportunizando o encaminhamento e o atendimento da criança com deficiência, tais como: Atenção Básica: As Unidades Básicas de Saúde; Nasf; Academia da Saúde; PSE; Melhor em Casa. 39 Atenção Especializada: Estabelecimentos de saúde habilitados em apenas uma das modalidades de reabilitação; os Centros Especializados em Reabilitação (CER); Oficinas Ortopédicas e Centros de Especialidades Odontológicas (CEO). Centro Especializado em Reabilitação (CER): É um ponto de atenção ambulatorial, especializado em reabilitação, que realiza diagnóstico, tratamento, concessão, adaptação e manutenção de tecnologia assistiva, constituindo-se em referência para a Rede de Atenção à Saúde no território. Com 4 modalidades diferentes – física, intelectual, auditiva e visual – que indicam o porte do CER, tipo II, III ou IV, classificado a depender do número de modalidades que atende. Oficina Ortopédica: Constitui serviço de dispensação, confecção, adaptação e manutenção de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção (OPM), e têm como referência um serviço habilitado em reabilitação física integrando a Rede de Cuidados da Pessoa com Deficiência no Estado. Centro Especializado em Odontologia (CEO): É o estabelecimento de saúde que oferta atendimento especializado odontológico e ao integrar a Rede PCD recebe qualificação para o atendimento da pessoa com deficiência. 5.9 Saúde da Criança na Rede de Atenção Psicossocial – Raps A Raps tem por finalidade promover cuidado em saúde às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, mediante a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde no âmbito SUS. A rede destaca como um dos objetivos essenciais a promoção do cuidado para grupos mais vulneráveis, especialmente crianças adolescentes, jovens, pessoas em situação de rua e populações indígenas, com sofrimento ou transtorno mental e crianças que sofreram violências (BRASIL, 2011d apud BRASIL, 2018). Os cuidados com a saúde mental da criança devem ocorrer desde o desenvolvimento intrauterino ao nascimento saudável, e a estimulação precoce nos primeiros anos de vida exerce uma função importante no desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança. É parte da Atenção Integral à Saúde da Criança estimular o vínculo com sua família e com os serviços de saúde, propiciando oportunidades de abordagem para a promoção da saúde, amamentação e alimentação complementar saudável, hábitos 40 de vida saudáveis, vacinação, prevenção de doenças e agravos, provendo o cuidado em tempo oportuno. As ações de cuidado para crianças no campo específico da atenção à saúde mental devem seguir as diretrizes operacionais pautadas pelo reconhecimento e acolhimento da demanda de cada um, com Projeto Terapêutico Singular (PTS), levando em conta (BRASIL, 2005b apud BRASIL, 2018): Adoção de medidas voltadas para o cuidado, seja por meio de recursos próprios do serviço, seja em outro dispositivo da saúde ou de outra política social, caso em que deve ser feito o encaminhamento responsável. Gestão do cuidado, de modo a sustentar, em todo o processo, a condição da criança como sujeito de direitos e de responsabilidades, em sua dimensão subjetiva e social. Comprometimento dos responsáveis pela criança a ser cuidada, tanto os familiares como os agentes institucionais. Produção do cuidado, fundamentado nos recursos teórico-práticos e de saberes disponíveis aos profissionais, técnicos ou equipe atuantes no serviço, envolvendo a discussão com os demais membros da equipe. Manutenção de canais abertos de articulação com outros equipamentos do território, de modo a operar com a lógica da rede ampliada de atenção; especialmente nos casos de alteração de comportamento. Orientação para que as ações sejam tomadas em sua dimensão territorial, ou seja, considerando as múltiplas e singulares configurações delineadas em seus trajetos de vida. Fonte: PNAISC, 2018 5.10 Saúde da Criança na Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas A garantia da integralidade da atenção, almejada pela PNAISC, tem nas doenças crônicas um dos maiores desafios, pela variedade e complexidade de patologias e agravos crônicos que hoje afetam as crianças que a cada dia morrem menos de agravos agudos e, por outro lado, a exigência que estas trazem à gestão 41 e à atenção do SUS, de articulação em rede, da ampla gama de serviços e profissionais necessários para seu cuidado integral. A Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas, instituída pela Portaria n. º 483, de 1º de abril de 2014 (BRASIL, 2014d apud BRASIL, 2018), tem como finalidade realizar a atenção de forma integral às pessoas, neste caso às crianças com doençascrônicas, em todos os pontos de atenção, com oferta de ações e serviços de promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde. O objetivo dessa rede é fomentar a mudança do modelo de atenção, com fortalecimento da Atenção Básica, por meio da qualificação da atenção integral às crianças com doenças crônicas e da ampliação das estratégias para promoção da saúde e para prevenção do desenvolvimento dessas doenças e suas complicações, entre elas o câncer, que dispõe de uma Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, segundo a Portaria n.º 874, de 16 de maio de 2013 (BRASIL, 2013b), bem como de critérios e parâmetros para habilitação de estabelecimentos de saúde especializados em Oncologia, inclusive Oncologia Pediátrica, redefinidos na Portaria n.º 140, de 27 de fevereiro de 2014 (BRASIL, 2014b apud BRASIL, 2018). Para superar os desafios das doenças crônicas no Brasil, no ano de 2013 o MS definiu as “Diretrizes para o cuidado das pessoas com doenças crônicas nas redes de atenção à saúde”. Alguns atributos são indispensáveis na organização dos processos de trabalho, voltados para o cuidado da criança com doença crônica, ressaltando: o acolhimento, a atenção centrada na criança e na família, o cuidado continuado e a atenção programada, a equipe interdisciplinar, o Projeto Terapêutico Singular e o fomento do autocuidado. Tal organização dos serviços precisa se dar por regiões de saúde, entre outros motivos, pelo fato da maior parte dos municípios brasileiros ser de pequeno porte, possuindo apenas serviços de Atenção Básica, havendo a necessidade de se organizar a Rede de Atenção à Saúde (RAS) na região, com definição de serviços de referência regionais. Inclusive, sempre que possível, com a estruturação destes serviços em locais de vazio assistencial, ampliando a cobertura populacional de atenção especializada para as doenças crônicas. Os diferentes níveis de cuidado devem ter uma efetiva organização regionalizada, para ampliar acesso e relação solidária de profissionais da Atenção Básica e de especialistas, facilitando a prestação de serviços de saúde 42 de qualidade, definição de responsabilidades, comunicação e a transferência segura quando necessária. 5.11 A Organização dos Pontos de Atenção para o Cuidado de Crianças na Rede A Atenção Básica (AB) deve dar respostas às necessidades que as crianças com doenças crônicas apresentam na vida familiar, social e escolar. Tem papel- chave como coordenadora do cuidado, com a responsabilidade de realizar a atenção integral e contínua e de ser a porta de entrada prioritária. A AB deve realizar ações de promoção à saúde, de prevenção de agravos e também articular com a atenção especializada a oferta do diagnóstico, do tratamento e da reabilitação para que a atenção seja resolutiva no cuidado às crianças com doenças crônicas, tais como as respiratórias, as endócrinas, as cardiovasculares e as oncológicas, sendo que muitos se beneficiam de um seguimento compartilhado entre AB e os serviços especializados. A Atenção Especializada é traduzida como conjunto de diversos pontos de atenção com diferentes densidades tecnológicas para a realização de ações específicas: como serviços de urgência e emergência, ambulatórios especializados e serviços hospitalares. Deve apoiar e complementar os serviços da Atenção Básica de forma resolutiva e em tempo oportuno, níveis: Ambulatorial: Serviço especializado com ações eletivas de média e alta complexidade. Hospitalar: Ponto de atenção estratégico voltado para as internações eletivas e/ou de urgência de pacientes agudos ou crônicos agudizados. Urgência/Emergência: Ponto de atenção com ações voltadas aos usuários que necessitam de cuidados imediatos em caráter de urgência, inclusive pacientes com agudização das condições crônicas. Fonte: PNAISC, 2018 Na Atenção Hospitalar, com serviços de internação pediátrica, devem ser levadas em consideração as peculiaridades da criança e a importância do lúdico 43 como contribuição ao processo terapêutico, socioafetivo e educativo, de acordo com a faixa etária. Esses estabelecimentos devem dispor de brinquedotecas nas suas dependências de acordo com a Lei n. º 11.104, de 21 de março de 2005, espaços de lazer e de convivência da criança com a família, conforme a RDC n. º 50, de 21 de fevereiro de 2002, e a RDC n. º 307, de 14 de novembro de 2002 (BRASIL, 2002a; 2002b; 2005e apud BRASIL, 2018). A Atenção Domiciliar constitui oferta essencial na Rede de Atenção à Saúde para se garantir uma atenção integral e humanizada às crianças com agravos crônicos que dificultam sua mobilização do domicílio ou, muitas vezes, até do leito, seja aquela atenção realizada pelas equipes de Atenção Básica/equipes de Saúde da Família, com apoio, se necessário, por profissionais dos Nasfs, seja aquela de maior complexidade, cujo cuidado é feito por Equipes Multidisciplinares de Atenção Domiciliar (Emad). No caso de crianças acometidas por doenças crônicas complexas, como aquelas que, em grande número, ainda ocupam leitos de UTI/UCI Neonatal ou UTI/ UCI Pediátrica pelo País, seja em longas internações, ou mesmo por tempo indeterminado, como “moradoras”, a Atenção Domiciliar, substituindo a Internação Hospitalar, constitui importante alternativa a ser perseguida, considerando a humanização do atendimento à criança, no seu lar, junto a sua família, o que traz conhecidos benefícios à sua recuperação. Além disso, favorece a disponibilização de caros e frequentemente disputados leitos intensivos ou semi-intensivos, com significativa diminuição de custos da assistência final. 6 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL 44 Fonte: minutocrianca.com Avaliar o crescimento e desenvolvimento infantil é uma das atribuições do enfermeiro na Estratégia Saúde da Família e parte integrante da consulta de enfermagem à criança. Nesta seção vamos discutir conceitos, fatores influenciadores e atuação do enfermeiro. 6.1 Fatores Intrínsecos e Extrínsecos Os fatores intrínsecos ou internos são aqueles relacionados às determinações genéticas ou à herança que as crianças recebem de seus antepassados. Esse potencial genético pode ou não ser atingido em plenitude, desde que as influências do meio ambiente onde a criança vive possam contribuir para tal. A criança pode ter, por exemplo, potencial genético para atingir a altura correspondente a 1.90m quando adulta (fator intrínseco), porém, caso seu desenvolvimento seja influenciado por fatores extrínsecos, como alimentação deficiente, baixa renda familiar, baixo grau de escolaridade dos pais, condições precárias de saneamento básico, doenças recorrentes na infância, esse potencial pode não ser alcançado, e a altura final será, pois, inferior àquela esperada. Crescimento Intrauterino É importante para o enfermeiro conhecer as condições de vida que podem interferir negativamente no peso de nascimento. Na sua área de abrangência, provavelmente existem mulheres gestantes nestas condições: Com doenças maternas infecciosas Com doenças sexualmente transmissíveis Com hipertensão arterial na gestação Com baixo peso ou sobrepeso Menores de 15 e maiores que 35 anos Com altura materna inferior a 1.50m Usuárias de drogas lícitas e ilícitas Fumantes. 45 6.2 O Crescimento Pós-neonatal Fonte: ufpel.edu.br O acompanhamento do crescimento pós-neonatal faz parte da consulta de enfermagem à criança. Na vida intrauterina, a cabeça da criança é a parte do corpo que mais cresce e representa 50% do tamanho total do corpo. Já na fase pós- neonatal, o desenvolvimento do tronco e das pernas é maior. Em alguns tecidos, o crescimento é contínuo, em outros, ocorre por estágios, como o da puberdade, por exemplo. O crescimento ósseo terminaassim que a maturidade do esqueleto estiver completa. Uma das características da criança é que o crescimento é acelerado até os dois anos de idade e sofre desaceleração entre os dois e cinco anos. 6.3 Instrumentos de Avaliação do Crescimento Infantil A avaliação do crescimento e desenvolvimento infantil é parte essencial da consulta de enfermagem. Para avaliar o crescimento infantil, é necessário pesar a criança, medir sua altura e registrar esses dados em gráficos, que vão mostrar se peso, altura e perímetro cefálico estão adequados para a idade. Registre os dados aferidos nas curvas de peso, estatura e perímetro cefálico e verifique o crescimento da criança. A utilização das curvas de referência permite: 46 Fonte: slideshare.net Índices antropométricos e suas características: Fonte: Caderno Crescimento e Desenvolvimento NESCON O Ministério da Saúde (2011) recomenda um calendário mínimo de consultas exclusivas para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Um dos profissionais que realiza esse tipo de acompanhamento é o enfermeiro. 47 Fonte: Caderno Crescimento e Desenvolvimento NESCON 6.4 O Desenvolvimento Infantil Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (2005): Desenvolvimento infantil é um processo que vai desde a concepção, envolvendo vários aspectos, indo desde o crescimento físico, passando pela maturação neurológica, comportamental, cognitiva, social e afetiva da criança. Tem como produto tornar a criança competente para responder às suas necessidades e às do seu meio, considerando seu contexto de vida. (APUD FIOCRUZ 2011) Sendo assim, sustentar a cabeça, sentar-se com ou sem apoio, engatinhar, caminhar, falar, sorrir, aprender a pular com um pé só, interagir com as pessoas que a cercam, aprender a ler e escrever são exemplos atribuídos ao desenvolvimento infantil, uma vez que a criança está sempre em constante transformação e apresenta uma sequência previsível de desenvolvimento neuropsicomotor. Levando-se em conta que o desenvolvimento infantil está diretamente relacionado ao biológico e ao meio ambiente onde a criança vive, qualquer intercorrência neste aspecto pode representar fator de risco. Como exemplos de risco para o desenvolvimento infantil, destacam-se estes: síndromes genéticas, hipóxia neonatal, infecções pré, peri e pós-natais, violência intrafamiliar, condições precárias de vida, baixa escolaridade dos pais, falta de afeto das pessoas que cuidam da criança. Padrões de Desenvolvimento O desenvolvimento segue tendências direcionais, de acordo com a maturação cerebral. Sendo assim, podemos classificar três padrões de desenvolvimento: 48 Padrão céfalo-podálico: demonstra que o desenvolvimento segue o sentido cabeça para os pés. Primeiro a criança sustenta a cabeça, para depois sustentar o tronco. Padrão proximal-distal: de perto para longe, da região proximal para a distal, ou seja, primeiro controla os ombros, para depois controlar os braços; primeiro pega um objeto com toda a mão, para depois pegar um objeto com o polegar e o indicador (movimento de pinça). Padrão da diferenciação: das atividades mais simples para as mais complexas. Primeiro brinca sozinha, para depois socializar a brincadeira. 6.5 Avaliação do Desenvolvimento Infantil Para avaliar o desenvolvimento, é necessário fazer perguntas para quem cuida da criança em sua rotina. As respostas e observações da mãe ou do cuidador nunca devem passar despercebidas ou serem consideradas sem importância, pois é essa pessoa que conhece melhor a criança. No decorrer da avaliação, é fundamental observar se há ou não interação entre a criança e a mãe, se a criança se sente segura, se observa o ambiente onde está, ou se tenta pegar objetos que estejam ao seu alcance durante a consulta. Dessa forma, é possível conhecer um pouco sobre o seu desenvolvimento. As perguntas devem ser amplas e bem formuladas para que não deem opção simples de resposta, como SIM ou NÃO, mas respostas que forneçam explicações com detalhes sobre o assunto questionado, no caso, abrangendo o período pré-natal e nascimento. É importante saber se a mãe: Fez o mínimo de 6 consultas de pré-natal Fez uso drogas lícitas ou ilícitas na gestação Teve alguma doença infecciosa, pressão alta (pré-eclâmpsia, eclampsia) durante a gestação Como se deu o parto Quanto tempo durou Em caso de parto normal: se a criança chorou logo ao nascer, qual foi o valor do ápgar, o peso de nascimento, se teve algum problema de 49 saúde logo após o nascimento, como infecções ou icterícia, se precisou ficar internada no berçário ou UTI neonatal. O enfermeiro, ao avaliar a criança durante a consulta de enfermagem, poderá detectar precocemente possíveis dificuldades no cumprimento dos marcos do desenvolvimento e proporcionar à criança e à sua família opções diversas para estimulá-lo, ou tomar outras medidas necessárias como, por exemplo, o encaminhamento da criança ao médico da equipe, ou centros especializados de referência. Para avaliar o desenvolvimento, também se faz necessário o uso de instrumento de registro. A Ficha de Acompanhamento do Desenvolvimento Infantil é uma forma prática e simples para realizar esse acompanhamento: 50 Fonte: Caderno de Atenção Básica, nº11. MS 51 O enfermeiro é membro essencial da Equipe de Saúde da Família. Suas atribuições são complexas e demandam conhecimento científico acerca das várias interfaces que permeiam a Estratégia Saúde da Família. Diante de tantas atribuições, sejam estas comuns a todos os membros da equipe, sejam específicas do enfermeiro, sempre é necessário planejar a assistência. O uso do SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem, é essencial para o desenvolvimento do trabalho do enfermeiro no acompanhamento pueril, sendo necessário, muitas vezes, recorrer às terminologias empregadas em enfermagem e sua incorporação na prática profissional. Um exemplo de como seria as intervenções, no diagnóstico de enfermagem: desenvolvimento inadequado de uma criança: Intervenções Responsável Brincar com a criança Usuário Conversar com a criança Usuário Demonstrar carinho à criança durante os cuidados Usuário Encaminhar para consulta médica Enfermeiro Esclarecer mãe/cuidador sobre as fases do desenvolvimento de acordo com a idade da criança Enfermeiro Estimular a criança a movimentar-se livremente Usuário Estimular mãe/cuidador a demonstrar carinho durante os contatos com a criança Enfermeiro Investigar a expectativa da mãe/cuidador frente ao desenvolvimento da criança em relação à idade Enfermeiro Investigar possibilidade de negligência à criança Enfermeiro Orientar mãe/cuidador a conversar com a criança Enfermeiro Programar monitoramento domiciliar Enfermeiro Retornar no dia e horário agendados Usuário 52 6.6 Alimentação da criança Fonte: saudebrasil.saude.gov.br A infância é um período em que se desenvolve grande parte das potencialidades humanas. Os distúrbios que incidem nessa época são responsáveis por graves consequências para indivíduos e comunidades. De acordo com o Ministério da Saúde: O aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Permite ainda um grandioso impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a sociedade. Se a manutenção do aleitamento materno é vital, a introdução de alimentos seguros, acessíveis e culturalmente aceitos na dieta da criança, em época oportuna e de forma adequada, é de notória importância para o desenvolvimento sustentável e equitativo de uma nação, para a promoção da alimentação saudável em consonância com os direitos humanos fundamentais e para a prevençãode distúrbios nutricionais de grande impacto em Saúde Pública. Porém, a implementação das ações de proteção e promoção do aleitamento materno e da adequada alimentação complementar depende de esforços coletivos intersetoriais e constitui enorme desafio para o sistema de saúde, numa perspectiva de abordagem integral e humanizada. 53 6.7 Aleitamento Materno O hábito alimentar já é adquirido na infância, e o fator cultural é muito importante neste processo. O aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida é fator contribuinte para a redução da mortalidade infantil. A recomendação prioritária é que a criança receba exclusivamente o leite materno até que complete seis meses de idade. Segundo Ministério da Saúde (2015), a Organização Mundial da Saúde (OMS) adotou e definiu o aleitamento materno em: Aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe somente leite direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos. Aleitamento materno predominante: quando a criança recebe, além do Aleitamento materno predominante leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de frutas e fluidos rituais. Aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno (direto da mama Aleitamento materno ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos. Aleitamento materno complementado: quando a criança recebe, além Aleitamento materno complementado do leite materno, qualquer alimento sólido ou semi-sólido com a finalidade de complementá-lo, e não de substituí-lo. Nessa categoria a criança pode receber, além do leite materno, outro tipo de leite, mas este não é considerado alimento complementar. Aleitamento materno misto ou parcial: quando a criança recebe leite Aleitamento materno misto ou parcial materno e outros tipos de leite. Observação: Fluidos rituais. Embora a OMS não reconheça os fluidos rituais (poções, líquidos ou misturas utilizadas em ritos místicos ou religiosos) como exceção possível inserida na definição de aleitamento materno exclusivo, o Ministério da Saúde, considerando a possibilidade do uso de fluidos rituais com finalidade de cura dentro de um contexto intercultural e valorizando as diversas práticas integrativas e complementares, apoia a inclusão de fluidos rituais na 54 definição de aleitamento materno exclusivo, desde que utilizados em volumes reduzidos, de forma a não concorrer com o leite materno. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam aleitamento materno exclusivo por seis meses e complementado até os dois anos ou mais. Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos seis meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança, pois a introdução precoce de outros alimentos está associada a: Maior número de episódios de diarreia; Maior número de hospitalizações por doença respiratória; Risco de desnutrição se os alimentos introduzidos forem nutricionalmente inferiores ao leite materno, como, por exemplo, quando os alimentos são muito diluídos; Menor absorção de nutrientes importantes do leite materno, como o ferro e o zinco; Menor eficácia da lactação como método anticoncepcional; Menor duração do aleitamento materno. Segundo o Ministério da Saúde (2009): No segundo ano de vida, o leite materno continua sendo importante fonte de nutrientes. Estima-se que dois copos (500ml) de leite materno no segundo ano de vida fornecem 95% das necessidades de vitamina C, 45% das de vitamina A, 38% das de proteína e 31% do total de energia. Além disso, o leite materno continua protegendo contra doenças infecciosas. Uma análise de estudos realizados em três continentes concluiu que quando as crianças não eram amamentadas no segundo ano de vida elas tinham uma chance quase duas vezes maior de morrer por doença infecciosa quando comparadas com crianças amamentadas (APUD WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2000). Para que a amamentação seja eficaz, é preciso que o bebê consiga a pega adequada. Caso isso não ocorra, ele não ficará saciado, e a mãe poderá apresentar várias intercorrências que podem culminar com o fim da amamentação, como por exemplo, o ingurgitamento mamário, fissura mamilar, mastite. Erros na pega podem determinar o sucesso ou insucesso na amamentação, por isso, os profissionais de saúde devem estar atentos em orientar e ajudar a mãe em relação ao posicionamento correto. Os sinais que indicam que a pega está adequada são os que seguem: 55 Boca do bebê abocanhando toda a aréola e não apenas o mamilo; Barriga do bebê encostada na barriga da mãe; Lábios bem abertos, lábio inferior voltado para fora (boca de peixinho); Queixo do bebê encostado no seio da mãe. Quando a pega é correta, a amamentação transcorre sem traumas, o bebê fica saciado por mais tempo, consegue esvaziar a mama de forma adequada, consequentemente ganha peso e diminui ou anula o risco de problemas na amamentação. Na criança em aleitamento materno, o ganho de peso deve ser superior a 20 gramas/dia. 6.8 Alimentação Complementar Fonte: sophiederam.com Os alimentos complementares são oferecidos às crianças após os seis meses de idade, uma vez que até então ela estará recebendo o leite materno. É importante que a introdução dos novos alimentos seja realizada após essa data, uma vez que a criança já terá adquirido habilidades importantes para que a aceitação desses alimentos ocorra de forma mais rápida e prazerosa. Como o próprio nome indica, a alimentação é complementar, ou seja, a partir desta idade a criança continuará 56 recebendo leite materno e terá a complementação de outros alimentos a fim de suprir suas necessidades em relação às proteínas, sais minerais, energia, vitaminas, água e gordura. É fundamental que seja respeitado o hábito alimentar da família e que os alimentos sejam oferecidos com segurança. A introdução de alimentos complementares após o sexto mês de vida deve ser gradual, respeitando-se a aceitação da criança. Quando uma criança não aceita determinado alimento, é necessário oferecê-lo até dez vezes para se ter certeza de que ela não aprova aquele sabor. Mesmo que não o aceite, é importante colocá-lo no prato, pois isso pode estimulá-la a comê-lo, principalmente se outros membros da família o fazem. As frutas devem ser amassadas ou raspadas e não devem ter adição de açúcar. Os sucos devem ser naturais e não artificiais e não devem substituir uma refeição, mas sim atuar como um complemento. O consumo de frutas da estação deve ser estimulado, principalmente devido à facilidade de acesso em relação à disponibilidade e preço. A refeição salgada deve conter tubérculos, cereais, verduras e carne, principalmente a vermelha. Nunca deve ser batida no liquidificador ou passada pela peneira. Os alimentos devem ser cozidos com água sufi ciente para cobri-los. Após o seu cozimento, devem ser amassados com um garfo. A consistência correta é a de purê e não de sopa. A criança pode também, nesta idade, receber duas papas de frutas (uma no intervalo da manhã e outra no intervalo da tarde) e uma papa salgada no almoço. O leite materno deve continuar sendo oferecido no restante do período. A partir dos sete meses a criança recebe também a papa salgada no jantar e, aos oito meses, a consistência do alimento já pode ser semelhante à dos alimentos da família para que, aos doze meses, a criança já possa se alimentar com a mesma refeição ofertada às pessoas que convivem com ela. 6.9 Desnutrição infantil A Desnutrição é uma doença de natureza clínico-social e multifatorial, cujas raízes se encontram na pobreza. A desnutrição grave acomete todos os órgãos da criança,tornando-se crônica e levando a óbito, caso não seja tratada adequadamente. 57 Pode começar precocemente na vida intrauterina (baixo peso ao nascer) e, frequentemente, cedo na infância, em decorrência da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo e da alimentação complementar inadequada nos primeiros 2 anos de vida, associada, muitas vezes, à privação alimentar ao longo da vida e à ocorrência de repetidos episódios de doenças infecciosas como a diarreia e infecções respiratórias agudas (BRASIL, 2005). Entende-se que a desnutrição é multifatorial, pois não ocorre apenas devido à falta de alimento, ela pode ser causada por várias razões, como por exemplo: falta de alimentos, oferta de alimentos de baixa qualidade, doenças que dificultam a absorção, processos infecciosos de repetição, vínculo fraco entre mãe e filho. As crianças que não são adequadamente nutridas podem ter carências específicas como a hipovitaminose A e a carência de ferro. A deficiência de vitamina A pode levar a criança ao risco de cegueira (cegueira noturna, xeroftalmia ou queratomalácia). A vitamina A protege a visão, evita a diarreia e diminui o risco de sarampo. Já a deficiência de ferro é a causadora da anemia ferropriva, que acomete muitas crianças brasileiras. Crianças com idade entre 6 a 12 meses merecem cuidado especial em relação à ingesta de alimentos que contenham ferro. Na falta deste, a criança fica vulnerável ao desenvolvimento de anemia por deficiência desse micronutriente, o que prejudica o seu crescimento e desenvolvimento. O consumo diário de carne, miúdos (no mínimo uma vez por semana) e suco de fruta natural, fonte de vitamina C, após o almoço e jantar, aumenta a absorção do ferro não heme. Crianças de 6 a 18 meses devem receber o suplemento de ferro disponível nas Unidades Básicas de Saúde e de Saúde da Família de forma preventiva. A criança com desnutrição grave pode apresentar características muito peculiares, como o emagrecimento acentuado visível, quando os ossos ficam aparentes, o abdômen proeminente, os cabelos quebradiços e sem brilho e o glúteo e pernas com “sinal da calça larga”, ou seja, a gordura corporal desaparece, e a pele fica enrugada como se a criança estivesse vestindo uma calça larga. O edema também indica desnutrição grave, embora a criança possa apresentar uma aparência física de estar mais gordinha. De acordo com a estratégia da AIDPI, o enfermeiro, mediante avaliação da criança, pode realizar as seguintes classificações: 58 Classificação para crianças de 2 meses a menor de 5 anos de idade: Sinais Classificação Tratamento Emagrecimento acentuado visível ou edema em ambos os pés; DESNUTRIÇÃO GRAVE Dar vitamina A. Tratar a criança para evitar hipoglicemia. Recomendar à mãe a manter a criança agasalhada. Referir URGENTEMENTE para tratamento. Peso muito baixo para a idade (abaixo da linha inferior do espelho do cartão). PESO MUITO BAIXO Avaliar a alimentação da criança e ensinar a mãe a tratar a criança com peso muito baixo em casa. Para crianças menores de 6 meses, se tiver problemas com a amamentação, marcar retorno para dois dias. Marcar retorno em cinco dias Peso baixo para a idade (entre a linha inferior e a linha média do cartão) ou ganho de peso insuficiente. PESO BAIXO OU GANHO INSUFICIENTE Avaliar a alimentação da criança e orientar a mãe. Para crianças menores de 6 meses, se tiver problemas com a amamentação, marcar retorno para dois dias. Marcar retorno em 30 dias. Peso para a idade não é baixo e nenhum outro sinal de desnutrição. O PESO NÃO É BAIXO Se a criança tiver menos de 2 anos de idade, avaliar a sua alimentação e orientar a mãe Fonte: BRASIL, 2003b. Marasmo O marasmo, tipo de desnutrição mais comum no Brasil, é decorrente da falta total de alimentos, levando ao quadro de desnutrição proteico-calórica. Nesse caso a criança apresenta os sinais de emagrecimento acentuado visível. Quando a desnutrição se dá devido às condições precárias de vida, como a falta do alimento, por exemplo, é possível que toda a família da criança esteja desnutrida. O marasmo 59 é sinal de miséria. É muito triste ver uma família nessa situação. O apetite da criança é preservado no marasmo. Kwashiorkor O kwashiorkor também é um tipo de desnutrição grave e caracteriza-se principalmente pelo edema em ambos os pés da criança. Está relacionado à defi ciência proteica. Nesse caso, o cabelo é fi no e ralo, a pele é ressecada e a criança tem um olhar triste, conhecido como olhar de miséria. O apetite da criança é diminuído no kwashiorkor. Utilizamos o termo “Desnutrição” quando o caso é considerado grave pela estratégia AIDPI (Marasmo ou Kwashiorkor); nas demais classificações, utilizaremos os termos Baixo Peso, Muito Baixo Peso. 6.10 AIDPI – Atenção Integrada a Doenças Prevalente na Infância A AIDPI tem por finalidade promover uma rápida e significativa redução da mortalidade na infância. Trata-se de uma abordagem da atenção à saúde na infância, desenvolvida originalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência (UNICEF), caracterizando-se pela consideração simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior prevalência na infância, ao invés do enfoque tradicional que busca abordar cada doença isoladamente, como se ela fosse independente das demais doenças que atingem a criança e do contexto em que ela está inserida (BRASIL, 2003a apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). 60 6.11 PNI – Programa Nacional de Imunização Fonte: portalarquivos.saude.gov.br O êxito das Campanhas de Vacinação contra a varíola na década dos anos sessenta, mostrou que a vacinação em massa tinha o poder de erradicar a doença. O último caso de varíola notificado no Brasil foi em 1971 e, no mundo em 1977 na Somália. Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, tem como missão organizar a Política Nacional de Vacinação, contribuindo para o controle, a eliminação e/ou erradicação de doenças imunopreviníveis. Está vinculado ao Sistema Único de Saúde, sendo coordenado pelo Ministério da Saúde de forma compartilhada com as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde. O PNI passou a coordenar, as atividades de imunizações desenvolvidas rotineiramente na rede de serviços e, para tanto, traçou diretrizes pautadas na experiência da Fundação de Serviços de Saúde Pública (FSESP), com a prestação de serviços integrais de saúde através de sua rede própria. O PNI é, hoje, parte integrante do Programa da Organização Mundial de Saúde, com o apoio técnico, operacional e financeiro da UNICEF e contribuições do Rotary Internacional e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 61 A consolidação da missão do PNI ocorre nas salas de vacinas que dependem dos processos logísticos aplicados à conservação dos imunobiológicos, disponibilizados nacionalmente na Rede de Frio do PNI. As Centrais de Rede de Frio (CRF) são as estruturas físicas que proporcionam efetivamente as condições adequadas à manutenção da Cadeia de Frio, têm foco na segurança e na qualidade dos processos de armazenamento, distribuição e transporte. Organizam-se nas três esferas, dispõem de estruturas físicas similares, com fluxos operacionais semelhantes, variando seus dimensionamentos em função do perfil epidemiológico e da consequente demanda onde se inserem. Prevenir a doença é melhor do que tratá-la. E a vacinação é uma das medidas mais importantes e eficazes de prevenção. A vacina estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos que destroem os micro-organismos invasores (bactérias ou vírus) tornando a pessoa, assim, imunizada. A Secretaria da Saúde do Ceará reforça a importância de a população ficar atentaao calendário vacinal e manter a rotina de imunização, atualizando a caderneta de vacinação. Cada faixa etária tem sua vacina específica e todas as vacinas, com exceção da Influenza, ficam disponíveis fora do período de campanhas. Quanto mais pessoas são imunizadas, mais comunidades são protegidas contra doenças e menor é a chance de contaminar outras pessoas. Conforme o Calendário Nacional de Vacinação, as vacinas estão disponíveis para crianças, adolescentes, adultos, idosos e gestantes. 62 Calendário nacional de vacinação de 2019 Idade Vacinas Ao nascer – BCG (dose única) – Hepatite B 2 meses – Pentavalente 1ª dose (Tetravalente + Hepatite B 2ª dose) – Poliomielite 1ª dose (VIP) – Pneumocócica conjugada 1ª dose – Rotavírus 1ª dose 3 meses – Meningocócica C conjugada 1ª dose 4 meses – Pentavalente 2ª dose (Tetravalente + Hepatite B 2ª dose) – Poliomielite 2ª dose (VIP) – Pneumocócica conjugada 2ª dose – Rotavírus 2ª dose 5 meses – Meningocócica C conjugada 2ª dose 6 meses – Pentavalente 3ª dose (Tetravalente + Hepatite B 3ª dose) – Poliomielite 3ª dose (VIP) – Influenza (1 ou 2 doses anuais) 9 meses – Febre Amarela (Dose única) – Influenza (1 ou 2 doses anuais) 12 meses – Pneumocócica conjugada reforço – Meningocócica C conjugada reforço – Tríplice Viral 1ª dose – Influenza (1 ou 2 doses anuais) 15 meses – DTP 1º reforço (Incluída na pentavalente) – Poliomielite 1º reforço (VOP) – Hepatite A (1 dose de 15 meses até 5 anos) 63 – Tetra viral (Tríplice Viral 2ª dose + Varicela) – Influenza (1 ou 2 doses anuais) 4 anos – DTP 2º reforço (Incluída na pentavalente) – Poliomielite 2º reforço (VOP) – Varicela (1 dose) – Influenza (1 ou 2 doses anuais) 9-14 anos – HPV 2 doses ((9-14 anos meninas e 11- 14 anos meninos) – Meningocócica C (Reforço ou dose única - meninos e meninas de 11- 14 anos) Adolescentes, Adultos e Idosos – Hepatite B (3 doses a depender da situação vacinal) – Febre Amarela (Dose única p/ não vacinados ou sem comprovante de vacinação) – Tríplice Viral (2 doses até os 29 anos ou 1 dose em > 30 anos. Idade máxima: 49 anos) – DT (Reforço a cada 10 anos) – dTpa (Para gestantes a partir da 20ª semana, que perderam a oportunidade de serem vacinadas) Fonte: https: pebmed.com.br Em 2017, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação da vacina contra o HPV, incluindo a mesma, como parte da rotina do Calendário Nacional de Vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS), para a população masculina na faixa etária de 12 a 13 anos (THEES, 2017). No mesmo ano, o governo anunciou a ampliação da vacina para meninos de 11 a 15 anos incompletos. Além da vacina contra o HPV contribuir reduzindo a incidência do câncer de colo de útero e vulva, também contribui prevenindo o câncer de pênis, ânus, verrugas genitais, boca e orofaringe (CRISTALDO, 2017). 64 7 A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES – SAÚDE MENTAL Fonte: educacao.estadao.com.br Não há produção de saúde sem produção de saúde mental. Logo, é preciso levar em conta que, ao se receber cuidados em saúde, devem ser consideradas as dimensões biológica, psíquica e social dos indivíduos. Se uma criança ou um adolescente apresenta algum grau de sofrimento (com angústias, medos, conflitos intensos, por exemplo), não será possível tratar sua saúde sem considerar esse componente emocional/relacional significativo. Muitos sintomas físicos têm origem em situações de sofrimento psíquico de origens diversas (na relação com instituições, com a família e consigo mesmo, entre outras). Em muitos casos, por exemplo, o uso de álcool e outras drogas pode estar associado à tentativa pessoal de manejo de um sofrimento. Ao falarem sobre si e ao se identificarem com suas próprias histórias, a criança e o adolescente veem possibilidades de encontrar novos significados e novas formas de inserção na sociedade e na família. Posto isso, uma política de saúde mental infanto-juvenil deve considerar como diretrizes (BRASIL, 2005 apud BRASIL, 2014): A) A criança e o adolescente são sujeitos e, como tal, são responsáveis por sua demanda e seu sintoma. São sujeitos de direitos e detentores de lugares autênticos de fala. A noção de sujeito implica também a de 65 singularidade, ou seja, não é possível pensar em tratamentos e abordagens terapêuticas de forma homogênea e prescritiva, pois vale a máxima de que “cada caso é um caso”. Nessa linha, é preciso reconhecer voz e escuta de cada criança e adolescente. Cumpre alertar que, mesmo na ausência de pais ou responsáveis, crianças e adolescentes têm direito ao atendimento eventual ou não eventual. B) Acolhimento universal: significa que as portas dos serviços devem estar abertas a todos aqueles que chegam com alguma necessidade de saúde e de saúde mental. É bastante comum neste campo da atenção à saúde mental infanto-juvenil que os profissionais do serviço não se sintam aptos a realizar o atendimento com base na alegação de que um determinado tipo de paciente “não tem perfil” para tal serviço (sobretudo quando se trata de usuários de álcool e outras drogas e ainda mais tendo cometido algum ato infracional). É preciso reconhecer as resistências e dificuldades dos profissionais de saúde em atender esta clientela e pensar em estratégias para superá-las, mas é imprescindível que se garanta o acolhimento da demanda (que deve ser recebida, ouvida e respondida). O acolhimento universal não significa que os serviços de saúde e de saúde mental tenham que atender e acompanhar todos os casos que até ali chegam, mas deve fazer uma abordagem para identificar as necessidades de cada situação, propor alguma intervenção inicial e, quando couber, oferecer outras estratégias e lugares de tratamento. C) Encaminhamento implicado e corresponsável: no caso de haver outro serviço que melhor se ajuste às necessidades do usuário, os profissionais que fizeram o acolhimento devem, de maneira implicada e corresponsável, promover o acompanhamento do caso até a sua inclusão e o seu atendimento em outro serviço (muito diferente de um procedimento administrativo e burocrático de preencher uma guia de encaminhamento para outro serviço). Muitas vezes, é preciso fazer um trabalho conjunto entre os serviços para o melhor atendimento do caso. Este primeiro acolhimento, aonde quer que chegue o usuário, pode ser determinante nos desdobramentos e na adesão ao tratamento. D) Construção permanente da rede e da intersetorialidade: a partir da noção de clínica ampliada e da complexidade das intervenções em saúde mental, álcool e outras drogas, é fundamental a construção cotidiana de uma rede de profissionais, ações e serviços para a garantia do acesso de crianças, adolescentes e jovens aos cuidados nesta área. Neste sentido, é imprescindível a convocação dos atores intersetoriais, sem os quais não será possível uma resposta potente aos problemas de saúde mental, álcool e outras drogas apresentados pela citada população. E) Trabalho no território: trata-se de um conceito que extrapola os sentidos meramente geográficos ou regionais, mas tem relação com as redes de relações e afetos e com as redes sociais daquele que é cuidado, que inclui a família, os vizinhos, a escola, a praça, o clube, os lugares de lazer etc. F) Avaliação das demandas e construção compartilhada das necessidades de saúde mental: as demandas que chegam aos serviços de saúde mental (vindas do sujeito, da família, da escola e dos serviços da rede de saúde ou da rede intersetorial) devem ser discutidas e elaboradas em conjunto pelas equipes, pelos familiares e pelos usuários. No imaginário social há muitas demandas direcionadas à saúde mental, mas nem sempre elas ajudarão a construir intervenções potentes, porque não correspondem às necessidades reais dos usuários. Em algumassituações não existe nenhuma evidência de efetividade para o caso concreto. 66 7.1 A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) Instituída pela Portaria MS/GM nº 3.088, de 23/12/2011,4 a Raps prevê a criação, a ampliação e a articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no âmbito do SUS. Conforme descrição do Ministério da Saúde (2014), a RAPS tem os objetivos gerais de: (i) ampliar o acesso à atenção psicossocial da população em geral; (ii) promover a vinculação das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas e de suas famílias aos pontos de atenção; e (iii) garantir a articulação e a integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento contínuo e da atenção às urgência Objetivos específicos: a) promover cuidados em saúde especialmente a grupos mais vulneráveis (crianças, adolescentes, jovens, pessoas em situação de rua e populações indígenas); b) prevenir o consumo e a dependência de álcool e outras drogas e reduzir os danos provocados pelo consumo; c) promover a reabilitação e a reinserção das pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas por meio do acesso ao trabalho, à renda e à moradia solidária; d) produzir e ofertar informações sobre os direitos das pessoas, as medidas de prevenção e cuidado e os serviços disponíveis na rede; e) regular e organizar as demandas e os fluxos assistenciais da Rede de Atenção Psicossocial; e f) monitorar e avaliar a qualidade dos serviços mediante indicadores de efetividade e resolutividade da atenção. A RAPS encontra-se organizada nos seguintes componentes: Atenção Básica em Saúde Unidade básica de saúde Núcleo de apoio à saúde da família Consultório na rua Centros de convivência e cultura. Atenção Psicossocial Estratégica Centros de atenção psicossocial (nas suas diferentes modalidades). Atenção de Urgência e Emergência SAMU 192 Sala de estabilização 67 UPA 24 horas e portas hospitalares de atenção à urgência/pronto socorro, unidades básicas de saúde. Atenção Residencial de Caráter Transitório Unidade de acolhimento Serviço de atenção em regime residencial. Atenção Hospitalar Enfermaria especializada em hospital geral Leitos de SM no hospital geral Estratégias de Desinstitucionalização Serviços residenciais terapêuticos Programa “De Volta para Casa” Estratégias de Reabilitação Psicossocial Iniciativas de geração de trabalho e renda Empreendimentos solidários e cooperativas sociais Fonte: Ministério da Saúde, 2014 8 SAÚDE DO ADOLESCENTE Fonte: pim.saude.rs.gov.br Nas últimas décadas, houve uma importante modificação demográfica relacionada à queda da mortalidade infantil e da fecundidade, ao aumento da expectativa de vida e aos movimentos migratórios e de urbanização. Houve, ainda, uma desaceleração no ritmo de crescimento da população adolescente e jovem com a expectativa de que este segmento continue crescendo (IBGE, 2010 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). 68 Adolescentes e jovens constituem um grupo populacional que exige novos modos de produzir saúde. Seu ciclo de vida particularmente saudável evidencia que os agravos em saúde decorrem, em grande medida, de modos de fazer “andar a vida”, de hábitos e comportamentos, que, em determinadas conjunturas, os vulnerabilizam. As vulnerabilidades produzidas pelo contexto social e as desigualdades resultantes dos processos históricos de exclusão e discriminação determinam os direitos e as oportunidades de adolescentes e jovens brasileiros. Iniciativas na Atenção Básica à Saúde devem incluir a melhoria de condições sanitárias no ambiente físico, e a atenção às necessidades nutricionais, biológicas, psicológicas e sociais em todas as etapas do desenvolvimento humano, dentro do ciclo da vida. A integralidade da atenção nos serviços de Atenção Básica a Saúde é entendida como a integração das ações de promoção da saúde, de prevenção de agravos e enfermidades, de assistência e de controle de doenças, sempre pautada nos determinantes e condicionantes da saúde. 8.1 Definições de adolescência e juventude O Ministério da Saúde segue como definição de adolescência a prescrita pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que caracteriza o período de 10 e 19 anos e compreende como juventude a população dos 15 a 24 anos (BRASIL, 2010, p. 46 apud MNISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). O Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013) define juventudes a partir de faixas etárias. Dos 15 a 17 anos são adolescentes-jovens; dos 18 a 24 anos de jovens-jovens e entre os 25 a 29 anos são denominados jovens- adultos. Portanto, nessas definições há uma interseção entre a metade da adolescência e os primeiros anos da juventude. Essa população, entre 10 a 24 anos, representa um contingente expressivo de mais de 50 mil pessoas no Brasil (IBGE, 2010a apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Segundo o Ministério da Saúde (2017 apud LEÓN, 2005, p. 16): Os marcadores etários têm relevância no planejamento e na implantação de políticas públicas. As diferentes particularidades que cada idade interpõe aos sujeitos adolescentes e jovens no momento do ciclo da vida têm singularidades e aspectos psicobiológicos, socioculturais e socioeconômicos importantes e distintos, que ora os aproximam e ora os 69 distanciam. “Não existe somente uma cultura adolescente ou juvenil” são culturas variadas e formas de agrupamentos e estilos de vidas diversificados. 8.2 Estratégia IMAN – Integração de Manejo dos adolescentes e suas necessidades. Fonte: saefw.blogspot.com Em 2005 a Organização Pan-Americana da Saúde criou a Estratégia de Integração de Manejo dos Adolescentes e suas Necessidades (Iman). Trata-se de um conjunto de algoritmos e textos que tem por objetivo oferecer informações rápidas e concisas para que os profissionais possam prestar um atendimento integral aos adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 10 a 19 anos. Pode ser usado em uma Unidade Básica de Saúde ou em um departamento ambulatorial hospitalar de referência. Essa estratégia abarca assuntos técnicos selecionados pela importância ou pela prevalência para que a equipe de saúde adquira competências e habilidades para a prestação do atendimento integral a este grupo populacional. Objetivos propostos pela estratégia do IMAN: Perguntar: todo adolescente ou jovem, por meio da anamnese, com o próprio ou seu responsável (quando o adolescente esteja impedido de se expressar), deve ser inquirido sobre as queixas que o motivaram à vinda ao serviço de saúde e sobre 70 os antecedentes: perinatal, pessoal e familiar. Assim, será possível perceber como se encontra sua adaptação sob o ponto de vista biopsicossocial. Observar: inclui um exame físico o mais completo possível, a determinação do estágio de desenvolvimento puberal, a obtenção de medidas antropométricas e a identificação de alguma condição patológica. Deve-se qualificar o processo de crescimento e desenvolvimento do adolescente, normal ou com algum distúrbio, e diagnosticar problemas de saúde que estejam presentes. Verificar sua relação com o grupo de pares, com a família e com adultos de referência. Identificar vulnerabilidades, no sentido de antecipar problemas que possam ser evitados. Avaliar, determinar ou diagnosticar: abordar, da melhor forma possível, as questões psicossociais dos adolescentes e, se necessário, referir a serviços de maior complexidade. Em caso de não necessitar referência, indicar ou aplicar o tratamento correspondente e explicar como prosseguir com ele e as consequências caso não sigaas instruções adequadamente. Embora já esteja recebendo tratamento, explicar quais são os sinais de alarme pelos quais deverá voltar ao serviço de saúde imediatamente para reavaliação. Tratar: Uma vez identificada uma doença ou uma situação de risco no adolescente, é necessário iniciar o tratamento pertinente para estabilizar suas condições antes de referi-lo para outro serviço ou hospital para o prosseguimento do tratamento. No caso de não haver necessidade de referência para outro serviço, indicar-se-á o tratamento correspondente e deve-se explicar claramente em que consistem as alternativas terapêuticas. É fundamental assegurar a compreensão das medidas terapêuticas e decidir com o adolescente as alternativas mais convenientes. Acompanhar: de acordo com a condição identificada. Se for um adolescente saudável, é conveniente uma avaliação, se possível, duas vezes ao ano. Aconselhar ou orientar: escutar o adolescente e sua família em suas inquietações, manejando-as sem preconceitos e refletindo, em conjunto, as melhores alternativas para o melhor encaminhamento possível dos problemas apresentados e prevenção de riscos desnecessários. 71 8.3 Caderneta de Saúde de Adolescentes Fonte: poder360.com.br O art. 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente assegura o atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantindo o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. (ECA, 1990 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017) A Caderneta de Saúde de Adolescente, masculina e feminina, contém informações a respeito do crescimento e desenvolvimento, da alimentação saudável, da prevenção de violências e promoção da cultura de paz, da saúde bucal e da saúde sexual e saúde reprodutiva desse grupo populacional. Traz ainda método e espaço para o registro antropométrico e dos estágios de maturação sexual, das intervenções odontológicas e o calendário vacinal. 8.4 Famílias com adolescentes Com relação ao desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, o esforço familiar será no sentido de prover as condições necessárias de alimentação, vestimenta, afetividade, educação, segurança, desapego autoestima e autonomia progressiva. O primeiro desafio familiar no cuidado de uma criança é sua constituição 72 física e esforço para promover o desenvolvimento de sua dimensão psicológica como eu. Na adolescência, a influência da família no processo de desenvolvimento perde espaço para outras fontes de fatores de risco e fatores de proteção. Os fatores internos (condição emocional, valores, talentos, habilidades, desejos, projetos, autoestima, humor etc.) ganham força, assim como os fatores oriundos da comunidade onde está inserido o jovem. O papel da família como parte da rede de apoio de um adolescente poderá significar mais proteção ou mais risco, dependendo do vínculo adulto provedor/cuidador com adolescente, da capacidade de comunicação entre eles, do estilo de parentalidade e da relação que as forças oriundas da comunidade e escola (grupos de amigos, relações com o desempenho escolar, segurança do bairro em que vivem, oportunidades de acesso à cultura e ao lazer etc.) intervêm no processo. O grau de conflito entre adultos e jovens na família está relacionado em boa parte ao estilo de relação e comunicação entre eles. Diana Baumrind (1991) propõe uma classificação dos estilos de parentalidade, que se associam a diferenças no comportamento social dos adolescentes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Estilos de Parentalidade: (BAUMRIND, 1991 apud MISTÉRIO DA SAÚDE, 2017) Estilo parental predominante Comportamento social do adolescente Autoritário: estilo restritivo e punitivo no qual o adulto provedor/cuidador persuade o adolescente a seguir suas orientações. Os limites e controles são rígidos e há pouca troca comunicativa Pouco criativo; com pouca habilidade de decidir com autonomia; poucas habilidades comunicativas; ansiedade frequente em relação às comparações sociais. Autoritativo: estilo que encoraja o adolescente a ser independente e progressivamente autônomo. Os limites e controles fazem parte da relação de autoridade que o adolescente respeita e reconhece em seus adultos cuidadores/ provedores. O diálogo e a negociação Criativo, flexível, autoconfiante e responsável; com boas habilidades comunicacionais e respeito aos adultos; capacidade de escolha com consciência de seus efeitos. 73 são centrais na comunicação entre estes adultos e jovens Negligente: que se envolve pouco com o processo de adolescer do jovem. Pouco interesse nas atividades e escolhas dos jovens. Há pouco ou nenhum controle ou limite e a monitoração do desenvolvimento é mínima. A comunicação é muito insuficiente Pouco autocontrole; dificuldade para lidar com a independência e pouca assertividade nas escolhas; necessidade de pertencimento a grupos que se interessem e o ajudem a enfrentar o processo de adolescência. Indulgente: alto envolvimento dos adultos provedores/cuidadores com os jovens, porém com poucos limites e controle sobre o processo de adolescer deles. A comunicação é pouco eficiente. Pouco autocontrole e alta frustração quando contrariados, tanto por adultos como pelos pares; dificuldade para se incluírem em grupos, pouca habilidade comunicativa. Esses estilos de parentalidade e comunicação, assim como os comportamentos sociais associados aos adolescentes, devem ser encarados como tendências, pois da mesma maneira que o estilo não é algo tão definido e rígido, seria simplista atribuir o comportamento social do adolescente apenas à tendência de um estilo parental. É necessário sempre considerar diferenças contextuais, divergências de estilos entre os adultos provedores/cuidadores, processo anterior ao período de adolescência etc. Entre as forças que podem participar da rede de apoio das famílias, crianças e adolescentes tem fundamental importância a Rede de Atenção Primária em Saúde. Em situações de conflito no ambiente familiar, escolar e, até mesmo, comunitário (outros níveis de atenção à saúde, conselhos tutelares, vara da infância e da adolescência etc.), a rede de atenção básica quase sempre é a primeira porta de entrada para a busca de uma compreensão, seja do comportamento, de um sintoma ou de uma necessidade de orientação específica (anticoncepção, uso de substância psicoativa, violência doméstica ou sexual etc.). 74 8.5 Atenção Integral à Saúde de Adolescentes no Contexto da Socioeducação Com o intuito de mudar a realidade da socioeducação no Brasil, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) instituíram o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), uma política pública que articula a “efetiva participação dos sistemas e políticas de educação, saúde, trabalho, previdência social, assistência social, cultura, esporte, lazer, segurança pública, entre outras, para a efetivação da proteção integral de que são destinatários todos adolescentes” (BRASIL, 2006b, p. 15 apud MIISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Articula, ainda, os três níveis de governo para o desenvolvimento dos programas de atendimento, considerando a intersetorialidade e a corresponsabilidade da família, da comunidade e do Estado. De acordo com o Ministério da Saúde (2017): Assumindo o seu papel no sistema de garantia de direitos, o Ministério da Saúde em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos, publicou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei (PNAISARI) pela Portaria MS/GM nº 1.082, de 23 de maio de 2014, tendo como objetivo geral “garantir e ampliar o acesso aos cuidados em saúde dos adolescentes em conflito com a lei em cumprimentode medidas socioeducativas em meio aberto, fechado e semiliberdade” A Atenção Básica é a responsável pela articulação e pela coordenação do cuidado dos adolescentes na Rede de Atenção à Saúde do município. Na organização da atenção integral serão contemplados os seguintes eixos: promoção da saúde e prevenção de agravos; ações de assistência e reabilitação da saúde e a educação permanente. E, ainda, as linhas de ação: Acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento físico e psicossocial. Saúde sexual e a saúde reprodutiva. Saúde bucal. Saúde mental. Prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Prevenção e controle de agravos. Educação em saúde. 75 Direitos humanos, a promoção da cultura de paz e a prevenção de violências e assistência às vítimas. No âmbito do atendimento aos adolescentes em situação de privação de liberdade, a atenção integral à saúde será realizada, prioritariamente, por uma equipe da Atenção Básica. Dessa maneira, todas as unidades socioeducativas terão como referência uma dessas equipes. As equipes de referência deverão estar em consonância com as atribuições indicadas na Política Nacional da Atenção Básica (BRASIL, 2011b, p. 48 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017) O Ministério da Saúde (2017) orienta quando houver equipe de saúde dentro da unidade socioeducativa: Quando houver equipe de saúde dentro da unidade socioeducativa, esta deverá ser cadastrada no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES). A equipe de saúde da Atenção Básica de referência articular-se-á com essa equipe interna do socioeducativo para, de modo complementar, inserir os adolescentes na Rede de Atenção à Saúde e realizar ações de promoção e de proteção à saúde, na lógica do SUS. Essa estratégia favorece a permeabilidade da instituição socioeducativa à comunidade, atendendo aos princípios, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Sinase, da incompletude institucional e da reinserção social dos adolescentes em situação de privação de liberdade. Para a atenção em Saúde Mental de adolescentes em situação de privação de liberdade, cada equipe de saúde da Atenção Básica de referência para esta população será acrescida de profissionais de Saúde Mental, que podem ser: médico psiquiatra, psicólogo, assistente social, enfermeiro ou terapeuta ocupacional, sendo necessário que os três últimos tenham especialização em Saúde Mental. Esses profissionais deverão ser cadastrados no SCNES da equipe de saúde da Atenção Básica de referência. Segundo o Ministério da Saúde (2017), É evidente a necessidade de tratamento adequado aos adolescentes com transtornos mentais ou com problemas recorrentes do uso de álcool e outras drogas, além do acompanhamento psicossocial, conforme indicação dada pelo art. 64 da Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012, que institui o Sinase, e da Portaria MS/GM nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Atendendo a estas indicações, os profissionais de Saúde Mental que integrarão as equipes de saúde de referência para o socioeducativo têm papel estratégico na garantia da produção de saúde dos adolescentes, trabalhando na lógica do matriciamento, com as equipes de saúde e do socioeducativo, e não na lógica do atendimento ambulatorial e nem avaliações de demandas do judiciário. 76 Por matriciamento entende-se: Discussão de casos clínicos. Participação na elaboração do Projeto Terapêutico Singular, integrado ao PIA. Atendimento psicossocial com outros profissionais da unidade socioeducativa e da rede intersetorial. Colaboração nas intervenções terapêuticas da equipe de Atenção Básica de referência e de outros serviços de saúde necessários. Agenciamento dos casos de saúde mental na rede, de modo a garantir a atenção integral à saúde. Realização de visitas domiciliares conjuntas 8.6 Crescimento e desenvolvimento do adolescente Fonte: claudiabragaendocrinologia.com.br A adolescência é marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial. Os grupos etários são explicados pelos diferentes parâmetros usados na sua concepção, como por exemplo, o crescimento e desenvolvimento, as questões sociais e econômicas e aquelas relacionadas à inimputabilidade penal. O importante é que essas faixas etárias estejam 77 representadas nos sistemas de informação para que cada setor possa ter dados confiáveis sobre esse grupo populacional. 8.7 Desenvolvimento físico O termo puberdade deriva do latim pubertate e significa idade fértil; a palavra pubis (lat.) é traduzida como pelo, penugem. A puberdade expressa o conjunto de transformações somáticas da adolescência, que, entre outras, englobam: Aceleração (estirão) e desaceleração do crescimento ponderal e estatural, que ocorrem em estreita ligação com as alterações puberais. Modificação da composição e proporção corporal, como resultado do crescimento esquelético, muscular e redistribuição do tecido adiposo. Desenvolvimento de todos os sistemas do organismo, com ênfase no circulatório e respiratório. Maturação sexual com a emergência de caracteres sexuais secundários, em uma sequência invariável, sistematizada por Tanner (1962). Reorganização neuroendócrina, com integração de mecanismos genéticos e ambientais. 8.8 Crescimento As velocidades de crescimento da criança e do adolescente normais têm um padrão linear previsível. Durante a puberdade, o adolescente cresce um total de 10 a 30 cm (média de 20 cm). A média de velocidade de crescimento máxima durante a puberdade é cerca de 10 cm/ano para o sexo masculino e 9 cm/ano para o sexo feminino. A velocidade máxima de crescimento em altura ocorre, em média, entre 13 e 14 anos no sexo masculino e 11 e 12 anos no sexo feminino. Atingida a velocidade máxima de crescimento, segue-se uma gradual desaceleração até a parada de crescimento, com duração em torno de 3 a 4 anos. Após a menarca, as meninas crescem, no máximo, de 5 a 7 cm. 78 Fonte: pt.slideshare.net O Ministério da Saúde (2017), salienta: As curvas de crescimento individual seguem um determinado percentil desenhado no gráfico de crescimento. É importante salientar que, tanto na infância quanto na adolescência, podem ocorrer variações no padrão de velocidade de crescimento, ocasionando mudanças de percentil de crescimento, mas nem sempre refletem uma condição patológica. De um modo geral, o adolescente termina o seu desenvolvimento físico com cerca de 20% da estatura final do adulto em um período de 18 a 36 meses. Idade óssea: A idade óssea ou esquelética corresponde às alterações evolutivas da maturação óssea, que acompanham a idade cronológica no processo de crescimento, sendo considerada como um indicador da idade biológica. Ela é calculada por meio da comparação de radiografias de punho, de mão e de joelho com padrões definidos de tamanhos e forma dos núcleos dessas estruturas. A idade óssea pode ser utilizada na predição da estatura final do adolescente, considerando a sua relação com a idade cronológica. 79 Composição e proporção corporal Todos os órgãos do corpo participam do processo de crescimento da puberdade, exceção feita ao tecido linfoide e à gordura subcutânea que apresentam um decréscimo absoluto ou relativo. Há acúmulo de gordura desde os 8 anos até a puberdade, sendo que a diminuição deste depósito de tecido adiposo coincide com o pico de velocidade do crescimento. Desenvolvimento muscular: Na puberdade, chama atenção a hipertrofia e a hiperplasia de células musculares, mais evidentes nos meninos. Este fato justifica a maior força muscular no sexo masculino. Medula óssea: Durante a puberdade, ocorre uma diminuição da cavidade da medula óssea, mais acentuada nas meninas. Este acontecimento explica um volume final maior da cavidade medular para os meninos,que somado à estimulação da eritropoetina pela testosterona pode representar, para o sexo masculino, um número maior de células vermelhas, maior concentração de hemoglobina e ferro sérico. Sequência do crescimento O crescimento estatural inicia-se pelos pés, seguindo uma ordem invariável que vai das extremidades para o tronco. Os diâmetros biacromial e biilíaco também apresentam variações de crescimento durante a puberdade, sendo que o biacromial cresce com maior intensidade no sexo masculino. Nas meninas, observa-se também um alargamento da pelve. Os pelos axilares aparecem, em média, dois anos após os pelos pubianos. O pelo facial, no sexo masculino, aparece ao mesmo tempo em que surge o pelo axilar. O crescimento de pelos pubianos pode corresponder, em algumas situações, às primeiras manifestações puberais. Durante a puberdade, alterações morfológicas ocorrem na laringe; as cordas vocais tornam-se espessas e mais longas e a voz mais grave. A este momento, mais marcante nos meninos do que nas meninas, chamamos de muda vocal. Na maioria dos indivíduos a mudança completa da voz se estabelece em um prazo de aproximadamente seis meses. O crescimento dos pelos da face indica o final deste processo, quando a muda vocal deve estar completa. Adolescentes com uma alteração na voz, que persista por mais de 15 dias, a Equipe de Saúde da Família deve procurar o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) que dispõe de um profissional fonoaudiólogo para realizar uma interconsulta 80 ou uma avaliação multidisciplinar entre os profissionais visando solucionar o problema em questão. É de suma importância que o profissional de saúde saiba orientar os adolescentes quanto a comportamentos nocivos a sua saúde, como o uso de tabaco. Maturação sexual A eclosão puberal dá-se em tempo individual por mecanismos ainda não plenamente compreendidos, envolvendo o eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal. Em fase inicial da puberdade, o córtex cerebral transmite estímulos para receptores hipotalâmicos, que, por meio de seus fatores liberadores, promovem na hipófise anterior a secreção de gonadotrofinas para a corrente sanguínea. SEXO MASCULINO SEXO FEMININO As gonadotrofinas, ou seja, os hormônios folículo-estimulante e luteinizante (FSH e LH) atuam aumentando os testículos. Os túbulos seminíferos passam a ter luz e promover a proliferação das células intersticiais de Leydig, que liberam a testosterona e elevam os seus níveis séricos. Esses eventos determinam o aumento simétrico (simultâneo e semelhante) do volume testicular, que passa a ter dimensões maiores que 4 cm³, constituindo-se na primeira manifestação da puberdade masculina. Segue-se o crescimento de pelos pubianos, o desenvolvimento do pênis em comprimento e diâmetro, o aparecimento de pelos axilares e faciais e o estirão pubertário. Os hormônios folículo-estimulante e luteinizante (FSH e LH) atuam sobre o ovário e iniciam a produção hormonal de estrógeno e progesterona, responsáveis pelas transformações puberais na menina. O tamanho testicular é critério importante para a avaliação das gônadas e da A primeira manifestação de puberdade na menina é o surgimento do broto mamário. 81 espermatogênese, que costuma ocorrer, mais frequentemente, no estágio 4 de Tanner. Avalia-se o volume testicular de forma empírica ou utilizando-se o orquímetro e orquidômetro de Prader. Estes instrumentos contêm elipsoides de volumes crescentes de 1 ml a 25 ml. O tamanho testicular adulto situa-se entre 12 ml e 25 ml. É seguido do crescimento dos pelos pubianos e pelo estirão puberal. A menarca acontece cerca de um ano após o máximo de velocidade de crescimento, coincidindo com a fase de sua desaceleração. A ocorrência da menarca não significa que a adolescente tenha atingido o estágio de função reprodutora completa, pois os ciclos iniciais podem ser anovulatórios. Por outro lado, é possível acontecer também a gravidez antes da menarca, com um primeiro ciclo ovulatório. Pelos pubianos: A evolução da distribuição de pelos pubianos é semelhante nos dois sexos, de acordo com as alterações progressivas relativas à forma, espessura e pigmentação Fonte: Ministério da Saúde, 2017 8.9 Problemas no Desenvolvimento Puberal Puberdade precoce e puberdade tardia A puberdade, precoce e tardia, refere-se ao aparecimento de características sexuais secundárias em idades cronológicas que podem ser consideradas prematuras ou atrasadas para este desenvolvimento. É importante, também, observar a velocidade com que os eventos puberais estão se sucedendo. a) Sexo feminino: É considerado precoce qualquer sinal de maturação sexual antes dos 8 anos de idade. No caso da puberdade atrasada, considera-se tardia a telarca e pubarca que ocorrem em idades superiores a 13 e 14 anos, respectivamente, e a menarca em idades maiores de 16 anos. b) Sexo masculino: É considerada puberdade precoce, quando ocorre o aumento do volume t esticular e dos pelos pubianos antes dos 9 anos de idade. A puberdade atrasada refere-se à persistência do estágio pré-puberal após a idade cronológica de 16 anos. 82 Baixa estatura Adolescentes de ambos os sexos com estatura de dois desvios padrões abaixo da média ou abaixo do 3º percentil são considerados de baixa estatura. Deste grupo, 20% têm baixa estatura patológica e os 80% restantes serão divididos entre os de baixa estatura constitucional e familiar. Aqueles com estatura de três desvios padrões abaixo da média têm baixa estatura, certamente, patológica. Os achados das medições de altura e peso deverão ser plotados nas curvas de crescimento encontrados nas Cadernetas do Adolescente do sexo masculino e feminino. Regra do cálculo da estatura final de adolescentes baseado na estatura dos pais: Sexo masculino = AP+ (AM – 12 cm) limite ± 10 –––––––––––––––––––––––––– 2 Sexo feminino = AM+ (AP – 12 cm) limite ± 9 2 –––––––––––––––––––––––––––– 2 AP = Altura do pai AM = Altura da mãe Hirsutismo: Trata-se do aparecimento anormal de pelos no corpo feminino, em quantidade excessiva. Assim, a presença de pelos faciais, torácicos e abdominais pode ser normal, como pode ser devida a manifestações clínicas de doenças virilizantes e estar associadas a doenças endócrinas e ovários policísticos. Conduta: Acompanhar os casos em que a experiência clínica sugere que estejam dentro dos critérios de normalidade (constitucionais). Referenciar para serviço especializado aquelas condições que exijam atenção especial. 83 Fonte: msdmanuals.com Ginecomastia: A ginecomastia consiste no aumento visível ou palpável da glândula mamária do adolescente do sexo masculino. Pode ser uni ou bilateral, aparecendo em torno dos 13 e 14 anos, durante o estirão puberal, regredindo, naturalmente, em 12 a 18 meses. Portanto, pode ser considerada uma condição frequente e normal da puberdade, podendo ocasionar transtornos de autoimagem, com repercussões na vida social do adolescente. Conduta: Diferenciar de obesidade e lipoma. Nas circunstâncias em que houver necessidade de se fazer um diagnóstico diferencial mais acurado, deve-se referenciar para serviço especializado. Fonte: drricardoamim.site.med.br 84 Micropênis Considera-se micropênis sempre que, em qualquer idade, o tamanho peniano for menor que 1,9 cm, medido da base até a ponta e esticado. Conduta: Considerando a amplitude dos fatores etiológicos, deve-se referenciar para serviço especializado. Oferecer suporte psicológico. Observação: Os adolescentes de ambos os sexos que, no acompanhamento por profissional de saúde, sejam constatadasdúvidas quanto ao processo de crescimento e desenvolvimento devem ser referenciados a serviços de maior complexidade para avaliação clínica e laboratorial. Avaliação pondero estatural: Avaliar o crescimento segundo o peso e a estatura do adolescente. PERGUNTAR OBSERVAR DETERMINAR Estatura dos pais e peso das pessoas da família. Peso e comprimento ao nascer e progressão do peso na infância. Doenças crônicas, infecções recorrentes, uso e abuso de drogas e fármacos (especialmente esteroides), vômitos induzidos, uso de laxantes. Padrão alimentar, número de refeições, consumo excessivo de refrigerantes, chás, chocolates e suplementos dietéticos. Sedentarismo, exercícios extenuantes Sinais de desnutrição, anemia e obesidade. Satisfação com imagem corporal. Peso, estatura e idade atual. Estágio de maturação sexual (Tanner) Calcular o Índice de Massa Corporal (IMC): peso/altura². Anotar no gráfico Estatura por Idade da Caderneta do Adolescente a estatura e determinar sua classicação (OMS, 2007). Anotar o IMC no gráco IMC por Idade na Caderneta do Adolescente e determinar a classicação (OMS, 2007). Vericar se, no caso de sobrepeso ou baixo-peso, pode haver relação com o estágio de maturação sexual. Em caso positivo, informar e acalmar o adolescente. 85 CLASSIFICAR SEGUNDO A ESTATURA/IDADE, PESO/IDADE e SEXO Estatura adequada Escore-z: ≥ -2 IMC adequado (Eutrofia) Escore-z: ≥ -2 e ≤ +1 Muito baixa estatura: Escore-z < -3 Baixa estatura Escore-z < -2 e ≥ -3 Magreza: Escore-z < -2 e ≥ -3 Magreza acentuada: Escore-z <-3 Sobrepeso: Escore-z > +1 e ≤ +2 Obesidade: Escore-z > +2 e ≤ +3 Obesidade grave: Escore-z > +3 Avaliar: Risco bulimia/anorexia. Presença de alguma doença aguda ou crônica. Gravidez. Endocrinopatia/doenças genéticas. Edema generalizado. Elaboração de Projeto Terapêutico Singular. Referência ao serviço especializado (depois de discussão com a equipe). Avaliar o peso e a estatura e registrar nos gráficos nas consultas subsequentes; Indicar atividades de promoção da saúde existentes no território. Fonte: Ministério da Saúde Orientações: Orientar o adolescente a respeito da postura adequada, alimentação, exercícios permitidos etc. Acompanhar o crescimento periodicamente, cada 4-6 meses. Responder às perguntas que preocupam o adolescente a respeito de seu crescimento: Continuarei crescendo? Perguntas frequentes dos pais: Por que este filho não cresce igual aos meus outros filhos? Tem a mesma idade da prima, mas ele está menor… 86 Inquietações dos adolescentes: Sou o menor de minha turma, vou ficar assim? Até quando vou crescer? Vou ficar mais alto do que meus pais? Avaliação da puberdade Avaliar e classificar a maturação sexual de adolescentes entre 10 e 19 anos. PERGUNTAR OBSERVAR AVALIAR Antecedentes: menarca da mãe, avós, tias, irmãs etc. Idade de início dos odores desagradáveis das axilas, aparecimento dos pelos pubianos. Desenvolvimento mamário e menstruações. Polução noturna. História nutricional. Doenças crônicas. Inquietações dos pais ou responsáveis frente ao desenvolvimento do adolescente (ambos os sexos). Inquietações do adolescente (ambos os sexos) sobre seu desenvolvimento. Caracteres sexuais secundários e características da genitália externa. Aspecto nutricional. Sinais clínicos compatíveis com patologia crônica. Atitude do adolescente frente às mudanças puberais. Estagio de Tanner (em cada consulta). Características da mama. Presença de ginecomastia. Volume testicular, características do escroto, tamanho do pênis. Velocidade do crescimento. Idade óssea (se necessário). Tempo de permanência em um determinado estágio de maturação (seguimento). Fonte: Ministério da Saúde, 2017 87 Fonte: Ministério da Saúde Inquietações dos pais: Não está muito cedo (muito tarde) para meu filho iniciar o seu desenvolvimento? Meu outro filho não era assim. Os seios dela estão crescendo e doendo… está normal? Os seios estão de tamanho diferente, é normal? Está com corrimento vaginal, acho que já vêm as menstruações… Se a menstruação vier já, ela vai ficar baixinha... Inquietações de adolescentes de ambos os sexos: Meu pênis está pequeno ou está normal? Vou ficar com mamas? Isto é devido à masturbação? Meus músculos vão aumentar? 88 Meus seios vão continuar crescendo? Vou ficar igual a minha irmã ou a minha mãe? Vou continuar crescendo depois do início das menstruações? 8.10 Alimentação e Nutrição A atenção nutricional ao adolescente deve fazer parte do cuidado integral na Rede de Atenção à Saúde (RAS) e na Atenção Básica, por sua capilaridade e capacidade de identificação das necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade. A promoção da alimentação adequada e saudável é uma diretriz da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (Pnan), fundamentando-se nas dimensões de incentivo, apoio, proteção e promoção da saúde para combinar iniciativas focadas na criação de ambientes saudáveis, no desenvolvimento de habilidades pessoais e na reorientação dos serviços de saúde na perspectiva da promoção da saúde (BRASIL, 2012a apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). 8.11 Aspectos comuns e frequentes na alimentação e nutrição O crescimento, especificamente o estirão, e as demais mudanças fisiológicas relacionadas à puberdade, levam a alterações das necessidades nutricionais. A alimentação insuficiente ou inadequada nessa fase pode retardar o crescimento, bem como a maturação sexual (FARIA et al., 2010 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). A adolescência também é um período crítico para o desenvolvimento da obesidade, que tende a se perpetuar na vida adulta. Doenças como diabetes tipo 2, dislipidemias e hipertensão arterial, que no passado não eram tão frequentes nessa faixa etária, são cada vez mais comuns e elevam o risco de eventos cardiovasculares no futuro (LAMOUNIER et al., 2010 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Em relação à alimentação, a Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil (POF 2008- 2009) apontou que os adolescentes consumiam mais alimentos não saudáveis como macarrão instantâneo, biscoitos recheados, sorvetes, refrigerantes, pizzas, salgados fritos/assados, salgadinhos de pacote e sanduíches que adultos e 89 idosos. Em contrapartida consumiam menos frutas, legumes e verduras (IBGE, 2011 apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017). Além das informações referentes ao consumo alimentar, é muito importante que as equipes de Atenção Básica conheçam os hábitos e o estilo de vida dos adolescentes, principalmente daqueles de seu território, para verificar os caminhos adequados e viáveis para intervenções individuais ou atividades coletivas de promoção da saúde. A infância e a adolescência são as fases em que se consolidam os hábitos alimentares, portanto é importante que se entenda os seus fatores determinantes. Entre os fatores relacionados à preferência alimentar individual, que começa a se desenvolver na infância, destacam-se a experiência pessoal e a interação social. 8.12 Avaliação nutricional de adolescentes Antropometria Fonte: slideplayer.com.br Os dados antropométricos são importantes e valiosos para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, apesar de mais difíceis de obter, devido à característica única do estirão puberal e da velocidade rápida de mudanças corporais que ocorrem nesse período. O adolescente tem um crescimento 90 de cerca de 20% a 25% da sua estatura final e de 40% a 50% do seu peso final nesse período.Estes parâmetros são alcançados, em média, durante o intervalo de três a cinco anos no estirão da puberdade. Assim, o profissional deve avaliar a Estatura/Idade, Índice de Massa Corporal (IMC) /Idade e os Estágios Puberais de Tanner de todos os adolescentes que comparecerem à unidade de saúde. Avaliação antropométrica do adolescente Fonte: Ministério da Saúde O Ministério da Saúde (2017) orienta: Ao avaliar a antropometria do adolescente, também é importante considerar a Velocidade de Crescimento (VC/ano) e o possível aspecto de excesso de peso no período anterior ao estirão pubertário, que não deve ultrapassar 20% em relação ao peso esperado para a altura/idade. Em outros adolescentes, no início do estágio de estirão, pode-se observar um aspecto longilíneo e emagrecido, que não deve ser confundido com o diagnóstico de baixo peso. A avaliação antropométrica deve ser realizada anualmente e, em caso de identificação de alterações, recomenda-se acompanhar o adolescente a cada 2-3 meses. O profissional tem na Caderneta de Saúde do Adolescente um importante instrumento para registro e acompanhamento dos dados. A Caderneta ainda possui a função didática de possibilitar a interpretação dos dados coletados de forma mais interativa e facilitada pelo próprio adolescente. 91 9 ATENÇÃO INTEGRAL SAÚDE DO ADOLESCENTE 9.1 Consulta Consentimento livre e esclarecido A todos os usuários dos serviços de saúde, inclusive adolescentes, deve ser solicitado que assinem o consentimento livre e esclarecido para a realização de qualquer procedimento clínico. No consentimento livre e esclarecido, a decisão só deve ser tomada depois que o adolescente receber informações detalhadas e esclarecidas sobre seu estado de saúde e o tratamento a ser realizado. Caso seja verificada sua incapacidade para a decisão, deve ter a assistência de seus pais ou representantes legais. Consentimento nas urgências Se o (a) adolescente não pode dar o seu consentimento, é imprescindível que um familiar/ responsável seja localizado para a obtenção do mesmo. Não conseguindo esse contato, e havendo a restrição do tempo para a tomada da decisão, o profissional de Saúde executor assume o papel de protetor natural do adolescente por meio de ações positivas em favor da vida e da saúde. Assim, nas urgências aceita-se a noção de existência de consentimento informado presumido ou implícito. O profissional deverá registrar essa condição no prontuário e no impresso de consentimento institucional. Ações preventivas como componentes da consulta de acordo com a Associação Médica Americana (1997), as visitas de rotina de adolescentes e jovens e suas famílias aos serviços de saúde configuram-se como oportunidades para: Reforçar mensagens de promoção de saúde. Identificar adolescentes que estejam sujeitos a comportamentos de risco. Promover imunização adequada. Desenvolver vínculos que favoreçam um diálogo aberto sobre questões de saúde. 92 Sensibilizar adolescentes homens para o autocuidado e na corresponsabilização pela saúde sexual e saúde reprodutiva sua e de sua parceria. Todos os adolescentes deverão receber esclarecimentos a respeito de seu crescimento físico e desenvolvimento psicossocial e sexual. Deve ser enfatizada a importância de se tornarem ativamente participantes nas decisões pertinentes aos cuidados de sua saúde. As vantagens da realização de atividade física regular deverão ser reforçadas, incluindo seu papel na promoção da saúde física e mental e como fator de socialização. No entanto, deve-se alertar quanto à necessidade do adequado condicionamento físico antes de exercícios ou práticas esportivas, bem como do uso de equipamentos de proteção no caso da prática de esportes radicais. Os adolescentes deverão receber esclarecimentos sobre cuidados com a saúde oral e sobre hábitos nutricionais adequados, incluindo os benefícios de uma alimentação saudável e da manutenção do peso ideal. As consultas são momentos privilegiados para o aconselhamento de práticas sexuais responsáveis e seguras. O uso de preservativo deve ser enfatizado como prática indispensável na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e de infecção pelo HIV. Essa é também uma oportunidade de esclarecimento de dúvidas, de conversar sobre a importância do afeto e do prazer nas relações amorosas e para alertar sobre situações de risco para violência e/ou exploração sexual. Anamnese O profissional de Saúde não deve ficar restrito a obter informações sobre o motivo focal que levou o adolescente ao serviço de saúde, e sim conhecer o adolescente como um todo, seguindo um roteiro de anamnese. Isto inclui a avaliação de como ele está se sentindo em relação às mudanças corporais e emocionais pelas quais está passando, seu relacionamento com a família e com seus pares, a forma como usa as horas de lazer, suas vivências anteriores no serviço de saúde, expectativas em relação ao atendimento atual e seus planos para o futuro. 93 Anamnese do adolescente PERGUNTAR OBSERVAR ESPECIFICAR Motivo da consulta: do adolescente e do responsável (quando presente). Antecedentes pessoais e familiares. Educação. Trabalho. Vida social. Hábitos. Alimentação. Uso de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas. Acidentes. Sexualidade. Situação emocional Imagem corporal Projeto de vida Aparelhos e sistemas orgânicos. Segurança ambiental no território. Condições gerais: higiene pessoal, aparência, tatuagem e piercings. Atitude durante a consulta, rejeição/aceitação. Comunicação. Sinais de depressão, de ansiedade. Sinais de desnutrição/obesidade. Satisfação com sua imagem corporal. Obs. O exame físico pode ser realizado em mais de uma consulta, de acordo com a necessidade ou aceitação do adolescente Crescimento. Desenvolvimento. Estado emocional. Estado nutricional. Estágio puberal. Acuidade visual. Saúde bucal. Imunizações. Capacidade de resiliência. Vulnerabilidades. Patologias clínicas/psicossociais. Inserção na família, escola, trabalho e comunidade. Fonte: Ministério da Saúde Exame físico O exame físico é o procedimento que apresenta o mais elevado grau de dificuldade para o profissional de Saúde pouco habilitado. Isso decorre do fato de que, na formação do médico ou enfermeiro, não existem disciplinas que desenvolvem essa habilidade, levando em consideração o desconforto causado ao profissional pela necessidade de manipulação do corpo de um indivíduo em pleno desenvolvimento físico e sexual. O adolescente tem o direito de optar pela presença de um familiar durante a realização do exame físico. Dependendo da situação, o 94 profissional deve solicitar a presença de um componente da equipe durante o procedimento. PERGUNTAR OBSERVAR DETERMINAR Deseja ser acompanhado por um familiar durante o exame físico? Você está insatisfeito com algum aspecto de seu corpo? Você tem alguma doença ou problema clínico em tratamento? Tem problema com os cabelos? Dificuldade visual e/ou auditiva? Tem exposição prolongada a ruídos excessivos? Ronca quando dorme? Tem mau hálito? Dor de garganta frequente? Faz sua higiene bucal de rotina? Tem hábitos alimentares peculiares? Tem o hábito de induzir vômitos? Tem dores, mal-estar, desmaios etc.? Como são suas menstruações/ poluções noturnas, atividades sexuais? Condições gerais Iniciar o exame físico no sentido da cabeça para os pés. Examinar a pele. Vericar acuidades visual e auditiva. Respiração bucal. Palidez de mucosa nasal. Rinorréia. Voz anasalada. Muda vocal. Hipertroa de amídalas. Arcada dentária. Posicionamentodos dentes. Manchas e perdas dentárias. Exame cardio-respiratório. Fígado, baço etc. Postura. Exame da coluna. Estágio de Tanner. Altura, peso e pressão arterial Dermatite seborreica. Acne Distúrbios na acuidade visual e/ou auditiva. Síndrome do respirador bucal. Sinusite e/ou rinite. Amidalite. Cáries, tártaro e/ou placas dentárias. Anorexia, Bulemia Anemia. Doenças do aparelho respiratório e/ou cardiovascular Visceromegalia Estágio puberal (critérios de Tanner). Ginecomastia/ problemas mamários. Escoliose ou outro problema de coluna Fonte: Ministério da Saúde 95 9.2 Saúde mental Durante a adolescência, alguns transtornos da saúde mental podem ocorrer e devem ser detectados precocemente para uma intervenção eficaz. Alguns problemas envolvem também doenças sistêmicas e, portanto, faz-se necessária uma abordagem multidisciplinar para um manejo adequado. O Ministério da Saúde diz (2017): (...) os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (Capsi), foram criados em 2002 com a função de prover atenção em saúde mental, baseados na integralidade do cuidado de crianças e adolescentes no território de abrangência, de natureza pública, ou seja, financiados integralmente com recursos do SUS. Foram planejados inicialmente para as cidades com 200 mil habitantes ou mais, com duas finalidades principais: atender casos de maior gravidade e ordenar a demanda em saúde mental infantil e juvenil. A equipe dos Capsi é composta por profissionais de várias disciplinas, com no mínimo um psiquiatra, neurologista ou pediatra com formação em Saúde Mental infantil, um enfermeiro, e outros profissionais de nível superior (entre: psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo) e cinco profissionais de nível médio. Os Capsi têm como prioridade o atendimento a autistas, psicóticos e a todos aqueles cuja problemática apresente prejuízos psicossociais severos, e são encarregados de desenvolver ações para ordenação das diferentes demandas relativas à saúde mental da infância e adolescência no território sob sua responsabilidade. Importante lembrar que também atendem crianças e adolescentes com necessidades decorrentes do uso de drogas. 9.3 Planejamento Reprodutivo Adolescentes têm direito ao atendimento no planejamento reprodutivo sem discriminação de qualquer tipo, com garantia de privacidade, sigilo e consentimento informado. Os serviços de saúde devem garantir esse atendimento, antes mesmo do início da atividade sexual e reprodutiva, para ajudá-los a lidarem com a sua sexualidade de forma positiva e responsável, incentivando-se comportamento de prevenção e de autocuidado. Na faixa etária de 10 a 19, podem ser atendidos sem a presença dos pais, se assim preferirem. 96 Adolescentes de 10 a 14 anos de idade devem ser orientados sobre os cuidados específicos e adequados ao seu desenvolvimento psicossexual, com a proteção integral necessária, buscando identificar se já têm atividade sexual e se as circunstâncias apontam para violência ou para o exercício da sexualidade. Havendo confirmação ou suspeita de violência sexual, notificar conforme os trâmites preconizados pelo Ministério da Saúde, apoiar emocionalmente esses adolescentes e suas famílias e referenciar para outros níveis de atenção à saúde e da rede de garantia de direitos e de proteção. O Ministério da Saúde (2017) orienta: É importante que as recomendações abaixo, preconizadas na publicação Cuidando da saúde sexual e saúde reprodutiva de Adolescentes: orientações básicas, sejam observadas pelos profissionais da Atenção Básica no atendimento em planejamento reprodutivo para adolescentes: No acolhimento aos adolescentes os profissionais devem focar: a dimensão humana, individual e ética do atendimento, os direitos e a identificação das especificidades de desenvolvimento daqueles adolescentes que estão sendo atendidos. Dispensar com acesso facilitado o preservativo nos espaços da Unidade Básica de Saúde (UBS), independente de apresentação de documentação, local de residência ou qualquer outra forma que dificulte este acesso. Incluir, no planejamento reprodutivo de adolescentes, um forte e sistemático componente educativo, com enfoque de gênero, dos direitos sexuais e direitos reprodutivos e da corresponsabilidade masculina nos eventos sexuais e reprodutivos, respeitando a diversidade sexual. Proporcionar na UBS consulta, informada e esclarecida, com médico/enfermeiro para a escolha do método contraceptivo pela adolescente e seu parceiro, aproveitando todas as oportunidades que surgem quando estão nas UBS. Orientar e esclarecer sobre todos os métodos contraceptivos disponíveis, inclusive os naturais, para que possam fazer escolhas livres e bem informadas, incluindo o respeito às suas concepções religiosas. A idade ginecológica (tempo pós-menarca) não deve ser fator limitante para a orientação e a prescrição de métodos contraceptivos adequados, levando-se em consideração o direito à saúde, pois em casos específicos, uma possível gravidez pode se configurar como um risco à saúde da adolescente. Orientar e refletir sobre as questões envolvidas na situação, apoiando adolescentes que têm relações homoafetivas e que desejam engravidar. Na discussão sobre os métodos anticoncepcionais (MAC) pressupõe-se o uso de técnicas de grupos educativos, onde todas as possibilidades de métodos anticoncepcionais são apresentadas e discutidas amplamente com os adolescentes de ambos os sexos. Deve ter enfoque de gênero, das diferentes orientações sexuais, 97 e uma abordagem positiva da sexualidade, incentivando a construção de relações igualitárias e respeitosas entre as pessoas. Na consulta individual e nas atividades de grupo, entre outros, abordar os seguintes temas, conforme orientações do Ministério da Saúde (2017): Promover o autoconhecimento do corpo como facilitador para o uso dos métodos contraceptivos. Informar e orientar sobre a interação de alguns métodos contraceptivos com o uso de drogas lícitas e ilícitas. Valorizar os argumentos sobre as vantagens do uso dos preservativos que, se usados corretamente em todas as relações, pode prolongar o prazer feminino, retardar a ejaculação e proporcionar segurança para ambos. Esclarecer, orientar e apoiar adolescentes que são soropositivos, para o exercício da sexualidade e da vida reprodutiva. Esclarecer e orientar sobre os efeitos iniciais do uso do Dispositivo Intrauterino (DIU) e ressaltar a importância do acompanhamento e da avaliação periódica da posição do DIU, além de sinais de infecção que podem levar à doença inflamatória pélvica. Informar e orientar quando é recomendada a utilização da anticoncepção de emergência. 9.4 Cuidado Integrado na Atenção Básica frente às IST/HIV/aids e Hepatites Virais Estudos apontam para o aumento da infecção pelo HIV/aids entre as pessoas jovens, assinalando que a utilização do preservativo em todas as relações sexuais é baixa. Essa constatação induz também à preocupação com outras doenças sexualmente transmissíveis, levantando a necessidade do desenvolvimento de estratégias que envolvam adolescentes, como o aumento da cobertura vacinal contra a hepatite B e a oferta da vacina do HPV para as adolescentes de 10 a 13 anos de idade. Tal situação ressalta a responsabilidade do setor Saúde para o desenvolvimento de ações de proteção à saúde na atenção básica, que incidam na diminuição da vulnerabilidade desse grupo populacional às IST/HIV/aids e no aumento da prática do sexo seguro. É imprescindível o envolvimento de toda a sociedade e a reestruturação da governança da resposta nacional em saúde, partindo-se da disponibilidade do teste 98 rápido de HIV/aids e de hepatites virais na rede básica como uma estratégia de fortalecimentodas UBS no cuidado à saúde da população em geral, muito importante para os adolescentes. Como ações complementares, mas fundamentais na proteção à saúde desse segmento, é preciso que as equipes da Atenção Básica conheçam os riscos e as vulnerabilidades da população adstrita e identifiquem as medidas de prevenção viáveis no contexto de vida de cada adolescente que os procurar. Oferecer o teste rápido e o aconselhamento também são oportunidades para facilitar o atendimento preventivo e o início do cuidado com a saúde de adolescentes que estejam com IST ou infectados pelo HIV. Para qualquer situação em que o exame de HIV/aids for requerido para menores de 18 anos, devem ser realizadas ações para detectar situações que possam violar a dignidade sexual dessas pessoas. Os casos de violação, que é uma violência contra a pessoa, requerem o desenvolvimento de ações já determinadas pelo Ministério da Saúde, para as pessoas em situação de violência. De acordo com as normativas do Ministério da Saúde, os testes rápidos para HIV e sífilis na Atenção Básica são ofertados aos adolescentes em geral. As adolescentes devem realizar os testes rápidos na primeira consulta de pré-natal. Se a gestante obtiver resultado reagente em qualquer dos testes, seu parceiro também deverá ser aconselhado à realização das testagens. Segundo o Ministério da Saúde (2017): Caso o adolescente decida realizar o teste de HIV sozinho, o profissional de saúde deve avaliar se ele é capaz de entender o seu ato, qual a sua motivação para a testagem e se seria capaz de conduzir-se por seus próprios meios após o resultado do teste, incluindo a adesão ao tratamento. O adolescente deve ser estimulado a compartilhar o que acontece com os seus responsáveis ou com adulto(s) em quem confie e que possa servir-lhe de suporte (apud BRASIL, 2013j, p. 53). São indissociáveis da testagem as partes discriminadas abaixo: (Ministério da Saúde,2017) O aconselhamento antes do teste Informar e esclarecer sobre IST, HIV/aids e as hepatites virais. Avaliar os riscos de transmissão em cada caso, as formas de prevenção e redução da transmissão vertical. 99 Explicar a importância do teste e seus resultados e solicitar o consentimento pessoal para realização O aconselhamento pós- teste, com resultado negativo Valorizar a oportunidade para reforçar hábitos de prevenção para as IST, a percepção, a diminuição ou a eliminação de riscos, considerando as práticas sexuais e as práticas de uso de álcool e de outras drogas, específicas de cada caso. O aconselhamento pós- teste, com resultado positivo, segundo o Aconselhamento em IST, HIV e Aids: diretrizes e procedimentos básicos, preconiza que Compreender as necessidades e as preocupações de adolescentes relacionadas às IST/HIV/aids para reduzir seu nível de estresse. Reduzir o impacto do diagnóstico positivo e o estresse na convivência com o HIV e a aids. Possibilitar a percepção dos riscos e das vulnerabilidades e identificar medidas de prevenção positiva viáveis no contexto de vida de cada adolescente. Facilitar a comunicação e realização do diagnóstico para a parceria (s) sexual (is) e parceria (s) de uso de drogas se for o caso. Auxiliar adolescentes e suas parcerias no processo de adesão ao tratamento. Fortalecer capacidades de enfrentamento das adversidades no viver com HIV/aids e outras IST e estimular a manutenção dos projetos de vida. Fonte: Ministério da Saúde 9.5 Gravidez na adolescência A gravidez na adolescência, hoje, constitui-se como uma questão polêmica por ligar aspectos relacionados ao exercício da sexualidade e da vida reprodutiva às condições materiais de vida e às múltiplas relações de desigualdades que estão presentes na vida social do País. Nesse sentido, é mais apropriado que a gravidez na adolescência seja vista como um ponto de inflexão que resulta de uma pluralidade de experiências de vida, com diferentes significados, abordado de várias maneiras e que adota diversos desfechos. 100 Tradicionalmente, a ocorrência da gravidez na adolescência é enfocada como não planejada, indesejada e decorrente do desconhecimento de métodos anticoncepcionais. Estes aspectos nem sempre estão presentes e sinalizam que a análise da gravidez e da maternidade nessa faixa etária não pode ser desvinculada das motivações individuais, nem descontextualizada das condições sociais em que as adolescentes estão inseridas, considerando-se a influência de fatores sociopolíticos, culturais e psicológicos implicados na escolha de ser mãe. Para a saúde pública, a gravidez na adolescência tem sido um desafio. Visto que muitas destas gestações terminam em abortos provocados, realizados em condições adversas, que evoluem com problemas obstétricos como hemorragia, infecção ou perfuração uterina, contribuindo para o aumento da mortalidade materna neste grupo etário. Outro aspecto de destaque é a possibilidade de risco biológico dessa gravidez, quando associada a outros fatores, como desnutrição e acompanhamento tardio, entre outros. Se presente, esse risco não está especificamente ligado ao fato de a gestante ser adolescente, pois pode ser minimizado por meio de um acompanhamento pré-natal adequado e iniciado o mais cedo possível. Outro risco apontado é o risco psicossocial, uma vez que a maternidade pode influenciar no abandono escolar e dificultar o acesso ao mercado de trabalho. No entanto, a análise desta questão é complexa, já que outros fatores também participam na evasão escolar e na exclusão social de adolescentes. Teste rápido de gravidez (TRG) Para que a gravidez na adolescência transcorra sem intercorrências é importante que a captação para o início do pré-natal seja realizada o mais precocemente possível. Dessa forma, o momento do diagnóstico da gestação é de fundamental importância. Para facilitar a captação precoce da adolescente gestante no pré-natal (primeiro trimestre) deve-se ter disponível o TRG. A entrega do insumo TRG pela equipe de AB pode ser feita à adolescente ou à parceria sexual, o teste pode ser realizado dentro ou fora da UBS, respeitando o direito da autonomia e sigilo. Em qualquer das circunstâncias o acolhimento deve ser feito pelo profissional de Saúde no sentido de garantir informação qualificada e fortalecer o vínculo com a 101 usuária. Caso o teste seja feito na UBS o profissional de Saúde deverá agendar de imediato a consulta para o planejamento reprodutivo ou o início do pré-natal. É imprescindível facilitar o acesso de adolescentes ao TRG na atenção básica, especialmente as que estão na faixa etária entre 10 a 16 anos, devido às singularidades destas idades e por estarem em situação peculiar de desenvolvimento, necessitando de maior apoio e proteção. O profissional deve estar atento às situações de violência sexual, e seguir as normas técnicas do Ministério da Saúde e legais, se for o caso. A solicitação do teste de gravidez por adolescentes deve estar vinculada à realização de acolhimento que faça a orientação pré-teste e informe sobre a disponibilidade, também, dos testes rápidos para sífilis, HIV/aids e a orientação para o planejamento reprodutivo. Na orientação pré-teste, acolher a adolescente para que se sinta segura em conversar sobre seus sentimentos e seja informada de que o atendimento é sigiloso e confidencial, para que ela possa retornar à unidade independente do resultado. É preciso verificar sempre a data da última menstruação e da última relação sexual para avaliar a possibilidade do uso da anticoncepção de emergência e informar que o teste rápido pode dar falso negativo na fase inicial da gravidez. No caso de dúvida, usar o preservativo masculino ou feminino ou não ter relações sexuais até a realização de novo exame. No caso de TRG negativo, é importante enfatizar a necessidadede acompanhamento de contracepção e prevenção da gravidez não planejada. O Ministério da Saúde (2017), faz as seguintes orientações, no caso de TRG positivo: No caso de TRG positivo e a adolescente deseja a gravidez: • O teste é de triagem, porém, a partir dele, a adolescente já pode ser vinculada ao pré- natal. O beta HCG, quando indicado, poderá ser realizado posteriormente, com os demais exames. • Iniciar a rotina de pré-natal e reforçar o convite para participação da parceria sexual durante as consultas, favorecendo o engajamento da parceria em ações educativas e preventivas. No caso de TRG positivo e a adolescente não deseja a gravidez: • Orientar sobre os direitos acerca da gestação: atenção ao pré-natal, assistência ao parto e ao nascimento, rede de proteção social com condições diferenciadas para continuidade dos estudos, licença- maternidade, programas específicos para famílias de baixa renda, utilização de creche e encaminhar para orientações com assistente social da rede de saúde local, se for o caso. 102 • Ofertar mediação de conflitos familiares decorrentes da gravidez não planejada, em que o fator familiar é determinante para a não aceitação da gravidez. • Orientar sobre possibilidades de adoção, caso opte(m) pela continuidade da gestação e não haja desejo ou condições de permanecer com a criança. • Informar que a legislação brasileira permite a interrupção da gestação para os casos previstos em lei (violência sexual, risco de morte para a mulher, anencefalia fetal). • Informar acerca do risco de práticas caseiras para a interrupção da gravidez. • Orientar sinais e sintomas de alerta, caso haja interrupção da gravidez de modo inseguro: febre, calafrios, hemorragia, dor abdominal, dor no baixo ventre, secreção vaginal com odor fétido, dor ao urinar. Ressaltar a importância de procurar o hospital mais próximo caso apresente quaisquer desses sintomas. 9.6 Acompanhamento pré-natal da adolescente A equipe de saúde deve atuar garantindo atendimento integral, físico, emocional e social, usando recursos que aumentem a capacidade dos envolvidos na situação para buscarem as melhores alternativas de lidar com a adolescente. É preciso identificar no território todas as adolescentes que estão grávidas e em especial as que estão em situação de maior vulnerabilidade (vivendo na rua, em conflito com a lei, usuárias de álcool e outras drogas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família) para que sejam acolhidas e recebam cuidados diferenciados, de acordo com as suas necessidades e demandas de saúde. Na avaliação do risco gestacional em todas as adolescentes grávidas, realizar o diagnóstico precoce e de intercorrências incluindo as variáveis psicossociais para a prevenção de situações de risco. Entre os aspectos importantes a serem abordados pela equipe de saúde durante o acompanhamento pré-natal e nas ações educativas, principalmente para adolescentes de 10 a 16 anos, estão: A importância do pré-natal para a saúde dela e de seu filho. O desenvolvimento da gestação e as modificações corporais e emocionais na gravidez. Orientar sobre os hábitos saudáveis de nutrição e cuidados pessoais, e sobre os medos e fantasias referentes à gestação e ao parto. Esclarecer sobre a atividade sexual, incluindo a prevenção de IST/HIV/aids. 103 Informar sobre sintomas comuns da gravidez e orientações para as queixas mais frequentes. Orientar sobre sinais de alerta e o que fazer nessas situações (sangramento vaginal, dor de cabeça, transtornos visuais, dor abdominal, febre, perdas vaginais, dificuldade respiratória e cansaço). Preparar para o parto, informando sobre os sinais e sintomas do início das contrações e do trabalho de parto. Orientar e incentivar para o parto normal, resgatando-se, como processos fisiológicos, a gestação, o parto, o puerpério e o aleitamento materno. Esclarecer à adolescente gestante em que situações é necessário o parto cesariano, uma vez que a sua condição de adolescente, por si só, não justifica a indicação desse procedimento. Orientar a adolescente gestante sobre a importância do contato pele a pele logo após o nascimento, para o recém-nascido e para a mãe, principalmente na criação do vínculo entre ela e o bebê. Informar sobre a importância da consulta puerperal e do recém-nascido na primeira semana após o parto. Orientar sobre os cuidados com o recém-nascido e sobre a importância do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança. Facilitar o futuro exercício da paternidade e da maternidade adolescente, acolhendo as adolescentes grávidas e seus parceiros adolescentes, e preparando-os para esse exercício. Envolver também os seus familiares. Pela possibilidade de vulnerabilidade em adolescentes grávidas na faixa etária de 10 a 14 anos, deve-se promover assistência qualificada, com abordagem diferenciada, considerando a necessidade de um maior número de consultas e as questões éticas e legais. Nesta faixa etária, as principais comorbidades a serem rastreadas são as doenças hipertensivas específicas da gravidez, da anemia, de infecções e da prematuridade (MINSITÉRIO DA SAÚDE, 2017, apud BOUZAS; CADER; LEÃO, 2014). 104 É fundamental monitorar no pré-natal os fatores de risco, mas que não configuram uma gravidez de alto risco, tais como: Idade menor do que 15 anos. Altura menor do que 1,45 m. Peso menor do que 45 Kg ou maior que 75 Kg. Dependência de drogas lícitas ou ilícitas. Baixa escolaridade (menor do que cinco anos de estudo regular). Não aceitação da gravidez. Situação familiar ou conjugal insegura (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017 apud BRASIL, 2012b). 105 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Juliane Pagliari et al. 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Altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para estabelecer o direito da criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou degradante, e altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, ano CLI nº 121, p. 2-72, Brasília, DF. 27 jun. 2014. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, ano CXXVIII, n. 135, Brasília, DF. 16 jul. 1990. REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. 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