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Fundamentos dos estudos com �toterápicos Profº. Brendo Araujo Gomes Descrição Os fundamentos dos estudos em pesquisa, desenvolvimento, produção e controle de qualidade de plantas medicinais e fitoterápicos. Propósito Conhecer os dispositivos legais que norteiam o uso, o estudo, o comércio, a produção e a utilização de produtos medicinais oriundos de matéria- prima vegetal assim como os principais critérios para seleção de plantas para estudos e as etapas na busca por novas drogas vegetais, fitoterápicos ou substâncias bioativas faz parte do arcabouço teórico para os profissionais que atuam na área de produção, pesquisa e desenvolvimento em fitoterápicos. Objetivos Módulo 1 Histórico, conceitos e legislação Reconhecer o histórico, os conceitos e a legislação acerca das plantas medicinais e dos fitoterápicos. Módulo 2 Critérios de seleção de plantas para estudos Definir os critérios de seleção de plantas para os estudos de novas drogas vegetais, fitoterápicos ou substâncias bioativas. Módulo 3 Controle de qualidade de produtos vegetais Identificar os critérios botânicos e as técnicas no controle de qualidade de drogas vegetais. 1 - Histórico, conceitos e legislação Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o histórico, os conceitos e a legislação acerca das plantas medicinais e dos �toterápicos. Ao longo do histórico do desenvolvimento da humanidade, sabe-se que os vegetais sempre estiveram presentes, sendo usados como fonte de alimentação ou para a construção de equipamentos e moradias. Além disso, as plantas eram utilizadas com fins ritualísticos e recreativos, incluindo o uso medicinal. Essa última finalidade remonta desde a Antiguidade, período em que a busca por remédios que auxiliassem no tratamento de mazelas já era uma grande preocupação e as plantas medicinais, uma alternativa acessível. Logo, desde as práticas primordiais até o sistema atual de práticas farmacêuticas, temos a evolução do uso, da pesquisa, do desenvolvimento, da produção e do controle de qualidade de plantas medicinais e seus derivados. As atividades biológicas encontradas nessas plantas estão relacionadas a substâncias ativas advindas dos processos de defesa contra agentes bióticos ou abióticos externos ou internos, germinação e desenvolvimento. Então, a existência e a concentração dessas substâncias podem ser afetadas pela presença desses fatores. Apesar de serem uma ótima ferramenta na busca de novos medicamentos, as plantas medicinais precisam ser avaliadas quanto à sua segurança e eficácia por meio de estudos sistemáticos. Assim, a toxidez, a ação farmacológica, a dose e outros fatores devem ser bem determinados e descritos. Infelizmente, plantas medicinais e seus derivados são vendidos de forma desordenada, originando casos de intoxicação seguidos de agravos e até mesmo morte. Dessa forma, demonstra-se a importância não só de estudos que buscam novas alternativas farmacêuticas, mas também daqueles voltados ao controle de qualidade das drogas vegetais e dos fitoterápicos. Introdução Histórico do uso de plantas medicinais pelo homem A busca por medicamentos para o tratamento das principais doenças que acometem a população é uma preocupação antiga e que se mantém constante até os dias atuais. Vamos entender como as plantas medicinais tornaram-se importantes ao longo da história da humanidade e quais os conceitos corretos que devemos utilizar ao trabalhar com esses vegetais e fitoterápicos. Não podemos nos esquecer de estudar também a legislação que regulamenta a utilização de fitoterápicos, incluindo a prescrição. Vamos começar? Cientista manuseando plantas e vidraria. O uso de plantas medicinais remonta a civilizações antigas e passou por diversas fases e etapas de aceitação. Na contemporaneidade, há muitas plantas ou derivados destas bastante relevantes e intrínsecos à prática terapêutica. O conhecimento acerca de plantas medicinais se iniciou com a fase da experimentação, em que grupos humanos antigos buscavam recursos naturais para a sua sobrevivência. Em meio às práticas alimentares, podem ter ocorrido descobertas de propriedades terapêuticas desses vegetais. Assim, teria se iniciado uma busca por recursos naturais vegetais que auxiliassem no tratamento de mazelas. Além disso, a utilização de plantas medicinais pode estar associada à capacidade desses grupos humanos de aprender a diferenciar plantas benéficas daquelas que poderiam trazer algum risco à saúde. Saiba mais As informações mais antigas sobre o uso de plantas medicinais são encontradas em tábuas e papiros associados a relatos de povos, como os mesopotâmicos, egípcios, assírios e hebreus. Muito antigo, não é mesmo? Apesar disso, diversos estudos com fósseis determinam que os resquícios de plantas medicinais encontrados nos dentes de hominídeos podem vir a indicar evidências do uso pontual de plantas e, provavelmente, com fins medicinais. Exemplificação de relatos em papiros. O marco para a história do uso de plantas medicinais mais próximo aos métodos científicos que conhecemos atualmente foram as pesquisas direcionadas e tentativas de sistematização dessas plantas durante a Idade Antiga no mundo ocidental, especificamente na Grécia e Roma Antiga. No mundo oriental, duas grandes tradições culturais foram essenciais para o conhecimento terapêutico de muitas plantas medicinais, são elas: Medicina ayurvédica indiana Medicina tradicional chinesa Atenção Vale salientar que, como tradições culturais, essas práticas são perpetuadas até os dias atuais pelos povos de sua região. Um pouco mais à frente da nossa linha do tempo, temos o período da Idade Média. Durante essa época, a cultura ocidental do uso de plantas medicinais foi conservada e aprimorada. Na Europa ocidental, os monastérios foram os grandes responsáveis por perpetuar e aplicar os conhecimentos acerca do uso terapêutico de algumas plantas. Ao mesmo tempo, no Oriente e no mundo árabe, os conhecimentos gregos e romanos também foram os mais praticados e desenvolvidos. Durante as investidas de colonização das Américas no período renascentista, a grande escassez de remédios nas colônias, o aparecimento de novas doenças e o conhecimento de povos tradicionais indígenas e africanos permitiram a ampliação do conhecimento acerca de plantas medicinais para os mais diversos fins terapêuticos. A importância do uso de plantas medicinais, sua sistematização e os estudos mais aprofundados sobre sua morfologia e suas ações terapêuticas foram mais bem implementados na Europa. Dessa forma, desenvolveu-se a primeira farmacopeia que buscava padronizar a composição e as formulações utilizadas na época. Chegada à América, por Magasin Pittoresque, Paris, 1844. Agora, chegamos ao Iluminismo. Tudo que estava em desenvolvimento acerca das plantas medicinais continuou crescendo, com apenas uma grande diferença. Nesse período, as técnicas fitoquímicas começaram a ser aprimoradas, o que fez com que plantas medicinais que antes eram utilizadas de forma bruta (por exemplo, extratos) passassem a ser alvo para isolamento de substâncias puras. Isso iniciou a grande busca por substâncias e a investigação quanto às suas possíveis atividades biológicas. A Revolução Industrial beneficiou o aparecimento de complexos industriais farmacêuticos que buscavam o desenvolvimento de fármacos a partir de substâncias puras. Ainda assim, o uso de plantas medicinais em sua forma bruta não foi perdido e continuou sendo desenvolvido e bastante utilizado por grupos tradicionais. Desse modo, na contemporaneidade, o uso tradicional das plantas por grupos humanos tornou-se um dos maiores alvos de observação na busca de substâncias com propriedades terapêuticas. Algumas formas brutas das plantas e seus derivados continuaram a ser utilizados e adotados como métodos oficiais de uso, a exemplo das drogas vegetais, seus derivados e dos fitoterápicos. Uma ótima maneira de afirmar a importância cultural dos grupos humanos, não? Termos e conceitos de plantas medicinaise �toterápicos Os termos e conceitos utilizados para trabalhar com plantas medicinais e fitoterápicos estão discriminados em disposições legais, como resoluções da diretoria colegiada (RDC), instrumentos normativos (IN), informes técnicos (IT), assim como em projetos, propostas, decretos e leis de âmbito federal. Estudaremos agora os termos gerais discriminados nesses dispositivos legais. Veja a seguir os termos com suas definições: Espécie vegetal, cultivada ou não, com propósitos terapêuticos. Plantas que produzem predominantemente determinada substância de uma classe de compostos, diferenciando-se por essa característica dos demais indivíduos da mesma espécie. Podem ser morfologicamente idênticos e apresentar composição química distinta em função de alterações genéticas ou epigenéticas. Conjunto de todas as substâncias originadas do metabolismo primário ou secundário que são responsáveis pelos efeitos biológicos de uma planta medicinal ou de seus derivados. Plantas medicinais Quimiotipo Fitocomplexo Planta medicinal ou suas partes que contenham substâncias ou classes de substâncias responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta, estabilização, quando aplicável, e secagem. Podem estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada. Produto da extração da planta medicinal fresca ou da droga vegetal, que contenha as substâncias responsáveis pela ação terapêutica. Pode ocorrer na forma de extrato, óleo fixo e volátil, cera, exsudato e outros. Droga vegetal com fins medicinais a ser preparada por meio de infusão, decocção ou maceração em água pelo consumidor. Produto obtido de matéria-prima ativa vegetal, exceto substâncias isoladas, com finalidade profilática, curativa ou paliativa, incluindo medicamento e produto tradicional fitoterápico. Pode ser simples, quando o ativo é proveniente de uma única espécie vegetal, ou composto, quando o ativo é proveniente de mais de uma espécie. Obtido utilizando exclusivamente matérias-primas ativas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia, dos riscos de uso, da composição, da reprodutibilidade e da qualidade. Exige registro no órgão regulador, a Anvisa. Qualquer produto obtido de planta medicinal com fins curativos ou paliativos, seja ele manipulado, industrializado ou produzido de maneira caseira. Pode ser registrado ou notificado no órgão regulador, a Anvisa. Planta medicinal fresca, droga vegetal ou derivado de droga vegetal. Matéria-prima ativa vegetal, ou seja, droga ou derivado vegetal utilizado no processo de fabricação de um fitoterápico. Droga vegetal Derivado vegetal Chá medicinal Fitoterápico Medicamento fitoterápico Produto tradicional fitoterápico Matéria-prima vegetal Insumo Farmacêutico Ativo Vegetal (IFAV) Os produtos vegetais podem ser encontrados em dois diferentes estados: como planta seca, em que os órgãos são secos inteiros ou rasurados, e como pós, ou seja, partículas sólidas de granulometria definida, como podemos observar a seguir. (A) Flores secas do gênero Hibiscus; (B) Pó de maca peruana. Além disso, há diversas formas de formulações desses produtos vegetais: Ufa! Quanta formulação, não? Entretanto, não paramos por aí. Há também três tipos de preparações que podem ser feitas com esses produtos vegetais: Tintura Um produto da extração ou da diluição de extratos alcoólico ou hidroalcoólico. Extrato seco Um produto sólido obtido após a evaporação do solvente utilizado na extração. Extrato seco padronizado Um extrato seco com o teor definido de seus principais constituintes. Extrato �uido Produto obtido por extração com líquido apropriado em que a massa ou o volume de parte do extrato corresponde a uma parte em massa da droga vegetal seca utilizada na sua preparação. Extrato mole Preparação de consistência semissólida obtida por evaporação parcial do líquido extrator, podendo ser apenas utilizado como solventes álcool etílico, água ou misturas de ambos em proporção adequada. Apresentam, no mínimo, 70% (p/p) de resíduo seco. Preparação magistral É realizada pelo usuário por infusão, decocção ou maceração para uso imediato. Bem parecido com um chá medicinal. Preparação o�cinal É aquele produto vegetal preparado na farmácia habilitada a partir de uma prescrição de profissional habilitado, na qual são detalhados sua composição, forma farmacêutica, posologia e o modo de usar. Vale lembrar que esse tipo de preparação é realizado para produtos vegetais destinados a uma pessoa individualizada. Preparação extemporânea É feita também em farmácia habilitada, mas sua fórmula está inscrita no Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira ou em outros reconhecidos pela Anvisa. Legislação de plantas medicinais e �toterápicos Cadastro, registros e noti�cações Website da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Notificação, cadastro e registro de produtos são modalidades de regularização de produtos de saúde junto à Anvisa, e cada uma apresenta sua particularidade. Veja a seguir. É caracterizada como uma prévia comunicação à Anvisa, informando que se pretende fabricar, importar e/ou comercializar produtos tradicionais fitoterápicos. É um peticionamento eletrônico disponibilizado no site da Anvisa, no qual estão dispostas orientações adicionais e definições para o correto preenchimento dos formulários. Este é utilizado somente para insumos farmacêuticos. É o instrumento no qual o Ministério da Saúde, no uso de sua atribuição específica, determina a inscrição prévia no órgão ou na entidade competente para avaliação do cumprimento de caráter jurídico-administrativo e técnico-científico relacionada com a eficácia, segurança e qualidade desses produtos para introdução no mercado, comercialização ou consumo. É aquele em que os medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos com esse tipo de registro deverão constar na Lista de Medicamentos Fitoterápicos de Registro Simplificado ou nas Monografias de Fitoterápicos de Uso Bem Estabelecido da Comunidade Europeia elaboradas pelo Comitê de Produtos Medicinais Fitoterápicos da European Medicines Agency (EMA) – Agência Europeia de Medicamentos. Outra diferença que pode ser encontrada entre essas modalidades de regularização são os riscos que os produtos apresentam à saúde do paciente quando em contato. Esses riscos são divididos em quatro classes, como podemos ver com mais detalhes a seguir: Classe I Produtos com risco menor e, portanto, classificados somente para notificação. Por exemplo, os chás medicinais. Classe II Notificação Cadastro Registro Registro simplificado Produtos que apresentam risco intermediário e, portanto, são classificados somente para cadastro. Entre os fitoterápicos, não há esta categoria. Classe III e IV Produtos que apresentam maior risco à saúde humana e, portanto, são classificados para registro. Por exemplo, os medicamentos fitoterápicos e alguns produtos tradicionais fitoterápicos. Boas práticas de fabricação As boas práticas de fabricação (BPF) garantem a produção de acordo com os padrões necessários de qualidade dos produtos. Assim, garantem a qualidade de todos os aspectos da produção, desde a matéria-prima, as instalações, os equipamentos até os procedimentos realizados. As BPFs são bastante utilizadas em processos industriais, principalmente nas áreas médica, farmacêutica e alimentícia. Exemplo de boas práticas de fabricação. As disposições dessas boas práticas de fabricação no âmbito de plantas medicinais e fitoterápicos estão discriminadas pela: RDC nº69/2014 Para insumos farmacêuticos, incluindo os vegetais. RDC nº17/2010 Para medicamentos, incluindo os medicamentos fitoterápicos. RDC nº13/2013 Específica para produtos tradicionais fitoterápicos. Farmácia viva e Renisus Preparo de medicamentos fitoterápicos. As farmácias vivas foram regulamentadas pelo Ministério da Saúde, que as instituiu no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo como base a Relação Nacionalde Plantas Medicinais de Interesse ao SUS ― Renisus. O Programa Renisus foi incorporado ao sistema de saúde pública, visando à promoção do uso racional das plantas medicinais na atenção primária à saúde. Dessa forma, o programa resgata o conhecimento popular embasando-o nos conhecimentos científicos. As etapas de cultivo, coleta, processamento, armazenamento, preparação e dispensação de produtos magistrais e oficinais de plantas medicinais e fitoterápicos no âmbito do Renisus seguem as demais disposições legais já estabelecidas até o momento da instituição do programa. Saiba mais Atualmente, o Renisus conta com uma lista de 71 espécies vegetais com potencial terapêutico. Dentre estas, 3 possuem monografias publicadas, 51 monografias estão sendo finalizadas (em revisão ou junto à editora) e há mais 21 monografias para serem elaboradas. Cabe ressaltar que algumas espécies possuem duas ou mais monografias sendo desenvolvidas. Você sabia que o Brasil contém um código oficial farmacêutico? É nesse documento que se estabelecem os requisitos mínimos de qualidade para fármacos, insumos, drogas vegetais, medicamentos e produtos para a saúde. Assim, seu objetivo é de promover a saúde da população ao estabelecer requisitos de qualidade e segurança dos insumos para a saúde, especialmente dos medicamentos, apoiando as ações de regulação sanitária e induzindo ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional. Capa da 6ª edição da Farmacopeia Brasileira. As farmacopeias são compêndios que contêm monografias de drogas vegetais dentro do Formulário Nacional de Fitoterápicos, em que estão estabelecidos parâmetros, como: binômio científico, nomes populares, descrições macroscópicas e microscópicas, descrições químicas e físico-químicas, parte utilizada, métodos de preparo, indicação e bibliografia relacionada. Histórico das principais disposições legais especí�cas Sabemos que as plantas medicinais foram utilizadas ao longo da história para o tratamento de diversas doenças. Com a regularização do uso dessas plantas também foram criados diversos dispositivos legais nos últimos 50 anos para garantir a qualidade e a segurança na consumação desses produtos. Começaremos com uma das primeiras leis geradas para esse fim, a Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Essa lei dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos. Atenção Cabe ressaltar o artigo 7º, o qual determina que a dispensação de plantas medicinais é privativa das farmácias e ervanarias, observados o acondicionamento adequado e a classificação botânica. Conheça a Farmacopeia Brasileira Imagem ilustrativa de decisões judiciais. A partir dessa lei, diversas resoluções e decretos foram produzidos, como é o caso da Resolução CIPLAN nº 8, de 8 de março de 1988, a qual implanta a prática da fitoterapia nos serviços de saúde, e o Decreto nº 23.052, de 16 de abril de 1997, o qual regulamenta a Lei nº 2.537, de 16 de abril de 1996, criando o Programa Estadual de Plantas Medicinais. Em 12 de fevereiro de 2001, a resolução SES/RJ nº 1590 foi republicada no D.O. nº 15, de 18 de março de 2004, aprovando o regulamento técnico para a prática da fitoterapia e o funcionamento dos serviços de fitoterapia no estado do Rio de Janeiro. Antes dessa republicação, houve outra resolução (SES/RJ nº 1757), em 18 de fevereiro de 2002, que contraindicava o uso de plantas medicinais no estado do Rio de Janeiro e dava outras providências. Percebeu como, em cerca de 30 anos, a regulamentação da produção, do uso e do controle de qualidade dos produtos fitoterápicos avançou no Brasil e no estado do Rio de Janeiro? Entretanto, todas essas mudanças legais não pararam por aí. Em 16 de março de 2004, foram publicadas as resoluções: RDC nº 48/2004 Que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Essa é uma resolução de diretoria colegiada. RDC nº 88/2004 Que determina a publicação da Lista de bibliografias para avaliação de segurança e eficácia de fitoterápicos. RDC nº 89/2004 A qual determina a publicação da Lista de registro simplificado de fitoterápicos. RDC nº 90/2004 Que determina a publicação do Guia para a realização de estudos de toxicidade pré-clínica de fitoterápicos. RDC nº 91/2004 Que determina a publicação do Guia para realização de alterações, inclusões, notificações e cancelamentos pós-registro de fitoterápicos. No ano de 2005, o Ministério da Saúde desenvolveu uma Proposta de Política de Medicina Natural e Práticas Complementares no SUS em um documento não publicado, em que se explicitou a necessidade de conhecer, apoiar, incorporar e implementar experiências no âmbito da homeopatia e da fitoterapia. Já a Portaria nº 971/2006, de 3 de maio de 2006, inclui o uso de plantas medicinais e da fitoterapia como prática da assistência em saúde. No mesmo ano, no dia 22 de junho, publicou-se o Decreto nº 5.813/2006, a partir do qual a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos foi aprovada visando garantir o acesso com segurança e o uso racional das plantas medicinais e dos fitoterápicos aos brasileiros em geral. Tal decreto segue as determinações da Organização Mundial da Saúde para a "adoção de práticas tradicionais, com comprovada eficiência, como ferramenta para manutenção de condições de saúde" (BRASIL, 2021). Esse decreto, por sua vez, consolidou a utilização das plantas medicinais e valorizou o conhecimento tradicional associado a elas. Plantas medicinais. Continuando a nossa linha do tempo de criação de dispositivos legais relacionados a plantas medicinais e fitoterápicos, foram criadas mais duas RDC em adição às publicadas em 2004. Em 8 de outubro de 2007, foi publicada a RDC nº 67/2007, que dispõe sobre boas práticas de manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano em farmácias, e, em 21 de novembro de 2008, foi publicada a RDC nº 87/2008, que altera o regulamento técnico sobre boas práticas de manipulação em farmácias. Saiba mais Menos de um mês depois da publicação da RDC de 2008 (9 de dezembro), a Portaria Interministerial nº 2.960/2008 aprovou o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos com o objetivo de construir um marco regulatório sobre plantas medicinais e fitoterápicos e estabelecer critérios de inclusão e exclusão de espécies nas Relações Nacionais e Regionais de Plantas Medicinais, que devem ser utilizados pelos prescritores como guia ou memento. Durante o ano de 2010, a diretoria colegiada adotou resoluções que desenvolveram os dispositivos legais que estudamos, como a notificação e o registro. A RDC nº 10/2010, de 9 de março de 2010, que dispõe sobre a notificação de drogas vegetais junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A RDC nº 14/2010, de 31 de março de 2010, publicada no Diário Oficial nº 63, de 5 de abril de 2010, que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. A RDC nº 17/2010, de 16 de abril de 2010, que dispõe sobre as Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos. Além disso, em 20 de abril do mesmo ano, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 886/2010, instituindo o Programa Farmácia Viva e integrando o conhecimento de plantas medicinais ao SUS. Atenção É importante registrar que, até 2010, os chás eram regulamentados pelo Ministério da Agricultura apenas para rotulagem, pois não eram considerados recursos terapêuticos. Para reforçar essa ideia, a legislação impedia qualquer indício de alegação terapêutica em seus rótulos. A publicação da RDC nº 10/2010 marca o reconhecimento dos chás medicinais como recursos terapêuticos, embora o termo “chá” fosse proibido nas embalagens, mas foi um grande passo, após muitos anos de trabalhos e pesquisas científicas sobre o assunto. Reflita: quem toma um chá de carqueja ou de boldo em um lanche da tarde, se não estiver passando mal? Não fazia o menor sentido não serem reconhecidos! Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária Outro tema que trabalhamos anteriormente e que obteve importantesavanços por meio de dispositivos legais foram as boas práticas de fabricação. Em 13 de abril de 2013, foi publicada a RDC nº 18/2013, que dispõe sobre: Imagem ilustrativa do estudo de plantas medicinais. No ano de 2014, diversas resoluções e instruções normativas foram publicadas a fim de organizar a área de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil. Dentre elas, tivemos a RDC nº 26/2014, de 13 de maio, que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos. No mesmo dia, também foi publicada a Instrução Normativa (IN) da Anvisa nº 2/2014 com a "Lista de medicamentos fitoterápicos de registro simplificado" e a "Lista de produtos tradicionais fitoterápicos de registro simplificado". Em 18 de junho do mesmo ano, foi publicada a RDC nº 38/2014, que disserta sobre a realização de petições pós-registro de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos; temos também a IN nº 04/2014, que determina a publicação do “Guia de orientação para registro de Medicamento Fitoterápico” e registro e notificação de Produto Tradicional Fitoterápico; e a IN nº 05/2014, que dispõe sobre os procedimentos relacionados ao protocolo do Histórico de Mudanças do Produto e define o prazo de análise das petições pós-registro de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos. Comentário Note que, a partir de 2014, com a RDC nº 26, os medicamentos fitoterápicos e os produtos tradicionais fitoterápicos passam a ser tratados em uma só resolução, e todos são chamados genericamente de “fitoterápicos”. São muitas alterações, não é mesmo? Isso nos faz refletir que a sociedade concebeu a importância da utilização da biodiversidade vegetal brasileira para a biotecnologia e a saúde humana. Assim, fizeram-se necessárias a padronização e a regulamentação dos processos que envolviam essa nova área da ciência. Por exemplo, no ano de 2016, foi publicada a IN nº 07/2016, que esclarece a regulamentação de industrialização, manipulação, comercialização e registros de insumos, de medicamentos fitoterápicos e de produtos tradicionais fitoterápicos. Em 17 de junho do mesmo ano, a RDC nº 84/2016 foi aprovada e nela ratifica-se o Memento Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira. Por fim, temos a RDC nº 298/2019, de 12 de agosto de 2019, que aprova a Farmacopeia Brasileira, em sua 6ª edição. Boas práticas de processamento e armazenamento de plantas medicinais. Preparação e dispensação de produtos magistrais. O�cinais de plantas medicinais e �toterápicos em farmácias vivas no âmbito do SUS. Pesquisa em �tomedicamentos: coleta, secagem, moagem e extração Neste vídeo, o especialista Brendo Araujo Gomes aborda os tipos de coleta para cada órgão vegetal ou parte, assim como a conservação desse material para processos posteriores. Os métodos de secagem de amostra vegetal, dependendo do órgão e objetivo e os tipos de máquina utilizados para moagem desse material. Por fim, descreve os diferentes métodos de extração convencionais e modernos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Quanto aos termos gerais discriminados nas disposições legais sobre plantas medicinais e fitoterápicos, assinale a opção que indica corretamente o termo associado ao produto de extração, ou outro processo, que contém substâncias com potencial ação terapêutica: Parabéns! A alternativa B está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%2 paragraph'%3E%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20O%20derivado%20vegetal%20%C3%A9%20o%2 Questão 2 Quanto ao modo que podemos encontrar os produtos de origem vegetal com fins medicinais, assinale corretamente a opção que indica o termo utilizado para o produto sólido seco, ou seja, livre de solvente: Parabéns! A alternativa C está correta. A Droga vegetal. B Derivado vegetal. C Insumo farmacêutico ativo vegetal. D Fitoterápico. E Planta medicinal fresca. A Pó. B Tintura. C Extrato seco. D Chá medicinal. E Planta seca. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20O%20extrato%20seco%20%C3%A9%20o%20produto%2 2 - Critérios de seleção de plantas para estudos` Ao �nal deste módulo, você será capaz de de�nir os critérios de seleção de plantas para os estudos de novas drogas vegetais, �toterápicos ou substâncias bioativas. Introdução aos critérios de seleção de plantas para estudos Com a maior biodiversidade vegetal do mundo, o Brasil é um dos países promissores na busca por novos fármacos e substâncias com alto potencial terapêutico a partir de plantas. Ele apresenta, aproximadamente, 12% das espécies vegetais do planeta e isso pode ser explicado pela combinação entre a heterogeneidade de habitat em sua grande extensão territorial. Floresta úmida e sua diversidade vegetal. Então, qualquer vegetal pode ser coletado e utilizado para pesquisas em fitoterápicos? Não é bem assim. A bioprospecção é a aplicação de tecnologias para a pesquisa e o desenvolvimento de produtos com diversos fins aplicados, tendo como matéria-prima a biodiversidade. Esta, por sua vez, está associada à riqueza e abundância de espécies no espaço natural. Há diferentes abordagens para a seleção de novas drogas vegetais, fitoterápicos ou substâncias ativas como a quimiossistemática, etnodirigida, randômica e etológica. Neste módulo, entenderemos mais a respeito de cada abordagem, quais as suas vantagens e o cadastro dos organismos estudados no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado, o SisGen. Vamos lá? Seleção por abordagem quimiossistemática / quimiotaxonômica A abordagem quimiossistemática ou quimiotaxonômica consiste na seleção de espécies de determinado grupo, como famílias ou gêneros botânicos, sobre as quais já se possui algum conhecimento químico. Assim, nós sabemos o conhecimento fitoquímico de ao menos um representante desse grupo. Essa abordagem parte da premissa de que as espécies filogeneticamente relacionadas possuem maquinaria gênica e estrutural semelhantes, sendo capazes de produzir as mesmas substâncias e possuir perfis fitoquímicos próximos. Dessa forma, as espécies do mesmo grupo poderiam ter os mesmos potenciais e ações terapêuticas. Um interessante exemplo é o que acontece com a planta popularmente chamada de cratego. Diversas espécies vegetais recebem esse nome e pertencem ao mesmo gênero, conhecido como Crataegus L. Essas diferentes espécies foram alvo de estudos na busca de potencial ação terapêutica e algumas apresentaram resultados positivos para a mesma atividade, o que é esperado dadas as questões quimiossistemáticas. As inflorescências rasuradas ou o extrato seco das espécies mostradas a seguir são exemplos de fitoterápicos presentes no Formulário Nacional de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (FNF-FB) com indicação para auxiliar no alívio da ansiedade e de insônia leves. Veja, a seguir, exemplos de plantas do gênero Crataegus: Crataegus monogyna Jacq. Crataegus rhipidophylla Gand. Crataegus laevigata (Poir.) DC. Crataegus pentagyna Waldst. & Kit. ex Willd. Crataegus nigra Waldst. & Kit. Crataegus azarolus L. Partes de plantas do gênero Crataegus. Partes de plantas do gênero Crataegus. Eucalyptus globulus Labill. Eucalyptus polybractea R.T. Baker Eucalyptus smithii R.T. Baker Essas espécies são conhecidas popularmente como eucalipto e também estão presentes no Formulário Nacional de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (FNF-FB). Os óleos voláteis extraídos das folhas ou dos ramos jovens dessa planta são fitoterápicos com a mesma indicação terapêutica, que consiste em auxiliar no tratamento da tosse associada ao resfriado comum. Veja, a seguir, exemplos de plantas do gênero Eucalyptus. Partes de plantas do gênero Eucalyptus. No FNF-FB pode ser encontradauma monografia que engloba diversas espécies do gênero Salix L. A casca do caule e o extrato aquoso seco das espécies S. purpurea L., S. daphnoides Vill., S. fragilis L. e diversas outras espécies desse gênero são utilizados em formulações de fitoterápicos, como preparações extemporâneas, tinturas, extratos fluidos ou derivados vegetais brutos. Saiba mais Esses produtos derivados das espécies de Salix apresentam indicação para auxiliar no alívio dos sintomas da dor articular leve e da febre associada ao resfriado comum. Além disso, esse exemplo também possui uma questão da quimiotaxonomia, em que diferentes espécies do mesmo gênero possuem ações terapêuticas semelhantes. Veja, a seguir, exemplos de plantas do gênero Salix: Partes de plantas do gênero Salix. Seleção por abordagem etnodirigida Esta abordagem consiste na seleção de espécies a partir de indicações de grupos humanos em determinados contextos culturais com fins medicinais. A abordagem etnodirigida é baseada no conhecimento tradicional, já que os grupos humanos associados a diferentes questões culturais específicas detêm o conhecimento acerca do uso desses recursos naturais com fins medicinais em suas práticas próprias de saúde. Aqui, podemos ver a importância do conhecimento de grupos étnicos e o mantenimento de sua cultura e vivência. Grupos humanos e o uso de plantas medicinais. Um dos grupos humanos que detêm grande conhecimento tradicional associado acerca do uso medicinal de plantas são os indígenas, quilombolas e ribeirinhos. A etnofarmacologia estuda os efeitos biológicos de materiais, comumente de origem vegetal ou animal, relacionados a seus usos em práticas terapêuticas de grupos humanos. Dessa maneira, a combinação da etnobotânica com a etnomedicina permite fazer esse tipo de estudo. Vamos entender melhor cada um desses termos? A etnobotânica é a ciência que estuda o uso de plantas por grupos humanos, enquanto a etnomedicina é a ciência que estuda como esses grupos percebem a saúde e as doenças, e as práticas que eles usam para manter a saúde e tratar as doenças. A espécie Baccharis trimera (Less.) DC., conhecida popularmente como carqueja, como mostrado a seguir, apresenta uso bastante difundido no Brasil. O primeiro registro escrito do uso da infusão dos galhos e das folhas de carqueja foi feito em 1931 para o tratamento de problemas sexuais masculinos e femininos. O caule alado utilizado em preparações extemporâneas e tinturas compõe um produto tradicional fitoterápico presente no FNF-FB com indicação para auxiliar no alívio de sintomas dispépticos. Partes vegetais da carqueja. Alguns grupos tradicionais, como os indígenas do Brasil, utilizam as folhas de uma planta conhecida popularmente como capim-santo, capim-limão ou capim-cidreira, como mostrado a seguir. A infusão dessa planta é ingerida a fim de tratar a “má digestão” e outros problemas da região abdominal. Vale ressaltar que seu nome científico, Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, está presente na FNF-FB. Partes de plantas do gênero Cymbopogon. Explicação Saiba mais Além de problemas na “má digestão”, as infusões de suas folhas são consideradas produtos tradicionais fitoterápicos utilizados como antiespasmódico, auxiliando no alívio de sintomas decorrentes das cólicas menstruais e intestinais e no alívio da ansiedade e insônia leves. Outro grupo tradicional do Brasil detentor de ricos conhecimentos acerca dos vegetais e seus usos medicinais são os quilombolas. Esse grupo possui o costume de utilizar uma planta conhecida como salgueiro-do-brasil para tratar tosse, gripe e resfriado. Esse nome popular está associado à espécie Sambucus australis Cham. & Schltdl, que está presente na FNF-FB. As preparações extemporâneas das flores dessa planta são produtos tradicionais fitoterápicos com indicação para o tratamento dos sintomas decorrentes de gripe e resfriado comum, corroborando a indicação popular e o conhecimento tradicional. Desse modo, nós temos o conhecimento científico e cultural andando juntos. Incrível, não é? Partes de plantas do gênero Sambucus. Seleção por abordagem randômica A terceira abordagem consiste na seleção de plantas ao acaso, ou seja, sem maiores indicações. Esse método de investigação é bastante utilizado para estudos de triagens fitoquímicas e farmacológicas. Métodos para triagem química e de atividades biológicas. Não há forma melhor de entendermos a não ser com um exemplo, não é mesmo? Então, vamos observar o caso de bancos de extratos vegetais. Um dos métodos mais avançados e eficientes para triagem é o high throughput screening, ou triagem de alto desempenho, em que grandes bancos de extratos são avaliados de modo automatizado, buscando: Esses bancos de extratos vegetais podem ser compostos por amostras selecionadas de forma randômica, mas também podem seguir as abordagens quimiossistemáticas ou etnodirigidas. Atenção Deve-se lembrar que, caso uma planta já tenha ação terapêutica comprovada para o tratamento de determinada doença, investigá-la para o tratamento de uma doença completamente diferente também se caracteriza como uma abordagem randômica, já que não há indicações para esse novo estudo. Seleção por abordagem etológica A abordagem etológica consiste na seleção a partir da observação do uso de plantas inteiras, pedaços ou exsudatos por animais, com a finalidade de combater doenças ou controlá-las. Assim, o uso de algumas plantas por animais, sem a finalidade de alimentação, pode vir a indicar a presença de substâncias bioativas, nas quais podem ser identificadas diferentes ações terapêuticas. Parece uma abordagem um pouco mais observacional, certo? Vejamos este exemplo. A observação da ingestão de folhas da espécie Vernonia amygdalina Delile, conhecida como “folha-amarga”, por primatas que aparentavam estar acometidos por infestação parasitária permitiu, após estudos aprofundados, a identificação de diversas novas substâncias nessa planta com ação antiparasitária. Outra planta em que se utilizou a abordagem etológica é a espécie Dracaena cantleyi Baker, como observado a seguir, cujas folhas eram mascadas por primatas. Assim, a planta tornava-se uma massa pastosa e era esfregada sobre áreas lesionadas dos primatas. Após estudos, identificou-se a ação anti-inflamatória e analgésica da planta, o que se assemelhava ao uso para tratamento de “dores articulares” que o primata realizava. Que curioso, não é? Folhas da planta do gênero Dracaena. Gestão do patrimônio genético e do conhecimento tradicional associado Fingerprint químico (ou "impressão digital" química) Isolamento de substâncias Avaliação de possíveis ações terapêuticas Há um fator muito importante para se considerar na pesquisa com plantas no Brasil: o cadastro da pesquisa junto ao governo. Desse modo, há a garantia de compensação dos diferentes grupos humanos por ceder o conhecimento construído ao longo do tempo. Esse cadastro é um instrumento declaratório e obrigatório que está especificamente relacionado com a pesquisa com plantas nativas brasileiras e o uso do conhecimento de grupos humanos para pesquisas de plantas medicinais. Saiba mais O cadastro é realizado no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado – SisGen e deve ser feito toda vez que houver acesso ou remessa ao/de patrimônio genético e/ou ao conhecimento tradicional associado. O SisGen é um sistema eletrônico criado pelo Decreto nº 8.772, de 11 de maio de 2016, que regulamenta a Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, como um instrumento para auxiliar o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético – CGen. A Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Capa do Manual do SisGen disponível no site do governo federal. Vamos observar, a seguir, quais são as atividades sujeitas à obrigatoriedade docadastro no SisGen. 1. Acesso ao Patrimônio Genético ou ao Conhecimento Tradicional Associado dentro do País, realizado por pessoa física ou jurídica nacional, pública ou privada; 2. Acesso ao Patrimônio Genético ou Conhecimento Tradicional Associado por pessoa jurídica sediada no exterior, associada à instituição nacional de pesquisa científica e tecnológica, pública ou privada; 3. Acesso ao Patrimônio Genético ou ao Conhecimento Tradicional Associado no exterior, por pessoa física ou jurídica nacional, pública ou privada; 4. Remessa para o exterior de amostra de Patrimônio Genético, para fins de acesso; 5. Envio para o exterior de amostra para prestação de serviços ou execução de atividade em parceria, como parte de pesquisa ou desenvolvimento tecnológico de interesse da instituição nacional. Para entender melhor as informações requeridas para o cadastro do SisGen, primeiro temos de saber o que é Patrimônio Genético. Este é um termo que se refere à informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo desses seres vivos. Então, quais espécies ou grupos vegetais, animais e microbianos estão incluídos nessa definição? As espécies ou grupos vegetais que estão incluídos nessa definição de Patrimônio Genético são: Espécies vegetais, animais ou de outra natureza, inclusive domesticadas, encontradas em condições in situ (dentro de seu habitat natural) no território nacional, na plataforma continental, no mar territorial e na zona econômica exclusiva (faixa que se estende de 12 a 200 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial). Espécies vegetais, animais e microbianas ou de outra natureza mantidas em condições ex situ (fora de seu habitat natural), desde que tenham sido coletadas em condições in situ no território nacional, na plataforma continental, no mar territorial e na zona econômica exclusiva. Microrganismos isolados de substratos coletados no território nacional, no mar territorial, na zona econômica exclusiva ou na plataforma continental. Que tenham adquirido características distintivas no país. Provenientes de espécie cuja genética foi desenvolvida ou adaptada por indígenas, comunidade tradicional ou agricultor tradicional, por meio de seleção natural ou seleção humana no ambiente local. Provenientes de espécie cuja genética foi desenvolvida ou adaptada a determinado nicho ecológico a partir de seleção natural ou seleção humana por indígenas, comunidade tradicional ou agricultor tradicional. Resumindo Conseguimos compreender, agora, quais organismos ou espécies de outra natureza devem ser incluídos no SisGen. Dessa maneira, o acesso ao patrimônio genético é a pesquisa ou o desenvolvimento tecnológico realizado sobre as amostras que acabamos de estudar. Entretanto, ainda resta saber o que é considerado conhecimento tradicional associado. Este é caracterizado por qualquer informação, prática individual ou coletiva de comunidade indígena ou local, com valor real ou potencial, associada ao Patrimônio Genético. Por exemplo, o conhecimento de como se faz determinada rede ou renda é conhecimento tradicional, mas não é conhecimento tradicional associado. Porém, a informação sobre qual planta fornece a melhor fibra para fazer a rede ou qual planta fornece o melhor corante para a renda são conhecimentos tradicionais associados, pois são relacionados ao uso das plantas. Espécies encontradas em condições in situ Espécies encontradas em condições ex situ Microrganismos isolados de substratos Populações espontâneas de espécies introduzidas Variedades tradicionais, locais ou crioulas Raças localmente adaptadas ou crioulas Assim, o acesso ao conhecimento tradicional associado é a pesquisa ou o desenvolvimento tecnológico realizado sobre ele que possibilite ou facilite o acesso ao patrimônio genético, ainda que obtido de fontes secundárias, tais como feiras, publicações, inventários, filmes, artigos científicos, cadastros e outras formas de sistematização e registro desse conhecimento. O trabalho manual da rendeira. Por fim, junto ao sistema eletrônico SisGen, é possível realizar as seguintes atividades: 1. Cadastrar acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado; 2. Cadastrar envio de amostra que contenha patrimônio genético para prestação de serviços no exterior; 3. Cadastrar remessa de amostra de patrimônio genético; 4. Notificar produto acabado ou material reprodutivo; 5. Solicitar autorização de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado e de remessa ao exterior com anuências do Conselho de Defesa Nacional e do Comando da Marinha; �. Solicitar credenciamento de instituições mantenedoras das coleções ex situ que contenham amostras de patrimônio genético; 7. Obter comprovantes de cadastros de acesso, cadastros de remessa e de notificações; �. Obter certidões do procedimento administrativo de verificação; 9. Solicitar atestados de regularidade de acesso. Viu como tudo se tornou mais fácil agora que conhecemos essas importantes definições e esses requerimentos do governo federal? Não podemos nos esquecer de aplicar esse conhecimento para estarmos legalmente regularizados junto ao governo federal. Pesquisa em �tomedicamentos: técnicas de separação e isolamento Neste vídeo, o especialista Brendo Araujo Gomes conceitua a separação e isolamento de substâncias, assim como descreve os principais métodos utilizados, tais como as cromatografias, as separações em fase sólida e as por polímeros molecularmente impressos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A abordagem para seleção de plantas com potencial terapêutico em que a triagem de alto rendimento se mostra uma ferramenta bastante utilizada e eficiente chama-se A etnodirigida. B quimiossistemática. C etnofarmacológica. D randômica. Parabéns! A alternativa D está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20A%20triagem%20de%20alto%20rendimento%20%C3%A Questão 2 O conhecimento tradicional acerca do uso de plantas medicinais por grupos humanos pode ser alvo na busca de novas drogas vegetais e fitoterápicos. Assinale corretamente a opção que indica a abordagem que utiliza o conhecimento tradicional como ferramenta de estudo: Parabéns! A alternativa A está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20A%20abordagem%20etnodirigida%20utiliza%20os%20c las.%20Com%20base%20nesses%20conhecimentos%20tradicionais%2C%20que%20refletem%20as%20diferentes%20quest%C3%B5es%20culturais% 3 - Controle de qualidade de produtos vegetais E etológica. A Etnodirigida. B Quimiossistemática. C Randômica. D Etológica. E Quimiotaxonômica. Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os critérios botânicos e as técnicas no controle de qualidade de drogas vegetais. Introdução ao controle de qualidade de produtos vegetais Exemplificação do controle de qualidade feito em laboratórios. A composição química, a descrição do método de preparo, o grau de pureza e os caracteres farmacognósticos são fatores estabelecidos antes que se possa administrar qualquer novo produto ao ser humano. Além desses, os testes de taxa de absorção, excreção e concentração das substâncias majoritárias, toxicidade aguda e crônica em diferentes espécies animais e a investigação das possíveis consequências histopatológicas, bioquímicas e fisiológicas são obrigatórios para uma nova droga. Esses requisitos não seriam diferentes para as drogas provenientes de plantas medicinais. Substâncias ativas de plantas medicinais, utilizadas em atividades terapêuticas, são essenciais para os processos de germinação, desenvolvimento e sobrevivência daplanta. Isso nos faz prestar atenção no seu potencial biotecnológico para desenvolvimento de novos fármacos e em fatores que afetam sua presença e concentração, como: Luminosidade Solo Temperatura Umidade Exposições a poluentes Microrganismos Neste último módulo, estudaremos quais critérios de controle de qualidade são aplicados à produção e conservação de produtos vegetais. Vamos lá? Conceitos sobre o controle de qualidade O controle de qualidade é a avaliação de um conjunto de requisitos que caracterizam a matéria-prima ou os produtos para o uso a que se destinam como matéria-prima vegetal, produtos fitoterápicos intermediários e produtos acabados. Todos os ensaios de controle de qualidade têm por objetivo avaliar as características físicas, químicas e microbiológicas. Dessa forma, o cumprimento de todos os requisitos é essencial para garantia da qualidade, segurança e eficácia dos produtos vegetais por meio da certificação da autenticidade (identidade das plantas), integridade do órgão utilizado e perfil fitoquímico, e pureza (presença de contaminantes e/ou fraudes). Com essas características delimitadas, evitam-se o uso de órgãos e/ou espécies incorretas, a contaminação microbiológica por outros materiais vegetais e/ou metais pesados, a forma de preparo errada (quantidade, método de extração, tempo, armazenamento) e uma possível toxidez. Cabe destacar aqui que, quando uma droga vegetal não consta em uma Farmacopeia atualizada, é essencial que a empresa que utiliza essa planta como matéria-prima elabore uma monografia estabelecendo seus padrões de qualidade. Exemplificação de forma de preparo. Adulterações Infelizmente, diversos produtos inseridos no mercado podem sofrer alterações em sua composição, prejudicando a saúde do consumidor final. Essas adulterações podem ser classificadas como: Falsi�cações São adulterações grosseiras. Por exemplo, quando se é fornecida uma planta com características morfológicas semelhantes àquela que se é esperada. Substituições São adulterações em que se fornecem espécies vegetais filogeneticamente relacionadas ou com ações terapêuticas semelhantes. So�sticação Predadores É o tipo de adulteração mais difícil de ser detectado, uma vez que consiste na adição de isolados sintéticos ou naturais, semelhantes às substâncias bioativas ou marcadoras que deveriam ser encontradas no vegetal ou em maior quantidade. Critérios para o controle de qualidade Para a utilização de qualquer produto vegetal com fim medicinal, devem ser realizados os seguintes testes: a determinação dos caracteres organolépticos e a análise sensorial. Este último é o meio mais simples e rápido de verificar alguns parâmetros de qualidade, principalmente de identidade e pureza. Além desses parâmetros, outros devem ser aferidos nesses ensaios e comparados com determinado padrão, como tamanho, cor, superfície, textura e fratura, odor e sabor. Caracteres organolépticos São aqueles detectados pelos nossos sentidos ― olfato, visão, paladar e tato ―, como o odor, o brilho, o sabor, a textura. Caracterização macro e microscópica A identidade, a pureza e a qualidade de um material vegetal devem ser estabelecidas mediante detalhado exame visual. Sempre que possível, o material vegetal deve ser comparado com a matéria-prima autêntica, oriunda de amostra perfeitamente identificada na Farmacopeia. A autenticidade de uma amostra vegetal é dada pelos parâmetros de identidade botânica por meio de ensaios macro e microscópicos, bem como pela presença dos constituintes químicos ativos e/ou característicos da espécie. A grande diferença na avaliação macro e microscópica é que para avaliação da planta íntegra ou rasurada, avalia-se o conjunto de características morfológicas. Já para a avaliação da amostra pulverizada, avaliam- se os tipos celulares, os arranjos teciduais e a estrutura microscópica. Também podem ser feitas análises histoquímicas para avaliação das principais classes químicas presentes na amostra. Planta inteira e rasurada. Analisando a morfologia interna e externa da planta, podemos identificar qual espécie é encontrada no produto vegetal por meio de seu nome científico. Esse procedimento é de extrema importância, uma vez que o nome popular de uma planta pode variar de acordo com a região do país e estar associado a diferentes espécies vegetais. Atenção No Brasil, o processo de produção de matéria-prima vegetal costuma não envolver botânicos, gerando falhas na identificação das plantas por desconhecimento técnico da equipe produtora. A grande variação de valores entre plantas brasileiras e plantas importadas, assim como a dificuldade de se obter alguns materiais, faz com que alguns vendedores ajam de “má-fé”. Determinação de materiais estranhos Além da identificação botânica, faz-se necessária a determinação de materiais estranhos nos produtos vegetais. Estes devem ser isentos de fungos, insetos ou quaisquer outras contaminações de origem animal. Salvo indicação em contrário, a porcentagem de elementos estranhos não deve ser superior a 2% m/m. Matérias estranhas à droga são classificadas em três tipos: partes do organismo ou organismos dos quais a droga deriva, excetuados aqueles incluídos na definição e descrição da droga, acima do limite de tolerância especificado na monografia; quaisquer organismos, porções ou produtos de organismos além daqueles especificados na definição e descrição da droga, em sua respectiva monografia; e impurezas de natureza mineral ou orgânica, não inerentes à droga. Exemplos de fungo (A) e insetos (B) que ocorrem em plantas. Determinação de cinzas totais Outra análise que deve ser realizada é a determinação de cinzas totais, como observado a seguir. Isso porque as cinzas residuais da incineração do material vegetal podem estar associadas ao teor de minerais da planta e/ou de materiais estranhos. A quantidade de material vegetal incinerado é preconizada e deve ser comparada com padrões instituídos. Normalmente, um teor de cinzas acima do esperado indica a contaminação por materiais estranhos. Esses ensaios também permitem detectar a presença de impurezas inorgânicas. Processo de incineração de amostra vegetal em forno mufla. Determinação do teor de umidade O teor de umidade pode nos ceder importantes indícios das drogas vegetais. Se a quantidade de água no vegetal for maior (excessiva) que a preconizada, isso pode levar à proliferação de microrganismos, à geração de ambiente propício para insetos e à transformação e/ou deterioração das substâncias presentes no vegetal. Os limites de umidade no produto devem ser, de forma geral, na proporção de 8% a 14%. Análise do teor de umidade em estufa. Determinação do teor residual de pesticidas e/ou metais pesados O cultivo de plantas medicinais facilita o processo de produção de drogas vegetais e fitoterápicos, já que tira a necessidade da busca pelo vegetal no ambiente natural. Porém, assim como para alimentação, os cultivos medicinais também sofrem com pragas e outros fatores. Dessa maneira, o uso de pesticidas e outros insumos pode ser uma prática usual, e alguns de seus resíduos podem estar presentes no material vegetal. Em geral, os materiais farmacopeicos não delimitam valores máximos para esses resíduos. Assim, utilizam-se aqueles previstos para os alimentos. O cultivo de plantas medicinais facilita o processo de produção de drogas vegetais e fitoterápicos, já que tira a necessidade da busca pelo vegetal no ambiente natural. Porém, assim como para alimentação, os cultivos medicinais também sofrem com pragas e outros fatores. Dessa maneira, o uso de pesticidas e outros insumos pode ser uma prática usual, e alguns de seus resíduos podem estar presentes no material vegetal. Em geral, os materiais farmacopeicos não delimitam valores máximos para esses resíduos. Assim, utilizam-se aqueles previstos para os alimentos. Exemplificação da aplicação de pesticidas (A) e despejo de metais-traço (B). Avaliação de contaminação microbiológica A formade manipulação, processamento e preparo de produtos de origem vegetal é determinante para a qualidade microbiológica do produto acabado. Por exemplo, preparações com métodos extrativos que utilizam água quente, como infusões e decoctos, reduzem bastante a carga microbiológica. Extratos fluidos e tinturas também são capazes de reduzir essa carga, dependendo da concentração alcoólica presente. A presença e o limite máximo de contagem de determinados microrganismos são preconizados pelas farmacopeias e outras fontes oficiais. Exemplificação de avaliação microbiológica. Determinação quali-quantitativa de substâncias bioativas e marcadoras Cromatografia líquida de alta/ultra eficiência e espectrômetro de massas. A realização dos ensaios de controle de qualidade dessas substâncias é essencial para aferir os valores na faixa preconizada. Assim, garante-se que o produto de origem vegetal possua a ação terapêutica e a segurança esperadas. Esses ensaios podem ser realizados por métodos instrumentais simples, como a titulometria, para determinar a concentração de reagentes, assim como por ensaios espectroscópicos, como o UV- visível, infravermelho e ressonância magnética nuclear, cromatográficos, como as cromatografias em camada delgada, em fase líquida e em fase gasosa, ou por espectrometria de massas. Esses testes serão realizados junto aos centros certificados pela Anvisa. Entretanto, em alguns casos, os testes podem ser realizados por fabricantes/fornecedores qualificados. Caso os fabricantes/fornecedores não estejam qualificados, é possível terceirizar os testes para laboratórios e centros especializados que detenham a qualificação. Em caso de reprovação do material analisado, a Anvisa deve ser notificada. Exigências para quali�cação de fornecedores, fabricantes ou centros e laboratórios terceirizados Exemplificação do controle de qualidade de fármacos. Há certos requisitos que devem ser feitos para qualificar um fornecedor, fabricante ou laboratório terceirizado. Vamos observar alguns deles: 1. Deve haver procedimento operacional escrito, detalhando todas as etapas do processo, e devem ser mantidos os registros e os documentos apresentados pelo fornecedor/fabricante; 2. Comprovação de regularidade perante as autoridades sanitárias competentes; 3. Avaliação do fabricante/fornecedor, por meio de análises de controle de qualidade realizadas pela farmácia e da avaliação dos laudos analíticos, verificando o atendimento às especificações estabelecidas pelo farmacêutico e acertadas entre as partes; 4. Auditorias para verificação do cumprimento das normas de Boas Práticas de Fabricação ou de Fracionamento e Distribuição de Insumos, que poderão ser realizadas por farmácia individual, grupo de farmácias ou associações de classes; 5. Avaliação do histórico dos fornecimentos anteriores. Conservação dos produtos de origem vegetal As plantas medicinais frescas ou secas, assim como os derivados vegetais e fitoterápicos, devem ser acondicionadas em ambientes secos e arejados, protegidas da umidade, e em frascos âmbar ou opacos para que estejam protegidas da alta exposição luminosa e temperatura. Além disso, os produtos não podem sofrer fermentação nem contaminação por parasitas e patógenos. Nestes últimos casos, para que se evite a proliferação microbiológica, os produtos devem ser esterilizados por radiações ionizantes (ex.: radiação gama). Plantas medicinais acondicionadas em ambiente seco e protegido. Controle de qualidade de embalagens Processo de embalagem na indústria farmacêutica. As embalagens são invólucros, recipientes ou qualquer forma de acondicionamento, removível ou não, destinadas a cobrir, empacotar, envasar, proteger ou manter, especificamente ou não, os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, os cosméticos, os saneantes e outros produtos. As condições de acondicionamento são descritas nas monografias individuais utilizando-se os termos relacionados a seguir. É a embalagem que está em contato direto com seu conteúdo durante todo o tempo. Considera-se material de embalagem primária: ampola, bisnaga, envelope, estojo, flaconete, frasco de vidro ou de plástico, frasco-ampola, cartucho, lata, pote, saco de papel e outros. Não deve haver qualquer interação entre o material de embalagem primária e o seu conteúdo capaz de alterar a concentração, a qualidade ou a pureza do material acondicionado. Exemplo de embalagem primária. É a que possibilita total proteção do material de acondicionamento nas condições usuais de transporte, armazenagem e distribuição. Considera-se embalagem secundária: caixas de papelão, cartuchos e estojos de cartolina, madeira, material plástico e outros. Acondicionamento em embalagem secundária. Controle de qualidade dos rótulos Rótulos são identificações impressas ou litografadas, bem como os dizeres pintados ou gravados a fogo, pressão ou autoadesivos, aplicados diretamente sobre recipientes, invólucros, envoltórios, cartuchos, ou qualquer outro protetor de embalagem, externo ou interno. Eles não podem ser removidos ou alterados durante o uso do produto e durante seu transporte ou armazenamento. Embalagem primária Embalagem secundária A confecção dos rótulos deverá obedecer às normas vigentes da Anvisa para fitoterápicos, cujas determinações estão na RDC nº 26/2014, e conter a embalagem íntegra, os nomes popular e científico, a parte utilizada no produto, o número de registro na Anvisa, o nome do fabricante com CNPJ e o endereço, o nome do farmacêutico responsável, o número do lote, o prazo de validade, entre outros. Produção de rótulos na indústria farmacêutica. Amostragem para controle de qualidade Para o controle de qualidade, a amostragem deve ser colhida uniformemente segundo técnica definida. As técnicas de amostragem devem seguir três aspectos: Por exemplo, em um processo de produção de drogas vegetais em que apenas são confeccionadas de uma a três embalagens, todas devem ser analisadas para controle de qualidade. Em contrapartida, em empresas que produzem mais de 100 embalagens, cerca de 10% do total deve ser analisado quanto aos critérios exigidos para controle de qualidade. A seguir, na tabela, podemos observar outras divisões acerca da quantidade de amostras que devem ser analisadas. Embalagens totais Número de amostras 4 a 10 3 11 a 20 5 21 a 50 6 51 a 80 8 81 a 100 10 Número de embalagens que contêm a droga Grau de divisão da droga Quantidade da droga disponível Tabela: Relação da quantidade total de embalagens produzidas e o número de amostras que deve ser analisado quanto ao controle de qualidade. Elaborada por: Brendo Gomes. Além da quantidade de embalagens que contêm as drogas, há outros processos que devem ser feitos, como a realização do registro, ou seja, todo procedimento e material devem ser devidamente documentados: É o processo para reduzir a quantidade da amostra, conservando sua representatividade. A droga é distribuída de modo homogêneo sobre uma área plana e quadrada, dividida em quatro partes iguais, desprezando-se as porções contidas em dois quadrados opostos, na diagonal do quadrado. Após isso, juntam-se as duas porções restantes e repete-se o processo até alcançar o tamanho da amostra adequado. É caracterizada por toda a matéria-prima que deverá permanecer armazenada separadamente, aguardando o laudo técnico com sua liberação. É um importante processo na amostragem para controle de qualidade, em que se guarda uma quantidade da amostra analisada caso seja necessário repetir os ensaios. Pesquisa em �tomedicamentos: métodos de detecção e identi�cação Neste vídeo, Brendo Araujo Gomes descreve os principais métodos utilizados na detecção e identificação de substâncias, tais como os espectroscópicos e os espectrométricos. Quarteamento Quarentena Contraprova Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Diversos produtos de origem vegetal com fins medicinais são alvos de adulteraçõespor puro desconhecimento ou “má-fé” dos produtores/fornecedores ou vendedores. Dentre os tipos de adulteração, quais estão associados à troca de material vegetal por outro com características morfológicas e/ou ações terapêuticas semelhantes: A Falsificação e sofisticação. B Adulteração e substituição. C Substituição e sofisticação. D Falsificação e substituição. E Falsificação e adulteração. Parabéns! A alternativa D está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20As%20adultera%C3%A7%C3%B5es%20podem%20ser% Questão 2 A amostragem é o processo em que determinado número de amostras deverá ser colhido para ensaios de controle de qualidade. Em um conjunto total de 56 unidades, quantas devem ser colhidas para os ensaios de controle de qualidade: Parabéns! A alternativa C está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20Em%20um%20n%C3%BAmero%20de%2051%20a%2080 Considerações �nais Durante nossos estudos, pudemos ver o histórico do uso empírico das plantas medicinais pela humanidade, passando por práticas um pouco mais organizadas até as principais disposições legais referentes à pesquisa, ao desenvolvimento, à produção e ao controle de qualidade de drogas vegetais e fitoterápicos. Da mesma forma, pudemos explicitar os principais critérios de escolha, estudo e controle de qualidade dos vegetais e seus derivados com uso para fins medicinais. Esses conhecimentos devem ser aplicados na busca por novas alternativas às principais doenças que acometem a humanidade. Uma parcela muito pequena da enorme riqueza de plantas existentes no planeta foi estudada na busca de atividades biológicas e de substâncias bioativas. No Brasil, estima-se que cerca de 25 mil plantas sejam utilizadas na medicina tradicional, porém apenas uma pequena parcela delas teve sua composição química e suas propriedades biológicas estudadas. Isso demonstra a grande lacuna de conhecimento acerca das plantas medicinais e suas propriedades. Assim, os conhecimentos sobre os fundamentos em estudos na busca por novas drogas vegetais e fitoterápicos permitem embasar esses estudos tão relevantes e necessários para a humanidade. A Todas as amostras. B 6 amostras. C 8 amostras. D 10% do total de amostras. E 10 amostras. Podcast Neste podcast, o especialista Brendo Araujo Gomes descreve os principais ensaios de atividade biológica realizados na busca de substâncias bioativas, tais como testes frente a bactérias, fungos e parasitas patogênicos, vírus, além de ensaios de citotoxidez in vitro e in vivo. Referências AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. ANVISA. Farmacopeia Brasileira. 6. ed. Brasília, DF, 2019. v. 1. Consultado na Internet em: 01 nov. 2021. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. ANVISA. Formulário Nacional de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira. 2. ed. Brasília, DF, 2021. Consultado na Internet em: 01 nov. 2021. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. ANVISA. Legislação. 2021. Consultado na Internet em: 01 nov. 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019. Consultado na Internet em: 01 nov. 2021. LEITE, J. P. V. Fitoterapia: bases científicas e tecnológicas. São Paulo: Atheneu, 2009. 328p. SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. Farmacognosia, da planta ao medicamento. Porto Alegre/Florianópolis: UFRGS e UFSC, 2004. 1102p. SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.; MELLO, J. C. P.; MENTZ, L. A.; PETROVICK, P. R. Farmacognosia: do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2016. 486p. Explore + Conheça o blog da Revista Fitos e leia artigos sobre a química e as ações terapêuticas de plantas medicinais. Técnicas de coleta e preparação de amostras vegetais Prof.ª Regina Braga de Moura Descrição Classificação de vegetais e técnicas de coleta e preparação de amostras para estudos. Propósito O conhecimento da diversidade da flora de interesse medicinal, de sua nomenclatura científica e de seu sistema de classificação filogenético, bem como o domínio das técnicas de coleta e preparação adequada de amostras botânicas, é essencial para profissionais que estudam a flora. Objetivos Módulo 1 Principais grupos vegetais e suas características Identificar os principais grupos vegetais. Módulo 2 Coleta e preparação de amostras botânicas macroscópicas Descrever as técnicas de coleta e preparação de amostras macroscópicas. Módulo 3 Coleta e preparação de amostras botânicas para microscopia Descrever as técnicas de coleta e preparação de amostras para microscopia. O estudo da flora – seja para conhecimento de sua diversidade, seja para propósitos terapêuticos – deve começar pela identificação correta dos táxons estudados. Atualmente, o sistema de classificação das plantas é o filogenético. Esse sistema se baseia em vários caracteres, especialmente os moleculares. Ainda assim, a morfologia e a anatomia continuam sendo empregadas como ferramentas primordiais para descrição de novas espécies, autenticação de drogas vegetais e plantas medicinais. De modo geral, podemos distinguir quatro grandes grupos vegetais na natureza: Briófitas; Pteridófitas; Gimnospermas; Angiospermas. A maioria das plantas medicinais está no grupo das Angiospermas, por isso, vamos focar esse grupo em nossos estudos. A morfologia e a anatomia são ferramentas importantes para identificarmos os grupos taxonômicos e, dentro deles, distinguirmos seus diversos representantes. Em estudos morfológicos, anatômicos e mesmo moleculares, as amostras de vegetais precisam estar adequadas, de modo a permitir a identificação do táxon, bem como a descrição precisa das suas características. Dominar as técnicas de coleta e preparação de amostras para estudos morfológicos e anatômicos faz parte, portanto, das habilidades do profissional que vai estudar a flora, seja medicinal ou não. Vamos começar nossos estudos conhecendo a organização dos grupos vegetais atuais e as características que podem auxiliar na sua identificação. Orientação sobre unidade de medida Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. Introdução 1 - Principais grupos vegetais e suas características Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais grupos vegetais. Conceitos em sistemática vegetal Em sistemática vegetal, precisamos dominar alguns conceitos importantes para compreendermos a classificação das plantas. São eles: Taxonomia Identifica, descreve, nomeia e classifica um táxon. Classi�cação Categorização hierárquica. Sistemática Estudo das relações parentais entre os diferentes grupos de plantas, considerando sua história evolutiva. Táxon Nome de cada grupo de organismos. Por exemplo: Cactaceae é o táxon que agrupa todos os gêneros e espécies de cactos. Clado Qualquer grupo monofilético. Grupo mono�lético Grupo de organismos cujos membros compartilham um ancestral comum e exclusivo. Categoria taxonômica Nível hierárquico em que um táxon se encontra. Por exemplo: família é a categoria taxonômica do táxon Cactaceae. Grado Grupo de organismos cujos membros estão no mesmo nível de organização, mas não possuem ancestral comum. Sistema de classi�cação �logenético das plantas Observe as imagens a seguir, que apresentam uma carqueja, um girassol e um assa-peixe: Carqueja Girassol Assa-Peixe As três plantas pertencemà mesma família botânica: a Asteraceae. Mas como isso pode ser possível se elas são tão diferentes? Embora tenham aparência diferente, a carqueja, o girassol e o assa-peixe compartilham características semelhantes que, apesar de nem sempre serem facilmente visíveis, fazem com que essas plantas se tornem membros da mesma família. Tais plantas são, contudo, de gêneros diferentes: a carqueja é do gênero Baccharis, o girassol é do gênero Helianthus e o assa-peixe é do gênero Vernonia. Esse é um agrupamento atual, com base em várias características, inclusive morfológicas e, principalmente, moleculares. Mas nem sempre foi assim. O Species Plantarum, escrito em 1753, serviu de referência para a nomenclatura botânica. A diversidade dos seres viventes sempre foi alvo de interesse de filósofos, naturalistas e botânicos ao longo da existência da humanidade. A busca pelo conhecimento dos organismos e pelo seu fácil reconhecimento na natureza levou o homem a classificá-los e nomeá-los. No caso das plantas, as primeiras tentativas de classificação foram realizadas separando os grupos de vegetais de acordo com sua utilidade – por exemplo: plantas comestíveis, plantas medicinais, plantas para construção de moradias e plantas para construção de transporte. Mais tarde, esses vegetais passaram a ser classificados de acordo com o seu porte – por exemplo: plantas arbóreas, plantas herbáceas, até que, por fim, passaram a ser utilizadas características morfológicas para realizar a sua classificação. De qualquer forma, sempre se buscou uma forma de sistematizar a classificação. Até bem pouco tempo, havia vários sistemas de classificação. E por que havia mais de uma classificação? Essa variedade resultava do fato de os estudiosos entenderem de formas diferentes o modo de agrupar os vegetais, priorizarem determinado grupo de plantas ou empregarem critérios distintos para a separação dos grupos. A partir dos estudos de Darwin sobre evolução, uma nova visão sobre a relação entre os organismos começou a emergir. Com base nas ideias de evolução, ancestralidade e história evolutiva dos organismos, surgiu o sistema de classificação filogenético. Manuscritos de Darwin e sua árvore como representação gráfica do relacionamento evolutivo entre os organismos. E como funciona esse sistema de classificação? Esse novo sistema de classificação leva em consideração a história evolutiva e as relações de parentesco entre os organismos, considerando ainda o ancestral que os origina. Para isso, são utilizadas todas as características possíveis de cada indivíduo ou grupo estudado: morfologia; anatomia; fitoquímica; fisiologia; DNA e RNA especialmente. O sistema de classificação filogenético atual das plantas é construído de forma colaborativa, contando com especialistas em diferentes grupos vegetais, e não mais de forma individualizada. Saiba mais O sistema de classificação usado atualmente para as plantas é o APG IV (Angiosperm Phylogeny Group – IV). Assim como os sistemas de classificação anteriores, o APG IV também é hierarquizado, isto é, organizado dos grupos mais abrangentes para os mais restritos. Classi�cação dos grupos vegetais Para análise das plantas medicinais, vamos considerar o grupo de vegetais que tem a maior representatividade: o das Angiospermas. Esse é o grupo mais abrangente e representa o grande clado das plantas que possuem flores e frutos. Considerando uma classificação organizada da categoria taxonômica mais abrangente para a mais restrita, temos: Isso significa que uma ordem é formada por famílias, cada família é composta de um ou vários gêneros, e cada gênero possui uma ou mais espécies. A espécie é a unidade básica da taxonomia. Quando estudamos uma planta medicinal, estamos, na verdade, estudando uma espécie medicinal. Como vimos, para pertencer a determinado grupo ou táxon, uma planta precisa compartilhar características com outras do mesmo grupo. É assim que os estudos de sistemática vão agrupando as plantas nos táxons. Você deve ter percebido que os nomes das plantas e dos táxons foram escritos de formas diferentes neste módulo. Vamos entender por que isso acontece? Nomenclatura popular e nomenclatura cientí�ca botânica No nosso exemplo de plantas da família Asteraceae, chamamos as plantas apresentadas de carqueja, girassol e assa-peixe. Esses são nomes populares, dados por pessoas comuns, muitas vezes com base em alguma propriedade observada na planta ou por tradição de determinada população. Por exemplo, o girassol acompanha o Sol durante o dia, por isso o nome dado pelas pessoas comuns para identificá-lo. Esses nomes podem variar de lugar para lugar e de espécie para espécie. Isso quer dizer que a mesma espécie pode apresentar nomes populares diferentes, dependendo da região, assim como espécies diferentes podem apresentar o mesmo nome, também dependendo da localidade. Quando se trata do estudo de plantas medicinais, essa variedade de nomes pode causar uma enorme confusão, além de trazer riscos para quem vai utilizar a planta. Vamos analisar alguns exemplos? A espinheira-santa é uma planta muito conhecida pelos benefícios proporcionados no tratamento, já cientificamente comprovado, de gastrite e úlcera. No entanto, além da espécie verdadeira (Maytenus ilicifolia), outras espécies também são chamadas de espinheira-santa, como a Sorocea bonplandii. E sabe por que são confundidas? Porque as duas espécies possuem folhas com espinhos nas suas margens. Veja nas imagens a seguir: Maytenus ilicifolia Sorocea bonplandii E o capim-limão? Este é um bom exemplo de uma espécie que tem mais de um nome popular ou nome vulgar. O capim-limão também é chamado de capim-cidreira e erva-cidreira. Todos esses nomes fazem referência à mesma espécie: a Cymbopogon citratus. A Cymbopogon citratus é reconhecida com o mesmo nome em qualquer lugar do mundo. Isso acontece porque a construção e a escrita do nome científico são padronizadas e amplamente divulgadas. Comentário Percebeu por que não podemos tratar as plantas medicinais pelo nome vulgar? Devemos sempre usar o nome científico das plantas ao estudá-las, pois esses nomes são universais. Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas Os nomes científicos dados aos táxons são estabelecidos com base em regras cuja padronização pode ser observada no Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas. Há regras específicas para elaboração dos nomes científicos de cada categoria taxonômica. Vamos ver como se forma a base de cada nome dado a um táxon: Ordem Deve ser escrita em latim, com a terminação ales. Por exemplo: Asterales; Solanales; Fabales. Podemos afirmar que esses táxons são da categoria taxonômica ordem pela terminação ales em cada um deles. Família Deve ser escrita em latim, com a terminação aceae. Por exemplo: Cactaceae; Orchidaceae; Bromeliaceae. Podemos afirmar que todos esses táxons são famílias devido à terminação aceae em cada um deles. Gênero Deve ser escrito em latim. Não há uma terminação específica para gênero, mas ele deve ser escrito em itálico ou sublinhado, com a primeira letra maiúscula. Por exemplo: Bromelia; Solanum; Helianthus; Baccharis. Podemos afirmar que esses nomes são gêneros porque estão padronizados conforme a descrição realizada. Espécie Precisamos dar um pouco mais de atenção à espécie. Afinal, ela é a responsável por conferir autenticidade a qualquer planta medicinal que estudamos. Os nomes de espécies também são escritos em latim, mas em forma de binômio. Nesse caso, o primeiro nome corresponde ao gênero ao qual a espécie pertence. Já o segundo nome, chamado epíteto específico, geralmente, corresponde a uma característica marcante da espécie. O nome da espécie também deve ser escrito em itálico ou sublinhado. Por exemplo: Echinodorus grandiflorus; Passiflora alata; Maytenus ilicifolia. Quando utilizamos o nome de espécies em um trabalho ou estudo pela primeira vez, sempre devemos indicar o(s) nome(s) dos(s)
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