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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ. Fernanda Teles Gullo 2015 ii PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ. Fernanda Teles Gullo Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Marcos Barreto de Mendonça Rio de Janeiro Março 2015 iii PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ. Fernanda Teles Gullo PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL. Examinada por: ____________________________________________ Prof. Marcos Barreto de Mendonça, D.Sc. _________________________________________ Prof. Ana Luiza Coelho Netto, D.Sc. _________________________________________ Prof. Maria Cristina Moreira Alves, D.Sc. _________________________________________ Prof. Leandro Torres Di Gregorio, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL Março de 2015 iv Gullo, Fernanda Teles Percepção de risco associado a deslizamentos nas comunidades do Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis, RJ./ Fernanda Teles Gullo. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015. X, 196 p.: il.; 29,7 cm. Orientador: Marcos Barreto Mendonça. Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Civil, 2015. Referencias Bibliográficas: p. 167-172. 1.Desastres 2.Deslizamentos 3. Percepção de Risco 4 Prevenção. 5.Gestão Participativa I. Mendonça, Marcos Barreto de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil, III. Título. v Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a sua maneira de ser lhe permite. O universo pode ser muito mais vasto e muito mais diferente do que aquilo que é apenas o nosso mundo. (Agostinho da Silva) vi À minha torcida mais fiel, meus pais, Sueli e José Carlos, e minha irmã, Jordana. vii Agradecimentos À minha família agradeço por todo amor, presença e incentivo em todos os momentos – à minha amada mãe coruja Sueli, ao melhor pai que eu poderia ter José Carlos, à minha amiga irmã Jordana e à avó Pequenina, que ainda deixa saudades. À todos os meus amigos de curso que tornaram essa jornada na UFRJ mais leve e interessante, minha eterna gratidão. Às minhas amigas Vivian Quito, Priscila Monteiro, Marina Kamino e Janeita Reid, que eu jurei citar nesses agradecimentos. Sem vocês tudo seria mais difícil. Ao meu namorado Félicien, por seu incentivo e palavras de amor. Aos meus amigos entusiastas Paula, Thiago, Lise, Gautier, Morgane, Laure, Baby e muitos outros que eu conheci durante esses anos de UFRJ. Ao professor e orientador Marcos Barreto de Mendonça, obrigada imensamente pelo apoio na realização deste trabalho e por todo aprendizado durante o curso. Levarei comigo o seu exemplo de profissional. À todos que participaram deste trabalho de alguma forma, Priscila Sanchez, Mariana Pinheiro, Leonardo Barbosa, Nathalia Lacerda. Vocês foram essenciais. Aos moradores de Angra dos Reis que gentilmente me concederam entrevista. À Luzia Faria e ao Michael Corrêa sempre prontos a me ajudar com os assuntos administrativos em relação ao meu curso. Aos professores, Ana Luiza, Maria Cristina e Leandro Torres, por aceitarem participar da banca examinadora deste TCC. À todos aqueles que me proporcionaram infinitas oportunidades acadêmicas e profissionais durante o curso. À Deus e ao universo, por todas as realizações. Muito obrigada! viii Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. PERCEPÇÃO DE RISCO ASSOCIADO A DESLIZAMENTOS NAS COMUNIDADES DO MORRO DA CARIOCA, MORRO DO ABEL E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ. Fernanda Teles Gullo Março/2015 Orientador: Marcos Barreto de Mendonça Curso: Engenharia Civil Os desastres associados a deslizamentos crescem em intensidade na falta de uma população resiliente, gerando consequências sociais, econômicas e ambientais. Não é desconhecido que a prevenção é a melhor forma de se antecipar ao problema e evitar novos desastres. Entretanto, sem um diagnóstico prévio sobre os entendimentos e práticas diárias da população moradora de áreas de encostas suscetíveis a deslizamentos, ações de cunho preventivo, por vezes, se tornam ineficientes. Este trabalho defende a importância de se saber previamente como os moradores das comunidades estudadas percebem o risco a que eles estão expostos. Os resultados indicam que a população em estudo não utiliza todos os recursos que dispõe para agir a favor da redução dos desastres, evidenciando principalmente uma desarticulação entre os moradores e os agentes públicos locais. Palavras-chave: Desastres, Deslizamentos, Prevenção, Percepção de Risco, Gestão Participativa. ix Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Civil Engineer. RISK PERCEPTION ASSOCIATED WITH LANDSLIDES IN COMMUNITIES AT CARIOCA SHANTY TOWN, ABEL SHANTY TOWN AND SANTO ANTÔNIO SHANTY TOWN, ANGRA DOS REIS, RJ. Fernanda Teles Gullo March/2015 Advisor: Marcos Barreto de Mendonça Course: Civil Engineering Landslide disasters are considerable in the absence of a resilient population which causes various social, economical and environmental consequences. Prevention is widely known as the best approach to foresee the problem and avoid new disasters. However, preventive actions are sometimes inefficient without a preliminary assessment of the understanding and daily practices of the population that live on slopes that are susceptible to landslides. This project highlights the importance of knowing beforehand how the residents of the assessed communities perceive the risk that they are exposed to. The results indicate that the population under study does not use the resources that are available to ensure the reduction of disasters, mainly showing that there is an evident gap between the residents and local public officials. Keywords: Disasters, Landslides, Prevention, Risk Perception, Participative Management. x SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18 1.1. Apresentação do objeto de pesquisa .......................................................................... 18 1.2. Relevância e objetivos do estudo ................................................................................ 20 1.3. Estrutura do trabalho .................................................................................................. 22 2.DESASTRES ASSOCIADOS A DESLIZAMENTOS ..................................................................... 23 2.1. Movimentos de massa em encostas ........................................................................... 23 2.1.1. Quedas ................................................................................................................ 24 2.1.2. Tombamentos ..................................................................................................... 25 2.1.3. Rolamentos ......................................................................................................... 26 2.1.4. Escorregamentos (ou Deslizamentos) ................................................................. 27 2.1.5. Escoamentos (ou Fluxo) ...................................................................................... 30 2.1.6. Complexos ........................................................................................................... 32 2.2. Causas dos movimentos de massa e ações antrópicas associadas ............................. 33 2.3. Desastres associados a deslizamentos ........................................................................ 35 2.3.1. Conceito de desastre ........................................................................................... 35 2.3.2. Dados sobre histórico recente no Brasil e no Rio de Janeiro .............................. 36 3. RISCO ................................................................................................................................... 44 3.1. Conceitos básicos ........................................................................................................ 44 3.1.1. Risco .................................................................................................................... 44 3.1.2. Perigo .................................................................................................................. 49 3.1.3. Suscetibilidade .................................................................................................... 50 3.1.4. Vulnerabilidade ................................................................................................... 51 3.2. Mapeamento de suscetibilidade e de risco de deslizamentos ................................... 56 3.3. Percepção de risco associado a deslizamentos ........................................................... 62 3.3.1. Considerações iniciais ......................................................................................... 62 3.3.2. Experiências em percepção de risco observadas na literatura ........................... 67 4. ÁREA DE ESTUDO DA PESQUISA – BAIRROS MORRO DO ABEL, MORRO DA CARIOCA E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS, RJ .................................................................. 80 5. LEVANTAMENTO DA PERCEPÇÃO DE RISCO ....................................................................... 87 5.1. Metodologia do trabalho ............................................................................................ 87 6. RESULTADOS E ANÁLISES .................................................................................................... 97 6.1. Categorização e discussão dos resultados .................................................................. 97 xi 6.2. Consolidação dos temas mais relevantes associada à compreensão da fala dos entrevistados ......................................................................................................................... 132 6.3. Propostas de assuntos a serem abordados em campanhas socioeducativas ........... 163 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 164 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................. 168 ANEXO I – DADOS POPULACIONAIS E DE SANEAMENTO DOS BAIRROS DO MORRO DO ABEL, MORRO DA CARIOCA E MORRO DO SANTO ANTÔNIO, ANGRA DOS REIS / RJ ......................... 174 ANEXO II – ROTEIRO DE ENTREVISTAS PARA LEVANTAMENTO DE PERCEPÇÃO DE RISCO. ..... 191 ANEXO III – DADOS DO MAPA DE SUSCETIBILIDADE ACRESCIDO DA LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS REFERENTES AS ENTREVISTAS REALIZADAS DURANTE O LEVANTAMENTO DE PERCEPÇÃO DE RISCO DOS MORADORES. .......................................................................................................... 195 xii LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Critérios para classificação de movimentos de massa ( Fundação Geo-Rio, 2014 – adaptado de Varnes,1978 & Augusto Filho,1992). ................................................ 23 Figura 2 – Queda de blocos (Rodrigues et al., 2013). ........................................................ 24 Figura 3 – Ilustração da queda de blocos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). ......................................................................................................................................... 24 Figura 4 - Tombamento de blocos (Proin/Capes & Unesp/IGCE, 1999). ........................ 25 Figura 5 – Ilustração de tombamentos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). 25 Figura 6 – Ilustração dos rolamentos (Fundação Geo-Rio, 2014). .................................. 26 Figura 7 - Rolamento de blocos na Estrada do Contorno em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010). ..................................................................................................................... 26 Figura 8 - Escorregamentos rotacionais (foto do arquivo pessoal de Willy Lacerda). . 27 Figura 9 - Ilustração de escorregamentos rotacionais (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). ............................................................................................................................ 27 Figura 10 - Deslizamento planar em Petrópolis, RJ (foto cedida por Marcos Mendonça). ................................................................................................................................ 28 Figura 11 - Ilustração de escorregamento planar (Pinotti & Carneiro, 2013 - adaptado de Hoek & Londe, 1974 e Piteau & Martin, 1981). .............................................................. 28 Figura 12 – Deslizamento em cunha (Montgomery, 1992)................................................ 29 Figura 13 - Ilustração dos escorregamentos em cunha (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008 - a; Fundação Geo-Rio, 2014 - b). ................................................................. 29 Figura 14 – Cicatrizes em encosta geradas por fluxos detríticos (foto cedida por Marcos Mendonça). ................................................................................................................. 30 Figura 15 - Ilustração de corridas (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). ........ 30 Figura 16 - Ilustração de rastejos ou fluências (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). ......................................................................................................................................... 31 Figura 17 – Movimento de rastejo (foto cedida por Marcos Mendonça). ........................ 31 Figura 18 - Escorregamentos complexos na Região Serrana do Rio de Janeiro (Pessôa, 2011). ......................................................................................................................... 32 Figura 19 – Cenário dos desastres registrados entre os períodos de 1991 e 2012, (Brasil, 2013). ............................................................................................................................ 36 Figura 20 – Registros de movimentos de massa entre as décadas de 1990 e 2000 (Brasil, 2013). ............................................................................................................................ 37 Figura 21 – Mortos por tipo de desastre, nos períodosentre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). ......................................................................................................................................... 37 Figura 22 – Frequência mensal dos movimentos de massa ocorridos no Brasil, nos períodos entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). .......................................................................... 38 Figura 23 – Porcentagem de ocorrência de movimentos de massa por região do Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). ...................................................................... 38 Figura 24 – Danos humanos por movimento de massa na região Sudeste (Brasil, 2013). ......................................................................................................................................... 39 Figura 25 – Danos humanos ocasionados por movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro, entre os períodos de 1991 e 2012 (Brasil, 2013). .......................................... 40 Figura 26 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010). ............................. 41 xiii Figura 27 - Deslizamentos em Angra dos Reis no Morro do Santo Antônio (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). ...................................................................................................... 41 Figura 28 - Deslizamentos em Angra dos Reis na praia do Bananal (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). ............................................................................................................ 42 Figura 29 - Desastre de 2010 no Morro da Carioca (Uol Notícias apud Becker, 2011). ..................................................................................................................................................... 42 Figura 30 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis no Morro do Bulé e no Morro da Carioca (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). ................................................................ 43 Figura 31 – Gráfico da frequência anual de movimentos de massas ocorridos no Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). ...................................................................... 43 Figura 32 - Mapa de zoneamento de suscetibilidade de Angra dos Reis (Coelho Netto et al., 2013)................................................................................................................................ 61 Figura 33 – Localização da área de estudo - Bairros Morro do Abel, Morro da Carioca e Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/ RJ ................................................................... 81 Figura 34 – Visão das comunidades do Morro da Carioca e do Morro do Abel (foto do autor). ......................................................................................................................................... 82 Figura 35 – Visão da comunidade do Morro do Santo Antônio (foto do autor). ............. 82 Figura 36 – Visão a partir da região mais alta do Morro do Santo Antônio (foto do autor). ......................................................................................................................................... 82 Figura 37 – Implantação inadequada de moradias em região alta do Morro do Santo Antônio (foto do autor). ............................................................................................................ 83 Figura 38 – Implantação inadequada de moradias em região alta do Morro do Santo Antônio (foto do autor). ............................................................................................................ 83 Figura 39 – Estrutura (muro de gabião) para contenção de talude localizada no Morro da Carioca (foto do autor). ...................................................................................................... 83 Figura 40 – Fotos do levantamento de percepção de risco. Equipe de campo: Fernanda Teles Gullo, José Carlos Gullo, Marcos Barreto de Mendonça, Mariana Talita Gomes Pinheiro, Priscila Nunes Sanchez (Fotos do autor). .................................. 95 Figura 41 - Gráfico das respostas da pergunta 1 separados por graus de risco. .......... 98 Figura 41 - Percentuais das respostas da pergunta 2 separados por graus de risco. .. 99 Figura 43 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. . 102 Figura 44 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para o bairro Morro da Carioca. .............................................................................................................................. 103 Figura 45 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ....................... 104 Figura 46 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 4 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. . 106 Figura 47 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 5 separados em graus de risco. .................................................................................................................................... 107 Figura 48 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 8 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. ......................................................................................................................................... 109 xiv Figura 49 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 8 sobre a frequência em que os moradores pensam em deslizamentos para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. .................. 110 Figura 50 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 10 separados por graus de risco. ......................................................................................................................... 112 Figura 51 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 11 separados por graus de risco. ......................................................................................................................... 113 Figura 52 - Percentuais das respostas da pergunta 14 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 116 Figura 52 – Gráfico com os percentuais das respostas da pergunta 15 separados por graus de risco. ......................................................................................................................... 117 Figura 54 – Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 16 separados em ordem de importância. ........................................................................................................... 118 Figura 55 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 21 separados por graus de risco. .................................................................................................................................... 123 Figura 56 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 24 separados por graus de risco. .................................................................................................................................... 126 Figura 57 - Gráfico dos percentuais das respostas da pergunta 27 separados em graus de risco. .................................................................................................................................... 128 Figura 58 – Gráfico com os percentuais das respostas da pergunta 28 separadas por graus de risco. ......................................................................................................................... 129 Figura 59 - Gráfico dos percentuais totais das respostas da pergunta 29. ...................130 Figura 60 - Gráfico das respostas da pergunta 30 separados por graus de risco. ...... 131 Figura 61 - População residente,total, urbana total e urbana na sede municipal, em números absolutos e relativos, com indicação da área total e densidade demográfica, segundo o Brasil e os municípios de Angra dos Reis e do Rio de Janeiro (IBGE, Censo Demográfico, 2010 – relatório Sinopse do Censo Demográfico 2010, 2011). ............. 174 Figura 62 – Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares permanentes e média de ................................................................................. 175 Figura 63 - Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares permanentes e média de ....................................................................................................... 175 Figura 64 - Domicílios particulares permanentes, moradores em domicílios particulares permanentes e média de moradores .................................................................................. 176 Figura 65 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ. .................................................................................................................................... 177 Figura 66 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ................................................................................................................................................... 179 Figura 67 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a forma de abastecimento de água, o destino xv do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ. .................................................................................................................................... 181 Figura 68 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ. ............................................................................... 182 Figura 69 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ..................................................................................... 184 Figura 70 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo a forma de abastecimento de água, o destino do lixo e a existência de energia elétrica no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ. .................................................................... 185 Figura 71 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de esgotamento sanitário no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ. ................. 186 Figura 72 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de esgotamento sanitário no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ............................ 187 Figura 73 – Domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio e existência de banheiro de banheiro ou sanitário e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio, segundo o tipo do domicílio, a condição de ocupação e o tipo de esgotamento sanitário no bairro Morro do Abel, Angra dos Reis/RJ. ...................... 188 Figura 74 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a condição de ocupação,a existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário e a existência e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio no bairro Morro da Carioca, Angra dos Reis/RJ. ................................................................................................ 189 Figura 75 – Domicílios particulares permanentes e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio, segundo o tipo de domicílio, a condição de ocupação,a existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário e a existência e número de banheiros de uso exclusivo do domicílio no bairro Morro do Santo Antônio, Angra dos Reis/RJ. ..................................................................................... 190 xvi LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Fatores contribuintes para as causas de acionamento dos movimentos de massa e ações antrópicas associadas (Mendonça, 2013; Fundação Geo-Rio, 2014). 34 Tabela 2 - Definições de desastres encontrados na literatura. ......................................... 35 Tabela 3 - Definições de risco encontradas na literatura. .................................................. 45 Tabela 4 - Fórmulas relacionadas ao conceito de risco (R) encontradas na literatura. 47 Tabela 5 - Definições de perigo encontradas na literatura. ............................................... 50 Tabela 6 - Definições de suscetibilidade encontradas na literatura ................................. 51 Tabela 7 - Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura. ............................... 52 Tabela 8 - Definições de percepção de risco encontradas na literatura. ........................ 62 Tabela 9 - Experiências em levantamentos de percepção de risco. ................................ 68 Tabela 10 - Parte do questionário aplicado para levantamento da percepção de risco por Mendonça e Pinheiro (2013). .......................................................................................... 73 Tabela 11 - Pontos qualitativos do questionário por Finlay e Fell (1997). ...................... 74 Tabela 12 – Descrição dos grupos questionados por Finlay e Fell (1997). .................... 75 Tabela 13 – Descrição dos métodos utilizados para coleta de dados por Finlay e Fell (1997). ........................................................................................................................................ 76 Tabela 14 – Parte do questionário aplicado para levantamento da percepção de risco por Ho et al. (2008). ................................................................................................................. 78 Tabela 15 - Percentagens das características urbanas do entorno dos domicílios permanentes urbanos do país e dos municípios de Angra dos Reis e do Rio de Janeiro........................................................................................................................................ 84 Tabela 16 - Dados coletados durante a execução das entrevistas. ................................. 91 Tabela 17 - Percentuais das respostas da pergunta 1 separados por graus de risco. . 98 Tabela 18 - Percentuais das respostas da pergunta 2 separados por grausde risco. 100 Tabela 19 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ....... 102 Tabela 20 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para o bairro Morro da Carioca separados por grau de risco. ................................................................................................ 103 Tabela 21 - Percentuais das respostas da pergunta 3 para os bairros Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ..................................................... 104 Tabela 22 - Percentuais das respostas da pergunta 4 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio separados por grau de risco. ....... 106 Tabela 23 - Percentuais das respostas da pergunta 5 separados em graus de risco. 107 Tabela 24 – Percentuais das respostas da pergunta 6. ................................................... 108 Tabela 25 – Percentuais das respostas da pergunta 8 para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por grau de risco. .... 110 Tabela 26 - Percentuais das respostas da pergunta 8 para o bairro Morro da Carioca e separados por graus de risco. .............................................................................................. 110 Tabela 27 - Percentuais das respostas da pergunta 8 para o bairro Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. ............................................... 110 Tabela 28 – Percentuais das respostas da pergunta 8 sobre a frequência em que os moradores pensam em deslizamentos para os bairros Morro da Carioca, Morro do Abel e Morro do Santo Antônio e separados por graus de risco. ................................... 111 xvii Tabela 29 - Percentuais das respostas da pergunta 9 separados por graus de risco. 111 Tabela 30 - Distribuição das respostas da pergunta 10. .................................................. 111 Tabela 31 - Percentuais das respostas da pergunta 10 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 112 Tabela 32 - Percentuais das respostas da pergunta 11 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 113 Tabela 33 - Percentuais das respostas da pergunta 12 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 114 Tabela 34 – Percentuais das respostas da pergunta 13 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 115 Tabela 35 - Percentuais das respostas da pergunta 14 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 116 Tabela 36 – Percentuais das respostas da pergunta 15 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 117 Tabela 37 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas por graus de importância. ............................................................................................................................. 119 Tabela 38 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de importância para suscetibilidade alta e muito alta. ........................................................... 119 Tabela 39 – Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de importância para suscetibilidade média. ............................................................................. 120 Tabela 40 - Percentuais das respostas da pergunta 16 separadas em ordem de importância para suscetibilidade baixa. .............................................................................. 120 Tabela 41 – Percentuais das respostas da pergunta 17 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 121 Tabela 42 - Percentuais totais das respostas da pergunta 18. ....................................... 121 Tabela 43 - Percentuais das respostas da pergunta 19. ................................................. 122 Tabela 44 - Percentuais totais das respostas da pergunta 20. ....................................... 122 Tabela 45 - Percentuais das respostas da pergunta 21 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 122 Tabela 46 - Percentuais das respostas da pergunta 22. ................................................. 123 Tabela 47 - Percentuais das respostas da pergunta 23. ................................................. 124 Tabela 48 - Percentuais das respostas da pergunta 24 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 125 Tabela 49 - Percentuais das respostas da pergunta 25 separadas por graus de risco. ................................................................................................................................................... 126 Tabela 50 - Percenturais das respostas da pergunta 26. ................................................ 127 Tabela 51 - Percentuais das respostas da pergunta 27 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 128 Tabela 52 - Percentuais das respostas da pergunta 28 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 129 Tabela 53 - Percentuais das respostas da pergunta 29 separados por graus de risco. ................................................................................................................................................... 130 Tabela 54 - Percentuais das respostas da pergunta 30 separados em graus de risco. ................................................................................................................................................... 131 Tabela 55 – Roteiro de entrevistas para levantamento de percepção de risco. .......... 191 18 1. INTRODUÇÃO 1.1. Apresentação do objeto de pesquisa O processo de transformação do espaço público brasileiro se construiu com bases em uma política de exclusão social e descompromisso com as áreas urbanas ocupadas pela população mais pobre. A cidade é tratada como mercadoria e a gestão que segue os preceitos de rentabilidade econômica expulsa milhares de brasileiros para as periferias ou áreas sobrantes, comumente chamadas de áreas de risco, em que na maioria das vezes o direito à moradia digna e às infraestruturas necessárias não é garantido. O esgotamento dos centros urbanos e a consequente ocupação desordenada de áreas altamente suscetíveis a deslizamentos passaram a não ser exclusividade das grandes metrópoles, tendo como alvo também as cidades de menor porte, como os municípios da região serrana e do litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, recentemente vitimados por eventos desastrosos. A população residente nessas áreas de risco sofre com desastres ocasionados pela confluência de fatores como alta declividade das encostas, elevados índicespluviométricos, feições geomorfológicas, geológicas e geotécnicas e ações antrópicas sobre o meio físico. Convém mencionar nesta introdução que o termo ‘deslizamentos’ é utilizado, de uma forma geral, ao longo do texto dessa dissertação para designar os movimentos de massa em encostas. Sabe-se, entretanto, que o deslizamento propriamente dito consiste em um dos tipos de movimento de massa, conforme será exposto no item 2.1. O desastre associado a deslizamentos é o segundo maior tipo de desastre socioambiental em termos de vítimas fatais no Brasil. Segundo Brasil (2013), entre 19 1991 e 2012 foram feitos 669 registros oficiais de movimentos de massa no país, constando por volta de cinco milhões e meio de pessoas afetadas, direta ou indiretamente, entre feridos, enfermos, desabrigados, desalojados, desaparecidos e outros. Esses números devem estar subestimados, posto que muitas ocorrências podem não ter sido registradas oficialmente. O problema dos desastres associados a deslizamentos envolve aspectos técnicos, sociais e de políticas públicas. Os técnicos estão relacionados aos condicionantes naturais e antrópicos que determinam a estabilidade das encostas. Os sociais são relativos ao processo de ocupação do solo pelo homem, ao impacto das consequências dos desastres na vida das pessoas atingidas, a remoção de moradores das áreas de risco, ao engajamento da população em atividades preventivas e emergenciais e a distância social entre os moradores de áreas de risco e os órgãos responsáveis pelo tratamento do problema. Os de políticas públicas referem-se ao plano habitacional, a gestão dos desastres e a proteção social (Mendonça, 2013). No entanto, apesar da interdisciplinaridade do problema, nota-se que, na prática, as soluções para esse problema comumente não envolvem esses diferentes aspectos, sendo as ações para redução dos desastres ainda hoje concentradas basicamente na execução de obras de engenharia. Com efeito, diante da atual situação em que os desastres associados a deslizamentos vêm aumentando de magnitude, frequência e área afetada, essas soluções têm apresentado eficiência bastante limitada (Mendonça, 2013). A inclusão de novas alternativas para a melhor gestão do sistema de controle dos desastres precisa ser repensada, já que o risco a deslizamentos e suas consequências não depende somente das feições geomorfológicas, geológicas e geotécnicas do terreno, mas também da organização social desigual do uso e ocupação do solo. 20 Esse problema vem mobilizando diversos especialistas na tentativa de reversão desse quadro. Ressalta-se a necessidade de integração entre governos municipais, estaduais e federal, entidades privadas, academia e sociedade civil na elaboração de uma política pública que, sem se contrapor ao saber perito, se produza a partir do diagnóstico da percepção de risco por parte dos moradores de áreas suscetíveis a deslizamentos, ou seja, a forma com que a população se relaciona com o perigo dos deslizamentos e com os atores envolvidos nessa temática. O objeto de pesquisa desse trabalho é a percepção de risco associado a deslizamentos por parte da população moradora de três comunidades no Município de Angra dos Reis, Rio de Janeiro, RJ. O conhecimento sobre a percepção de risco não pode ser negligenciado, uma vez que não há significativa redução dos desastres somente através de ações estruturais (obras de engenharia) e emergenciais (sistemas de alarme e alerta e retirada de moradores) sem a participação da população. Essa participação da comunidade nas ações para redução de risco deve ser buscada através de ações socioeducativas para a troca de conhecimento entre técnicos e moradores sobre o problema dos desastres, o estreitamento da interação entre a comunidade e o governo e o empoderamento da população para transformação do meio em que vivem de forma a melhorar a qualidade de vida. Essas ações, entretanto, só podem ser planejadas e realizadas após o conhecimento da percepção de risco dos moradores. 1.2. Relevância e objetivos do estudo O conceito de percepção de risco desde o fim da década de 60 (Heitz, 2009) vem ganhando destaque com diversas abordagens que se complementam e constituem uma literatura multidisciplinar de referência, com as contribuições de economistas, geógrafos, psicólogos, sociólogos e engenheiros. Estudar a percepção de risco tem sua importância para a construção de uma cultura de prevenção, em que prevalece o diálogo com a população, elucidando a 21 participação social, a construção coletiva, o cooperativismo e a proximidade entre técnicos, gerenciador público e comunidade, para a redução de desastres e o aumento da qualidade de vida em áreas de risco (Lucena, 2006). O estudo de percepção de risco associado a deslizamentos se dá através do levantamento de como os indivíduos e a comunidade em geral se relacionam com os desastres, o que sabem sobre os mesmos, como se comportam diante do perigo e como interagem com os órgãos governamentais envolvidos na gestão de desastres. O objetivo geral deste trabalho é compreender a percepção de risco da população moradora de três comunidades do Município de Angra dos Reis (Morro do Abel, Morro da Carioca e Morro Santo Antônio) que se formaram desordenadamente em áreas de encostas sujeitas a deslizamentos. Isso é feito isso por meio de entrevistas com os moradores para o conhecimento das visões (comportamento e ideologia) e das atitudes dos mesmos, mais especificamente, das noções que eles têm sobre os problemas dos deslizamentos e as influências das ações antrópicas, a relativização desse tipo de risco frente a outras ameaças a que estão expostos, a relação com os elegidos responsáveis pelo problema e a legitimidade das políticas públicas e instituições gestoras para o enfrentamento e a redução dos desastres (Mendonça & Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013). A presente pesquisa é, portanto, ferramental para avaliar vulnerabilidades, orientar atividades socioeducativas e aproximar sócio e politicamente a população afetada das instituições governamentais que atuam em ações para redução dos desastres, principalmente Defesa Civil, promovendo uma gestão participativa com a construção conjunta de uma comunidade empoderada e resiliente. 22 1.3. Estrutura do trabalho A estrutura deste trabalho está dividida em 7 capítulos. O capítulo introdutório apresenta a problemática que embasa o objeto de estudo, evidenciando a relevância e os objetivos para o levantamento da percepção de risco de comunidades expostas a deslizamentos. Os capítulos 2 e 3 compõem a revisão bibliográfica. O segundo capítulo apresenta o tema dos desastres associados a deslizamentos abordando os tipos de movimentos de massa em encostas e o impacto das ações antrópicas instabilizadoras, o conceito de desastre e os dados sobre histórico recente dos desastres associados a deslizamentos no Brasil e no Rio de Janeiro. O terceiro capítulo apresenta, segundo a visão de diferentes autores, conceitos e considerações sobre risco, perigo, suscetibilidade, vulnerabilidade e percepção de risco e aborda alguns aspectos para elaboração do mapa de zoneamento de susceptibilidade, risco e perigo. O quarto capítulo descreve a área de estudo e o quinto trata da metodologia empregada para o levantamento da percepção de risco na mesma. Em seguida, o capítulo 6 refere-se aos resultados do levantamento e às análises quantitativas e qualitativas dos mesmos e propõe alguns assuntos a serem trabalhados em futuras campanhas educativas para enfrentamento dos desastres na região. Por fim, o último capítulo faz as considerações finais sobre o trabalho. 23 2. DESASTRES ASSOCIADOS A DESLIZAMENTOS 2.1. Movimentos de massa em encostas Os movimentos de massa são deslocamentos de solo e/ou rocha que podem ser deflagrados por mecanismostanto internos, que interferem na resistência do material, como externos, que induzem o aumento das tensões de cisalhamento ao longo da superfície de ruptura até o rompimento. Tais mecanismos são fortemente influenciados não somente por processos de origem natural, mas também agravados por ações antrópicas instabilizadoras das encostas. Esses movimentos gravitacionais podem ser classificados e distinguidos segundo critérios específicos, conforme apresentado na Figura 1 (Fundação Geo-Rio, 2014), que por sua vez, é uma adaptação de Varnes (1978) e Augusto Filho (1992). Figura 1 – Critérios para classificação de movimentos de massa ( Fundação Geo-Rio, 2014 – adaptado de Varnes,1978 & Augusto Filho,1992). 24 Dos tipos mais comuns de movimentos em solo encontrados no Rio de Janeiro, destacam-se: 2.1.1. Quedas Esse tipo de movimento de massa está associado à queda livre de rochas fraturadas em forma de lascas e/ou blocos ou de solos em margens de corpos d’água, sendo comuns em encostas íngremes representadas em sua geometria por planos inclinados, conforme figuras 2 e 3 (Fundação Geo-Rio, 2014). Figura 2 – Queda de blocos (Rodrigues et al., 2013). Figura 3 – Ilustração da queda de blocos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). 25 2.1.2. Tombamentos Os tombamentos são rotações ocasionadas pelo basculamento e posterior queda de lascas de rochas, provenientes da deposição de material sobre o talude, de fraturamento e da presença de fluxo d’água e/ou da erosão da base dos corpos rochosos, conforme figuras 4 e 5 (Fundação Geo-Rio, 2014; Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). Figura 4 - Tombamento de blocos (Proin/Capes & Unesp/IGCE, 1999). Figura 5 – Ilustração de tombamentos (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). 26 2.1.3. Rolamentos Rolamentos são movimentos de matacões e/ou blocos de rocha ao longo das encostas (figuras 6 e 7). Figura 6 – Ilustração dos rolamentos (Fundação Geo-Rio, 2014). Figura 7 - Rolamento de blocos na Estrada do Contorno em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010). 27 2.1.4. Escorregamentos (ou Deslizamentos) Os escorregamentos são movimentos de massa com superfície de ruptura previsível, podendo ser rotacionais, planares ou em cunha. 2.1.4.1. Escorregamentos rotacionais Movimentos geralmente rápidos (km/h) com superfície de ruptura de seção transversal aproximadamente circular (figuras 8 e 9). Ocorrem em taludes espessos com solos residuais, coluvionares ou lateríticos, sem anisotropia ou planos de fraqueza relevantes, em taludes de corte sedimentares, em aterros sobre solos sedimentares ou ainda compostos em grande parte por resíduos sólidos urbanos (Becker, 2011; Fundação Geo-Rio, 2014). Figura 8 - Escorregamentos rotacionais (foto do arquivo pessoal de Willy Lacerda). Figura 9 - Ilustração de escorregamentos rotacionais (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). 28 2.1.4.2. Escorregamentos translacionais ou planares Movimentos rápidos (km/h) ao longo de superfícies planas, geralmente no contato entre materiais de resistências diferentes ou sobre planos de fraqueza (figuras 10 e 11), como exemplo: solos residuais rasos sobre rochas, solos coluvionares pouco espessos sobre solos residuais, solos rasos menos resistentes, resíduos sólidos sobre material mais resistente, ou ainda, taludes de solos residuais com planos de fraqueza reliquiares de altitude desfavorável (Becker, 2011). Figura 10 - Deslizamento planar em Petrópolis, RJ (foto cedida por Marcos Mendonça). Figura 11 - Ilustração de escorregamento planar (Pinotti & Carneiro, 2013 - adaptado de Hoek & Londe, 1974 e Piteau & Martin, 1981). 29 2.1.4.3. Escorregamentos em cunha Movimentos de blocos de rocha com superfície de ruptura em forma de cunha, interligados por uma linha entre dois planos de descontinuidades, orientada na direção do movimento, conforme apresentado nas figuras 12 e 13 (Fundação Geo - Rio, 2014). Figura 12 – Deslizamento em cunha (Montgomery, 1992). Figura 13 - Ilustração dos escorregamentos em cunha (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008 - a; Fundação Geo-Rio, 2014 - b). 30 2.1.5. Escoamentos (ou Fluxo) 2.1.5.1. Corridas Movimentos de solos em alta velocidade (km/h) que se comportam como fluido, podendo alcançar longas distâncias e gerar cicatrizes pelo caminho (figuras 14 e 15). Ocorrem em encostas de solo residual argiloso, onde lama ou detritos (mistura de blocos de rochas, vegetação, solos, etc.) são carreados ao longo de talvegues durante o período de chuvas muito intensas ou prolongadas (Becker, 2011; Fundação Geo- Rio, 2014). Figura 14 – Cicatrizes em encosta geradas por fluxos detríticos (foto cedida por Marcos Mendonça). Figura 15 - Ilustração de corridas (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). 31 2.1.5.2. Rastejos ou Fluências (creeps) Movimentos muito lentos (mm/ano a cm/ano) que ocorrem geralmente próximos ao pé de encostas em colúvios com nível elevado do lençol freático. Assim como os inclinômetros podem acusar deslocamentos horizontais, a presença de trincas no solo, árvores retorcidas, estradas tortas, postes desaprumados, canaletas desalinhadas também podem ser indícios da ocorrência de rastejos, conforme apresentado nas figuras 16 e 17 (Becker, 2011). Figura 16 - Ilustração de rastejos ou fluências (Turner & Schuster, 1996 apud Aguiar, 2008). Figura 17 – Movimento de rastejo (foto cedida por Marcos Mendonça). 32 2.1.6. Complexos Representados pela combinação de dois ou mais tipo de movimentos, são compostos por materiais diversos e apresentam superfície de ruptura complexa, com seção transversal geralmente representada por poligonais (Figura 18). Os movimentos de massa complexos ocorrem geralmente em locais com topografia acidentada e/ou em camadas de solos com resistências diferentes (Fundação Geo-Rio, 2014; Becker, 2011). Figura 18 - Escorregamentos complexos na Região Serrana do Rio de Janeiro (Pessôa, 2011). 33 2.2. Causas dos movimentos de massa e ações antrópicas associadas Os processos instabilizadores das encostas podem ser agrupados naqueles que fazem diminuir a resistência ao cisalhamento da massa de solo ou rocha e/ou naqueles que fazem elevar a magnitude das solicitações cisalhantes, alterando as condições de segurança quanto à estabilidade das encostas. Alguns fatores contribuintes para as causas de acionamento dos movimentos de massa estão apresentados na Tabela 1, em especial, aqueles relacionados às ações antrópicas. 34 Tabela 1 - Fatores contribuintes para as causas de acionamento dos movimentos de massa e ações antrópicas associadas (Mendonça, 2013; Fundação Geo-Rio, 2014). Causas de acionamento dos movimentos de massa Ações antrópicas associadas Processos instabilizadores das encostas Aumento da quantidade de água que infiltra no solo, elevação do nível d’água em trincas ou juntas e aumento do grau de saturação do solo. Execução de drenagem deficiente, rompimento de tubulações e despejo de águas servidas ou esgoto no subsolo, obstrução do curso d’água natural, seja através da implantação inadequada de moradia ou despejo de detritos. Elevação do peso da massa de solo, aumento da solicitação e da poropressão e redução da resistência do solo; Mudanças na geometria das encostas Execução de cortes e aterros para implantação de moradias ou acessos; abertura aleatória de via de acesso. Descalçamento de corpos rochosos; exposição das camadas subjacentes do solo e atuação de processos erosivos, aumento da declividade do talude e das solicitações cisalhantes; Aplicação de sobrecargas Construção de moradias; lançamento de detritos (lixo, entulho e aterro) sobre a superfície da encosta. Sobrecarregamento do terrenonatural, aumentando as solicitações; formação de uma camada de material bastante fofo, macroporoso, altamente permeável, de péssimas propriedades geomecânicas e que rompem sob a forma de fluxo. Remoção ou degradação de vegetação florestal Desmatamentos Redução da contribuição das raízes da vegetação na resistência do solo; eliminação do efeito dos muros de impacto promovido pelo tramos de árvores e/ou arbustos; aumento de erosão superficial. 35 2.3. Desastres associados a deslizamentos 2.3.1. Conceito de desastre Na Tabela 2 são apresentadas as definições do termo ‘desastre’ segundo UNISDR (2009) e Castro (2012). Tabela 2 - Definições de desastres encontrados na literatura. Referências Definições United Nations International Strategy for Disaster Reduction - UNISDR (2009) O desastre é uma séria interrupção do funcionamento de uma comunidade ou sociedade envolvendo perdas e impactos, humanos, materiais, econômicos ou ambientais generalizados, os quais excedem a capacidade da comunidade afetada ou sociedade para lidar com a situação, utilizando os seus próprios recursos. Castro (2012); - Glossário de Defesa Civil - Estudos de Riscos e Medicina de Desastres. Resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais. Os desastres são quantificados, em função dos danos e prejuízos, em termos de intensidade, enquanto que os eventos adversos são quantificados em termos de magnitude. A intensidade de um desastre depende da interação entre a magnitude do evento adverso e o grau de vulnerabilidade do sistema receptor afetado. Normalmente o fator preponderante para a intensificação de um desastre é o grau de vulnerabilidade do sistema receptor. 36 2.3.2. Dados sobre histórico recente no Brasil e no Rio de Janeiro Os apontamentos sobre os desastres contemplados neste item fundamentam-se no volume Brasil e no volume Rio de Janeiro do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, estudo feito para os períodos entre 1991 e 2012. Os desastres que acometem o Brasil são, pelo menos, de dez tipos, quais sejam: estiagem e seca, enxurrada, inundação, vendaval, granizo, erosão, incêndio florestal, tornado, alagamento e movimentos de massa. O aumento dos registros ou a maior fidelidade dos números ilustram o crescimento desses desastres no país a partir do ano 2000 e principalmente nos últimos anos, tendo 23% dos registros ocorrido em 2010, 2011 e 2012 (Figura 19), representando um percentual maior que o total de registros da década de 1990 (21%) (Brasil, 2013). Figura 19 – Cenário dos desastres registrados entre os períodos de 1991 e 2012, (Brasil, 2013). Dos diferentes tipos de desastres registrados no país, verifica-se que os referentes a deslizamentos tiveram o aumento percentual mais significativo (92%), apresentando 4% dos registros no período de 1991 a 1999 e 96% de 2000 a 2012, conforme Figura 20 (Brasil, 2013). 37 Figura 20 – Registros de movimentos de massa entre as décadas de 1990 e 2000 (Brasil, 2013). Os desastres associados a deslizamentos no Brasil apresentam o estigma de grandes causadores de vítimas fatais. Dentro do cenário de desastres apresentado (Figura 21), os deslizamentos ocupam a segunda posição, com 15,6% das mortes, após as enxurradas, que estão em primeiro lugar, com 58,15% (Brasil, 2013). Figura 21 – Mortos por tipo de desastre, nos períodos entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). 38 A deflagração de movimentos de massa está associada a períodos com chuvas intensas e duradouras, que acontecem nas estações da primavera e do verão, com destaque para os meses de janeiro e fevereiro (Figura 22). Figura 22 – Frequência mensal dos movimentos de massa ocorridos no Brasil, nos períodos entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). Oficialmente, são 699 registros de deslizamentos no país durante esses 22 anos, com maiores concentrações nas regiões Sudeste e Sul, onde se localizam a Serra do Mar, conhecida por sua ‘suscetibilidade natural’ a deslizamentos (Figura 23) (Brasil, 2013). Figura 23 – Porcentagem de ocorrência de movimentos de massa por região do Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). Na região Sudeste, Minas Gerais apresenta o maior número de registros (208) de deslizamentos, logo após São Paulo e Rio de Janeiro, com 165 e 153 registros, 39 respectivamente. Os danos humanos associados a essa região são os maiores quando comparados a outras regiões do Brasil (Figura 24) (Brasil, 2013). Figura 24 – Danos humanos por movimento de massa na região Sudeste (Brasil, 2013). Nota-se, a partir da Figura 24, que os dados referentes aos deslizamentos ocorridos na Região Serrana no Rio de Janeiro em janeiro de 2011 não estão incluídos na seção sobre movimentos de massa do levantamento do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (Rio de Janeiro, 2013), pois foram descritos como desastres secundários dentro do formulário referente a desastres associados a enxurradas. Apenas nos desastres da Região Serrana, 905 pessoas perderam suas vidas segundo o Banco Mundial (2012), apesar dessa quantidade de mortos ter sido subestimada, porque provavelmente os mais de 1500 desaparecidos estão mortos. Vale ressaltar, ainda, alguns desastres não são computados pelo referido Atlas pelo terem sido descritos nos formulários AVADAN (atual FIDES). Baseando-se no Atlas (Brasil, 2013), a quase totalidade dos registros (93,5%) dos movimentos de massa em encostas no Estado do Rio de Janeiro está associada a deslizamentos de solos ou rochas. No Rio de Janeiro, os meses de dezembro e janeiro são os períodos mais chuvosos e mais propícios a desastres. Os danos 40 humanos relacionados aos 153 desastres do Estado estão apresentados na Figura 25 (Rio de Janeiro, 2013), novamente não incluindo os dados referentes ao desastre da região serrana em primeiro de 2011. Figura 25 – Danos humanos ocasionados por movimentos de massa no Estado do Rio de Janeiro, entre os períodos de 1991 e 2012 (Brasil, 2013). Existe uma grande concentração de mortes (66%) em apenas três municípios do Estado, quais sejam: Rio de Janeiro, Niterói e Angra dos Reis. O Rio de Janeiro foi afetado principalmente na região do Jardim Botânico, já no município de Niterói destaca-se o desastre do morro do Bumba, um antigo lixão desativado. Por fim, nesse período, a cidade de Angra dos Reis sofreu com dois grandes eventos desastrosos, nos anos de 2002 e 2010. O último registro aconteceu entre os dias 30 de dezembro e 1º de janeiro de 2010, por causa de chuvas duradouras e intensas, que geraram um total de 400 mm de chuva em apenas três dias, sendo esse o dobro da média mundial do mês de dezembro (Rio de Janeiro, 2013 – Figuras 26 e 27 ). Os danos humanos foram graves e 53 pessoas morreram. A praia do Bananal (Figura 28) 41 teve o maior número de mortes (32) registrado e o morro da Carioca (figuras 29 e 30), o segundo maior (21), segundo a Defesa Civil de Angra dos Reis. Figura 26 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis (Pinheiros, 2010). Figura 27 - Deslizamentos em Angra dos Reis no Morro do Santo Antônio (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). 42 Figura 28 - Deslizamentos em Angra dos Reis na praia do Bananal (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). Figura 29 - Desastre de 2010 no Morro da Carioca (Uol Notícias apud Becker, 2011). 43 Figura 30 - Desastre de 2010 em Angra dos Reis no Morro do Bulé e no Morro da Carioca (Defesa Civil de Angra dos Reis, 2010). De uma forma geral, essa síntese esclarece alguns aspectos do cenário dos desastres associados a deslizamentos no Brasil, na região Sudeste e no Estado do Rio de Janeiro, entre os períodos de 1991 e 2012. Ressalta-seque, em conformidade com esse período, os números indicam uma tendência de crescimento dos registros de movimentos de massa ao longo dos anos. Nota-se a relevância da frequência de deslizamentos nos anos de 2010 e 2011 apresentados na Figura 31. Figura 31 – Gráfico da frequência anual de movimentos de massas ocorridos no Brasil, no período entre 1991 e 2012 (Brasil, 2013). 44 3. RISCO 3.1. Conceitos básicos O conceito de risco, sua previsibilidade, probabilidade e nível de aceitabilidade é assunto discutido pela comunidade técnica de engenheiros principalmente para obras de barragens, usinas nucleares, em menor número para torres de transmissão elétrica e taludes de estradas (Montoya, 2013) e ainda, de forma multidisciplinar, em sistemas de saúde, em sistemas de transportes, em processos financeiros, em segurança do meio ambiente e na cadeia de fornecimento de infraestrutura e energia. Tantos segmentos envolvidos com a gestão do risco gerou a Norma ISO 31000:2009. Diante da interdisciplinaridade do tema, julgou-se conveniente apresentar principalmente os conceitos e considerações sobre risco, perigo, suscetibilidade e vulnerabilidade associados ao problema dos deslizamentos. 3.1.1. Risco Apresenta-se na Tabela 3 o conceito de risco aplicável para o tema em estudo segundo diferentes autores e na Tabela 4 sob a forma de fórmula. 45 Tabela 3 - Definições de risco encontradas na literatura. Referência Definição Slovic (1992) apud Campbell (2006) Risco é inerentemente subjetivo, não existindo sem um contexto e independente de nossas mentes e culturas, e por isso, não é possível calculá-lo. Diretiva Seveso 2 (1996) apud Heitz (2009) O risco é definido como a probabilidade de um efeito específico negativo se produzir em um dado período ou dentro de circunstâncias determinadas. Finlay e Fell (1997) Os pesquisadores definem o risco como a probabilidade de determinado deslizamento ocorrer durante certo período versus o grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento. Alheiros (1998) apud Lucena (2006) O risco refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre. Cunha (2005) apud Vieira (2004) apud Lucena (2006) O risco refere-se a danos possíveis, sendo que se tem consciência do dano. Lucena (2006) Risco é a probabilidade de acontecer um acidente, um desastre ou uma ação que deu errado. É a relação entre a probabilidade de que uma ameaça de evento adverso ou acidente se concretize, com o grau de vulnerabilidade do sistema receptor a seus efeitos. O grau de risco dimensiona a probabilidade de ocorrência de acidentes, segundo uma escala de intensidade. Vargas (2006) O risco é o produto de diferentes percepções que integram visões de mundo, culturas e estruturas de sociabilidade específicas a determinados grupos sociais. Ministério das Cidades e Cities Alliance (2006) O termo risco indica a probabilidade de ocorrência de algum dano a uma população (pessoas ou bens materiais). É uma condição potencial de ocorrência de um acidente. Ministério das Cidades e IPT (2007) Risco é a relação entre a possibilidade de ocorrência de um dado processo ou fenômeno, e a magnitude de danos ou consequências sociais e/ou econômicas sobre um dado elemento, grupo ou comunidade. Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013) O risco é uma medida da probabilidade e severidade de um efeito adverso à saúde, propriedade ou meio ambiente. O risco é frequentemente estimado pelo produto da probabilidade de um fenômeno de uma dada magnitude multiplicada por suas consequências. 46 Referência Definição Yang et al. (2008) Os pesquisadores apresentam três definições encontradas na literatura, a saber: 1 - Risco é o produto entre exposição, perigo e vulnerabilidade, encontrado em relatório técnico do governo Australiano. 2 - Em revisão da literatura feita por 'England’s Tyndall Centre for Climate Change Research' entre 1966 e 2003, definiu-se: a) Risco como o produto entre probabilidade e consequência e b) Risco como produto entre perigo e vulnerabilidade social, sendo essas duas definições compatíveis e complementares. Heitz (2009) O risco se define como uma combinação entre a suscetibilidade e a vulnerabilidade. Está fortemente ligado a uma probabilidade de ocorrência de um dano e deve levar em conta não só aspectos físicos, mas também sociais, culturais, históricos etc. UNISDR (2009) O risco é a combinação entre a probabilidade de um evento ocorrer e suas consequências negativas. Castro (2012) O risco é definido como: 1 - a medida de dano potencial ou prejuízo econômico expressa em termos de probabilidade estatística de ocorrência e de intensidade ou grandeza das consequências previsíveis. 2 - Probabilidade de ocorrência de um acidente ou evento adverso, relacionado com a intensidade dos danos ou perdas, resultantes dos mesmos. UNISDR (2012) O risco é uma função da ameaça (um ciclone, um terremoto, a cheia de um rio, ou o fogo, por exemplo), da exposição de pessoas e bens a essa ameaça, e das condições de vulnerabilidade das populações e bens expostos. Esses fatores não são estáticos e podem ser aperfeiçoados, a depender das capacidades institucional e individual em enfrentar e/ou agir para redução do risco. Os padrões do desenvolvimento social e ambiental podem ampliar a exposição e vulnerabilidade e então ampliar o risco. 47 Tabela 4 - Fórmulas relacionadas ao conceito de risco (R) encontradas na literatura. Fórmulas Referências Descrição dos símbolos Thouret e D’Ércole (1996) S: suscetibilidade ou características da origem do risco; V: vulnerabilidade ou lista de impactos do sistema social como um todo; t: tempo; s: espaço; Finlay e Fell (1997) P: probabilidade de determinado deslizamento ocorrer sob determinado cenário do evento deflagrador. V: vulnerabilidade ou grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento; Ministério das Cidades e Cities Alliance (2006) Um determinado nível de risco R representa a probabilidade P de ocorrer um fenômeno físico (ou perigo) A, em local e intervalo de tempo específicos e com características determinadas (localização, dimensões, processos e materiais envolvidos, velocidade e trajetória); causando consequências C (às pessoas, bens e/ou ao ambiente), em função da vulnerabilidade V dos elementos expostos; podendo ser modificado pelo grau de gerenciamento g. Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013) P: probabilidade de ocorrer um acidente associado a um determinado perigo ou ameaça; C: consequências danosas potenciais do acidente. Yang et al. (2008) P: probabilidade de ocorrer um acidente associado a um determinado perigo ou ameaça; Vsocial: Vulnerabilidade social; Yang et al. (2008) E: exposição das populações e bens; A: ameaça ou perigo, V: vulnerabilidade de pessoas e bens a essa ameaça; Heitz (2009) S: suscetibilidade; V: vulnerabilidade ou lista de impactos do sistema social; 48 Fórmulas Referências Descrição dos símbolos UNISDR (2012) A: ameaça ou perigo V: vulnerabilidade de pessoas e bens a essa ameaça; E: exposição das populações e bens; Re: resiliência ou CE: capacidade de enfrentamento para redução do risco; Após a análise das tabelas 3 e 4 verifica-se que a discussão acerca do conceito de risco é ampla e divide opiniões, pois enquanto certos pesquisadores interpretam o risco sob uma perspectiva objetiva, alguns o definem como sendo algo subjetivo e outros o enxergam como uma combinação entre objetividade e subjetividade. Em suas primeiras definições, o risco era conceituado como a probabilidade de ocorrência de um evento associado a um perigo. Com a evolução desseconceito convencionou - se, pelo meio técnico, que o risco seria o produto entre a probabilidade de ocorrência de um evento danoso e possíveis consequências desfavoráveis, o que representa uma perspectiva objetivista radical (Lieber & Lieber, 2002 apud Mendonça & Pinheiro, 2013). No entanto, não são todos os especialistas que seguem essa orientação (Tabela 3). Os defensores da subjetividade do risco o vêem como não mensurável e dependente de um contexto histórico e cultural (Slovic, 1992 apud Campbell, 2006). Segundo Vargas (2006) o risco não pode ser tratado de forma objetiva e absoluta, porque ele é objeto de uma construção social por grupos diferenciados baseada em crenças e visões, que sustentam as relações sociais. Para Campbell (2006) o risco é subjetivo no sentido em que ele depende das experiências de vida, mentais e culturais, porque esses fatores influenciam nas preferências do indivíduo ou grupo social. Critica-se a objetividade no trato com a questão do risco, pois normalmente essa visão se confunde com a noção de “obviedade”, a qual a população é banalizada e sua 49 capacidade de enfrentamento para redução dos desastres é negligenciada num ambiente de conflito de relações de poder, no qual a população exposta ao risco de desastre não é ouvida, mas inferiorizada por suas escolhas. (Vargas, 2006; Mendonça & Pinheiro, 2013; Mendonça, 2013). Finalmente, no ano de 1969, o risco começa a ser visto pela comunidade científica de forma tanto objetiva quanto subjetiva, devido ao questionamento de Starr: “How safe is safe enough?”, que faz refletir sobre os fatores, objetivos e subjetivos, que compõem o grau de aceitação do risco (Heitz, 2009). Esse questionamento foi importante para evolução das reflexões sobre como o risco deveria ser tratado, sendo cada vez mais atual o pensamento de que o risco depende dos valores culturais de uma população exposta. Esses valores são inerentemente subjetivos, porém considerar o contexto cultural predominante é extremamente importante para compreender como essa população percebe o risco. Não são menos importantes os estudos quantitativos ou semi-quantitativos, que representem em números as consequências do desastre, dado que trabalha-se também com perdas e danos de pessoas, bens e do meio ambiente, diante de um evento físico previsível. 3.1.2. Perigo O conceito de risco, em linguagem popular, costuma ser apontado como perigo, ocasionando certa ambiguidade entre os termos. Em linguagem técnica esses conceitos se relacionam, porém são diferentes. Segundo Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013), o perigo de deslizamentos deve considerar o local, o volume (ou área), o tipo, a velocidade e a probabilidade de ocorrência dos deslizamentos. Diferente do risco, que expressa as consequências, em termos de danos, perdas de vidas, propriedades e serviços, caso o desastre venha a acontecer (Alheiros, 1998 apud Lucena, 2006). Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013) relaciona risco e perigo, definindo risco como a probabilidade de ocorrer um acidente associado a um determinado perigo vezes as consequências danosas potenciais do acidente 50 (Tabela 4). A Tabela 5 apresenta os conceitos de perigo encontrados na literatura de referência. Tabela 5 - Definições de perigo encontradas na literatura. Referência Definição Diretiva Seveso 2 (1996) apud Heitz (2009) O perigo é definido como uma propriedade intrínseca de uma substância ou de uma situação física que provoca danos para saúde humana e/ou para ao meio ambiente. Finlay e Fell (1997) Perigo é uma descrição do volume ou área (magnitude) e da probabilidade de ocorrência de um ou mais deslizamentos. Alheiros (1998) apud Lucena (2006) O perigo refere-se à probabilidade de ocorrência de um desastre. Lucena (2006) Perigo é a situação de ameaça potencial a pessoas, bens ou ao ambiente. Ministério das cidades e IPT (2007) Perigo é uma condição ou fenômeno com potencial para causar uma consequência desagradável. Fell et al. (2008) apud Bressani et al. (2013) Perigo é uma condição com o potencial de causar uma consequência indesejável dentro de um certo período de tempo. Heitz (2009) O perigo é toda fonte potencial de dano, de prejuízo ou de efeito nocivo com respeito a um objeto ou uma pessoa. UNISDR (2009) Perigo é um fenômeno perigoso, substância, atividade humana ou condição que possa causar perdas de vidas, ferimentos ou outros impactos a saúde, danos materiais, perdas de meios de subsistência e serviços, ruptura social e econômica ou danos ambientais. Castro (2012) Qualquer condição potencial ou real que pode vir a causar morte, ferimento ou dano à propriedade. A tendência moderna é substituir o termo por ameaça. 3.1.3. Suscetibilidade No início do século XIX, os desastres não eram mais vistos como punição divina e o entendimento do termo ‘suscetibilidade’ passou a ser primordial no desenvolvimento de processos de gestão de risco para redução dos desastres, graças ao maior conhecimento técnico e científico sobre os elementos da natureza (Veyret e Reghezza, 2006). A Tabela 6 apresenta um quadro com as definições de suscetibilidade encontradas na literatura. 51 Tabela 6 - Definições de suscetibilidade encontradas na literatura Referência Definição Lucena (2006) Suscetibilidade é a característica inerente ao meio, que expressa a probabilidade de ocorrência de eventos ou acidentes, sob determinadas condições. Alain Marre em Dewolf e Bourrié (2008) apud Heitz (2009) Estudioso em Ciências da Terra o autor define a suscetibilidade como um processo natural que faz parte da evolução normal da superfície da Terra. Heitz (2009) A suscetibilidade ao deslizamento está associada a um fenômeno que se caracteriza também por sua imprevisibilidade, a qual é função do espaço, intensidade, ocorrência e duração do fenômeno. Dauphiné (2009) apud Heitz (2009) A suscetibilidade se traduz, sobretudo, por uma probabilidade de ocorrência e intensidade de um fenômeno. Fell et al. (2008) apud Bressani et al.(2013) Uma análise quantitativa ou qualitativa da classificação, volume (ou área) e distribuição espacial de escorregamentos que existem ou podem ocorrer em uma área. A suscetibilidade também pode incluir uma descrição da velocidade e intensidade do escorregamento existente ou em potencial. A suscetibilidade de escorregamento inclui escorregamentos cuja origem é em sua própria área ou fora de sua área, mas pode se mover para ou regressar à área de origem. A empregabilidade do termo suscetibilidade será discutida com detalhes no item 3.2 Mapeamento de suscetibilidade e de risco de deslizamentos. 3.1.4. Vulnerabilidade Existem diferentes visões quanto a vulnerabilidade a se considerar na análise do risco e abordagens mais convenientes a serem empregadas - qualitativa, semi-quantitativa e/ou quantitativa. A Tabela 7 apresenta as diferentes definições empregadas na literatura. 52 Tabela 7 - Definições de vulnerabilidade encontradas na literatura. Referência Definição Blakie et al. (1994) apud Yang et al. (2008) O autor define vulnerabilidade como as características de um indivíduo ou grupo, que os permitem participar, lidar, resistir e se recuperar quando expostos a impactos provocados por desastres. A desigualdade social manifesta a capacidade do indivíduo de resistir e se recuperar de desastres. Thouret e D’Ércole (1996) A vulnerabilidade é quando se está sensível a lesões e ataques, sendo incapaz de enfrentar as dificuldades para recuperação da saúde em risco. Finlay e Fell (1997) Vulnerabilidade é o grau de perda de pessoas ou estruturas que integram uma área afetada pelo deslizamento. CEPAL (2002) apud Vargas (2006) A condição de "vulnerável" está associada à produção de um dano, físico ou moral,
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