Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Caracterizada como doença crônica não transmissível definida por níveis pressóricos. Trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos/ epigenéticos, ambientais e sociais, caracterizada por elevação persistente da pressão arterial, PA sistólica maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica maior ou igual a 90 mmHg, medida com a técnica correta, em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva Condição prolongada de elevação da pressão arterial no interior da circulação arterial. Geralmente assintomática, evolui por muito tempo sem ser diagnosticada Sem tratamento causa sobrecarga ao coração e aos vasos sanguíneos de vários órgãos, sendo um fator de risco primário para doenças cardiovasculares Estado hipertensivo está ligado mais ao risco de complicações que o aumento pressórico acarreta para as pessoas do que aos valores numéricos de cifras tensionais Os valores para o diagnóstico são incertos, diretriz brasileira: ≥ 140/90 mmHg HAS; > 120/80 mmHg pré- hipertensão Principais desafios impostos pela doença são o diagnóstico o mais cedo possível e a adoção de medidas que possam controlar os níveis tensionais. PA = DC × RVP O DC depende da frequência cardíaca e do volume sistólico. A quantidade de sangue circulante é função da quantidade de H2O, cuja regulação é feita sobretudo pelos rins, mediante excreção ou retenção de Na+, que é influenciada por diversos fatores. A renina (sintetizada nas células justaglomerulares dos rins) atua sobre o angiotensinogênio e produz a angiotensina I, que, por ação da enzima conversora da angiotensina (ECA, existente sobretudo no endotélio pulmonar), é convertida em angiotensina II. Esta tem duas ações: (a) é vasoconstritora; (b) estimula a síntese de aldosterona nas suprarrenais, a qual induz reabsorção renal de Na+. A RVP é controlada por fatores nervosos (SN simpático), humorais (óxido nítrico [NO], endotelinas, cininas, prostaglandinas) e locais (pH e disponibilidade de O2). A frequência cardíaca é influenciada pelo sistema nervoso e por catecolaminas. O tratamento clínico da hipertensão primária enfoca a redução dos efeitos dos fatores modificáveis, por meio de alterações no estilo de vida e no comportamento, e da instituição de terapia medicamentosa (direcionado à doença primária) Quanto ao quadro clínico e evolução: • HÁ benigna (90-95%): cifras tensionais não são muito elevadas, as complicações graves são tardias e os pacientes sobrevivem vários anos ou décadas. • HÁ maligna (5-10%): cifras tencionais mais elevadas (diastólica geralmente > 120 mmHg) e complicações graves são comuns, de modo que, se não tratada, leva ao óbito em tempo curto. Inicia como progressão da HÁ benigna Quanto as causas: • Hipertensão primária (essencial): presença clínica de hipertensão sem evidências de uma condição clínica causal específica. Tanto os fatores não modificáveis quanto aqueles relacionados ao estilo de vida são implicados, seja isolada ou coletivamente, como fatores de contribuição para o desenvolvimento da hipertensão primária. • Hipertensão secundária (5-10%): é a elevação da pressão arterial em consequência de outra condição patológica que podem ser corrigidas por cirurgia ou tratamento clínico específico. Observada em pessoas com menos de 30 e mais de 50 anos de idade. Cocaína, anfetaminas e outras drogas ilícitas, agentes simpaticomiméticos (descongestionantes, anorexígenos), a eritropoetina e o alcaçuz podem causar hipertensão. • A redução da excreção renal de sódio na presença de pressão arterial normal, é a principal característica patogênica; de fato, é o fator etiológico mais comum para as formas de hipertensão arterial. Por outro lado, a diminuição da excreção de sódio eleva o volume de líquido e o débito cardíaco, contribuindo para a elevação da pressão arterial. Com a elevação da pressão arterial, os rins excretam sódio adicional. Dessa forma, um novo estado de excreção constante de sódio é alcançado, mas às custas da alta pressão arterial. • O aumento da resistência vascular pode resultar da vasoconstrição ou alterações estruturais na parede dos vasos. Estes não são necessariamente fatores independentes como a vasoconstrição crônica, que pode resultar no espessamento permanente da parede dos vasos afetados. FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEIS • IDADE: mais em adultos e com avanço da idade (crianças secundária), aumentando em crianças devido aumento de incidência de obesidade e diabetes tipo 2. A elevação da pressão arterial com o envelhecimento está relacionada a um enrijecimento das paredes arteriais, que afeta a pressão sistólica em particular. Evidências mais recentes também indicam que a capacidade renal de excreção do sódio diminui com a idade, e a retenção de sódio também contribui para a hipertensão. • SEXO E RAÇA: mais grave em afrodescendentes (tendem a desenvolver em idades menos avançadas, devido aumento da sensibilidade ao sal, aumento dos níveis de obesidade e fatores genéticos. Mais comum em mulheres. • HISTÓRICO FAMILIAR E GENÉTICA: mais frequente em pessoas com histórico familiar de pressão arterial alta (50% de contribuição genética), porém o ambiente interage com a genética e a hipertensão pode ser mediada por uma via de patogênese comum com outros distúrbios. FATORES DE RISCO MODIFICÁVEIS As vias fisiopatológicas que podem ser fatores de contribuição comuns entre esses aspectos do estilo de vida incluem perturbações no sistema renina- angiotensina-aldosterona, alterações dos mecanismos dos peptídios natriuréticos, ativação do SNS e alteração da função das células endoteliais. • FATORES ALIMENTARES: sensibilidade ao sal, com o objetivo de manter a adequada eliminação renal do sal, ocorre adaptação do sistema de natriurese por pressão, de modo que a pressão arterial é elevada para manter níveis adequados de eliminação renal do sal. A ingestão alimentar de gorduras e colesterol também é um fator que contribui para a hipertensão, em parte porque a ingestão alimentar de gorduras contribui para o desenvolvimento de dislipidemia DISLIPIDEMIA: associada com a hipertensão devido lipídios no sangue (níveis mais altos de colesterol, triglicerídios e LDL e níveis baixos de HDL) e a aterosclerose (aumentam a resistência ao fluxo sanguíneo por esses vasos, o que contribui para a elevação da pressão arterial para superar o aumento da resistência) TABACO: alterações inflamatórias relacionadas às toxinas químicas do tabaco que contribuem para o desenvolvimento da aterosclerose subclínica ÁLCOOL: efeito direto sobre a hipertensão, responsável por 10% dos casos na população. NÍVEL DE CONDICIONAMENTO FÍSICO: níveis mais altos de condicionamento físico e exercícios estão associados a pressões arteriais mais baixas e níveis séricos de lipídios mais favoráveis. O risco cardiovascular geral diminui com níveis mais altos de condicionamento físico e exercícios regulares OBESIDADE: padrão de distribuição de gordura é indicador, associação entre a hipertensão e o aumento da proporção cintura-quadril (obesidade central). A gordura abdominal ou visceral aparenta causar mais resistência à insulina, intolerância à glicose, dislipidemia, hipertensão e doença renal crônica do que a gordura subcutânea. Leptina (hormônio derivado dos adipócitos), pode representar uma ligação entre a adiposidade e o aumento da atividade simpática cardiovascular. Além do seu efeito sobre o apetite e o metabolismo, a leptina atua sobre o hipotálamo e aumenta a pressão arterial por meio da ativação do SNS. Níveis altos de ácidos graxos livres circulantes em pessoas obesas aparentemente também participam na ativação do SNS. Pesquisas apoiam a ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona pelo angiotensinogênio derivado de adipócitos, bem como a capacidadedo tecido adiposo de aumentar os níveis de aldosterona por meio da produção de fatores indutores da produção de aldosterona. RESISTÊNCIA À INSULINA E ANORMALIDADES METABÓLICAS: hipertensão é um dos componentes da síndrome metabólica e da resistência à insulina associadas ao diabetes melito tipo 2. APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO: perturbação do sono, a qual interfere na “queda” circadiana noturna normal da pressão arterial. Essa “queda” noturna está associada a níveis de pressão arterial mais baixos. Interrupções repetitivas do sono e diminuição da duração ou da qualidade do sono estão associadas a uma menor “queda” noturna da pressão arterial • HIPERTENSÃO RENAL: doenças como glomerulonefrite aguda, insuficiência renal aguda e obstrução aguda do trato urinário, pielonefrite crônica, doença renal policística, nefropatia diabética e doença renal em estágio terminal estão associadas com a hipertensão. Em idosos, um início súbito de hipertensão secundária com frequência está associado à doença aterosclerótica dos vasos sanguíneos renais **hipertensão renovascular: hipertensão causada pela redução do fluxo sanguíneo renal e pela ativação do mecanismo da renina-angiotensina-aldosterona. Com a diminuição do fluxo sanguíneo renal, o rim afetado libera quantidades excessivas de renina, aumentando os níveis circulantes de angiotensina II, que atua como um vasoconstritor para o aumento da RVP, e como um estímulo para o aumento dos níveis de aldosterona e da retenção de sódio pelo rim. Um ou ambos os rins podem estar afetados. Com o envolvimento da artéria renal de um dos rins, o rim não afetado fica sujeito aos efeitos deletérios da elevação da pressão arterial. Causada por aterosclerose da artéria renal proximal (idosos) e displasia fibromuscular (mulheres mais jovens) • DISTÚRBIOS DOS HORMÔNIOS ADRENOCORTICAIS: aumento desses hormônios causa hipertensão devido retenção renal de sal e água induzida por hormônios. O hiperaldosteronismo primário e níveis excessivos de glicocorticoides (doença ou síndrome de Cushing) tendem a elevar a pressão arterial • FEOCROMOCITOMA: tumor do tecido cromafínico, o qual contém células nervosas simpáticas que liberam catecolaminas, mais comumente localizado na medula da suprarrenal. • COARCTAÇÃO DA AORTA: condição congênita envolvendo um estreitamento na área do arco aórtico, o que aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo e isso eleva a pressão no ventrículo esquerdo, em uma tentativa de superar a resistência. Como as artérias subclávias tipicamente têm origem acima do ponto de estreitamento, o resultado é o desenvolvimento de hipertensão nos membros superiores e uma pressão arterial normal ou baixa nos membros inferiores. • ANTICONCEPCIONAIS ORAIS: causa provável seja a expansão do volume, uma vez que tanto os estrogênios quanto as progesteronas sintéticas contidas nas pílulas anticoncepcionais orais causam retenção de sódio. A hipertensão é uma causa líder de cardiopatia e doença cerebral isquêmica, doença renal em estágio terminal e comprometimento visual ou cegueira por retinopatia, por causar lesões em órgãos com estrutura altamente vascularizada ou que dependem fortemente de um suprimento de sangue adequado para a sua função apropriada • CORAÇÃO: A elevação na pressão arterial aumenta a carga de trabalho do ventrículo esquerdo, por aumentar a pressão contra a qual o coração precisa bombear o sangue ejetado na circulação sistêmica. Com o passar do tempo, a pressão aumenta a carga de trabalho do coração, e a parede ventricular esquerda sofre remodelamento e hipertrofia para compensar o aumento do trabalho em decorrência da pressão. Essa hipertrofia ventricular esquerda é um fator de risco importante para o desenvolvimento de cardiopatia coronariana, arritmias cardíacas, morte súbita e insuficiência cardíaca congestiva, uma vez que o ventrículo não consegue bombear com eficiência. • ATEROSCLEROSE: promove e/ou acelera a formação de placas e sua possível ruptura em artérias de grade e médio calibre. • ARTERIOLOSCLEROSE: em pequenas artérias e arteríolas, reduz a luz vascular e altera a vasomotricidade, capazes de produzir isquemia (rins, SN, retina).. Arterioloesclerose hialina consiste na deposição de material hialino na íntima do vaso, com redução da luz, devido passagem de proteínas plasmáticas através do endotélio lesado pela HA e da síntese aumentada de matriz extracelular induzida também pelo estado hipertensivo (rins idosos normotensos ou diabéticos). Arterioloesclerose hiperplásica: HA maligna, hiperplasia de células musculares e de reduplicação da membrana basal, o que resulta em estreitamento da luz. • RINS: crônico leva a nefroesclerose. Causa da lesão por hipoperfusão glomerular, a qual promove glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial ou disfunção endotelial decorrente da elevação da pressão glomerular. Mais comum em negros, a hipertensão causa aceleração da evolução de outros tipos de doença renal, em particular da nefropatia diabética • CÉREBRO: demência e comprometimento cognitivo. Hipertensão sistólica é um importante fator de risco para acidente vascular encefálico e hemorragia intracerebral. Causa estreitamento e esclerose das artérias penetrantes de pequeno calibre nas regiões subcorticais do cérebro, levando a hipoperfusão, perda da autorregulação do fluxo sanguíneo e comprometimento da barreira hematencefálica, finalmente levando à desmielinização da substância branca, que parecem ser irreversíveis. • OLHO: retinopatia hipertensiva, inicialmente apresenta aumento do tônus vasomotor, que causa estreitamento arteriolar generalizado. Com a persistência da hipertensão, as alterações arterioscleróticas se agravam e incluem a hiperplasia da parede média, espessamento da íntima e degeneração hialina. A longo prazo, essas alterações podem causar lacerações arteriovenosas (AV) mais graves e cegueira. Aumentos agudos na pressão arterial podem levar a hemorragias, microaneurismas e exsudatos rígidos. ** A HA e suas complicações são mediadas por diversos mecanismos cujo traço comum é a disfunção endotelial, caracterizada pela baixa disponibilidade de óxido nítrico (NO) e pelo consequente desequilíbrio local entre fatores de relaxamento e constrição de arteríolas Na disfunção endotelial, va vasodilatação mediada por vários peptídeos é prejudicada, o que leva ao aumento da resistência vascular periférica e à alteraçãoda permeabilidade endotelial A instalação de um estado inflamatório crônico em pacientes com HA, pelo aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias causa baixa disponibilidade local de NO, o que aumenta o tono do músculo liso vascular, induz a proliferação de células musculares lisas da camada média e aumenta a permeabilidade do endotélio, o que favorece o desenvolvimento da aterosclerose. CARDIOPATIA HIPERTENSIVA: A sobrecarga gerada pela hipertensão arterial gera hipertrofia concêntrica, inicialmente do ventrículo esquerdo, no qual as fibras cardíacas sofrem aumento da espessura por aumento em paralelo do número de sarcômeros (hipertrofia concêntrica), reação do miocárdio para vencer a pressão sistêmica aumentada. E tende a normalizar a tensão sistólica sofrida pelos miofilamentos (resposta adaptativa para manter o débito cardiaco) • Fase compensada: hipertrofia do ventrículo esquerdo compensa por anos apesar da hipertensão. • Fase descompensada: se não controlada, miocárdio não consegue se hipertrofiar mais nem se manter hipertrofiado. O débito cardíaco não é mais mantido, resultando em sobrecarga de volume diastólico e dilatação da cavidade (hipertrofia excêntrica), caracterizando insuficiência cardíaca. Mesmo na fase compensada e por causa do aumento progressivo da espessura da parede ventricular, a complacência do ventrículo esquerdo diminui (surge sobrecarga do átrio esquerdo)e aumenta a necessidade de oxigênio, o que contribui para a isquemia miocárdica e faz com que surjam focos de fibrose intersticial As células miocárdicas hipertróficas são mais suscetíveis a isquemia, porque, além de terem exigências metabólicas aumentadas, a distância entre o interior das células e o capilar que as nutre é maior, ocasionando dificuldade para difusão de O2. **Tratamento da IC: Ao contrário do padrão observado na população geral, em que o prognóstico é pior para hipertensos em comparação com normotensos, uma pressão arterial mais elevada antes do tratamento é um preditor de melhor sobrevida em pacientes com IC. É provável que essa correlação seja consequência do fato de que a disfunção cardíaca mais grave causa um declínio na pressão arterial sistêmica, tornando a pressão arterial baixa um marcador de IC mais avançada. Essa observação dificulta o estudo dos benefícios da terapia anti-hipertensiva nessa população. BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 10ªed. 2021. NORRIS, Tommie L. Porth. Fisiopatologia. Editora Guanabara Koogan, 10ª Ed. 2021. KUMAR, Vinay. Robbins Patologia Básica. Editora Guanabara Koogan, 10ª Ed. 2018. BARROSO, W..K.S et al. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 116, n. 3, p. 516-658, 2021 RODRIGUES, V.C, et al. A hipertensão arterial como principal fator de risco para insuficiência cardíaca: Revisão Integrativa de literatura. Revista Nursing, 2019. BISOGNANO, J.D. Tratamento da hipertensão em pacientes com insuficiência cardíaca. 2020
Compartilhar