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EXAME DAS MAMAS LETÍCIA FAGUNDES OBJETIVOS ▪ Realizar o exame das mamas como parte do exame ginecológico de rotina ▪ Discutir as recomendações dos exames de rastreio do câncer de mama. ▪ Conhecer as indicações dos exames complementares das mamas EXAME DAS MAMAS O exame das mamas é dividido em quatro etapas: 1. Inspeção estática 2. Inspeção dinâmica 3. Exame das axilas 4. Palpação 5. Descarga papilar ANATOMIA DA MAMA A mama é composta por três estruturas principais: pele, tecido subcutâneo e tecido mamário (formado por parênquima e estroma) ▪ Parênquima: sistema ductal + lobular o O parênquima é dividido em 15 a 25 lobos cada um deles drenando para um ducto excretor que termina no mamilo. Cada ducto dilata-se ao penetrar na base do mamilo, formando um seio lactífero que serve como reservatório de leite durante a lactação o Cada lobo é composto por 50-75 lóbulos (unidade morfofuncional da mama). Cada lóbulo é formado por 10 a 100 alvéolos ▪ Estroma: tecido gorduroso e conectivo + vasos sanguíneos e linfáticos + nervos Tanto o mamilo quanto a aréola contem músculo liso (com função de contração); a pele do mamilo é pigmentada e sem pelo e a pele da aréola contem folículos pilosos ocasionais. As papilas dérmicas do mamilo contem glândulas sebáceas (chamado de tubérculos de Morganni) A drenagem linfática é de extrema importância para a disseminação metastática do câncer de mama, sendo formada por plexos superficiais e profundos O plexo superficial possui a drenagem direcionada para o plexo profundo. Do profundo, a drenagem ocorre preferencialmente para a axila (95%) Linha do leite → local onde ocorre o desenvolvimento do tecido mamário e que desaparecem com o tempo EXAME DAS MAMAS LETÍCIA FAGUNDES TERMOS SEMIOLOGICOS ▪ Menarca – Primeira menstruação ▪ Menopausa – Ultima menstruação ▪ Menacme – Período entre a primeira e ultima menstruação, ou seja, período reprodutivo da mulher ▪ Tele = mamilo ▪ Telarca - início do desenvolvimento das mamas ▪ Mastalgia – dor mamaria ▪ Mastodinia – dor mamaria cíclica, no período pré- menstrual ▪ Mastite – Inflamação da glândula mamaria ▪ Amastia – ausência do desenvolvimento da mama, podendo ser uni ou bilateral ▪ Atelia – ausência do mamilo (ou do complexo aréolo-papilar) ▪ Amazia – Ausência da glândula (parênquima) mamária ▪ Ginecomastia – Desenvolvimento das mamas no homem ▪ Polimastia – Presença de mais de duas glândulas mamárias Pode ser chamada de completa quando está presente a aréola e o mamilo, ou incompleta quando existe apenas a glândula. O local mais comum de polimastia é na região axilar. Pode causar desconforto e dor na região axilar e no período pré-menstrual e ocorre aumento de volume durante a gravidez. A cirurgia na maioria dos casos é feita por motivos estéticos. ▪ Politelia - é a presença de mamilo extranumerário, ocorrendo geralmente abaixo da mama ou no abdome. Remoção pode ser feita por motivação estética. Tanto a polimastia quanto a politelia geralmente ocorre na linha do leite ▪ Tubérculo de Mongangni - glândula sebácea que aumentam de volume durante a gravidez e passa a ser chamada de tubérculo de Montgomery – lubrifica e protege a aréola ▪ Descarga papilar - Saída de secreção pela papila Galactorreia → secreção leitosa, multiductal, bilateral, fora da gravidez. Ocorre devido ao aumento da prolactina (tumores hipofisários, uso de medicamentos, drogas) Derrame fisiológico – Secreção multiductal, bilateral, provocado ou espontâneo de cor amarela, esverdeada ou escura. Causada pela manipulação mamilar/ectasia ductal Derrame patológico – Secreção unilateral, uniductal, espontânea, persistente e de coloração cristalina, serosa ou hemática. Causada por papiloma ductal ou carcinoma mamaria. EXAME DAS MAMAS LETÍCIA FAGUNDES CUIDADOS INICIAIS DO EXAME ▪ Permanecer afastado quando a paciente estiver preparando-se para o exame → Exposição do tórax ▪ Deixar exposto apenas a parte do corpo que está sendo examinada ▪ Explicar cada passo do exame para a paciente ▪ O exame é feito nas posições: o Paciente sentada → inspeção + exame das axilas o Paciente em decúbito dorsal com os braços atrás do pescoço → palpação mamária ▪ Divide-se a mama em 4 quadrantes + cauda: Quadrante superior externo – este é o quadrante onde são maiores os riscos de câncer de mama Calda da mama/Spence = se refere ao prolongamento axilar da mama INSPEÇÃO ESTÁTICA ▪ Avaliar: Mamas: volume, simetria, pendulares/firmes, contorno e cor. Se existe abaulamentos, retrações ou alterações de pele (hiperemia, edema e ulceras) Mamilo: tamanho, forma, pigmentação, inversão, eversão, retração e descarga (secreção). Doença de Paget: placas vermelhas, descamativas e com crosta ao redor do mamilo, da aréola ou da pele circunjacente geralmente associada a um carninoma intraductal ou invasivo subjacente Eritema mamário secundário a carcinoma inflamatório da mama (A cicatriz sobre a aréola corresponde a uma biopsia previa DINAMICA Solicitar que a paciente faça as manobras e observar se evidenciam abaulamentos ou retrações (se existir um tumor, por exemplo, sua fixação anormal com a fáscia e os músculos peitorais irá repuxar a pele e causar cavos cutâneos) A melhor ocasião para examinar as mamas é 5-7 dias após o início da menstruação, já que elas tendem a aumentar o volume e ficarem nodulares antes da menstruação. Os nódulos que aparecem na fase pré-menstrual devem ser reavaliados em uma ocasião posterior EXAME DAS MAMAS LETÍCIA FAGUNDES EXAME DA AXILA Palpar as regiões: supraclaviculares, subclaviculares e axilares → Os braços precisam estar relaxados para conseguir palpar os linfonodos Realizar pequenos movimentos circulares para detectar adenopatia i. O examinador com a mão em concha deve penetrar o mais alto possível em direção ao ápice da axila. ii. Depois, deve trazer os dedos para baixo pressionando contra a parede torácica ▪ O QUE VAI ENCONTRAR? Normal: linfonodos palpáveis, móveis e fibroelásticos Anormal: linfonodos axilares aumentados, endurecidos, fixos e coalescentes → indicam metástase de carcinoma da mama, linfoma ou outra neoplasia maligna → O examinador deve observar o número, tamanho, consistência e mobilidade PALPALÇÃO Com a paciente em decúbito dorsal, sem travesseiro e com as mãos atrás da nuca, o examinador, no lado direito da paciente, deve palpar todos os quadrantes, detalhadamente, pesquisando a presença de nódulos. ▪ Técnicas: o Velpeaux = face palmar dos dedos contra o gradil costal o Bloodgood = polpas digitais (falanges distais) pressionando delicadamente o tecido mamário contra a parede torácica. CUIDADOS: 1. No período pré-menstrual as mamas podem aumentar de tamanho e torna-se hipersensível + aumento da modalidade 2. Começa-se na região subareolar → região paraesternal → infraclavicular → axilares (prolongamento axilar da mama) 3. Se for detectado algum nódulo, definir: a. Localização b. Tamanho e limites (bem delimitado ou não) c. Consistência (fibroelástica, cística ou endurecida) d. Superfície (regular, lobulada ou irregular) e. Aderência a planos superficiais ou profundos. Geralmente, as neoplasias malignas possuem limites impreciso e irregulares (Devido a sua infiltração nos tecidos vizinhos), consistência dura, pequena mobilidade e é fixa nas estruturas adjacentes EXPRESSÃO PAPILAR Faz uma delicada pressão no nível da aréola e da papila. Se ocorrer uma saída de fluxo, identificar: i. Uni ou bilateral ii. Uniductal ou poliductal iii. Espontânea X provocada iv. Coloração: sero-hemática x citrina x serosa x láctea x esverdeadax acastanhada Geralmente, em neoplasias: derrames papilares contendo sangue, sero-hemáticas ou cristalino em água de rocha → fazer uma biopsia excisional EXAME DAS MAMAS LETÍCIA FAGUNDES CÂNCER DE MAMA É uma doença causada pela multiplicação desordenada de células da mama, sendo o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do de pele não melanoma. 1% dos casos acomete homens. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta idade sua incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos. FATORES DE RISCO Ambientais e comportamentais: obesidade e sobrepeso após a menopausa, sedentarismo, consumo de bebida alcoólica e exposição frequente a radiação ionizante História reprodutiva e hormonal: primeira menstruação antes dos 12 anos, primeira gravidez depois dos 30 anos, menopausa após os 55, contraceptivos hormonais e ter feito reposição hormonal pós-menopausa (principalmente por mais de 5 anos) → amamentação é um fator de proteção ao câncer que aumenta com a paridade e a idade precoce da gestação → A exposição a hormônios aumenta a possibilidade de câncer Genéticos: história familiar de câncer de ovário/mama (principalmente antes dos 50 anos) + alteração genética nos genes BRCA1 e BRCA2 RASTREAMENTO É o exame de rotina em mulheres sem sinais e sintomas da doença. O rastreamento pode ser feito de forma oportuna (demanda própria do indivíduo ou oferecido pelo profissional de saúde por ocasião da procura da unidade por outros motivos) ou de forma organizada/populacional que se baseia na criação de programas estruturados por meio dos quais a população- alvo é convidada/convocada a participar das ações de rastreamento na periodicidade preconizada, com monitoramento e avaliação do desempenho de todas as etapas do processo Para o câncer de mama, há duas formas de rastreamento organizado: Ministério da Saúde (MS/INCA) e OMS → Rastreio com exame clínico das mamas (ECM) anual e mamografia a cada 2 anos em mulheres de 50 a 69 anos. Sociedade Brasileira de Mastologia, de Radiologia e FEBRASGO → Rastreio com Mamografia anual em mulheres a partir de 40 anos até 74 anos Atenção: Mulheres com casos na família = iniciar o rastreio 10 anos antes da idade em que a parente mais próxima teve o diagnóstico. Individualmente em qualquer idade, a critério médico pode-se solicitar o exame, dependendo do caso Os benefícios da mamografia de rastreamento incluem a possibilidade de encontrar o câncer no início e ter um tratamento menos agressivo, assim como menor chance de morrer da doença, em função do tratamento oportuno. Já os riscos da mamografia de rastreamento são: 1. Resultados incorretos Suspeita de câncer de mama, que requer outros exames, sem que se confirme a doença. Esse alarme falso (resultado falso positivo) gera ansiedade e estresse ou câncer existente, mas resultado normal (resultado falso negativo). 2. Sobrediagnóstico e sobretratamento: Mulher ser diagnosticada e tratada, com cirurgia (retirada parcial ou total da mama,) quimioterapia e radioterapia, de um câncer que não ameaçaria a vida. Isso ocorre em virtude do crescimento lento de certos tipos de câncer de mama. 3. Exposição aos Raios X (raramente causa câncer, mas há um discreto aumento do risco quanto mais frequente é a exposição). DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE MAMA Os sinais e sintomas suspeitos do câncer de mama são: 1. Nódulo mamário → qualquer nódulo em mulheres acima de 50 anos, em mulheres menores de 30 que persistem por mais de 1 ciclo menstrual, em qualquer idade que possuem consistência dura e fixa 2. Descarga papilar sanguinolenta e unilateral 3. Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos 4. Presença de linfadenopatia axilar 5. Aumento progressivo da mama com presença de sinais de edema, com pele com aspecto de casca de laranja 6. Retração na pele da mama 7. Mudança no formato do mamilo EXAME DAS MAMAS LETÍCIA FAGUNDES BI-RADS Os achados da mamografia são classificados pela categoria BI-RADS: EXAMES COMPLEMENTARES AO RASTREAMENTO 1. Ultrassonografia das mamas e axilas Indicação: avaliação de pacientes sintomáticas, sendo o exame de escolha em mulheres com menos de 35 anos que possuem mamas muito densas, além de ser fundamental na elucidação de achados inconclusivos durante o rastreamento mamográfico, avaliação de implantes de silicone, mamas densas, pacientes de alto risco, acompanhamento de pacientes operadas e orientação de procedimentos percutâneos Permite diferenciar os nódulos sólidos (que podem ser malignos) e líquidos, além de identificar tumores não vistos na mamografia. 2. Ressonância com contraste de gadolínio São indicadas em casos selecionados (mamas densas e com prótese de silicone), ajudando no esclarecimento de casos duvidosos e na obtenção de detalhes antes da cirurgia. Lesões malignas: margens irregulares e espiculadas além de realçar precocemente (benigna apresentam um realce lento e progressivo pelo contraste) Desvantagens da RM: alta sensibilidade e baixa especificidade, alto custo e baixa disponibilidade 3. Termografia clínica da mama É um exame de imagem que registra a variação da temperatura cutânea. Considerando a variação da temperatura cutânea, como resultado do aumento de vascularização e vasodilatação e do recrutamento de células inflamatórias para o local do desenvolvimento do tumor. 4. Tomossíntese mamária/mamografia tridimensional/mamografia tomográfica Introdução da tecnologia digital no campo da mamografia e do desenvolvimento de sofisticadas técnicas de computação que permitem uma avaliação tridimensional da mama. A adição da tomossíntese à mamografia digital convencional aumenta a dose total de radiação ionizante recebida pelas mulheres a cada etapa do rastreamento. 5. Autoexame das mamas Surgiu como uma estratégia para diminuir os diagnósticos de tumores de mama em fase avançada. Porém, estudos mostraram que o autoexame não diminui a mortalidade pelo câncer de mama, tendo a desvantagem de dar uma falsa segurança a paciente quando não nota alterações, evitando assim de fazer a mamografia. Esse fato foi tão importante que a Sociedade Americana de Oncologia Clinica não recomenda mais sua realização Se for fazer: observação e palpação das mamas sempre que se sentir confortável para tal, sem necessidade de aprender uma técnica ou de seguir uma periodicidade regular e fixa → preferencialmente nos 10 dias que se seguem a menstruação.
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