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DESAFIOS DO PLANEJAMENTO DA DEMANDA EM UM MERCADO MOVIDO À INOVAÇÃO Estudo de caso de um dos segmentos que mais cresce no setor de cosméticos Bárbara Correia Maciel Gabriela da Silva Ventura Projeto de graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Lino Guimarães Marujo Rio de Janeiro Março de 2018 ii iii Maciel, Bárbara Correia Ventura, Gabriela da Silva Desafios do planejamento da demanda em um mercado movido à inovação - Estudo de caso de um dos segmentos que mais cresce no setor de cosméticos/ Bárbara Correia Maciel, Gabriela da Silva Ventura – Rio de Janeiro/ Escola Politécnica, 2018. XI, 96 p.: il.; 29,7 cm Orientador: Lino Guimarães Marujo Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia de Produção, 2018. Referências Bibliográficas: p. 93-96 1. Planejamento da demanda de produtos inovadores 2. Inovação no mercado atual 3. Mercado de cosméticos I. Marujo, Lino Guimarães II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Curso de Engenharia de Produção III. Desafios do planejamento da demanda em um mercado movido à inovação iv AGRADECIMENTOS BÁRBARA MACIEL Ao chegar no fim dessa trajetória, não poderia deixar de agradecer àqueles que sempre estiveram do meu lado e que mais me apoiaram, mesmo nos momentos mais difíceis: meus pais, Suzana e Gilberto. Obrigada por me darem todo o suporte, pelo carinho de sempre, e por não terem me deixado desistir. Sem vocês por perto, eu certamente não chegaria tão longe. Obrigada a todos os amigos que tornaram essa jornada mais agradável, me deram todo o apoio e compartilharam comigo dos momentos mais especiais. Dentre eles, um agradecimento especial à minha dupla Gabriela que, muito mais do que uma parceira de trabalho de final de curso, se tornou uma amiga para toda a vida. À minha família, que sempre acreditou em mim e me impulsionou a fazer o melhor. Um agradecimento especial à minha saudosa avó Maria, que sempre sonhou em ver a sua neta engenheira e me deu todo o carinho do mundo enquanto esteve aqui. Agradeço ao orientador Lino por toda a confiança no potencial deste trabalho, pelos ensinamentos e pela paciência em todo o processo. Por fim, obrigada a todos os professores e funcionários da Escola Politécnica da UFRJ que contribuíram para a minha formação. v AGRADECIMENTOS GABRIELA VENTURA Primeiramente gostaria de agradecer aos grandes mestres que influenciaram a minha escolha até aqui: ao professor Márcio, que na quinta série dizia que eu seria engenheira e eu sempre acreditei; ao professor Rodrigo Villard, que despertou em mim um deslumbramento pela matemática que carrego comigo até hoje; ao professor Guto, que me tirava o sono com as questões impossíveis de geometria. Muito mais do que o conteúdo que ensinavam, me inspiraram a descobrir o que eu realmente gostava de fazer e facilitam o caminho. Minha sincera gratidão aos meus pais, Silvia e Antônio, que me viam do tamanho dos meus sonhos, dando tudo o que podiam pela minha educação. A minha avó, Sonia, a quem eu agradeço o cuidado e carinho de todos esses anos e que até hoje é o meu porto seguro. Ao meu padrasto, Jerry, pelo suporte dado na minha formação e às minhas irmãs, Jeovana e Julia, que sempre acreditaram em mim. Agradeço também aqueles que fizeram dessa jornada uma diversão, aos meus amigos do bloco F, que levarei para a vida. Agradeço pelas conversas às 10h no Anjinho, pelos almoços nas tias, pelas tardes de estudo regadas a risadas, mas também cheias de conhecimento (“chegarás tarde, sairás tarde; chegarás cedo, mas não saberás a hora que sairás”). Desde o primeiro trabalho de métodos em Cordovil estivemos justos, passando por Irajá, Coelho Neto, Ramos até Rio Comprido. Sentirei saudades. Agradeço, em especial, pelo presente que o Fundão me deu, minha dupla nesse trabalho, na “Lore” e na vida, Bárbara Maciel (famosa “Babs”). Muito mais que amiga (friends) sou uma admiradora da profissional e pessoa incrível que você é. Ao nosso orientador, Lino Marujo, que nos guiou brilhantemente na elaboração desse material, que aqui se junta aos demais professores que marcaram esses cinco anos, em especial: Antônio Meirelles, Jonas Knopman e Adriano Proença. Meus sinceros agradecimentos. Por último, mas não menos importante, meus agradecimentos a Deus, pelas infinitas possibilidades que nos oferece a cada dia, pelo potencial criativo que colocou em cada um de nós, para realizarmos tudo aquilo que sonhamos. Como no dia de hoje, em que um ciclo se fecha, conto com ele para todos os ciclos que ainda estão por vir. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção. DESAFIOS DO PLANEJAMENTO DA DEMANDA EM UM MERCADO MOVIDO À INOVAÇÃO Estudo de caso de um dos segmentos que mais cresce no setor de cosméticos Bárbara Correia Maciel Gabriela da Silva Ventura Março/2018 Orientador: Lino Guimarães Marujo Curso: Engenharia de Produção Em um contexto no qual a inovação possui papel cada vez mais relevante como diferencial competitivo na realidade estratégica das empresas, o processo de planejamento da demanda aparece como fator crítico para o correto dimensionamento e o futuro sucesso de um produto ou serviço inovador. Assim, o presente estudo busca compreender o processo de lançamento de produtos inovadores no mercado, bem como o conceito de inovação em si, entendendo como uma organização pode se estruturar para aprimorar sua cadeia e se tornar mais adaptável a um mercado tão volátil e dinâmico. Palavras-chave: Planejamento da Demanda, Inovação, Lançamento, Estratégia, Marketing, Cadeia de Suprimentos vii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Industrial Engineer. DEMAND PLANNING CHALLENGES IN A INNOVATION DRIVEN MARKET Case study of one of the fastest growing segments in the cosmetics industry Bárbara Correia Maciel Gabriela da Silva Ventura Março/2018 Advisor: Lino Guimarães Marujo Course: Industrial Engineering In a context which innovation plays an increasingly important role as a competitive differential in the strategic reality of most companies, the demand planning process appears as a critical factor for the correct design and future success of an innovative product or service. Thus, the present study seeks to understand the process of launching innovative products in the market, as well as the concept of innovation itself, understanding how an organization can structure itself to improve its chain and become more adaptable to such a volatile and dynamic market. Keywords: Demand Planning, Innovation, Launch, Strategy, Marketing, Supply Chain viii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12 1.1. MOTIVAÇÃO ................................................................................................ 12 1.2. OBJETIVOS GERAIS ................................................................................... 12 1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 13 1.4. METODOLOGIA ...........................................................................................13 2. PANORAMA ATUAL DO MERCADO ................................................................. 14 2.1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO ................................................................ 14 2.2. EM QUE CONSISTE UMA INOVAÇÃO? ...................................................... 15 2.2.1. Inovação disruptiva ............................................................................. 18 2.2.2. Inovação incremental .......................................................................... 20 2.3. A CADEIA DE SUPRIMENTOS E OS PRODUTOS INOVADORES ............. 22 3. PLANEJAMENTO DA DEMANDA ...................................................................... 27 3.1. DEFINIÇÃO .................................................................................................. 27 3.2. PRINCIPAIS MÉTODOS .............................................................................. 32 3.2.1. Quantitativos ........................................................................................ 32 3.2.2. Qualitativos .......................................................................................... 33 3.3. PRINCIPAIS INDICADORES ........................................................................ 36 3.3.1. Assertividade da previsão .................................................................. 36 3.3.2. Ruptura de fornecimento .................................................................... 38 3.3.3. Giro lento e estoque obsoleto ............................................................ 39 4. ESTUDO DE CASO ............................................................................................ 41 4.1. EMPRESA ESCOLHIDA............................................................................... 41 4.2. TENDÊNCIAS ATUAIS DO SEGMENTO ..................................................... 44 4.3. A INOVAÇÃO COMO PILAR DO NEGÓCIO ................................................ 49 4.4. CONTEXTO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS ............................................. 51 4.5. UNIDADE DE NEGÓCIO ANALISADA ......................................................... 56 4.6. PRODUTO ESCOLHIDO .............................................................................. 58 4.6.1. Concepção do produto........................................................................ 58 4.6.2. Análise da concorrência ..................................................................... 62 4.7. ESTRATÉGIA DE LANÇAMENTO ............................................................... 66 4.8. MÉTODO DE PREVISÃO UTILIZADO ......................................................... 69 4.9. RESULTADOS ............................................................................................. 74 4.10. PROPOSTAS, IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS E SOLUÇÕES .......... 78 4.10.1. Desenvolvimento operacional versus janela de lançamentos ......... 78 4.10.2. Scorecard estratégico ......................................................................... 79 ix 4.10.3. Análise de cenários ............................................................................. 83 4.10.4. Priorização de clientes ........................................................................ 85 4.10.5. Estratégias de escoamento ................................................................ 86 4.10.6. Racional para tradução em abordagem quantitativa ........................ 87 4.11. PLANO DE AÇÃO ..................................................................................... 90 5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 91 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 93 x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Ciclo de vida de produto inovador ................................................................ 16 Figura 2: Criação e entrega de valor ........................................................................... 18 Figura 3: Sistema dinâmico das organizações ............................................................ 21 Figura 4: Matriz de compatibilidade entre tipo de produto e cadeia de suprimentos ... 25 Figura 5: Matriz do tipo de tecnologia de produto relacionada à inserção no mercado 27 Figura 6: Esquema do processo de S&OP .................................................................. 28 Figura 7: Esquema do processo de planejamento da demanda em operações .......... 29 Figura 8: Métodos de previsão de demanda ............................................................... 31 Figura 9: Processo padrão detalhado de planejamento da demanda .......................... 32 Figura 10: Efeito chicote ............................................................................................. 37 Figura 11: Nível de serviço logístico ........................................................................... 39 Figura 12: Tipos de estoque ....................................................................................... 41 Figura 13: Faturamento por unidade estratégica de negócio ...................................... 43 Figura 14: Crescimento do mercado mundial de cosméticos ...................................... 45 Figura 15: Preocupação dos brasileiros a respeito dos cuidados com a pele ............. 48 Figura 16: Consumo de produtos cosméticos para a pele .......................................... 48 Figura 17: Nível de serviço por divisão de negócio ..................................................... 54 Figura 18: Fluxograma simplificado da cadeia de suprimentos ................................... 55 Figura 19: Resumo do modelo VRIO .......................................................................... 61 Figura 20: Modelo VRIO aplicado ............................................................................... 61 Figura 21: Principais concorrentes do produto analisado ............................................ 63 Figura 22: Quality Function Deployment ..................................................................... 65 Figura 24: Comparação entre produtos da mesma marca .......................................... 71 Figura 25: Previsão e venda realizada do lançamento ................................................ 72 Figura 26: Alteração na previsão de vendas mês a mês ............................................. 73 Figura 27: Faturamento do lançamento em relação à categoria ................................. 74 Figura 28: Comparação da previsão com o faturado realizado pela categoria como um todo ............................................................................................................................ 75 Figura 29: Comparação da previsão com o faturado realizado do lançamento ........... 76 Figura 30: Previsão de vendas realizada e dispersão do erro ..................................... 77 Figura 31: Estoque e nível de serviço ......................................................................... 78 Figura 32: Scorecard estratégico - custos operacionais .............................................. 81 Figura 33: Scorecard estratégico - complexidade operacional .................................... 82 Figura 34: Scorecard estratégico - mercado consumidor ............................................ 83 Figura 35: Exemplo de racional construído para previsão de vendas ......................... 88 Figura 36: Previsão de vendas recalculada do Produto S ........................................... 89 Figura 37: Previsão recalculada x Previsão real ......................................................... 90 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Principais diferenças entre categorias de produtos ..................................... 23 Tabela 2: Diferenças entre cadeia de suprimentos eficiente em custos e responsiva . 24 Tabela 3: Aspectos das abordagens qualitativa e quantitativa.................................... 31 Tabela 4: Mercado de cosméticos por zona geográfica .............................................. 45 Tabela 5: Mercado por categoria de produto .............................................................. 47 Tabela 6: Configuração das linhas e volume produzido por fábrica ............................ 52 Tabela 7: Principais diferenças entre as subcategorias .............................................. 57 Tabela 8: Descrição sobre os critérios adotados para comparação das subcategorias ................................................................................................................................... 57 Tabela 9: Quadro padrão para análise de vulnerabilidade do lançamento .................. 59 Tabela 10: Avaliação do Produto S em termos de vulnerabilidade.............................. 59 Tabela 11: Semelhanças e diferenças entre os concorrentes ..................................... 70 12 1. INTRODUÇÃO 1.1. MOTIVAÇÃO Ponto de partida para decisões tanto de cunho estratégico a longo prazo quanto operacional, a previsão acerca do quanto será a demanda dos clientes no futuro possibilita a utilização eficiente da capacidade produtiva de uma cadeia. Independente do modelo de produção adotado, uma previsão de vendas assertiva é capaz de reduzir o tempo de reação, evitar perdas de vendas e diminuir os estoques. Valores acurados e acertados entre todos os stakeholders envolvidos em um processo produtivo é fundamental para que sejam dimensionados corretamente os aspectos relativos à produção e à estruturação da cadeia de suprimentos. Nesse contexto, torna-se ainda mais crítico interpretar a demanda de produtos sem base histórica, visto que a probabilidade de que haja erros nesse processo é maior. Mesmo para grandes empresas e multinacionais, nas quais já há o uso de softwares e modelagens estatísticas sofisticadas para os produtos regulares, a previsão de demanda para os lançamentos ainda apresenta fortes lacunas em matéria de acurácia, acarretando diversos problemas que atingem tanto os resultados do negócio quanto das operações. Em um mercado cada vez mais movido à inovação, a otimização do processo de planejamento da demanda para novos produtos é uma evidente vantagem competitiva. Assim, verificou-se a oportunidade de aprofundar o estudo nesse sentido, entendendo os principais fatores que constroem a previsão de demanda de um lançamento e como esse tipo de planejamento impacta a cadeia de suprimentos como um todo. 1.2. OBJETIVOS GERAIS Como objetivos gerais do presente estudo, busca-se entender melhor o papel do planejamento da demanda dentro da realidade operacional e estratégica nas empresas, analisando seus principais impactos, áreas envolvidas, métodos mais comuns utilizados e desafios enfrentados. Além disso, procura-se atingir uma maior compreensão do processo de planejamento de produtos inovadores como um todo, definindo e categorizando os principais tipos de inovação e entendendo como uma organização pode se estruturar para aprimorar sua cadeia e se tornar adaptável à consolidação de lançamentos no mercado. 13 1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Especificamente, objetiva-se entender o panorama do planejamento da demanda, da concepção de marketing e da realidade operacional de lançamentos dentro de uma empresa escolhida para a realização de estudo de caso, tendo como base análises decorrentes do cenário atual do mercado no qual ela está inserida. Assim, busca-se o estudo mais profundo a respeito de um produto inovador recente considerado estratégico para o portfólio da organização, entendendo como foi realizado seu dimensionamento de mercado, quais expectativas foram traçadas, que números iniciais foram calculados e os resultados que foram atingidos, identificando pontos de alavancagem e propondo melhorias no processo estudado. 1.4. METODOLOGIA O presente estudo está dividido em introdução, conclusão e três capítulos de desenvolvimento. Para abordar o tema foi desenvolvida uma pesquisa do tipo exploratória, com uso de ferramentas de cunho tanto quantitativo quanto qualitativo, além de um estudo de caso dentro de uma multinacional do setor de cosméticos. A pesquisa qualitativa se caracteriza, segundo Gerhardt e Silveira (2009), por não se preocupar com representatividade numérica, mas sim, com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, proporcionando uma melhor visão e compreensão do contexto do problema. Ainda sobre esse tipo de pesquisa, Raupp e Beuren (2003) acrescentam que ela descreve a complexidade de um problema, analisando, compreendendo e classificando as variáveis com os processos dinâmicos ocorridos, sendo profunda a forma de tratar o fenômeno estudado. Por outro lado, a pesquisa quantitativa emprega um instrumento estatístico como base de análise do processo, seja na coleta ou no tratamento dos dados. A pesquisa quantitativa possui uma maior preocupação com comportamento dos acontecimentos. Este tipo de pesquisa, para Malhotra (2004) “procura quantificar os dados e, normalmente, aplica alguma forma de análise estatística”, e se centra na objetividade. A pesquisa realizada nesse estudo, de caráter, quantitativo-qualitativa se utiliza das naturezas das outras duas pesquisas citadas anteriormente, ora predominando um tipo, ora outro, conforme a forma de análise do objeto. Uma pesquisa do tipo exploratória, por sua vez, consiste em levantamentos bibliográficos, citações e exemplos que buscam promover o entendimento de determinado assunto, que pode ser embasado em um estudo de caso, entrevistas com 14 indivíduos considerados referência no assunto ou em pesquisas bibliográficas. Durante o presente estudo, utilizou-se a pesquisa do tipo exploratória, baseando-se em pesquisas bibliográficas e nos dados obtidos por meio do estudo de caso. Para compor o estudo de caso, fez-se uso de dados numéricos e qualitativos obtidos no campo por parte da própria empresa analisada, combinando-os com análises relativas ao cenário atual do mercado e estruturando soluções de caráter qualitativo e quantitativo. Os cálculos e projeções realizados tiveram como ponto de partida as pesquisas e dados coletados pelos membros da empresa, combinados com o embasamento teórico e as análises provenientes deste estudo. 2. PANORAMA ATUAL DO MERCADO 2.1. A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO Atualmente, as empresas encontram-se inseridas em um ambiente competitivo cada vez mais dinâmico. Nesse cenário, o lançamento de novos produtos e a evolução de linhas já existentes tornou-se peça chave não só no mecanismo de diferenciação em relação aos concorrentes e estabelecimento de vantagens competitivas claras, mas também na própria obtenção de um bom desempenho no mercado como um todo. De acordo com Kotler (1998), o desenvolvimento contínuo de produtos novos é a chave para a sobrevivência. Utterback (1996) identifica a inovação como determinante central do sucesso ou fracasso a longo prazo para as empresas de manufatura. Já Clark e Wheelwright (1993) afirmam que, em um mundo de competição a nível internacional, com um mercado consumidor sofisticado e um enorme leque tecnologias frequentemente dramáticas em seus efeitos, as empresas que se encontram paralisadas em termos de desenvolvimento de produtos não são capazes de prosperar ou até mesmo de sobreviver. O ambiente atual, portanto, requer o rápido de desenvolvimento de tecnologias de produto e de processos, o que leva as empresas à procura pela redução do tempo de desenvolvimento de produtos e pelo aumento da produtividade em suas pesquisas, direcionando recursos para tornar o processo de lançamentos robusto frente à sua concorrência. De acordo com Doll e Vonderembse (1991), o sucesso nesse ambiente de rápido desenvolvimento de tecnologias, de avançosna tecnologia da informação e de competição a nível global depende tanto da capacidade de antecipação aos mercados quanto de respostas rápidas e eficientes com produtos que proporcionem alto valor a seus consumidores. 15 No entanto, os riscos inerentes à introdução de uma inovação no mercado são muito altos. Se por um lado há o potencial de obter ganhos financeiros expressivos e market share definitivo quando se trata de um lançamento bem-sucedido, por outro há a possibilidade de fracasso na absorção do produto ou serviço pelo mercado, que pode rapidamente transformar os investimentos aplicados em custos afundados. É cada vez mais comum observar indústrias de diversos setores que retiram seus produtos de linha pouco tempo após de seu lançamento no mercado. Esse contingente de lançamentos mal-sucedidos pode ser resultado de falhas de concepção dos produtos, pautando-se em visões equivocadas a respeito do mercado ou do que este espera das empresas. Isso se deve ao fato de que, por mais refinados que sejam os processos de pesquisa e inovação conduzidos pelas organizações, a capacidade de inferência acerca dos comportamentos do consumidor em relação às suas necessidades e em relação à concorrência é limitada. Os investimentos, então, passam a ser direcionados de forma a obter retornos muito aquém do esperado. Kotler (1998) afirma que esse fracasso no lançamento de produtos pode levar a uma redução do período de sucesso dos produtos pela rapidez com que os concorrentes passam a imitá-los. Portanto, faz-se necessário entender de que forma é gerenciado o processo de desenvolvimento de produtos nas organizações atuais, analisando suas principais dificuldades e mensurando os impactos que um lançamento pode ter na estrutura de um negócio. 2.2. EM QUE CONSISTE UMA INOVAÇÃO? O conceito de inovação é amplamente utilizado no contexto empresarial, ambiental e econômico. Nesse sentido, o ato de inovar significa a necessidade de criar caminhos ou estratégias diferentes aos meios habituais de se atingir determinado objetivo. Inovar é, portanto, inventar: sejam ideias, processos, ferramentas ou serviços. A ideia de inovação, no entanto, não deve ser restrita apenas à invenção de novos produtos, serviços ou tecnologias, mas também ao valor ou conceito de determinado fator ou tarefa, como o modo de organizar uma empresa, por exemplo. Atualmente, a inovação pode ser considerada um sinônimo de adaptação e, para que as empresas possam obter resultados e continuar na busca por vantagens competitivas, as inovações são essenciais para que possam se moldar às mudanças que acontecem nas estruturas sociais e econômicas. 16 O processo de trazer novos produtos ou processos ao mercado é descrito por Clark e Wheelwright (1993), que definem as etapas nesse fluxo como a transformação de ideias e conceitos em protótipos (por meio de um projeto de engenharia), o teste e refinamento desses protótipos e a preparação e entrega do projeto formulado para a operação comercial ou industrial. Além disso, o lançamento de um novo produto, seja ele uma ideia totalmente original, a implementação de uma nova tecnologia ou a adaptação a uma demanda ou necessidade do mercado, está necessariamente associado a um ciclo de vida. Tal ciclo possui quatro fases distintas: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Figura 1: Ciclo de vida de produto inovador Fonte: Ciclo de vida de produtos e serviços1 O gráfico acima ilustra como a entrada de um novo produto no mercado evolui com o tempo, em um comportamento considerado padrão para uma vasta gama de produtos. Primeiramente, existe a fase de introdução no mercado, cujo objetivo é gerar experimentação. Segundo Slack et. al (2009), na fase de introdução o volume de vendas é baixo, as mudanças no projeto são muito frequentes e há poucos concorrentes ativos. Essa fase é seguida pelo crescimento, que consiste em um período de crescimento rápido das vendas e da concorrência, abrindo espaço para a imitação e para a padronização do produto. Após esse período, segue-se um período de maturação, ou estabilização, em que as vendas se mantêm em um volume alto e estável, com concorrentes bem definidos e alguns tipos dominantes dentro do mesmo projeto. O processo é finalizado em um rápido declínio, causado pela saturação do mercado, pela massificação do produto ou pelo lançamento de um item considerado superior. 1 Disponível em: https://www.brandme.com.br/2-ciclo-vida/. Acesso em junho, 2017. https://www.brandme.com.br/2-ciclo-vida/ 17 A fase inicial do processo, no entanto, pode ocorrer em um ciclo anterior ao lançamento do produto em si, que consiste no processo de desenvolvimento por meio da pesquisa. Essa fase não se encerra necessariamente quanto o produto ou serviço atinge seus consumidores finais, mas também pode abranger o comportamento pós- venda e até mesmo o gerenciamento da logística reversa. Ao longo do seu ciclo de vida, um produto é passível de sofrer diversas mudanças em seu projeto, acrescentando novas funções ou mudanças incrementais e aprimorando suas características. No entanto, aos poucos, a tendência é que sejam selecionadas algumas características que mais se adequam ao produto e às necessidades do mercado, constituindo o que pode ser chamado de projeto dominante. Segundo Utterback (1996), o surgimento desse projeto é resultado direto das interações entre as opções técnicas e as preferências do mercado ao longo de um intervalo de tempo. O cenário competitivo atual posiciona a variável de tempo de lançamento de novos produtos como crítica ao bom desempenho das organizações. Além de representar uma vantagem inicial clara em relação à concorrência, tornar-se pioneiro em um lançamento pode traçar definitivamente os rumos dos desenvolvimentos futuros que vão levar a um projeto dominante. Também é possível analisar o processo de desenvolvimento de produtos sob a ótica de uma concepção de Marketing, que evidencia a criação de valor. Segundo Kotler (1998), qualquer negócio visa entregar valor ao mercado e obter lucro. Duas visões de processo de entrega de valor podem ser identificadas nesse sentido: uma tradicional, que foca apenas na fabricação de algo e na venda (production-push, por meio da qual as empresas adotam uma postura de empurrar os seus produtos ao mercado) e em uma visão nova, que coloca o marketing como fundamental ao início do processo de planejamento, e não apenas na fase pós-fabricação. Em um mercado competitivo como o atual, a visão tradicional mostra-se obsoleta. Em vez do enfoque puro na entrega do produto a mercado por si só, é necessária uma sofisticação nas empresas ao se compreender como parte de uma sequência de criação e de entrega de valor, envolvendo fases como a escolha inicial do valor, a entrega ao mercado-alvo e a sua comunicação, o que requer, inicialmente, ações estratégicas de marketing e finalmente, ações táticas de marketing. 18 Figura 2: Criação e entrega de valor Fonte: Lanning & Michaels, citados por Kotler (1998) Essa nova visão, portanto, consiste em uma abordagem demand-pull, que considera as forças do mercado como determinantes para o lançamento de novos produtos. Assim, dentro da lógica da entrega de valor, o desenvolvimento de produtos consiste na primeira etapa na fase para alcançar os mercados-alvo. Esse processo é construído de forma distinta e depende de características particulares a cada organização. Torna-se evidente, portanto, a importância que o processo de lançamentos e de implementação de inovações tem em um patamar estratégico dentro de uma empresa. Nesse sentido, pode-se até mesmo perceber uma tendência no mercado no sentido de mudar o seu discurso institucional, de forma a orientar-se inteiramente pela satisfação dos clientes. Aodesenvolver-se um produto, as transformações caminham em um sentido orientado pelo mercado (salvo alguns casos extremamente específicos). Mesmo em oligopólios, como afirma Carvalho (2000), como o caso de mercado de resinas e de compostos de polímeros, no qual predomina o poder dos fornecedores sobre os compradores, houve uma melhoria expressiva na satisfação das necessidades dos clientes e na percepção das empresas de que era necessário atingir cada vez mais esse objetivo para tornar-se bem-sucedido no mercado. Pode-se perceber, portanto, que a concepção a respeito da inovação e da comunicação com os consumidores atualmente tem ido muito além da simples promoção de vendas e da propaganda, ou da mentalidade que “empurra” os novos conceitos desenvolvidos dentro das organizações para um distante mercado consumidor. A tendência atual é de aproximação, fomentando um processo de inovação pautado na escolha de valor e culminando em projetos focados no posicionamento desse valor no mercado-alvo. Dessa forma, a inovação é comunicada de forma mais próxima, mais palpável aos clientes, e consiste em peça chave para o sucesso e a diferenciação competitiva dentro do cenário atual. 2.2.1. Inovação disruptiva 19 Dentro do conceito de inovação, é possível identificar uma categoria de produtos e serviços que possuem características comuns em seu processo de desenvolvimento e consolidação. Assim, é possível definir como produtos de inovação disruptiva aqueles que são muito superiores aos concorrentes do mesmo segmento, sendo diferenciados por tecnologia, ou aqueles que abrem um mercado totalmente novo, atendendo a uma necessidade que ainda não era mapeada. O surgimento desses produtos costuma gerar a descontinuação de versões anteriores e de toda a cadeia relacionada. Esse tipo de inovação muda drasticamente o mercado e a maneira como as pessoas vivem, dando origem a novos modelos de negócio e apresentando soluções mais eficientes do que as existentes até o momento. Em outras palavras, a inovação disruptiva ocasiona a ruptura de um antigo modelo de negócio e altera as bases de competição existentes. De acordo com Adner (2002) a tecnologia disruptiva ocorre quando ela consegue substituir a tecnologia massificada anterior. Inicialmente, é comum que ela possa até ser vista como algo de menor desempenho em comparação com o que é oferecido no mercado ou até mesmo julgada inconcebível pelos possíveis clientes. A longo prazo, no entanto, o potencial de uma inovação disruptiva pode até mesmo tornar algumas profissões extintas ou criar novas funções. Nesse sentido, Christensen (2003) afirma que tecnologias disruptivas são capazes de mudar a proposição de valor dominante em um mercado. Um bom exemplo atual de inovação disruptiva foi o uso das plataformas de streaming de música, filmes e séries (como Spotify e Netflix), que reduziram consideravelmente o uso dos meios anteriores como compra de CDs, download de músicas e filmes e até mesmo eliminaram em sua totalidade o uso de outros meios como o aluguel de filmes em locadoras. Essa categoria de lançamentos é a que apresenta maiores riscos em relação aos investimentos, visto que é mais difícil prever o valor efetivamente percebido pelos consumidores. Por se tratarem de produtos de natureza pouco previsível, torna-se mais complexo dimensionar os reais efeitos que terão no mercado, o que pode rapidamente levar os investimentos a se tornarem super ou subdimensionados. Quando o benefício introduzido no mercado não consegue se mostrar decisivo na hora da compra, não compensando os custos, a inovação perde o sentido. De acordo com Christensen (2003), as principais explicações para as dificuldades de adaptação das organizações devido ao surgimento de uma inovação disruptiva no mercado podem ser resumidas como: 20 • A relação inicial pouco clara e, consequentemente, pouco atraente em matéria de custo-benefício; • A dificuldade de adaptar e flexibilizar a tecnologia disruptiva; • O embasamento das decisões estratégicas apenas na cadeia de valor e no mercado atuais, sem visibilidade do cenário pós-inovação; • Os riscos e incertezas inerentes ao projeto, que acabam desencorajando gestores e investidores. Assim, é possível perceber que as empresas devem direcionar especial atenção ao lidar com inovações de caráter disruptivo, visto seu potencial de modificar tanto o funcionamento interno de uma organização quanto a proposição de valor em um mercado como um todo. 2.2.2. Inovação incremental Em outro âmbito, alguns produtos são classificados de acordo com o conceito de inovação incremental. Estes buscam apresentar alguns benefícios adicionais em relação a versões anteriores. Por vezes essa a mudança consegue ampliar a demanda do produto ou simplesmente agregar vantagens competitivas em relação aos concorrentes diretos e indiretos. Esse tipo de inovação é mais comum do que o caso disruptivo, já que não precisa de grandes saltos tecnológicos: as mudanças geralmente são motivadas por pesquisas com consumidores ou testes para aperfeiçoar a experiência de uso. A inovação incremental, em grande parte dos casos, busca gerar necessidade de compra: ou seja, visa a moldar o pensamento de seu mercado consumidor alvo para entender que um determinado atributo é necessário ao seu dia a dia para solucionar algum tipo de problema ou suprir alguma lacuna pré-existente. É evidente o poder de criação desse tipo de necessidades por parte das empresas, especialmente ao considerar seu funcionamento junto ao mercado como um sistema dinâmico e aberto. Nesse sentido, as organizações podem ser vistas como um conjunto de elementos dependentes do fluxo de informações do ambiente externo (mercado consumidor), necessitando de seus recursos e da absorção de seus produtos por parte do mercado, ajustando, assim, seu ambiente interno para suprir essas necessidades e funcionar de acordo com a demanda. 21 Figura 3: Sistema dinâmico das organizações Fonte: Adaptado de Katz & Khan (1987) Uma inovação incremental, portanto, pode tanto ser natural e decorrente de estudos que identificam necessidades de mercado, quanto ser criada aos consumidores por meio de ações que fomentam a existência de um problema antes não percebido. De forma mais extrema, essas inovações podem até ser impostas ao mercado, como é o caso da obsolescência programada, que força os consumidores a apostar em um produto ou serviço novo sem entender devidamente a necessidade que vem atrelada a ele. Como exemplo de inovação incremental é possível citar os celulares à prova d’água, que apresentam claros benefícios ao consumidor (especialmente para grupos focados em esportes e viagens), mas não estão entre um dos principais motivadores de compra de um consumidor comum. Essa tecnologia, adaptada de relógios e câmeras fotográficas, aumentou a vantagem competitiva para um mercado específico, mas não mudou drasticamente a maneira como as pessoas usam o celular, ou o papel que o mesmo desempenha no cotidiano. Por esse motivo, o desempenho dessa gama de produtos está diretamente relacionado à criação de necessidade, ou apelo de marketing, geralmente implementado por grandes marcas com alto poder de investimento. Os ciclos de vida desses produtos são curtos e facilmente copiados pela concorrência. Dessa forma, as inovações devem ser formuladas de modo a acompanhar a volatilidade e flexibilidade do mercado. Como principal exemplo de setores onde predomina tal tipo de inovação, podem ser citados os mercados de tecnologia, automobilístico e beleza, que fazem lançamentos de linhas ou incrementos em periodicidades regulares, anuais ou até semestrais. 22 2.3. A CADEIA DE SUPRIMENTOS E OS PRODUTOS INOVADORES Em um contexto no qual se tornam cada vez mais frequentes e relevantes os produtos que consistem em inovações(sejam elas disruptivas ou incrementais), é fundamental entender como adequar a realidade operacional das organizações para atender às aspirações estratégicas e de marketing. Atualmente, a tecnologia tem sido aplicada de forma a cada vez mais aprimorar a performance dentro da cadeia de suprimentos como um todo. O fluxo eletrônico de dados permite que todas as etapas dentro de uma cadeia se comuniquem e sejam mais reativas, possibilitando a implantação de manufaturas flexíveis, armazenamento automatizado e velocidade em logística. As respostas aos consumidores nunca tiveram a possibilidade de serem tão rápidas, massivas e assertivas. Paradoxalmente, no entanto, a performance de grande parte das cadeias de suprimentos nas organizações atuais tem se mantido muito aquém do esperado em meio a tal cenário de acelerado desenvolvimento tecnológico. A maior parte das indústrias atuais oscila entre dois extremos, sofrendo com faltas expressivas de alguns produtos e excessos de produção de outros. Há um desbalanceamento das necessidades de fabricação devido à falta de acuracidade da previsão da demanda, que se agrava quando os produtos são de natureza pouco conhecida ou totalmente inovadora no mercado. Grande parte dos executivos apresenta dificuldade em mapear quais as reais prioridades de seu negócio de acordo com a natureza da demanda. Assim, é comum que toda a cadeia de suprimentos seja balizada de acordo com parâmetros incorretos e expectativas deslocadas em relação à realidade. Uma primeira classificação que leva a entender a natureza da demanda consiste em identificar se a base de um determinado produto ou serviço é funcional ou inovadora. Produtos funcionais são aqueles que satisfazem as necessidades básicas do dia a dia: são produtos cruzeiro, estáveis, geralmente com margem de lucro e performance conhecida no mercado. Já produtos inovadores consistem em uma nova proposta para o mercado (que pode ser totalmente disruptiva ou apenas incremental), possuindo margens mais altas, porém maior imprevisibilidade, variabilidade e riscos atrelados. Para cada um desses tipos, existe uma cadeia de suprimentos que se adequa melhor. As principais diferenças entre as duas categorias de produtos são ilustradas no quadro abaixo: 23 Tabela 1: Principais diferenças entre categorias de produtos Fonte: Adaptado de FISHER (1997) Para produtos funcionais (ou cruzeiro), pode-se perceber que geralmente há um melhor balanceamento entre demanda e planejamento de produção, o que permite às empresas que se foquem quase que exclusivamente na otimização para redução de custos operacionais. Dessa forma, é possível organizar a produção de modo a seguir um cronograma específico de acordo com softwares de MRP (Manufacturing Resource Planning), conciliando ordem de produção, fabricação e entrega, mantendo o inventário em um patamar saudável e maximizando a eficiência da cadeia. O fluxo de informações entre fornecedores, produtores e distribuidores é essencial para coordenar suas atividades de modo a atender a demanda previsível ao menor custo. Essa abordagem, no entanto, deve ser totalmente diferente para o caso de produtos inovadores. A incerteza quanto à reação do mercado à inovação aumenta consideravelmente o risco de rupturas de fornecimento ou de excessos de estoque. As elevadas margens de lucro, apostas de investidores e a importância das vendas iniciais para estabelecer o mercado aumenta o custo real das faltas de estoque. Por outro lado, os ciclos de vida mais curtos aumentam o risco de obsolescência e os gastos com manutenção de estoque extra. É fundamental, portanto, que se consiga reagir rápido. O mais importante nesse cenário é o fluxo de informações que mostra os primeiros números de venda e os sinais do mercado como resposta ao produto, não apenas dentro da cadeia de suprimentos como para os produtos cruzeiro, mas sim do mercado consumidor para a organização como um todo. As decisões críticas no âmbito de estoques e capacidade não dizem 24 respeito, portanto, à minimização de custos, mas sim a respeito de onde posicionar os estoques e como balizar a produção de forma a reagir a tempo à demanda incerta. Fornecedores devem ser escolhidos pela sua rapidez e flexibilidade, por exemplo, e não somente pelo preço. Abaixo é possível visualizar as principais diferenças em relação a decisões chave tomadas em cada tipo de cadeia de suprimentos. Tabela 2: Diferenças entre cadeia de suprimentos eficiente em custos e responsiva Fonte: Adaptado de FISHER (1997) Para assegurar-se de que estão sendo tomadas as medidas corretas em matéria de dimensionamento operacional, é imprescindível para as organizações a compreensão da natureza de seu portfólio de produtos. Os itens de comportamento imprevisível e de características diferenciadas no mercado devem ser tratados de acordo com a abordagem responsiva, enquanto aqueles para os quais se conhece a curva da demanda e que tem relativa estabilidade em seu posicionamento devem ser balizados de acordo com a lógica de otimização em custos. Dessa forma, para cada tipo de produto há uma cadeia de suprimentos mais adequada, seja ela responsiva ou eficiente em custos. Ao posicionar os produtos em uma matriz de comparação entre natureza da demanda e características da cadeia de suprimentos, é possível perceber que há regiões de combinação ideal, conforme gráfico a seguir. A maior parte das empresas eventualmente encontra-se no primeiro quadrante, o que significa que operam com uma cadeia de suprimentos eficiente para produtos 25 inovadores. No entanto, cabe ressaltar que, para qualquer empresa com produtos inovadores, os retornos sobre os investimentos em responsividade da cadeia são muito maiores do que aqueles em eficiência. Figura 4: Matriz de compatibilidade entre tipo de produto e cadeia de suprimentos Fonte: Adaptado de FISHER (1997) De acordo com Fisher (1997), para cada dólar que uma empresa nesse cenário investe em aumentar a responsividade da cadeia, isso geralmente impacta em um decréscimo de mais de um dólar em custos com rupturas de fornecimento e gerenciamento de obsoletos. Para um produto inovador típico, com margens de contribuição2 que oscilam em 40% e um nível de ruptura de em média 25%, a perda em lucro e em aumento de despesas por conta de rupturas de fornecimento isolada é muito expressiva (40% x 25% = 10%), representando 10% das vendas, um montante que supera o lucro antes de impostos. Assim, percebe-se que o ganho financeiro de reduzir as rupturas e excesso de estoque é tão alto que os investimentos em responsividade da cadeia, para o caso de produtos inovadores, representa um retorno expressivo. Esse fato, no entanto, tem sido descoberto aos poucos pela maior parte das empresas. A mesma lógica, no entanto, não se aplica aos produtos funcionais: para uma margem de contribuição de 10% e uma 2 A margem de contribuição é o preço menos os custos variáveis, dividido pelo preço e é expressa em %. esse tipo de margem ilustra o aumento nos lucros decorrente do aumento de vendas que resulta em menos rupturas e é uma boa forma de rastrear melhorias no gerenciamento de estoques. 26 média baixa de ruptura de 1%, a contribuição perdida em matéria de lucros e de despesas totais representa apenas 0,1% das vendas: tal montante não compensa os investimentos significativos necessários à implementação de uma cadeia verdadeiramente responsiva. A busca por redução de custos por meio da eficiência da cadeia é bastante racional no contexto empresarial. No entanto, a imprevisibilidade da demanda de produtos inovadores exige uma cadeia de suprimentos que responda rapidamente às respostas do mercado. Para tal, é necessário ter um colchão de capacidade que seja capaz de absorver as flutuaçõesna produção. Similar ao colchão de capacidade, deve-se ter um alto estoque de componentes e/ou produtos acabados. Além disso, são necessários investimentos que visem a minimizar o lead time do produto, de forma a permitir respostas rápidas aos acontecimentos. A escolha dos fornecedores também é essencial: devem-se ser priorizados os com maior agilidade, flexibilidade e qualidade. Outro ponto interessante é utilização do design modular, a fim de adiar ao máximo a diferenciação do produto. Outro aspecto relevante é a tendência nas empresas de declarar altas taxas de erro algo inaceitável. Todavia, a imprevisibilidade é inerente aos produtos inovadores. Segundo Fisher (1997), quando se trata de produtos inovadores, a incerteza precisa ser aceita como algo positivo. Isso porque, se a demanda do produto fosse previsível, isso indicaria que ele provavelmente não era suficientemente inovador para gerar altas margens de lucro. Isto é, risco e retorno estão ligados em inovação: quanto mais inovador o produto, maior a margem de lucro e maior a incerteza da demanda. Ou seja, as maiores margens de lucro são, usualmente, provenientes dos produtos mais inovadores e acompanhadas dos maiores riscos na demanda. O primeiro passo para o sucesso das empresas em inovação é, portanto, aceitar a sua imprevisibilidade. A margem de erro média para produtos inovadores varia entre 40% e 100%. No entanto, há algumas práticas que podem reduzir os erros. Uma delas é encontrar quais informações podem ser utilizadas como drivers da demanda. Outra, é aumentar a flexibilidade da cadeia através da adoção de uma cadeia de suprimentos responsiva. A matriz abaixo demonstra a forma de abordar a previsão de demanda em casos de novos produtos, novas tecnologias e novos mercados. 27 Figura 5: Matriz do tipo de tecnologia de produto relacionada à inserção no mercado Fonte: Adaptado de Kahn, Kenneth (2006) Em suma, pode-se concluir que o pleno entendimento e consequentemente otimização do processo de planejamento da demanda, de todas as áreas envolvidas nesse fluxo e de seus impactos na cadeia de suprimentos aparece como fator indispensável ao bom desempenho operacional e estratégico dos produtos de base inovadora. 3. PLANEJAMENTO DA DEMANDA 3.1. DEFINIÇÃO Um mercado cada vez mais competitivo exige que as empresas tenham uma grande capacidade de responder com rapidez e flexibilidade às exigências dos clientes. Nesse 28 sentido, a gestão da demanda desempenha um papel estratégico e essencial, já que boa parte do planejamento de uma empresa deve estar voltado para as expectativas de vendas, que orientam quando e no que investir. A previsão da demanda consiste, portanto, na base para todas as decisões estratégicas e de planejamento em uma cadeia de suprimentos. As empresas, de uma maneira geral, direcionam suas atividades de acordo com as demandas do mercado. A previsão da demanda é essencial para determinar esses rumos, visto que ela é a base do planejamento estratégico das áreas de produção, vendas e finanças de uma empresa, e permite que os gestores planejem adequadamente suas ações. Dentro do processo de S&OP (Sales and Operations Planning), o planejamento da demanda possui participação fundamental. Como o S&OP é um processo que visa antecipar as demandas de vendas para melhor poder atendê-las, se bem implementado, ele pode ser uma excelente ferramenta para, além de melhorar o desempenho de entrega ao cliente, reduzir também os estoques. Figura 6: Esquema do processo de S&OP Fonte: Gestão da demanda – S&OP3 Nos dias de hoje, é uma tendência entre as empresas buscar trabalhar com o menor estoque possível. Dessa forma, o capital que fica “paralisado” é minimizado e pode ser investido em diversos outros setores. O processo se torna, então, puxado pelo cliente e sua demanda, observando-se, assim, a necessidade de aprimoramento por meio da 3 Disponível em: http://www.konsultbrasil.com.br/arquivos/gestao-de-demanda-sop/. Acesso em julho, 2017. http://www.konsultbrasil.com.br/arquivos/gestao-de-demanda-sop/ 29 logística, onde o fluxo de informações parte do cliente e acarreta as previsões de demanda. O planejamento da demanda é uma declaração sobre o futuro. Mesmo que a previsão seja incerta por natureza, é preciso haver um norte para que a administração da produção possa trabalhar. O bom planejamento diminui consideravelmente os custos das operações, por meio da antecipação dos fluxos de produtos e do balanceamento dos recursos. No entanto, isso não é uma tarefa simples, uma vez que decisões de planejamento envolvem os setores chaves da empresa. Quanto maior a complexidade das operações, maior é a dificuldade de gerenciar e maiores também são os custos envolvidos. Torna-se, portanto, necessária a estruturação de processos com diferentes agentes envolvidos nas tomadas de decisão. Se considerado o processo de S&OP como um todo, a demanda deve ser bem estruturada para que se possam planejar as vendas e coordenar todas as operações, balizando o plano de produção e a futura gestão de estoques, conforme figura abaixo. Figura 7: Esquema do processo de planejamento da demanda em operações Fonte: Foco no S&OP - sistema C2 de implantação 4 O planejamento da demanda possui, portanto, um papel estratégico e essencial para o desempenho de toda a organização. Esse importante papel exige maior eficiência na condução dos processos para balancear todos os recursos com a demanda da empresa. Nessa perspectiva, é preciso que a previsão seja feita com bastante cautela, de modo 4 Disponível em: http://c2projetos.com.br/implantacao-do-sistema-c2-de-producao-foco-no-sop/. Acesso em julho, 2017. http://c2projetos.com.br/implantacao-do-sistema-c2-de-producao-foco-no-sop/ 30 a otimizar os benefícios que um planejamento da demanda acurado proporciona às empresas. Os principais cuidados são: • Os fatores responsáveis pela demanda passada são mutáveis; • O erro de previsão precisa ser conhecido e bem estimado; • O grau de agregação por meio do qual os produtos são analisados precisa ser adequado; • O horizonte de tempo da previsão precisa ser adequado; • A previsão de demanda não deve se transformar em meta de vendas ou de produção. Assim, entende-se que planejar a demanda de maneira eficiente é muito mais do que simplesmente realizar uma previsão de vendas acurada. É preciso alocar corretamente os recursos disponíveis na empresa para maximizar os resultados financeiros, considerando simultaneamente os cenários de mercado e a estratégia de longo prazo. Percebe-se, portanto, a importância desse processo, uma vez que o mesmo influencia o nível de serviço percebido pelos clientes e os principais centros de custos de uma empresa. A previsão de vendas é, portanto, o ponto de partida na cadeia para que as atividades necessárias ao processo industrial sejam adequadamente abastecidas de informação. Essas previsões são insumos essenciais para o planejamento da produção. As previsões de demanda são elaboradas utilizando técnicas qualitativas, quantitativas ou, ainda, uma mistura de ambas, como afirma Pellegrini (2000). De acordo com Goodwin (2000) as técnicas qualitativas utilizam a opinião de um especialista ou de um grupo de especialistas sobre a previsão final, podendo ser tendenciosas e dando pouca ou nenhuma ênfase a previsões quantitativa, já as técnicas quantitativas utilizam uma sequência de observações e um padrão histórico de demanda e, por intermédio de modelos matemáticos, torna-se possível estimar valores futuros. Os métodos qualitativos são historicamente os mais utilizados na previsão da demanda. A figura a seguir ilustra melhor as diferentes abordagens de planejamento da demandaexistentes. 31 Figura 8: Métodos de previsão de demanda Fonte: Previsão da demanda – Universidade Estadual do Maranhão5 Atualmente, de acordo com Sanders e Ritzman (2004), elaborar previsões de demanda que contenham o menor erro possível é um desafio constante para as organizações, visto que é consenso de que ambos os métodos, qualitativo e quantitativo, possuem pontos fortes e fracos. As principais diferenças entre essas abordagens podem ser observadas na tabela a seguir: Tabela 3: Aspectos das abordagens qualitativa e quantitativa Fonte: Elaboração própria Nessa perspectiva, Lemos (2006) afirma que diversas pesquisas sugerem melhorias na acurácia utilizando previsões combinadas, através da integração dos métodos, com o intuito de diminuir os efeitos das variáveis externas. A combinação ocorre quando as diferentes fontes de previsão são integradas para a construção da previsão final, tal que o resultado seja composto de uma análise subjetiva, através do julgamento humano, e de uma análise quantitativa, baseada em modelos matemáticos. Uma previsão de boa 5 Disponível em: https://pt.slideshare.net/ocap/previsao-de-demanda. Acesso em: julho, 2017. https://pt.slideshare.net/ocap/previsao-de-demanda 32 acurácia tem o potencial de trazer grandes economias as empresas, trazendo como resultado não apenas um bom retorno monetário, como também um aumento na competitividade e na satisfação de seus clientes. Atualmente, o método de previsão mais amplamente utilizado têm sido a média histórica acrescida de uma projeção da empresa, o que amarra os parâmetros no passado e compromete as estimativas. Isso porque existem diversos fatores que afetam a demanda e que não podem ser incluídos na previsão quantitativa por conta de sazonalidades. Como exemplo, é possível citar feriados deslocados no decorrer dos anos, promoções e mudanças climáticas, entre outros. Tais fatores devem, assim, ser mensurados por meio da opinião de especialistas e então incluídos no método quantitativo. Figura 9: Processo padrão detalhado de planejamento da demanda Fonte: Nortegubisian consultoria6 3.2. PRINCIPAIS MÉTODOS 3.2.1. Quantitativos Os chamados métodos de previsão quantitativos são aqueles que utilizam como base uma série histórica de dados sobre uma certa variável, com o objetivo de identificar padrões de comportamento que possam ser projetados para o futuro. De acordo com Slack et. al (2009), esses métodos são classificados em modelos causais e métodos de séries temporais. 6 Disponível em: http://nortegubisian.com.br/consultoria/gestao-de-supply-chain/metodos-de-previsao- de-demanda-e-gestao-de-estoques/. Acesso em julho, 2017. http://nortegubisian.com.br/consultoria/gestao-de-supply-chain/metodos-de-previsao-de-demanda-e-gestao-de-estoques/ http://nortegubisian.com.br/consultoria/gestao-de-supply-chain/metodos-de-previsao-de-demanda-e-gestao-de-estoques/ 33 Os modelos causais fazem a previsão estabelecendo uma relação de causa e efeito entre a variável de demanda e fatores que possam afetá-la. Como exemplo desses métodos, é possível citar a análise de regressão e os modelos econométricos. Já a análise de séries temporais utiliza o histórico da demanda para prever o futuro. O mesmo assume que os padrões passados, como tendência e sazonalidade, não serão alterados. Os métodos baseados em análise de séries temporais mais comuns são Média Móvel, Box-Jenkins e Suavização Exponencial. A Média Móvel oferece uma técnica simples de suavização exponencial de séries temporais. Nesse sentido, calcula-se uma média aritmética ou ponderada das N observações mais recentes da série. No entanto, este método não trabalha bem os efeitos de sazonalidade, uma vez que a previsão para um novo período envolve constantemente a adição de novos dados e a exclusão de dados anteriores. O método de Box-Jenkins é desenvolvido por meio de modelos matemáticos que visam captar o comportamento da correlação seriada ou a auto-correlação existente entre os valores da série temporal. Com isso, são realizadas previsões futuras. O modelo é o resultado da combinação de três componentes: o componente auto- regressivo (AR), o filtro de integração (I) e o componente de médias móveis (MA). Os métodos de suavização exponencial destacam mais os últimos valores observados na série temporal por meio da ponderação exponencial, de acordo com a proximidade ao período da previsão. Esses métodos se baseiam na ideia de que observações passadas contêm informações sobre o padrão da série temporal e seu propósito é distinguir um padrão de comportamento de qualquer outro ruído que possa estar contido nas observações da série e então usar esse padrão para prever valores futuros da série. Os métodos mais tradicionais de suavização exponencial são: Suavização Exponencial Simples, Suavização Exponencial Dupla de Holt e Suavização Exponencial Sazonal de Holt-Winters. A Suavização Exponencial Simples é uma média ponderada que atribui pesos maiores às observações mais recentes, ou seja, a previsão dos N valores futuros é dada a partir do último valor exponencialmente suavizado. Já a Suavização Exponencial Dupla é similar, porém possui uma constante extra para modelar a componente de tendência em uma série temporal. Por fim, o método de Holt-Winters consiste em uma técnica que envolve três equações com três parâmetros de suavização, associados aos componentes de nível, tendência e sazonalidade em uma série temporal. 3.2.2. Qualitativos 34 Para produtos considerados inovadores, é comum que não haja disponibilidade de uma base histórica, o que impossibilita a utilização de modelos quantitativos puros. Desta forma, os métodos possíveis limitam-se aos qualitativos. Essa categoria de métodos abrange predições ou inferências muitas vezes de caráter subjetivo, frequentemente baseadas nas opiniões de especialistas. As técnicas qualitativas apresentadas por Moreira (2009) são: método Delphi, opinião de executivos, opinião da força de vendas e pesquisas de mercado. Além destas técnicas, Gaither e Frazier (2002-2004) ainda citam a analogia com produtos similares e Wanke e Julianelli (2006) discorrem sobre a análise de cenários. Contudo, cabe ressaltar que a utilização de uma única técnica de previsão de demanda pode não ser suficiente para incorporar todo o conhecimento associado ao ambiente de previsão. Por isso, Werner e Ribeiro (2005) analisam a combinação de previsões, por meio do qual se utiliza mais de uma única técnica ao mesmo tempo, prática que tem demonstrado potencial elevado em reduzir os erros de previsão e obter estimativas melhores. Uma opção quando não existe uma base histórica consiste em utilizar os dados de um produto similar como ponto de partida para as previsões. Nesses casos, geralmente, o recurso é estudar a curva do ciclo de vida do produto mais similar já existente no mercado e utilizá-la para projetar a previsão de demanda do novo produto. A operacionalização deste método, segundo Lemos e Fogliatto (2007) ocorre através da análise de características comuns entre o produto de interesse e o produto similar, como por exemplo funcionalidades dos produtos, classe de consumidores, estrutura de mercado – potencial de mercado, demanda histórica, concorrentes, etc. e nível de inovação. Definidas as características similares, estabelecem-se as estimativas de demanda do novo produto, com base no comportamento passado dos atributos em questão. Cabe ressaltar, no entanto, que é crítica a escolha correta de um produto suficientemente similar para que se classifique corretamente o período do ciclo de vida e a categoria onde o lançamento analisado se enquadra. É importante, também, a comparação com casos similares deprodutos mal-sucedidos, tendo em mente todos os possíveis impactos desse lançamento na organização. No caso da análise de cenários, a construção da previsão consiste em prospectar cenários futuros para as demandas, de forma a identificar antecipadamente como a demanda se comportaria em cada situação, facilitando, assim, o processo de tomada de decisão. Wanke e Julianelli (2006) afirmam que quando existem muitas variáveis interferindo no resultado futuro de um evento, a elaboração de cenários – situações hipotéticas futuras – pode ser utilizada como forma de estruturar as análises e facilitar o processo de planejamento. Essa análise de cenários, portanto, possibilita estruturar e sistematizar o processo de projeções qualitativas, identificar variáveis que impactam a 35 demanda e seus impactos mútuos, estabelecer objetivos organizacionais de longo prazo e identificar as prioridades de ação. Contudo, ela se torna inviável à medida que depende dos resultados em função da escolha das variáveis, oferece grande complexidade para tratar muitas variáveis ao mesmo tempo, e ainda, pelo fato que pequenas alterações nas variáveis podem ocasionar grandes mudanças nas previsões. Outro tipo de abordagem consiste em realizar as previsões com base na opinião dos executivos da empresa, dado seu conhecimento a respeito das atividades desenvolvidas na companhia e de seus respectivos setores, além da experiência em matéria de performance de vendas. Dessa forma, a troca de opiniões entre eles possibilita o alcance de uma visão sistêmica de todo processo e embasa a definição da previsão de vendas de um lançamento. Moreira (2009) destaca que a vantagem desta técnica, é a reunião de talentos com diferentes visões de determinado assunto, dessa forma os resultados serão mais precisos e de qualidade. No entanto, por se tratar de um método essencialmente baseado no debate, é comum que as discussões acabem perdendo o foco e não atinjam um consenso em muitos ambientes corporativos. Ou ainda, que a previsão acabe sendo conduzida de modo a se tornar uma meta de resultado, e não uma tradução da demanda efetiva do mercado consumidor. A previsão de vendas pode, ainda, ser estruturada com base na opinião da equipe de vendas. Segundo Moreira (2009), elaborar previsões junto ao pessoal diretamente envolvido com as vendas se mostra como uma alternativa atraente na medida em que a equipe no campo possui conhecimento tácito a respeito do desenvolvimento histórico dos produtos e é capaz de perceber de perto as evoluções do mercado. Essa técnica é vantajosa conforme Ritzman e Krajewski (2008) devido o conhecimento da equipe de vendas sobre os produtos e serviços desejados pelos clientes, bem como pela facilidade de combinação das previsões estabelecidas pelos vendedores, e ainda, por possibilitar informações detalhadas por região, o que facilita o gerenciamento das atividades. Em contrapartida, é comum que sejam estabelecidos níveis errados para as previsões caso elas sejam baseadas apenas no sentimento de que as vendas estão performando bem ou mal em um dado momento. Além disso, o estabelecimento de metas de vendas gera um conflito entre os interesses dos vendedores com a capacidade e a estratégia da empresa. O método Delphi, por outro lado, utiliza a opinião de um grupo estruturado de especialistas, que são chamados a participar em grupos, com a diferença de que as perguntas são apresentadas através de questionários respondidos anonimamente. Em reuniões posteriores, o resultado das respostas é mostrado e cada especialista é convidado a alterar sua opinião, repetindo-se o processo até se obter decisões mais próximas. Esse método passou a ser disseminado no começo dos anos 60, por 36 intermédio de pesquisadores da Rand Corporation. O objetivo original era desenvolver um método para aprimorar o uso da opinião de especialistas na previsão de demanda. Para Moreira (2009) sua principal vantagem consiste em permitir a obtenção de dados pessoais sem que haja interações dentro do grupo, as quais poderiam distorcer os resultados. Durante esse processo é dado maior foco às opiniões significativamente divergentes da média do grupo. No entanto, é ainda um processo lento que depende do envolvimento do mesmo grupo ao longo do tempo. Por fim, pode ser elaborada uma pesquisa de mercado para obter de forma direta a opinião de grupos potenciais de consumidores. Esse método possui a vantagem de traduzir diretamente as expectativas do mercado consumidor alvo aos executivos da companhia, no entanto, possui como desvantagem o alto custo envolvido, o tempo necessário para execução e limitações técnicas. É necessário coletar uma amostra suficientemente representativa da população estudada para embasar as análises, além de elaborar perguntas que não deem margem a interpretações equivocadas. Assim, um plano de execução é essencial para que esse método não acabe distorcendo a realidade do mercado e enviesando o dimensionamento de um lançamento, sendo potencialmente negativo para sua performance no mercado. A importância da escolha do tipo de técnica a ser utilizada para prever a demanda é ressaltada por Ritzman e Krajewski (2004), visto que às vezes tem-se de optar entre precisão e custos de previsão. O objetivo fundamental é que se desenvolva uma técnica de previsão apropriada para as diferentes características de demanda. Além disso, um fator que deve ser levado em consideração no momento da escolha da técnica é o horizonte de tempo, ou seja, se as projeções são de curto, médio ou longo prazo. 3.3. PRINCIPAIS INDICADORES 3.3.1. Assertividade da previsão O planejamento de demanda é um ponto chave na estruturação de toda cadeia de suprimentos. O que se busca com a gestão da demanda é a rápida e adequada integração das necessidades originadas do mercado na direção dos diversos agentes envolvidos na cadeia de suprimentos, de modo a balancear e alinhar estrategicamente a demanda com a capacidade operacional ao longo da mesma. Segundo Fisher (1997), estudos realizados nos Estados Unidos demonstram que mais de 30 bilhões de dólares são perdidos anualmente na indústria de alimentos apenas devido a erros no planejamento de demanda. Em todos os tipos de indústria, as cadeias de suprimentos sofrem com esse tipo de problema, seja com previsões erradas 37 que provocam um excesso de produção, ou mesmo por problemas de ruptura. Ambos impactam diretamente em todos os agentes da cadeia de suprimentos, provocando perdas no sistema como um todo. O planejamento e gestão de demanda não podem ser consideradas atividades resumidas à previsão de vendas ou a um processo isolado de uma função organizacional específica ou de uma única empresa. Portanto, é nesse ponto que entra a relação desses conceitos com a cadeia de suprimentos. Em uma análise desse tipo, é necessário compreender todos os agentes envolvidos com as mais diversas atividades em supply chain. A relação entre esses dois pontos é mais abrangente, envolvendo a criação de sinergias entre a gestão de operação e de marketing com objetivo de compreender o mercado e desenvolver ações sincronizadas com a estratégia da empresa, capacidade produtiva e atendimento das necessidades do consumidor final. No que tange a esse relacionamento intrínseco entre o planejamento de demanda e a cadeia de suprimentos, surgem inúmeras dificuldades, que como demonstrado anteriormente, levam a perdas nas mais diversas indústrias. Fawcett e Magnan (2002) relatam que, apesar dos benefícios da integração e colaboração entre os membros da cadeia de suprimentos, poucas empresas alcançam o potencial da integração: cerca da metade das organizações estão de fato trabalhando com a integração dentro da empresa, um terço das empresas focam seus esforços de integração com os fornecedores do primeiro nível da cadeia, com pouco esforço ou nenhumesforço de integração entre outros níveis. Com isso, surge o chamado “efeito chicote”, resultado direto da amplificação da demanda. Figura 10: Efeito chicote Fonte: Slack at al (2002) 38 Esse tipo de dificuldade pode ter diversas causas. Uma delas ocorre devido às dificuldades para alcançar colaboração efetiva e algumas limitações como, por exemplo, resistência no compartilhamento de informações, ou a falta de um fluxo de informações transparente. Por exemplo, ao estudar diversas empresas sob a perspectiva dessa relação entre demanda e supply chain, muitos dos dados de sell out (venda ao consumidor final) de grandes empresas não são repassados aos seus fornecedores e outros agentes da cadeia de suprimentos. Assim, não são desenvolvidas diretrizes coordenadas para a produção, fazendo com que o estoque e entrega ao longo de toda a cadeia não sejam baseados na demanda de consumo, mas sim em previsões orçamentárias dos diferentes agentes que usam como base o histórico de vendas ou de entregas. Além disso, o planejamento da demanda está diretamente relacionado aos riscos de ruptura (ou stockout) e de geração de obsoletos. A saúde do inventário está diretamente ligada ao super ou subdimensionamento das vendas, o que pode acarretar em custos tanto em matéria de perda de vendas (como detalhado nos tópicos a seguir) ou em manutenção ou descarte do estoque de itens que não podem mais ser comercializados. 3.3.2. Ruptura de fornecimento Quando se reflete a respeito das consequências decorrentes de erros no processo de planejamento da demanda, a ruptura de estoque aparece como um dos primeiros e mais urgentes casos a serem tratados pelas organizações. A falta de estoque para atender aos pedidos representa efetivamente a perda de vendas, um gap no faturamento ou até mesmo um impacto no market share. Especialmente em um cenário de crise econômica, esse quadro se torna ainda mais crítico, visto que, como queda das vendas tem se mostrado acentuada por si só, a perda de oportunidades de faturamento se torna um risco inaceitável. Dependendo do nível da indisponibilidade dos produtos nos pontos de venda, os impactos se aprofundam a nível do negócio, culminando até no esquecimento do produto depois de passar tanto tempo longe das gôndolas, o que representa uma perda significativa de market share. Combater rupturas de estoque se torna, portanto, a tomada de uma série de medidas emergenciais que muitas vezes acabam afetando todo o funcionamento e os fluxos normais dentro da cadeia de suprimentos. Compras extras de insumos para aumento do estoque de segurança, aumentos no número de reprogramações de produção (gerando por vezes estoque intermediários e desperdício de materiais), alocação ineficiente de recursos locais, (como pessoal, equipamentos e capital) são apenas 39 alguns dos problemas que podem ser ocasionados ao tentar minimizar os efeitos das rupturas de estoque. A falta de acuracidade na previsão da demanda também pode impactar outras camadas dentro da cadeia de suprimentos, gerando, por exemplo, falta de insumos em determinada etapa da produção. Dependendo do nível de integração entre as áreas, as faltas só são percebidas próximo ao momento de uso, gerando paralisação da produção ou desperdício dos materiais já usados. Mesmo quando há conhecimento prévio a respeito da falta, ela pode repercutir em compra de lotes emergenciais mais caros, ou priorização da produção de um produto em detrimento de outro. Pode-se afirmar, portanto, que o relacionamento inconsistente entre o planejamento de demanda e a cadeia de suprimentos é capaz de impactar diretamente vários indicadores das empresas, sendo o nível de serviço um dos mais afetados nesse sentido. Por nível de serviço (ou fill rate) entende-se todas as funções de operações que agreguem valor ao cliente: disponibilidade de estoque, tempo de entrega, tempo de processamento do pedido, flexibilidade na entrega, tempo do produto em estoque entre outros. Para se alcançar um nível ótimo de serviço, é preciso analisar também os custos que essa qualidade da empresa traz para o negócio. Até certo ponto, quanto maior a qualidade do serviço, maior o valor percebido pelo cliente, o que se reverte em receita. Entretanto, quando esse ponto é excedido o gasto em infraestrutura, transporte e “estoque-colchão” não compensam o ganho de receita, como na figura abaixo: Figura 11: Nível de serviço logístico Fonte: Nível de serviço no gerenciamento de estoque 7 3.3.3. Giro lento e estoque obsoleto 7 Disponível: http://www.cafecomempreendedor.com.br/2013/04/nivel-de-servico-no-gerenciamento- do.html. Acesso em julho, 2017. http://www.cafecomempreendedor.com.br/2013/04/nivel-de-servico-no-gerenciamento-do.html http://www.cafecomempreendedor.com.br/2013/04/nivel-de-servico-no-gerenciamento-do.html 40 Em outro extremo, a falta de acuracidade da previsão pode acarretar a geração de estoque excessivo, que pode passar a operar em giro lento e possui uma possibilidade considerável de se tornar obsoleto no futuro. Como a previsão de demanda funciona como parâmetro essencial à construção das necessidades de suprimentos e é ponto de partida para a ordem de produção, é necessário ter em mente que há um horizonte aceitável até o qual podem ser absorvidas pela indústria as modificações mais expressivas no que foi traçado como demanda anteriormente. Esse horizonte, conhecido como horizonte de bloqueio do plano de produção, baliza o volume de estoque a ser produzido e está intrinsecamente relacionado à acuracidade da previsão de vendas. Caso seja estabelecida uma previsão muito divergente da realidade e caso isso seja percebido fora do prazo para estabelecimento de mudanças no plano de produção acordado com as fábricas, serão produzidos lotes além do necessário, gerando um excesso de estoque previsto, mas não menos prejudicial às operações da empresa. Além disso, estão envolvidos custos industriais, perda de capacidade e compras de matérias prima que não poderão ser reaproveitados depois. A manutenção do estoque nos centros de distribuição e nas fábricas representa um dos montantes mais significativos em termo de gasto com operações. Os custos de armazenamento incluem o custo das posições de estoque em si, dos pallets e das máquinas para embalagem e movimentação de cargas, o aluguel dos armazéns e o custo com transporte interno e segurança, além do pagamento de operadores logísticos especializados. A permanência de altos volumes de estoque no centro de distribuição por tempo indeterminado significa, necessariamente, a perda de recursos. Uma vez transformado, o produto final perde flexibilidade e a sua manutenção em estoque significa a perda de oportunidades de venda. Assim, as empresas têm voltado muitos esforços para não fomentar a geração de estoques desnecessários dos produtos, visto que, uma vez em estoque e sem perspectivas de escoamento por meio de vendas, a perda de recursos torna-se inevitável. 41 Figura 12: Tipos de estoque Fonte: Adaptado de Gintzler International8 O estoque considerado não saudável ou obsoleto, quando se encontra em um patamar onde as vendas são inviáveis, acaba tendo de ser descartado ou destruído pelas empresas que, frequentemente, por questões legais e comerciais, preferem arcar com os custos e com todo o processo de destruição. Esses custos são elevados e representam uma perda para a companhia, o que justifica a preocupação em evitar ao máximo que se chegue a esse ponto da saúde do inventário, onde as atitudes tomadas são consideradas drásticas. 4. ESTUDO DE CASO 4.1. EMPRESA ESCOLHIDA Um dos principais players mundiais no mercado de beleza, a empresa escolhida para realização do presente estudo atua em diversos países ao redor do globo.
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