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Colesterol e lipoproteínas plasmáticas P R O F A . D R A . A N A P A U L A B O L E T I Lipoproteínas São associações entre proteínas e lipídiosencontradas na corrente sanguínea, e que tem como função transportar e regular o metabolismo dos lipídios no plasma. O colesterol e os ésteres de colesterila, assim como os triacilgliceróis e os fosfolipídeos, são essencialmente insolúveis em água, e ainda assim devem ser transportados do tecido de origem para os tecidos nos quais eles serão armazenados ou consumidos. Para facilitar seu transporte, eles são transportados no plasma sanguíneo como lipoproteínas plasmáticas, que são complexos macromoleculares de proteínas transportadoras específicas, chamadas apolipoproteínas, e várias combinações de fosfolipídeos, colesterol, ésteres de colesterila e triacilgliceróis As apolipoproteínas (“apo” designa a proteína em sua forma livre de lipídeo) combinam-se com os lipídeos, formando diversas classes de partículas lipoproteicas, as quais são complexos esféricos com os lipídeos hidrofóbicos no centro e as cadeias laterais hidrofílicas de aminoácidos na superfície. As diferentes combinações de lipídeos e proteínas produzem partículas de diferentes densidades, variando de quilomícrons a lipoproteínas de alta densidade. profa_ana_paula_boleti Fonte: Lehninger et al./ Princípios de Bioquímicai. -6ed.-São Paulo: Sarvier, 2014. profa_ana_paula_boleti classes das lipoproteínas plásmaticas As diferentes combinações de lipídeos e proteínas produzem partículas de diferentes densidades, variando de quilomícrons a lipoproteínas de alta densidade!! Cada classe de lipoproteína tem uma função específica, determinada por seu local de síntese, por sua composição lipídica e por seu conteúdo apolipoproteico. Pelo menos dez apolipoproteínas distintas são encontradas nas lipoproteínas do plasma humano, distinguíveis por seus tamanhos, suas reações com anticorpos específicos e sua distribuição característica nas classes de lipoproteínas. Esses componentes proteicos atuam como sinalizadores, direcionando as lipoproteínas para tecidos específicos ou ativando enzimas que agem nas lipoproteínas. (1) Os quilomícrons são sintetizados a partir de gorduras da dieta no RE dos enterócitos, células epiteliais que recobrem o intestino delgado. Os quilomícrons então se movem pelo sistema linfático e entram na corrente sanguínea pela veia subclávia esquerda. As apolipoproteínas dos quilomícrons incluem a apoB-48 (exclusiva dessa classe de lipoproteínas), a apoE e a apoC-II. (2) A apoC-II ativa a lipase lipoproteica nos capilares do tecido adiposo, do coração, do músculo esquelético e da glândula mamária em lactação, permitindo a liberação de ácidos graxos livres (AGL) para esses tecidos. Os quilomícrons, portanto, transportam ácidos graxos da dieta para os tecidos onde eles serão consumidos ou armazenados como combustível. (3) O que resta dos quilomícrons move-se pela corrente sanguínea para o fígado. Receptores existentes no fígado ligam a apoE nos remanescentes dos quilomícrons e controlam sua captação por endocitose. (4) No fígado, os remanescentes liberam seu colesterol e são degradados nos lisossomos. Essa via do colesterol da dieta até o fígado é a via exógena. Fonte: Lehninger et al./ Princípios de Bioquímicai. -6ed.-São Paulo: Sarvier, 2014. profa_ana_paula_boleti Resumidamente: Classes das lipoproteínas plásmaticas Quilomícrons: É a lipoproteína menos densa, transportadora de triacilglicerol exógeno na corrente sanguínea, de origem intestinal; VLDL: Densidade muito baixa, origem hepática; Transportam triglicerídeos e colesterol endógenos do fígado para os tecidos LDL: Densidade baixa, leva o colesterol para os tecidos; responsável por pelos níveis amentados de colesterol no sangue; HDL: Densidade alta, É responsável pelo transporte reverso do colesterol, ou seja, transporta o colesterol endógeno de volta para o fígado. O nível elevado de HDL está associado com baixos índices de doenças cardiovasculares. Quando a dieta contém mais ácidos graxos e colesterol do que a quantidade necessária para uso imediato como combustível ou como precursores de outras moléculas, eles são convertidos: Triacilgliceróis ou ésteres de colesterila no fígado e empacotados com apolipoproteínas específicas, formando as lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL, de very-low density lipoproteins); O excesso de carboidratos na dieta também pode ser convertido em triacilgliceróis no fígado e exportado como VLDL.; Além dos triacilgliceróis e ésteres de colesterila, as VLDL contêm apoB-100, apoC-I, apoC-II, apoC-III e apoE. As VLDL são transportadas pelo sangue do fígado para o músculo e o tecido adiposo. profa_ana_paula_boleti profa_ana_paula_boleti Nos capilares desses tecidos apoC-II ativa a lipase lipoproteica, que catalisa a liberação dos ácidos graxos a partir dos triacilgliceróis das VLDL Nos capilares desses tecidos apoC-II ativa a lipase lipoproteica, que catalisa a liberação dos ácidos graxos a partir dos triacilgliceróis das VLDL. Os adipócitos captam esses ácidos graxos, reconvertem-nos em triacilgliceróis e armazenam os produtos em gotículas intracelulares de lipídeos; já os miócitos, ao contrário, primariamente oxidam esses ácidos graxos para obterem energia. Quando o nível de insulina está alto (após uma refeição), as VLDL atuam principalmente para transportar lipídeos da dieta para o tecido adiposo para armazenamento. No estado de jejum ou entre as refeições, os ácidos graxos usados para produzir as VLDL no fígado são originários principalmente do tecido adiposo, e o principal alvo das VLDL são os miócitos do coração e do músculo esquelético. A perda de triacilgliceróis converte parte da VLDL em remanescentes de VLDL (também chamadas de lipoproteínas de densidade intermediária, IDL, de intermediate density lipoproteins). A remoção adicional de triacilgliceróis da IDL (remanescentes) produz lipoproteínas de baixa densidade (LDL, de low-density lipoproteins). Rica em colesterol e ésteres de colesterila e contendo apoB-100 como sua principal apolipoproteína, a LDL transporta colesterol para os tecidos extra-hepáticos, como músculo, glândulas suprarrenais e tecido adiposo. Esses tecidos têm receptores na membrana plasmática que reconhecem a apoB-100 e controlam a captação de colesterol e ésteres de colesterila. Int. J. Mol. Sci. 2022, 23, 4300. https://doi.org/10.3390/ijms23084300 profa_ana_paula_boleti Os remanescentes de quilomícrons são captados pelo fígado por endocitose mediada por receptores, e os ésteres de colesterol e triacilgliceróis são hidrolisados e metabolizados. A captação é mediada pela apo E, por meio de dois receptores dependentes de apo E, o receptor de LDL (apo B-100) e a LRP (proteína relacionada com o receptor de LDL).. A lipase hepática desempenha um duplo papel: (1) atua como ligante para facilitar a captação de remanescentes e (2) hidrolisa os remanescentes de triacilgliceróis e fosfolipídeos. Após o seu metabolismo à IDL, a VLDL pode ser captada pelo fígado diretamente por meio do receptor de LDL (apo B-100, E), ou pode ser convertida em LDL. Apenas uma molécula de apo B-100 está presente em cada uma dessas partículas de lipoproteína, sendo essa característica conservada durante as transformações. Por conseguinte, cada partícula de LDL origina-se de uma única partícula de VLDL precursora. Nos seres humanos, uma proporção relativamente grande de IDL forma LDL, respondendo pelas concentrações aumentadas de LDL nos seres humanos, em comparação com muitos outros mamíferos. A LDL também entrega colesterol para os macrófagos, algumas vezes os convertendo em células espumosas. A LDL não captada pelos tecidos periféricos retornam ao fígado onde são captados via receptores de LDL na membrana plasmática dos hepatócitos. O colesterol que entra no hepatócito por essa via pode ser incorporado nas membranas, convertido em ácidos biliares ou reesterificados pela ACAT para armazenamento nas gotículas lipídicascitosólicas. Essa via, da formação de VLDL no fígado ao retorno de LDL para o fígado é a via endógena do metabolismo e transporte do colesterol. O acúmulo do excesso de colesterol intracelular é prevenido pela diminuição da velocidade de síntese quando colesterol suficiente está disponível a partir de LDL no sangue. O fígado é responsável pela captação de remanescentes de lipoproteínas Fonte: Murray, Robert K. Bioquímica ilustrada de Harper , 29. ed., Porto Alegre : AMGH, 2014. profa_ana_paula_boleti São alterações nos níveis plasmáticos de lipídios extremamente comuns na população geral, sendo consideradas fatores de risco altamente modificáveis para doenças cardiovasculares. Podem ser classificadas da seguinte maneira: as dislipidemias primárias ou sem causa aparente podem ser classificadas genotípica ou fenotipicamente por análises bioquímicas. Na classificação genotípica, podem ser decorrentes de mutações em um gene específico, nesse caso, sendo chamadas de monogênicas. Contudo, se a mutação ocorrer em mais de um gene, a dislipidemia genotípica é denominada poligênica. Já a classificação fenotípica tem como referência os níveis plasmáticos de colesterol total e suas frações, sobretudo LDL e HDL e triacilgliceróis. As dislipidemias fenotípicas podem ser divididas em quatro formas principais: Dislipidemias ASPECTOS CLINICOS Hipertrigliceridemia pura: trata-se do aumento isolado dos níveis de triacilgliceróis (≥ 150 mg/d ℓ ), o que, na verdade, reflete o aumento da concentração de quilomícrons, VLDL e IDSL ; Hipercolesterolemia pura: quando os níveis plasmáticos de LDL se encontram acima de 160 mg/dℓ; Hiperlipidemia mista: neste caso, existe aumento dos níveis plasmáticos tanto da fração LDL do colesterol (≥ 160 mg/dℓ) quanto de triacilgliceróis (≥ 150 mg/dℓ); Redução isolada do HDL-colesterol: quando os níveis plasmáticos de HDL-colesterol encontram-se abaixo de 40 mg/d ℓ . Os níveis de HDL podem apresentar-se isoladamente reduzidos ou em associação com aumento de LDL-C e/ou de TG. Os valores de referência para as concentrações plasmáticas de lipídios são periodicamente revistos e re avaliados, e novos parâmetros podem ser adotados de modo que o profissional da área da saúde deve manter-se informado dessas atualizações. As dislipidemias secundárias são decorrentes de outras doenças, como hipotireoidismo, diabetes melito, síndrome nefrótica, insuficiência renal crônica, obesidade, alcoolismo e icterícia obstrutiva. Medicamentos também podem ser a causa de dislipidemias mistas, como é o caso do uso de doses altas de diuréticos, betabloqueadores, corticosteroides e anabolizantes. profa_ana_paula_boleti Os lipídeos – principalmente na forma de triacilgliceróis – podem acumular-se no fígado. O acúmulo extenso é considerado como condição patológica. A esteatose hepática não alcoólica (EHNA) constitui o distúrbio hepático mais comum no mundo inteiro. Quando o acúmulo de lipídeos no fígado torna-se crônico, pode-se desenvolver alterações inflamatórias e fibróticas, resultando em esteato-hepatite não alcoólica (EHNA), que pode evoluir para doenças hepáticas, incluindo cirrose, hepatocarcinoma e insuficiência hepática. O desequilíbrio nas taxas de formação e exportação de triacilgliceróis provoca esteatose hepática ASPECTOS CLINICOS O primeiro tipo está associado a níveis plasmáticos elevados de ácidos graxos livres, em decorrência da mobilização de gordura do tecido adiposo ou da hidrólise do triacilglicerol das lipoproteínas pela lipase lipoproteica nos tecidos extra-hepáticos. A produção de VLDL não acompanha o influxo e a esterificação crescentes de ácidos graxos livres, permitindo o acúmulo de triacilglicerol, o que, por sua vez, resulta em fígado gorduroso. Isso ocorre durante o jejum prolongado e o consumo de dietas ricas em gordura. A capacidade de secretar VLDL também pode estar comprometida (p. ex., no jejum prolongado). No diabetes melito não controlado, na doença de gestação múltipla em ovinos e na cetose bovina, a infiltração gordurosa é grave o suficiente para causar aumento e palidez visível (aparência gordurosa) do fígado, com possível disfunção hepática. O segundo tipo de fígado gorduroso é, geralmente, devido a um bloqueio metabólico na produção de lipoproteínas plasmáticas, possibilitando, assim, o acúmulo de triacilgliceróis. Teoricamente, a lesão pode ser devida a (1) um bloqueio na síntese de apolipoproteínas (ou a um aumento de sua degradação antes que possa ser incorporado nas VLDL), (2) um bloqueio na síntese da lipoproteína a partir dos lipídeos e apolipoproteínas, (3) uma falha no suprimento de fosfolipídeos encontrados nas lipoproteínas, ou (4) uma falha no próprio mecanismo secretor. O fígado gorduroso é classificado em duas categorias principais: profa_ana_paula_boleti A esteatose hepática alcoólica constitui o primeiro estágio da doença hepática alcoólica (DHA), causada pelo alcoolismo e que leva finalmente à cirrose Excesso de bebida alcoolica também causa esteatose hepática O acúmulo de gordura no fígado é causado por uma combinação de comprometimento da oxidação dos ácidos graxos e aumento da lipogênese, o que se acredita ser devido a alterações do potencial redox de [NADH]/[NAD ] no fígado, bem como à interferência na ação de fatores de transcrição que regulam a expressão das enzimas envolvidas nas vias. A oxidação de etanol pela álcool-desidrogenase resulta em produção excessiva de NADH, que compete com equivalentes redutores de outros substratos, incluindo ácidos graxos, pela cadeia respiratória. Estágios das lesões no figado devido ao alcoolismo A oxidação do etanol leva à formação de acetaldeído, que é oxidado pela aldeído-desidrogenase, produzindo acetato. O aumento da razão (NADH)/(NAD ) também provoca aumento da razão (lactato)/(piruvato), com consequente desenvolvimento de hiperacidemia lática, que diminui a excreção de ácido úrico, agravando a gota. Ocorre algum metabolismo do etanol por meio de um sistema microssomal de oxidação do etanol (MEOS) dependente do citocromo P450, envolvendo o NADPH e O2. A atividade desse sistema aumenta no alcoolismo crônico, podendo responder pelo aumento da depuração metabólica nessa condição. O etanol também inibe o metabolismo de alguns fármacos, como, por exemplo, barbitúricos, ao competir pelas enzimas dependentes do citocromo P450. profa_ana_paula_boleti A HDL nascente consiste em duplas camadas de fosfolipídeos discoides contendo apo A e colesterol livre. Essas lipoproteínas assemelham-se às partículas encontradas no plasma de pacientes com uma deficiência da enzima plasmática lecitina: colesterol aciltransferase (LCAT), bem como no plasma de pacientes com icterícia obstrutiva. A LCAT – e o ativador da LCAT, a apo A-I – liga-se às partículas discoides, e o fosfolipídeo de superfície e colesterol livre são convertidos em ésteres de colesterol e lisolecitina. Os ésteres de colesterol apolares deslocam-se para o interior hidrofóbico da dupla camada, enquanto a lisolecitina é transferida para a albumina plasmática. Dessa maneira, há geração de um núcleo apolar, formando uma HDL pseudomicelar esférica, coberta por um filme superficial de lipídeos polares e apolipoproteínas. Isso ajuda a remover o excesso de colesterol não esterificado das lipoproteínas e dos tecidos, conforme descrito adiante. O receptor scavenger B1(SR-B1) da classe B foi identificado como um receptor de HDL com duplo papel no metabolismo das HDL. No fígado e nos tecidos esteroidogênicos, esse receptor se liga à HDL pela apo A-I, e o éster de colesterol é seletivamente liberado para as células, embora a partícula em si, incluindo a apo A-I, não seja captada. Por outro lado, nos tecidos, o SR-B1 medeia a recepção pela HDL do colesterol proveniente das células e, em seguida, o transporta até o fígado para excreção pela bile (sob a forma de colesterol ou após conversão em ácidos biliares), em um processo conhecido como transporte reverso do colesterol. HDL realiza transporte reverso do colesterolA HDL é sintetizada e secretada tanto pelo fígado quanto pelo intestino. Entretanto, a apo C e a apo E são sintetizadas no fígado e transferidas da HDL hepática para a HDL intestinal quando esta última entra no plasma. Uma importante função das HDL consiste em atuar como depósito para a apo C e a apo E necessárias no metabolismo dos quilomícrons e das VLDL. Fonte: Murray, Robert K. Bioquímica ilustrada de Harper , 29. ed., Porto Alegre : AMGH, 2014. profa_ana_paula_boleti A HDL3, gerada a partir da HDL discoide pela ação da LCAT, aceita o colesterol dos tecidos por meio do SR-B1, e o colesterol é então esterificado pela LCAT, aumentando o tamanho das partículas para formar a HDL2 menos densa. Em seguida, ocorre nova formação da HDL3 após liberação seletiva de éster de colesterol no fígado por meio do SR-B1 ou por hidrólise do fosfolipídeo e do triacilglicerol da HDL2 pelas lipases hepática e endotelial. Esse intercâmbio entre HDL2 e HDL3 é denominado ciclo das HDL. As concentrações de HDL variam de modo recíproco com as concentrações plasmáticas de triacilglicerol e diretamente com a atividade da lipase lipoproteica. Isso pode ser devido à liberação do excesso de constituintes superficiais, como, por exemplo, fosfolipídeos e apo A-I, durante a hidrólise dos quilomícrons e das VLDL, contribuindo para a formação de pré-β-HDL e HDL discoide. As concentrações de HDL2 estão inversamente relacionadas com a incidência de aterosclerose, possivelmente por refletirem a eficiência do transporte reverso do colesterol. A HDLc (HDL1) é encontrada no sangue de animais com hipercolesterolemia induzida por dieta. É rica em colesterol, e a sua única apolipoproteína é a apo E. Aparentemente, todas as lipoproteínas plasmáticas são componentes inter-relacionados de um ou mais ciclos metabólicos que, em seu conjunto, são responsáveis pelo processo complexo de transporte dos lipídeos plasmáticos. Síntese do colesterol Pouco mais da metade do colesterol do organismo origina-se por síntese (cerca de 700 mg/dia), enquanto o restante provém da dieta habitual; Nos seres humanos, o fígado e o intestino são responsáveis, cada um, por cerca de 10% da síntese total; Praticamente todos os tecidos que contêm células nucleadas são capazes de efetuar a síntese de colesterol, que ocorre no retículo endoplasmático e nos compartimentos citosólicos. profa_ana_paula_boleti A biossíntese do colesterol pode ser dividida em cinco etapas: (1) síntese do mevalonato a partir da acetil-CoA; (2) formação de unidades isoprenoides a partir do mevalonato com a perda de CO2; (3) condensação de seis unidades isoprenoides para formar o esqualen; (4) ciclização do esqualeno, dando origem ao esteroide original, o lanosterol; (5) formação do colesterol a partir do lanosterol. Etapa 1 – Biossíntese do mevalonato: A HMG-CoA (3-hidroxi-3-metilglutaril-CoA) é formada nas mitocôndrias pelas reações utilizadas para a síntese dos corpos cetônicos. Entretanto, como a síntese do colesterol é extramitocondrial, as duas vias são distintas. Inicialmente, ocorre condensação de duas moléculas de acetil-CoA para formar acetoacetil-CoA, em uma reação catalisada pela tiolase citosólica. O acetoacetil-CoA condensa-se com outra molécula de acetil-CoA em outra reação catalisada pela HMG-CoA-sintase, com formação de HMG- CoA, que é reduzida em mevalonato pelo NADPH, em uma reação catalisada pela HMG-CoA- redutase. Esta última etapa constitui a principal etapa reguladora na via de síntese do colesterol e o local de ação da classe mais efetiva de agentes redutores do colesterol, as estatinas, que são inibidores da HMG-CoA-redutase. Etapa 2 – Formação das unidades isoprenoides: O mevalonato é fosforilado sequencialmente por três quinases utilizando o ATP e, após descarboxilação, ocorre formação da unidade isoprenoide ativa, o isopentenil-difosfato. Fonte: Marzzoto e Torres/ Bioquímica básica. -2ed.-Rio de Janeiro: Editora guanabara, 1999. profa_ana_paula_boleti Etapa 3 – Formação do esqualeno a partir de seis unidades isoprenoides: O isopentenil- difosfato é isomerizado por um deslocamento da dupla ligação para formar dimetilalil- difosfato e, em seguida, condensado com outra molécula de isopentenil-difosfato, com formação do intermediário de dez carbonos, o geranil-difosfato. Uma condensação adicional com isopentenil difosfato forma o farnesil-difosfato. Duas moléculas de farnesil difosfato condensam-se na extremidade difosfato, formando o esqualeno. Inicialmente, o pirofosfato inorgânico é eliminado, resultando no pré-esqualeno difosfato, que é então reduzido pelo NADPH, com eliminação de mais uma molécula de pirofosfato inorgânico. Etapa 4 – Formação do lanosterol: O esqualeno pode dobrar-se em uma estrutura que se assemelha estreitamente ao núcleo esteroide. Antes do fechamento do anel, o esqualeno é convertido em esqualeno 2,3-epóxido por uma oxidase de função mista presente no retículo endoplasmático, a esqualeno-epoxidase. O grupo metila em C14 é transferido para o C13 e o do C8 para o C14 à medida que ocorre a ciclização, catalisada pela oxidoesqualeno-lanosterol ciclase. Etapa 5 – Formação do colesterol: A formação do colesterol a partir do lanosterol ocorre nas membranas do retículo endoplasmático e envolve alterações no núcleo e na cadeia lateral do esteroide. Os grupos metila em C14 e C4 são removidos para formar 14-desmetil lanosterol e, em seguida, zimosterol. Posteriormente, a dupla ligação em C8-C9 é transferida para C5-C6 em duas etapas, com formação do desmosterol. Por fim, a dupla ligação da cadeia lateral é reduzida, produzindo colesterol. Destinos do colesterol Fonte: Lehninger et al./ Princípios de Bioquímicai. -6ed.-São Paulo: Sarvier, 2014. profa_ana_paula_boleti A regulação da síntese do colesterol é efetuada próximo ao início da via, na etapa da HMG- CoA-redutase. Nos animais em jejum prolongado, a síntese diminuída de colesterol é acompanhada de redução da atividade da enzima. Entretanto, o colesterol da dieta inibe apenas a síntese hepática. A HMG-CoA-redutase no fígado é inibida pelo mevalonato, o produto imediato da reação, e pelo colesterol, o principal produto da via. O colesterol e seus metabólitos suprimem a transcrição da HMG-CoA-redutase pela ativação de um fator de transcrição, a proteína de ligação ao elemento regulador de esteróis (SREBP). As SREBP constituem uma família de proteínas que regulam a transcrição de uma gama de genes envolvidos na captação e no metabolismo celulares do colesterol e de outros lipídeos. Tanto a síntese de colesterol quanto a atividade da redutase exibem variação diurna. Regulação da Síntese do colesterol A insulina ou o hormônio tireoidiano aumentam a atividade da HMG-CoA-redutase, enquanto o glucagon ou os glicocorticoides a diminuem. A atividade enzimática é reversivelmente modificada pelos mecanismos de fosforilação-desfosforilação, alguns dos quais podem ser dependentes de AMPc e, portanto, imediatamente responsivos ao glucagon. Fonte: Lehninger et al./ Princípios de Bioquímicai. -6ed.-São Paulo: Sarvier, 2014. profa_ana_paula_boleti Quando a soma do colesterol sintetizado e do colesterol obtido na dieta excede a quantidade necessária para a síntese de membranas, sais biliares e esteroides, o acúmulo patológico de colesterol (placas) pode obstruir os vasos sanguíneos, condição chamada aterosclerose. A falência cardíaca devido à oclusão das artérias coronárias é a principal causa de morte nas sociedades industrializadas. A aterosclerose está relacionada a altos níveis de colesterol no sangue e particularmente a altos níveis de colesterol LDL l (“mau colesterol”); existe uma correlação negativa entre o nível de HDL (“bom colesterol”) e doença arterial. A formação de placa nos vasos sanguíneos é iniciada quando o LDL contendo grupos acil-graxo parcialmente oxidados adere-se e acumula-se na matriz extracelular das células epiteliais que revestem as artérias. Células do sistema imune (monócitos)são atraídas para a região onde há acúmulo de LDL, e elas se diferenciam em macrófagos, que captam o LDL oxidado e o colesterol que eles contêm. Desregulação do metabolismo de colesterol pode levar à doença cardiovascular. Os macrófagos não podem limitar a captação de esteróis, e com o aumento do acúmulo de ésteres de colesterila e colesterol livre, os macrófagos se tornam células espumosas (parecem espuma no microscópio). Com o acúmulo de colesterol livre nas células espumosas e em suas membranas, elas sofrem apoptose. Durante longos períodos de tempo, as artérias se tornam progressivamente ocluídas, já que as placas, consistindo em material da matriz extracelular, tecido cicatricial formado por tecido muscular liso, e células espumosas remanescentes, gradualmente se tornam maiores. Ocasionalmente, uma placa se solta do local de sua formação e é transportada pelo sangue para uma região mais estreita de uma artéria no cérebro ou no coração, causando o acidente vascular cerebral ou infarto. Fonte: Lehninger et al./ Princípios de Bioquímicai. -6ed.-São Paulo: Sarvier, 2014. ASPECTOS CLÍNICOS profa_ana_paula_boleti Os fatores hereditários desempenham o papel mais importante na determinação das concentrações séricas de colesterol no indivíduo; entretanto, os fatores nutricionais e ambientais também desempenham um papel, e, entre esses fatores, o mais benéfico consiste em substituir, na dieta, os ácidos graxos saturados por ácidos graxos poli-insaturados e monoinsaturados. O mecanismo envolvido no efeito dos ácidos graxos poli-insaturados sobre a redução do colesterol ainda não está totalmente elucidado. Entretanto, é evidente que um dos mecanismos envolvidos consiste na upregulation dos receptores de LDL pelos ácidos graxos poli-insaturados e monoinsaturados, em comparação com os saturados, resultando em aumento da taxa catabólica da LDL, a principal lipoproteína aterogênica. Além disso, os ácidos graxos saturados levam à formação de partículas menores de VLDL, que contêm quantidades relativamente maiores de colesterol e que são utilizadas pelos tecidos extra-hepáticos em uma taxa mais lenta do que as partículas maiores – tendência que pode ser considerada aterogênica. A dieta desempenha um papel importante na redução do colesterol sérico Os óleos vegetais, como o óleo de milho e o óleo de semente de girassol, contêm uma alta proporção de ácidos graxos poli-insaturados, enquanto o azeite contém a alta concentração de ácidos graxos monoinsaturados. Por outro lado, as gorduras da manteiga e da carne e o óleo de palma contêm uma elevada proporção de ácidos graxos saturados. A sacarose e a frutose exercem um maior efeito na elevação dos lipídeos sanguíneos, particularmente os triacilgliceróis, em comparação com outros carboidratos. profa_ana_paula_boleti Outros fatores que parecem desempenhar um papel na coronariopatia incluem a hipertensão arterial, o tabagismo, o sexo masculino, a obesidade (particularmente a obesidade abdominal), a falta de exercícios físicos e a ingestão de água mole em lugar de água dura. Os fatores associados a uma elevação dos AGL plasmáticos, seguida de aumento da liberação de triacilglicerol e colesterol na circulação, na forma de VLDL, incluem estresse emocional e consumo de café. O estilo de vida afeta os níveis séricos de colesterol As mulheres pré-menopausa parecem estar protegidas de muitos desses fatores deletérios, e acredita-se que essa proteção esteja relacionada com os efeitos benéficos do estrogênio. Existe uma associação entre o consumo moderado de álcool e uma incidência mais baixa de coronariopatia. Isso pode ser atribuído à elevação das concentrações de HDL em decorrência da síntese aumentada de apo A-I e de alterações na atividade da proteína de transferência de éster de colesterol. .A prática regular de exercícios físicos reduz os níveis plasmáticos de LDL e aumenta os níveis de HDL. As concentrações de triacilgliceróis também são reduzidas, devido, mais provavelmente, ao aumento da sensibilidade à insulina, que intensifica a expressão da lipase lipoproteica. Fármacos hipolipidêmicos reduzem os níveis séricos de colesterol e triacilglicerol Uma família de fármacos conhecidos como estatinas demonstrou ser altamente eficaz na redução do colesterol plasmático e na prevenção da doença cardíaca. As estatinas atuam por meio da inibição da HMG-CoA-redutase e up regulation da atividade do receptor de LDL. A atorvastatina, a sinvastatina, a fluvastatina e a pravastatina são exemplos de fármacos dessa família atualmente usados. A ezetimiba reduz os níveis sanguíneos de colesterol ao inibir a sua absorção pelo intestino por meio do bloqueio de sua captação pela proteína 1 semelhante a Niemann-Pick C. Outros fármacos usados incluem os fibratos, como o clofibrato, a genfibrozila e o ácido nicotínico, que atuam principalmente na redução dos níveis plasmáticos de triacilgliceróis ao diminuir a secreção hepática de VLDL contendo triacilglicerol e colesterol. profa_ana_paula_boleti Os defeitos hereditários no metabolismo das lipoproteínas levam à condição primária de hipolipoproteinemia ou hiperlipoproteinemia. Além disso, doenças como o diabetes melito, o hipotireoidismo, a doença renal (síndrome nefrótica) e a aterosclerose estão associadas a padrões anormais secundários de lipoproteínas, que são muito semelhantes a um ou outro dos distúrbios hereditários primários. Quase todos os distúrbios primários são causados por um defeito em um estágio na formação, transporte ou degradação das lipoproteínas. Nem todas essas anormalidades são prejudiciais. Dislipoproteinemias: distúrbios hereditários das lipoproteínas plasmáticas profa_ana_paula_boleti Fundamentos de Bioquímica/Voet, Donalt; Voet, Judith; Pratt, Charlotte, trad. Arthur Germano Feet Neto et al. – Porto Alegre: Artes Médicas do Sul, 2000; Princípios de Bioquímica/ Lehninger, Albert; Nelson, David; Cox, Michael; trad. Arnaldo Antônio Simões, Wilson Roberto Navega Lodi. -6ed.-São Paulo: Sarvier, 2014; Manual de Bioquímica com correlações clínicas/Thomas M. Devlin; traduzido: Yara M. Michelacci. 7ed. –São Paulo: Blucher, 2011. Referências
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